Thiago, brasileiro, solteiro, bancário, residente na rua Machado de Assis, nº. 167, Rio de
Janeiro – RJ, por meio de seu advogado Fulano de Tal, OAB/XX xx.xxx (instrumento de
mandato anexo), vem respeitosamente à presença de V. Exa., com amparo no art. 5º, inc.
LXV, da Constituição Federal de 1988, requerer o Relaxamento da Prisão em
Flagrante efetuada no dia 04 de novembro de 2006, nesta Comarca, pelos fatos e motivos
que passa e expor.
1- DO CONTEXTO FÁTICO
Na busca, não foi encontrada com Thiago qualquer substância entorpecente ou objeto que
pudesse ligá-lo à prática do citado crime. Inobstante isso, a autoridade policial houve por
bem autuá-lo em flagrante delito, entendendo que, por ser o tráfico de drogas um crime
permanente, ocorreu, na hipótese, flagrante impróprio ou quase flagrante.
Mesmo assim, foi lavrado auto de prisão em flagrante e passada nota de culpa a Thiago, o
qual se encontra detido até então, em flagrante ilegalidade, como passamos a demonstrar.
No entanto, não merece prosperar a prisão, tendo em vista que foi baseada em
busca viciada.
Ora, no caso em tela é flagrante que a autoridade policial não tinha fundadas razões
para proceder à busca no requerente, tendo em vista que o mesmo não possui antecedentes
criminais, tem emprego e residência fixas, jamais tendo se envolvido com qualquer ação
criminosa. Além disso, a busca embasou-se somente nas informações fornecidas pela ex-
namorada do requerente, atualmente sendo indiciada por tráfico de drogas, a qual, pelo tipo
de relacionamento que possui com este, é pessoa suspeita para fornecer informações deste
âmbito.
No caso, a prisão, conforme será demonstrado adiante, foi ilegal, vez que o
requerente a ela não deu causa, pois não portava qualquer tóxico. Não pairava, outrossim,
fundada suspeita sobre ele, vez que possui antecedentes impecáveis e que a busca baseou-
se unicamente nas informações prestadas por uma ex-namorada do requerente, indiciada
por tráfico de drogas.
Como não havia, também, busca domiciliar em curso, a busca pessoal do requerente
foi maculada com vício de ilegalidade, vez que não foi precedida de ordem judicial escrita e
não se enquadrou em nenhuma das hipóteses para as quais o art. 244 do CPP autoriza a
realização de busca pessoal sem mandado.
Ilegal, portanto, a “prova” colhida contra o requerente, não pode esta ser utilizada
para qualquer fim, vez que a Constituição Federal preconiza que “são inadmissíveis, no
processo, as provas obtidas por meios ilícitos” (art. 5º, inc. LVI).
Além dos requisitos gerais do auto de prisão em flagrante, contidos no CPP, a Lei
11.343, de 23 de agosto de 2006, acrescentou a necessidade de laudo atestando a
materialidade do delito acompanhar o auto de prisão em flagrante, conforme o § 1º do art.
50, in verbis:
No caso em exame, não foi elaborado o laudo competente, tendo em vista que a
autoridade policial sequer encontrou substância entorpecente na posse do detido, não
restando caracterizada, portanto, a materialidade do delito exigida pelo art. 50 da Lei
11.343/2006 para a lavratura do auto de prisão em flagrante por crimes relacionados a
entorpecentes.
Ainda que V. Exa. entenda ser válido o auto de prisão em flagrante lavrado contra o
requerente, impõe-se o relaxamento da prisão porquanto manifestamente ilegal, tendo em
vista que não ocorreu flagrante delito.
A autoridade policial, após realizar uma busca no detido, não encontrou em sua
posse substância entorpecente ou qualquer objeto capaz de relacioná-lo à prática do crime
de tráfico de entorpecentes. Inobstante isso, efetuou a sua prisão, entendendo ocorrer
flagrante impróprio ou quase flagrante, pois o crime de tráfico de entorpecentes é crime
permanente.
No caso em tela não houve perseguição, vez que o detido foi abordado em seu local
de trabalho e não procurou evadir-se ou obstar a investigação policial, não se enquadrando,
portanto, na hipótese de flagrante impróprio prevista no art. 302, inc. II, do CPP.
Assim, como não foi verificada a prática de qualquer conduta típica pelo requerente,
como a posse, transporte ou depósito de substância entorpecente ou de qualquer outro
material ou objeto relacionado à prática deste crime, não se encontrava ele em situação de
flagrância, sendo ilegal, portanto, a prisão em flagrante, merecendo imediato relaxamento.
A Constituição Federal, no art. 5º, inc. LXV, garante que “a prisão ilegal será
imediatamente relaxada pela autoridade judiciária”.
5 – DA LIBERDADE PROVISÓRIA
Caso V. Exa. entenda pela legalidade da prisão em flagrante, ainda assim deverá o
requerente ser posto em liberdade, em razão da inocorrência de qualquer das hipóteses
autorizadoras da prisão preventiva, consoante o parágrafo único do art. 310 do CPP.
“Art. 310. Quando o juiz verificar pelo auto de prisão em flagrante que o agente
praticou o fato, nas condições do art. 19, I, II e III, do Código Penal, poderá, depois de ouvir
o Ministério Público, conceder ao réu liberdade provisória, mediante termo de
comparecimento a todos os atos do processo, sob pena de revogação.
Parágrafo único. Igual procedimento será adotado quando o juiz verificar, pelo auto
de prisão em flagrante, a inocorrência de qualquer das hipóteses que autorizam a prisão
preventiva (arts. 311 e 312).”
Do art. 312 do CPP infere-se que a prisão preventiva pode ser decretada para garantia da
ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução ou para assegurar a
aplicação da lei penal, “quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
autoria” (art. 312, CPP).
A isso alia-se o fato de que o requerente não tem antecedentes criminais, possui
residência e emprego fixos, conforme atesta a carteira de trabalho apresentada à autoridade
policial quando do interrogatório do detido.
Comentando este assunto, Roberto Delmanto Júnior afirma que “é cediço que a
Magna Carta autoriza que a lei ordinária regule as hipóteses de concessão de liberdade
provisória, restringindo-as ou ampliando-as: ‘Ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança’ (art. 5º, LXVI). Ao tratar
desses crimes, porém, a Constituição da República estipulou que a lei considerará
‘inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia’ (art. 5º, XLIII), não mencionando qualquer
vedação à liberdade provisória sem fiança” (in As modalidades de prisão provisória e seu
prazo de duração. Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 121-122).
6 – DOS PEDIDOS
Por todo o exposto, forte nos motivos de fato e direito até então expostos, o
requerente pede o recebimento da presente peça por V. Exa. para, alternativamente:
Fulano de Tal
OAB/XX xx.xxx