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Como podem tais normas ser valoradas segundo a perspectiva da Constituição?
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Por fim, relativamente ao último dos problemas suscitados neste número,
a questão que se coloca é a de saber se, no momento de aplicar a lei estrangeira designada
como competente pela norma de conflitos da «lex fori», não deverá o juiz do foro tomar
em consideração o facto de dado preceito ou grupo de preceitos não ser válido ― e por
tal razão não ser aplicável ― no âmbito da «lex causae», em função da relação de
incompatibilidade existente entre ele e a respectiva Constituição.
A resposta a este problema deve situar-se no plano dos critérios gerais que
hão-de orientar o juiz na aplicação do direito estrangeiro. A este respeito, estabelece o
artigo. 23º, n.º 1 do Código Civil que «a lei estrangeira é interpretada dentro do sistema
a que pertence e de acordo com as regras interpretativas nele fixadas». Assim, se em
determinado sistema estrangeiro um certo preceito não é aplicado pelos tribunais
ordinários por colidir com normas da respectiva Constituição, cabe ao juiz português dar
a tal circunstância o devido valor e abster-se, do mesmo modo, de observá-lo.
Dito isto, conclui-se que: não cabendo ao julgador do foro sindicar a compatibilidade
constitucional de preceitos da lei estrangeira, incumbe-lhe aplicar a mesma lei
tal como ela seria aplicada pelo juiz do respectivo sistema jurídico. Aqui,
portanto, assume relevância o facto de certa norma da «lex causae»
considerada inconstitucional não ter aplicação nesse sistema. Do ponto de
vista do foro, a referida relevância tem lugar, não por a norma em causa ser
inconstitucional, mas por ela não ser aplicável no sistema a que pertence.