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A entrevista é de Enric Llopis e foi publicada originalmente no site Rebelión, de 5 de abril de 2014. A tradução é
de André Langer.
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Professor de História Contemporânea na Universidade de Valência, Espanha.
A importância da pedagogia. Como explicaria a um aluno adolescente categorias como
“capitalismo”, “movimento operário” ou marxismo? Que ideias essenciais deveriam reter?
Diria que o capitalismo é um sistema de exploração (e isto não entendido como um insulto) e
desigualdade pelo qual uma parte da sociedade retém o valor do trabalho e o esforço de outra parte
da sociedade. Isto é algo que pode ser comprovado de maneira objetiva, mas também implica uma
posição pessoal: sou contra esta prática social. E penso que o capitalismo deve ser retificado e
transformado mediante um sistema político democrático, no qual a população esteja representada na
tomada de decisões. Quanto ao movimento operário, explicaria aos alunos que seria a conjunção de
organizações sindicais e políticas que defendem a classe operária e as pessoas que vivem do seu
trabalho (seja com as mãos ou com a cabeça). Dito de outra maneira, das pessoas que não exploram
ninguém. Este movimento operário, acrescentaria, é plural e diverso, ou seja, não é representado por
uma única ideia nem um único sindicato. É formado por uma pluralidade de pessoas, ideias e
gerações. O marxismo o definira como um sistema de pensamento, filosofia, moral ou ideologia que
faz uma explicação e crítica do funcionamento do capitalismo, além de abrir possibilidades para
corrigi-lo. O protagonista dessa transformação, no século XIX, foi o movimento operário, ao qual
teria que se acrescentar a população camponesa. Hoje, acrescentaríamos outros setores, como os
movimentos sociais, as camadas médias da população, etc.
Algum crítico, ou algum historiador “academicista”, poderia lhe dizer que com a perspectiva
geral corre-se o risco de simplificar, e que a realidade é mais complexa...
Bem, a realidade é complexa. Isso é verdade. Mas a função do historiador não consiste em fazê-la
complexa nem em dizer que o é. Ao contrário, trata-se de dar conta dessa complexidade, mas
precisamente para torná-la compreensível. Porque a história tem uma função social: dar aos cidadãos
elementos de crítica e reflexão sobre o presente, embora com uma perspectiva histórica. Quanto ao
academicismo, é o subterfúgio do poder. Quando se coloca o foco na correção da nota ao pé da
página... ou se fala de objetividade em sentido de imparcialidade... devemos entender que as
instituições têm por trás uma estrutura de poder, e que o academicismo é um sistema de poder na
história, na pintura e em tudo. Além disso, um dos males deste academicismo é a erudição. E a
História, pelo contrário, deve ser um saber útil. O historiador, assim como o arquiteto que faz pontes
ou médico que cura doentes, deve dar conta de como funciona a sociedade na qual vive, a partir de
suas raízes históricas. E oferecer ferramentas para que o cidadão seja crítico em relação ao mundo e
com o poder, mas também diante dos meios de comunicação.
É bastante comum que um aluno se matricule no curso de História e faça numerosas disciplinas
onde aprende, basicamente, o “estado da questão” e “debates historiográficos”. Sobre a
Revolução Industrial, sobre o Fascismo ou sobre a Revolução Francesa. Qual é a sua opinião?
O “estado da questão” pode ser muito importante para o professor que dá a matéria. Mas ele dará sua
explicação, sua interpretação e seu diagnóstico. Como faz o médico. Imagine um médico que passasse
o tempo da consulta citando ao paciente todas as análises que podem ser realizadas sobre uma doença.
Não curaria o doente em função da sua erudição. É preciso “molhar-se”. Isso vale tanto para o médico
como para o historiador em sala de aula.
Por outro lado, falta repouso à história? Pensa que se publica muito?
É verdade que falta muito repouso na história e nas ciências sociais em geral. Falta tempo para
assimilar as coisas e os conceitos. Falta amadurecer o conhecimento. Mais ainda, opino, em
disciplinas como a história, onde a interpretação e a experiência no ofício são muito importantes.
Sobre a segunda pergunta, há uma urgência muito grande para publicar. Mas isto é algo também
muito acadêmico. Algo como “publica ou morre!” E, assim, muitas vezes você se repete ou diz
bobagens. De qualquer maneira, isto não é absolutamente alheio às lógicas produtivistas neoliberais.
Qual a sua opinião sobre a pós-modernidade e a sua influência sobre a História?
Penso que a chamada pós-modernidade tem uma dupla vantagem. Ensinou-se nas ciências sociais
que os grandes paradigmas explicativos (por exemplo, o marxismo ou o funcionalismo) são
construções sociais. E que a realidade vai além destas construções. Dito de outra maneira, a pós-
modernidade contribuiu para relativizar o conhecimento. Por outro lado, o trabalho do historiador
baseia-se em palavras (as fontes e os documentos remetem em última instância a palavras), mas carece
de ferramentas para interpretar as palavras, seu contexto, ou realizar análises de discursos em seu
marco significativo. A pós-modernidade nos ensinou, nesse sentido, a ler melhor as fontes. Quanto
aos efeitos negativos, os resumiria na frase tão pós-moderna de “nada é verdade nem mentira, mas da
cor do óculos com que se olha”. Pode ser que não exista a verdade absoluta, mas é verdade, por
exemplo, que há pessoas que exploram outras. A pós-modernidade, portanto, relativizou a capacidade
humana de conhecer o mundo. Além disso, chegou-se a dizer, em alguns casos, que a história é uma
ficção, quando realmente o que a história faz é interpretar. Interpretações contrastadas. Mas, assim
como na astrofísica.
No livro “Os cínicos não servem para este ofício”, Ryszard Kapuscinki recorda que é licenciado
em história e que “ser historiador é meu trabalho”. Disse, assim mesmo, que todo jornalista é
um historiador. “O que ele (o jornalista) faz é investigar, explorar, descrever a história em seu
desenvolvimento”. Está de acordo?
Não apenas isso. Pessoalmente situo todas as ciências humanas/sociais no mesmo conjunto.
Considero os jornalistas como companheiros de observação, assim como todo aquele que se faz
perguntas em relação às pessoas e aos fatos sociais. Realmente, todos nos perguntamos diante de
qualquer acontecimento as cinco perguntas (o que, quem, como, quando, o porquê) do jornalismo
clássico, embora nem todas tenham resposta. Um jornalista pode fazê-lo com a última manifestação,
mas o mesmo faz em suas pesquisas um arqueólogo ou um sociólogo.