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D I R E I T O PENAL

Fernando Rabello

PREVENIR O CRIME ORGANIZADO:


inteligência policial, democracia e
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difusão do conhecimento
ORGANIZED CRIME PREVENTION: police intelligence, democracy and
knowledge dissemination
Rodrigo Carneiro

RESUMO ABSTRACT
Sustenta haver necessidade cada vez maior de técnicas mo- The author believes there is a growing need for modern
dernas de inteligência, e considera a existência de problemas intelligence tools, considering however the existing problems
vinculados ao gerenciamento das informações obtidas, com concerning data management, including the possibility of
possibilidade de perda de dados. data loss.
Propõe uma maior integração entre os órgãos de segurança He suggests a greater integration among public security
pública, com a mitigação da exacerbada compartimentação, e a departments – through the control of excessive data grouping
comunicação em tempo real de possíveis ameaças ao Estado a and real time information on possible threats to the State, in
fim de neutralizar as ações de organizações criminosas. order to neutralize criminal organizations.

PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Direito Penal; sistema de inteligência; compartimentação; sigilo; Criminal Law; intelligence system; data grouping; secrecy;
secretismo; integração; Sistema Brasileiro de Inteligência (Sis- integration; Brazilian Intelligence (Sisbin); public security;
bin); segurança pública; cooperação. cooperation.

Revista CEJ, Brasília, Ano XIV, n. 48, p. 40-51, jan./mar. 2010


1 INTRODUÇÃO ceptação ambiental e a infiltração por agentes de polícia ou de
A criminalidade organizada no Brasil tem avançado de for- inteligência em tarefas de investigação.
ma significativa, e o foco da segurança pública é, principalmen- Na Itália, de onde adaptamos o regime disciplinar diferen-
te, o combate a organizações criminosas dentro de unidades ciado, há a Polícia Penitenciária (Corpo dei Polizia Penitenzia-
prisionais, sendo conhecida a propalada origem e idealização ria), antes vinculada ao Ministério do Interior, hoje ligada ao
dessas facções no Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Ministério da Justiça italiano, pelo Departamento de Adminis-
Grande, Rio de Janeiro, em torno do ano de 1979. tração Penitenciária e criada pela Lei n. 395, de 15.12.90. Poste-
Nos últimos cinco anos, com inúmeras rebeliões de presos riormente, em 1997, foi criado um grupo especializado, na es-
coordenadas simultaneamente e assassinatos de policiais, o cri- trutura citada, o “Gruppo Operativo Mobile” (GOM) da “Polizia
me organizado mostrou de onde surgem os comandos crimi- Penitenziaria”, com atribuições definidas quanto à prospecção
nosos: dos presídios. É alarmante a quantidade de informações de ações de detentos integrantes de organizações criminosas.
e ordens trocadas dentro de unidades prisionais, enviadas e As questões que envolvem crime organizado são resolvidas
recebidas do perímetro externo. Por meio de salves, coman- por um pool de magistrados italianos, especializados no tema,
dam, matam, traficam, roubam, corrompem (policiais e milita- criado na década de 80. Outro exemplo italiano de integração
res ou recrutam ex-policiais para treinamentos), fazem leasing e uso de inteligência como técnica especial de mineração de
de armamento pesado, escambam drogas por armas, criam dados, operacional e investigativa, ocorre desde o mês de de-
sites criptografados, portam minas, granadas e metralhadoras zembro de 1991. É a experiência de integração entre as diversas
antiaéreas, constroem muralhas, fossos, casamatas, bunkers e polícias que compõem uma central de serviços de inteligência,
levantam barricadas, tanto com o objetivo de obter vantagem cuja direção é revezada entre integrantes indicados de cada uma
econômica ou material indevido como para demonstrar con- das corporações que integram a Direção de Investigação Anti-
trole e domínio pela difusão do medo, com fechamento de co- máfia (DIA), sob a supervisão do Ministério do Interior italiano. 41
mércio local, eliminação de agentes públicos e seus familiares Da experiência italiana, cujos precedentes de crime orga-
e facções rivais. nizado muito se assemelham a escândalos recentes no Brasil,
A gestão de conhecimento pelos criminosos é tolerada pelo como a máfia do apito, superfaturamento de licitações, exigên-
Estado. A omissão e a ineficácia estatais, muitas vezes compra- cia de vantagem indevida, corrupção, extorsão e financiamento
das, quando combinadas com a leniente legislação prisional, de campanhas eleitorais, tiramos a conclusão da necessidade
carente de regulamentação, permitem a perigosos criminosos não apenas de especialização de estrutura no Poder Judiciário,
o uso irrestrito de meios de comunicação, acesso à telefonia Ministério Público e Polícia, no combate ao crime organizado,
móvel celular, computadores, e-mail, livros, jornais, televisões, como, também, de utilização de meios eficazes à sua repres-
através dos quais a network da organização criminosa estabele- são, como a “ação controlada”, delação premiada, sistemas de
ce seus vínculos e se fortalece. inteligência interligados entre os diversos órgãos estatais com-
Nesse contexto, vislumbra-se a imperiosidade do aperfei- petentes, entre outros.
çoamento de diplomas legislativos, da melhoria da gestão de
conhecimento, da rede de comunicação e difusão de bancos Os investimentos, integração, treinamento,
de dados entres as instituições encarregadas da aplicação da lei,
para que o Estado disponha de instrumentos apropriados para
suporte legislativo, apoio institucional e
a reversão do grave quadro de segurança pública delineado. especialização no combate ao crime
Urge a adoção de medidas compatíveis com o Estado de-
organizado são ferramentas indispensáveis
mocrático de Direito que preservem a vida do cidadão, garan-
tam sua liberdade e segurança, o que é factível com a recepção para o serviço de inteligência [...]
de um modelo de gestão do conhecimento e de inteligência
policial que faça frente à network do crime. O professor de ciência política da Universidade do Novo
México, EUA, Peter Lupsha (apud DANTAS, 2002) leciona que,
2 O CRIME ORGANIZADO E A INTEGRAÇÃO DE SERVIÇOS DE para controlar o crime organizado, é importante o uso proativo
INTELIGÊNCIA NA ITÁLIA da inteligência policial e uma legislação produzida com a finali-
A Lei n. 9.034/95, que trata do crime organizado, traz os dade de promover o controle das suas atividades, destacando-
principais meios operacionais para a prevenção e repressão de se: (a) a utilização de operações veladas de inteligência realiza-
ações praticadas por organizações criminosas. das em longo prazo por profissionais de elite, (b) o uso ativo da
Há vários instrumentos elencados, como a ação controla- “observação eletrônica”, especialmente regulada em legislação
da ou entrega vigiada (controlled delivery), o acesso a dados própria para o controle do crime organizado, (c) a implantação
fiscais, bancários, financeiros e eleitorais, a captação e a inter- de programas de proteção a testemunhas e (d) a utilização de

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instrumentos jurídicos de expropriação de bens em casos envol- di e da divisão de tarefas; individualização de seus integrantes e
vendo o crime organizado. comandos hierárquicos; plotar a localidade ou região de atuação;
Temos de partir do princípio de que o crime organizado traçar tendências criminosas; monitoramento e documentação da
veio para ficar, que não vai desaparecer após uma ou duas atuação criminosa e do eventual informante (interceptação telefôni-
operações policiais (MINGARDI, 2006, p. 51). Para controlar e ca combinada com ação controlada, com recurso à vigilância eletrô-
reprimir as organizações criminosas é imprescindível o acesso e nica, móvel ou fixa); identificar o indivíduo criminoso mais propen-
a disponibilização de informações confiáveis e utilizáveis. so para cooperar com a investigação policial ou para ser oferecida a
Os investimentos, integração, treinamento, suporte legisla- delação premiada; prevenção de crimes; proteção de testemunhas.
tivo, apoio institucional e especialização no combate ao crime
organizado são ferramentas indispensáveis para o serviço de 4 O MECANISMO DE INTELIGÊNCIA BRASILEIRO
inteligência; embora esgotáveis e limitados, não podem ser Para alcançar um padrão de excelência na utilização dos
escusados, para o bom andamento dos trabalhos nas diversas meios operacionais da Lei n. 9.034/95, é necessário que haja um
unidades estatais. tratamento adequado da informação, posteriormente transforma-
da em conhecimento, inteligência e ação, com acesso às mais
3 A IMPORTÂNCIA DA INTELIGÊNCIA diversas ferramentas tecnológicas. Sempre é necessária a trans-
A inteligência que não é acionável ou não proporciona o formação de informação (dados não tratados), para o alcance do
potencial para ações futuras, segundo a doutrina da Marinha conhecimento estratégico, conhecimento esse buscado, inclusive,
americana, é inútil. Fernandes (2006, p. 12), em tradução livre por empresas para conquista de mercados, pelo que se chama
da publicação da doutrina de inteligência do Department of “inteligência competitiva”1 e “gestão de informação”.
the Navy, Heardquarters United States Marine Corps, Marine
Corps Doctrinal Publication (1997, p. 7-8), traz à colação o norte 4.1 INFORMAÇÃO, DADOS E INTELIGÊNCIA
orientador da boa doutrina: A boa inteligência não repete sim- Informação, dados e inteligência são termos comuns da
plesmente informações reveladas por fontes. Ao contrário, ela língua portuguesa, mas que adquirem uma dimensão diferen-
desenvolve uma gama de material que nos diz o que aquela ciada quando ditos por analistas e especialistas em inteligência
informação significa e identifica suas implicações para os to- de Estado (lato sensu), ou, por integrantes do que se conven-
madores de decisão. cionou chamar de “comunidade de inteligência”.
Afonso (2006, p. 49) defende que o serviço de inteligên- Dados são a forma primária de informação. São fatos,
42 cia executado de forma séria e comprometida tem o condão tabelas, gráficos e imagens etc. que não foram processados,
de produzir informação explicativa e preditiva (isto é, o dado correlacionados, integrados, avaliados ou interpretados e sem
selecionado recebe tratamento, é trabalhado). A função de a qualquer sentido inerentes em si mesmos (SIANES, 2005, p.
inteligência atender a solicitações das autoridades não constitui 259, apud FERNANDES, 2006, p. 11).
simples disseminação de dados coletados ou segredos rou- Fernandes (idem) oferece uma distinção técnica entre infor-
bados. Para o doutrinador, o principal mérito da atividade de mação e inteligência. Para o autor, informação é a matéria-prima
inteligência, aquilo que a torna imprescindível para qualquer para a produção de inteligência, utilizada em apoio ao processo de
governo, é a competência de pôr em prática um conjunto de tomada de decisão (decisões pontuais ou de nível tático-operacio-
métodos materializado ao longo do ciclo de inteligência, além nal), relaciona-se com fatos presentes ou passados e deve expressar
de fazê-lo com oportunidade, amplitude otimizada, o máximo o estado de certeza. A inteligência é um conhecimento2 que pres-
de imparcialidade, clareza e concisão. cinde da oportunidade, deve pressagiar e cogitar probabilidades so-
bre aspectos de um evento, em juízo antecipatório, anteriormente,
A inteligência aplicada aos serviços de polícia pois, à sua realização. A menção à inteligência pode abranger a pró-
pria atividade, o produto dessa atividade e a unidade responsável
judiciária e de segurança pública, em geral,
pela atividade (órgão, departamento, núcleo, seção).
proveem informações de irrefutável interesse no DeLadurantey (1995, p. 383, apud DANTAS; SOUZA, 2004,
enfrentamento e investigação de ações de p. 1) define a expressão “inteligência” da seguinte maneira: É o
conhecimento das condições passadas, presentes e projetadas
organizações criminosas [...] para o futuro de uma comunidade, em relação aos seus proble-
mas potenciais e atividades criminais. Assim como a Inteligência
As palavras de outro especialista em inteligência estratégica, pode não ser nada mais que uma informação confiável que
Robson Gonçalves (2007, p. 5), ganham, nesse contexto, relevo alerta para um perigo potencial, também pode ser o produto
ao pontuar que o Estado não pode prescindir dos serviços de de um processo complexo envolvendo um julgamento bem in-
inteligência, pois estes produzem o conhecimento necessário formado, um estado de coisas, ou um fato singular. O ‘processo
à tomada de decisões e trabalham na proteção destas infor- de Inteligência’ descreve o tratamento dado a uma informação
mações, impedindo que elementos de inteligência adversos para que ela passe a ser útil para a atividade policial.
comprometam os interesses nacionais.
A inteligência aplicada aos serviços de polícia judiciária e de se- 4.2 ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA: CONCEPÇÃO, HISTÓRIA E
gurança pública, em geral, proveem informações de irrefutável in- AGÊNCIAS
teresse no enfrentamento e investigação de ações de organizações Na concepção histórica de atividade de inteligência estatal,
criminosas: identificação de grupos criminosos, do modus operan- sua função era limitada e exclusiva para suporte de estratégia mi-

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litar. Hodiernamente, a atividade de inteli- nacional. Quanto ao Sisbin, concebeu-o sível aperfeiçoar o seu mecanismo de
gência estatal é concebida como atividade como órgão colegiado responsável pelo atuação em prol de toda a sociedade
pública de Estado (não é de governo, de processo de obtenção, análise e dissemi- brasileira. Provavelmente, diante da
partido ou de interesse privado), figuran- nação da informação necessária ao pro- falta de explicitude da lei que instituiu
do a Agência Brasileira de Inteligência cesso decisório do Poder Executivo, bem o Sisbin, no final do ano de 2000, foi
(Abin) como órgão central3 do Sistema como pela salvaguarda da informação criado um subsistema do Sisbin (Sisp),
Brasileiro de Inteligência (Sisbin). contra o acesso de pessoas ou órgãos com esse propósito, voltado à inteli-
Houve um hiato na atividade de in- não autorizados. gência de segurança pública.
teligência do Estado com a extinção do Buscou-se uma definição legal para Reforça a tese de que os temas re-
Serviço Nacional de Informações (SNI), serviços de inteligência de Estado, en- lacionados com a segurança pública
no período Collor, e a criação do Sis- tendida como a atividade que objetiva podem ser trazidos à pauta de discussão
bin, e posterior edição do seu decreto a obtenção, análise e disseminação de do Sisbin a descrição dos seus objetivos
regulamentador, o Dec. 4.376/02. Com conhecimentos dentro e fora do territó- pelo art. 6º, V, do Dec. 4.376/02, entre os
a extinção do SNI, foi criada a Secretaria rio nacional sobre fatos e situações de quais se destaca o estabelecimento dos
de Assuntos Estratégicos (SAE), com atri- imediata ou potencial influência sobre respectivos mecanismos e procedimen-
buições repartidas entre o Departamento o processo decisório e a ação governa- tos particulares necessários às comuni-
de Inteligência, o Centro de Formação e mental e sobre a salvaguarda e a segu- cações e ao intercâmbio de informações
Aperfeiçoamento de Recursos Humanos rança da sociedade e do Estado (art. 1º, e conhecimentos no âmbito do Sistema.
(Cefarh) e Agências Regionais. § 2º, da Lei n. 9.883/99).
Kelsem Rios (2008, p. 1) desvenda
a confusão generalizada de atividade de No ordenamento jurídico brasileiro, a oficialização de um
inteligência com o preconceito associa-
sistema de inteligência de âmbito nacional para tratamento
do à repressão da ditadura militar, que
acarretou a extinção do SNI e quase uma de informação de cunho estratégico foi tardia e não
década sem concurso público para car- acompanhou diversos modelos europeus [...]
gos do Departamento de Polícia Federal:
Serviço de inteligência, quando se trata O Dec. 4.376/02, regulamentador da 4.4 INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA
de governo, entre nós ainda possui ares lei que cria a Abin e o Sisbin, ao dispor PÚBLICA (ISP) – SISBIN E PARCERIAS: O
43
de repressão, de regime de exceção, sobre os integrantes do Sisbin4 (art. 4º) e EXEMPLO DA COOPERAÇÃO ENTRE ABIN
quando, na verdade, as mudanças es- do seu Conselho Consultivo (art. 8º) agru- E DPF
truturais e sistemáticas só podem ser pou dez Ministérios, além do Gabinete de Em 21.12.2000 foi editado o Dec.
alcançadas com maciço investimento Segurança Institucional da Presidência da 3.695/2000, que criou o Subsistema de
em inteligência de Estado, elemento de República (GSI/PR), Casa Civil/PR, Contro- Inteligência de Segurança Pública5 (Sisp),
negação e de produção de conhecimen- ladoria-Geral da União (CGU) e Abin e os no âmbito do Sisbin, com a finalidade de
to renovado. mais importantes Departamentos e Secre- coordenar e integrar as atividades de inte-
No ordenamento jurídico brasileiro, a tarias dos respectivos órgãos. ligência de segurança pública em todo o
oficialização de um sistema de inteligên- Esse respeitável conglomerado é País, bem como suprir os governos fede-
cia de âmbito nacional para tratamento formado pelas autoridades públicas e ral e estaduais de informações que subsi-
de informação de cunho estratégico foi agentes políticos, que detêm o maior ní- diem a tomada de decisões neste campo.
tardia e não acompanhou diversos mo- vel de conhecimento dentro da Adminis- Lima Ferro (2006, p. 85) aponta que a
delos europeus, como o italiano, por tração Pública Federal e sobre os temas Senasp (Secretaria Nacional de Segurança
exemplo. Pela Lei n. 9.883/99, foi insti- de maior destaque nacional, entre eles a Pública)6 define a inteligência de segurança
tuído o Sistema Brasileiro de Inteligência defesa nacional e a segurança pública. pública, com esteio no Dec. 3.695/2000,
(Sisbin) e criada a Agência Brasileira de É de bom alvitre que os temas ali como atividade sistemática de produção
Inteligência (Abin). No âmbito do Depar- discutidos não se restrinjam a consul- de conhecimentos de interesse policial,
tamento de Polícia Federal (DPF), é a Di- tas para embasar o processo decisório apoiando as atividades de prevenção e re-
retoria de Inteligência Policial (DIP) que da Presidência da República, mas que pressão dos fenômenos criminais.
integra o Conselho Consultivo do Sisbin, alce objetivos mais concretos e menos É de fundamental importância a inte-
cujo órgão central é a Abin. abstratos como a entabulação de de- gração dos órgãos públicos, dos setores
bates a respeito do grave problema da de inteligência de Estado e de Segurança
4.3 O SISTEMA BRASILEIRO DE criminalidade organizada, por exem- Pública, especialmente os de polícia judi-
INTELIGÊNCIA (SISBIN) plo. Embora possa parecer, num pri- ciária. Cabe salientar que aos integrantes
Com o advento da Lei n. 9.883/99, o meiro momento, que a preocupação do Subsistema de Inteligência de Segu-
legislador pretendeu integrar as ações de com a segurança pública e o fenômeno rança Pública (Sisp) incumbe identificar,
planejamento e execução das atividades da criminalidade organizada e violên- acompanhar e avaliar ameaças reais ou
de inteligência e declarou sua finalida- cia possam extrapolar as atribuições potenciais de segurança pública (nível
de de fornecer subsídios ao Presidente do Sisbin, a própria configuração desse estratégico) e produzir conhecimentos e
da República nos assuntos de interesse órgão não deixa dúvidas de que é pos- informações que subsidiem ações para

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neutralizar, coibir e reprimir atos criminosos de qualquer natu- ordinariamente, IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
reza (nível tático-operacional)7. dos Recursos Naturais Renováveis), Receita Federal, INSS (Insti-
Nessa esteira, parece ser também a visão antecipada pelo tuto Nacional do Seguro Social), BACEN (Banco Central do Bra-
ex-dirigente da Abin, o Delegado de Polícia Federal Paulo Fer- sil) e CVM (Comissão de Valores Mobiliários), os quais cita-se
nando da Costa Lacerda que, em entrevista ao jornal Valor Eco- apenas a título de exemplo, compartilham dados com a Polícia
nômico, de 22.11.07, anunciou a idealização do Departamento Federal e o Ministério Público Federal, visando ao aprofunda-
de Integração do Sisbin e que cada serviço de inteligência de mento das apurações criminais, e isso nunca causou perplexi-
órgão público ocupe uma sala na Abin, com cinco funcionários dade ou surpresa. (HC 34848, 5ª T. do TRF-3ª, publ. no DJF3 de
em regime integral, à semelhança de gabinetes de crise. Para o 26/03/2009, p. 2199, Rel. Juiz Convocado Hélio Nogueira).
Diretor-Geral da Abin, a cultura dos órgãos da administração Veja-se que integração e parcerias entre órgãos públicos,
pública é a de não trocar informações e o que queremos é empresas, particulares e terceiros ocorre normalmente no curso
facilitar a disseminação de informações dentro do sistema e natural de fluxo de informações e fortalecimento dos interesses
desburocratizar. públicos em busca do bem-estar social e do proveito comum,
sempre com fins lícitos. Tratando-se de fluxo de informações de
A moderna escola de inteligência busca a natureza operacional, sigilosa ou de informativos de inteligên-
cia, com o escopo de instruir ou viabilizar inquérito policial, ou
satisfação intransigente das necessidades do
seja, atos de natureza de polícia judiciária, o compartilhamen-
povo brasileiro, no campo estratégico, to de informações é restrito a órgãos públicos competentes e
decisório de políticas públicas do Estado e de sempre sob a presidência e supervisão da autoridade de polícia
judiciária que é o Delegado de Polícia.
segurança pública. Estando presente a figura do Delegado de Polícia, na po-
sição de garante, coordenador e supervisor das operações, é
O Tribunal Regional Federal da 3ª Região se manifestou a legal, lícito e ético a coleta, análise e tratamento de informações
respeito da integração dos órgãos de inteligência e de segu- por órgãos parceiros, pois impera o interesse público na perse-
rança pública em importante leading case, na apreciação da cução criminal, resguardadas as garantias e direitos individuais
possibilidade do trabalho conjunto de servidores públicos da e coletivos.
Abin com policiais federais, admitindo a parceria em votação O que não é permitido e nem admitido legalmente é a ação
44 unânime, na destacada operação Satiagraha e com amparo na isolada, sem a prática de atos de polícia judiciária, de acesso e
Lei n. 9.883/99, que criou o Sisbin. A ementa do acórdão foi quebra de sigilo fiscal, bancário, telefônico e telemático sem a
lavrada nos seguintes termos: devida autorização judicial em procedimento investigatório que
HABEAS CORPUS – PENAL E PROCESSO PENAL – PARTICI- necessariamente deve estar sob o comando, supervisão e tutela
PAÇÃO DE SERVIDORES DA AGÊNCIA BRASILEIRA DE INFOR- de um Delegado de Polícia, autoridade competente constitucio-
MAÇÃO (ABIN) EM INQUÉRITO CONDUZIDO PELA POLÍCIA nalmente para a prática de atos de polícia judiciária.
FEDERAL – AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA – LEI
9.883/99 QUE PERMITE COMPARTILHAMENTO DE DADOS 4.5 SECRETISMO E DEMOCRACIA
ENTRE ÓRGÃOS INTEGRANTES DO SISTEMA BRASILEIRO DE O viés de inteligência de Estado (estratégica, de defesa na-
INTELIGÊNCIA – NULIDADES VERIFICADAS NA FASE PRÉ-PRO- cional, de segurança pública e de polícia judiciária), principal-
CESSUAL NÃO CONTAMINAM FUTURA AÇÃO PENAL – ORDEM mente quando operacionalizada por policiais, militares e analis-
DENEGADA. tas, sofreu alguns tropeços ocasionados pela frágil perspectiva
[...] ética, em tempos não tão remotos, para retornar ao seu papel
4. Não há prova acerca de um prejuízo concreto experi- de obter informações em nível estratégico decisório, voltado
mentado pelo paciente, pelo fato de servidores da Agência para o combate ao crime organizado.
Brasileira de Informação, hipoteticamente, terem conhecido do Não há como discordar da relevância da atividade de in-
conteúdo de conversas telefônicas interceptadas. É certo que teligência na defesa do Estado e da sociedade, como anota
esse fato pode até vir a gerar a responsabilização funcional Joanisval Gonçalves (2005, p. 15-16); entretanto, evidencia-se
daquela autoridade que eventualmente violou o seu dever de o grande dilema sobre o papel da inteligência em regimes de-
sigilo, contudo, tal violação, não possui o condão de macular mocráticos: [...] como conciliar a tensão entre a necessidade
a prova como um todo. premente do segredo na atividade de inteligência e a transpa-
5. A Lei 9.883/99 – que instituiu o Sistema Brasileiro de rência das atividades estatais, essencial em uma democracia?8
Inteligência – indica a possibilidade de órgãos componentes Associada a essa questão, outra preocupação surge, sobretu-
do aludido sistema, compartilharem informações e dados rela- do nas sociedades democráticas, que viveram, em passado
tivos a situações nas quais haja interesse do estado brasileiro. recente, períodos autoritários: como garantir que os órgãos
Tanto a Polícia Federal como a ABIN, integram o Sistema Brasi- de Inteligência desenvolvam suas atividades de maneira con-
leiro de Inteligência, como se infere dos incisos III e IV do artigo sentânea com os princípios democráticos, evitando abusos e
4º do Decreto n. 4.376/02, que regulamenta a Lei 9.883/99. arbitrariedades contra essa ordem democrática e contra os
6. O compartilhamento de dados e informações sigilosos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos? (BRUNEAU,
entre os órgãos encarregados da persecução penal e outros ór- 2000, p. 15-16).
gãos integrantes do Estado, não é novidade. Basta lembrar que, Prossegue o culto consultor legislativo do Senado Federal9

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e chama a atenção para a maneira como do direito à informação, o direito de pe- los líderes da maioria e da minoria na
determinada sociedade lida com o dile- tição e o acesso a dados públicos, sem Câmara dos Deputados e no Senado
ma transparência versus secretismo10, deixar que o exacerbado secretismo pre- Federal, assim como os Presidentes
em termos de procedimentos e atribui- judique as ações voltadas ao combate ao das Comissões de Relações Exteriores
ções dos serviços de Inteligência, que crime organizado, pois, como registram e Defesa Nacional da Câmara dos De-
seria, na sua percepção, um indicador do Menezes e Gomes (2006, p. 39), ainda putados e do Senado Federal.
grau de desenvolvimento da democracia existe compartimentação excessiva, que Em 21.11.2000, com tal propósito,
nessa sociedade. (GILL, 1994). é desnecessária e improdutiva: ao invés foi instalada a Comissão Mista de Contro-
De fato, o Estado é, em sua essência, de garantir uma hipotética segurança, le das Atividades de Inteligência (CCAI),
cercado pelo secreto, como anota Rob- inviabiliza-se a utilização das informa- que substituiu o antigo Órgão de Con-
son Gonçalves (2007, p. 5), e não have- ções em trabalhos de repressão ao cri- trole e Fiscalização Externos da Política
ria de ser de outra forma, pois o sigilo me organizado. Nacional de Inteligência.
e a discrição fazem parte das ações de Destaca Lorenz de Azevedo (2002, Cepik (2005, p. 86-87) menciona
governo, da manutenção da soberania e p. 5), da Diretoria de Inteligência Policial que a CCAI enfrentou, pelo menos até
da obtenção de vantagens estratégicas, do Departamento de Polícia Federal, que: o ano de 2004, dificuldades para exercer
sendo imprescindível para o país esse As democracias não podem liquidar com suas funções de controle, as quais de-
manto de proteção às informações ditas o crime organizado, a partir da invasão correm de três fatores principais: 1) Do
de ‘segurança nacional’ e a busca por indiscriminada na privacidade de seus próprio desenho institucional do órgão,
informações que possam revelar amea- nacionais, no curso de investigações po- presidido a cada ano em caráter rotati-
ças ou oportunidades ao País. liciais. A inteligência policial, cumpridora vo pelo presidente da Comissão de Re-
Em despretensiosa síntese, nas pa- dos preceitos legais vigentes nas demo- lações Exteriores e Defesa Nacional do
lavras de Menezes e Gomes (2006, p. cracias, atuando na prevenção, obstru- Senado e da Câmara dos Deputados;
40): Deve-se desfazer da antiga mística ção, identificação e neutralização das 2) da falta de recursos técnicos e de
do secretismo que envolvia as ações de ações do crime organizado, sempre em pessoal, como exemplifica o fato de que
inteligência tradicionais. Não que esse proveito dos interesses da justiça e em a única funcionária do Senado que se
fenômeno deva ser de todo ignorado, defesa da sociedade, através de extensa especializou no tema e contribuiu decisi-
mas é preciso reconfigurar o papel da coleta de dados e com ampla capacidade vamente para implementar a CCAI tem
inteligência policial quanto ao seu pa- de busca dos conhecimentos necessários, que apoiar os trabalhos de várias comis- 45
pel em um contexto democrático, suas desponta como a opção juridicamente sões e da mesa diretora do Senado; 3)
possibilidades e limites, bem como as viável e socialmente aceita no combate à da falta de assertividade do Congresso
formas de sistematização e armazena- violência e ao crime organizado. Nacional como um todo no trato com
mento dos dados respectivos.
A escola tradicional de inteligência A execução da Política Nacional de Inteligência, fixada pelo
alterou seus paradigmas, no campo po- Presidente da República, é atribuição da Abin, sob a
licial, a partir das novas necessidades de
obtenção e tratamento de dados voltados
supervisão da Câmara de Relações Exteriores e Defesa
não mais para a formação pura e simples Nacional do Conselho de Governo [...]
de dossiês contra supostos inimigos do
Estado ou relacionados às atividades de Nesse cenário, a Polícia Federal tem, os componentes militares e policiais do
interesse dos governantes. na prática da atividade de inteligência, o Sisbin, uma vez que a Abin e os demais
A moderna escola de inteligência carro-chefe de seu trabalho, já alicerçado Ministérios não parecem ter colocado
busca a satisfação intransigente das ne- em pilares democráticos e exercido nos maiores obstáculos ao trabalho da co-
cessidades do povo brasileiro, no campo limites legais, como o do art. 6º da Lei n. missão ao longo destes primeiros anos.
estratégico, decisório de políticas públi- 9.296/96, que dispõe sobre a comunica- A execução da Política Nacional de
cas do Estado e de segurança pública. ção e acompanhamento pelo Ministério Inteligência, fixada pelo Presidente da
Com muita propriedade, Bessa (2004, p. Público, nos casos de interceptação tele- República, é atribuição da Abin, sob a
71) insiste que ao profissional de inteli- fônica, precedida de autorização judicial supervisão da Câmara de Relações Exte-
gência das organizações estatais não é fundamentada (art. 5º). riores e Defesa Nacional do Conselho de
permitido ter uma agenda própria, ele é Governo (art. 5º, da Lei n. 9.883/99).
um servidor do povo e da Constituição, 4.6 CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE E, por tal razão, é à Abin, por força
que deve ter por linha-mestra o interesse DE INTELIGÊNCIA do art. 10, IX, do Dec. 4.376/2002, que
da sociedade e do Estado. O art. 6º da Lei n. 9.883/99 dispôs cabe representar o Sistema Brasileiro de
Ao descortinar a dicotomia secreto que o controle e fiscalização externos Inteligência perante o órgão de controle
versus transparência, o Estado, ao mes- da atividade de inteligência, bem como externo da atividade de inteligência.
mo tempo em que deve manter sua dos atos decorrentes da execução da
atividade de inteligência com discrição Política Nacional de Inteligência, serão 4.7 COOPERAÇÃO INTERNACIONAL DE
e denodo, tem que buscar o delicado exercidos pelo Poder Legislativo, e que SERVIÇOS DE INTELIGÊNCIA
ponto de equilíbrio com o enaltecimento o respectivo órgão será integrado pe- Herman (1996, p. 217) propala que

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a cooperação do processo de inteligência é um fator chave de gência de polícia judiciária e mesmo a inteligência de seguran-
sucesso regional nos aspectos de defesa e de integração econô- ça pública (ISP) voltam-se, especificamente, para a realização
mica (apud RIBEIRO, 2006, p. 124) e define a inteligência como da justiça criminal, de propósito instrutório e probatório crimi-
uma atividade multinacional, sendo que o poder da inteligência nal (repressão, que acontece reativamente, depois da eclosão
nacional não é uma função apenas de capacidades nacionais, do crime, e se concretiza por atos de investigação), bem como
mas também de cooperação e produção externa obtida, in ver- para a prevenção e controle de criminalidade (softwares de
bis: [...] modern intelligence is a multinational activity. National georreferenciamento, quadros de padrões criminais, estatísti-
intelligence power is a function not only of national capabilities cas, mapeamento de “manchas de criminalidade”).
but also of the foreign cooperation and product they obtain. A inteligência policial é, nas precisas palavras de Celso
O fruto da cooperação internacional entre os serviços de Ferro Júnior (2005, p. 9), a atividade que objetiva a obten-
inteligência é a maximização do potencial informativo obtido ção, análise e produção de conhecimentos de interesse da
por meio da convergência de dados e ações de inteligência e segurança pública no território nacional, sobre fatos e situa-
de gestão de conhecimento, em contraponto a ações difusas, ções de imediata ou potencial influência da criminalidade e
dispersas e individuais. também assessorar as ações de polícia judiciária e ostensiva
Afirma Herman (1996, p. 213, apud RIBEIRO, 2006, p. 124) por intermédio da análise, compartilhamento e difusão de
que uma razão básica para o incentivo à cooperação é que sem- informações.
pre existe mais informação potencialmente disponível que qual- Note-se que há uma diferença entre a atividade de inte-
quer agência estatal possa coletá-la, por si só: […] one basic ligência de Estado e a atividade de inteligência policial. En-
reason for cooperation is that there is always more information quanto a primeira prima pelo assessoramento das autorida-
potentially available than any agency can collect by itself. des de governo, no processo decisório, a segunda busca a
A integração trará inúmeros benefícios, que são arrolados produção de provas da materialidade e da autoria de crimes.
por Fábio Ribeiro (2006, p. 125-126): A inteligência policial é, em suma, voltada para a produção
– fortalecimento do ciclo de inteligência regional contra as de conhecimentos a serem utilizados em ações e estratégias
ameaças latentes e a integração das informações estratégicas de polícia judiciária, com o escopo de identificar a estrutura e
comuns aos Presidentes das Repúblicas; áreas de interesse da criminalidade organizada, por exemplo.
– intercâmbio de analistas e profissionais de inteligência Pacheco (2005, p. 5) leciona que a inteligência dita de
para o conhecimento das culturas e práticas para a condução Estado (ou seja, relativa à segurança nacional, isto é, do Esta-
46 de um processo de inteligência regional; do e da sociedade como um todo) deve ser complementada
– estabelecimento de uma escola integrada de inteligên- pela inteligência de segurança pública (ISP), cujo conceito está
cia, que visa atender as necessidades do complexo exterior e em construção. Para o promotor de Justiça de Minas Gerais,
da política internacional de cada estado; a inteligência de segurança pública (ou inteligência criminal)
– integração dos sistemas de inteligência nacional de divide-se em inteligência policial (desenvolvida no âmbito das
cada estado, em combate às ameaças junto à segurança Polícias), e inteligência prisional (ou, mais restritivamente, in-
internacional; teligência penitenciária, desenvolvida no âmbito dos estabele-
– estabelecimento de um controle integrado da atividade, cimentos prisionais).
juntamente ligada ao processo de defesa da região, de forma Lorenz de Azevedo, Diretor de Inteligência Policial do
institucionalizada; DPF (2002, p. 5), destaca que, na seleção do pessoal ade-
– criação de um banco de informações, que congrega to- quado às operações de inteligência policial, serão conside-
das as fontes e potencialidades de inteligência para a estrutu- radas as aptidões inatas e o prévio treinamento em missões
ração de políticas de segurança e defesa regional; de combate ao crime organizado e que a continuidade dos
– fortalecimento da inteligência militar e geração de co- procedimentos de coleta e busca executados pelos policiais
nhecimento para o complexo de defesa da América do Sul, conhecedores da investigação é essencial para o sucesso
além do fortalecimento da integração e cooperação das Forças operacional. Também, anota o experiente dirigente e dele-
Armadas da região; gado de Polícia Federal que: A experiência demonstra que
– dotação de uma força conjunta de inteligência integrada o tempo de permanência dos policiais nos trabalhos de
ao sistema internacional de polícia, que possa estabelecer um monitoramento das comunicações telefônicas influirá na
banco de informações completo e em tempo real do crime or- sua capacidade de interpretar corretamente as mensagens
ganizado internacional; implícitas existentes nas conversações interceptadas, distin-
– gerar uma estrutura de informações estratégicas que guindo com precisão as manifestações subjetivas dos inves-
possa estabelecer parâmetros para o desenvolvimento de tigados reveladoras de suas reais intenções.
estratégias nacionais e conjuntas, onde cada governo possa A inteligência policial, na área de segurança pública, deve
aproveitar suas potencialidades através de um sistema de for- estar voltada, especialmente, para a produção de prova crimi-
talecimento do Mercosul, através de Inteligência Econômica, nal, a ser utilizada em ação penal cujo caráter é público contra
Inteligência Financeira e Inteligência Estratégica. organizações criminosas. É preciso, para que não se distancie
desse norte, reconfigurar o papel da inteligência policial quan-
5 INTELIGÊNCIA POLICIAL: EM BUSCA DA INTEGRAÇÃO E to ao seu desempenho, sua ação, em um contexto democrá-
SISTEMATIZAÇÃO tico, suas possibilidades e limites, bem como as formas de
A inteligência policial, ou melhor, os serviços de inteli- sistematização e armazenamento dos dados respectivos.

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5.1 GESTÃO DE CONHECIMENTO E pura rivalidade. O mesmo ocorre na gência paulista e norte-americano.
COMPARTILHAMENTO hora do armazenamento dos dados. As declarações do Diretor-Geral da
Para aprimoramento dos sistemas Na maioria dos estados, os dados Abin e ex-Diretor-Geral do DPF ressoam
de inteligência e de combate ao crime coletados pelos órgãos de segurança e marcam o leitor pela radiografia per-
organizado, o Estado tem que promo- pública normalmente são armazena- feita: a cultura dos órgãos da adminis-
ver o compartilhamento de dados com dos em bancos de dados diferentes, tração pública é a de não trocar infor-
estabelecimento de canais formais. Há muitas vezes ficando apenas no papel. mações (PAULO LACERDA, 2007, apud
bancos de dados institucionais da Po- É incontestável que a vivência pro- ROMERO, 2007). É preciso disseminar as
lícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, fissional de Guaracy Mingardi o habilita, informações e desburocratizar.
Polícia Militar, Exército, Marinha, Aero- com a autoridade de quem foi Secretário Outro fator preocupante é a perda
náutica, Abin, Detran, bancos de dados de Segurança, a discorrer essas auda- do conhecimento, quando o operador e
policiais das delegacias especializadas ciosas linhas numa seara tão pouco ex- desenvolvedor do banco de dados não
em lavagem de dinheiro, imigração plorada. O referido exemplo é didático providencia uma interface amigável de
ilegal, assalto a banco e, ainda, os não e demonstra, na prática, a situação que comunicação com outros cadastros.
policiais como os da Receita Federal, o autor se propôs a expor: falta de co- Aliás, observa-se, diuturnamente,
Dataprev/INSS, CNIS, mas os setores municação entre as instituições, ausência que, muitas vezes, na ausência de inicia-
responsáveis pelo gerenciamento dos de interface entre os sistemas informa- tiva governamental, é o próprio policial
dados respectivos não interagem, o que tizados, visão restrita do conhecimento ou profissional de segurança pública,
gera uma enorme quantidade de dados e secretismo em razão de poucas infor- dedicado e interessado, que monta sua
perdidos e pouco trabalhados. mações que só têm sentido se reunidas, própria base de dados. Infelizmente, em
Mingardi (2006, p. 46-47) faz uma jamais quando pulverizadas. que pese a dedicação exclusiva e amor
abordagem direta da questão: no caso
brasileiro não existe um sistema defini- A inteligência policial, na área de segurança pública, deve
do, cada Estado da federação tem ou
estar voltada, especialmente, para a produção de prova
não tem um sistema de inteligência
policial e, na maioria das vezes, existe criminal, a ser utilizada em ação penal cujo caráter é público
uma multiplicidade de órgãos que dis- contra organizações criminosas.
putam migalhas de informações. O ex-
47
Secretário de Segurança de Guarulhos, Marco Aurélio Cepik (2003-c, p. 110) ao serviço público e à sociedade desses
a fim de reafirmar o seu posicionamen- expõe sua concepção a respeito da eficá- profissionais, nem sempre o Estado se
to, invoca o exemplo paulista: A Polícia cia e eficiência de múltiplos sistemas de preocupa com a continuidade desse tra-
Militar tem seu grupamento de inteli- inteligência, com contornos análogos ao balho hercúleo e sua valorização.
gência, com status de batalhão, que é pensamento de Guaracy Mingardi: Dife- Com razão, asseveram Ferro Júnior
a P2, e cada batalhão tem sua própria rentes sistemas nacionais de inteligência et al (2005, p. 73) que a sobrevivência
unidade de P2. Na Polícia Civil existe são mais ou menos institucionalizados, das organizações contemporâneas, a
o Dipol (Departamento de Inteligência mais ou menos adaptáveis, complexos, exemplo das instituições policiais, a Abin,
Policial). No Departamento de Narcó- autônomos e coerentes. Em síntese, mais a Receita Federal do Brasil, depende cada
ticos (Denarc) também existe uma ou menos ágeis. Como seus desempe- vez mais da capacidade de se construir
divisão de inteligência, da mesma nhos diferenciados têm conseqüências um modelo de gestão do conhecimen-
forma que no Deic, departamento que para a segurança nacional, seria preciso to, com estratégia, estrutura, decisão e
deveria enfrentar o crime organizado, discutir ainda a questão dos possíveis identidade, apto a responder a um con-
mas cuida basicamente de crimes con- efeitos de uma precária supervisão con- texto cada vez mais complexo e instável
tra o patrimônio. Com frequência, os gressual sobre o desempenho dos ser- da sociedade.
departamentos de polícia do interior viços de inteligência e, de modo geral, Nessa construção de um modelo de
também têm seus setores de inteli- sobre o segundo desafio associado à gestão – do conhecimento (específico)
gência. Mesmo assim, cada vez que institucionalização: o da compatibilização ou das instituições públicas (geral, am-
ocorre uma rebelião nos presídios ou desses sistemas nacionais de inteligência plo), sendo que ambas as gestões são
um ataque contra a polícia, os órgãos com o princípio da transparência [...]. estratégicas –, o papel das academias e
policiais são pegos desprevenidos. Ou As consequências de manutenção do escolas de formação profissional são fun-
seja, existem muitos órgãos e pouca status quo dos serviços de inteligência damentais, muito embora nossa tradição
inteligência. A dispersão de esforços como órgãos públicos burocráticos, sem de “escolas de governo” e academias de
começa na coleta de dados, seja atra- aproximação, e focados apenas em com- administração pública seja pequena e re-
vés de agentes de campo ou da coleta petência das agências para problemas legue o conhecimento e a formulação te-
de informações públicas. As diversas locais e específicos são de todos conhe- órica ao modelo empírico, como observa
agências com frequência correm atrás cidas: os ataques do PCC em São Paulo e Kelsem Rios (2008, p. 1).
do mesmo objetivo, através das mes- os atentados terroristas em Nova Iorque Mas é possível vislumbrar iniciativas
mas fontes, por falta de comunicação (11/09) não foram evitados, por mais so- muito oportunas que tentam mudar o
ou delimitação de tarefas ou até por fisticados que sejam os serviços de inteli- rumo sombrio que se delineia.

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5.2 INICIATIVAS PÚBLICAS PARA COMPARTILHAMENTO DE âmbito do Projeto Fronteiras possibilita a análise da conjuntura
DADOS E PRESERVAÇÃO DO CONHECIMENTO e viabiliza a gestão de conhecimento para a realização do poli-
O novo passaporte brasileiro11, implantado no ano de 2007, ciamento preventivo e do policiamento repressivo/investigativo
atende às normas internacionais estabelecidas pela Organização (MAGALHÃES, 2006).
de Aviação Civil Internacional (Icao)12 e possibilita a formação Quando o projeto for concluído integralmente, o resultado
de um banco de dados com as informações principais e da- que se espera alcançar é o aumento da eficácia e da capacidade
dos biométricos dos usuários de transporte aéreo internacional, de resposta do poder público ao combate do roubo de cargas.
em trânsito no país. Com nova roupagem, permite o registro As iniciativas governamentais para proteção do solo, es-
imediato, em sistema informatizado, da entrada e saída de bra- paço aéreo e marítimo e de seus nacionais se multiplicaram
sileiros e estrangeiros do território nacional, além de registrar, após o evento fatídico do 11 de Setembro. Aperfeiçoamento de
por código de barras bidimensional, a fotografia do passaporte. sistemas informatizados, construção de bases de dados, passa-
Na reunião da ENCCLA 2008 (Estratégia Nacional de Com- portes com leitura ótica e dezenas de detalhes contra fraudes
bate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro e de Recuperação são apenas parte de um pacote de segurança pública e defesa
de Ativos)13 foram traçadas metas a serem cumpridas justamen- nacional adotados mundialmente, que imprescinde da compar-
te no tocante à criação e consulta de base de dados intergover- timentação de dados sem secretismo exacerbado, competição
namentais, in verbis: ou canais burocráticos.
– expandir a rede Infoseg para integrar os cadastros de
identidades civis dos estados, passaportes, Sinpi, CNIS, aerona- 6 CONCLUSÃO
ves e embarcações; É incontestável e premente a maior interação entre os
– desenvolver sistema de informação processual criminal órgãos internos do Departamento de Polícia Federal e outros
integrado entre Polícia Federal e Civil, Ministérios Públicos Fe- órgãos policiais e de segurança do Estado, com a mitigação
deral e Estadual e Justiças Federal e Estadual; da exacerbada compartimentação, mediante comunicação em
– elaborar manual contendo descrição das bases de dados tempo real de possíveis ameaças ao Estado a fim de neutralizar
disponíveis em cada órgão da ENCCLA, estruturados em su- as ações criminosas.
porte eletrônico ou não, incluindo as espécies de informações É recente, nas nossas memórias, o atentado terrorista do
e a forma de obtê-las; World Trade Center, em Nova Iorque, referido no meio policial
– propor medidas para aperfeiçoar a segurança documen- especializado como nine-eleven, debitado à falta de comunica-
48
tal das certidões de registros civis. ção do Escritório Federal de Investigação (FBI) com o Serviço
A partir de 2009, a metodologia de trabalho da ENCCLA foi de Imigração e a Agência Central de Inteligência (CIA), quanto
modificada para criação não mais de metas, mas de ações. Estas à presença de terroristas em solo norte-americano e seus trei-
ações decorrentes de grupos de trabalho no âmbito da ENC- namentos em escolas de aviação, arquitetados sob o codinome
CLA foram tripartidas em focos: a) operacional e estratégico; b) de Projeto Bojinka15. Obviamente, além da falha de difusão16, é
jurídico, e c) tecnologia de informação. Com o foco de tecno- possível que o poder ofensivo das células terroristas tenha sido
logia da informação, a ação integrada destacou a importância subestimado17.
de ações quanto a sistemas de informação (criação, acesso, É possível e almejável reverter a restrição de acesso às in-
integração, interoperação e aprimoramento de sistemas de in- formações de inestimável valor para a atividade investigatória e
formação em geral); indicadores e estatística (análise estatística de inteligência da Polícia Federal, desde que sejam revistos os
e numérica dos assuntos relevantes para tomada de decisão métodos de gestão do conhecimento, capazes de organizar e
dos grupos da ENCCLA); e pesquisa e análise (apoio a projetos sistematizar um fluxo pelos quais as informações possam não
de aprofundamento de temas, com vistas ao uso de tecnologia apenas chegar a todos que tenham interesse por elas, mas estar
para solução de problemas, ressaltando o viés do aumento da disponíveis para consulta e uso, quando for o caso.
capacidade de análise). Reconheça-se, por justiça, que esse é um problema que, no
Na Conferência Diplomática sobre Proteção Marítima, rea- Brasil, perpassa por todo o sistema de segurança pública, cujas
lizada em Londres, no mês de dezembro de 2002, foi adotado, polícias encontram-se, no geral, e de imediato, mais preocupa-
pela Organização Marítima Internacional, o Código Internacio- das em resolver o crônico problema de sucateamento e baixa
nal de Segurança e Proteção de Embarcações e Instalações Por- remuneração de que são vítimas, e que não têm tempo para
tuárias (ISPS Code)14, com 104 páginas, que estabelece medidas produzir, de modo aceitável, conhecimento passível de arma-
relativas à proteção de navios e instalações portuárias, papéis e zenagem e utilização.
responsabilidades dos Estados partícipes das Nações Unidas, de É pela efetiva cooperação entre as agências intergoverna-
modo a detectar e dissuadir atos que ameacem a segurança no mentais, em sentido amplo, mitigação do secretismo oficial,
setor de transporte marítimo. investimento maciço em recursos tecnológicos e na área de
O Projeto Fronteiras, implantado pela Senasp em conjun- inteligência, que podem ser desencorajadas ações recentes do
to com a Federação Nacional de Empresas de Seguros e Res- Primeiro Comando da Capital (PCC), que ocorrem desde 1997
seguros do Brasil (Fenaseg), possibilita a análise e monitora- (no ano de 2002: uma onda de mais de 40 rebeliões no Estado
mento das principais rodovias do Brasil e facilita a produção de São Paulo; no mês de maio/2006: 299 ataques, 82 rebeliões
de conhecimento estratégico e tático acerca da movimentação carcerárias, em nível nacional e simultâneas, 42 agentes públi-
de veículos com irregularidades administrativas ou registro de cos assassinados; no mês de julho/2006: 106 ataques, 6 agentes
ocorrência de roubo ou furto. A ferramenta desenvolvida no penitenciários assassinados), como as das bases do crime orga-

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nizado e as das organizações terroristas nhamento e avaliação do desempenho da ati- countability, therefore, identifies the propriety
vidade de inteligência de segurança pública. É and determines the efficacy of the services un-
que poderiam e podem ser suplantadas integrado, permanentemente, e com direito de der these parameters. Born [2004]: 4.
e extirpadas, minimizando-se, assim, voto, pelo Senasp, que o presidirá; um repre- 9 Área de Relações Exteriores e Defesa Nacional.
perdas e maximizando-se as ações dos sentante da DIP/DPF; um da área operacional 10 Para Robson Gonçalves (2007, p. 5): A natureza
da Polícia Rodoviária Federal (DPRF/MJ); um secreta das atividades de inteligência permite
órgãos de segurança pública.
do Conselho de Controle de Atividades Finan- que muitas vezes sua missão seja desvirtuada.
ceiras (COAF/MF); um da Coordenação Geral Estados totalitários utilizam-se das ferramen-
de Pesquisa e Investigação (Copei) da RFB/MF; tas de inteligência, dos conhecimentos obtidos
NOTAS dois do Ministério da Defesa; um do GSI/PR; e dos cenários projetados para ‘jogos de po-
1 Inteligência Competitiva é o resultado da um da Defesa Civil do Ministério da Integração der’ e para auferir vantagens pessoais para
análise de dados e informações coletados do Nacional; e um da Abin. seus governantes. Nas democracias, mecanis-
ambiente competitivo da empresa que irão 6 No sítio do Ministério da Justiça na Internet, mos de controle são criados para impedir o
embasar a tomada de decisão, pois gera reco- consta uma lista de conceitos básicos defini- uso político dos serviços de inteligência, porém
mendações que consideram eventos futuros e dos pela Senasp: A Defesa Social inclui, entre nem sempre estes controles são efetivos e a
não somente relatórios para justificar decisões outras atividades, a prestação de serviços de frágil barreira ética que impede seu mau uso é
passadas. (GOMES; BRAGA, 2001, p. 28, apud segurança pública e de defesa civil. A Segu- constantemente rompida.
FERNANDES, 2006, p. 13). Bessa (2004, p. 68) rança Pública é uma atividade pertinente 11 Na cor azul, o novo passaporte brasileiro tem
ensina que a inteligência competitiva faz uso aos órgãos estatais e à comunidade como 16 itens de segurança: código de barras bidi-
intensivo das chamadas fontes abertas – infor- um todo, realizada com o fito de proteger a mensional, fundo com microletras, fundo com
mações publicamente disponibilizadas – em cidadania, prevenindo e controlando manifes- impressão íris, fundo com impressão invisível,
contraposição ao modelo vigorante nas agên- tações da criminalidade e da violência, efetivas impressão intaglio com imagem latente, la-
cias estatais de inteligência que valoriza priori- ou potenciais, garantindo o exercício pleno da minado de segurança – proteção dos dados,
tariamente as informações de fontes secretas. cidadania nos limites da lei. marca d´água posicionada mould made, papel
2 Conhecimento de Inteligência é o resultado da A Defesa Civil é um conjunto de medidas que com fibras visíveis e invisíveis, papel com fio de
aplicação da metodologia para a produção do visam prevenir e limitar, em qualquer situa- segurança, papel reativo a produtos químicos,
conhecimento sobre um conjunto de dados, ção, os riscos e perdas a que estão sujeitos tintas sensíveis à abrasão e a solventes, fio de
processados ou não, pertinentes a determinado a população, os recursos da nação e os bens costura luminescente bicolor, perfuração côni-
assunto de interesse da atividade de Inteligência. materiais de toda espécie, tanto por agressão ca a laser, costura das páginas com arremate,
(BRASIL, 1995, 1.ª parte, p. 3-1, apud FERNAN- externa quanto em conseqüência de calami- entre outras características. Disponível em:
DES, 2006, p. 11). Para Fernandes (idem), o pro- dades e desastres da natureza. A prestação <http://www.passaporte.info/>. Acesso em:
duto desse processo poderá ser uma informação de serviços públicos de segurança, em sua 08.02.2008.
ou inteligência. O conhecimento informação é expressão Polícia Geral, inclui o policiamento Disponível em: <http://www.dpf.gov.br/web/
definido como uma série de dados organizados ostensivo, a apuração de infrações penais e a servicos/duvidas_frequentes_resposta.htm>.
de um modo significativo, analisados e processa- guarda e recolhimento de presos. Acesso em: 08.02.2008.
dos. Agregamos valor a esse produto avaliando A premissa maior da atividade de segurança Disponível em: <http://www.dpf.gov.br/passa-
sua pertinência, qualidade, confiabilidade e re- pública é a sua perspectiva sistêmica, expressa porte/#>. Acesso em: 08.02.2008. 49
levância, e integrando-o a um saber anterior. A na interação permanente dos diversos órgãos 12 International Civil Aviation Organization.
partir desse trabalho, elabora-se um quadro da públicos interessados e entre eles e a socieda- 13 No tocante à reunião da ENCLA 2006 (Estra-
situação que gera hipóteses, sugere soluções, jus- de civil organizada. tégia Nacional de Combate à Lavagem de Di-
tificativas de sugestões, críticas de argumentos. A prestação de serviços públicos de segurança nheiro), realizada na cidade de Vitória/ES, de 8
3 Excepcionada a coordenação, planejamento e engloba atividades repressivas e preventivas, a 11.12.2005, citamos as seguintes metas:
execução de atividade de inteligência operacio- tanto de natureza policial quanto não-policial, – elaborar documento que regulamente o
nal necessária ao planejamento e à condução a exemplo, como no caso do provimento de acesso dos Ministérios Públicos Estaduais às
de campanhas e operações militares das Forças iluminação pública. informações protegidas por sigilo fiscal;
Armadas, no interesse da defesa nacional (art. Os serviços de segurança pública de natureza – apresentar relatório sobre a possibilidade de
10, parágrafo único do Dec. 4.376/2002). policial e não-policial devem buscar estabele- informatizar o acesso do Poder Judiciário, do
4 São órgãos integrantes do Sisbin: Ministérios cer, aperfeiçoar e manter, conjunta e perma- Ministério Público Federal e do Coaf às infor-
da Justiça (Senasp, SNJ, DPF, DPRF, Depen, nentemente, um sentimento coletivo de segu- mações da Secretaria da Receita Federal do
DRCI), Saúde (Anvisa), Meio Ambiente, Tra- rança. Disponível em: <http://www.mj.gov.br>. Brasil (RFB);
balho e Emprego, Ciência e Tecnologia, Previ- Acesso em: 14.02.2008. – propor medidas para aperfeiçoar a proteção
dência Social, Integração Nacional (Secretaria 7 Na opinião de Fernandes (2006, p. 16), os de informações sigilosas;
Nacional de Defesa Civil), Relações Exteriores órgãos públicos, por seus serviços e unidades – elaborar projeto para aprimorar a cooperação
(Coordenação-Geral de Combate aos Ilícitos de nível tático-operacional, em termos de pro- jurídica internacional nas áreas de fronteira;
Transnacionais), Fazenda (RFB, Bacen, Coaf), dução de conhecimento, elaboram e utilizam – implantar sistema unificado e nacional de
Defesa (Departamento de Inteligência Estra- informações e não produzem conhecimentos cadastramento e alienação de bens, direitos e
tégica da Secretaria de Política, Estratégia e de nível estratégico e raramente se valem de valores sujeitos a constrição judicial, até sua
Assuntos Internacionais, Centro de Inteligência conhecimentos estratégicos para suas ações, final destinação;
da Marinha, Centro de Inteligência do Exérci- seja de coleta/busca, seja na execução de – obter acesso integrado aos dados das Juntas
to, Secretaria de Inteligência da Aeronáutica), uma tarefa específica em sua área de atua- Comerciais para os membros do Gabinete de
Casa Civil da Presidência da República (Centro ção (sequestro, estelionato, outras fraudes). Gestão Integrada de Prevenção à Lavagem de
Gestor e Operacional do Sistema de Proteção Para o autor, conhecimento de nível tático- Dinheiro (GGI-LD);
da Amazônia – Censipam), Gabinete de Segu- operacional é o conhecimento requerido para – obter do Ministério das Comunicações e da
rança Institucional da Presidência da República, subsidiar as ações dos órgãos/unidades opera- Agência Nacional de Telecomunicações (Ana-
Controladoria-Geral da União e Abin. cionais, em cumprimento a diretrizes de um tel) a elaboração de cadastro nacional de assi-
5 Integram o subsistema, obrigatoriamente, os plano maior (o plano estratégico), enquanto nantes de telefonia fixa e móvel e de Internet;
Ministérios da Justiça (MJ), da Fazenda (MF), da que o conhecimento de nível estratégico é o – completar a primeira fase da integração do
Defesa (MD) e da Integração Nacional e o GSI/PR, conhecimento requerido para a formulação de acesso ao conteúdo das bases de dados patri-
tendo como órgão central a Secretaria Nacional planos e políticas no nível nacional ou interna- moniais, incluindo, pelo menos, as bases de
de Segurança Pública (Senasp/MJ) e, facultativa- cional, referente ao Estado, ou a uma institui- veículos terrestres, aeronaves e embarcações.
mente, os órgãos de Inteligência de Segurança ção ou organização. – Em novembro de 2006 houve a reunião da
Pública dos Estados e do Distrito Federal, que par- 8 Although secrecy is a necessary condition of ENCCLA 2007 (Estratégia Nacional de Combate
ticipam como membros eventuais do Conselho the intelligence services’ work, intelligence in a à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro), na qual
Especial do Sisp, sem direito de voto. liberal democratic state needs to work within the foi incluído o combate prioritário também à
O Conselho Especial do Sisp reúne-se trimes- context of the rule of law, checks and balances, corrupção e foram traçadas novas metas, entre
tralmente e tem entre suas funções o acompa- and clear lines of responsibility. Democratic ac- as quais se destacam:

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– elaboração de anteprojeto de lei para unifor- militar: 1.ª parte: conceitos básicos. Brasília: dade de inteligência: consolidando a democracia.
mizar e acelerar a comunicação, pelos órgãos EGCF, 1995. Revista Brasileira de Inteligência, Brasília, v. 1, n. 1,
de fiscalização e controle da Administração BRUNEAU, Thomas C. Intelligence and democra- p. 15-32, dez. 2005.
Pública, de indícios de ilícitos aos órgãos de tization: the challenge of control in new democra- GONÇALVES, Robson José de Macedo. A inteligên-
investigação, inteligência e persecução penal; cies. The Center for Civil-Military Relations, Naval cia e o Poder Legislativo. Senado Federal, Brasília.
– regulamentação da obrigação de reportar Postgraduate School, Monterey, Occasional Paper, Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/se-
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Informação) – Pró-Reitoria de Pós-graduação e
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Artigo recebido em 19/5/2009.


Artigo aprovado em 22/10/2009.

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Rodrigo Carneiro é delegado da Polícia


Federal em Brasília-DF.

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