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CERTEAU, Michel. A Operação Historiográfica.

1974/1982

 Qual a relação que o historiador mantém com a sociedade presente e a sociedade do


passado – esta relação com o passado (já morto) se dá por meio das atividades
técnicas?
 O lugar social onde se localiza o historiador e o local de produção de sua
pesquisa/escrita (instituições) se evidencia em sua narrativa, sua forma de pensar,
sua técnica de pesquisa e as escolhas (possibilidades e disponibilidades) das fontes.
 Ideias ligadas aos lugares de sua produção;
 Relação do produto e seu lugar de produção;
 História = Operação: lugar (social) + procedimentos de análise (científicos) +
construção de um texto (escrita);
 A História e a produção historiográfica fazem parte da realidade (passado/presente)
que trata;
 Essa realidade (passado/presente) pode ser apropriada enquanto atividade humana,
enquanto prática (por isso se pode compreendê-la – VICO);
 Leis silenciosas organizam o espaço produzido como texto.

1. Um Lugar Social
 A pesquisa historiográfica se articula com o seu lugar de produção (socioeconômico,
político e cultural);
 Meio de elaboração circunscrito por determinações próprias;
 É em função do lugar que se instauram os métodos, que se delineiam os interesses
da pesquisa, que as fontes e as problemáticas se/são organiza(m)dos;

1. O não-dito.
 Crítica do cientificismo (1920) a história não pode ser objetiva pois guarda uma
relação com o lugar do sujeito (dissolução do objeto  filosofia da linguagem?);
 A história não “reconstitui” a verdade do acontecido, como pretendia os
cientificistas;

 Aron mostrou que toda interpretação histórica depende de um sistema de referência


(escolhas filosóficas pessoais);
 O trabalho historiográfico faz parte da subjetividade do autor (sistema de pensamento
ou decisões filosóficas do historiador);
 A escolhas filosóficas do historiador organizam o recorte do material, os códigos de
seu deciframento e a ordem da sua exposição;
 Fato histórico  são escolhas anteriores à pesquisa (não-ditas) dos objetos de
pesquisa, determinadas portanto pelo lugar da produção da pesquisa;
 Relatividade histórica  multiplicidades de filosofias individuais dos historiadores;
 Retorno as “decisões” pessoais;
 Silêncio  postulado epistemológico.
 Autonomia do lugar teórico onde se desenvolvem as leis segundo as quais os
discursos científicos se formam e se combinam em sistemas globais (Foucault);
 O não-dito é a instituição (regras, normas, técnicas) da qual faz parte o historiador.

2. A Instituição histórica.
 Lugar deixado em branco (não-dito) instituição do saber (lugar social);
 Instituições do saber: assembleia dos eruditos, redes de correspondência, círculo dos
sábios e as Academias;
 Nascimento das disciplinas relacionados com a criação de grupos  relação entre
instituição social e definição de um saber;
 Retirada dos assuntos públicos e dos assuntos religiosos (na sociedade);
 Constituição de um lugar científico (na sociedade);
 Instauração de um saber indissociável de uma instituição social;
 A instituição social (uma sociedade de estudos) permanece a condição de uma
linguagem científica (a revista ou o Boletim);
 Cada "disciplina" mantém sua ambivalência de ser a lei de um grupo e a lei de uma
pesquisa científica.
 Articulação entre um saber e um lugar  “Em história, é abstrata toda "doutrina"
que recalca sua relação com a sociedade. Ela nega aquilo em função de que se
elabora.
 Impossível analisar o discurso histórico independentemente da instituição (lugar
social) a qual ele se organiza silenciosamente (não-dito)
 A renovação da disciplina (história) não se dará somente pela modificação de seus
conceitos, é necessário que se intervenha nos lugares de produção;
 Repolitização das ciências humanas;
 Necessário uma “teoria crítica” de sua situação na sociedade (filosofia linguística?)
 O texto historiográfico assume sua relação com a instituição utilizando-se na criação
da sua narrativa/discurso o pronome pessoal na primeira pessoa do plural (nós);
 O nós remete a uma convenção, encenação de um contrato social (entre os
historiadores);
 Sujeito plural que sustenta o discurso (vários historiadores sustentam o discurso
apresentado na narrativa);
 Uma obra historiográfica é definida como tal por outros historiadores;
 O que importa ao historiador é a aprovação de seus pares;
 A apreciação dos pares do historiador segue um critério científico;
 Leis do meio: o historiador deve seguir regras de erudição para ser aceito por outros
historiadores;
 Uma “agregação” de historiadores que classificam o "eu" do escritor no "nós" de um
trabalho coletivo, ou que habilita um locutor a falar o discurso historiográfico.
 Pesquisas individuais inscrevem-se em uma rede de pesquisas, cujo os elementos
dependem uns dos outros (“um galo sozinho não tece o amanhã);
 Obra de valor para a história  aquela reconhecida como tal pelos pares;
 Trabalho historiográfico é resultado e sintoma de um grupo (laboratório);
 A produção historiográfica está mais ligada a um processo específico e coletivo, do
que de uma filosofia individual ou a uma ressurgência de uma realidade passada
(exemplo da produção de veículos).

3. Os historiadores na sociedade
 Métodos (de uma disciplina) comportamento institucional e lei de um meio;
 Ciências não são autônomas às determinações sociais;
 Cada disciplina tem seus métodos, hierarquias, normas centralizadoras, etc.
 A sociedade (em que o historiador vive) “determina” a maneira como se trabalha e
se produz o discurso historiográfico;
 As perspectivas históricas mudam conforme a sociedade muda  “Uma situação
social muda ao mesmo tempo o modo de trabalhar e o tipo de discurso”.
 A pratica (a escrita, a pesquisa) histórica se relaciona diretamente com a estrutura
social em que o historiador vive;
 Mudança na sociedade provoca mudanças nas análises históricas, afastamento com
relação ao que se torna o passado.  não-dito: uma defesa ao lugar de fala/produção
da história, ao invés de ser o enunciado das causas da construção do discurso.

4. O que permite e o que proíbe: o lugar


 É necessário saber como a história funciona dentro de uma sociedade;
 O lugar de produção da historiografia permite um tipo de produção e proíbe outros;
 A proibição não se dá apenas de maneira diretamente intencional, pode se dar
também com a impossibilidade de acesso a arquivos e fontes, seja por motivos
intencionais ou pela inexistência de documentos (os documentos são armazenados
seguindo um propósito de importância para quem os armazena);
 História  relação da linguagem com o corpo social, relação com os limites que
o corpo social impõe. Os limites que o passado impõe pode ser por questão de
falta de fontes;
 Limitação das fontes, inexistência, falta, etc.
 História configurada pelo sistema (instituição, métodos, aparelhos) no qual se
elabora;
 Devemos levar em consideração esse lugar no qual se produz a história, pois assim
escaparemos da inconsciência de classe, e conheceremos a sociedade em que estamos
inseridos;
 Articulação entre história e o lugar de produção é a condição de uma análise da
sociedade.

2. Uma Prática
 “Fazer história” é uma prática;
 Universidades estranhas às técnicas;
 Técnicas são chamadas de “ciências auxiliares”;
 A história entra em contato com a técnica a partir das ciências auxiliares;
 O lugar que se dá à técnica coloca a história do lado da literatura ou da ciência;
 Organização da história relativa a um lugar e a um tempo;
 Técnicas de produção se relacionam com a sociedade e seu contexto atual;
 Cada sociedade se pensa historicamente com seus próprios instrumentos;
 História mediatizada pela técnica;
 A pesquisa ocorre entre a fronteira do dado e do criado, entre a natureza e a cultura;
 Renovação da natureza provocada pela intervenção do historiador/pesquisador;
 Ligação entre a humanidade e a matéria, de maneira diferente entre as disciplinas;
 Ordem social se inscreve como uma forma de ordem natural, por isso os historiadores
estão se voltando para outros aspectos da análise social (econômico, geográfico,
ambiental, etc.);
 É preciso encarar como a História trata os elementos naturais para os transformar em
um ambiente cultural;
 Como faz aceder às simbolizações literárias as transformações que se efetuam na
relação de uma sociedade com sua natureza;
 A história artificializa a natureza;
 Transforma a natureza em ambiente e assim modifica a natureza do homem;
 As técnicas são necessárias para essa articulação entre o social e o natural, a
socialização da natureza e a naturalização das relações sociais.

1. Articulação natureza-cultura
 O historiador transforma matérias-primas (informação primária) em produtos
standard (informação secundária);
 Transporta as informações de uma região da cultura (curiosidades, arquivos,
coleções) para a outra (história/historiografia);
 A obra histórica participa do movimento de mudança pelo qual uma sociedade
modificou sua relação com a natureza, transformando o natural utilitário (floresta em
exploração), ou estético (montanha em paisagem), ou fazendo uma instituição social
passar de um estado para outro;
 O historiador pode transformar em cultura os elementos que extrai dos campos
naturais;
 Deslocamento da articulação entre natureza/cultura;
 Transforma o natural (pedras, sons, etc., que tornam-se elementos simbólicos na
escrita [fontes]) em objeto da cultura (livro – história);
 O historiador modifica o meio ambiente através de uma série de transformações e
deslocamentos das fronteiras e da topografia interna da cultura;
 Civiliza a natureza – coloniza;
 Quando o historiador supõe que pode resgatar um passado dado, tal como foi, ele
recebe passivelmente os documentos, que vai utilizar como fontes, de seus
produtores do passado  o historiador deixa de fazer a crítica ao texto do documento
e ao seu próprio trabalho;
 A operação que transforma o “meio” é científica – ou que faz de uma organização
(social, literária, etc.) a condição e o lugar de uma transformação;
 Relação do passado com o presente é um produto da historiografia  a história é
uma representação do passado mas não é uma ficção, pois ela representa o “morto”
através de métodos científicos e através de “dados” ou fontes verificáveis;
2. O estabelecimento das fontes ou a redistribuição do espaço.
“Em história, tudo começa com o gesto de separar, de reunir, de transformar em
"documentos" certos objetos distribuídos de outra maneira. Esta nova distribuição cultural é
o primeiro trabalho. Na realidade, ela consiste em produzir tais documentos, pelo simples
fato de recopiar, transcrever ou fotografar estes objetos mudando ao mesmo tempo o seu
lugar e o seu estatuto.” (73)
 Devemos formar o nosso corpo documental, de acordo com o que pretendemos
explorar na pesquisa;
 Podemos transformar objetos em documentos, distribuindo-os e reordenando, de
acordo com o interesse da pesquisa;
 Nova distribuição cultural do corpo documental;
 Produzimos as nossas fontes quando mudamos o seu lugar (de importância) e o seu
estatuto (de objeto para documento)  uma fotografia em um álbum é apenas uma
fotografia, quando o historiador a desloca e utiliza domo documento ela se torna uma
fonte;
 Instituímos coleções documentais, que nada mais eram que objetos
descontextualizados e passamos a instituí-los como documentos de um saber;
 Constituímos os dados a partir da organização documental que fazemos;
 Cada historiador constitui sua coleção própria;
 Estabelecimento das fontes: gesto fundador pela combinação de um lugar (de onde
se tira as fontes e onde a colocamos), um aparelho (como reproduzimos ou
capturamos as fontes) e de técnicas (como analisamos as fontes);
 Utilizar de outra maneira os recursos conhecidos / mudar o funcionamento dos
arquivos (de um uso para outro);
 Transformar objetos que tinham um uso e um significado em portadores de novos
dignificados para a história (transformá-los em fonte);
 Devemos operar uma redistribuição do espaço de pesquisa, transformar as
organizações documentais dos arquivos em outras organizações (particulares) que
chamaremos de fonte;
 Os arquivos ainda são considerados pelo saber comum os principais centros de
documentação verdadeiras para o conhecimento histórico da realidade do passado,
porém, é necessária uma nova organização desses arquivos, pois as práticas de
pesquisa também mudaram  os arquivos organizam seus documentos sem a
preocupação de uma problemática, o historiador se preocupa em reorganizar sua
coleção documental a partir de uma problemática;
 A forma da pesquisa e a busca por problemas se alteraram de acordo com o
aparelho (arquivos, bibliotecas, computadores);
 Os aparelhos de pesquisa mediam os métodos e a epistemologia;
 Prática  construir modelos que substituiriam o estudo dos fenômenos concretos
pelo estudo de um objeto constituído por sua definição, julgar o valor científico deste
objeto segundo o campo de questões a que permite responder e segundo as respostas
que fornece, finalmente, fixar os limites da significabilidade deste modelo.
 Ou seja, a prática não seria estudar o fenômeno concreto do passado, até porque é
impossível, mas estudar os objetos do passado que nos permitem apreender sobre os
acontecimentos desse passado, assim poderemos estudar o fenômeno a partir dos
objetos que “sobreviveram” ao tempo.
 Contudo, é importante pensar que o próprio recorte da documentação está sujeito às
ações do lugar social onde o indivíduo está inserido;

3. Fazer surgir diferenças: do modelo ao desvio.


 Técnicas atuais informação  separação entre a construção de objetos de pesquisa
e das unidades de compreensão; da acumulação dos dados e sua arrumação em
lugares onde possam ser classificados e deslocados; da exploração viabilizada
através das diversas operações que este material é suscetível;
 Trabalho teórico se desempenha: na construção dos modelos e na atribuição de uma
significabilidade aos resultados obtidos ao final das combinações informáticas
(modelos: nomotéticos; desvios: ideográficos);
 Descobrir as diferenças, o heterogêneo que pode ser tecnicamente utilizado (o
objetivo da pesquisa não é mais a formulação de modelos);
 Devem ser relacionados os modelos estabelecidos e os limites de sua aplicação,
transformando estes limites em problemas tecnicamente tratáveis;
 Inversão da história como se praticava no passado: partindo-se de vestígios limitados,
apagariam todos os traços individuais desses vestígios para unifica-lo em uma
compreensão coerente como geral;
 Totalização indutiva;
 Hoje a pesquisa histórica se volta para os desvios (o específico), partindo de uma
formalização (do presente/modelos gerais) para dar lugar aos “restos” (ao específico/
aos limites).
 O historiador não visa mais a história global;
 O historiador agora trabalha nas margens;
 O historiador agora estuda os “desvios” (elementos específicos da sociedade)
levando a historiografia ao limite, mas sem modificar seu estatuto de veracidade.

4. O trabalho sobre o limite.


 O papel social da história não é mais o de prover a sociedade de representações
globais de sua gênese;
 A história não tem mais a função totalizante que consistia em substituir a filosofia de
seu papel de expressar o sentido;
 A história se utiliza criticamente dos modelos formulados por outras ciências
(sociologia, economia, psicologia);
 A história “testa” (experimenta) os modelos instrumentais de outras ciências;
 Esse “experimento” pode ser assinalado de duas formas: 1º relação com o real através
do fato histórico; 2º o uso dos “modelos” recebidos (a relação da história com uma
razão contemporânea. 1º Organização interna dos procedimentos históricos; 2º
articulação com campos científicos diferentes.
 1º “Dito de outra maneira, este retomo aos fatos não pode ser arrolado numa
campanha contra o monstro do "estruturalismo", nem pode ser posto a serviço de
uma regressão às ideologias ou às práticas anteriores. Pelo contrário, ele se
inscreve na linha de análise estrutural, mas como um desenvolvimento. Pois, o
fato de que se trata, de agora em diante, não é aquele que oferece ao saber
observador, a emergência de uma realidade. (...). De seus próprios modelos ele
[o historiador] obtém a capacidade de fazer aparecer os desvios. Se, durante
algum tempo ele esperou uma "totalização", e acreditou poder reconciliar
diversos sistemas de interpretação, de modo a cobrir toda a sua informação,
agora ele se interessa prioritariamente pelas manifestações complexas destas
diferenças.” (82)
 Retorno aos fatos não é uma campanha contra o estruturalismo, mas sim uma
análise estrutural como um desenvolvimento;
 O fato não é a realidade acontecida;
 O historiador é capaz de fazer aparecer os desvios dentro dos seus próprios
modelos;
 Agora os historiadores se interessam pelas manifestações complexas das
diferenças;
 O fato é a diferença;
 A relação com o real é a relação entre os termos de uma operação;
 O fato é a designação de uma relação (entre a operação/pesquisa e os modelos
existentes/generalizações);
 Em história, os modelos produzidos pela disciplina são testados por meio da
operação que possibilita a descoberta das diferenças, do individual, nos mesmos,
a partir do estabelecimento dos fatos  o fato é a diferença;

 2º “Isto já implica numa maneira "histórica" de reempregar os modelos tirados


de outras ciências e de situar, com relação a elas, uma função da história” (83)
 Reempregar modelos de outras ciências e situar uma função da história;
 O entendimento da história está ligado à capacidade de organizar as diferenças
ou as ausências pertinentes e hierarquizáveis porque relativas às formalizações
científicas atuais. (84);
 A história é uma testagem crítica dos modelos das outras disciplinas. Observando
seus limites de aplicação. Tem por função criticar os modelos das outras
disciplinas e evidencias as diferentes formas de aplicações, os não-ditos,
organizar as diferenças ou as ausências;
 A história não deixou de manter a função que exerceu durante séculos por
"razões" bem diferentes e que convém a cada uma das ciências constituídas: a de
ser uma crítica. (85)

5. Crítica e história.
“O breve exame da sua prática parece permitir uma particularização de três aspectos
conexos da história:
I a mutação do "sentido" ou do "real na produção de desvios significativos;
II a posição do particular como limite do pensável;
III a composição de um lugar que instaura no presente a figuração ambivalente do passado
e do futuro.” (85)
1. O primeiro aspecto supõe uma mudança completa do conhecimento histórico desde há um
século.
 A história representava uma sociedade a maneira de uma compilação de todo o
seu devir;
 Conhecimento histórico restabelecia o Mesmo pela sua relação com uma
evolução (sentido teleológico da história);
 Atualmente o conhecimento histórico é julgado mais por sua capacidade de
medir exatamente os desvios com relação às construções formais presentes;
 O resultado da pesquisa é focado nas diferenças entre um modelo e a
realidade/representação do real (ou entre o passado e o presente);
 O conhecimento histórico fez surgir, não um sentido, mas as exceções que a
aplicação de modelos econômicos, demográficos ou sociológicos faz aparecer
em diversas regiões da documentação;
 O foco da história não é mais um sentido (de progresso) e sim as exceções;
 A história é especializada em fabricar diferenças pertinentes.
2. Próximo deste primeiro aspecto, o segundo refere-se ao elemento ou qual se fez, com
razão, a especialidade da história: o particular (que G. R. Elton distingue, com justeza, do
"individual").
 Se é verdade que o particular especifica ao mesmo tempo a atenção e a pesquisa
históricas; isto não ocorre enquanto seja um objeto pensado, mas pelo contrário, por
estar no limite do pensável. Não é pensado senão universal. O historiador se instala
na fronteira onde a lei de uma inteligibilidade encontra seu limite como aquilo que
deve incessantemente ultrapassar, deslocando-se, e aquilo que não deixa de encontrar
sob outras formas.
 Mas seria ilusório acreditar que a simples menção "é um fato" ou que o "aconteceu"
equivale a uma compreensão. (...). Na verdade, a particularidade tem por atribuição
desempenhar sobre o fundo de uma formalização explícita; por função, introduzir ali
uma interrogação; por significação remeter aos atos, pessoas e a tudo que permanece
ainda exterior ao saber assim como ao discurso.
 O historiador busca objetos que estão no limite do pensável (pelos modelos) pois
estes ainda não foram pensados na historiografia, nesse sentido, ele busca o particular
(que encontra nos modelos de sociedades estruturadas por análises históricas
anteriores);

3. O lugar que a história criou, combinando o modelo com os seus desvios, ou agindo na
fronteira da regularidade, representa um terceiro aspecto de sua definição.
 Mais importante que a referência ao passado é a sua introdução sob a forma uma
distância tomada. (...) o passado é, inicialmente, o meio de representar uma
diferença. A operação histórica consiste em recortar o dado segundo uma lei
presente, que se distingue do seu "outro" (passado), distanciando-se com relação
a uma situação adquirida e marcando, assim, por um discurso, a mudança efetiva
que permitiu este distanciamento.
 Assim, a operação histórica tem um efeito duplo.
 Por um lado, historiciza o atual. Falando mais propriamente, ela presentifica uma
situação vivida. Obriga a explicitar a relação da razão reinante com um lugar próprio
que, por oposição a um "passado" se toma o presente.
 Mas por outro lado, a imagem do passado mantém o seu valor primeiro de representar
aquilo que falta. Com um material que, para ser objetivo, está necessariamente aí,
mas é conotativo de um passado na medida em que, inicialmente, remete a uma
ausência e introduz também a falta de um futuro.

3. Uma Escrita
 Representação histórica deve estar ligada/articulada com um lugar social da
operação científica e deve ser institucional quando ligada a uma prática do desvio,
com relação aos modelos culturais teóricos contemporâneos.
 Não existe relato histórico que não esteja ligado com um corpo social e com uma
instituição de saber;
 Resta encarar a operação que faz passar da pratica investigadora à escrita.

1. A inversão escriturária
 O ato de escrever é uma passagem da prática de pesquisa ao texto;
 Nesse processo acontece distorções com relação aos procedimentos de análise;
 A exposição segue uma ordem cronológica (inversão da ordem em que se
pesquisa e da ordem em que se escreve);
 Pesquisa interminável;
 O texto deve ter um fim;
 Representação escriturária é plena, preenche lacunas, que constituem o
próprio princípio da pesquisa;
“Por estes poucos traços – a inversão da ordem, o encerramento do texto, a substituição
de um trabalho de lacuna por uma presença de sentido – pode-se medir a "servidão" que
o discurso impõe à pesquisa.” (89)
 A escrita historiográfica permanece controlada pelas práticas das quais resulta
(praticas próprias);
 A escrita também é uma prática social (ligada a um lugar);
 A escrita histórica é didática – ela ensina;
 Mas também funciona como imagem invertida, que dá lugar a falta e a esconde;
 A escrita cria relatos do passado que são uma presença da morte (presença do
passado);
 O discurso (a escrita) se situa fora da experiência (a pesquisa) que lhe confere crédito;
 O texto produzido se separa do tempo de sua produção, se distancia da experiência
da pesquisa;
 A escrita “esquece” a prática presente para se situar como escrita do passado;
2. A cronologia, ou uma lei mascarada.
 Os resultados da pesquisa são expostos por uma ordem cronológica;
 A rigidez dessa ordem está mais flexível nos dias atuais;
 Tempo das coisas (real) como contraponto e condição de um tempo discursivo
(tempo referencial);
 O saber histórico é produzido num tempo discursivo situado à distância do tempo
real;
 Características do texto historiográfico:
 I – Tornar compatíveis os contrários: passado e presente. É possível no mesmo
texto narrativo quando se apontam as diferenças das qualidades entre um e outro
(o passado era bom, o presente não é);
 O que autoriza a historiografia a se constituir como síntese dos contrários
e a não ser um rigor racional  a historiografia é um relato que funciona
na realidade como discurso organizado pelo lugar dos “interlocutores” e
fundamentado no lugar que se dá o “autor” com relação aos seus leitores.
 O lugar da produção que autoriza o texto;
 II – “A cronologia indica um segundo aspecto do serviço que o tempo presta à
história. Ela é a condição de possibilidade de recorte em períodos. Mas (no
sentido geométrico) rebate, sobre o texto, a imagem invertida do tempo que, na
pesquisa, vai do presente para o passado. (...). Somente esta inversão parece
tomar possível a articulação da prática com a escrita. Ao indicar uma
ambivalência do tempo, coloca se inicialmente o problema de um re-começo:
onde começa a escrita?” (93)
 Cronologia – condição de possibilidade de recortes em períodos;
 Articulação entre a prática (pesquisa) e a escrita (texto) se dá com a
inversão cronológica  enquanto na pesquisa se vai do presente para o
passado, na escrita se vai do passado para o presente;
 A historiografia trabalha para encontrar um presente, que é o término de
um percurso na trajetória cronológica;
 O presente que produz o texto historiográfico se transforma em um lugar (presente –
lugar presentificado) produzido pelo texto.
 Ao mesmo tempo em que se escreve no presente, o presente também é escrito no
texto.
 A cronologia da obra de história é um segmento limitado (tem um começo, que não
é o início dos tempos, segue uma sequência até chegar ao fim, que não é o fim dos
tempos);
 A cronologia visa o momento presente através de uma distância;
 A cronologia supõe uma série finita cujos termos permanecem incertos; postula em
última instância o recurso ao conceito vazio e necessário de um ponto zero, origem
(do tempo) indispensável a uma orientação;
 Permite a atualidade existir no tempo e situar-se a si mesma  relação necessária
entre um começo, que não é o nada, ou não tem outro papel a não ser o de ser um
limite;
 O zero inicial esboça o retorno a um passado estranho;
 Para que o relato "desça" até o presente, é preciso que ele se apoie, anteriormente,
em um nada;
 Banido do saber, um fantasma se insinua na historiografia e determinando-lhe a
organização: é aquilo que não se sabe, aquilo que não tem nome próprio. Sob a forma
de um passado que não tem lugar designável, mas que não pode ser eliminado, é a
lei do outro;
 A cronologia da narrativa favorece o temo presente – o presente é bom;
 Quando o relato é histórico, entretanto, resiste à sedução do começo; não cede ao
Eros da origem;

3. A construção desdobrada.
Relato encarado como discursividade  problemas sobre a construção da historiografia;
 A história é um relato que funciona como discurso organizado pelo lugar dos
“interlocutores” e fundamentado no lugar que se dá o “autor” com relação aos
seus leitores. (92)
O discurso histórico pretende dar um conteúdo verdadeiro sob a forma de narração (o
discurso histórico está situado entre os discursos literários [narração] e os discursos lógicos
[científicos]);
Tipologia dos discursos  classificará a historiografia como mista;
 A plausibilidade dos discursos (lógico e narrativo) está sempre se sobrepondo e
substituindo e dificultando a sua verificabilidade. Isso exige a necessidade de um
acréscimo de credibilidade ao texto histórico;
 O discurso histórico necessita de uma autoridade para se sustentar
(estratificação do discurso) devido ao seu caráter misto (narrativa, discurso lógico e
discurso histórico);
 Necessidade de validação do discurso histórico por meio das citações;
 Assim, a linguagem citada tem por função comprovar o discurso: como
referencial, introduz nele um efeito de real; e por seu esgotamento remete,
discretamente, a um lugar de autoridade. (97)
 A citação introduz no texto um extratexto necessário. Reciprocamente a citação
é o meio de articular o texto com a sua exterioridade semântica, de permitir-lhe
fazer de conta que assume uma parte da cultura e de lhe assegurar, assim, uma
credibilidade referencial;
 Cria uma “ilusão realista”;
 “Citando, o discurso transforma o citado em fonte de credibilidade e léxico de
um saber. (...). Dito de outra maneira, o discurso produz um contrato enunciativo
entre o remetente e o destinatário.” (99)
 Os artifícios da historiografia consistem em criar um discurso performativo
falsificado, no qual o constativo aparente não é senão o significante do ato de
palavra como ato de autoridade. (99)
 Sobre a utilização das fontes como citações: trata-se antes de uma interpretação
do que de uma explicação;

 “Um terceiro aspecto do desdobramento não se refere mais, nem ao caráter misto,
nem à estruturação do discurso, mas à problemática de sua manifestação, a saber,
entre o acontecimento e o fato.” (99)
 “... o acontecimento é aquele que recorta, para que haja inteligibilidade;
o fato histórico é aquele que preenche para que haja enunciados de
sentido. O primeiro condiciona a organização do discurso; o segundo
fornece os significativos.” (99)
 Acontecimento: “... ele é o meio pelo qual se passa da desordem à ordem.
Ele não explica, permite uma inteligibilidade.” (99)
 Fatos: “Uma semantização plena e saturante é, então, possível: os ‘fatos’
a enunciam, fornecendo-lhe uma linguagem referencial; o acontecimento
lhe oculta as falhas através de uma palavra própria, que se acrescenta ao
relato contínua e lhe mascara os recortes.” (100)
 “A escrita consistiria em "elaborar um fim". (...). Ela impõe regras que,
evidentemente, não são iguais às da prática, mas diferentes e
complementares, as regras de um texto que organiza lugares em vista de
uma produção” (101)
 O texto como construtor de uma ordem: “Em termos aproximativos,
poder-se-ia dizer que o texto é o lugar onde se efetua um trabalho do
‘conteúdo’ sobre a ‘forma’. Para retomar a palavra mais exata de Roussel,
ele ‘produz destruindo’.” (101)
Construção e erosão das unidades: É necessário propor uma arquitetura econômica ou
demográfica para que apareçam as dependências que a enfraquecem, deslocam e finalmente
remetem a um outro conjunto (social ou cultural). É necessário recortar uma unidade
geográfica (regional ou nacional) para que se manifeste aquilo que, de todo lado, lhe escapa.
A constituição de "corpos" conceituais por um recorte é ao mesmo tempo a causa e o meio
de uma lenta hemorragia. (...). Assim se encontra simbolizada a relação do discurso com
aquilo que ele designa perdendo, quer dizer, com o passado que ele não é, mas que não seria
pensável sem a escrita que articula "composições de lugar" com uma erosão destes lugares.
(102)
 Ao mesmo tempo em que se constrói corpos conceituais para a análise
historiográfica, esses mesmo corpos vão perdendo seu sentido pois deixam de
abarcar particularidades (desvios), acabando por causar seu próprio
desmoronamento;
 A combinação de recortes (temporais) e de conceitos usuais (corpos conceituais)
são abstrações que servem apenas para a estrutura do discursos  a realidade
não é um quadro estático;

4. O lugar do morto e o lugar do leitor.

 A escrita põe em cena uma população de mortos – personagens, mentalidades ou


preços;
 A historiografia representa mortos no decorrer de um itinerário narrativo;
 A prática encontra o passado sob a forma de um desvio relativo a modelos presentes.
A escrita pode ser particularizada sob dois aspectos.
 I – “por um lado, no sentido etnológico e quase religioso do termo, a escrita
representa o papel de um rito de sepultamento; ela exorciza a morte
introduzindo-a no discurso;”
 II – “por outro lado, tem uma função simbolizadora; permite a uma sociedade
situar-se, dando-lhe, na linguagem, um passado, e abrindo assim um espaço
próprio para o presente.” (p. 107)
 ‘Marcar’ um passado, é dar um lugar à morte, mas também redistribuir o espaço das
possibilidades, determinar negativamente aquilo que está por fazer e,
consequentemente, utilizar a narratividade, que enterra os mortos, como um meio de
estabelecer um lugar para os vivos;
 A escrita não fala do passado senão para enterrá-lo. Ela é um túmulo no duplo sentido
de que, através do mesmo texto, ela honra e elimina;
 Ambivalência da historiografia: ela [a narratividade] é a condição de um fazer e a
denegação de uma ausência; age ora como discurso de uma lei (o dizer histórico abre
um presente a fazer), ora como álibi, ilusão realista (o efeito de real cria ficção de
uma outra história).” (105)

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