1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo elucidar o dilema ético que envolve a Psicologia
e a Luta Antimanicomial no Brasil. Para tanto foi desenvolvido um estudo com base em
pesquisa bibliográfica. O levantamento bibliográfico permitiu a elucidação do dilema
investigado, através da pesquisa de alguns aspectos relevantes, referentes aos manicômios no
Brasil, à relação do enfermo contraventor com o sistema prisional brasileiro, à atenção
dispensada ao usuário de serviços de saúde mental, em alguns trechos da pesquisa referido
como enfermo por alguns autores citados, e à ética profissional do psicólogo frente ao dilema
apresentado.
Não se objetivou chegar a conclusões a respeito do dilema, haja vista que tal tema
continua em aberto a discussões em âmbito não só da Psicologia, mas de diversas áreas
permeadas por ele. Portanto o que se fez foi considerar a relevância das informações obtidas
através da pesquisa, e suas interfaces entre a Psicologia e a Luta Antimanicomial.
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2. DESENVOLVIMENTO
O país encontrava-se ainda na mesma (e talvez pior) situação que no século [XIX], no que diz
respeito às precárias condições de saneamento e saúde do povo brasileiro. Intelectuais e políticos
reclamavam da Medicina intervenções concretas por meio de um projeto profilático, com a
finalidade de erradicar, ou pelo menos minimizar, as inúmeras doenças infecto-contagiosas que
assolavam o país. Esse movimento, no âmbito da Medicina Geral, estava intimamente
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relacionado à questão da Higiene que, nos anos iniciais do século XX, estava revestido de ampla
responsabilidade frente à realidade. É no bojo de tais fatos que tanto o pensamento psiquiátrico
quanto o psicológico encontraram fértil terreno para seus estudos e para a aplicação de seus
conhecimentos por meio da Higiene Mental, instância derivada da Higiene em sua expressão
geral. (ANTUNES, 2005, p. 26)
Quanto ao diagnóstico dos doentes mentais em hospício, a grande maioria dos internos
sofria de mania, seguida por demência. A equipe de saúde se dedicava à análise clínica para
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concluir se tal moléstia tinha cura ou não. Barbosa acreditava em dois tipos de tratamentos, o
tratamento médico e o tratamento moral. O tratamento médico consista na ação direta sobre o
corpo afim de modificar o estado do cérebro. Este seria recomendável em casos de mania e
demência, quando fosse julgada possível a cura. Eram utilizados banhos mornos, duchas,
purgativos, substâncias farmacológicas entre outros. O tratamento moral focava na modificação
das reações afetivas e intelectuais, sendo este recomendável nos casos de pensamentos
obsessivos, com ou sem alucinações. Tal tratamento consistia em isolamento, passeios e
trabalhos corporais, observava-se que, este método trazia mais benefícios ao internos não
pensionistas que aceitavam trabalhar no hospício, como no jardim por exemplo, enquanto os
internos de segunda e primeira classe não se submetiam a tal função. É válido observar que o
isolamento era defendido nos dois casos, pois, tirados de suas famílias e respectivas regalias,
os internos tenderiam a obedecer a pessoas estranhas e mostrariam uma melhora (PERON,
2013).
Em 1960 o hospital abrigava cinco mil pacientes em um local projetado para atender
duzentos pacientes, onde as condições se tornavam progressivamente mais e mais precárias. O
Hospital Colônia Barbacena foi desativado, quase completamente em 1996, e teve parte de sua
estrutura transformada no Museu da Loucura. O Cemitério da Paz localizado ao lado do hospital
permanece abandonado, ali foram enterrados os sessenta mil corpos dos pacientes que
morreram no Colônia. Durante seu funcionamento originou-se das mortes dos internos um
grande tráfico de corpos para faculdades de medicina, onde as vendas ocorriam principalmente
no inverno, época em que o número de mortes aumentava devido especialmente às más
condições de vida dos internos (GONÇALVES, 2013).
De acordo com Basaglia (1978, p. 19, tradução livre) “o cárcere por si só é um lugar
de violência, que representa para o homem livre o temor pelo qual não deve cometer
delinquências”. Quando há no sujeito a incapacidade de responder por seus atos devido a
transtornos mentais, a consciência destes é afetada e esse temor deixa de existir. Consistindo
então em desrespeito aos direitos humanos o encarceramento de inimputáveis.
O cidadão enfermo não deve ficar recolhido em prisão comum sem um mínimo
de assistência médica especial, pois o Estado só poderá exigir o cumprimento
da medida de segurança de internação se estiver aparelhado para tanto. A falta
de vaga, pala desorganização e omissão do Estado não justifica o desrespeito
ao direito individual, sacrificando os direitos subjetivos inalienáveis, pois a
finalidade do tratamento é aquele conveniente, em conformidade com as
expectativas, quiçá mínimas, de todo ser humano, visando as medidas
terapêuticas e pedagógicas com o fito de reabilitá-lo à vida social. (AMORIM,
2005).
Segundo Basaglia (1978, p. 181, tradução livre), a quase totalidade dos enfermos
institucionalizados são pacientes involuntários, “os voluntários são as pessoas que vão à casa
de repouso, às clínicas privadas, onde podem ter o tipo de terapia que queiram”. Tal afirmação
entra em confronto com o artigo 3ºa do Código de Ética Profissional do Psicólogo, tal qual
citado por Romaro (2014, p.115) como responsabilidade para com o cliente: “dar ao cliente –
no caso de impedimento deste- a quem de direito, informações concernentes ao trabalho a ser
realizado, (...) a fim de que o cliente possa decidir-se pela aceitação ou recusa da assistência”.
Após muitos anos de maus tratos aos usuários dos manicômios, tais como ausência de
roupas, alimentação insuficiente e de má qualidade, pessoas em internação de longa
permanência e prática sistemática de eletrochoque (CRPSP, 2016), o Brasil está passando por
uma mudança positiva em relação à atenção aos usuários de serviços de saúde mental.
gestão e produção de tecnologias de cuidado. Essa reforma teve como inspiração, a reforma
Sanitária Italiana liderada por Franco Basaglia (BASAGLIA et al, 1978).
A Lei 10.216/2001 (cf. anexo) afirma a cidadania plena dos pacientes e elenca nove
direitos básicos, entre os quais o da prioridade no tratamento comunitário. Restringindo a
internação como uma modalidade de tratamento, a ser utilizada apenas nos casos em que é
indispensável, no CAPS III podendo ficar até sete dias seguidos (BRASIL, 2005).
Os CAPS promovem o cuidado terapêutico ao paciente com transtorno mental que seja
atendido em uma das unidades de pronto atendimento da rede pública de saúde. O procedimento
usual adotado é o seguinte: quando um paciente entra em crise (psicótica, de agitação ou
agressiva) ele é encaminhado ao Pronto Socorro Psiquiátrico ou Hospital Geral, onde é
medicado e acolhido (ROSA; VILHENA, 2012).
Rosa e Vilhena (2012) citam no artigo que, o Ministério da Saúde (2011) determina
como função dos CAPS o atendimento clínico em regime de atenção diária, o acolhimento dos
portadores de transtorno mental com vistas a preservar seus laços sociais e reforçar os laços
familiares, a inserção social através de ações intersetoriais e o acesso ao trabalho, ao lazer e aos
direitos civis.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANTUNES, M. A psicologia no Brasil: leitura histórica sobre sua constituição. São Paulo:
Ed. Unimarco EDUC, 2005.
BASAGLIA, F.; CARUSO, I.; LANGER, M.; SUÁREZ, A.; SZASZ, T.; VERÓN, E. Razón,
Locura y Sociedad. Ciudad del Mexico: Siglo Veintiuno Editores SA, 1978.
Rev. Bras. Hist. Cienc; 6(1): 60-77, jan./jun. 2013. Disponível em:
<http://pesquisa.bvs.br/brasil/resource/pt/his-34212>. Acesso em 08 out. 2016.
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WING, J.K. Reflexões sobre a Loucura. Rio de Janeiro: Zahar Editores S.A., 1979.
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ANEXO