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Por que a filosofia é importante no ensino de ciência

nas universidades
Autora afirma que filósofos podem contribuir com questões conceituais,
metodológicas e éticas

29.jun.2018 às 6h00

EDIÇÃO IMPRESSA (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2018/07/01/)

Subrena E. Smith

[RESUMO] Contra cientistas que declaram a inutilidade e a morte da


filosofia (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/06/filosofia-nao-e-ciencia-e-esta-fadada-a-desaparecer-
afirma-pesquisador.shtml), autora afirma que filósofos
(https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2018/06/para-giannetti-ser-vira-lata-e-boa-alternativa-a-uma-civilizacao-em-

crise.shtml)têm
muito a contribuir com a ciência, que está repleta de questões
conceituais, interpretativas, metodológicas e éticas.

Dou um curso semestral de filosofia


(https://www1.folha.uol.com.br/colunas/redesocial/2018/06/merli-dos-tropicos-a-filosofia-pop-de-ex-ministro-da-

da ciência na graduação da Universidade de New


educacao-em-sala-de-aula.shtml)

Hampshire (EUA). A maioria dos alunos só quer atingir a carga mínima de


aulas e quase nenhum deles estudou filosofia antes.

No primeiro dia, tento lhes dar uma ideia sobre a função da filosofia da
ciência. Começo explicando que a filosofia trata de questões que não
podem ser resolvidas exclusivamente pelos fatos e que a filosofia da ciência
é a aplicação dessa abordagem ao domínio científico. 
Aula de filosofia política e relações internacionais na Universidade do Cabo Verde - Karime
Xavier/Folhapress

Então explico alguns conceitos: indução, prova e método. Digo-lhes que a


ciência procede por indução —a prática de se basear em observações já
feitas para chegar a afirmações gerais sobre coisas que ainda não foram
observadas—, mas que filósofos consideram a indução mal justificada e,
portanto, a reputam problemática para a ciência. 

Em seguida, menciono a dificuldade de determinar qual prova se enquadra


exclusivamente em uma hipótese e mostro por que saber isso é vital para
toda pesquisa científica. 

Depois, informo aos alunos que o método científico


(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/04/como-fake-news-ajudam-professor-do-ensino-medio-a-ensinar-

não é singular e nem simples; existem divergências sobre como


ciencia.shtml)

ele deve ser.

Por fim, enfatizo que, embora essas questões sejam filosóficas, elas têm
consequências reais.
A essa altura, em geral ouço perguntas como “quais são suas
qualificações?”, “em que escola você estudou?”, “você é cientista?”.

Talvez seja porque, como mulher de origem jamaicana, eu incorpore uma


carga de identidades incomum na filosofia. Creio, porém, que a questão vá
além; observei esse padrão num curso de filosofia da ciência lecionado por
um professor mais típico. 

Na Universidade Cornell (Nova York), trabalhei como assistente de um


professor que causava impressão física muito diferente da minha. Era um
homem branco com mais de 60 anos —a imagem perfeita da autoridade
acadêmica. Mas os estudantes demonstravam ceticismo em relação às
visões dele sobre a ciência, porque, como alguns diziam em tom de
desaprovação, ele não era cientista.

Creio que essas reações tenham a ver com o valor que atribuem à filosofia,
de um lado, e à ciência, de outro.

Professora acompanha prova dissertativa de filosofia, com duração de quatro horas, para
admissão em liceu de Estrasburgo, no leste da França - Frederick Florin/AFP
Alguns alunos duvidam que os filósofos tenham algo útil a dizer sobre a
ciência. Eles sabem que cientistas proeminentes declararam em público
que a filosofia é irrelevante para a ciência, se não completamente inútil e
anacrônica. Sabem que o ensino na área de exatas (ciência, tecnologia,
engenharia e matemática) é considerado bem mais importante que o de
humanidades.

Muitos dos jovens que assistem às minhas aulas creem que a filosofia seja
uma disciplina desordenada (https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/04/paulo-ghiraldelli-jr-para-
acabar-de-vez-com-a-escola-brasileira.shtml) e referente apenas a questões de opinião,
enquanto a ciência descobre fatos, produz provas e dissemina verdades
objetivas. Além disso, muitos estão convictos de que cientistas são capazes
de responder questões filosóficas, mas filósofos não deveriam se envolver
com questões científicas. 

Por que os universitários costumam tratar a filosofia como completamente


distinta da ciência e subordinada a ela? Pela minha experiência, há quatro
razões principais.

A primeira tem a ver com a falta de consciência histórica. Os alunos


tendem a crer que os departamentos universitários refletem divisões
estanques do mundo real (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2015/08/1668699-a-enciclopedia-
e-o-mundo-esclarecido-em-verbetes.shtml). Assim, não percebem que filosofia e ciência,

bem como a fronteira entre elas, são criações humanas dinâmicas. 

Alguns temas que hoje são domínio da ciência eram parte da filosofia da
natureza (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2018/06/materialismo-e-contingencia.shtml)
no passado. Música um dia integrou o departamento de matemática. O
escopo da ciência tanto se estreitou quanto se alargou, a depender do
momento, do lugar e dos contextos culturais.

A segunda se relaciona com resultados concretos. A ciência resolve


problemas do mundo real. Ela nos dá tecnologia: coisas que podemos tocar,
ver e usar. Deu-nos vacinas, safras geneticamente modificadas e
analgésicos. A filosofia, aos olhos dos estudantes, não parece ter nada de
tangível a mostrar. 
No entanto, os resultados tangíveis da filosofia são muitos: os
experimentos filosóficos abstratos de Einstein tornaram possível a sonda
espacial Cassini; a lógica de Aristóteles é a base da ciência da computação,
que nos deus laptops e smartphones; o trabalho dos filósofos que se
ocuparam do problema mente-corpo preparou o terreno para a
(http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/09/1920818-ciencia-repensa-a-razao-e-mostra-que-fomos-feitos-para-

nao-mudar-de-ideia.shtml)neuropsicologia (http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2017/09/1920818-

—e, portanto, para a


ciencia-repensa-a-razao-e-mostra-que-fomos-feitos-para-nao-mudar-de-ideia.shtml)

tecnologia de ressonância magnética cerebral. A filosofia sempre esteve


trabalhando, discretamente, como pano de fundo para a ciência.

Uma terceira razão tem a ver com preocupações sobre verdade,


objetividade e vieses cognitivos. Os universitários insistem em dizer que a
ciência é puramente objetiva. Contudo, uma pessoa não é considerada
objetiva se ela aborda sua pesquisa com um conjunto de pressuposições
básicas —essa pessoa é vista como ideológica. Ocorre que todos temos
vieses, e eles alimentam o trabalho criativo da ciência. 

Essa pode ser uma questão difícil de tratar, porque a concepção ingênua de
objetividade está profundamente enraizada na imagem popular da ciência.

Para lidar com o tema, convido os alunos a contemplar alguma coisa


próxima sem nenhuma pressuposição. Depois peço que digam o que viram.
Eles costumam parar... e então admitem que não conseguem interpretar
suas experiências sem recorrer a ideias preconcebidas. Assim que
percebem esse fato, deixam de ser estranhas as perguntas sobre a
objetividade da ciência. 

A quarta fonte de desconforto dos alunos diante da filosofia é a imagem


que eles têm de uma educação científica. A impressão é a de que eles
pensam na ciência como algo que cataloga coisas que existem (“os fatos”) e
na educação para a ciência como o ato de ensinar às pessoas quais são
esses fatos.

Não me enquadro nessas expectativas. Mas, como filósofa, minha


preocupação principal é de que maneira esses fatos são selecionados e
interpretados, por que alguns são considerados mais significativos do que
outros, as formas pelas quais os fatos estão eivados de pressupostos, e
assim por diante.

Os alunos em geral respondem a tais preocupações afirmando,


impacientemente, que fatos são fatos. Mas dizer que uma coisa é idêntica a
si mesma não mostra nada de interessante sobre ela. O que eles querem
dizer é que, assim que conhecemos “os fatos”, o espaço para interpretação
ou controvérsia desaparece.

Por que pensam assim? Não porque a ciência seja praticada dessa forma,
mas porque é assim que ela costuma ser ensinada.

O número de fatos e procedimentos que os alunos precisam absorver para


se alfabetizar cientificamente é imenso —e eles têm tempo limitado para
fazê-lo. Os cientistas precisam preparar seus cursos de modo a
acompanhar a rápida expansão do conhecimento empírico —e não têm
tempo para questões que provavelmente não foram treinados a responder. 

A consequência indesejada é que os estudantes muitas vezes saem da sala


de aula sem saber que as questões filosóficas são relevantes para a teoria e
a prática científica.

Mas as coisas não precisam ser assim. Se a plataforma educacional correta


for criada, filósofos como eu não terão de nadar contra a corrente para
convencer os alunos de que temos algo importante a dizer sobre a ciência.
Para isso, precisamos da ajuda de nossos colegas cientistas, que os
estudantes veem como únicos difusores legítimos de conhecimento
científico. 

Proponho uma divisão explícita de tarefas. Os cientistas continuam a


ensinar os fundamentos da ciência, mas podem ajudar deixando claro que
a ciência está repleta de questões conceituais, interpretativas,
metodológicas e éticas importantes que os filósofos estão perfeitamente
capacitados a tratar, e que, longe de serem irrelevantes, as questões
filosóficas são cruciais na ciência.
Subrena E. Smith, mestre e doutora pela Universidade Cornell (EUA), é professora
assistente de filosofia na Universidade de New Hampshire (EUA)

Texto publicado originalmente no site  (https://aeon.co/ideas/why-philosophy-is-so-important-in-science-


education)Aeon.co (https://aeon.co/ideas/why-philosophy-is-so-important-in-science-education); tradução de Paulo

Migliacci.

ENDEREÇO DA PÁGINA

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importante-no-ensino-de-ciencia-nas-universidades.shtml

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