1
BUZAID, Alfredo. apud SÁ, Renato Montans de. op. cit. Eficácia preclusiva da coisa julgada. 2010,
Dissertação (mestrado em Direito Processual Civil) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São
Paulo, 2010. Disponível em <http: www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp134829.pdf>
Acesso em: 03 set. 2014.p. 74
2
TUCCI, José Rogério Cruz e. A causa petendi no processo civil. 3 ed. São Paulo: RT, 2009. p. 95
3
BÜLOW, Oskar Von. La teoria de las excepciones procesales y los presupuestos procesales, trad.
Minguel Angel Rosas Lichtschein. Buenos Aires: Ejea, 1964. apud TUCCI, José Rogério Cruz. op. cit. p.
97
4
CINTRA, Antônio Carlos Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrino; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo.28ed. São Paulo: Malheiros, 2012. p. 51
5
DIDIER JUNIOR, Fredie. Contradireitos, objeto litigioso do processo e improcedência. Disponível em
<http://www.editorajuspodivm.com.br/i/f/paginas_185_196.pdf> Acesso em: 15 de Dez. 2014.
Essa segunda corrente teve como principal defensor o alemão Walter J.
Habscheid, que propugnava a composição dúplice do objeto litigioso do processo, o qual
seria formado pela “coisa” demandada (Gegenstand), que corresponderia a uma
afirmação jurídica, e pela “causa” da demanda (Grund), consistente num estado de fato
da vida6.
Tal concepção também é aceita por outros célebres juristas, estrangeiros e
nacionais, tais como Manuel Ortells Ramos7, Araken de Assis8 e José Ignácio Botelho de
Mesquita9.
Contudo, no direito brasileiro, embora tenha crescido, nos últimos tempos, o
número de adeptos da concepção maximalista de mérito (pedido + causa de pedir), ainda
prepondera na doutrina mais tradicional o entendimento de que o objeto litigioso do
processo seria representado unicamente pelos pedidos autorais.
6
HABSCHEID, Walter J. L’oggetto del processo nel diritto processuale civile tedesco. In.: Rivista di
Diritto Processuale, II serie, 1980, p. 454 e ss. apud LEMOS, Jonathan Iovane de. Introdução ao estudo
do objeto litigioso do processo. Disponível em <http://www.tex.pro.br/home/artigos/73-artigos-set-
2007/5670-introducao-ao-estudo-do-objeto-litigioso-do-processo-sucintas-consideracoes-sobre-os-
elementos-individualizadores-do-meritum-causae> Acesso em: 11 de Dez. 2014.
7
RAMOS, Manuel Ortells. Derecho procesal civil. Navarra: Aranzandi, 2000. p. 255 apud PINTO,
Junior Alexandre Moreira. A causa de pedir e o contraditório. cit. p. 33
8
ASSIS, Araken. Cumulação de Ações. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 117-122.
9
MESQUITA, José Ignácio Botelho de. A causa petendi nas ações reivindicatórias. Revista da Ajuris, n.
20, 1980, p. 167-168.
10
SANCHES, Sydney. Objeto do Processo e Objeto Litigioso do Processo. Revista Ajuris. n° 16, 1979,
Porto Alegre. p. 155-156.
11
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 6ed. São Paulo: Malheiros,
2011. v.3. p. 540. Na mesma linha segue o magistério de Vicente Greco Filho (GRECO FILHO, Vicente.
Direito processual civil brasileiro. 15ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2002. v.2 p. 58)
Com o devido respeito, parece-me que o entendimento adotado por ambas as
correntes é falho, isso porque essas noções de objeto litigioso partem de uma
compreensão errônea sobre a atividade decisória, como se intentará demonstrar
doravante.
Como cediço, ao se deparar com um processo judicial litigioso, o magistrado
primeiro analisa e resolve as questões de fato e de direito pertinentes à lide, e depois disso,
decide ou julga o mérito, emitindo um comando representativo da tutela jurisdicional
cognitiva em favor daquele que se mostrou com razão. Esse é o curso normal do processo,
caso não haja nenhuma intercorrência impeditiva.
Também é assente que o que transita em julgado não são os fundamentos que
o magistrado emprega para justificar a decisão, ou mesmo a conclusão por ele obtida
sobre a lide, mas apenas o comando emitido a partir dessa conclusão, e que vem expresso
no decisório da sentença ou acórdão, comando esse que, além do aspecto declaratório,
pode ser condenatório e/ou constitutivo.
Vê-se, pois, que a não ser por esse segundo momento, relativo à emissão de
um comando imperativo com aptidão para se tornar imutável por efeito da coisa julgada,
e pelo objeto específico sobre o qual incide – o mérito -, o julgamento em nada mais difere
do ato da cognição, realizada sobre as questões incidentais, o que faz concluir que o
mérito seja também uma questão a ser resolvida (aliás, a principal delas), e não um
simples dado, como são os pedidos e a causa de pedir.
12
MARINONI, Luis Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Comentários ao Código de Processo Civil:
do processo de conhecimento. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. v. 5. p. 29
pedidos em face de todo o material sujeito à cognição, essa sim a verdadeira “questão
principal”.
É, sem dúvida, um erro crasso afirmar que a questão principal diz respeito
unicamente ao pedido, ou mesmo a esse acrescido da causa de pedir, isso porque aquele
não é analisado no vácuo, ou em face apenas da causa petendi.
13
BEDAQUE, José Rogério dos Santos. Os elementos objetivos da demanda examinados a luz do
contraditório. Causa de Pedir e Pedido no processo civil (questões polêmicas). Coordenadores: José
Rogégio Cruz e Tucci; José Roberto dos Santos Bedaque. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002,
p. 30.
14
PINTO, Junior Alexandre Moreira. A causa petendi e o contraditório. São Paulo: Editora RT, 2007.
(Coleção Temas Atuais de Direito Processual Civil, v. 12). p. 33
fundamentação da sentença -, fazendo ressaltar apenas o seu caráter preceptivo, como
provimento jurisdicional expresso no decisório, que seria delimitado apenas pelo pedido
(identificado ou não através da causa de pedir), o qual funcionaria como um autêntico
“projeto de decisório”, um esboço do comando a ser exarado pelo juiz na parte final da
sentença.
Assim, a todos os olhos, resta patente que não são os elementos objetivos da
demanda em si (causa de pedir e/ou pedido) que servem de base para a emissão do
provimento jurisdicional constante do decisório, mas sim a conclusão obtida pelo
magistrado a partir da resolução da questão principal, que envolve também outros
elementos, como demonstrado acima.
O Mérito é o núcleo do processo civil de conhecimento. Não à toa, é a partir desse conceito
fundamental que se inicia a compreensão de diversos institutos processuais, como decisão,
cognição, coisa julgada, litispendência, questões, conexidade etc. Em suma, aquilo que se
entende por mérito é que dá o tom de toda a teoria do processo ou fase de conhecimento.