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Ciência & Ensino, vol. 2, n.

2, junho de 2008

UMA REFLEXÃO SOBRE O ENSINO DE CIÊNCIAS


NO NÍVEL FUNDAMENTAL DA EDUCAÇÃO

Guilherme Malafaia
Aline Sueli de Lima Rodrigues

INTRODUÇÃO pela maioria dos estudantes, tem-se


agravado no Brasil, onde só a partir da
Houve um tempo em que a tarefa de
década de 1970 começou a ocorrer a
educar era vista por seus protagonistas,
democratização do acesso ao ensino
tanto professores quanto alunos, como
fundamental público.
algo pleno de sentido. Isso não está tão
Todavia, mudanças de
distante a ponto de só ser lembrado pelos
direcionamento em vários aspectos do
mais velhos ou pelos filhos daqueles
ensino de Ciências nas últimas cinco
apóstolos culturais. Ainda são muitos os
décadas foram percebidas. Nos objetivos
que acreditam que assim é e continuará
de ensino, o trajeto apontado foi o da
sendo. Estes são aqueles que vêem na
transmissão de informações às propostas
educação o melhor e principal
que procuram relacionar ciência,
instrumento para ajudar as pessoas a se
tecnologia e sociedade. Nesse percurso,
prepararem para uma vida plena, uma
diferentes perspectivas foram sendo
cidadania participativa, uma posição
analisadas, aperfeiçoadas ou descartadas
econômica digna e suficiente, uma
ao longo das décadas que separaram cada
convivência não-conflituosa e uma
postura. O mesmo ocorreu com as
apreciação adequada da cultura e das
metodologias propostas para o ensino de
relações sociais em constante processo de
Ciências. Como Krasilchik (1996) já
mudança.
apontava, a evolução passou pelas
Contudo, proliferam – e às vezes,
atividades de laboratório, por discussões,
ruidosamente – os que asseguram que já
simulações, jogos, entre outras
não é assim. Ninguém proclama, é claro,
experiências, e já caminhava para a
que educar seja algo fracamente inútil,
inserção cada vez maior da informática
contraproducente ou errático, mas muitos
no ensino.
insistem em atitudes meramente passivas
A partir de então, o ensino de
diante do desafio de ensinar, as quais
Ciências tem sido visto por muitos como
reunidas dariam como resultado esse
redenção para o desemprego, para a baixa
diagnóstico. No que diz respeito ao ensino
produtividade e para os problemas do
de Ciências, a maneira simplista e
atraso tecnológico do país. Entretanto, a
ingênua com que, não raro, o senso
resposta para estes problemas não se
comum pedagógico trata as questões
restringe apenas à compra de kits de
relativas à veiculação de conhecimento
laboratório que equipariam as escolas e
científico na escola e à sua apropriação
colocariam a nação em posição
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competitiva frente ao mercado conhecimentos que fazem parte do


internacional. Tal ato é decorrente de corpus do conhecimento científico atual
uma análise simplista e reduz foram produzidos durante a segunda
significativamente o entusiasmo às metade do século XX e que, do total de
mudanças de perspectiva para o cientistas que se dedicaram à pesquisa
aprendizado em Ciências, fazendo aflorar durante a história do homem, 90%
ranços e contradições de difícil tiveram ascensão no mesmo período
enfrentamento por todos os participantes (WEISSMANN, 1993).
do processo de ensino. O desafio de pôr o Para Fumagalli (1993) a vertiginosa
saber científico ao alcance de um público produção de conhecimentos científicos
escolar em escala sem precedentes deve coincidiu no tempo com o debate teórico
ser encarado de forma séria, na área da didática das Ciências, pois o
principalmente diante da ampla difusão ensino dessas disciplinas passou a ser
dos conhecimentos e procedimentos objeto de reflexão do campo teórico
científicos na vida cotidiana das pessoas. educacional nos países centrais somente a
Neste contexto, o presente artigo partir dos anos 50. Também no período
tem como objetivo principal apresentar citado foram produzidas teorias que
uma reflexão sobre a importância do proporcionaram novos modelos
ensino de Ciências no ensino explicativos do desenvolvimento
fundamental. Serão apresentados e cognitivo infantil e do processo de
discutidos alguns problemas relacionados aprendizagem, sendo particularmente
freqüentemente ao ensino de Ciências, relevantes as contribuições das
bem como algumas estratégias que visam psicologias cognitiva e genética.
a melhorar a educação científica em nível O fato é que muitos profissionais
prático/pedagógico. O ensino de Ciências dedicados ao ensino de Ciências tomaram
justifica-se parcialmente na medida em as contribuições provenientes da
que se consegue fazer com que os alunos e psicologia, embora nem sempre de modo
futuros cidadãos sejam capazes de feliz. Em alguns casos, os conhecimentos
enfrentar situações cotidianas, produzidos pela psicologia foram
analisando-as e interpretando-as através capitalizados para elaborar estratégias de
dos modelos conceituais e também dos ensino de Ciências, de acordo com o
procedimentos próprios da Ciência. modo como as crianças entendem a
construção do conhecimento. Mas em
outros, atuaram como legitimadores da
O ENSINO DE CIÊNCIAS NO NÍVEL
FUNDAMENTAL DA EDUCAÇÃO impossibilidade de ensinar Ciências
FORMAL durante as primeiras idades
(FUMAGALLI, 1993). Nesse segundo
Em poucos anos do século XXI caso, devido a interpretações pouco
parece pelo menos anacrônico adequadas dessas teorias psicológicas,
argumentar a favor do ensino de Ciências afirmaram que a complexidade do
no nível fundamental da educação formal. conhecimento científico estava muito
Principalmente quando se leva em longe da capacidade de compreensão das
consideração que mais da metade dos
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crianças e que por esse motivo não seria sujeitos integrantes do corpo social e que,
possível o aprendizado das Ciências portanto têm o mesmo direito que os
durante os anos iniciais da escolaridade. adultos de apropriar-se da cultura
elaborada pelo conjunto da sociedade
para utilizá-la na explicação e
POR QUE ENSINAR CIÊNCIAS NA
ESCOLA FUNDAMENTAL? compreensão do mundo atual.
Não ensinar Ciências nas primeiras
De acordo com Fumagalli (1993), idades invocando uma suposta
diferentes linhas permitem responder incapacidade intelectual das crianças é
essa questão; não obstante, três uma forma de discriminá-las como
considerações merecem destaque: (i) o sujeitos sociais. Este é um forte
direito das crianças de aprender Ciências; argumento para sustentar o dever
(ii) o dever social e obrigatório da escola inevitável da escola de ensino
fundamental como sistema escolar de fundamental de divulgar e trabalhar
distribuir conhecimentos científicos ao conhecimento científico.
conjunto da população e (iii) o valor
social do conhecimento científico.
A ESCOLA DE ENSINO
FUNDAMENTAL E A
O DIREITO DAS CRIANÇAS DE DISTRIBUIÇÃO SOCIAL DE
APRENDER CIÊNCIAS CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Se há alguma coisa que a educação Essa outra linha de argumentação


deve à psicologia cognitiva atual, e tem como base o papel social atribuído à
especialmente à psicologia genética, escola enquanto sistema escolar de
certamente refere-se ao fato de ter dado ensino. No contexto atual, e devido ao
aos educadores informações sobre o marcante caráter assistencial que a
modo como as crianças constroem educação brasileira assume, mais do que
conhecimentos e compreendem o mundo. nunca é necessário fazer recolocação
Graças a isso, hoje se sabe que as crianças crítica do papel social do ensino escolar.
não são adultos em miniatura e sim Em relação a essa temática, foi
sujeitos que possuem uma maneira relevante a contribuição ao campo teórico
particular de significar o mundo que os educacional realizada na década de 1980.
cercam. Libâneo (1984) enfatiza que nesse
Há quem diga que as crianças não período foram formuladas tanto nos
podem aprender Ciências, porém, essa países desenvolvidos quanto na América
opinião comporta não somente a Latina, novas maneiras de conceituar o
incompreensão das características papel social do ensino escolar. Esses
psicológicas do pensamento infantil, mas novos modelos teóricos, em seu conjunto,
também a desvalorização da criança como revalorizaram o papel da escola na
sujeito social. Nesse sentido, parece distribuição social de um corpo de
esquecido que as crianças não são conteúdos culturais socialmente
somente “o futuro” e sim que são “hoje” significativos.
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A escola voltou a ser considerada Partindo de uma avaliação positiva


como a instituição social empregada de do conhecimento científico, pode-se
distribuir à população um conjunto de entender assim como Fourez (1987), que
conteúdos culturais que nem os grupos tal conhecimento pode possibilitar uma
primários como a família, os meios de participação ativa e com senso crítico
comunicação social ou o desenvolvimento numa sociedade como a atual, na qual o
espontâneo da criança na vida coletiva fato científico está na base de grande
são capazes de transmitir ou de gerar parte das opções pessoais que a prática
(PÉREZ GÓMEZ, 1992). social exige.
Atribuir à escola o papel social de Embora seja pouco provável que
distribuir tais conteúdos significa alguém negue hoje o valor do
reconhecer que o lugar social, embora conhecimento científico na prática social
fonte de produção cultural, não garante o dos cidadãos adultos, é importante
acesso ao conhecimento da cultura considerar que a controvérsia surge
elaborada pelo corpo social. A escola é, quando se trata de conceituar esse valor
portanto, o ambiente que possibilita esse em relação à prática social das crianças.
acesso de maneira adequada. Caberia então definir em que sentido o
Diante disso, seria possível dizer que conhecimento das Ciências é válido do
o sistema escolar brasileiro faz uma ponto de vista social para uma criança.
distribuição democrática de Fumagalli (1993) já enfatizava o
conhecimentos quando as crianças que valor do conhecimento científico na
freqüentam as escolas de ensino prática social presente no cotidiano das
fundamental têm uma pequena interação crianças e considerava que esse era um
com as Ciências? Qual o capital cultural aspecto tristemente esquecido no
básico que está sendo gerado quando nele momento de justificar o ensino de
é praticamente nulo o lugar atribuído ao Ciências na infância. É comum o uso de
conhecimento das Ciências? argumentos de tendência fortemente
Considerando as escolas brasileiras individualista, pelos quais a criança fica
a partir desses dois questionamentos, reduzida a um sujeito psicológico “a-
ainda hoje parece legítima a nossa histórico” e “associal”. Quando isso
preocupação sobre a situação que ocorre, contribui-se para a
atravessa o ensino de Ciências no nível marginalização das crianças na trama
fundamental. E, simultaneamente, ainda social.
torna-se necessário apelar para uma Nesse sentido, conforme discutido
revalorização do papel social da escola no por Weissmann (1993), a formação
processo de distribuição do conteúdo da científica das crianças e dos jovens deve
cultura elaborada, entre os quais não contribuir para a formação de futuros
podem ficar excluídas as Ciências. cidadãos que sejam responsáveis pelos
seus atos tanto individuais como
coletivos, conscientes e conhecedores dos
O VALOR SOCIAL DO
CONHECIMENTO CIENTÍFICO riscos, mas ativos e solidários para
conquistar o bem-estar da sociedade e
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críticos e exigentes diante daqueles que brasileiro, quase todo voltado para os
tomam as decisões. interesses do mercado, é necessário o
desenvolvimento do pensar crítico e
criativo visando ao desenvolvimento de
COMO PODEMOS CONTRIBUIR
PARA MELHORAR O ENSINO DE habilidades sociais que serão necessárias
CIÊNCIAS NO ENSINO na vida cotidiana.
FUNDAMENTAL? Um problema de grande relevância
no ensino de Ciências é justamente o uso
Considerando-se que educação é exaustivo de questionários de respostas
uma aprendizagem que leva à únicas ou listas imensas de exercícios
integração social ou ao ajustamento repetitivos onde está exclusivamente
social (MAIA, 1998), é claramente presente a valorização da memorização
perceptível que tal objetivo não é atingido dos termos científicos, da definição de
se nos restringirmos a proporcionar o seus conceitos e suas variações. É de
acúmulo de informações e grande valia ressaltar que identificar
conhecimentos, tirados dos livros, o que problemas, elaborar perguntas sobre eles
qualquer um que saiba ler pode e pensar em hipóteses sobre suas causas e
conseguir. possíveis soluções são tarefas que os
É reconhecida a amplitude e a alunos, mesmo pequenos, já realizam no
complexidade de se pensar o ensino das cotidiano. Nosso papel talvez seja o de
mais variadas disciplinas para os anos orientar a atuação dos estudantes,
iniciais, e o ensino de Ciências, neste tornando tais procedimentos evidentes
contexto, não está excluído. Contudo, são durante ou após as situações de
necessários mesmo sob tamanha aprendizagem, esclarecendo
responsabilidade, esforços no sentido de gradativamente a natureza de cada um
melhorar ou mudar o modo como muitas deles.
instituições e/ou profissionais da área Embora saibam definições de
educacional vêm promovendo o ensino de conceitos científicos básicos,
Ciências. Conforme discutido por frequentemente os alunos que
Delizoicov et al. (2003), pesquisas em memorizam tudo, sob nossos estímulos
educação e em ensino de Ciências têm enquanto professores, não conseguem
acenado para a necessidade de mudanças, utilizar adequadamente tais conceitos,
às vezes bruscas, em nossa atuação como seja na prática escolar, seja em sua vida
docentes nessa área. cotidiana. Isto porque decoram listas de
Sendo assim, talvez um primeiro definições, postulados e/ou exemplos sem
passo para uma melhoria significativa da necessariamente ter entendido seus
formação científica dentro da educação significados.
básica seria assumir que a quantidade de Uma estratégia educacional que
informação que deve ser trabalhada com consideramos importante diz respeito à
o aluno não pode ser enfatizada em sondagem dos alunos sobre os temas
detrimento da sua formação, bem como a científicos abordados. A tentativa de
memorização em detrimento da tomar a prática vivida pelos alunos como
compreensão. No sistema educacional
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o ponto inicial do planejamento e da extrapolar o universo escolar, uma vez


implementação do currículo e do ensino que buscamos trabalhar em termos de
parece ser algo interessante a ser construção de conhecimento e formação
considerado. de cidadãos. Nosso envolvimento direto,
É preciso ressaltar que muitas mas nem sempre propiciado, na escolha
pesquisas têm apontado, já há várias do livro didático é um importante passo
décadas, que os alunos não chegam em na melhoria da qualidade do ensino
branco a cada nova situação de brasileiro.
aprendizagem escolar, mas que possuem Os Parâmetros Curriculares
esquemas de conhecimentos prévios que Nacionais (PCNs) definem Ciências como
precisam ser levados em consideração em uma elaboração humana para a
nossas práticas. Tais pesquisas que compreensão do mundo (BRASIL, 1998).
tomaram como objeto de estudo os Seus procedimentos podem estimular
conhecimentos prévios das crianças uma postura reflexiva e investigativa
trouxeram informações relevantes para sobre os fenômenos da natureza e de
repensar o processo de aprendizagem como a sociedade nela intervém,
escolar (DRIVER et al., 1985; utilizando seus recursos e criando uma
HIERREZUELO & MONTERO, 1988; nova realidade social e tecnológica. No
LLORENS, 1992; POZO et al., 1991; ensino de Ciências os livros didáticos
GIORDAN & DE VECCHI, 1987). constituem um recurso de fundamental
Sustenta-se que os conhecimentos prévios importância, já que representam em
constituem sistemas de interpretação e de muitos casos o único material de apoio
leitura a partir dos quais as crianças didático disponível para alunos e
conferem significado às situações de professores (VASCONCELOS & SOUTO,
aprendizagem escolar (COLL, 1987; 2003). Além disso, eles podem propiciar
DRIVER et al., 1989). ao aluno uma compreensão científica,
Existe um consenso entre diferentes filosófica e estética de sua realidade
autores de que a exploração de idéias (VASCONCELLOS, 1993), oferecendo
prévias não somente é útil para suporte no processo de formação dos
conhecermos como nossos alunos indivíduos/cidadãos. Conseqüentemente,
pensam, mas que é uma instância da qual podem ser um instrumento capaz de
estes podem começar a tomar consciência promover a reflexão sobre os múltiplos
de suas teorias implícitas através da aspectos da realidade e estimular a
reflexão sobre suas próprias idéias. capacidade investigativa do aluno para
Portanto, estruturar o ensino a partir que ele assuma a condição de agente na
desses conhecimentos pode ser uma construção do seu próprio conhecimento.
opção para que os alunos obtenham uma Esta postura contribui para a autonomia
aprendizagem significativa. de ação e pensamento, minimizando a
Não podemos esquecer da “concepção bancária” da educação, que
importância da escolha do livro didático a nega o diálogo e se opõe à
ser adotado durante o ano letivo. Hoje, problematização do que se pretende fazer
mais do que nunca, precisamos conhecer.
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Uma leitura atenta da maioria dos utilizando-se de métodos e técnicas


livros de Ciências disponíveis no mercado adequadas e compatíveis aos seus fins e
brasileiro, entretanto, revela ainda uma objetivos. A articulação entre o projeto
disposição linear de informações e uma político-pedagógico, o acompanhamento
fragmentação do conhecimento que das ações, a avaliação e utilização dos
limitam a perspectiva interdisciplinar resultados, com a participação e o
(VASCONCELOS & SOUTO, 2003). A envolvimento das pessoas, o coletivo da
abordagem tradicional orienta a seleção e escola, pode levá-la a ser eficiente e
a distribuição dos conteúdos, gerando eficaz. Desafiante, porque administrar de
atividades fundamentadas na forma racional, sem se utilizar dos
memorização, com raras possibilidades princípios da administração
de contextualização. Ao formular científica/taylorista, exige de todos os
atividades que não contemplam a seus atores uma relação dialética, uma
realidade imediata dos alunos, perpetua- reflexão coletiva e constante e um
se o distanciamento entre os objetivos do trabalho colaborativo no ambiente
recurso em questão e o que se espera ser escolar, que muitas vezes não temos
aprendido pelos alunos Formam-se então espaço e condições de realizar.
indivíduos treinados para repetir Contudo a realidade observada é
conceitos, aplicar fórmulas e armazenar muito diferente da teoria. Muitas escolas
termos, sem, no entanto, reconhecer não possuem sequer um projeto político-
possibilidades de associá-los ao seu pedagógico estruturado ou se possuem
cotidiano. O conhecimento não é visto não o colocam em prática efetivamente. O
como em construção, e ao aluno relega-se projeto político-pedagógico em si mostra
uma posição secundária no processo de a visão macro do que a instituição escola
ensino-aprendizagem. pretende ou idealiza fazer, seus objetivos,
Outra questão que implica metas e estratégias permanentes, tanto no
significativos ganhos no ensino não só que se refere às suas atividades
das Ciências, mas de todas as outras áreas pedagógicas, como às funções
do conhecimento, diz respeito à administrativas. A importância deste
elaboração de um projeto político- projeto e da nossa participação na sua
pedagógico que transcenda a teoria e as elaboração, implementação e avaliação
exigências/burocracias educacionais. constante, está no fato de que ele passa a
Segundo Betini (2005), o estudo do ser uma direção, um rumo para as ações
planejamento e gestão educacional, e de da escola (BETINI, 2005) e, portanto,
modo particular a sua aplicação, são de para nossas próprias ações.
enorme importância, ao mesmo tempo Entre algumas das variáveis
em que se apresentam como um grande positivas do clima escolar que incidem
desafio aos gestores escolares. diretamente no processo de
Importância, porque quando aprendizagem encontra-se a existência de
implementada de acordo com a realidade um projeto político-pedagógico de
e as necessidades da instituição escola, educação central, assumido pela
uma gestão eficaz pode fazer a diferença, comunidade da educação, com
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prioridades claras no aprendizado, político, social, econômico e cultural em


baseando sua eficácia em uma ação que nos encontramos.
docente conjunta e coerente, mais do que Cabe a nós, educadores, refletirmos
na atuação de personalidades destacadas. constantemente sobre nossa atuação,
É evidente que uma instituição de ensino rever criticamente e constantemente
que não apresenta um projeto político- nossas formas de ensinar, refletirmos
pedagógico bem estruturado e sobre nossos preconceitos e sermos
efetivamente prático deixa de obter capazes de, sem negar que uma mudança
diversos resultados positivos, como por social se faz necessária, tentar introduzir
exemplo, melhor imagem institucional atividades práticas/inovadoras que
interna e externa, facilidade na promoção possam fazer alguma diferença dentro da
de programas de atualização, melhor sala de aula e que atenuem o sentimento
organização da avaliação curricular, de fracasso de muitos alunos e de nós
melhoria na recepção de novos enquanto professores.
professores e alunos, bem como maior
segurança nas decisões colegiadas.
REFERÊNCIAS

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