O livro segue uma ordem cronológica para apresentar aspectos da chamada alta
idade média, iniciando o conteúdo apresentando império Romano do Oriente e suas
diversos aspectos econômicos e culturais. Os autores definem o fim do império Romano
do Ocidente como o marco cronológico para o fim da Antiguidade e Início da Idade Média.
Periodização é um tema que rende um amplo debate historiográfico já a algum tempo, e
no fim é sempre uma questão de escolha. Porém alguns conceitos já estão
ultrapassados, entre eles, essa noção de ruptura, que o texto transmite, como se a partir
de um ponto específico, nesse caso o fim da Império Romano do Ocidente, uma modelo
de sociedade acabasse e um outro, o feudalismo, se iniciasse. As relações sociais,
políticas e econômicas são muito mais fluidas e permeáveis, ao ponto de alguns
historiadores defenderem a existência de um período de transição entre o fim do Império
Romano e o início da Idade Média, chamada de Antiguidade Tardia.
O texto segue explicando as características políticas e econômicas do Império
Romano do Oriente ou Império Bizantino dando ênfase nas diferenças estruturais da
administração política e na prática religiosa. No império Bizantino a figura do Imperador
se Misturava com a do chefe religioso, uma forma de governo conhecida como
cesaropapismo. Além dessa mescla entre o figura do imperador e a do papa, alguns
conceitos adotados pelo Império Bizantino, geraram conflitos entre a prática religiosa dos
mesmos e os cristãos ocidentais, Duas heresias são destacadas no texto, o monofisismo
e a iconoclastia. Ambas as heresias mereciam ser melhor explicadas pois vão ter papel
central na separação entre os cristãos do oriente e do ocidente. Os primeiros defendiam
o monofisismo, acreditavam em uma única natureza divina, para eles Cristo não tinha a
natureza humana defendida pelos católicos romanos que acreditavam na doutrina da
Santíssima Trindade, onde Deus seria, simultaneamente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
A iconoclastia defendida pelos Bizantinos condenava culto às imagens e relíquias de
santos, o que gerou um forte conflito com o cristianismo católico romano, pois essa
prática de culto ocupava um papel central na expansão do mesmo.
O livro segue para o Império Árabe, fazendo uma breve descrição de como funciona
a dinâmica social nos territórios árabes, dando uma noção superficial do funcionamento
da sociedade onde surgiu o Islamismo. Alguns termos e conceitos como “tribos” para se
referir a grupos étnicos, Jihad sendo associado a Guerra Santa, quando na verdade essa
é apenas uma das interpretações feitas por grupos extremistas, e a utilização do nome
Maomé, forma pejorativa criada pelos cristãos, para se referir ao profeta Muhammad, já
foram superados e merecem serem revistos. A descrição do processo de consolidação e
expansão do Império Árabe merecia melhor atenção, pois foi um evento crucial na
derrocado do Império Bizantino e abalou as estruturas da Igreja Católica. Um império que
se estendeu da Ásia Central a costa do Atlântico e segundo o historiador Albert Hourani:
“No fim do seculo X , passara a existir um mundo islâmico, unido por uma
cultura religiosa comum, expressa em língua árabe, por relações humanas
forjadas pelo comércio, a migração e a peregrinação fetivo. [...]Ter mantido
tantos países, com diferentes tradições e interesses, num único Império por
tanto tempo fora um feito notável. Dificilmente poderia ter sido conseguido
sem a força da convicção religiosa, que formara um grupo dominante e
efetivo na Arábia Ocidental, e depois criara uma aliança de interesses entre
esse grupo e uma parte em expansão das sociedades sobre as quais
governava.”1
1
. HOURANI, Albert. "Sociedades Muçulmanas Árabes". In: Uma História dos Povos Árabes.
São Paulo: Companhia de Bolso, 1991. p. 68
2
LE GOFF, Jacques. A instalação dos Bárbaros ( séculos V-VIIi), In: A civilização do ocidente medieval -
vol. I. Lisboa: Estampa, 1995. p 48.
A maior parte do capítulo é dedicada a explicação do que é feudalismo, e seus
aspectos econômicos e culturais, uma decisão acertada pois com a ponta Le Goff e Alain
Guerreau3, dentre os vários e plurais conceitos e definições que a historiografia vem
dando para a o período que conhecemos por idade média, feudalismo é o que guarda
melhor coerência ao exemplificar com relativa precisão o fato de tratar-se de um sistema
global.
As relações entre suseranos, vassalos e servos, dominium, são bem resumidas nos
aspectos econômicos assim como a importância da Igreja para manutenção dessa
relação, minha principal crítica a esse capítulo é falta de definição mais detalhada do
papel da igreja enquanto instituição. A ecclesia é o sustentáculo do feudalismos, como a
aponta Guerreau no trecho abaixo:
3
GUERREAU, Alain. "Feudalismo". In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude (cord).
Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Bauru: Edusc, 2006. p. 444.
4
GUERREAU, Alain. "Feudalismo". In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude (cord).
Dicionário Temático do Ocidente Medieval. Bauru: Edusc, 2006. p. 447.
dessas obra enriqueceria muito o material, pois além ser uma boa fonte primária poderia
trazer um tom lúdico que sempre é um bom atrativo. O teatro também é mencionado
como forma de manifestação cultural que hora era usado pela própria igreja para facilitar
a transmissão de suas mensagem, como o era apropriado pelos cidadãos como para
fazer críticas a sociedade.
No geral considero o conteúdo bom, bem resumido e apesar de conter alguns
conceitos já ultrapassados, ainda é possível trabalhar seu conteúdo, fazendo alguns
ajustes pontuais.
BIBLIOGRAFIA:
HOURANI, Albert. "Sociedades Muçulmanas Árabes". In: Uma História dos Povos
Árabes. São Paulo: Companhia de Bolso, 1991.