PONTA GROSSA
2018
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 3
As competências do Ministério Público .................................................................................. 4
A remissão ................................................................................................................................. 4
Promoção e acompanhamento dos procedimentos infracionais .......................................... 5
Ações de alimentos e outros procedimentos ........................................................................... 5
Hipoteca legal e prestação de contas ...................................................................................... 5
O inquérito civil ........................................................................................................................ 6
Procedimentos administrativos ............................................................................................... 6
Notificações e requisições ........................................................................................................ 6
Sindicâncias, e requisição de inquérito policial ..................................................................... 7
Zelo pelos direitos e garantias das crianças e dos adolescentes ........................................... 8
ARTIGO 202 ............................................................................................................................ 9
ARTIGO 203 .......................................................................................................................... 10
ARTIGO 204 .......................................................................................................................... 11
ARTIGO 205 .......................................................................................................................... 12
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 13
INTRODUÇÃO
1
MAZZILLI, Hugo Nigro. O Ministério Público No Estatuto Da Criança E Do Adolescente. Disponível em:
<http://www.mp.sp.gov.br/pls/portal/url/ITEM/1995EF1CFA2A715CE040A8C02701429>
Acesso em: 04 nov 2018.
3
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão”.
Desta forma, não se pode excluir a iniciativa ou a intervenção ministerial em
qualquer feito judicial em que se discutam interesses sociais ou individuais indisponíveis
ligados a proteção da criança e do adolescente; o mesmo se diga quando se trate de interesses
coletivos, difusos ou individuais homogêneos Ligados à proteção da infância e da juventude.
A expressão competir foi utilizada no art. 201, caput, do Estatuto, com sentido
de competência administrativa, ou seja, um conjunto de atribuições cometidas a um órgão.
As atribuições do Ministério Público, na área de proteção à infância e à juventude
não se exaurem no art. 201 do Estatuto: incluem também atribuições implícita ou explicitamente
a ele conferidas nos demais dispositivos do Estatuto, como ainda vão além, ou seja,
compreendem atribuições conferidas à Instituição, nessa área, pelas mais diversas leis, entre as
quais não está excluída a lei orgânica local de cada Ministério Público.
A remissão
A remissão veio expressamente prevista nos arts. 126-a 128 e 201, I, do Estatuto
da Criança e do Adolescente, em atendimento à recomendação constante da Res. 40/33, de
19.11.85, da Organização das Nações Unidas.2 Sem aqui adentrar em exame mais profundo do
instituto, cabe anotar que a remissão foi concebida como forma de exclusão do processo, seja
como perdão, seja para aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação
em regime de semiliberdade e a internação (ECA, art. 126).
Quando é o órgão do Ministério Público que concede a remissão ao adolescente
autor de ato infracional, deixará de propor judicialmente a representação.
A remissão não é irrevogável, podendo ser a medida nela aplicada revista a
qualquer tempo, mediante pedido expresso do adolescente ou de representante legal, ou do
próprio Ministério Público(art. 128 do ECA). Por fim, o maior mérito do novo instituto consiste
2
MARÇURA, Jurandir Norberto, “Remissão é instrumento valioso”, O Estado de S. Paulo de 24.4.91, p. 14.
4
na sua utilidade prática, bem ressaltada por Jurandir Norberto Marçura3, uma vez que grande
parte dos casos, de menor gravidade, pode e deve receber tratamento adequado, com o
atendimento e a orientação, feitos de forma usual e profícua, em milhares de comarcas do País,
diariamente, pelos órgãos do Ministério Público.
3 CURY, Munir. PAULA, Paulo Afonso Garrido de. MARÇURA, Jurandir Norberto, Estatuto da Criança e do
Adolescente anotado, art. 186, Ed. RT, 1991.
5
hipoteca legal, se os interessados lhe solicitarem sua promoção oficial (art. 843); por sua vez, a
promoção da ação de prestação de contas, em face de tutores, curadores e administradores de
bens de incapazes já era cometida ao Ministério Público pelo Código Civil (art. 394 do CC de
1916; art. 1.637, do CC de 2002) e pelo Código de Processo civil (art. 914, I).
O inquérito civil
Procedimentos administrativos
Notificações e requisições
6
Complementar n. 75/93, art.8°). Em inúmeras dessas hipóteses, destinatário da
requisição pode ser até mesmo o Particular (art. 201, VI, c, do ECA). Em havendo sigilo legal
sobre a matéria, incumbe ao órgão do Ministério Público resguardar o sigilo, posto se lhe
assegure o acesso à informação (art. 201, § 4° do ECA).
Desde que esteja o órgão do Ministério Público dentro de suas atribuições, terá
ele o poder de requisição, podendo dirigir-se a particulares, instituições privadas ou a
autoridades federais, estaduais ou municipais pouco importa seja membro do Ministério Público
federal ou estadual.
Poderá requisitar não só informações e documentos, mas, quando seja uma
autoridade o destinatário da requisição, até mesmo a realização de perícias e exames, junto à
administração direta ou indireta.
ARTIGO 202
O art. 202 do ECA4 diz respeito à atuação do Ministério Público nos processos e
procedimentos em que não for parte, zelando pelos direitos e interesses previstos no ECA.
Primeiramente, deve-se notar que, pela terminologia utilizada pelo legislador, que o
art. 202 prevê não somente a intervenção ministerial em processos judiciais, como também em
procedimento judicial, de natureza meramente investigatória ou de interesse administrativo.5
Há certos interesses que, pela sua relevância, merecem atenção especial pelos órgãos
públicos, em especial do Ministério Público, o qual foi incumbido, pelo caput do art. 127 da
Constituição Federal6, com a função de defender os interesses sociais e individuais
indisponíveis.
Ecoando o dispositivo ora em análise, Código de Processo Civil, no art. 1787, previu
três hipóteses de intervenção do Ministério Público em processos judiciais: o órgão ministerial
deverá atuar nos feitos que envolvam interesse público ou social, interesse de incapaz e litígios
coletivos pela posse de terra rural ou urbana.
4
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na
defesa dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que terá vista dos autos depois das partes,
podendo juntar documentos e requerer diligências, usando os recursos cabíveis.
5
DAL POZO, Antônio Araldo Ferraz. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado. Disponivel em:
<http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/trabalhoinfantil/promenino-ecacomentario/eca-comentado-artigo-
203livro-2-tema-ministerio-publico/> Acesso em: 17 nov. 2018 .
6
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-
lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
7
Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem
jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam: I - interesse
público ou social; II - interesse de incapaz; III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. Parágrafo
único. A participação da Fazenda Pública não configura, por si só, hipótese de intervenção do Ministério Público.
8
Verifica-se, assim, que a proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes é, com
efeito, um interesse jurídico de alta relevância, o que enseja a intervenção do Ministério Público
em todos os procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude.8
O Ministério Público é vinculado ao interesse que enseja sua atuação no feito. Se sua
intervenção se dá em razão é em razão de uma das partes que integra a relação jurídica (como
no caso de crianças e adolescentes incapazes), deverá zelar por seus interesses. Caso o motivo
é o bem da vida tutelado, seu compromisso será com este, podendo, então, manifestar-se
favoravelmente tanto ao autor quanto ao réu.
Imperioso ressaltar que a atuação do Ministério Público nas hipóteses previstas na lei
é obrigatória9. Trata-se de comando legal cogente, cujo descumprimento acarreta a nulidade do
feito, conforme previsto no art. 204 do Estatuto10, analisado mais adiante.
Na segunda parte do dispositivo, determina-se que o Ministério Público terá vista dos
autos após as partes, previsão também expressa no art. 179, inciso I, do Código de Processo
Civil11. Trata-se não somente de corolário da atuação ministerial, como também direito do
órgão, a sua manifestação após seu conhecimento antecipado todas as questões trazidas ao feito
pelas partes.
Por fim, também fica prevista a sua capacidade em juntar documentos e requerer
diligências. Nesse ponto, o Código de Processo Civil, no art. 179, inciso II12, inova,
prescrevendo que o Ministério Público pode, além de requerer as medidas processuais
pertinentes, produzir provas e também recorrer.
ARTIGO 203
O art. 203 do ECA13 diz respeito à intimação do Ministério Público, que deverá ser
feita sempre pessoalmente. Segundo Dal Pozzo, com a intimação pessoal do Promotor de
8
DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara de Amorim. Estatuto da Criança e do Adolescente:
anotado e interpretado. 6. ed. Curitiba: Ministério Público do Estado do Paraná, 2013. p. 317.
9
DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara de Amorim. Estatuto da Criança e do Adolescente:
anotado e interpretado. 6. ed. Curitiba: Ministério Público do Estado do Paraná, 2013. p. 317.
10
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício
pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.
11
Art. 179. Nos casos de intervenção como fiscal da ordem jurídica, o Ministério Público: I - terá vista dos autos
depois das partes, sendo intimado de todos os atos do processo; [...].
12
Art. 179. [...]: II - poderá produzir provas, requerer as medidas processuais pertinentes e recorrer.
13
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita pessoalmente.
9
Justiça, evita-se que o mesmo desconheça a existência de feito que demande sua intervenção
obrigatória.14
ARTIGO 204
O art. 204 também encontra respaldo no art. 279 do CPC, que trata das nulidades
processuais:
Art. 279. É nulo o processo quando o membro do Ministério Público não for intimado
a acompanhar o feito em que deva intervir.
14
DAL POZO, Antônio Araldo Ferraz. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado. Disponivel em:
<http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/trabalhoinfantil/promenino-ecacomentario/eca-comentado-artigo-
203livro-2-tema-ministerio-publico/> Acesso em: 17 nov. 2018 .
15
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 07 nov 2018.
16
DAL POZO, Antônio Araldo Ferraz. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado. Disponivel em:
<http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/trabalhoinfantil/promenino-ecacomentario/eca-comentado-artigo-
203livro-2-tema-ministerio-publico/> Acesso em: 17 nov. 2018 .
10
§ 1o Se o processo tiver tramitado sem conhecimento do membro do Ministério
Público, o juiz invalidará os atos praticados a partir do momento em que ele deveria
ter sido intimado.
§ 2o A nulidade só pode ser decretada após a intimação do Ministério Público, que se
manifestará sobre a existência ou a inexistência de prejuízo.17
ARTIGO 205
O artigo 205 trata da fundamentação das intervenções do Ministério Público:
“Art. 205. As manifestações processuais do representante do Ministério Público deverão ser
fundamentadas.”21
17
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 07 nov 2018.
18
DAL POZO, Antônio Araldo Ferraz. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado. Disponivel em:
<http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/trabalhoinfantil/promenino-ecacomentario/eca-comentado-artigo-
203livro-2-tema-ministerio-publico/>Acesso em: 17 nov. 2018 .
19
AZEVEDO, Flávio Olímpio de. Código de Processo Civil Comentado (NCPC). Título III – Das Nulidades.
Disponível em: <https://www.direitocom.com/novo-cpc-comentado/titulo-iii-das -nulidades>. Acesso em: 16 nov
2018.
20
AZEVEDO, Flávio Olímpio de, op cit, loc cit.
21
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm>. Acesso em: 07 nov 2018.
11
A fundamentação, neste caso, se refere ao embasamento legal e fático que o
promotor de justiça deve utilizar em suas manifestações. Ou seja, a expressa exposição de
motivos e razões para justificar o ato.22
Deve-se frisar que essa fundamentação dos atos do MP é requerida em atos
processuais, não sendo necessária sua utilização em procedimentos meramente administrativos
ou pré-processuais.
Isto acontece pois tal dispositivo deve ser analisado em conjunto com o Art. 129
da Constituição Federal: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: VIII -
requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os
fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;”.
Neste dispositivo se enquadram como não necessárias de fundamentação
as investigações pré-processuais. Isto pois, a prematura exposição de estratégia de ação do
promotor de justiça em certos casos pode vir a prejudicar sua atuação e possível desvendar dos
fatos.23
22
DAL POZO, Antônio Araldo Ferraz. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado. Disponivel em:
<http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/trabalhoinfantil/promenino-ecacomentario/eca-comentado-artigo-
203livro-2-tema-ministerio-publico/>Acesso em: 17 nov. 2018 .
23
DAL POZO, Antônio Araldo Ferraz. Estatuto da Criança e do Adolescente comentado. Disponivel em:
<http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/trabalhoinfantil/promenino-ecacomentario/eca-comentado-artigo-
203livro-2-tema-ministerio-publico/>
Acesso em: 17 nov 2018 .
12
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Flávio Olímpio de. Código de Processo Civil Comentado (NCPC). Título III –
Das Nulidades. Disponível em: <https://www.direitocom.com/novo-cpc-comentado/titulo-iii-
das -nulidades>.
Acesso em: 16 nov 2018.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em:
07 nov 2018.
CURY, Munir. PAULA, Paulo Afonso Garrido de. MARÇURA, Jurandir Norberto, Estatuto
da Criança e do Adolescente anotado, art. 186, Ed. RT, 1991.
DIGIÁCOMO, Murillo José; DIGIÁCOMO, Ildeara de Amorim. Estatuto da Criança e do
Adolescente: anotado e interpretado. 6. ed. Curitiba: Ministério Público do Estado do Paraná,
2013.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. v. 1. 10. ed. São Paulo: Saraiva,
2012.
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