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DOI: 10.1590/1413-81232018245.

23692018 1971

Neves EM, Longhi MR, Franch M, organizadores. visão mais microscópica permite acessar os signi-

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Antropologia da Saúde: Ensaios em Políticas da Vida ficados dos mecanismos terapêuticos, relativizar a
e Cidadania. Brasília, João Pessoa: ABA Publicações, lógica biomédica e conhecer o sentido da saúde e da
Mídia Gráfica; 2018. doença. Sendo assim, se a saúde é feita por pessoas,
compreender como pensam e o que fazem essas pes-
Priscila Farfan Barroso soas nos permite desnaturalizar as intervenções em
(https://orcid.org/0000-0002-4815-4792) 1 saúde e até mesmo revisar o cotidiano dos serviços
de saúde, principalmente no que se refere ao Sistema
1
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Único de Saúde.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre Tanto na Introdução como no Capítulo 1, a An-
RS Brasil. tropologia é apresentada como disciplina estratégica
para analisar a experiência vivida em saúde a fim de
A abordagem da Antropologia da Saúde é ampla e acessar os processos de adoecimento que envolvem
diversa. A publicação intitulada “Antropologia da sofrimento e afetos. Segundos os autores, debruçar-
Saúde: Ensaios em Políticas da Vida e Cidadania” de se sobre esses temas permite dar visibilidade para
Neves e Longhi e Franch enfoca políticas da vida1 para diversos meandros da realidade social, conectar
questionar quais vidas importam em termos das polí- pessoas que querem refletir sobre eles, bem como
ticas de saúde e como se dá a relação dessas vidas com realizar uma agenda de pesquisa que se relacione com
o Estado. Assim, os diferentes contextos etnográficos as demandas dos gestores para pensar em mudanças
analisados trazem o arcabouço teórico-metodológico efetivas nas políticas de saúde.
das Ciências Sociais e Humanas em Saúde, mas tam- O Capítulo 2 propõe um mapeamento da pro-
bém as sutilezas e as problemáticas que envolvem cada dução existente entre saúde e religião a partir da
objetivo estudado a fim de evidenciar o que está em reflexão antropológica, para elucidar as principais
jogo quando o assunto é saúde. abordagens analisadas. São elas: terapêuticas religio-
Esse livro reúne, de modo contundente e assertivo, sas, terapêuticas alternativas e/ou complementares
questões contemporâneas como religião, aborto, alco- e terapêuticas tradicionais e/ou populares. Segundo
olismo, ética em pesquisa, HIV/Aids, doenças raras, as autoras, essa “repartição de competências” empo-
biorredes, produção de embrião e uso de hormônios brece as investigações, uma vez que os estudos sobre
com o objetivo de compreender melhor as intervenções os agenciamentos terapêuticos religiosos deveriam
de saúde, mas também de apresentar o que escapa dos se focar nas tramas que atravessam subjetividades,
protocolos e das prescrições. Logo, essas análises estão corpos e mundos, e não separar essas dimensões para
direcionadas aos gestores, profissionais de saúde, pes- realizar a discussão entre saúde e religião.
quisadores da Saúde Coletiva e das Ciências Sociais e Já os Capítulos 3 e 4 têm temas comuns. En-
demais interessados em repensar as políticas de saúde quanto Melo busca compreender os significados
atuais, as ações de gestão, as práticas cotidianas nos e os valores de inspiração religiosa no modelo de
serviços de saúde e até mesmo a implicação da socie- tratamento de 12 Passos dos Alcóolicos Anônimos
dade na busca por seus direitos de saúde. por meio das denominadas “partilhas” dos adictos
Os textos resultam de alguns trabalhos apresenta- em recuperação, Brunello parte sua reflexão das
dos na 1ª Reunião de Antropologia da Saúde (RAS), reuniões de Alcoólicos Anônimos, chegando até os
que aconteceu em outubro de 2015 na Universidade Consultórios de Rua para analisar como é pensado
Federal da Paraíba (UFPB). As organizadoras dessa o cuidado nesses serviços – o que nos leva a refletir
publicação buscam a qualificação da reflexão antro- que é essencial compreender o que está em jogo nos
pológica dos fenômenos que dizem respeito à saúde diversos serviços ofertados e na lógica de cuidado2
e à doença, mas também apostam num diálogo “além em questão para entender o que é percebido como
dos muros universitários”, envolvendo serviços de problema de saúde.
saúde, movimentos sociais e gestões em saúde a partir Os dois capítulos seguintes discutem políticas
da Antropologia da Saúde. de saúde demonstrando as amplas possibilidades da
Os capítulos contam com autores que transitam Antropologia. O Capítulo 5 discute condicionalida-
de modo transdisciplinar pela área da Saúde Coletiva des de saúde impostas pelo governo para o acesso ao
e das Ciências Socias. Desse modo, as reflexões e as Bolsa Família, de modo que essa “obrigação” acaba
análises propostas discorrem sobre as problemáticas colaborando com o trabalho dos profissionais dos
do campo da Saúde visando compreender os con- serviços de saúde – ao invés de ter de convencer a
textos sociais ao explicitar o que “vaza” – que Bonet população a medir suas condições de saúde, basta
chama de “restos” – no âmbito de uma saúde pública falar em perda do Bolsa Família que “eles se mexem”.
prescritiva. Como evidencia Minayo no Prefácio, uma Entretanto, no Capítulo 6, não se trata de mapear o
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que é imposto pelo governo, mas o que fica “de à conclusão. Assim, nem todas as doenças estão
fora” da visibilidade do governo, uma vez que o cobertas pelas políticas de saúde disponíveis. No
aborto inseguro é considerado ilegal. Para isso, as Capítulo 11, busca-se estudar as biorredes que se
autoras pesquisaram o perfil e as motivações de mobilizam para a criação de políticas públicas
mulheres que praticaram esse tipo de aborto no para pessoas com doença falciforme. Os atores
contexto do Rio Grande do Norte. Corroborando envolvidos acusam a falta de atenção a essa doença
com pesquisas já realizadas3, os dados apresen- genética como racismo institucional, correspon-
tam que quem realiza o aborto são as mulheres dendo a mais um marcador de desigualdade social
comuns, muitas vezes casadas, que têm filhos, uti- da população negra.
lizando medicação para produzir o abortamento, No que se refere ao uso de anabolizantes, o
são escolarizadas, de diferentes classes sociais e Capítulo 12 apresenta a visão ambígua dada sobre
religiosas. As principais motivações citadas para o tema pelo discurso dos profissionais da área
o abortamento perpassam a satisfação pessoal e a da medicina. Quando o paciente é jovem e quer
responsabilidade individual, questões econômicas transformar seu corpo, o uso dessa substância é
limitadas e violência conjugal. considerado arriscado; mas quando o paciente é
A temática abordada seguinte é o HIV/Aids. idoso, o uso da mesma substância é recomendado
Tanto no Capítulo 7 como no Capítulo 8, fica para enfrentar o processo de envelhecimento. Esse
evidente que os serviços de saúde têm dificuldade questionamento evidencia aspectos moralizantes
em abordar prevenção, tratamento e continui- que perpassam a indicação de tais substâncias para
dade do cuidado de pacientes afetados. Maksud os pacientes.
apresenta a análise de quatro pesquisas orientadas O Posfácio, de Fleischer, apresenta um diálogo
e coorientadas por ela a fim de refletir sobre os ficcional entre três personagens que aguardam
discursos que permeiam as instituições de saúde atendimento no “banco de espera” de um centro de
em relação ao HIV/Aids. Já Silva foca a dinâmica saúde, articulando as problemáticas e as compreen-
conjugal sorodiscordante para HIV/Aids diante sões emergidas nos capítulos anteriores. De forma
de situações de risco, tendo como única opção o dinâmica, os personagens interagem e apresentam
uso de preservativos nas relações sexuais. Nessa os meandros da convivência com doenças e os mo-
dinâmica, os casais não condicionam o risco às dos de atenção dos serviços de saúde para diagnós-
suas decisões reprodutivas, criando estratégias pra tico e tratamento delas. Esse esforço de alteridade
se relacionarem sexualmente sem uso da camisinha ao trazer a voz dos usuários nos presenteia com a
mesmo que eventualmente. finalização de uma obra que ressoa a urgência de
Outra questão bastante pertinente à Antropo- diálogo entre as Ciências Humanas e Ciências da
logia da Saúde é o estudo da própria construção Saúde para melhorar a atenção em saúde.
do discurso biomédico em nome da ciência, como Em suma, a relevância dessa obra se destaca
também objetivam outros estudos clássicos4. No pelas questões contemporâneas problematizadas,
Capítulo 9, a autora busca novos significados e pela articulação analítica e crítica dos atores envol-
compreensões que permeiam o que é o “bom” vidos no pensar e no fazer saúde e pela publicação
embrião a partir de imagens e escores construídos acessível promovida pela Associação Brasileira de
por profissionais de saúde para definir a qualidade Antropologia (ABA). Como explicita Knauth na
de embriões na utilização do processo de reprodu- orelha do livro, os autores que compõem essa cole-
ção assistida. Nessa mesma linha de raciocínio, o tânea são “novas lideranças” da área que colaboram
Capítulo 10 apresenta o contraste das concepções para consolidar e reverberar os estudos no âmbito
de ética de instituições científicas e da sociedade da Antropologia da Saúde.
quando se trata da atenção a pessoas com doenças
raras. Ainda que essas pessoas tenham direito a Referências
medicação, falta-lhes o acesso a ela, uma vez que
não há pesquisas suficientes para confirmar sua 1. Fassin D. Humanitarianism as a Politics of Life. Public
eficácia e para a sua disponibilização ao público Culture. Society for Transnational Cultural Studies 2007;
19(3):499-520.
pelas políticas de saúde. Nesse sentido, a burocracia 2. Mol A. The logic of care: health and the problem if patient
e a lentidão das instituições científicas para o uso choice. London: Routledge; 2008.
dessas novas medicações destinadas a doenças raras 3. Diniz D, Medeiros M. Aborto no Brasil: uma perspectiva
criam um impasse em nome da ciência. domiciliar com técnica de urna. Cien Saude Colet 2017;
As políticas de saúde são definidas a partir da 22(2):653-660.
4. Good B. How medicine constructs its objects. In: Good
medicina baseada em evidências, o que demanda B. Medicine, Racionality and Experience. Cambridge:
tempo, critérios específicos e recursos para chegar Cambridge University Press; 1994. p. 65-87.

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