A Era da Informação começa aqui: Invento é capaz de reproduzir cópias de escritos Agora, os livros podem ser produzidos mil vezes mais rápido Por Letícia Carneiro pintadas a mão e pressionadas sobre o papel de hora em hora. Fora Johannes Gutenberg, na o tempo de secagem, as chances de cidade de Estrasburgo, no leste da a cópia não ser legível ou apresentar Alemanha, desenvolveu a borrões é palpável. ferramenta que permite reprodução Historiadores tratam a de obras literárias. A base do experiência como a revolução do experimento é a prensa de vinho século XV. Os livros produzidos a modificada, em que o artesão mão até agora, principalmente trabalhou por mais de uma década. cópias da Bíblia, levam em média Ourives por profissão, três anos para ficarem prontos e são Johannes esculpe as letras no metal, de exclusividade da Elite e da Igreja. as organiza em uma prancha de James Meigs, editor da revista madeira de forma que possam ser Popular Mechanics, destaca a reorganizadas, formando uma grandiosidade da descoberta: “ a infinidade de palavras e sentenças. prensa multiplicou os livros, As páginas são alinhadas acima dos significando que ia chegar a todos os moldes e prensadas pela alavanca, lugares, aumentando a capacidade permitindo serem copiadas várias de leitura, um feito conquistado por vezes, acelerando o processo, Gutenberg”, finaliza. quase em escala industrial, “uma Essa descoberta é decisiva no fábrica de livros, ninguém podia processo para a criação dos imaginar uma coisa dessas”, conta primeiros jornais e periódicos, nesse com empolgação. período as produções são tímidas e Um aparato semelhante é escassas, mas fundamentais. Na utilizado na China há 700 anos, visão de Gutemberg, contribuirá a porém o processo ainda é feito de disseminação de conhecimento, maneira lenta e complexa, através “temos um continente tão grande, a de chapas de madeira que são ideia permite que as pessoas tivessem notícia dos pensamentos e Temos aqui um molde de ações de outras pessoas”. O como seria noticiado o invento investimento feito a época equivale a revolucionário de Gutenberg na $ 1mil dólares atualmente, Alemanha do século XV. A partir multiplicados pelas três mil copias de disso, o conhecimento começa a se Bíblias impressas por Johanne, o espalhar, chegando ao alcance das ponta pé inicial a produção em larga pessoas comuns, das pessoas que escala. Desde então, 6 bilhões já jamais teriam acesso a um livro foram impressas, Gutemberg é pelas mãos do clero e da realeza, responsável por cada página transformando a história humana. impressa nos últimos 500 anos. Agora vamos a um salto no tempo...
A Imprensa na Ditadura
São Paulo, Brasil, 1964 – 1985
O Brasil de 1964 vivia uma um estaríamos hoje vivendo outro
momento de descoberta política e cenário”. cultural, e a Ditadura foi uma ruptura Todo esse cenário atingiu a esse esplendor. “Restaurar a diretamente a Imprensa brasileira, disciplina, combater o comunismo, acompanhadas de perto pelo medo defender a democracia”, esse era o e o silêncio, durante os 21 anos do lema dos militares. A Ditadura governo militar. O mais mudou o Brasil, o jornalista Audálio impressionante nessa realidade, era Dantas, presidente do Sindicato dos que os grandes veículos de notícia Jornalistas em 1975, explica que “o apoiavam o golpe, parte dessa país estava em um momento que se submissão era para proteger os não houvesse o golpe, teríamos conglomerados, que não queriam decolado para uma situação de perder suas concessões ou lucro, progresso que evidentemente antes de tudo eram empresas dentro do capitalismo. O Jornalista Rodolfo Konder, repórter no período de criatividade. A igreja católica Ditadura, relembra a situação dos também se mobilizou a causa, e veículos no início, “os donos dos tinha no jornal ‘O São Paulo’ um dos jornais e as revistas não queriam maiores veículos reprimidos até o correr muitos riscos, mas até final do período, Padre Cido, corriam, como no caso de O Estado jornalista do veículo, conta suas de São Paulo, que publicavam experiências, “há aqueles que diziam poemas de Camões no lugar das que se espremessem nosso jornal, matérias cortadas”, conta. Algumas sairia sangue, porque a gente redes como Estadão mudaram de mostrava as lutas do povo, e o lado, outros como A Folha de São sofrimento da população”. Paulo escolheram sua lucratividade Todos os pequenos jornais no lugar do seu pessoal. sofreram com a marcação cerrada No caso das emissoras de dos militares, o jornal ‘O Pasquim’ rádio, a censura começava no chegou a ser visto como um momento das concessões. “O rádio instrumento criado para destruir a sempre foi reprimido no brasil, não família brasileira. Em outros como ‘O se dá concessão de rádio a nenhum Movimento’ sofria corte em mais da movimento ou organização que metade do texto de suas possa mobilizar as massas, porque publicações, em cima da hora em ele é um meio quente”, explica o que seriam veiculados. Tal costume professor da Escola de extinguiu vários Comunicação e Artes jornais, suas opções da Universidade de São a repressão era o Paulo, Bernardo humor ao mesmo Kucinski. Uma situação tempo em que completamente criticava o regime de diferente a televisão, forma contundente. que era usada como principal instrumento Há quem diga de controle social para que a Imprensa sucede-los ao final da Nanica acabou junto Ditadura, o a Ditadura, isso investimento em porque não existe algumas empresas do ramo que resistência sem repressão. tinham alcance nacional, e através Historiadora da Universidade de São da comunicação dominava a todos. Paulo, Maria Aparecida de Aquino, Um exemplo disso atualmente é a explica a importância da alternativa, vocação da Rede Globo em “a imprensa teve um papel determinar a história do país, em fundamental, ela não foi somente dizer quem vai ser o presidente e uma alternativa à Grande Imprensa, quem não pode. ela criou um tipo de imprensa que O símbolo da resistência à precisa existir e que o Brasil precisa Ditadura foi a Imprensa Alternativa, voltar a conviver”, finaliza. uma reação a censura apoiados por Um ponto forte da Ditadura a coligações de partidos clandestinos. qualquer Imprensa é a censura, o “Ética profissional, e a verdade custe uso de poder no sentido de controlar o que custar”, norteava essa e impedir a liberdade de expressão e ramificação do jornalismo, feito que foi a maneira que os militares exigiu coragem, resistência e muita encontraram para suprimir a informação, Padre Cido destaca que, da tevê Cultura, vários jornalistas “toda Ditadura precisa ganhar o são presos, sem qualquer tipo de consenso do povo, quando se mandato ou autorização. As torturas arrebenta um golpe, a primeira coisa são além de físicas, psicológicas e que eles fazem é calar os meios de morais. Tudo isso culminou no comunicação”. Praticada por assassinato do jornalista Vladmir telefone, os órgãos do Ministério da Herzog dentro das dependências do Justiça e a Policia Federal ligavam 2º Exército, que sustentou a teoria de nas redações passando a lista de suicídio. A partir disso ouve um quais assuntos não poderiam ser clamor geral da população, noticiados. Para garantir a mobilização em conta das efetividade das proibições, os meios atrocidades do regime. Em outubro recebiam censores que fiscalizavam de 1978, o juiz Márcio José de os textos antes de serem publicados, Moraes da 7ª Vara de Justiça a personificação da proibição do Federal de São Paulo declarou a trabalho jornalístico. União responsável pela prisão, Raimundo Pereira, jornalista da tortura e morte de Vladmir Herzog. época, trabalhou na Grande Além dele, vinte e um outros Imprensa e na Imprensa Alternativa, jornalistas foram assassinados em relembra a discriminação da censura busca de liberdade de expressão e contra a Imprensa Nanica, “saíam democracia. algumas coisas e a gente pegava os Com uma atuação textos já publicados pelas grandes fundamental, o jornalismo era a redes, sobre determinados representação do campo social, assuntos, mandava para censura e além de ofício, é um conjunto de ela vetava para nós”. Os veículos de relações, de representações comunicação sempre davam um populares. No regime militar os jeito de mostrar que naquele espaço jornalistas encabeçaram a lista de haveriam matérias relacionadas ao censurados. A classe jornalística era governo, as que sofriam censura muito politizada e ideológica, eram distribuídas em forma de xerox preocupando-se com a ética do seu nas periferias junto ao jornal trabalho e o compromisso com a aprovado. comunidade. Ser jornalista na A tortura e ameaça comunista ditadura foi algo concreto a ser foram decisivos na realidade do admirado, vestia-se a camisa de jornalismo. Acusados de compactuar Imprensa. com o comunismo dentro do canal A Imprensa atualmente
É de se esperar que festejamos Em geral foram 104 casos de
a democracia, após a Ditadura, a violência a Imprensa, o que pode ser direito à informação livre pelas mãos considerado um ataque a da Imprensa é estabelecida. democracia, já que, repórteres e Infelizmente, não é de todo verdade, cinegrafistas tanto de impresso, o Brasil ainda é um dos países mais rádio ou televisão trabalham no violentos na prática jornalística, intuito de levar a informação a segundo a Organização das Nações comunidade. Em um panorama Unidas para a Educação, Ciência e absoluto, esses registros são Cultura - Unesco. contabilizados por associações No relatório da Associação ligadas aos jornalistas, na vertente Brasileira de Emissoras de Rádio e de que é preciso sempre buscar Televisão, divulgado anualmente, condições dignas e seguras de mostrou que em no ano de 2018, trabalho. houveram 4 assassinatos, 4 atentados, 23 casos de agressões, 28 registros de ameaças ou intimidações, 17 ataques ou situações de vandalismo, 5 casos de ofensas na internet, 1 registro explícito de censura, 2 casos de assédio sexual, 3 roubos e furtos, 11 decisões judicias não contabilizando os casos de violência não letal. Países como Síria, Iraque e Programa Tim Lopes de segurança a Somália em suas crises políticas, jornalistas tratam das investigações humanitárias e institucionais lideram sobre homicídios, sequestros ou o ranking de violência a seus tentativas de homicídio e sequestro comunicadores, em seguida, vem o de comunicadores e, em alguns Brasil. Aqui, apenas metade dos casos, dar continuidade às casos de assassinatos a imprensa reportagens que estes desenvolviam foram solucionados. De 1995 ao ano quando foram impedidos. O projeto de 2018, segundo o relatório do também dividido em duas fases, Conselho Nacional do Ministério onde a primeira trabalha o Público (CNMP), foram registrados documentário ‘Quem matou? Quem 64 casos contra a vida de jornalistas, mandou matar?’, produzido pelo em razão e sua profissão. Desses, jornalista Bob Fernandes, pelo 32 foram solucionadas e outros 16 fotógrafo Bruno Miranda e pelo estão em investigação. Os estados fotojornalista João Wainer, onde com maior número de mortes é o Rio conta os bastidores e os riscos de se de janeiro com 13 registros, seguido fazer jornalismo fora dos grandes da Bahia com 7 e o Maranhão com 6 centros. casos. Em seguida, na segunda fase A amostra feita no relatório será trabalhado através de uma rede desde 1995 levou em consideração de jornalistas das principais o tempo que os crimes levam para redações do país para cobrir os serem prescritos, em 20 anos esses casos que se enquadrem no dados só foram aumentando. programa, procurando o não Grande parte dos crimes contra a arquivamento ou banalização da vida de comunicadores ocorreu no violência contra os colegas de período entre o ano de 2011 a 2016, profissão. foram 35 casos registrados. Em Antes de tudo, antes mesmo 2017 caiu para apenas um caso, no de termos um jornalismo justo, entanto, no ano seguinte subiu para temos de ter um jornalismo livre, e 4 mortes. Todos esses dados infelizmente não se trabalha com as mostram que a violência, as ameaça mesmas garantias de voltar para e os crimes contra a vida de casa no fim do dia, assim como a jornalistas representam um ditadura desconstruiu o jornalismo, crescimento de 30%, em relação aos censurando, reprimindo, sufocando- anos anteriores. o até que fosse necessária uma Um feito nada produtivo, já reação pequenina, mas que que o jornalista atua como mediador significou tanto. Quantos outros da informação ao povo, se o simples comunicadores serão necessários fato de produzir notícia, exercer seu para que se torne além de um trabalho com liberdade e dignidade problema de Estado e passe a vista ofende ou incomoda de alguma nacional e internacional que o maneira uma ínfima parcela da jornalista age como vigilante do população, ao ponto extremo de usar poder, da veracidade e da justiça. a violência e polarizar o público ao A versão social do jornalismo qual se destina essa informação, não era una, dominante, uma instituição temos jornalismo. só. Hoje ele é uma das várias coisas Uma campanha da que se fazem para socializar o Associação Brasileira de Jornalismo mundo, é uma realidade diluída. Investigativo (Abraji) chamada Apesar desses abalos, a Imprensa cumpre seu papel, e continua seu vivemos uma democracia plena, boa caminho em busca da liberdade. parte do Brasil vive essa ilusão, Muito do futuro do país depende da ainda temos muito o que caminhar Imprensa, já que é ela que cobra do para que tenhamos realizações Estado por satisfações. Mas não democráticas.