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“As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um

certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos
médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua.
Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele
que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os
negócios da monarquia”.
O conto “O Alienista”, de Machado de Assis, encontra-se inserido dentro do
contexto realista. O realismo representou um movimento artístico e cultural e
teve início em meados do século XIX na Europa. No Brasil, o realismo tem como
marco inicial, segundo especialistas, a publicação de memória póstuma de Brás
Cubas (1881). O realismo se empenha na análise da força das instituições sobre
o indivíduo, no retrato das relações humanas permeadas de interesse, na
introspecção psicológica. Por esta inserida no realismo, pode-se chamar o conto
“O Alienista” de uma literatura de combate. Nele, Machado de Assis busca
demonstrar a realidade tal como ela é, destituída de idealizações e subjetivismo.
Ele consegue demonstrar e explorar o comportamento além das aparências,
expondo com grande ironia toda vaidade e egoísmo do homem.
A história do conto gira em torno de um médico que volta da Europa para uma
cidade do Rio de Janeiro onde casa-se com uma senhora somente pela
procriação. Porém, com a frustação da não vinda dos filhos, ele se lança em um
projeto que será desvendar os mistérios por trás da loucura da mente humana
(A casa verde será o local desse doutor para abrigar os possíveis “loucos” da
cidade) e, para isso, ele contara, a princípio, com a provação de políticos e
religiosos e até mesmo da própria sociedade. Sociedade esta que também é
criticada no conto por se isentar de alguma responsabilidade; um cenário político
que via benefícios em atribuir poderes a um médico para os seus experimentos
em humanos e uma religião que se negava a enxergar os males que ciência
podia produzir, numa cidade onde tudo será justificado a partir do ponto de vista
cientifico.
Nessa sociedade, o ato de questionar levava ao enclausuramento; o limite entre
quem é normal e anormal se perdem dentro de uma lógica onde os saberes da
ciência predominam de forma ditatorial. O médico começa a enclausurar todos
que ele achava louco se utilizando de várias experiências e métodos para
argumentar a sandice das pessoas.
O conto traz uma narrativa que demonstra o quanto o brasil exportou teses
europeias cientificistas e as utilizou para fundamentar teorias de um pensamento
moderno onde a racionalidade predominava e o diferente era visto como ameaça
e, para legitimar a exclusão de pessoas que supostamente eram loucas, utilizou-
se tal artifício. Os desvios sociais de uma sociedade e a sua não conformidade
a um padrão pré-estabelecido estão nessa narrativa que tenta desmontar um
sistema de pensamento engendrado por teorias que mais causaram males do
que trouxeram benefícios, distorcidas por um pensamento moderno obscurecido
de uma racionalidade onde a ordem de certos discursos não pode ser submetida
a questionamentos.
Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros do Colônia. Tinham sido,
a maioria, enfiadas nos vagões de um trem, internadas à força. Quando elas
chegaram ao Colônia, suas cabeças foram raspadas, e as roupas, arrancadas.
Perderam o nome, foram rebatizadas pelos funcionários, começaram e
terminaram ali. Maria de Jesus, internada porque se sentia triste, Antônio da
Silva, porque era epilético. Ou ainda Antônio Gomes da Silva, sem diagnóstico,
que ficou vinte e um dos trinta e quatro anos de internação mudo porque ninguém
se lembrou de perguntar se ele falava. Cerca de 70% não tinham diagnóstico de
doença mental. Eram epiléticos, alcoolistas, homossexuais, prostitutas, gente
que se rebelava, gente que se tornara incômoda para alguém com mais poder.
Eram meninas grávidas, violentadas por seus patrões, eram esposas confinadas
para que o marido pudesse morar com a amante, eram filhas de fazendeiros as
quais perderam a virgindade antes do casamento. Eram homens e mulheres que
haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos
trinta e três eram crianças. Homens, mulheres e crianças, às vezes, comiam
ratos, bebiam esgoto ou urina, dormiam sobre capim, eram espancados e
violados. Nas noites geladas da serra da Mantiqueira, eram atirados ao relento,
nus ou cobertos apenas por trapos. Instintivamente faziam um círculo compacto,
alternando os que ficavam no lado de fora e no de dentro, na tentativa de
sobreviver. Alguns não alcançavam as manhãs.

A caridade, Sr. Soares, entra decerto no meu procedimento, mas entra como tempero, como o
sal das coisas, que é assim que interpreto o dito de São Paulo aos Coríntios: "Se eu conhecer
quanto se pode saber, e não tiver caridade, não sou nada". O principal nesta minha obra da Casa
Verde é estudar profundamente a loucura, os seus diversos graus, classificarlhe os casos,
descobrir enfim a causa do fenômeno e o remédio universal. Este é o mistério do meu coração.
Creio que com isto presto um bom serviço à humanidade.

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