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Ricardo Costa da Silva Souza Caggy e Karla Souza Caggy Costa da Silva

AÇÕES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL E A FALÁCIA DA SUSTENTABILIDADE: UMA


AGENDA PARA TRANSFORMAÇÃO NO BRASIL
Ricardo Costa da Silva Souza Caggy1
Karla Souza Caggy Costa da Silva 2

Resumo
   
  
  

-
carização das relações de trabalho. Diante do aumento dos excluídos do sistema econômico convencional

 
  
!"#$   %

 
  %       
   &
Ademais, o artigo apresenta as formas hegemônicas de pensar a economia, contrapondo-se a estes modelos
através das bases do desenvolvimento para além do capital.

Palavras-Chave: Desenvolvimento; sustentabilidade; economia.

Abstract
This article aims to present perspectives on the development site opposite the precariousness of labor rela-
tions. The increase of the excluded from conventional economic system and the absence of national policies
 

 ' # * 

'
*    

transformation. The article presents the hegemonic forms of economy and runs counter to these models
through the foundations of development beyond the capital.

Key-words: Development, sustainability, economy.

Introdução    


       -
bater sobre ações de desenvolvimento lo-
Com a ruptura do modelo fordista cal, descrever e analisar a perspectiva do
e a emergência de uma política neoliberal desenvolvimento alinhado à sustentabili-
global, as ações de desenvolvimento na-    

cional passam por um momento de trans- e mitos a respeito desta proposta de de-
formação e debate. Tais modelos, basea- senvolvimento local em vista da economia
dos no grande capital, em superestruturas, sustentável.
e em altos investimentos do governo, per-
dem cada vez mais espaço dentro de Da crise global ao desenvolvimento lo-
propostas políticas, além de a agenda de cal
desenvolvimento ganhar um novo item, a
sustentabilidade, a qual perspectiva a ma- Podemos dizer, a priori, que a ne-
nutenção e sobrevivência dos sistemas. cessidade do debate sobre o sistema

1
Administrador (UEFS); Mestre em Administração pela Universidade Autónoma de Lisboa - (UAL), Professor
da Faculdade Adventista de Administração – FAAD.
2
Karla Souza Caggy Costa da Silva - Administradora (FACAPE); Fisioterapeuta - (FAFIS); Especialista em
Saúde Coletiva pela Faculadade São Camilo - (FSC).

Revista das Faculdades Adventistas da Bahia Formadores: vivências e estudos, Cachoeira, v. 3, n. 1 2010 31
AÇÕES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL E A FALÁCIA DA SUSTENTABILIDADE...

econômico atual e a interpretação deste


O próprio capitalismo, segundo a
sistema econômico é vigente, uma vez
ótica neoclássica de organização
que, segundo França Filho (2007), deve- indus¬trial, estava evoluindo, tendo
se entender a economia como uma econo- passado, no século 19, por uma fase
 

        
 de capitalismo competitivo e de atomi-
de coexistência de diferentes formas de zação de consu¬midores e produtores,
para uma outra fase de capitalismo
“fazer economia”, as quais podem variar
industrial organizado (ca¬racterizada
nos contextos sociais, históricos e culturais 
  '
 +
-
da sociedade.  
  /4
Essa interpretação facilita a que- fase atual – chamada de capitalis¬mo
bra do paradigma econômico, reduzindo desorganizado – em que os princi-
pais aspectos são a emergência de
a economia à simples troca mercantil e
   
5 
racional baseada em uma concepção utili-        6 
tarista em que os modelos alocativos estão empresas multi-nacionais, o crescente
fundamentados na relação entre recursos papel da tecnologia da informação, a
e produção. Pensar a economia como plu- implantação de sistemas de produção
#$        
ral é possibilitar a existência de sistemas
economia informacional global. (MEL-
alocativos não-mercantis e não-monetári- LO, 2006)
os. (FRANÇA FILHO, 2007). No entanto,
pensar em uma economia plural é fruto
da decadência do modelo hegemônico A partir das últimas décadas do
econômico fordista que dominou o mun- século XX, a globalização econômica se en-
do até a década de 70 e que necessitava contra relacionada às novas formas imple-
            mentadas pelo capitalismo, permitindo-lhe
grande capital. Podemos ressaltar, ainda,     
   
que com a ascensão do modelo político capital, bem como propiciar o aumento do
neoliberal no início da década de 80 e a grau da sua internacionalização. (GÓMEZ,
$
   

!    
   - 2002 apud SILVA e BENEVIDES, 2009).
cesso de afastamento do estado e das con- De acordo com Mello (2006), o que
dições de geração de emprego e de renda caracteriza o mundo atual é a rápida e
por este ator, diminuíram drasticamente, crescente interdependência da economia
evidenciando a soberania das políticas na- 
    " =  
cionais que encontram-se a serviço dos in- social dos países, regiões e cidades ao re-
teresses “globais” e dos agentes do capital dor do mundo depende, de maneira cres-
internacional. cente, de interações complexas que estão
sendo estruturadas numa escala global.
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O Estado-nação perde a capacidade econômico ao invés de resumi-la como


de regulação nas esferas da produção e uma “economia dos pobres” e excluídos.
da reprodução social. No mundo inteiro Ademais, pensa na prática da economia
há um forte movimento de privatização e solidária a partir de diferentes nodos de
desregulamentação da economia, acom- gestão e ainda na criação de um mod-
panhados pela retração das políticas so- 
 % 5  
ciais e crise do Estado-previdência. Diante oferta e demanda.
disso, as transformações do capitalismo Nesta concepção paraeconômica
   
 - para Ramos (1989), o mercado deixa de
tação global nas esferas econômica, social ser a principal referência do processo de
e política. (SOUZA SANTOS, 2008). Neste 
   
sentido, a crise do capital, a precarização de economia-solidária e os seus resultados
 
>   
    deixam de ser avaliados por indicadores
do “pensamento global” e a internacionali- de mercado e passam a ser vistos através
!  #$ 
   do social, político, cultural e econômico em
de a margem dos excluídos do grande cir- uma concepção sustentável-solidária, indi-
cuito ampliar-se cada vez mais, em que os cadores de desenvolvimento.
considerados fora do sistema econômico O modelo hegemônico do pen-
convencional buscam soluções e alterna- samento econômico ainda valora e avalia
tivas para a sobrevivência. os sistemas econômicos de maneira sin-
Assim sendo, não cabe pensar em gular, numa perspectiva meramente mer-
economia apenas baseada nas relações 
 %#
> %
mercantis, pois a manutenção e sobre- é desenvolvido, ou supostamente subde-
vivência dos inseridos no circuito inferior senvolvido, e as ações emergentes e per-
dá-se em virtude de uma economia pensa- iféricas na tentativa de desenvolvimento
da de forma plural. Tal compreensão apre- econômico em uma perspectiva plural. Es-
senta-se como uma necessidade latente, tas, ainda não acontecem de forma gener-
pois, segundo França Filho (2007), permite alizada. Estão alinhadas, principalmente,
perceber as singularidades da economia a ações incrementais e locais com aporte
solidária para além da concepção racion- da participação popular e ainda distantes
alista e utilitarista dominante, bem como a       
   
  %
possibilidade de articulação entre os níveis emana a necessidade de um repensar o
micro e macro-social da economia plural, desenvolvimento, agora com um olhar do
além de utilizar-se da percepção da eco- local para o global. Essa necessidade se
nomia solidária como outro modo de agir           

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à convencional prescrição de ‘mais cresci- Ao se recorrer a estes conceitos, dois as-


mento econômico’, acompanhado de in- pectos merecem destaque: 1) a ligação do
strumentos compensatórios das evidentes desenvolvimento à apenas o crescimento
mazelas sociais e ambientais geradas pe- econômico é no mínimo um equívoco es-
los padrões de crescimento que vigoram trutural e conceitual; 2) os indicadores de
até os dias atuais. (MALUF, 2000). avaliação do desenvolvimento devem ser
Ainda de acordo com Maluf (2000), criados a partir de construções locais, ou
o procedimento mais adequado e, sem     %  
  
@
 %    constroem o processo de melhoria.
noção de desenvolvimento é o de ater-se O conceito de local tem grande rel-
ao sentido literal do termo e às duas ideias evância neste debate, uma vez que mini-
principais nele contidas: as de melhoria e !  #  
  =  
de processo. racionalista do grande capital, nos quais
   =  "  
 
[...] Daí deriva o sentido a ser atribuído a frente da análise de qualquer ação de
ao desenvolvimento econômico e sua
desenvolvimento. Adota-se, portanto, nes-
     -
el de melhoria da qualidade de vida de
ta análise, o conceito de local que pode ser
          
  5
  
 5   % e memória próprias, com identidades e
está buscando ou vivenciando este práticas políticas determinadas. Segundo
  & J"     
Fischer (1992 apud SILVA, 2008), “como
instrumental (como quase todas neste
campo) adequada ao tratamento das
   

 Y -
questões em debate na literatura, que   

!  
evita ao mesmo tempo uma abord- socialmente construído”:
agem paradigmática do tema e o pro-
cedimento convencional -às vezes A noção de ‘local’ contém duas idé-
 "      ias complementares em um sentido
Q W%!
- e antagônicos em outro. Se o ‘local’
minar e dar coerência à ampla varie- refere-se a um âmbito espacial de-
dade de aspectos que se quer ver con-
     
siderados. (MALUF, 2000). base, território, microrregião e outras
designações que sugerem constân-
Tem-se, então, o desenvolvimento cia e certa inércia, contêm igualmente
como um processo sustentável de mel- o sentido de espaço abstrato de

>   %   -
horia da qualidade de vida, devendo ser
legiar e, portanto, indica movimento
avaliado por indicadores da própria so- e interação de grupos sociais que se
ciedade, isto é, do local dos crescimento. articulam e se opõem em relação a

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interesses comuns. E, assim, invariav- local está ligada à dimensão da cidadania,


elmente a análise do ‘local’ remete ao “a qual, por sua vez, não é passível de ser
estudo do poder enquanto relação de
mensurada a não ser por procedimentos
forças, por meio das quais se proces-
sam as alianças e os confrontos entre tautológicos, que consistem em atribuir-se
atores sociais, bem como ao conceito pontos àquilo que se quer medir”. Assim,
de espaço delimitado e à formação a ideia de desenvolvimento local deve ser
de identidades e práticas políticas entendida de forma polissêmica, e neces-
& ^       
   % 
local tem um fundamento territorial in-
egável, não se resume a este, como, as dimensões em que se exerce a cidada-
aliás, assinalam os geógrafos ao nos nia, na qual “qualquer tentativa, pois, de
dizerem das muitas maneiras de se transformá-la em modelos paradigmáticos,
construir os espaços, refutando fron- está fadada ao fracasso”. O desenvolvi-
teiras institucionais e reconstruindo-as
mento local não necessariamente entraria
em função de problemáticas adotadas.
(FISCHER, 1992 apud SILVA, 2008) em contradição, ou em tensão, com a glo-
balização, podendo ser, ao contrário, um
Assim, segundo Oliveira (2001), de seus círculos concêntricos (OLIVEIRA,
o desenvolvimento local poderia, corre- 2001).
sponder, em âmbitos mais restritos e mais Nesta perspectiva de desenvolvi-
circunscritos, à noção de desenvolvimento mento local, outro conceito é convocado
    
  
 ^_   ` para o entendimento global do desenvolvi-
    %  mento, a democracia, que “se a entend-
bem-estar e qualidade de vida. O autor traz ermos no sentido forte da palavra, isto é,
algumas ressalvas a quanto a essa con- no sentido da igualdade, da participação
ceituação, em que a primeira considera o coletiva de todos na apropriação dos bens
não-desenvolvimento local como um sub- coletivamente criados — tem também uma
desenvolvimento no sentido forte de que dimensão social e econômica.” (COUTIN-
ele é peculiar ao subsistema do capitalis- HO, 2008).
mo, tendo implicações teóricas e práticas, Segundo Coutinho (2008), “não ex-
pois, ainda segundo o autor, “o desenvolvi- iste efetiva igualdade política se não há
mento local não será o elo numa cadeia igualdade substantiva, a qual passa nec-
de desenvolvimento total”, ou é concebido essariamente pela esfera econômica”, ou
como alternativa, ou reproduzirá a forma   
  -
estrutural. racia sem que existam condições iguali-
Outra ressalva realizada por Olivei- tárias econômicas, sociais e políticas dos
ra (2001) ao conceito de desenvolvimento indivíduos, o acesso e o uso da cidadania

Revista das Faculdades Adventistas da Bahia Formadores: vivências e estudos, Cachoeira, v. 3, n. 1 2010 35
AÇÕES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL E A FALÁCIA DA SUSTENTABILIDADE...

devem ser efetivamente democráticos. As- mento as atividades manufatureiras, com


sim, pensar em desenvolvimento local é   "-
      Y     ação de pólos industriais, traço marcante
que podem elevar ou melhorar o processo das políticas de desenvolvimento pratica-
de qualidade de vida das pessoas (que das na região até a década de 1980:
compartilham de um espaço), no âmbito
econômico, político, social, cultural e am- Idealmente, políticas voltadas para a
promoção de APLs adotam, em geral,

& j    >    
uma perspectiva local do desenvolvi-
avaliadas, podemos estar caindo no enga-
mento, constituindo-se em alternativa
no do “crescimento econômico” ou, quiçás, às políticas voltadas, exclusivamente,
numa criação de um subsistema de poder3 para o crescimento econômico. Os
que repete o sistema de desenvolvimento     
Y    
  
concentração do capital, ao contem-
do grande capital.
plar ações que contribuam para erradi-
Apesar da característica incipiente,
car a pobreza e diminuir as desigual-
não se pode negar as tentativas incremen- dades existentes. Nessa perspectiva,
tais da articulação de políticas nacionais importa, além do crescimento em si,
com o propósito da alavancagem de de- a criação de meios pelos quais os ter-
ritórios possam construir uma base
senvolvimento local. Diante disso, é impor-
produtiva sólida e sustentável. Para
tante compreender que, segundo Teixeira
isso, as políticas de promoção de APLs
kw44{+ 
  
 normalmente incluem, em paralelo à
é de, por meio da melhoria da competitivi- busca de competitividade pelas em-
dade de empresas especializadas seto- presas, outras dimensões das reali-
dades locais, tais como: i) o capital hu-
rialmente e aglomeradas territorialmente,
mano (os conhecimentos, habilidades
promover uma melhor distribuição regional
e competências da população local, as
e social de renda, contribuindo para a in- condições e a qualidade de vida); ii) o
stalação de um processo de desenvolvi- 
 
k  
mento local sustentado. Para o autor, esse cooperação, reciprocidade, organi-
zação social e participação política da
tipo de política é frequentemente interpre-
sociedade civil local); iii) a governança
tada como uma alternativa inovadora às
(as formas de liderança, participação,
políticas industriais e de desenvolvimento       #-
regional tradicionais, caracterizada pelo fo- tos); e iv) o uso sustentável do capital

3
As relações de poder se sustentam e são passíveis de existência por meio de alguns atores, dentre eles o
Estado e os grupos de interesses (elites, partidos políticos, empresas e outros) vinculados ou não ao mesmo.
(SILVA, 2008)

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natural (TEIXEIRA, 2008). tionamentos: como então desenvolver


localmente e contemplar as dimensões
Nesse aspecto, é válido recorrer a sociais, econômicas, políticas, culturais e
|  kw44}+        ambientais? Qual o papel da sociedade
paradoxo da sociedade brasileira. Tem-se civil neste processo? Como manter ao lon-
que a participação da sociedade civil tor- go do tempo estas ações? Como construir
nou-se central como característica distin-    
 4 verdadeiramente pau-
           tado na sustentabilidade?
de espaços públicos em que o poder do Estes questionamentos encontram
Estado pudesse ser compartilhado com um aporte nos conceitos disseminados de
  &      
  - desenvolvimento sustentável. Mesmo que
mos um estado neoliberal, eximindo-se da por vezes com fragilidades estruturais, a
sua responsabilidade, de outro temos uma sustentabilidade tornou-se a perspectiva
ampliação da atuação da sociedade civil de apoio para o discurso que coaduna com
que participara de um processo de (re)de- as ações de poder local.
mocratização do país e agora é cooptada Keinert (2008) observa que existe
para a intervenção no desenvolvimento da uma panacéia de conceitos e banalização
sociedade, servindo no que Dagnino cita teórica quanto à expressão sustentabili-
  ~ #     dade. Veiga (2006) defende a tese de que
da sociedade civil. o desenvolvimento sustentável anuncia a
Essa perspectiva é salutar na dis-  %  
  
 
cussão, pois se estamos falando em de- que as políticas nacionais brasileiras ainda
senvolvimento, analisado em diferentes estão orientadas por indicadores econômi-
perspectivas (e não somente no âmbito cos, típicos do mercado, (grande capital)
econômico), deve-se debater o desenvolvi- e não estão conduzindo à redução das
mento da sociedade na construção de um desigualdades sociais nem ao uso racional
   
    %    
 dos recursos naturais, dimensões indis-
 
       pensáveis a perspectiva sustentável.
um mero expectador de políticas constituí- O conceito mais difundido de de-
das no seio da perspectiva neoliberal. senvolvimento sustentável é “aquele que
Sendo assim, surgem alguns ques- atende às necessidades do presente sem

4
~   
   5$      -
ças, interesses, concepções de mundo, representações do que deve ser a vida em sociedade, que orientam
 
  &k|‚ƒ^†^w44}+&

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AÇÕES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL E A FALÁCIA DA SUSTENTABILIDADE...

comprometer as possibilidades das ger- dentro das fronteiras desses sistemas


ações futuras atenderem as suas próprias menores. (BELLEN, 2005).
necessidades” (CMMAD, 1991). Pensar Desta forma, encontramos as
em sustentabilidade é pensar em desen- primeiras falácias no conceito de desen-
volvimento sem cortes temporais e a am- volvimento local sustentável. Seria impos-
pliação da capacidade de harmonização sível avaliar a sustentabilidade de ações
coletiva, em que os interesses individuais de desenvolvimento (em qualquer dimen-
e egoísticos são sucumbidos pela per- são) sem a análise das interrelações do lo-
spectiva coletiva e atemporal. cal com outros locais, ou até mesmo com
Sachs (2008) propõe cinco pilares o global. É necessária a criação de indica-
para a sustentabilidade: 1) a sustentabili- dores que contemplem as interrelações e
dade social, que implica em construir uma #5$5%
sociedade (por motivos intrísecos e instru- elas produzem no processo de desenvolvi-
mentais); 2) a sustentabilidade econômica, mento local.
a qual implica na condição para que as coi- O segundo aspecto é que o discurso
sas aconteçam; 3) a sustentabilidade am-  k%%   +
biental, a qual trata de respeitar os limites é que a sustentabilidade deve ser encara-
de capacidade de carga e de provedores da primeiramente ou prioritariamente em
recursos; 4) a sustentabilidade territorial, uma perspectiva ambiental, esse equívoco
voltada para um equilíbrio das distribuições diminui os pilares da sustentabilidade so-
dos recursos, das atividades e das popu- bre a questão ambiental (não que a sua
lações; 5) a sustentabilidade política, vol-   6
 +&^ -
tada para a manutenção da liberdade e da          %
%
governança democrática. ação do ponto de vista sustentável em que
Existem múltiplos níveis de sustent- os indivíduos não agem sob o ponto de
abilidade, o que leva à questão da inter- vista da construção de uma aprendizagem
relação dos subsistemas que devem ser social, do amadurecimento político e, prin-
sustentáveis, o que, no entanto, por si só cipalmente, não compartilham de um pro-
não garante a sustentabilidade do sistema   
 &‚      

como um todo. A sustentabilidade é pas- torna-se apenas como ferramenta em um
sível de análise do ponto de vista de um processo desenhado por outros. Assim, a
subsistema, como por exemplo, dentro de sustentabilidade e as ações de desenvolvi-
uma comunidade local, no entanto, deve- mento local devem prioritariamente pas-
se reconhecer que existem interrelações sar por ações de desenvolvimento político,
e fatores que não podem ser controlados  
   
     %   

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construção sólida do desenvolvimento problemas estruturais (para os que estão


econômico e ambiental sustentável. a margem do circuito superior do grande
Outro aspecto importante nessa capital) não podem ser individuais, isto é,
   Y     
  % baseada numa suposta capacidade em-
a construção sustentável perpassa por preendedora individual, mas coletivas,
uma motivação local, devendo encontrar o baseadas em novas formas de regulação
abrigo ou o aporte necessário no estado, das relações econômico-sociais. Nesta
pois políticas nacionais desenhadas e im- perspectiva, França Filho (2008) consid-
postas não desenvolvem, apenas replicam era como fundamental, a valorização de
modelos que podem ou não gerar apenas soluções endógenas a partir da idia de que
desenvolvimento econômico (crescimento) todo local pode ser portador de soluções
regional. para os seus próprios problemas.
Uma ressalva a ser feita, no que
se refere à sociedade civil e ao processo Uma rede de economia solidária sig-
       
 
de desenvolvimento social como socie-
de vários empreendimentos e/ou inici-
dade civil, é que se entende os diferentes
ativas de economia solidária com vis-
interlocutores da sociedade como movi- tas a constituição de um circuito próprio
mentos sociais, indivíduos, ONGs etc. A de relações econômicas e intercâmbio
sociedade civil não se restringe às ONGs, de experiências e saberes formativos.
ˆ        
nem tampouco aos movimentos sociais,
uma rede de tal natureza: - permitir
mas entende-se como todos os atores não
a sustentabilidade dos empreendi-
pertencentes ao Estado. Essa concepção mentos e/ou iniciativas de economia
é importante, uma vez que possibilita o solidária em particular; - fortalecer o
entendimento do desenvolvimento susten- potencial endógeno de um território na
sua capacidade de promoção do seu
tável no âmbito do social, presumindo-se o
próprio processo desenvolvimento.
desenvolvimento do debate, participação,
(FRANÇA FILHO, 2008).
cidadania e consciência política dos par-
       
   As redes de economia solidária fun-
local. cionam como mecanismos na tentativa de
Uma perspectiva, aqui adotada, reconhecimento de outro modo de instituir
      
  

 e agir a prática da econômica. Assim, as
sustentável é a contida em França Filho redes “consistem num associacionismo
(2008), que trata a concepção sustentáv- mais amplo, compreendendo certo número
el-solidária como parte da premissa seg- de experiências concretas de organização
undo a qual as saídas ou soluções para de fomento e apoio que compartilham va-

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lores e regras comuns” (FRANÇA FILHO,  


 %
 +  -
2007). Essa prática apresenta, segundo do práticas empreendedoras, mas também
o autor, um caráter militante e, ao mesmo pautadas na economia mercantil.
tempo, de assistência técnica. A perspectiva de redes de econo-
É válido lembrar que esta concep- mia-solidária difere-se, assim, de uma es-
ção encontra-se assentada em uma per- tratégia insercional-competitiva, uma vez
spectiva sustentável-solidária, em que se que percebe a co-existência de um sis-
percebe a necessidade de construção de tema econômico, em que a troca mercan-
estratégias territoriais de desenvolvimento, til, a escassez de recursos e a produção
em torno de outra dinâmica econômica, não são os únicos balizadores das ações
baseadas na construção e fortalecimento econômicas. Ao contrário, valoriza-se a
de circuitos sócio-produtivos locais e in- ideia de Guerreiro Ramos (1989) do mod-
tegrados ao tecido das relações sociais, elo paraeconômico, em que a computação
políticas e culturais de um lugar. Segundo da riqueza das nação não registre apenas
França Filho (2006), essa perspectiva aca- o que é vendido e comprado, mas também
ta iniciativas econômico-solidárias articu- os recursos e aquilo que é produzido em
ladas com as dimensões sociais, culturais uma base solidária, de associacionismo ou
e políticas de certa região, buscando um cooperativismo.
desenvolvimento mais abrangente do que
ações focadas apenas na perspectiva in- Considerações Finais
sercional-competitiva.
As estratégias de economia Em suma, buscamos evidenciar
solidária, na perspectiva insercional-com- aspectos relativos ao desenvolvimento
petitiva5, possuem valor para o desenvolvi- local em face às necessidades de (re)
mento de regiões, mas estão focadas so- avaliar a econômica mundial e nacional.
mente em uma concepção de economia Uma análise das últimas décadas apre-
mercantil, pois baseiam suas estratégias senta uma ruptura dos modelos econômi-
      %
    
  cos baseados no fordismo, taylorismo e
  
  a emergência de relações competitivas
mercado, promovendo a ascensão de de- globais, em que os estados perdem cada
sempregados à economia mercantil (como vez mais o seu poder político e soberano

“Consiste em buscar inserir a população desempregada nos chamados circuitos formais da economia, con-
stituídos, sobretudo, pelos postos de trabalho gerados na economia de mercado por meio das empresas
privadas e, subsidiariamente, das instituições públicas de Estado em seus mais variados níveis, via concurso
público, quando acontece.” (FRANÇA FILHO, 2008).

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Ricardo Costa da Silva Souza Caggy e Karla Souza Caggy Costa da Silva

em virtude da dominação do grande capital senso comum. Acredita-se que a necessi-


internacional. dade da consciência sustentável perpassa
A precarização das relações de tra- uma (re)avaliação do desenvolvimento,
balho, a internacionalização das econo- pois as dimensões sociais, políticas e
      
  
 
    culturais devem fazer parte de uma base
cruciais no processo de fortalecimento de estruturante para as ações de desenvolvi-
uma postura hegemônica de avaliação e mento local, pois são estas dimensões que
olhar unicamente mercantil para o desen- podem ampliar a consciência coletiva e a
volvimento nacional. Além disso, a ausên- aprendizagem social.
       
  
  Š      % $ 
nacional, pautado no desenvolvimento (em necessidade da ampliação das redes de
todos seus aspectos), foi evidência mar- economia solidária, em que o compartilha-
  Y  ‰4  
   Y
 mento de ideias e soluções locais podem
XX. gerar a inquietação necessária da socie-
Assim sendo, a atuação da socie- dade civil em determinados locais, criando
dade civil é fundamental na tentativa de soluções próprias, com indicadores próp-
desenvolvimento regional (local), em que rios de avaliação e, principalmente, am-
se busca, através de ações por vezes pliando o debate e a participação em um
isoladas e incrementais, alternativas para      
   
-
regiões desinteressantes para os investi- mento sustentável nacional.
mentos do grande capital.
É perceptível a ausência de um pro- Referências
 
  
% 
!
-
vas ou, pelo menos, se articule entre difer- BELLEN, H. M. van. Indicadores de sus-
entes interlocutores da sociedade civil em tentabilidade: uma análise comparativa,
 
   - Rio de Janeiro, Ed. FGV, 2005.
do mais amplo. As perspectivas políticas e CMMAD (Comissão Mundial sobre Meio
de apoio do Estado ainda se baseiam em Ambiente e Desenvolvimento), Nosso fu-
indicadores mercantis e econômicos de turo comum. 2. Ed. Rio de Janeiro, Ed.
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