São Carlos
2019
Introdução
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Nossa escolha de desenvolvermos esse exercício a partir de dados de pesquisa
previamente coletados se deu pelo nosso interesse compartilhado em entendermos melhor a
questão dos marcadores sociais da violência e pela nossa disposição em trabalharmos com um
conjunto amostral mais amplo do que seríamos capazes de coletar através da aplicação de
questionários com o tempo hábil que tivemos.
Buscaremos estudar as associações possíveis entre a) homicídio de jovens de 18 a 29
anos (taxa de homicídios por 100 mil habitantes) e nível de escolaridade (em anos); b) homicídio
de mulheres no Brasil e raça das mulheres assassinadas (segmentadas em negras e não-negras); e
c) homicídio de pessoas negras e região do país. Ao longo dos próximos capítulos,
apresentaremos nossas variáveis, recortes amostrais e análises decorrentes.
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Por seu turno, a tabela seguinte, extraída da pesquisa “Políticas Sociais: acompanhamento
e análise” e realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, apresenta dados
referentes à escolaridade média (em anos de estudo) da população de 18 a 29 anos do Brasil
entre os anos de 2005 e 2015: esta será nossa variável Y. Usaremos os dados a partir de 2007
para obtermos uma melhor resposta com relação a correlação das duas variáveis.
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Fizemos o diagrama de dispersão para observar a relação entre os dois dados:
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● Não existem dados dos anos de estudo (Y) em 2011. Portanto, o diagrama
automaticamente excluiu o dado de 2011 (54,6) da pesquisa, feita sobre taxas de
homicídio (X), para não incluí-la em nossa análise.
● Com o passar dos anos (de 2007 a 2009 e de 2011 a 2015), as taxas claramente sobem,
dispondo, desse modo, uma relação crescente e positiva no geral, com exceção da taxa de
homicídio, que em 2009 se apresentava em 54 por 100 mil habitantes e dois anos após,
em 2011, tinha caído para 53,5 em relação ao mesmo número de habitantes; o mesmo
ocorre no ano de 2015, onde a taxa de homicídio caiu de 62,9 (2014) para 60,9. Ou seja,
de acordo com os dados, a taxa de homicídio de jovens caiu apenas em 2011 e 2015,
voltando, a partir daí, a crescer novamente, juntamente com a escolaridade dos jovens,
que sempre apresentou crescimento.
Primeiro passo a se fazer é descobrir as médias de cada variável e após isso começamos calcular
o coeficiente:
x ̅=56,7
y ̅=9,575
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X² Y²
-5,9²= 34,81 -0,575²= 0,33
3,4²= 11,56 -0375²= 0,14
-2,7= 7,29 -0,175²= 0,03
-3,2²= 10,24 -0,075²= 5,62
2,2²= 4,84 0,125²= 0,015
2,6²= 6,76 0,225²= 0,05
6,2²= 38,44 0,325²= 0,105
4,2²= 17,64 0,525²= 0,275
Total X²= 131,58 Total Y²= 6,7
131,58 ×6,7=881,586
DP=√881,586=29,6
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A) Tabela observada do número de homicídios de mulheres negras no Brasil.
Número de Homicídios M.
Anos Negras
2007 2049
2008 2255
2009 2419
2010 2611
2011 2714
2012 2917
2013 2881
2014 2292
2015 2902
2016 3005
2017 3288
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B) Tabela observada do número de homicídios de mulheres não negras no Brasil.
2007 1518
2008 1579
2009 1636
2010 1626
2011 1557
2012 1585
2013 1641
2014 1640
2015 1539
8
2016 1488
2017 1544
Tabela Esperada
2241,16 1325,84
2408,92 1425,08
2547,77 1507,23
9
2662,12 1574,88
2683,49 1587,51
2828,62 1673,38
2841,19 1680,81
2470,49 1461,51
2790,30 1650,70
2822,97 1670,03
3035,96 1796,04
Com as tabelas esperada e observada em mãos, podemos iniciar os cálculos para analisar
se há alguma relação entre os homicídios de mulheres negras e não negras no Brasil.
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Obtido o valor de X² , é possível calcular o coeficiente de contingência, um indicador do grau de
associação entre duas variáveis analisadas pelo Qui-quadrado e que é dado pela expressão:
C = √X²/(X² + n)
C = √227, 15/(227, 15 + 11)
C = 0, 95
Logo, podemos afirmar que a variável homicídios de mulheres no Brasil e mulheres negras têm
uma correlação muito forte, visto que o coeficiente de contingência é um valor muito próximo a
1.
Agora utilizando dos mesmos parâmetros das últimas variáveis, vamos testar a correlação
entre os homicídios de mulheres no Brasil e mulheres-não negras:
X ² = Σ (1518 − 1325, 84) ²/Σ1325, 84
X ² = 312.37
C = √X²/(X² + n)
C = √312, 37/(312, 37 + 11)
C = 0, 96
Assim como na última variável, o coeficiente de contingência tende a estar mais próximo
a 1. Portanto, há uma forte correlação entre as variáveis ‘homicídios de mulheres no Brasil’ e
‘mulheres não-negras’.
Para uma análise com variáveis Quantitativa e Qualitativa, usaremos a associação entre
uma pesquisa feita pelo IBGE sobre as taxas de homicídio de negras/os por 100 mil habitantes e
as Regiões do Brasil (Norte, Nordeste, Sul, Centro-Oeste, Sudeste e DF) no ano de 2017.
A partir da tabela abaixo observa-se a taxa de homicídios por 100 mil habitantes negras/os:
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Para verificar a associação entre a variável quantitativa “Taxa de Homicídio de negros
por 100 mil” e a variável qualitativa “Região do País”, optamos pelo método apresentado por
Bussab e Morettin, apontando as variâncias como insumos para construir a medida que
quantifique o grau de dependência entre as variáveis. Os números de Negros foram obtidos
somando pardos e pretos.
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Em seguida, agrupamos os dados quantitativos nas diferentes categorias da variável
qualitativa nas regiões: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul
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Norte: 148,0914; Nacional: 381,0538
Nordeste: 448,8925;
Centro-Oeste: 152,9033
Sudeste: 350,5367;
Sul: 86,49
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Centro-Oeste: 152,9033
Sudeste: 350,5367;
Sul: 86,49
Observa-se que as variâncias das regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul estão abaixo
da Nacional: 381,0538. Tal fato denota que os dados vinculados a essas categorias estão em
associação, haja vista a discrepância (como apresentado no gráfico box plot abaixo) entre a
variância nacional e o dado relativo à região Nordeste. Os dados das referentes à Região
Nordeste (cor amarela) têm maior dispersão se comparado às demais regiões, o que mostra,
portanto, que os dados vinculados ao Nordeste não possuem o mesmo grau de previsibilidade
que os outros.
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(Manso e Dias, 2018) entre os dois maiores grupos de
narcotraficantes do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC)
e o Comando Vermelho (CV); e seus aliados regionais –
principalmente as facções denominadas como Família do Norte,
Guardiões do Estado, Okaida, Estados Unidos e Sindicato do
Crime.
Conclusão
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Assim sendo, é conclusivo que as hipóteses iniciais consideradas para a realização
deste trabalho tiveram comprovação, sendo elas relativas à atuação de dados fenômenos sociais
como os homicídios sobre determinados aspectos concernentes à marginalização social de
brasileiras/os, demonstrando, desse modo, seu embasamento teórico-metodológico a partir de
uma comprovação sistemática.
Referências bibliográficas
CERQUEIRA, D.; BUENO, S.; LIMA R. S. de; NEME, C.; FERREIRA, H.; ALVES, P. P.;
MARQUES, D.; REIS, M.; CYPRIANO, O.; SOBRAL, I.; PACHECO, D.; LINNS, G.;
ARMSTRONG, C. Atlas da Violência 2019. Brasília: Rio de Janeiro: São Paulo: Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 2019.
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