NOTA TÉCNICA
N° 003/2019 – DE/DETEC/UGP-OAE
1) Introdução e Histórico
A Rodoviária do Plano Piloto é uma das obras de maior complexidade sob responsabilidade do
Governo do Distrito Federal, não apenas pelo fato de ser um enorme complexo de viadutos
protendidos de grandes vãos e com quase 45 anos e que exige constantes obras de recuperação e
revitalização, como também por ter um fluxo de usuários acima de 700 mil pessoas por dia, o que
dificulta qualquer tipo de ação preventiva ou corretiva sem causar enormes transtornos à sua
operação.
A Rodoviária do Plano Piloto tem relevante importância no sistema de transporte público do Distrito
Federal. A possibilidade de interdição total da rodoviária por conta de um problema estrutural
poderia causar transtornos incalculáveis à vida de milhares de usuários, podendo levar ao colapso
do sistema e com custos muito elevados ao Erário Público. Um acidente estrutural, como do viaduto
da Galeria dos Estados, certamente não ocorreria sem a perda de centenas de vidas, já que há um
grande fluxo diário de pessoas.
Em 2018, após o desabamento do viaduto do Eixo Rodoviário, (Galeria dos Estados), o Tribunal de
Contas do Distrito Federal - TCDF emitiu Relatório de Inspeção nº 02/2018-NFO onde em seu item
nº 7, na página 39, tratou das manifestações patológicas da Rodoviária do plano Piloto, concluindo
que necessita de reparos/manutenções urgentes, com necessidade de intervenções imediatas,
mesmo admitindo que era um dos bens públicos que receberam manutenções recente.
A Rodoviária foi projetada e executada numa época onde o concreto protendido no Brasil não era
tão comum como na atualidade. Os cabos naquela época eram revestidos de papel craft e hoje são
revestidos de bainhas plásticas de PEAD. Foram usadas cordoalhas de protensão CP 150 RN, que
possuem um alívio de tensões na ordem de 7 a 12%, bem superior aos às cordoalhas mais modernas
CP 190 RB, que possuem um alívio de tensões na ordem de 3 a 3,5%. Essa característica das
cordoalhas utilizadas à época explica diversas manifestações patológicas que surgem em obras do
DF executadas no mesmo período da rodoviária, como foi o caso do viaduto da Galeria dos Estados
que desabou em 6 de fevereiro de 2018. Além disso, o processo de injeção de estruturas com
protensão aderente não tinha tanto controle de material e procedimentos como na atualidade, por
isso as obras daquela época em Brasília apresentam diversos problemas de vazios de injeção.
Em função disso, as estruturas protendidas com o aço CP 150 RN podem ter uma tendência maior
de sofrer fissuração por conta da relaxação. Salienta-se que isso não se configura em hipótese
alguma um erro de projeto, mas apenas uma condição inerente a tecnologia disponível à época.
Há mais de duas décadas a Rodoviária do Plano Piloto vem recebendo quase que initerruptamente
obras de recuperação, reforço e revitalização. Já foram realizadas obras em praticamente toda a
estrutura da Rodoviária, desde as praças sul e norte, buraco do tatu e plataformas inferiores e
superiores. Neste momento, a rodoviária encontra-se em obras, com contrato de recuperação e
revitalização sob responsabilidade da empresa Concrepoxi e fiscalização da Novacap.
Figura 1 - Área de atuação da Concrepoxi na Rodoviária do Plano Piloto – Plataformas Superior, Inferior e Mezanino
Figura 2 - Exemplo de informação do Laudo da TOPOCART, indicando manifestações patológicas em uma dos trechos do
caixão perdido
A equipe técnica da Novacap procedeu a análise das informações contidas no trabalho entregue pela
Topocart, de forma a avaliar os riscos imediatos e os que danos que poderiam ser objeto de trabalhos
futuros de recuperação.
Cordoalhas de protensão
corroídas e algumas
rompidas
As demais manifestações patológicas classificadas como críticas deverão ser objeto de contratação
de obra de recuperação estrutural em curto espaço de tempo, entretanto não consideramos como
ações de caráter imediato por não trazerem nesse momento riscos à segurança da estrutura. Estas
ações posteriores de recuperação deverão ser precedidas de análise estrutural, com modelagem
numérica e realização de provas de carga estática e dinâmica para certificar a estrutura e atestar a
real capacidade de carga da mesma.
A cobertura da plataforma superior é composta por uma estrutura com pilares de estrutura mista
(paredes de aço preenchido de concreto), e cobertura com vigas protendidas em trechos
hiperestáticos com balanços e isostáticos.
Os problemas maiores encontram-se nos trechos hiperestáticos com grandes deformações, tanto no
lado leste como no lado oeste. Além das deformações, existem fissuras em vigas que denotam
comprometimento da estrutura, com RISCO DE COLAPSO ESTRUTURAL/DESABAMENTO.
Figura 4 - Vista Geral da laje de cobertura da plataforma superior indicando grande deformação de balanços
Figura 5 - Linhas indicando as fissuras identificadas em uma das vigas berço da trecho hiperestático
Figura 6 - Desplacamento do concreto ao redor do apoio indicando possível esmagamento pela deformação excessiva do
balanço
Foi proposto pela Novacap o escoramento dos trechos hiperestáticos, de forma a garantir a
segurança dos usuários até que a obra de demolição e reconstrução seja efetivada. Este escoramento
já se encontra executado pela empresa Concrepoxi.
Figura 7 - Esquema de escoramento proposto para trechos hiperestáticos da cobertura da plataforma superior
Nos trechos isostáticos também foram observadas algumas fissuras em apoios de vigas, que exigem
tratamento, entretanto não configuram nesse momento risco iminente de desabamento, até pelo
fato de haver a ligação rígida com a laje e vigas periféricas, que conferem um efeito de placa que
reduz o rico de colapso abrupto.
Essas fissuras devem ser recuperadas durante a obra de demolição e reconstrução dos trechos
hiperestáticos da cobertura.
A estrutura da cobertura da plataforma inferior é composta por pilares em concreto armado e vigas
berço em concreto protendido que recebem longarinas isostáticas protendidas apoiadas em dentes
Gerber.
As inspeções da TOPOCART identificaram fissuras nas regiões de apoio (dentes Gerber) que indicam
sério comprometimento estrutural (RISCO DE COLAPSO/DESABAMENTO) devido à provável perda
de protensão na região dos apoios.
Foi efetuado o mapeamento dos locais das fissuras nas longarinas do caixão perdido da cobertura da
plataforma inferior. Identificou-se fissuras nos pontos circulados em vermelho na figura a seguir:
A seguir será mostrado o croquis da tipologia de fissuras e foto de uma das longarinas fissuradas.
Fissura
Figura 16 - Projeto original das longarinas que apresentaram problemas de fissuras nos apoios
No dia 25/06/2019, a Novacap propôs uma vistoria conjunta com a Defesa Civil para averiguar as
fissuras identificadas no relatório da Topocart.
Em um dos caixões perdidos foi verificada uma fissura identificada pela Topocart em uma das
longarinas. A fissura foi mapeada pela Topocart em novembro de 2018 com abertura na ordem de
0,6 mm. Foi efetuada nova medição pela Novacap com uso de fissurômetro óptico, constatando que
havia ocorrido a progressão, num espaço de 7 meses, para uma abertura de 1,6 mm. Esse tipo de
evolução não é comum e denota um sério risco de colapso iminente da estrutura.
Passou de 0,6mm
para 1,6 mm
Figura 17 - Fissura em longarina que aumentou abertura em quase 3 vezes nos últimos 7 meses
A tipologia das fissuras nos apoios das longarinas indica a possibilidade de fratura do dente Gerber,
que pode levar ao desabamento da viga e o possível colapso progressivo de parte da estrutura
adjacente, com o risco de perdas humanas, o que é inadmissível, além do possível colapso do sistema
de transporte público do Distrito Federal.
Recomenda-se como medida adicional, tendo em vista a possibilidade de haver o mesmo problema
no futuro em longarinas ainda não fissuradas ou com fissuras inferiores a 0,2 mm, que seja feito o
mesmo reforço nas regiões de apoio, sem entretanto haver necessidade de escoramento.
da alma das vigas nas regiões afetadas. Trata-se de uma técnica moderna, segura, limpa, rápida e
que poderá ser executada com o mínimo de interferência na operação dos ônibus e acesso de
passageiros na plataforma inferior.
Manta de fibra de
carbono aplicada
sobre viga
Como ação emergencial recomenda-se a redução de carregamento das áreas afetadas, com a
retirada de trânsito de veículos, de forma a garantir a segurança dos usuários enquanto os trabalhos
de escoramento e reforço estrutural não são iniciados. Nos locais mais críticos será necessário o
completo isolamento do trânsito de pedestres.
Em 27 de junho de 2019
_________________________________________
Engº Civil Carlos Henrique Linhares Feijão (MSc)
Coordenador da Unidade de Gerenciamento de Projetos de Obras de Arte Especiais – UGP-OAE
CREA 9422/D-DF Matrícula 74.924-9