º 163 • 3€
Maio/Junho 2018
Diretor
Carlos Mineiro Aires
Diretor-adjunto
Carlos Alberto Loureiro
REABILITAÇÃO
URBANA
64 Colégios 99 Crónica
O Problema de Dido
90 Comunicação
Engenharia DE MATERIAIS Opinião
Cerâmicos Técnicos 102 Prevendo o futuro
Materiais que vale a pena conhecer 104 Engenheiro Silvicultor Augusto Manuel Sardinha
2 18
ano oe das alterações
climáticas
grandes ideias fazem a engenharia.
esperamos pela tua!
premioempreendedor.ordemengenheiros.pt
Editorial
EDITORIAL
Reabilitação
Urbana
Uma regra,
mas com regras
A
longa míngua que o País atravessou nos investimentos em
obras públicas e privadas conduziu à destruição da capaci-
dade e do saber instalados na indústria da construção civil,
e em toda a cadeia, e motivou a internacionalização de uma grande
parte das nossas empresas de construção e de serviços, o que até Carlos Mineiro Aires
então não era objetivo prioritário, já que o mercado interno dava Diretor
para todos e até sobejava para as empresas estrangeiras.
Desde 2009 e até há cerca de dois anos encerraram as portas mais
de 60 mil empresas, muitas delas microempresas, perderam-se revendidos pelo mesmo preço ou pagos por uma família da classe
cerca de 430 mil postos de trabalho e hoje, com a reanimação do média portuguesa.
mercado, estima-se que faltem cerca de 70 mil trabalhadores. A questão da falta de casas para arrendamento e a procura do lucro
O mercado das obras públicas, que também tem estado pratica- maior, o que é legítimo, já originou um grave problema social em
mente parado e que voltou a reanimar basicamente à custa de que a solidariedade intergeracional, nomeadamente a atenção aos
grandes investimentos na ferrovia, também não ajuda a que as em- jovens e idosos, ficou envergonhada.
presas nacionais possam levantar a cabeça, porquanto a insistência Quanto à questão do risco sísmico e da necessidade de exigência
em critérios de adjudicação por preços baixos e falta de exigências de avaliação da resistência estrutural nas intervenções de reabili-
na qualificação só fomentam o dumping salarial e a impossibilidade tação urbana é sobejamente conhecida a nossa posição, pois isentar
de existência de margens de lucro que permitam a recuperação a ocorrência de sismos por decreto nunca nos pareceu grande ideia.
financeira das empresas. Reabilitar não pode ser uma mera operação de cosmética, pois deve
Neste contexto, a reabilitação urbana assumiu-se como o grande garantir segurança e perenidade aos ativos que os cidadãos irão ad-
motor da ressurreição da atividade da indústria da construção civil quirir na ignorância do seu verdadeiro estado de conservação.
e das prestações de serviços conexos, ao proporcionar trabalho e Dado que uma parte significativa da reabilitação de edifícios não
fluxos financeiros para as empresas, com fortes impactos positivos tem em conta a análise da sua segurança estrutural e do seu com-
na economia. portamento aos sismos, o que é particularmente grave num País
São boas notícias, porque progressivamente tem havido retoma na altamente exposto a estes eventos naturais, teremos a razão do
empregabilidade dos engenheiros, muito embora lamentavelmente nosso lado quando reiteramos que algo está e continua mal.
os níveis salariais praticados, na maior parte dos casos, continuem A questão do risco sísmico, para além da sua extrema importância,
a ser aviltantes. é uma competência específica dos engenheiros civis com conhe-
O Governo decidiu em boa hora lançar um pacote de medidas e cimentos adequados para o efeito, pois nem todos os possuem.
programas incentivadores, dos quais saliento, pela feliz designação, Temos, assim, diversas situações passíveis de causarem problemas,
o “Reabilitar como Regra”, faltando apenas algumas regras para esta mas não acauteladas, relacionadas com a defesa do consumidor
regra. (“compra de gato por lebre”) e com a segurança de pessoas e bens
Antes de continuar, quero referir que comecei a escrever o artigo (resistência estrutural dos edifícios e transformação indevida de uso
que consta desta edição antes dos alertas do Banco de Portugal e habitacional em utilização coletiva) e que resultam, basicamente,
das primeiras páginas de jornal alertando para o risco de uma “bolha da permissividade, falta de fiscalização e de conhecimento técnico
imobiliária”, ou seja, um novo descalabro na banca, o que até para adequado das entidades licenciadoras.
um leigo é evidente, dado que os valores de venda dos imóveis “Reabilitar como Regra” é uma excelente medida. Infelizmente,
entraram em patamares tão elevados que dificilmente poderão ser continuam em falta as regras.
a) No passado dia 14 de junho foi publicada a Lei n.º 25/2018 que dade, ficando, no entanto, sujeitos ao cumprimento dos deveres
consubstancia uma alteração da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, consagrados na presente lei e, quando aplicável, à sua compro-
que finalmente veio repor o direito de determinados engenheiros vação perante as entidades administrativas competentes.
civis poderem continuar a praticar Atos de Arquitetura, nomea- 8 - Os titulares das licenciaturas em engenharia civil referidos
damente a elaboração e subscrição de projetos. no número anterior devem registar-se junto do IMPIC, I. P., que
Os termos exatos da sua redação são os seguintes: é responsável pela emissão de título para o exercício da ativi-
Artigo 1.º - Objeto dade, fazendo prova de que reúnem as condições referidas na
A presente lei procede à segunda alteração da Lei n.º 31/2009, presente lei.
de 3 de julho, que aprova o regime jurídico que estabelece a 9 - Os agentes técnicos de arquitetura e engenharia podem as-
qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela sumir as funções de direção de obra e direção de fiscalização
elaboração e subscrição de projetos, pela fiscalização de obra de obra em obras de classe 4 ou inferior.
e pela direção de obra, que não esteja sujeita a legislação espe-
cial, e os deveres que lhes são aplicáveis, e à primeira alteração b) Neste enquadramento legal ficaram, assim, perfeitamente defi-
da Lei n.º 41/2015, de 3 de junho, que estabelece o regime ju- nidos quais os engenheiros civis que poderão executar e subs-
rídico aplicável ao exercício da atividade da construção. crever projetos de arquitetura.
Artigo 2.º - Alteração à Lei n.º 31/2009, de 3 de julho
O artigo 25.º da Lei n.º 31/2009, de 3 de julho, alterada pela Lei c) No dia 20 de junho foi celebrado entre o IMPIC, I.P. e a Ordem
n.º 40/2015, de 1 de junho, passa a ter a seguinte redação: dos Engenheiros um Protocolo, com efeitos retroativos à data de
«Artigo 25.º entrada em vigor da Lei n.º 25/2018, que estabelece a forma como
[...] o registo previsto no atrás citado n.º 8 se deve processar, tendo
1, 2, 3, 4, 5 e 6 — Mantêm a redação anterior no dia 21 de junho sido publicitada no Portal da Ordem dos En-
7 - Os titulares de licenciatura em engenharia civil referidos no genheiros toda a informação relevante e documentos conexos.
anexo VI da Diretiva 2005/36/CE, do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 7 de setembro de 2005, relativa ao reconheci- d) Ao contrário da posição proposta e defendida pela Ordem dos
mento das qualificações profissionais, alterada pela Diretiva Engenheiros, a Assembleia da República entendeu aprovar a re-
2013/55/UE, de 20 de novembro de 2013, com formação ini- dação que limita a aplicação desta Lei aos engenheiros civis que
ciada nos anos letivos aí referidos, e que comprovem que, no tenham subscrito, entre 1 de novembro de 2009 e 1 de no-
âmbito das disposições do Decreto n.º 73/73, de 28 de fevereiro, vembro de 2017, projeto de arquitetura que tenha merecido
tenham subscrito, entre 1 de novembro de 2009 e 1 de no- aprovação municipal e que, concomitantemente, também cum-
vembro de 2017, projeto de arquitetura que tenha merecido pram as exigências de data de entrada e da Escola Superior de
aprovação municipal, podem elaborar os projetos especifica- Engenharia onde obtiveram a licenciatura, referidas no anexo VI
mente previstos no referido Decreto, nas condições nele esta- da Diretiva 2005/36/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho,
belecidas e no respeito pelo regime legal em vigor para a ativi- de 7 de setembro de 2005.
Declaração do Território
Sessão de Discussão Pública sobre
a Proposta de Alteração do PNPOT
4. A alteração do PNPOT deve sinalizar a valo-
rização do território na sua relação com a
produção de riqueza, a promoção de bem-
-estar e base para a coesão social, assim
como a promoção da justiça espacial, tendo
em conta a progressiva anulação das desi-
gualdades, a promoção de sinergias e com-
plementaridades, e a necessidade de se con-
siderar e potenciar o todo na sua diversidade.
Venezuela
OE atenta e preocupada com a situação dos engenheiros
portugueses e lusodescendentes
N a sequência de casos concretos que con-
figuram situações desesperantes e aten-
tatórias contra a dignidade humana e que têm
entende manifestar publicamente a sua preo-
cupação e a forma atenta como segue a si-
tuação dos engenheiros da Venezuela, quer os
dentes, sendo que alguns já se encontram ins-
critos na OE de Portugal. Existe, da parte da
Ordem, abertura e disponibilidade para os aco-
chegado ao conhecimento da Ordem dos En- que permanecem no País, quer os que foram lher e apoiar no seu enquadramento profissional
genheiros (OE) através dos órgãos de comu- forçados a sair para os países vizinhos, onde na em Portugal.
nicação social, de relatos pessoais feitos no companhia das famílias atravessam dificuldades Naturalmente que a referida disponibilidade
âmbito internacional por representantes do impensáveis e vivências inaceitáveis. pressupõe a demonstração inequívoca de que
Brasil e, ainda, pelo Conselho Diretivo da Região A OE manifesta, ainda, o seu apoio a todos os detêm qualificação profissional adequada, a
da Madeira da OE, que vive com maior proxi- engenheiros da Venezuela e, em particular, aos analisar pelos competentes órgãos desta As-
midade a situação, esta Ordem Profissional de nacionalidade portuguesa e lusodescen- sociação Profissional. •
Expo’98 – 20 Anos N uma celebração dos 500 anos dos Descobrimentos Portugueses, a
Grande Exposição Mundial abriu as portas em Lisboa a 22 de maio de
1998, fez recentemente 20 anos.
Dedicada ao tema “Os oceanos: um património para o futuro”, a Expo’98
foi classificada pela Bureau International des Expositions, a organização
internacional intergovernamental responsável pela supervisão das exposições
mundiais, como a melhor exposição internacional de sempre.
Durante cerca de quatro meses, mais de dez milhões de pessoas visitaram
este grandioso projeto, que reuniu 146 países e 14 organizações interna-
cionais, cada um com o seu pavilhão próprio
Nascida numa zona degrada da capital portuguesa, a Expo’98 foi desde logo
projetada para dar lugar a uma Lisboa oriental moderna: a cidade imaginada,
o Parque das Nações. A Ordem dos Engenheiros celebrou neste dia o nome
e a obra dos muitos engenheiros que construíram a Exposição Mundial de
Lisboa. O seu trabalho e as suas competências fizeram história. •
Novas Regalias
OE AcCEdE A
para Membros
OE estabeleceu recentemente novos acordos com vista à disponi-
bilização de mais regalias aos seus Membros.
›
Na categoria Saúde, as notícias chegam com a aplicação de descontos
Acreditação da Formação Contínua para Engenheiros nas consultas e nos exames realizados no IPR – Inst. Portug. de Retina.
Accreditation of Continuing Education for Engineers › Assim como com o Hospital Veterinário Vasco da Gama a oferecer
descontos de 5% em medicamentos e nutrição animal e 10% nos ser-
Novas ações de formação
viços prestados.
com início previsto para julho › Ao nível de Bem-estar, a Valoridade – Apoio Domiciliário e o Yoga Lab
Região NORTE
Sede Porto Delegações distritais
Rua Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto Braga • Bragança
Tel. 222 071 300 – Fax 222 002 876 Viana do Castelo • Vila Real
E-mail geral@oern.pt
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Região NORTE
Um mês depois de Braga, a “OERN em…” se- tem a capacidade de coordenar um plano de
guiu para Vila Real. A 16 de maio, o pequeno desenvolvimento regional” e por isso lançou
auditório do Teatro Municipal recebeu uma um desafio de “curto prazo” à cidade e à região,
plateia de engenheiros, que ouviram e con- para que “em conjunto com a Engenharia
tribuíram para os desafios da Engenharia naquela preparem um contributo para o plano nacional
região. Depois do Porto, de Viana do Castelo para as políticas de ordenamento do território
e Braga, os temas dominantes foram a mo- que está em discussão até 30 de junho.”
bilidade, economia circular, ambiente e requa
lificação.
A sessão de abertura esteve a cargo de Rui
Santos, Presidente da Câmara Municipal de e como isso se reflete nos desafios dos en-
Vila Real, Poças Martins, Presidente da Região genheiros no futuro próximo.
Norte da Ordem dos Engenheiros (OE), e Carlos António Fontainhas Fernandes e Emídio Gomes,
Trindade Moreira, Delegado Distrital de Vila Reitor e Vice-reitor da UTAD, respetivamente,
Real da OE, tendo este último ressalvado a abriram o segundo painel, lembrando o papel
importância destas iniciativas que “trazem a da educação das novas gerações e a possibi-
Ordem para fora de portas”, lembrando à pla- lidade de postos de trabalho na região para
teia a importância da inscrição na Ordem. engenheiros. No mesmo painel Carlos Afonso A Região Norte da OE tem apostado em 2018
Os desafios da Câmara Municipal à Região Teixeira, Coordenador do Colégio Regional de nesta aproximação com a sociedade, onde
Norte da OE foram partilhados pela voz de Engenharia do Ambiente, lembrou os desafios estão os desafios e as oportunidades de En-
Adriano Sousa, Vereador da Câmara, que com que o ambiente apresenta com a mudança de genharia. E o resultado tem sido francamente
os temas do ordenamento, mobilidade e trans- paradigma da economia circular. Já Bento positivo e amplamente elogiado pelas autar-
formação digital, passou em revista tudo o que Aires, Coordenador do Colégio Regional de quias e membros. A próxima “OERN em…” irá
foi conseguido ao longo dos anos em Vila Real Engenharia Civil, apontou que a “Engenharia decorrer em Bragança. •
Região NORTE
Caminhada
na Ecovia do Rio Minho
Foi um grupo muito animado aquele que realizou a primeira Cami-
nhada na Ecovia do Rio Minho, iniciativa organizada pelo Clube do
Engenheiro da Região Norte da Ordem dos Engenheiros e pela
Delegação Distrital de Viana do Castelo. Esta foi mais uma ação que
levou a Região fora de portas, envolvendo a Engenharia com a na-
tureza de um território com bucólicas e aprazíveis paisagens. •
Região CENTRO
Sede Coimbra Delegações distritais
Rua Antero de Quental, 107 – 3000-032 Coimbra Aveiro • Castelo Branco
Tel. 239 855 190 – Fax 239 823 267 Guarda • Leiria • Viseu
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Região CENTRO
Organizada pela Delegação de Leiria e pelo O Colégio Regional de Engenharia Informática O Colégio Regional de Engenharia Agronómica
Colégio de Engenharia de Materiais da Região iniciou, no dia 26 de abril, um ciclo de sessões promoveu, no dia 19 de abril, no auditório da
Centro, com o apoio da Escola Superior de designado “Conversas ao fim da tarde”. A pri- Região Centro, uma sessão técnica sobre “O
Tecnologia e Gestão de Leiria (ESTG), realizou- meira destas sessões, realizada no auditório sistema de seguros como instrumento de apoio
-se, no dia 3 de maio, na ESTG, uma confe- da sede da Região Centro, abordou o tema “A ao setor agrícola”. O Engenheiro Agrónomo
rência designada “A Engenharia ao serviço da Inteligência Artificial, o Homem e o Futuro”. Leonel Amorim foi o orador convidado para
eficiência energética”. Foram abordados os Foram oradores Bernardete Ribeiro, Carlos apresentar uma palesta sobre o tema, a que
temas da qualidade de energia, a gestão de Fiolhais e Alberto Cardoso, que abordaram as se seguiu um período de debate e resposta às
energia na indústria e a eficiência energética questões e os dilemas que se colocam atual- questões dos participantes. •
em edifícios. • mente no campo da inteligência artificial,
perspetivando os desafios futuros que o ser Engineering Summit
Política Energética e humano terá que enfrentar neste domínio. •
Desempenho Energético
Economia Circular: mais
dos Edifícios
riqueza, mais empregos,
mais ambiente
Com o apoio da Região Centro da Ordem dos
Engenheiros (OE), o Núcleo de Estudantes de
Engenharia Química do Departamento de En-
genharia Química da Associação Académica
de Coimbra realizou, nos dias 13 e 14 de abril,
Numa organização do Colégio Regional de o E-Summit. No dia 13, as atividades tiveram
Engenharia Mecânica, teve lugar, no dia 2 de lugar no Departamento de Engenharia Química
maio, na sede da Região Centro da Ordem No âmbito do ciclo de eventos “Na (des)Ordem da Universidade de Coimbra. No dia 14 decor-
dos Engenheiros, uma sessão sobre “Política do Dia”, a Delegação de Aveiro realizou, no reram na Sede Regional da OE. O programa do
Energética e Desempenho Energético dos dia 20 de abril, nas suas instalações, uma pa- segundo dia abriu com a intervenção dos re-
Edifícios”. A palestra da sessão foi proferida lestra sobre Economia Circular. No ano em presentantes dos Colégios Nacional e Regional
pelo Eng. Rui Fragoso, Diretor do Departa- que a Ordem dos Engenheiros assinala o fe- de Engenharia Química da OE, seguindo-se as
mento de Edifícios da ADENE, que abordou nómeno das Alterações Climáticas, a Delegação apresentações de várias empresas. O evento
as diversas problemáticas relacionadas com o trouxe à discussão a Economia Circular como terminou com um debate sobre “Estratégias de
tema da energia nos edifícios, nomeadamente uma das respostas aos desafios societais da ensino – O futuro da Engenharia”. •
as metas e programas, a política europeia sobre inquestionável transformação global. A sessão
edifícios e energia, estudos de custo-ótimo, teve como orador José Manuel Gaspar Martins,
os edifícios nZEB, os técnicos qualificados, o Professor Auxiliar do Departamento de Ciên-
PNAEE/PNAER e detalhes da legislação na- cias Sociais, Políticas e do Território da Uni-
cional e estatística do SCE. • versidade de Aveiro. •
Região CENTRO
Região CENTRO
Região CENTRO
A Região Centro realizou mais dois cursos de Ética e Deontologia Pro- A Região Centro, através do Conselho Diretivo Regional e das Delega-
fissional. O 49.º Curso, organizado em colaboração com a Delegação ções Distritais da Guarda e de Castelo Branco, realizou, no dia 23 de
Distrital de Leiria e a Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria, fevereiro, na Universidade da Beira Interior, uma segunda edição do
teve lugar dias 23 e 24 de fevereiro, nas instalações daquela Escola. Por curso de formação sobre as alterações introduzidas ao Código dos
sua vez, o 50.º Curso teve lugar na sede regional, em Coimbra, nos Contratos Públicos, decorrentes da publicação do Decreto-lei n.º 111-
dias 18 e 19 de maio. B/2017, de 31 de agosto. Este curso teve como formador o Doutor
Estes cursos constituem uma componente estatutária, integrada no Licínio Lopes Martins, Professor da Faculdade de Direito da Universidade
processo de admissão como Membro Efetivo da Ordem. • de Coimbra.
Região SUL
Sede Lisboa Delegações distritais
Av. Ant. Augusto de Aguiar, 3D – 1069-030 Lisboa Évora • Faro
Tel. 213 132 600 – Fax 213 132 690 Portalegre • Santarém
E-mail secretaria@sul.oep.pt
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Região SUL
ORDEM
DOS ENGENHEIROS
REGIÃO SUL
COMUNICADO
O Presidente do Conselho Diretivo da Região Sul, Eng. António Laranjo, solicitou a suspensão do seu mandato nos termos do n.º 3 do artigo 5º
do Estatuto do Membro Eleito da Ordem dos Engenheiros, decisão fundamentada pela sua recondução no cargo de Presidente do Conselho de
Administração da IP – Infraestruturas de Portugal, S.A. para o mandato que terminará no final de 2020 e que irá exigir da sua parte uma dedi-
cação plena e sem limitações na liderança de uma das empresas portuguesas de maior relevo e que será responsável por um investimento pú-
blico sem precedentes nos próximos anos.
Conforme disposto no artigo n.º 5, n.º 2, al. b) do Estatuto do Membro Eleito da Ordem dos Engenheiros, o argumento apresentado constitui
um motivo válido e justificativo, pelo que, comunico ter aceitado a suspensão de mandato solicitada e que esta produzirá efeitos a partir da pre-
sente data.
Lisboa, 18 de abril de 2018
O Presidente da Mesa da Assembleia da Região Sul,
Região SUL
As alterações climáticas e os eventos extremos associados são cada técnico-científica, focadas na aplicabilidade prática na atividade profis-
vez mais frequentes e tornam fundamental prosseguir medidas que sional de todos os presentes. Seguiu-se um período de debate, findo
atuem tanto nas causas – mitigação, como nas consequências – adap- o qual o Presidente em Exercício da Região Sul da OE encerrou a sessão.
tação. Essas ações estão intrinsecamente ligadas à Engenharia do Am- O programa foi concluído com um cocktail de networking. •
Região SUL
Região SUL
Região SUL
Região SUL
Região da MADEIRA
Sede Funchal
Rua Conde Carvalhal, 23 – 9060-011 Funchal
Tel. 291 742 502 – Fax 291 743 479
E-mail madeira@madeira.oep.pt
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Região da MADEIRA
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Bastonário de Cabo Verde visita a Região de laços entre os arquipélagos que compõem
a Macaronésia é um tema relevante, a inten-
Apesar da curta estadia na Ilha de São Miguel, da OE, Eng. André Cabral. O encontro permitiu sificar entre as partes envolvidas, e que, con-
a visita que o Bastonário da Ordem dos En- uma visita guiada às instalações da OE, em siderando este contexto, continuarão a ser
genheiros de Cabo Verde, Eng. Victor Coutinho, Ponta Delgada, assim como a oportunidade desenvolvidos esforços conjuntos no sentido
realizou à sede da Ordem dos Engenheiros para ficar a conhecer o funcionamento da da concretização de parcerias que possam
(OE) proporcionou uma profícua troca de ideias casa da Engenharia nos Açores. beneficiar os Membros de ambas as institui-
com o Vice-presidente da Região dos Açores Por fim, ficou a certeza de que o estreitamente ções. •
CONTROLO 2018
Pelo segundo ano consecutivo, à Região dos Açores da Ordem dos En-
genheiros coube a honra de fazer parte dos parceiros institucionais da
13.ª Conferência Internacional sobre Controlo Automático, Automação Mais de cem participantes (entre engenheiros, professores, investigadores,
e Soft Computing – CONTROLO 2018. O evento, decorrido entre os estudantes e profissionais), oriundos de três continentes, marcaram pre-
dias 4 e 6 de junho, teve lugar no Campus de Ponta Delgada da Univer- sença. No programa constaram sessões para apresentação de trabalhos
sidade dos Açores, e constituiu-se como um fórum internacional para científicos, workshops e visitas técnicas. Esta Conferência assumiu um
a apresentação e discussão de novos avanços e resultados de investi- caráter especial para a Associação Portuguesa de Controlo Automático,
gação nas áreas de Controlo Automático, Automação e Soft Computing. uma vez que coincidiu com a celebração do seu 25.º aniversário. •
O
setor da construção e do imobi- em 2017. O consumo de cimento totalizou
liário é, hoje, um setor muito di- 2,7 milhões de toneladas, o que traduz um
ferente daquele que conhecíamos acréscimo de 13,2% face ao registado em
até há bem pouco tempo atrás. 2015 foi um 2016, verificou-se a criação de cerca de 22
ano que ficará na história como aquele em mil postos de trabalho adicionais face ao
que se encerrou um dos piores períodos de ano anterior e ao nível do mercado imobi-
Manuel Reis Campos
Presidente da CPCI – Confederação
crise do setor, ao registar a primeira variação liário assistiu-se a um crescimento de 21%,
Portuguesa da Construção e do Imobiliário positiva da produção, após 13 anos conse- atingindo-se um total de 21,76 mil milhões
Presidente da AICCOPN – Associação cutivos em perda. Foram extintas milhares de euros, com o investimento estrangeiro
dos Industriais da Construção Civil
e Obras Públicas de empresas e, consequentemente, perdidos a representar 21,8%, ou seja, 4,7 mil milhões
mais de 430 mil postos de trabalho mas, de euros.
fruto de um grande esforço de todos, o te- A exemplo do que se passa na generalidade
cido empresarial resistiu, reestruturou-se, das economias europeias, o contributo es-
diversificou-se e afirmou-se nos mercados truturante do setor é incontornável e não
externos a uma escala verdadeiramente pode ser ignorado.
global. Efetivamente, o setor da construção e do
Em 2017, o PIB português cresceu 2,7%, imobiliário, no seu conjunto, representa, em
facto que foi amplamente destacado e re- Portugal, 17,4% do PIB, 50,5% do investi-
conhecido como muito positivo. Mas note- mento total da economia, 16,5% do pessoal
-se que o investimento em construção e ao serviço das empresas, 20,3% das socie-
imobiliário foi responsável por praticamente dades constituídas. Mas não estamos a falar
mais de um quarto (26,5%) desse cresci- de uma qualquer particularidade da eco-
mento. nomia portuguesa. A importância do setor
Efetivamente, em 2017 o setor retomou uma é uma realidade transversal no espaço eu-
trajetória de recuperação. O investimento ropeu, com uma produção anual de 1,275
em construção registou, no ano passado, biliões de euros, 14,1 milhões de empregos
uma variação positiva de 9,2%. E este cres- diretos na construção e 3,3 milhões de em-
cimento foi o reflexo de uma evolução po- presas de construção.
sitiva em todos os segmentos de atividade. Como já referi, este é um setor que aposta
A produção cresceu 5,9%, em resultado de em novas geografias, evoluiu para novas
variações positivas de 8% na construção de áreas e técnicas construtivas e que, sobre-
edifícios residenciais, 3,7% na construção tudo, sofreu uma alteração estrutural. Os
de edifícios não residenciais e 6% na enge- números da produção da construção espe-
nharia civil. lham bem essa nova realidade. Em 2001,
De uma forma transversal, os indicadores 46% da produção do setor estava associada
do setor registaram avanços significativos ao segmento da construção de edifícios re-
Invetimento (FBCF)
sidenciais. Nesse mesmo ano eram licen- reabilitação urbana e o seu incontornável cipar um futuro de sustentabilidade para
ciados 114 mil fogos novos. O segmento de papel enquanto vetor estratégico para o todo o País. A reabilitação urbana é uma
construção de edifícios não residenciais re- desenvolvimento do País são consensual- realidade, mas precisa de ser desenvolvida
presentava apenas 18% e a engenharia civil mente reconhecidos. Esta é uma matéria e alargada à generalidade do território.
35%. No ano passado, o segmento dos edi- que reassumiu renovada importância com A diferenciação das empresas e a sensibili-
fícios residenciais representou 27% da pro- o lançamento, por parte do Governo, da zação do grande público para a necessidade
dução do setor. O licenciamento de fogos Nova Geração de Políticas de Habitação, de procurar quem seja capaz de dar uma
novos registou, em 2017, um crescimento reconhecendo-se, no âmbito das suas prio- resposta eficiente, com padrões de quali-
de 24%, mas o número apurado foi de apenas ridades políticas, o papel central da habi- dade e sustentabilidade, são essenciais. O
14.090, ou seja, 88% abaixo do valor apu- tação e da reabilitação para a melhoria da combate à clandestinidade e informalidade
rado em 2001. O segmento não residencial qualidade de vida das populações, para a assume ainda maior relevância em mercados
pesa, agora, 26% do total e a engenharia revitalização e competitividade das cidades como a reabilitação urbana. É uma questão
civil é o segmento mais representativo, com e para a coesão social e territorial. Trata-se transversal e intemporal que reclama um
48% da produção. de um passo importante num País que, ao posicionamento do Governo, das autarquias
Por outro lado, a internacionalização da longo dos últimos anos, foi ignorando as locais e instituições reguladoras, bem como
construção e do imobiliário, que era quase suas carências habitacionais. Recordo que de todos os agentes do setor. São neces-
inexistente, em 2001, evoluiu de forma ver- quando se falava em habitação, apenas se sários novos padrões de exigência que per-
dadeiramente significativa. A taxa de variação ouvia dizer que havia “casas a mais”. Ques- mitam colmatar problemas que todos ad-
média anual da atividade das empresas nos tões como a degradação do parque edifi- mitem estar a agravar-se, como a concor-
mercados internacionais de construção, cado, o abandono dos centros urbanos, ou rência por parte de entidades que atuam à
desde o ano 2000, foi de 19,5% e hoje a fi- mesmo o facto de estarmos num País em margem da lei e, consequentemente, au-
leira representa um volume anual de fatu- que existe uma habitação social por cada mentam significativamente os riscos asso-
ração externa que supera os 10,1 mil milhões 16 portugueses em risco de pobreza, eram ciados à sinistralidade laboral e a más prá-
de euros. praticamente ignoradas. ticas construtivas, cujos efeitos recaem, mais
tarde, sobre os consumidores. A autorregu-
lação é um caminho necessário e, nesse
domínio, os engenheiros e a nossa Ordem
são um exemplo a seguir. A marca da AIC-
COPN, R.U.-I.S. – Reabilitação Urbana In-
teligente e Sustentável pretende, precisa-
mente, distinguir quem atua dentro do cum-
primento das regras, quem assume com-
promissos em matéria de segurança e de
qualidade. E, não menos importante, de-
senvolve ações que promovem estes prin-
cípios junto do público em geral que é quem,
Evolução do Valor Bruto da Produção em última instância, deve tomar decisões
informadas e ajustadas.
Porém, a consolidação desta atividade é um Este é, portanto, o momento de consolidar Se este é um desafio para o futuro, é fun-
processo que ainda não foi concluído. A di- um novo ciclo na construção e imobiliário. damental que o Governo não se esqueça
nâmica a que estamos a assistir ao nível do Está em causa a competitividade desta ati- das necessidades imediatas, às quais, a bem
investimento privado, com especial enfoque vidade e, sobretudo, a capacidade de ante- do desenvolvimento económico, da criação
no dinamismo do mercado imobiliário, não
tem sido acompanhada pelo investimento
público. Hoje estamos confrontados com
novas realidades. O turismo potenciou a
nossa identidade única, a hotelaria e os es-
tabelecimentos de alojamento local trou-
xeram novas dinâmicas aos centros urbanos,
o comércio tradicional e os serviços reto-
maram o papel que antes desempenhavam
e o interesse por parte dos investidores es-
trangeiros, seja por via do Programa dos
Vistos Gold, seja por via do Regime dos Re-
sidentes Não Habituais, promoveu externa-
mente o nosso País.
Neste contexto, o caráter estruturante da
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Tema de Capa REABILITAÇÃO URBANA
Reabilitação Urbana
enquanto desígnio nacional
o papel dos engenheiros
e da Engenharia
A
História, a Cultura e o Património atração de investimentos para novas ativi-
são valores coletivos que marcam a dades altamente lucrativas e, ao regenerar,
identidade dos povos e de qualquer também beneficiadora das zonas mais de-
país e que, cada vez mais, constituem va- gradadas das cidades.
lores de partilha universal. Por esta razão, a reabilitação urbana assumiu-
Carlos Mineiro Aires Durante muitas décadas Portugal esqueceu -se como o grande motor da ressurreição
Bastonário da Ordem dos Engenheiros o seu património edificado, público e privado, da atividade da indústria da construção civil
começando por ser o próprio Estado a dar e das prestações de serviços conexos, numa
maus exemplos, ao não preservar muitos dos altura em que o investimento público sofreu
nossos monumentos que assinalam épocas um forte retrocesso, baixando para níveis
e momentos únicos na nossa História. impensáveis que, apesar de alguns anúncios
No que respeita ao património edificado pri- de novas obras públicas, ainda se mantêm.
vado, infelizmente o resultado ainda foi pior. Por outro lado, os critérios de licitação e ad-
Assistimos ao abandono das zonas histó- judicação dos grandes donos de obra pública
ricas das cidades, ao envelhecimento da sua podiam ajudar muito mais os interesses das
ocupação e, inevitavelmente, à sua degra- empresas portuguesas, mas não o têm feito.
dação, pois os ativos não tinham condições Defender que as adjudicações se devem
para garantir retornos generosos que justi- pautar pelos preços mais baixos e sem cri-
ficassem o investimento na sua manutenção térios de seleção dos melhores é apostar na
e preservação, sendo certo que, neste con- continuação da destruição do pouco que
texto, a política de arrendamento também ainda resta da Engenharia nacional e fomentar
era pouco incentivadora, tal como hoje ainda a prática de dumping salarial, a começar pelos
o é, pois os senhorios e os proprietários ra- salários dos engenheiros, sabendo que as
ramente teriam capacidade financeira e mais empresas se encontram na generalidade em
não se lhes poderia exigir. situações de sufoco financeiro, nas quais as
Felizmente que, de há uns anos a esta parte, parcas margens de lucro, quando existem,
a visão da valorização e do potencial do pa- não chegam, na maior parte dos casos, para
trimónio reabilitado veio originar uma mu- honrar os serviços das dívidas.
dança de atitude, que foi motivadora da Assim, estando o mercado das obras pú-
blicas num estado letárgico e longe de poder a necessitar de recuperação, dos quais me- toca à reabilitação e à sua qualidade, também
garantir negócios rentáveis às poucas em- tade se encontra muito ou totalmente de- estão em causa questões e princípios rela-
presas de construção civil que conseguiram gradada. cionados com a defesa do consumidor.
resistir à crise “pós troika”, os investimentos Contudo, em nosso entender, há que estar Com efeito, como sempre defendemos a
privados, nomeadamente na área da reabi- atento às razões, à duração e à perenidade excelência nestas intervenções e em tudo o
litação urbana, asseguram hoje a maioria do ciclo que vivemos, para que não tenhamos que tem a ver com atos e práticas de Enge-
das oportunidades. surpresas. nharia, não podemos deixar que se con-
As empresas de Engenharia, os engenheiros O balanço da atividade do setor tem assi- fundam meras operações estéticas, que em-
e as equipas de projeto e fiscalização têm, nalado com relevo o atingimento de diversos belezam os edifícios e os tornam mais ape-
pois, de estar reconhecidos aos promotores máximos, quer a nível de fogos transacio- tecíveis, interior e exteriormente, e facilmente
imobiliários e à iniciativa privada, pelo novo nados, quer no que respeita aos preços/m2, comercializáveis, com o que, na ótica dos
fôlego que trouxeram à indústria da cons- pelo que os potenciais investidores, os pro- engenheiros, são intervenções adequadas e
trução civil e à empregabilidade que geraram. motores imobiliários e os proprietários só que ao reabilitarem acrescentam segurança,
Depois da falência e desaparecimento de podem estar otimistas. perenidade e garantem o real valor do ativo.
dezenas de milhares de empresas, perda de Mas estará tudo assim tão bem? Segura- Estas unidades, mais cedo ou mais tarde,
250 mil empregos e de capacidade instalada mente que não. irão ser transacionadas e vendidas a quem
em Portugal, o mercado começa a reanimar. Por essa razão, nas múltiplas intervenções desconhece a realidade do bem que está a
Reabilitar como regra, para além de ser o para que tenho sido convidado a falar sobre adquirir, muitas vezes através de um esforço
título de um programa de apoio lançado este assunto, procuro não esconder o que financeiro para toda a vida.
pelo Governo, tornou-se uma salutar prá- me parece importante, ou seja, os riscos Dado que uma parte significativa da reabi-
tica, sobretudo em Lisboa e no Porto, tendo existentes e as situações que podem vir a litação de edifícios não tem em conta a
já uma razoável expressão em muitas outras pôr em causa o negócio, o bom nome da análise da sua segurança estrutural e do seu
cidades do País, em detrimento da cons- Engenharia e dos engenheiros e o bem- comportamento aos sismos, o que é parti-
trução nova. -estar social dos meus concidadãos. cularmente grave num País altamente ex-
É cientes das oportunidades que se podem Começando pelo risco financeiro, e sem posto a estes eventos naturais, teremos a
abrir e do mercado e da riqueza que podem quaisquer alarmismos, tanto mais que não razão do nosso lado quando reiteramos que
ser criados a partir da reabilitação urbana e detenho qualquer conhecimento especial algo está e continua mal.
da consolidação estética e ambiental de que me habilite a perspetivar acontecimentos, Temos, assim, diversas situações passíveis
de causarem problemas, mas não acaute-
ladas, relacionadas com a defesa do con-
sumidor (“compra de gato por lebre”) e com
a segurança de pessoas e bens (resistência
estrutural dos edifícios e transformação in-
devida de uso habitacional em utilização
coletiva) e que resultam, basicamente, da
permissividade, falta de fiscalização e de
conhecimento técnico adequado das enti-
dades licenciadoras.
Daí, a incontornável necessidade da inter-
venção de engenheiros conhecedores, sérios
e competentes, que serão a garantia das ade-
quadas intervenções da sua boa execução.
O Decreto-lei n.º 53/2014, de 8 de abril, veio
unidades zonais definidas e coerentes, que começou a ser habitual a imprensa, espe- estabelecer, durante um período de sete
sempre a defendemos. cializada e não só, falar em cenários de uma anos e em determinadas condições, um re-
Com a aposta na reabilitação urbana, a ati- nova bolha financeira, coisa que não co- gime excecional e temporário aplicável à
vidade imobiliária tornou-se num setor ge- mento, parecendo-me, no entanto, evidente reabilitação de edifícios ou de frações, sempre
rador de emprego e de importância funda- que os valores de venda de alguns imóveis que se destinem a ser afetos total ou pre-
mental para a economia nacional, ao captar entraram em patamares tão elevados que dominantemente ao uso habitacional.
investimento nacional e estrangeiro, focada dificilmente poderão ser revendidos pelo Tendo em conta a elevada probabilidade de
na promoção dos fatores de atratividade do mesmo preço. Mas esta é apenas uma opi- ocorrência de fenómenos sísmicos em Por-
País, a que não são alheias as muitas polí- nião pessoal e certamente pouco valorizável. tugal, e na sequência do que referimos, en-
ticas governamentais de atração de investi- No que toca à qualidade da reconstrução, tendemos ser urgente revisitar toda a legis-
mento e de apoio à reabilitação do edificado. segurança do edificado e valor patrimonial lação existente, nomeadamente a relacio-
Assim, estamos a assistir a uma forte aposta e perenidade dos bens adquiridos, já me nada com aspetos estruturais, com a garantia
na reabilitação, o que é louvável num País atrevo a escrever com mais certezas. da segurança de pessoas e bens e com a
onde existirão cerca de dois milhões de fogos Teremos, desde logo, de admitir que, no que proteção e defesa do consumidor.
Nesse sentido, existem aspetos que sempre para soluções socialmente desequilibradas
defendemos e que devem ser acautelados: e injustas, pautadas por ocupações desca-
› Qualquer obra de reabilitação urbana, que racterizadas ou com alta rotatividade, mas
não seja de mera conservação, deverá com rentabilidade muito mais elevada.
obrigatoriamente ter como responsável No essencial, apesar destes reparos, sau-
um engenheiro civil que detenha conhe- damos os investimentos e a atividade da
cimentos adequados, porquanto nenhum reabilitação urbana que veio permitir animar
outro profissional tem condições efetivas o mercado, a economia, gerar emprego e
e legais para o poder fazer; riqueza.
› A eventual dispensa de reforço estrutural O mesmo sucede com o “pacote” de me-
numa operação de reabilitação de um didas e programas de apoio criados pelo
edifício, enquanto a lei não a enquadrar Governo, sendo que hoje também não faltam
devidamente, deverá ser uma justificada incentivos e apoios às ações de reabilitação
opção do técnico responsável, que desse urbana, dando prioridade à reabilitação em
modo fica indissociavelmente ligado e detrimento da construção nova e à eficiência
judicialmente responsável pelas conse- energética e hídrica, o que permite preservar
quências da sua decisão; e dar perenidade ao património edificado,
› Revisão urgente da legislação por forma nhado por adequados cálculos e por uma um valor cultural inalienável.
a tornar obrigatória, e sem regime de ex- fiscalização competente, promove a imagem Permitimo-nos, assim, ter algumas expeta-
ceção, a análise sísmica e avaliação da dos investidores, acresce valor ao produto, tivas para além das que já referimos:
necessidade de reforço estrutural em aumenta a confiança dos consumidores e › Que as intervenções sejam feitas de acordo
qualquer operação de reabilitação de um cria empregos para estes profissionais. com critérios e exigências técnicas ade-
edifício, a realizar por engenheiros civis Finalmente, porque a responsabilidade so- quadas e que a legislação assim o exija.
com conhecimentos adequados, enquanto cial também é uma vertente da atuação dos Para o efeito, basta que se dê ouvidos aos
técnicos responsáveis pelo projeto; engenheiros, tenho de referir a questão so- engenheiros;
› Imposição legal de uma “ficha técnica da cial que agora afeta alguns concidadãos. › O consumidor final deve estar informado
estrutura do edifício”, onde fique perfei- Todos ouvimos diariamente notícias relativas e ser exigente quanto à qualidade do que
tamente explícita a sua capacidade de à desocupação compulsiva de habitações adquire, razão pela qual o papel dos en-
resistência aos sismos e as condicionantes arrendadas que irão ser objeto de reabilitação genheiros é crucial para assegurar a qua-
que foram consideradas nos cálculos, o para fins de rentabilização desses ativos. lidade das soluções projetadas e cons-
que permitirá certificar a sua qualidade, Nada me move, pois, quanto à atuação e truídas;
garantindo a confiança e acautelando os decisão dos proprietários e dos promotores › Que os promotores públicos e privados
interesses dos consumidores. imobiliários, mas unicamente em relação às interiorizem que contratações de serviços
Estas fichas técnicas deverão ser assinadas políticas de proteção dos mais desfavore- mal pagos ou mal remunerados não
pelos engenheiros responsáveis pelo pro- cidos e dos jovens. servem nenhuma das partes e recordar
jeto, pela execução e pela fiscalização da Uma parte significativa dos proprietários que, nesta cadeia de valor, o papel dos
obra, o que permitiria que os potenciais destes fogos opta, com a toda a legitimi- engenheiros e dos arquitetos é funda-
compradores passassem a poder ter acesso dade, pelo alojamento local, muito mais mental, quer na fase de projeto, quer na
à certificação da qualidade do bem que rentável, o que está a pôr em causa o mer- fase de obra, e que baixas remunerações
adquirem, uma vez que a sua perenidade cado de arrendamento tradicional e, por também podem estar associadas à má
e valor poderão estar seriamente com- consequência, o acesso à habitação pelos qualidade do desempenho;
prometidos, bem como o edificado con- mais jovens e por quem tem mais fracos re- › Que os mecanismos de financiamento
finante. cursos, sendo que o restante entra no mer- contribuam de forma sustentada para a
Na verdade, são exigidos certificados e cado por valores altamente especulativos, reabilitação urbana, evitando a criação de
certificações de toda a natureza, exceto havendo já quem afirme ser mais fácil com- guetos ou uma deficiente abordagem
para o essencial: é como se a saúde fosse prar do que alugar uma casa na cidade. social para esta oportunidade que final-
possível num corpo em que o esqueleto A oferta de arrendamento nos centros das mente se abriu;
se degrada diariamente até colapsar. cidades é, assim, cada vez menor, as rendas › Por fim, dentro do enquadramento do
mais elevadas, originando um problema so- “Ano OE das Alterações Climáticas”, re-
Outra questão incontornável tem a ver com cial que o mercado nunca regulará. cordar que a eficiência material pode as-
os honorários e salários que continuam a Esta questão entronca diretamente nas po- sumir uma elevada expressão no contexto
ser praticados, que só desprestigiam os in- líticas e nas agendas locais das cidades, que da reabilitação urbana, recorrendo à reu-
tervenientes e não garantem uma seleção inicialmente pareciam apontar para a in- tilização de materiais, incorporando na
qualitativa, que no seu conjunto estão muito versão do caminho que provocou o enve- atividade uma nova economia circular.
longe dos valores auferidos pelas agências lhecimento e o abandono dos centros his-
que fazem as transações imobiliárias. tóricos, incentivando os jovens a habitar Sendo a Engenharia uma profissão de con-
Um bom projeto de Arquitetura, acompa- essas zonas, o que rapidamente se inverteu fiança pública, é este o nosso papel.
OPTE POR
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Tema de Capa REABILITAÇÃO URBANA
Reabilitação Urbana
e construção sustentável
(cidades inteligentes, eficiência
material e economia circular)
delação ou beneficiação das infraestruturas, Fileiras que incluem indústrias extrativas, in-
dos equipamentos e dos espaços de utili- dústrias transformadoras, comerciantes, ser-
zação coletiva e, também, de obras de cons- viços de Engenharia e Arquitetura, cons-
trução, reconstrução, ampliação, alteração, trução, agentes imobiliários, centros de co-
conservação ou mesmo demolição dos nhecimento (laboratórios, universidades,
edifícios propriamente ditos. etc.), autarquias, agências públicas e muitos
José de Matos
É nesta perspetiva, sobretudo, que os con- outros serviços e atividades relacionados.
Vice-presidente da Associação
Plataforma para a Construção ceitos de construção sustentável e de ci- Foi assim que em meados de 2007 concre-
Sustentável – CentroHabitat dades inteligentes devem ser equacionados, tizámos esta ideia de agregar em rede as
com o sentido de urgência, de preocupação entidades que estivessem ligadas ao que
e de rigor/conhecimento que a exigência denominámos como cadeia de valor do
do processo de transformação do paradigma Habitat, criando uma associação sem fins
O
s temas da reabilitação urbana e da sociedade e, também, da economia e da lucrativos, a Plataforma para a Construção
da construção sustentável estão própria construção hoje reclamam. Sustentável, com o objetivo de agregar para
hoje na “ordem do dia” em Por- Normalmente, entre nós, as alterações ocorrem fomentar a inovação e a competitividade.
tugal, seja porque, pela ação recente do por força das mudanças da lei ou dos regu- Quando, entre 2008 e 2009, o Governo
fenómeno do turismo de cidades, temos lamentos e estas continuam, e continuarão lançou a nível nacional um processo de re-
em curso a maior operação de reabilitação a ser, sem dúvida, uma forte componente conhecimento formal de polos e clusters
dos imóveis de que há memória, concen- do processo. Mas temos para nós que num no País, considerámos que tínhamos todas
trada nos centros históricos das nossas duas mundo globalizado as mudanças são cada as condições para fazer reconhecer o que
maiores cidades e que constituiu um de- vez mais determinadas e aceleradas por apelidámos de Cluster Habitat Sustentável,
sígnio nacional sistematicamente adiado questões ligadas à competitividade. estabelecendo para tal um plano de ação
décadas a fio, seja porque as novas orien- Os problemas da competitividade têm, também conjuntamente com os nossos associados,
tações e regulamentos (com origem na eles, um campo muito vasto, que vai dos de então para este período de reconheci-
União Europeia) nos domínios do ambiente países aos produtos, passando pelas cidades mento que se estendeu de 2009 a 2014.
e da energia, das cidades sustentáveis e in- e pelos serviços, incluindo a Engenharia e a Este processo de avaliação demorou cerca
teligentes e, mais recentemente, da eco- Arquitetura. de um ano e em julho de 2009 vimos re-
nomia circular, entraram ou entrarão em Por isso mesmo sempre considerámos que conhecido o Cluster Habitat Sustentável
vigor muito em breve. a abordagem aos desafios colocados deveria (www.centrohabitat.net), que ficou com esta
Estar na moda não significa que sejam ab- ser feita numa ótica de cadeia de valor, en- denominação porque pretendíamos deixar
solutamente novos e muito menos que volvendo as várias fileiras: dos materiais de clara a ideia da sustentabilidade como mote
sejam passageiros. A reabilitação é para construção, da construção e do imobiliário. de inovação e reforço da competitividade
continuar e, tudo indica, deverá representar
no futuro mais de 80% da atividade da cons-
Bens e
trução. A sustentabilidade, em todas as suas Equipamentos
Serviços
dimensões, é mais que um objetivo, uma 3 fileiras de
Setor Engenharia Arquitetura
necessidade urgente a cumprir, se quisermos Extrativo Multisetores
MATERIAIS
almejar a níveis elevados de qualidade de Transformação PRODUTOS Serviços de
Construção
de Materiais
vida das atuais gerações e das vindouras. Pedra
Argamassas
O conceito de reabilitação urbana é algo Cortiça
Metais
Madeira
mais abrangente que a simples reabilitação Cerâmica CONSTRUÇÃO
dos edifícios. É uma forma de intervenção
integrada sobre o tecido urbano existente,
que salvaguardando no essencial o patri-
A CADEIA
Promoção
mónio urbanístico e imobiliário, visa a sua IMOBILIÁRIO DE VALOR
Mediação
modernização através de obras de remo- Imobiliária DO HABITAT
A questão da segurança
sísmica na Reabilitação Urbana
Assim, o Risco Sísmico num determinado é igual, dependendo diretamente das suas consequências dos eventos sísmicos, po-
local corresponde genericamente ao “pro- características estruturais, como se constata dendo afirmar-se com clareza que os sismos
duto”: em todos os sismos ao se encontrarem, lado no nosso País são inevitáveis, mas as suas
a lado, edifícios totalmente destruídos e edi- consequências não.
Risco Sísmico = Perigosidade × Exposição fícios incólumes ou com muito poucos danos.
× Vulnerabilidade A Figura 1, obtida na sequência do sismo de 4. EDIFÍCIOS NOVOS
l’Aquila, em Itália, em 2009, mostra clara-
Esta “expressão” mostra claramente que, mente que “os edifícios não são todos iguais”, No caso dos edifícios novos, o controlo do
apesar da inevitabilidade dos sismos (tradu- ou seja, que, mesmo quando aparentemente risco sísmico exige que não se construam
zido pela impossibilidade de alterar o termo semelhantes, podem apresentar vulnerabi- edifícios vulneráveis, assegurando que o pro-
Perigosidade), é possível diminuir o risco lidade sísmica muito diferente. jeto é feito de acordo com as regras regula-
sísmico, ou seja, é possível alterar as con- mentares e que a construção cumpra o pro-
sequências dos sismos, intervindo nos dois 3. R
EDUZIR A VULNERABILIDADE jeto.
termos que dependem da nossa ação: a E CONTROLAR O RISCO SÍSMICO Julga-se que para ambos os passos há a
Exposição e a Vulnerabilidade. possibilidade (e mesmo a necessidade) de
Para diminuir o Risco Sísmico há, portanto, Um dos aspetos que reconhecidamente faz melhorar a situação atual no nosso País, im-
que diminuir a Exposição e a Vulnerabili- diminuir a vulnerabilidade sísmica das cons- plementando de forma mais sistemática es-
dade Sísmica das construções. truções numa determinada região é a exis- quemas de revisão de projeto e melhorando
De entre estes dois fatores, e dado um certo tência de regulamentação de projeto sismo- a fiscalização de execução das estruturas.
território, a diminuição da Exposição é mais -resistente e que a sua efetiva aplicação seja Neste contexto há que encontrar soluções
difícil de conseguir, uma vez que basicamente assegurada. Segue-se a necessidade de o que premeiem a qualidade de projeto e de
corresponderia a limitar ou proibir a ocu- projeto estrutural ser fielmente cumprido execução da obra e que penalizem as situa-
pação desse território e a correspondente em obra e que ao longo da sua vida não ções de incumprimento. Apesar de não se
construção. sejam introduzidas alterações nos edifícios considerar que estas ações compitam ex-
Em contrapartida, é possível intervir na Vul- que diminuam a sua resistência. clusivamente ao Estado, em nossa opinião
nerabilidade Sísmica das construções, com a Em Portugal existe, desde 1958 e com ca- o Estado deverá ter um papel determinante
extensão que se julgue necessária, para con- ráter obrigatório, regulamentação técnica pois, embora seja muito importante que a
trolar de forma significativa o Risco Sísmico. nesta matéria, que tem sido atualizada ao população seja exigente em relação à segu-
A Vulnerabilidade Sísmica relaciona a Inten- longo do tempo, seguindo o progresso dos rança sísmica dos edifícios, não é expectável
sidade Sísmica com os danos sofridos pelas conhecimentos, quer quanto à perigosidade que, sem uma intervenção reguladora e fis-
construções e assim a cada construção cor- sísmica do nosso território, quer quanto ao calizadora do Estado, tal se consiga.
responde uma função de vulnerabilidade. comportamento sísmico das estruturas1. De facto, dada a muito baixa perceção do
O que é importante reter é que, de facto, o Existem, portanto, no nosso País as condi- risco sísmico em Portugal (sobretudo em
comportamento sísmico dos edifícios não ções de base para controlar e minimizar as Portugal Continental), a população não é
exigente quanto à resistência sísmica das
construções ou tende a considerar (em
muitos casos erradamente) que essa resis-
tência é garantida por alguma entidade que
interveio no processo de aprovação do pro-
jeto ou de fiscalização da obra.
É, portanto, imprescindível assegurar a qua-
lidade sísmica das novas construções que
irão perdurar muitas dezenas de anos, evi-
tando que estejamos a criar um parque de
construções vulneráveis o que, a ocorrer,
constituirá um gravíssimo problema para o
futuro.
5. R
EABILITAÇÃO SÍSMICA
DE EDIFÍCIOS EXISTENTES
1 Prevê-se que a regulamentação nacional de projeto de estruturas seja a curto prazo substituída pelos chamados Eurocódigos que são Normas Europeias relativas
ao projeto estrutural. De entre os vários Eurocódigos é o Eurocódigo 8 o que apresenta as prescrições relativas ao projeto sismo-resistente.
tação de Edifícios (Decreto-Lei n.º 53/2014, based design). Inclui também orientação tualmente conducente ao seu reforço – não
de 8 de abril), que introduziu detalhadamente para a recolha de informação sobre as es- estão incluídas no âmbito da presente Norma”.
a permissão de, durante um período de sete truturas existentes e prevê a realização de Ou seja, é necessária uma intervenção po-
anos e para intervenções de reabilitação em verificações diferentes para elementos dúc- lítica a montante que defina os casos em
edifícios com mais de 30 anos, não serem teis ou elementos com comportamento que a avaliação da vulnerabilidade sísmica
cumpridas algumas das disposições regu- frágil. seja necessária/obrigatória e as condições
lamentares aplicáveis a edifícios novos. A aplicação da Norma em Portugal é con- em que o reforço sísmico deve ser feito.
Em relação à segurança estrutural este re- dicionada pelo estabelecido no Anexo Na- Tal leva-nos de volta à proposta feita pelo
gime não define nenhuma dispensa, mas cional que, de certa maneira, a simplifica grupo de trabalho SPES/OE em 2013, que,
antes estabelece, no seu artigo 9º designado para o caso dos edifícios correntes. com as devidas alterações decorrentes da
de Salvaguarda estrutural, que “As interven- Para esses edifícios, apenas é necessário publicação da NP EN1998-3, se mantém
ções em edifícios existentes não podem verificar o Estado Limite de Danos Severos totalmente válida.
diminuir as condições de segurança e de (um dos três previstos na Norma Europeia), Essencialmente, essa proposta, que tem por
salubridade da edificação nem a segurança que corresponde à principal verificação re- objetivo lançar efetivamente a reabilitação
estrutural e sísmica do edifício”. querida na parte do Eurocódigo 8 aplicável sísmica em Portugal, inclui a:
Em nossa opinião, esta disposição, que já a edifícios novos. Para além disto, o nível da › Exigência de avaliação sísmica de edifí-
figurava no Regime Jurídico da Reabilitação ação sísmica a considerar é também redu- cios correntes, com caráter obrigatório,
Urbana, em nada contribuiu para a enfati- zido relativamente ao exigido para edifícios aquando de intervenções de reabilitação
zação da necessidade da consideração, de novos. com expressão económica (possivelmente
forma eficaz, da questão sísmica nas inter- Para edifícios correntes, os coeficientes de limitando esta exigência às zonas de maior
venções de reabilitação. redução da ação sísmica variam entre 0,75 risco sísmico do País: Grande Lisboa, Al-
Pelo contrário, pode mesmo considerar-se e 0,89, dependendo do tipo de cenário sís- garve e Açores);
que desvaloriza essa questão pois deixa de mico em causa (sismo distante de grande › Definição das condições em que, em
referir a necessidade de observar as opções magnitude ou sismo próximo de pequena função dessa avaliação, é obrigatório o
de construção adequadas à segurança es- magnitude, ou localização em Portugal Con- reforço sísmico;
trutural e sísmica do edifício que está esta- tinental ou nos Açores). Estes coeficientes › Estabelecimento que a ação sísmica a
belecida no Regime Jurídico da Reabilitação resultam de, para situações de reabilitação, considerar no projeto do reforço é a de-
Urbana. se definir a ação sísmica para uma proba- finida na NP EN1998-3.
Por outro lado, a exigência de não dimi- bilidade de excedência de 15% em 50 anos
nuição da resistência sísmica é muito in- (período de retorno de 308 anos), superior Afigura-se, assim, que estamos a aproximar-
suficiente para o objetivo de diminuição do à probabilidade de excedência de 10% em -nos da possibilidade de efetivamente ser
risco sísmico em Portugal, podendo inclu- 50 anos adotada para a ação sísmica a con- lançada a reabilitação sísmica em Portugal
sivamente contribuir para o seu aumento, siderar em edifícios novos (período de re- de forma determinada.
como se descreveu anteriormente. torno de 475 anos). A este propósito é oportuno referir que se
Apesar de múltiplas chamadas de atenção Por si só a publicação da Norma pelo IPQ encontra em curso atualmente o projeto
para este facto, o quadro regulamentar da não lhe dá caráter obrigatório, mas, em con- “Reabilitar como Regra”, promovido pelo
reabilitação urbana tem-se, infelizmente, junto com outros Eurocódigos, a NP EN1998-3 Governo e que tem como objetivo “a re-
mantido inalterado. foi recentemente sujeita a inquérito público visão do enquadramento legal e regula-
Contudo, quebrando um pouco este quadro, para aplicação com força regulamentar em mentar da construção, de modo a adequá-
no ano passado, foi publicada pelo Instituto Portugal. -lo às exigências e especificidades da rea-
Português da Qualidade (IPQ) a Norma Por- Espera-se, assim, que a curto prazo esta bilitação”.
tuguesa NP EN1998-3 designada Eurocó- Norma passe a fazer parte do quadro re- É a oportunidade para fazer avançar este
digo 8: Projeto de Estruturas para Resis- gulamentar do nosso País para o projeto assunto, incorporando nesse projeto o ob-
tência aos Sismos – Parte 3: Avaliação e de estruturas, o que significará um passo jetivo da redução do risco sísmico em Por-
Reabilitação de Edifícios, com o respetivo importante para o objetivo da redução do tugal, com a inclusão da reabilitação sísmica
Anexo Nacional2 e transpondo a correspon- risco sísmico. na revisão desse enquadramento legal e
dente Norma Europeia. No entanto, este passo não será suficiente regulamentar.
Esta Norma estabelece o quadro de ava- pois a Norma tem um caráter essencial- Como nota final, não se deixa de referir que,
liação e de projeto de intervenções de re- mente técnico e, de acordo com o seu em fevereiro do próximo ano, se assinalam
forço sísmico em edifícios, o qual é diferente preâmbulo, “aplica-se após se estabelecer os 50 anos da ocorrência do último sismo
do habitual para o projeto para edifícios a exigência de avaliação de um determinado forte sentido em Portugal e que seria uma
novos, introduzindo um novo paradigma de edifício”. O preâmbulo declara ainda que circunstância muito feliz se, nessa altura, a
verificações com base na capacidade de “as condições que determinam a decisão reabilitação sísmica em Portugal estivesse
deformação das estruturas (displacement de avaliação sísmica de um edifício – even- em marcha.
2 Os Eurocódigos são publicados a nível nacional incluindo os respetivos anexos nacionais, que definem os designados “parâmetros de determinação nacional” para
aplicação em cada País.
Risco Sísmico
e os Eurocódigos Estruturais
A
primeira regulamentação em Por- cada de sessenta (RSEP) e a sua atualização
tugal a contemplar a ação sísmica nos anos oitenta (RSA) podem ser avaliados
no dimensionamento das estruturas com ferramentas, integradas em sistemas
foi o Regulamento de Segurança das Cons- de informação geográfica, para a avaliação
truções contra os Sismos (RSCCS, 1958), a e mitigação do risco sísmico em Portugal,
que se seguiu o Regulamento de Solicita- como é exemplo o simulador de cenários
Carlos Pina
Presidente do Conselho Diretivo ções em Edifícios e Pontes (RSEP, 1961). Em sísmicos LNECloss. Genericamente, esta
do LNEC – Laboratório Nacional 1983 é publicado o Regulamento de Segu- ferramenta, começada a desenvolver a partir
de Engenharia Civil
rança e Acções para Estruturas de Edifícios de 1996 e que tem vindo a ser atualizada,
cpina@lnec.pt
e Pontes (RSA). Trata-se de um regulamento permite estimar os danos e determinar perdas
nacional, moderno, e que viria a ser com- económicas acumuladas no território na-
plementado com o Regulamento de Estru- cional para cenários sísmicos relevantes.
turas de Aço para Edifícios (REAE) e com o Estudos elaborados ao longo dos anos, tendo
Regulamento de Estruturas de Betão Armado como base os dados dos Censos da popu-
e Pré-Esforçado (REBAP). Estes regulamentos lação e da habitação em Portugal, constatam
acompanharam a evolução da investigação a mitigação do risco sísmico quando apli-
Alfredo Campos Costa
europeia, refletindo o importante papel de cados os sucessivos regulamentos de di-
Chefe do Núcleo de Engenharia Sísmica
do LNEC – Laboratório Nacional investigação pré-normativa em Engenharia mensionamento sismo-resistente, para as
de Engenharia Civil Sísmica realizada no LNEC. tipologias construtivas em betão armado.
alf@lnec.pt O impacto da introdução da regulamen- Efetivamente, a análise dos resultados ob-
tação sísmica em Portugal no início da dé- tidos com o LNECloss, desagregados por
Figura 1 Instalação de ensaios sísmicos do LNEC exibindo a mesa sísmica triaxial com um modelo reforçado de alvenaria de pedra, em primeiro plano, e a
sala de controlo da plataforma sísmica, em segundo plano
Figura 2 Evolução das tipologias construtivas e dos regulamentos de dimensionamento sísmico. A vermelho indicam-se os períodos em que houve
preocupação relativamente à resistência sísmica dos edifícios, ou seja, no período de reconstrução da baixa pombalina, na sequência do sismo de
1 de novembro de 1755, e a partir da introdução de regulamentação sismo-resistente em Portugal
tipologia construtiva para a região da Grande A matéria tratada no EC8 não estava até bana coloca questões relativas à segurança
Lisboa, permite concluir que: (i) a introdução agora individualizada, no quadro regula- estrutural diferentes da construção nova e,
do RSEP nos anos sessenta corresponde a mentar português, num regulamento espe- nesse sentido, deve ser especificamente re-
uma redução do risco sísmico em cerca de cífico, sendo abordada de forma distribuída gulada. Efetivamente, o nível de conheci-
uma ordem de grandeza relativamente aos pelos vários regulamentos em vigor (RSA, mento a priori da geometria e propriedade
edifícios de betão armado anteriores a esse REBAP e REAE) e, em particular, a sua Parte dos materiais existentes será sempre supe-
regulamento; (ii) os edifícios de betão ar- 3 (EC8-3) é especificamente dedicada à rea- rior ao de uma estrutura nova, da qual, na
mado construídos ao abrigo do RSA reduzem bilitação sísmica de edifícios existentes e tem fase ainda de projeto, não se dispõe de qual-
em mais uma ordem de grandeza o risco por objetivo estabelecer critérios para a ava- quer informação relativamente às suas pro-
sísmico relativamente aos edifícios de betão liação do desempenho sísmico de edifícios priedades. Assim, admite-se que para manter
armado construídos ao abrigo do RSEP. individuais existentes, descrever uma abor- os mesmos níveis de segurança de estru-
A nova regulamentação de dimensionamento dagem que permita escolher as medidas turas novas e reabilitadas, o dimensiona-
de estruturas, os Eurocódigos Estruturais, corretivas necessárias e estipular critérios de mento da reabilitação e/ou reforço sísmico
que formam um conjunto coerente e abran- projeto para as medidas de reabilitação. de edifícios possa ser realizado para níveis
gente de Normas Europeias (EN) relativas à Embora não existam ainda cálculos de risco de ação sísmica mais reduzidos.
verificação da segurança de estruturas, re- sísmico executados com o LNECloss para Esta regulamentação pressupõe a realização
sulta de um esforço de harmonização no edifícios projetados de acordo com o EC8, de levantamentos com diferentes níveis de
espaço europeu dos regulamentos e normas pode ter-se uma estimativa dos ganhos em exaustividade da estrutura que, de acordo
existentes em cada país. Representam, no termos de mitigação do risco. Efetivamente, com o nível de conhecimento da mesma, se
seu todo, uma evolução positiva da regula- projetando para um nível de ductilidade (ou traduzem em valores de “coeficientes de con-
mentação nacional sobre a matéria, com- de capacidade de deformação da estrutura) fiança” das propriedades dos materiais a uti-
plementando, atualizando e suprimindo la- cerca de duas vezes superior ao regulamento lizar na verificação da segurança da estrutura.
cunas da regulamentação existente. em vigor, é expectável que, com a aplicação É um passo importante numa estratégia mais
A Subcomissão do Comité Europeu de Nor- do EC8, haja uma redução do risco sísmico vasta de mitigação do risco sísmico, referindo-
malização (CEN), que trata deste Eurocó- em cerca de mais uma ordem de grandeza -se, no entanto, que a presente norma in-
digo (CEN/TC 250/SC 8) tem, há longo relativamente aos edifícios de betão armado forma no seu preâmbulo que se aplica após
tempo, o seu Secretariado no LNEC. A Co- construídos ao abrigo do RSA. se estabelecer a exigência de avaliação de um
missão Técnica de Normalização do IPQ Saliente-se que as estimativas que têm vindo determinado edifício, não estando incluídas
responsável, nomeadamente, pela elabo- a ser referidas não podem ser encaradas como as condições que determinam a decisão de
ração das Normas Portuguesas (NP EN) e valores para a redução do risco sísmico da avaliação sísmica de um edifício e que even-
respetivos Anexos Nacionais, que transpõem, região, uma vez que contemplam apenas a tualmente conduziriam ao seu reforço.
para o nosso País, as Normas Europeias re- amostra dos edifícios de betão armado cons- Ainda no âmbito da reabilitação sísmica,
lativas aos Eurocódigos Estruturais, é a CT115, truídos na área da Grande Lisboa, não refle- refira-se que o LNEC e a Sociedade Portu-
cuja coordenação é assegurada pelo LNEC, tindo, portanto, a acumulação de risco devido guesa de Engenharia Sísmica têm trabalhado
na sequência da sua designação pelo IPQ, ao universo de todas as tipologias existentes. em conjunto para a definição de metodo-
no início da década de noventa, como Or- Só através da reabilitação com reforço estru- logias que simplifiquem a avaliação da se-
ganismo de Normalização Sectorial no do- tural das tipologias existentes é que se con- gurança sísmica de edifícios existentes, que
mínio dos Eurocódigos Estruturais. segue uma efetiva redução do risco sísmico se pretende complementem os procedi-
Dos vários Eurocódigos, o chamado Euro- acumulado de grandes regiões urbanas. mentos de avaliação propostos no EC8-3.
código 8 (EC8), dedicado ao dimensiona- O EC8-3 visa justamente mitigar o risco sís- Este trabalho encontra-se em fase avançada
mento sísmico de estruturas, apresenta al- mico acumulado de estruturas existentes e de desenvolvimento, esperando-se a sua
gumas novidades muito positivas relativa- corresponde a uma inovação importante divulgação no meio técnico ainda no de-
mente à regulamentação nacional em vigor. no quadro regulamentar. A reabilitação ur- correr deste ano.
E
nquanto advogado e jurista, verifico sujeitas a controlo administrativo concomi- urgente permitir a realização de inspecções
pela experiência que, ao contrário do tante. Deve assim alocar-se mais recursos nestes casos.
que acontece com as leis elaboradas humanos e materiais à fiscalização conco-
pelo Estado, a lei da gravidade e as leis da mitante de obras de edificação, de forma a 5. Aprovação de um regulamento técnico
natureza não são susceptíveis de ser violadas. que esta fiscalização não ocorra apenas relativo à segurança estrutural e sísmica
É esta insusceptibilidade de violação que após a conclusão das obras, altura em que dos edifícios – Este aspecto é crucial, con-
gerou os sorrisos e os gracejos que se se- não é fácil ou sequer possível aferir o cum- siderando a necessidade de uniformizar
guiram ao comentário de um político que primento de alguns aspectos do projecto abordagens técnicas relativas a esta matéria
defendeu que o anterior Governo havia de estabilidade. e conceder segurança, quer aos técnicos,
proibido a legionella. Estes sorrisos seriam quer aos cidadãos. A existência de um re-
repetidos caso se pretendesse proibir os 3. Regulamentação do dever de comuni- gulamento técnico deste tipo é fundamental
sismos e a queda de edifícios. cação do início de realização de operações para dar a devida relevância a esta matéria,
A intervenção legislativa no domínio da se- urbanísticas – O artigo 80.º-A do Regime quer no âmbito de edificação nova, quer no
gurança estrutural e sísmica dos edifícios Jurídico da Urbanização e da Edificação âmbito de intervenção em edificações exis-
deve ser feita, naturalmente, ao nível da pre- define que, até cinco dias antes do início da tentes.
venção, nomeadamente ao nível da funcio- execução da operação urbanística, a data
nalização das leis e regulamentos relativos de início e o responsável por essa execução Sendo certo que cada opção legislativa tem
ao urbanismo, ao ordenamento do território devem ser comunicados à câmara muni- subjacente uma ponderação de interesses,
e à construção a este específico propósito. cipal. Trata-se de uma norma que, tanto é preciso ter em consideração que, no caso
Com a reserva de abordar esta matéria sem quanto é do nosso conhecimento, tem tido em apreço, os valores que estão a ser pon-
conhecimentos específicos de Engenharia, uma quase inexistente aplicação prática, derados são, por um lado, a estruturação
mas apenas com base na experiência de mas que seria extremamente útil para mo- do mercado de promoção imobiliária e, por
jurista e de advogado que exerce a sua ac- bilizar os serviços municipais de fiscalização, outro, a vida e a integridade física dos cida-
tividade nos domínios do urbanismo, do nomeadamente nos casos de obras isentas dãos e a segurança de bens.
ordenamento do território e da construção, de controlo prévio. Neste sentido, deve re- Neste contexto, não é juridicamente defen-
penso que a intervenção legislativa no sen- gulamentar-se o disposto no referido artigo sável, sobretudo de uma perspectiva cons-
tido de garantir uma maior segurança es- 80.º-A, principalmente densificando-se os titucional, que não sejam rapidamente adop-
trutural dos edifícios e a sua maior resistência termos em que as obras isentas de controlo tadas as medidas aqui referidas: não po-
em caso de fenómenos sísmicos deveria ter prévio devem ser comunicadas à câmara dendo proibir os sismos, resta ao Estado
em atenção, entre outros, os seguintes as- municipal, ponderando inclusivamente a não se tornar culpado, por omissão de le-
pectos: imposição da apresentação de uma decla- gislação, dos danos que estes venham a
ração de inexistência de realização de obras causar.
1. A revogação do Decreto-Lei n.º 53/2014, que afectem a estrutura do edifício (quando
de 8 de Abril – Trata-se de um regime ex- for o caso).
cepcional que visou dinamizar o mercado
imobiliário e potenciar a renovação e rea- 4. Alteração do regime de inspecção de Nota: o autor escreve segundo a ortografia
bilitação urbana em zonas deprimidas e ob- operações urbanísticas desenvolvidas no anterior ao Acordo de 1990.
A
digitalização da indústria da cons- a › Desenvolvimento de um arquivo digital
trução e das infraestruturas repre- do ambiente construído, potenciando a
senta uma oportunidade única para geração de cadastros e inventários rigo-
se superar os atuais desafios da indústria, rosos, capazes de acompanhar todo o
tirando partido das boas práticas digitais já ciclo de vida de um ativo físico. Estes mo-
verificadas noutros setores, de métodos e delos de informação devem ser encarados
ferramentas de Engenharia inovadores, de segundo duas dimensões distintas, a di-
fluxos de trabalho renovados e de compe- mensão geométrica e a dimensão não-
tências tecnológicas avançadas, que per-
b -geométrica, cuja especificação deve ser
mitem transitar para um nível de desempenho definida para cada caso específico;
superior e tornar o setor da construção num › Potenciação dos modelos 3D BIM em am-
setor modernizado. bientes de realidade virtual e realidade
Numa perspetiva económica, diversos es- aumentada, quer para efeitos de partilha
tudos estimam que a oportunidade finan- do património construído, sempre que se
ceira para a digitalização dos processos de adeque, quer para efeitos de gestão da
Figura 1 a) Nuvem de pontos obtida para o
Engenharia, construção e operação situa- Palácio de Cristal e b) Modelo BIM da estrutura do
operação e manutenção do ativo físico.
-se entre 10% e 20% das despesas totais de Palácio de Cristal com identificação de anomalias
(imagens cedidas pela A400 – Projetistas e Consul-
capital num empreendimento de construção1. A par das aplicações BIM anteriormente apre-
tores de Engenharia)
Existem ainda relatórios que preveem que a sentadas, é importante referir que o BIM (e o
adoção ampla do Building Information Mo- ao projeto e obra (Figura 2), devidamente processo de digitalização inerente) apresenta
delling (BIM) venha a permitir economias da enriquecidos com a informação gerada ao mais-valias interessantes em termos organi-
ordem dos 15% a 25% no mercado global longo do ciclo de vida do empreendimento zacionais, que extravasam o contexto espe-
de infraestruturas até 20252. Ou seja, a título e preparados de acordo com os requisitos cífico da reabilitação. A implementação do
de exemplo e aplicando o limite inferior das definidos pelo cliente. Neste caso o BIM BIM é, por isso, um processo de mudança que
percentagens referidas, uma melhoria de pode ser potenciado de diversas formas e deve ser pensado estrategicamente e adap-
eficiência de 10% no projeto e obra permi- em diversos usos BIM, conforme apresen- tado às necessidades de cada entidade.
tiria gerar em Portugal economias de cerca Edifício existente Edifício existente + demolições + novas construções
de 1.000 milhões de euros.
No contexto de transformação digital e de
Figura 2 Modelo BIM
renovação das metodologias de trabalho, a para apoio a projeto
grande dinâmica em torno da reabilitação e obra, esquematizando
a intervenção
urbana cria uma janela de oportunidade Edifício existente + demolições Solução final (imagem cedida pela
muito importante para o BIM. O contexto da A400 – Projetistas
e Consultores
reabilitação urbana é especialmente interes-
de Engenharia)
sante para potenciar a revolução digital, pois
a sua complexidade e especificidade acres-
1 BCG, “Digital in Engineering and Construction: The Transformative Power of Building Information Modeling”, 2017.
2 EUBIM Handbook (www.eubim.eu), 2017; BCG, Digital in Engineering and Construction, 2016; McKinsey, Construction Productivity, 2017.
É
inquestionável a extraordinária dinâ- peculativo), o que pode ser muito interes- e só uma estratégia continuada permitirá ter
mica da reabilitação em Portugal, sante a curto prazo, do ponto de vista eco- sucesso. O risco são oscilações de mercado
sobretudo do centro histórico de nómico, mas preocupante a médio e longo que afetariam toda a cadeia de valor.
Lisboa e Porto, que num período muito mais prazo se esses custos não forem sustentá- A eficiência energética e a sustentabilidade
curto do que muitos imaginavam está a veis; d) Adoção de soluções construtivas que ambiental podem e devem ser um desígnio
transformar as cidades com um impacto não são verdadeiramente eficientes do ponto na reabilitação do Património Cultural, desde
muito positivo na economia, na criação de de vista energético, sustentáveis e que não que se definam as melhores soluções, quan-
emprego, no investimento estrangeiro, nas respeitam as características da preexistência; tificando o seu desempenho, e não estejamos
receitas municipais e na regeneração urbana. e) Qualificação dos atores da construção condicionados por opções de intervenção
Muitas das intervenções de reabilitação envolvidos, sejam projetistas, empresas de na envolvente ou na instalação de equipa-
centram-se na atividade turística, nomea- construção ou entidades de controlo de mentos que impliquem utilizar mais do que
damente o alojamento turístico e reabilitação qualidade; e f) Forma injusta como a socie- o justo necessário, sem atender à nossa rea-
do Património Cultural. dade está a remunerar os Atos de Engenharia lidade climática, económica e cultural.
O turismo cultural, crescente em Portugal, associados à reabilitação, que só podem Estamos numa fase em que a escolha e con-
é uma oportunidade que simultaneamente conduzir a não incentivar os melhores. tratação, mesmo pública, se baseiam mais
está a criar uma dinâmica muito favorável O exercício bastante generalizado de rea- em condicionantes económicas (baixo custo)
à intervenção no património edificado, mas bilitar de forma demasiado rápida deve ser do que na experiência e conhecimento téc-
que exigirá uma análise cuidada dos riscos, questionado quando tratamos de Património nico. As consequências serão inevitavelmente
inerente a intervenções demasiado rápidas Cultural, sendo a elaboração de estudos de a menor qualidade e durabilidade, pelo que
não compatíveis com a elaboração de es- diagnóstico aprofundados decisiva no pro- nos devemos questionar se o mais impor-
tudos de diagnóstico aprofundados e a in- cesso de seleção das soluções de conser- tante é o custo inicial ou o custo global que
tervenções suficientemente controladas. É vação/reabilitação a adotar. Não é possível terá de somar ao primeiro os custos das in-
crucial contribuir para a monitorização de contornar essa tendência sem conhecimento tervenções de correção das patologias du-
soluções de forma a evitar erros sucessivos. técnico-científico aprofundado, disponível rante a vida expectável da intervenção, con-
A reabilitação do Património Cultural (pú- nos centros de investigação em Portugal, sequência da má conceção ou execução.
blico ou privado) exige uma visão de futuro. embora nem sempre tenha havido a preo- Se não formos suficientemente sagazes nas
A avaliação dos riscos associada a esta di- cupação de passar esse conhecimento de nossas estratégias individuais de intervenção
nâmica positiva deve fazer-se sempre, mesmo forma organizada para a prática. e se as entidades responsáveis não tiverem
que corresponda a uma posição dissonante, O programa dos edifícios classificados ou capacidade de influenciar a forma de rea-
pois só assim será possível antever dificul- que as comunidades consideram como Pa- bilitar adequadamente o Património Cultural,
dades ou mesmo erros de atuação e se ne- trimónio Cultural não tem de ficar imutável bem como se não valorizarmos o papel es-
cessário corrigir estratégias. no tempo. O que não é de todo aceitável é sencial dos engenheiros neste processo,
Considero de crucial importância refletir procurar introduzir programas que, pela sua corremos o risco de daqui a uma década
sobre os seguintes aspetos: a) Velocidade intrusividade, destruam elementos constru- nos lamentarmos por não termos sido ca-
exigida às obras de reabilitação e conse- tivos que sejam essenciais ao funcionamento pazes de aproveitar a atual dinâmica.
Ana Pinho
Secretária de Estado da Habitação
“A reabilitação é um desígnio
nacional consensualizado”
No seu programa eleitoral, o Governo em exercício inscreveu a reabilitação como uma das suas apostas governativas.
Em entrevista à INGENIUM, a Secretária de Estado da Habitação resumiu as várias medidas e instrumentos entretanto
disponibilizados aos setores público e privado para que a reabilitação ultrapasse o edifício isolado, as fronteiras dos centros
históricos e a concentração nas cidades de Lisboa e Porto. Alargar o horizonte da sua aplicação é fundamental para que Portugal
se torne num País “reabilitado”.
Por Marta Parrado e Nuno Miguel Tomás como mesmo do ponto de vista da escala também instrumentos de apoio à escala
Fotos Paulo Neto mais urbana e territorial – na reabilitação, mais urbana por via do financiamento co-
regeneração, requalificação, revalorização munitário, em que os municípios lideraram
das nossas áreas urbanizadas, construídas, a apresentação dos projetos urbanísticos e
A reabilitação urbana foi um dos temas do não só das nossas cidades, mas também de das estratégias da reabilitação urbana a
programa deste Governo, tendo sido con- todo o sistema urbano construído. Para al- serem financiadas. E temos também a via
siderada como uma prioridade para o País. cançar este fim, dos quatro objetivos que fiscal, que teve uma sistematização, clarifi-
Que estratégias públicas têm sido tomadas foram definidos para a Nova Geração de cação e alargamento e que está já em vigor.
neste sentido? Políticas de Habitação, um é específico para Paralelamente, queria ainda dizer que a rea-
Para começar, gostaria de fazer uma dis- a questão da reabilitação, e consiste exata- bilitação entra de forma transversal em todos
tinção. De facto, a reabilitação, tanto urbana mente em passar a reabilitação de exceção os outros instrumentos da política da habi-
como de edifícios, é um aspeto central da à regra. Para cumprir este objetivo temos tação. Um exemplo: acabou de ser publi-
Nova Geração de Políticas de Habitação. vários instrumentos: uns de caráter legisla- cado o 1.º Direito, que é o Programa de
Mas queria dizer exatamente isto: são as tivo e regulamentar, e aí enquadra-se o pro- Apoio ao Acesso à Habitação, que é um
duas, porque nós acreditamos que a reabi- jeto “Reabilitar como Regra”, que teve início programa que visa apoiar financeiramente
litação urbana é muito mais do que o subs- a promoção pública de habitação para a
tantivo coletivo para reabilitar vários edifí- população mais carenciada, seja às famílias,
garantir que
cios. Da mesma maneira que um projeto de seja aos municípios, seja às entidades IPSS’s
a reabilitação, tanto
Arquitetura ou de Engenharia de vários edi- com competências neste domínio. No âm-
de edifícios como urbana,
fícios também não se traduz diretamente bito deste instrumento, nós não vedamos
passa de exceção à regra
em urbanização a fazer cidade. Há a escala soluções habitacionais, mas a reabilitação
do objeto e há a dimensão urbana que im-
no nosso País e se torna na forma é mais apoiada do que uma solução por via
plica uma série de outras dimensões para de intervenção dominante tanto da construção nova. A esta preocupação
lá da construção. Daí que, tanto a reabili- ao nível do edificado como transversal, porque consideramos que a
tação de edifícios, como a reabilitação ur- do espaço urbano reabilitação é estrutural para o nosso País,
bana, são centrais, começando desde logo acresce o apoio a soluções que tenham
na missão que está consagrada no docu- em novembro de 2017 e que visa diagnos- preocupações ao nível da sustentabilidade
mento que aprovámos a 26 de abril, que é ticar e depois apresentar propostas de ade- ambiental e acessibilidades. Portanto, mesmo
o documento de orientação estratégica da quação das normas técnicas e da nossa re- no âmbito dos instrumentos dos outros ob-
Nova Geração de Políticas de Habitação. gulamentação da construção, que esteve jetivos mais de política de habitação pura e
sempre muito voltada para a construção dura, nós encontramos forma de apoiar a
De que forma se cruza a reabilitação e as nova, às especificidades da reabilitação, dei- reabilitação de modo diferenciado.
novas medidas para a área da habitação? xando de tratar a reabilitação por via de di-
A missão desta nova estratégia tem dois pi- plomas de exceção ou temporários mas, Qual o retrato que faz do País ao nível do
lares: um deles é garantir a todos o acesso porque consideramos que a reabilitação estado de conservação do seu edificado e
a uma habitação adequada, e o segundo deve ser a regra, tratá-la de pleno direito e das suas áreas urbanas? Qual é o pano-
pilar é garantir que a reabilitação, tanto de de forma absolutamente integrada no nosso rama? Em que fase estamos em termos de
edifícios como urbana, passa de exceção à enquadramento legal e regulamentar. Mas reabilitação?
regra no nosso País e se torna na forma de para além desta via, temos outras. Bom, nós estamos muito distantes do ponto
intervenção dominante tanto ao nível do de partida. Se pensarmos que o primeiro
edificado como do espaço urbano. Na missão Em termos de incentivos financeiros, há programa de apoio à reabilitação é dos anos
são dois pilares, pelo que logo por aqui se medidas já em execução? 80, de lá até hoje as diferenças são imensas.
vê que quisemos que ficasse muito clara a Já temos um conjunto muito alargado de E são muito superiores ao que nos aperce-
aposta deste Governo – não só na requa- instrumentos de financiamento à obra, a bemos, porque a reabilitação vai-se fazendo
lificação e reabilitação do nosso edificado, que os privados poderão ter acesso. Temos peça a peça na cidade. À parte momentos
do setor da construção é imenso. Se eu rea- São áreas de tal ideia de projeto de Arquitetura. Estarmos
bilitar um edifício, na aceção total do termo, maneira importantes juntos desde o primeiro momento é funda-
poupo materiais, porque estou a reutilizar e interdependentes que, mental. A relação deve ser de profunda
materiais, se eu reutilizar o solo e demolir o cumplicidade para que se consiga o melhor
tanto na reabilitação, como
edifício anterior, os ganhos ambientais são da obra, para que se consiga a melhor obra
na construção nova, deveríamos
muito reduzidos face à primeira situação. possível.
trabalhar juntos desde o primeiro
Por isso tentamos também incentivar a que
momento, desde o estudo prévio.
a mais-valia ambiental que pode existir na Como analisa o papel que a OE pode de-
preservação do património construído seja Sempre foi a minha profunda senvolver nesta área da reabilitação?
maximizada. convicção que só se faz boa Do meu ponto de vista, que sempre fui li-
Arquitetura com boa Engenharia gada à investigação científica e à docência,
Como é que os proprietários têm reagido apoiar a formação, a qualificação, é algo
a esta área da reabilitação? Têm apresen- com os municípios de todo o País, a ir aos essencial. É um trabalho essencial que temos
tado candidaturas? Qual é a dinâmica que territórios mais profundos, e a verdade é de fazer, tanto do ponto de vista da Arqui-
está instalada na população? que a premência, a necessidade e a vontade tetura, como da Engenharia, e mesmo no
O IFFRU, por exemplo, que é o instrumento de incentivar a reabilitação é uma constante próprio setor da construção. Nós aí ainda
mais potente que temos para a reabilitação em todas as autarquias onde estivemos. Um temos carências e necessidades. Reabilitar
desde sempre, chegou aos balcões dos dos instrumentos que temos é o Fundo Na- um edifício de arquitetura de terra, de es-
bancos em novembro e neste momento es- cional de Reabilitação do Edificado, que vai trutura de madeira, de alvenaria e de ma-
tamos já com um valor de mais de 75 mi- permitir às autarquias, IPSS’s e às próprias deira, ou seja, misto, são coisas muito dife-
lhões de euros de contratos assinados. Estão instituições do Estado Central reabilitarem rentes. Parte grande dos nossos profissionais
neste momento mais de 80 projetos a ser o seu próprio património, colocando-o no não teve uma formação sólida neste do-
analisados, o que corresponde a mais de 250 mercado para arrendamento acessível. Estas mínio. Acredito que uma das razões, não
milhões de euros de investimento. Não deixa entidades fazem-no sem recurso a meios sendo a única, claro, pelas quais se está a
de ser surpreendente, porque, normalmente, próprios ou a empréstimos, logo não há fazer obras de menos qualidade e desne-
demora-se a saber que as coisas estão no aumentos de endividamentos de entidades cessário intervencionismo em edifícios, no
terreno e, de facto, num momento de ar- públicas. A adesão tem sido muito grande, sentido de demolir o seu interior substi-
ranque, que teoricamente é sempre mais temos municípios que depois da sessão da tuindo-o às vezes por sistemas construtivos
lento, em que as pessoas ainda não sabem manhã, à hora de almoço já nos chegam que não sendo descartáveis não são muito
se funciona, esta medida está a superar as com informação técnica sobre possibili- mais que isso, não aproveitando ao máximo
nossas expectativas de execução para este dades de edifícios para integrar; estejamos o que temos já construído, deriva da difi-
meio ano. Estamos a ter uma adesão muito nós nos municípios mais despovoados ou culdade de saber, por exemplo, avaliar qual
grande da parte dos proprietários e penso nos municípios com maior pressão demo- é a resistência real daquela estrutura. E como
que é uma tendência que irá continuar. gráfica e de mercado. esse conhecimento não é tão simples…
A reabilitação está ainda bastante centrada A Arquitetura e a Engenharia são comple- Mas nesses casos o custo da intervenção
nos grandes polos do País. Qual tem sido mentares nesta área. Como vê a articulação não será o fator determinante?
o comportamento ou a reação das autar- destas duas áreas do conhecimento neste A lei só permite, não obriga que não se re-
quias nos outros territórios? setor da reabilitação? force estruturalmente. Por outro lado, nada
As autarquias estão desejosas da reabilitação. Vou ser honesta: não vejo de forma muito me diz que a obra vai ser mais barata. Se eu
Neste momento estamos a fazer um roteiro diferente da construção nova. São áreas de souber avaliar a resistência daquela estru-
pelo País, apresentando dois instrumentos tal maneira importantes e interdependentes tura e ela estiver boa, por que é que a outra
que estão já disponíveis, mais orientados que, tanto na reabilitação, como na cons- obra sai mais barata? Não é líquido. Haverá
para a oferta pública e do terceiro setor, ou trução nova, deveríamos trabalhar juntos todos os tipos de casos, mas uma coisa é
seja, entidades públicas e IPSS’s, na pro- desde o primeiro momento, desde o estudo certa: quando nós temos um objeto que
moção de habitação, seja para as famílias prévio. Sempre foi a minha profunda con- não dominamos ou que não temos a segu-
mais carenciadas, seja habitação para ar- vicção que só se faz boa Arquitetura com rança para dominar, nós vamos jogar pelo
rendamento a custos acessíveis para aquela boa Engenharia. O projeto de Arquitetura seguro e isto é um obstáculo à manutenção.
classe de famílias de rendimentos intermé- inicia-se com o estudo prévio e sempre fui Se haveria área que eu continuaria a achar
dios mas que neste momento tem dificul- da opinião que a equipa de Arquitetura e a que é uma área de aposta, não só da OE,
dade em alguns territórios em aceder ao equipa de Engenharia Civil deviam trabalhar mas também da Ordem dos Arquitectos,
mercado de habitação sem entrar em so- juntas desde o primeiro momento e acho das instituições de Ensino Superior, dos pró-
brecarga de custos no seu orçamento. Nestas que isso se coloca para qualquer projeto de prios laboratórios do Estado, dos centros
últimas três semanas temos estado a fazer intervenção no edificado. Ainda assim há de investigação, é esta questão de dar uma
a divulgação destes instrumentos de norte uma diferença: na reabilitação o diagnós- formação muito sólida aos nossos técnicos
a sul do País, também iremos agora às ilhas. tico já tem de envolver Engenharia. Na rea- no que é a reabilitação, porque ainda temos
Estamos a ter um contacto muito próximo bilitação o primeiro passo é prévio à primeira falhas nesse domínio.
Engenharia Civil,
Instituto Superior Técnico (IST), 1971.
Especialista de Edifícios,
Laboratório Nacional de Engenharia
Civil (LNEC), 1981.
Investigador Coordenador em
Reabilitação de Edifícios, LNEC, 1991.
João Appleton
e Transportes, 1997-2007.
“A reabilitação é o futuro”
Projetista de inúmeras obras novas e de restauro, conservação e reabilitação de património, João Appleton carrega no seu
currículo mais de 500 publicações técnicas relacionadas com esta área. Para o ex-Conselheiro Superior de Obras Públicas, a
reabilitação urbana constitui hoje uma “inevitabilidade nacional”, uma espécie de caminho sem retorno se quisermos que o
País garanta o futuro do seu património edificado, da sua história e da sua memória e cultura coletivas. Mas para isso é preciso
saber reabilitar, algo que nem sempre tem sido bem perseguido pelos diversos intervenientes no processo. Deixando fortes
críticas ao polémico Decreto-lei n.º 53/2014, o Especialista em Estruturas e Reforço Sísmico avisa que estamos a colocar em
risco a segurança das populações e apela à criação, urgente, de um regulamento técnico, único e específico, com regras bem
definidas, para a reabilitação urbana.
Por Nuno Miguel Tomás tórico/cultural. Estamos perante um de- ticamente desapareceu tal como o enten-
Fotos Paulo Neto sígnio nacional? demos durante muitos anos. A construção
A reabilitação urbana é mais do que um de- nova sofreu um embate fortíssimo na se-
O setor da construção e do imobiliário é sígnio nacional, é uma inevitabilidade na- quência da crise do subprime, que deu origem
hoje muito diferente daquele que conhe- cional. Transformou-se numa inevitabilidade a uma crise europeia e internacional de
cíamos até há bem pouco tempo. Certas durante e após a grande crise da construção enormes dimensões, e que se sentiu cá de
zonas do País, nomeadamente os centros que, a partir de 2007/2008, basicamente, uma forma muito intensa também. E depois,
históricos das maiores vilas e cidades, con- levou à destruição do nosso setor tradicional com a austeridade económico-financeira
figuram, neste momento, um “estaleiro a da construção. Ainda hoje verificamos que que se seguiu à intervenção europeia e in-
céu aberto”. Falamos, sobretudo, de rea- o que conhecíamos como tecido clássico ternacional em Portugal, a partir do final de
bilitação de edificado e de património his- da construção, das grandes empresas, pra- 2011, houve um recuo brutal no investimento
em obra pública que levou a uma sucessiva O mercado imobiliário que se cria para a nova realidade deve
e constante queda de um grande número está a ditar as regras adaptar-se ao existente. O que acontece
de empresas e à destruição do setor da cons- de forma, por vezes, em muitos casos é obrigar-se a construção
trução tal como o conhecíamos. Se entrás- um pouco excessiva, para não existente a adaptar-se ao programa que se
semos em Portugal, no máximo, há uma dizer “selvagem”, e os técnicos faz e isso leva à destruição de muitos va-
dúzia de anos, e hoje voltássemos a Portugal, lores patrimoniais que estão no todo que é
e os próprios cidadãos não
ficaríamos surpreendidos porque provavel- a construção existente, particularmente os
parecem estar suficientemente
mente víamos um número semelhante de edifícios. Isto a par de uma realidade que
atentos a essa realidade
obras em curso só que as obras assumem devemos perceber, sentir e tentar corrigir
hoje um caráter e um aspeto completamente que é a de haver, ainda, uma preparação e
diferentes. da construção sustentável? Estas tendên- uma sensibilidade deficientes, quer da parte
cias, com as novas ferramentas disponíveis dos promotores, quer da parte dos proje-
O que é que aconteceu nesse intervalo? no mercado, são consideradas no projeto tistas, arquitetos e engenheiros. Durante
A reabilitação urbana assumiu-se como uma técnico? muitos anos a reabilitação e a ausência de
espécie de tábua de salvação. Fez com que A reabilitação não se opõe a nada disso, preocupação em olhar para o património
algumas empresas tradicionais conseguissem nem à cidade inteligente, nem à cidade sus- arquitetónico de uma forma global, não para
sobreviver e, por outro lado, deu origem à tentável, pelo contrário. A reabilitação é, em o património visto de forma restrita como
criação de novas empresas de substituição, si mesma, um caminho fundamental para a património monumental, designadamente
que recriaram o setor. Hoje em dia, o que sustentabilidade. incorporando os centros mais antigos das
verificamos é que há um decréscimo muito cidades, fez com que desde o início da for-
acentuado, as estatísticas demonstram isso, Mas acarreta desafios muito próprios e es- mação se desse pouca importância a esta
da construção nova e há uma importância pecíficos… problemática de perceber qual o real valor
relativa cada vez maior da reabilitação ur- E a alguns deles nós não sabemos ainda do património.
bana, tanto na edificação propriamente dita, responder muito bem, enquanto País, en-
nos edifícios, como nas infraestruturas e nos quanto cidadãos, enquanto técnicos. Ainda Como se deve olhar para o património?
espaços públicos. Verificamos, por exemplo, se pensa e faz má reabilitação, com base Pelo lado da História, pelo lado da Arquite-
que as câmaras municipais têm tido um for- em pressupostos errados. Reabilitar é pegar tura, pelo lado da Arte e das Artes Decora-
tíssimo investimento na reabilitação dos es- numa construção existente e torná-la apta tivas e pelo lado das Engenharias e da Cons-
paços públicos, com medidas de incentivo para responder, com a capacidade suficiente, trução. Essa circunstância levou a um grande
à própria reabilitação urbana. Temos os casos aos novos desafios que se colocam, a exi- desfasamento na formação dos técnicos, a
de Lisboa e Porto, em que essa intervenção gências acrescidas, impostas por novas todos os níveis, desde a mão-de-obra da
pública, no espaço público, é uma razão de formas de viver e de usar as construções, construção até aos projetistas, construtores,
atratividade para o turismo, para os cidadãos sem se perder a identidade das edificações diretores de obra, fiscais, entre outros, que
das zonas que são intervencionadas, e isso existentes, mas construindo uma nova iden- se prepararam afincadamente para saber
motiva o interesse que depois é manifes- tidade. fazer construção nova e que tendencial-
tado pelos investidores imobiliários na re- mente, em muitos casos de reabilitação,
cuperação do edificado. Temos hoje, de O mercado imobiliário é que está a ditar aplicam metodologias próprias da cons-
facto, uma situação completamente nova as regras… trução nova, cometendo erros básicos que
que é a da passagem da reabilitação urbana O mercado imobiliário está a ditar as regras advêm da falta de formação e de informação.
de uma atividade contínua, permanente, de forma, por vezes, um pouco excessiva,
que já vem do final dos anos oitenta – sempre para não dizer “selvagem”, e os técnicos e Do ponto de vista do negócio e da gestão
houve reabilitação, mas com maior expressão os próprios cidadãos não parecem estar su- do negócio, esses são os grandes desafios
a partir do final dos anos oitenta, e que agora ficientemente atentos a essa realidade. Em e exigências que a Engenharia enfrenta?
tomou conta do setor da construção, visível muitos casos aquilo que se promove e se A reabilitação coloca muito mais exigências
nas cidades da generalidade do País. Final- faz são formas de reabilitação que se afastam do ponto de vista da Engenharia. Na cons-
mente descobriu-se que os PDM’s ambi- do próprio conceito de reabilitação e se trução nova todo o modelo de negócio as-
ciosos para construção nova faziam pouco aproximam de um conceito de reconstrução, senta num objeto que se define com base
sentido e que construir muito, de novo, sig- com uma aparência de “reabilitação facha- nas leis e nas regras que estão criadas a nível
nificava abandonar cada vez mais o exis- dista”, isto é, mantém-se a aparência do que nacional e dos municípios, mas com muito
tente e o melhor que tínhamos, que eram, existe mas, na verdade, faz-se quase tudo poucas restrições. O objeto pode ser pen-
precisamente, os centros urbanos mais an- de novo e isso não é reabilitação, isso é o sado com grande largueza de espírito e o
tigos, construídos nas melhores zonas das limite, é o extremo, que é razoável e admis- negócio é um modelo pouco restringido.
cidades. sível em determinadas circunstâncias, mas Para um determinado terreno sabe-se qual
não deve ser a regra. é o volume e quais são as áreas que se
De que tipo de intervenção estamos a falar, podem construir. Os arquitetos definem o
sobretudo quando hoje começamos a en- Qual deve então ser a regra? desenho e interpretam o que entendem ser
trar no domínio das cidades inteligentes e A regra da reabilitação é que o programa o programa do cliente para a ocupação da-
quele espaço vazio, colocam no papel o blemas para resolver. A questão sísmica é
que pensam ser a sua visão da estética para uma questão de Engenharia, pura e dura,
aquela construção e o modelo de negócio de Engenharia Civil, de Engenharia de Es-
passa, simplesmente, por uma aplicação di- truturas. É uma questão que os engenheiros
reta de algoritmos… Os valores são relati- de estruturas devem saber resolver, em casos
vamente simples de fixar, porque há poucas mais complexos, se necessário, com o apoio
variáveis indeterminadas, e o modelo é es- de especialistas em Engenharia Sísmica, mas
tabelecido em função daquilo que se en- que, em princípio, devem eles próprios saber
tenderem ser os níveis de mais-valias a obter resolver. Ora, os engenheiros portugueses
no negócio. estão habituados a trabalhar sob a orien-
tação de regulamentos…
E esse modelo é replicável. Já na reabili-
tação as especificidades do objeto condi- Em Portugal, os regulamentos são de apli-
cionam a gestão do negócio… cação obrigatória…
Tem de se atuar de uma forma muito espe- São decretos-lei de aplicação obrigatória e
cífica porque o objeto principal já existe. O fomos dos primeiros países a ter regula-
dono de obra adquire um edifício, ou uma mentos de aplicação obrigatória. Em muitos
outra construção qualquer, que está naquele países os regulamentos são normas, não
sítio, com aquela área, com aquele volume são de aplicação obrigatória, mas em Por-
e está fortemente restringido pelas regras tugal os regulamentos são transpostos para
municipais em termos do que lá se pode a nossa ordem jurídica como decretos-lei.
fazer. Nos centros antigos, por exemplo, há O problema é que não há nenhum regula-
fortes restrições ao que se pode fazer. Por mento específico para reabilitação. E muitos
outro lado, essa construção está num deter- Isso configura mais um conjunto de pontos engenheiros só se sentem confortáveis se
minado estado de conservação ou de obso- de interrogação porque, mesmo com uma pensarem a Engenharia a partir dos regula-
lescência, que é aquele e não outro, e que observação aturada, sabemos que durante mentos. Esquecem-se de pensar a Enge-
tem de ser avaliado previamente, a nível de a obra de reabilitação vai surgir uma quan- nharia a partir das Ciências da Engenharia
segurança estrutural, riscos de incêndio, uso, tidade de surpresas. Essas surpresas têm que e gostam muito de pensar a Engenharia a
revestimentos, salubridade, isolamentos tér- ter cabimento no modelo de negócio. A partir da aplicação dos regulamentos. Mas
mico e acústico, apresentando uma série de obra pode ficar mais cara ou mais barata a Engenharia é muito mais que isso. Os re-
situações em que está obsoleto em relação porque aquilo que foi o cenário traçado gulamentos são a transposição para o papel
ao que se pretende. Mas é aquele edifício e quando se fez o projeto pode não se veri- daquilo que se considera serem conheci-
não outro! Quando o dono de obra pretende ficar na obra. Normalmente, na obra, a si- mentos estabilizados, fixos, que devem ser
instalar um determinado programa fá-lo ali tuação é pior do que aquilo que se imaginou do domínio comum e constituem conjuntos
e não num terreno vazio. Está, portanto, al- em fase de projeto, porque nessa altura não de regras que, se aplicadas, não carecem
tamente restringido! Por outro lado, quando é possível ter o edifício “nu”, para se ver o de demonstração. Mas na verdade os regu-
se está a atuar sobre um edifício existente, que ele é. Há uma quantidade de indeter- lamentos baseiam-se nas Ciências da En-
designadamente numa zona urbana antiga, minações que torna difícil garantir que a genharia e nada impede que um engenheiro,
está-se num “terreno minado”, porque é uma avaliação que se fez em fase de estudo e na ausência de um regulamento, procure
zona que já foi objeto, uma ou várias vezes, projeto é garantidamente fiável e que não os caminhos para fazer os seus projetos.
de intervenções ao longo da História, com vão existir surpresas que invalidem os cál- Não temos nenhum regulamento sobre es-
um risco enorme a tudo o que diga respeito culos que foram feitos quando se estabe- truturas de madeira e no entanto temos es-
a mexer no subsolo, porque há Arqueologia. leceu o modelo de negócio. Sabemos que, truturas de madeira em grande quantidade.
quase sempre, a previsão do dono de obra Não temos regulamentos sobre estruturas
Que pontos de interrogação coloca isso para o custo da construção vem furada pelas de alvenaria ou sobre estruturas mistas de
no modelo de negócio? surpresas que a própria obra arrasta, mesmo aço-betão…
Quanto vai custar, em dinheiro, a escavação que ele tenha feito um contrato de cons-
arqueológica? O que fazer se se encontrar trução completamente fechado. Como proceder nessas circunstâncias?
alguma coisa valiosa? Se for autorizado vai Ou consultamos regulamentos internacio-
integrar-se na construção? Vai musealizar- É consensual que, mais dia, menos dia, se- nais, e fazemos a sua leitura de forma inte-
-se, com mais-valias ou com menos-valias? remos atingidos por um grande sismo. Tem ligente, ou então vamos pelas Ciências da
Vai desmontar-se? Vamos esconder? feito esse alerta de forma consistente nos Engenharia e fazemos um conjunto de ve-
últimos anos. Estamos preparados, do ponto rificações que nos permitem dimensionar e
Acresce a isso o conhecimento/desconhe- de vista da resistência do edificado, para verificar as condições de segurança de uma
cimento que se tem sobre o estado de con- um evento desta natureza? estrutura. Isso sempre se fez! Nada nos im-
servação do edifício existente, propriamente Não estamos preparados e esse é um pro- pede de ultrapassar essa lacuna, mas a ver-
dito. blema da reabilitação. Temos vários pro- dade é que muitos engenheiros não são
À medida que se vai permite uma discriminação terrível entre As câmaras municipais afirmam que o re-
reabilitando, com hotéis, edifícios. Imaginemos três edifícios iguais, forço sísmico está a ser tido em conta. Em
com alojamentos locais, ao lado uns dos outros, na mesma rua: um que ficamos? Quem fiscaliza e garante o
com arrendamentos intervencionado antes de 2014, outro após quê?
para habitação, escritórios e 2014 e o outro após 2021. Esses três edifí- O reforço sísmico não está a ser feito! Aqui,
cios são intervencionados com critérios to- na A2P, trabalhamos muito em reabilitação
comércio, os edifícios enchem-se.
talmente diferentes e vão para o mercado, e não fazemos nenhum projeto que não
Se não se fizer nada,
possivelmente, pelo mesmo valor. tenha reabilitação sísmica, quer nos peçam,
a vulnerabilidade sísmica
quer não peçam. Impomos, como regra de
é a mesma mas o risco sísmico
Porque não se avança, por decisão política, atuação! Avaliamos o nível a que podemos
aumenta brutalmente
para uma certificação obrigatória do ponto chegar e colocamos a questão perante o
de vista estrutural e sísmico do edificado, dono de obra. Em cada caso analisado ve-
capazes de o fazer porque não estão habi- à semelhança do que acontece, por exemplo, rificamos essa questão. Em alguns casos
tuados a trabalhar fora do âmbito regula- com a certificação energética? cumprimos o Eurocódigo 8, noutros casos
mentar. A razão deve ser a mesma que levou a não conseguimos, informamos qual é o nível
aprovar esse regime transitório sem ter nada a que podemos chegar e garantimos que
Em termos de Engenharia, nomeadamente a contemplar a intervenção estrutural. os edifícios onde fazemos as nossas inter-
nas questões técnicas e regulamentares a venções têm reforço sísmico. Se o dono de
ela associadas, o que deve ser feito já, se Pressão imobiliária? obra não quiser fazer, nós rasgamos o con-
ainda não o foi, para minimizar os efeitos A pressão imobiliária de certos grupos, muito trato ou não o fazemos sequer. Mas sabemos
de um potencial evento sísmico? poderosos enquanto donos de obra, en- de inúmeros casos em que esse reforço
Já há uns anos, na anterior legislatura, foi quanto proprietários, que não estavam in- sísmico não é projetado. E sabemo-lo porque
entregue na Assembleia da República um teressados em ver isso ser aprovado… em alguns casos vêm pedir-nos alternativas
trabalho produzido pela Sociedade Portu- a projetos em que esse reforço sísmico não
guesa de Engenharia Sísmica, no qual eu O Estado, enquanto dono de muitas obras foi feito. Nada!
próprio também colaborei, que consistia em e de um imenso património histórico/cul-
definir um conjunto de regras para tornar tural/coletivo, está sensibilizado para estas Qual o custo associado a uma intervenção
obrigatória a verificação da vulnerabilidade questões ou acaba por ser “cúmplice” das que preveja esta componente de reabili-
sísmica do edificado existente, quando se más-práticas que refere? tação sísmica da estrutura? Que percen-
operavam nesse edificado intervenções de O Estado e as autarquias são grandes donos tagem acresce ao custo final da obra?
reabilitação, no sentido de ver em que nível, de obra e não estavam interessados, apa- Isso é um preconceito, porque, na verdade,
relativamente ao ideal, um edifício se en- rentemente, de um dia para o outro, em ver a reabilitação sísmica, em obras de grande
contrava. Esse texto, com as recomenda- esse princípio consagrado. intervenção, tem um peso extremamente
ções, foi metido na prateleira e não foi pu- diminuto. Numa intervenção num edifício
blicado... Estamos a colocar em risco a segurança existente, imaginemos que custa 1.200 euros
das populações? por m2, a intervenção sísmica pode custar
Em 2014 foi publicado o Decreto-lei n.º 53. Completamente e com a agravante – que 50/100 euros a mais ou pode não custar
Este regime excecional e temporário, apli- muitas pessoas nem consideram – de, com nada porque esse edifício carece de reforço
cável à reabilitação de edifícios, introduziu a reabilitação, estarmos a aumentar de forma para cargas verticais, o que, em muitos casos,
detalhadamente a permissão de, durante brutal o risco sísmico… Quando tínhamos é suficiente para garantir o reforço sísmico.
um período de sete anos e para interven- o centro de Lisboa abandonado, se hou- Se pensar que o custo da obra hoje, em
ções de reabilitação em edifícios com mais vesse um sismo, caíam os prédios e mor- Lisboa, é cerca de 1/10 do valor final de
de 30 anos, não serem cumpridas algumas riam meia dúzia de moradores que viviam transação do imobiliário, estamos a falar de
das disposições regulamentares aplicáveis no último andar. A catástrofe seria enorme percentagens inferiores a 1% do valor do
a edifícios novos. Que análise faz a este do ponto de vista do património. Em termos empreendimento depois de reabilitado.
diploma? de perdas de vidas e de bens seria mode-
O que esse diploma diz, em relação às es- rada. À medida que se vai reabilitando, com O ano passado foi publicada pelo Instituto
truturas e particularmente à resistência sís- hotéis, com alojamentos locais, com arren- Português da Qualidade a “Norma Portu-
mica, é que não se pode piorar, mesmo que damentos para habitação, escritórios e co- guesa NP EN1998-3” designada “Eurocó-
o edifício esteja com uma resistência de mércio, os edifícios enchem-se. Se não se digo 8: Projeto de Estruturas para Resis-
10%, ou 5%, ou 1%, como acontece em al- fizer nada, a vulnerabilidade sísmica é a tência aos Sismos – Parte 3: Avaliação e
guns edifícios que não têm sequer 1% da mesma mas o risco sísmico aumenta bru- Reabilitação de Edifícios”, com o respetivo
resistência sísmica que deviam ter! talmente. Isto seria suficiente para alertar Anexo Nacional e transpondo a correspon-
para essa necessidade. Se aumenta o risco dente Norma Europeia. A publicação da
Defende a revogação do Decreto? sísmico como é possível não reduzir pro- Norma não lhe confere caráter obrigatório
Um diploma transitório, que vale por sete porcionalmente, pelo menos, a vulnerabi- mas deixa antecipar que é este o caminho.
anos, constitui um perigo enorme porque lidade? Constituiria, do ponto de vista técnico, um
Estudo de Caso
O
Jardim Botânico de Coimbra é um espaço turas existentes e a implementação de soluções
de grande importância para a cidade de técnicas adequadas ao desenvolvimento das plantas
Coimbra, dada a ligação à Universidade e e ao uso do espaço, nomeadamente para a reali-
ao facto de ocupar um espaço predominante que zação de visitas. Estas condições implicaram novos
relaciona a Alta e a Baixa de Coimbra (centro his- meios de sombreamento e de ventilação, a garantia
tórico). Desde 2013 que estes espaços foram inte- Miguel Neto de níveis higrométricos e de humidade adequados
grados na lista de Património Mundial da Humani- Engenheiro Civil e a acessibilidade ao edifício e dentro deste.
dade pela UNESCO. Diretor de Obra As intervenções levadas a cabo assentam na utilização
da Tecnorém, S.A.
Historicamente, este tipo de espaços surgiu no final racional dos materiais, na ótica da sustentabilidade e
do século XVI nas regiões do norte da Europa. Em na qualidade da intervenção, enquadrada no inegável
Portugal, as estufas do Jardim Botânico de Coimbra valor patrimonial das Estufas, sem afetar a estrutura
foram as primeiras, surgindo no século XIX aquando original. No seguimento dos princípios enumerados,
da vulgarização da arquitetura do ferro e da sua destacam-se os seguintes pontos como os principais
aplicação a equipamentos públicos. desafios da Tecnorém – Engenharia e Construções
As características excecionais deste edifício, cons- S.A., durante a execução da empreitada: decapagem,
Carlos Batista
tituído por estruturas ligeiras e transparentes, fizeram reparação e pintura da estrutura; aplicação de novos
Engenheiro Civil
com que a sua reabilitação promovesse e divulgasse Presidente do Conselho vidros transparentes; reboco dos paramentos inte-
o próprio Jardim Botânico, a Universidade e a cidade da Administração riores e exteriores; conservação e restauro da pedra
da Tecnorém, S.A.
de Coimbra, propiciando não só um espaço para de Bordalo, compatibilização da componente elétrica
albergar espécies, mas também um edifício-museu, e tecnológica com o edifício existente.
que funciona pela sua própria história e posição.
A metodologia e critérios de intervenção utilizados Decapagem, reparação
no projeto de reabilitação das Estufas baseiam-se e pintura da estrutura
na releitura do lugar da intervenção, mantendo a
integridade do conjunto, na sua coerência formal, Primeiramente foram removidos os vidros existentes
compositiva e construtiva. A intervenção levada a e transportados para devida reciclagem. De seguida
cabo envolveu o restauro, a recuperação das estru- procedeu-se à limpeza e decapagem da estrutura
da Estufa com recurso a jato de água, removendo os restos de tinta, Aplicação de vidros transparentes
massa de vidraceiro e lixo acumulado na estrutura.
Durante este processo verificou-se a existência de vários elementos Uma das medidas de maior impacto na reabilitação da Estufa con-
estruturais danificados e corroídos, nomeadamente placas de li- sistiu na substituição dos vidros simples existentes por vidros lami-
gação dos diversos perfis e tirantes, parafusos, porcas, alguns ele- nados com capa térmica, cumprindo com os requisitos de segu-
mentos decorativos e as caleiras exteriores. Efetuaram-se ações de rança legalmente exigíveis.
manutenção sobre estes elementos com vista à reposição de con- Para esta atividade, foi necessário um trabalho de preparação muito
dições de estabilidade. Todos os elementos danificados que colo- minucioso, de modo a garantir que se cumpra a traça original da
cavam em causa a estabilidade da Estufa foram trocados por novos, Estufa. Nesse sentido, foi necessário numerar todos os vidros a co-
respeitando as dimensões da peça original. locar, organizá-los por setores e recorrer a moldes para garantir
que eram iguais aos existentes. Na obra foram traçados cerca de
5.000 vidros.
Durante a colocação dos vidros na cobertura da Estufa foram ne-
cessários alguns cuidados adicionais. Nomeadamente na sua mon-
tagem, dado que os vidros revelaram ter um papel importante no
travamento do movimento horizontal das varas da Estufa, acabando
por representar um elemento fundamental para a estabilidade es-
trutural desta. Numa primeira fase foi necessário desempenar varas,
que acabaram por sofrer algumas deformações quando foram re-
movidos os vidros antigos.
Terminado este procedimento, foi estudada a melhor forma de
aplicação dos vidros na cobertura, tendo sido tomada a decisão da
colocação em simultâneo nas duas águas. Desta forma, foi garan-
tida uma distribuição igual do peso por ambas, impedindo a expo-
Figura 1 Pormenor das placas de ligação desenvolvidas
sição a um esforço extra de uma das partes, facto que poderia cul-
Tal como previsto em projeto, foi possível manter as características minar na instabilidade da Estufa.
da estrutura, assumindo a sobrecarga do novo vidro sem adicionar
qualquer elemento de reforço. No entanto, foi necessário aumentar
tensão em alguns tirantes da cobertura da Estufa, através do aperto
das peças que os ligavam, uma vez que ganharam folga com o
alívio da carga existente, com a remoção dos vidros.
Após a limpeza da estrutura, verificou-se que o ferro fundido desta
estava revestido com uma película de cor negra, que a protegia dos
elementos exteriores e evitava a sua corrosão. Perante tal situação,
verificou-se a necessidade de recorrer a alguns ensaios de laboratório
com o intuito de desvendar de que revestimento se tratava e qual a
sua composição química. No entanto, os resultados obtidos não foram
Figura 3 Pormenores da colocação dos vidros na cobertura da Estufa
conclusivos e foi necessário experimentar, em obra, diversos esquemas
de pintura para validar qual revelava melhor adesão ao suporte exis- Outra preocupação na montagem dos vidros foi a escolha do sili-
tente. Optou-se por aplicar duas demãos de primário epóxi e duas cone/selante. Toda a estrutura está exposta às condições atmos-
demãos de uma tinta acrílica de alta densidade com acabamento féricas e, por isso, sujeita a grandes variações de temperatura. Estas
meio brilho, cumprindo com os requisitos definidos no Projeto de variações provocam contrações e dilatações na estrutura em ferro
Arquitetura do Gabinete do Arquiteto João Mendes Ribeiro. fundido. Para conseguir acompanhar estes movimentos estruturais
recorreu-se a um selante de elevado desempenho, que permite
fazer uma colagem estrutural dos vidros, e com um coeficiente de
flexibilidade elevado. Ao absorver as movimentações da estrutura,
este selante evita, por um lado, que os vidros fiquem soltos e caiam
e, por outro lado, que ocorram infiltrações de água na Estufa.
Com o intuito de manter a traça inicial da Estufa, foi colocada massa
de vidraceiro no perímetro de todos os vidros. Para além de cons-
tituir um reforço ao sistema de fixação, serviu também como uma
barreira extra à entrada de água no edifício.
Por forma a eliminar o processo de caiação dos vidros, procedi-
mento usado como meio de controlo da temperatura e luminosi-
dade dentro da Estufa, tornou-se necessário instalar um sistema
de sombreamento. Este é composto por um conjunto de telas
Figura 2 Reabilitação da estrutura da Estufa translúcidas, de enrolar, guiadas por cabos de aço e nylon, espe-
cialmente desenvolvido para não interferir com a esbelteza da es- Para operacionalização do ambiente dentro da Estufa, recorrendo
trutura da Estufa. Uma das preocupações deste trabalho foi disfarçar ao menor número de operadores possível, foi instalado um sistema
as peças de fixação deste sistema de modo a tornarem-se desper- de monitorização dos vários parâmetros, de controlo automático
cebidas e perfeitamente enquadradas na estrutura existente. e gestão centralizada. O sistema de monitorização inclui ainda o
controlo das telas de sombreamento instaladas e das janelas bas-
Reboco dos paramentos interiores e exteriores culantes. O sistema desenvolvido permite que a Estufa adote com-
portamentos característicos das diferentes estações do ano, à se-
O revestimento dos paramentos interiores e exteriores das paredes melhança do que acontecia originalmente.
foi restaurado através da remoção da camada de esboço, limpeza Quanto às instalações elétricas, foram instaladas esteiras ocultas
dos suportes e posterior reconstituição com massa de esboço de sobre os rolos das telas de sombreamento, para passagem de cabos.
areia fina, cal e pigmento de ocre incorporado, que conferiu um As luminárias nas três alas são pontuais e suspensas na zona cen-
acabamento final, possibilitando prescindir da aplicação de pintura. tral. Em complemento foram colocadas linhas de LED’s contínuas,
A dificuldade deste trabalho incidiu na definição da fórmula da ar- ocultas sob as bancadas ao longo das paredes longitudinais exte-
gamassa a aplicar, garantindo o acabamento e a cor pretendida, riores. Foram ainda colocadas tomadas na periferia dos espaços,
conforme indicações do arquiteto responsável pelo projeto. Assim, permitindo a ligação de diversos equipamentos quando necessário.
foram ensaiadas diversas amostras variando a percentagem de pig-
mento ocre e de cal, e recorrendo a diferentes areias.
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Colégios
Especializações HORIZONTAIS
Especialização em
Civil
Colégio Nacional de Especialização em
Engenharia Direção e Gestão da Construção
Comunicamos, com pesar, o falecimento do Das mais recentes, destacam-se o MAAT, Mu-
colega Manuel João de Matos Silva Alves Ri- seu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, para a
beiro no passado dia 25 de dezembro de Fundação EDP, e o Terminal de Cruzeiros de
2017. Lisboa, mas também o Campus Universitário
Nascido em 14 de dezembro de 1961, enge- de Carcavelos para a Universidade Nova de
nheiro civil, licenciado pelo Instituto Superior Lisboa, obra ainda em curso.
Técnico, do curso de 1980-1985, era membro Em 1999 foi nomeado administrador da
da Ordem dos Engenheiros e Especialista em construtora e em 2006 assumiu a Presi-
Direção e Gestão da Construção. dência da mesma.
Neto do fundador da empresa construtora Ao longo do seu percurso dinâmico e em-
Alves Ribeiro, S.A., a segunda mais antiga preendedor destacam-se a internacionali-
em atividade, foi desde novo iniciado pelo zação da empresa, primeiro para Angola,
avô, Artur Alves Ribeiro, e pelo seu pai, Vitor depois para o Brasil e, mais recentemente,
Alves Ribeiro, também engenheiro, no con- para o Paraguai.
tacto com o mundo da construção e dos Paralelamente, preocupado com o futuro
empreendimentos do grupo de empresas politano de Lisboa e outras grandes obras das gerações e em especial com a educação,
da família. de construção civil e infraestruturas. foi o mentor e motor da criação do novo
Como engenheiro civil iniciou-se profissio- Posteriormente, como coordenador de obras Colégio Pedro Arrupe, no Parque das Na-
nalmente como adjunto de direção de obra da construtora, teve oportunidade de gerir ções.
na realização dos acabamentos das lojas do várias equipas de engenheiros que ao longo Foi também mecenas de diversas causas e
Centro Comercial das Amoreiras, tendo de cerca de 30 anos puderam, sob a sua li- fundador do Banco de Utilidades Sociais.
posteriormente, já como diretor de obra, derança, executar as mais diversas obras de Homem discreto, frontal, fiel às causas e
assumido a direção de obras, de entre as construção civil e de infraestruturas, no- aos amigos, dedicado à família, sabia con-
quais se destacam o empreendimento Ter- meadamente hospitais, igrejas, aeroportos, ciliar como poucos a gestão da empresa
raços de S. Paulo, um conjunto de 11 pré- estradas e autoestradas, pontes, túneis, es- com a coordenação da produção e com a
dios de habitação em Telheiras, obras de tádios de futebol, edifícios de habitação e gestão dos recursos humanos, sendo por
assentamento de via-férrea para o Metro- escritórios, escolas, etc.. todos lembrado com enorme saudade.
Colégio Nacional de
Engenharia Eletrotécnica
Luis Filipe Cameira Ferreira › luis.cameiraferreira@gmail.com
elétricas para alimentação de veículos elétricos O guia técnico, documento de caráter infor-
mativo e orientador, destina-se a fornecer
Foi publicada, no portal da Direção Geral de indicações para a conceção, projeto e exe-
Energia e Geologia (www.dgeg.gov.pt), a nova cução das instalações elétricas para a ali-
versão do Guia Técnico das Instalações Elé- mentação de veículos elétricos, aplicando e
tricas para Alimentação de Veículos Elétricos. interpretando as RTIEBT – Regras Técnicas
O Decreto-Lei n.º 39/2010, de 26 de abril, das Instalações Elétricas de Baixa Tensão, em
alterado pelo Decreto-Lei n.º 170/2012, de mentar o artigo 28.º do referido Decreto- especial a secção 722, relativa às instalações
1 de agosto, e pelo Decreto-Lei n.º 90/2014, -Lei, foi publicada a Portaria n.º 220/2016, elétricas para o carregamento de veículos
de 11 de junho, veio estabelecer a organi- de 10 de agosto, onde se estabelecem as elétricos. Pretende, assim, informar e orientar
zação, acesso e o exercício das atividades potências mínimas e as regras técnicas a os técnicos responsáveis pelo projeto, exe-
de mobilidade elétrica. De forma a regula- que devem satisfazer as instalações de car- cução e exploração destas instalações.
Foi recentemente atribuído ao Projeto SENSIBLE o estatuto de “Fla- Informação sucinta do projeto
gship Project” na área de Inovação em Energia, pela Comissão Eu- 3 Demonstradores
ropeia.
O Projeto SENISBLE, financiado pelo Programa Horizonte 2020 da
Comissão Europeia, visa a demonstração de tecnologias de arma-
zenamento e gestão de energia, com o objetivo de dotar a rede de
distribuição de ferramentas que permitam uma gestão otimizada
em cenários de forte penetração de produção renovável distribuída
e, ao mesmo tempo, desenvolvendo modelos de negócio inova-
dores, envolvendo gestão da flexibilidade energética de clientes
das empresas de comercialização.
Com 14 parceiros de seis países europeus e 15 M€ de orçamento, Demonstrador Português
o projeto tem uma componente de demonstração, liderada pela
EDP (LABELEC / NEW R&D – Centre for New Energy Technologies),
com três demonstradores complementares em Portugal, no Reino
Unido e na Alemanha. A Siemens e o INESC TEC, entre outros, são
também parceiros de referência no projeto.
O demonstrador português abrange cerca de 250 clientes. Para
além de sistemas de micro geração fotovoltaica, foram ainda ins-
talados sistemas de gestão de energia, baterias e também termoa-
cumuladores inteligentes, permitindo, não só a produção de energia
mas, também, uma eficaz gestão de consumos de eletricidade. Na
rede de distribuição, dotada de equipamento de redes inteligentes
de última geração, foram também instalados sistemas de armaze- • Para mais informações: https://www.projectsensible.eu
A Nova Era denominada de “New Space” planetas parecidos com a Terra, com grande
quantidade de água, também foi financiada
A questão de como explorar as maravilhas pela União Europeia.
Imagem: ESA©
do nosso Sistema Solar e os benefícios que A exploração espacial é um motor de ambi-
poderemos tirar dos seus vastos recursos é ções comuns não só aos países europeus
um dos grandes desafios do nosso tempo. como a nível mundial e irá abrir novas opor-
Os planos recentemente anunciados para se tunidades a especialistas das mais variadas
voltar à Lua juntamente com os preparativos áreas, sendo que os engenheiros eletrotéc-
para a exploração humana de Marte con- nicos e de computadores irão ter um papel
firmam que a indústria espacial está evoluindo paciais que, para além de ter desenvolvido relevante em todo este processo em setores
rapidamente. Muitos dos principais atores dois dos sistemas de satélites mais avançados como telecomunicações, microeletrónica,
internacionais têm-se reunido para deba- do mundo – Galileu e Copernicus –, está sistemas de energia, instalações elétricas,
terem as ambições e expectativas comuns, muito envolvida no projeto da Estação Es- sistemas horários, modelação, simulação,
nesta nova era que se vem denominando de pacial Internacional (ISS) e em muitas outras programação de sistemas e, entre outras,
“New Space”. missões espaciais em Marte e em todo o soluções de sensorização, robótica e de con-
A Europa é uma das principais potências es- Sistema Solar. A recente descoberta de sete trolo.
• “Técnicas Inov. de Diagnóstico aplicadas à Monitorização de Máquinas Elétricas” » ver secção Regiões » CENTRO
Iniciativas Regionais • Visita Técnica à Climaespaço » ver secção Regiões » SUL
• Ciberespaço e Transformação Digital » ver secção Regiões » SUL
Colégio Nacional de
Engenharia Mecânica
Gonçalo Manuel Fernandes Perestrelo › gfperestrelo@gmail.com
• Política Energética e Desempenho Energético dos Edifícios » ver secção Regiões » CENTRO
Iniciativas Regionais • Visita Técnica à TAP Maintenance & Engineering » ver secção Regiões » SUL
• Visita ao Centro de Comando da EPAL » ver secção Regiões » SUL
Colégio Nacional de
Engenharia Geológica e de Minas
Teresa Burguete › teresa.burguete@gmail.com
Colégio Nacional de
Engenharia Química e Biológica
Manuel Fernando Ribeiro Pereira › fpereira@fe.up.pt
tais como empresas fornecedoras de ser- jetivos e as atuações das duas Associações, Embora estejam ainda a ser completados
viços, universidades, centros de investigação trabalhando de forma mais efetiva para al- alguns procedimentos de ordem legal, a
e outro tipo entidades públicas (adminis- cançar o grande objetivo final – o desen- nova associação tem já designação apro-
tração de portos, por exemplo). volvimento em Portugal de uma indústria vada, APQuímica – Associação Portuguesa
Com esta fusão pretende-se alinhar os ob- química moderna e competitiva. da Química, Petroquímica e Refinação.
DR
compósitos de matriz epóxi, tendo lançado recentemente a pri-
meira pá eólica em poliuretano. Estas pás são fabricadas por um
processo especial a partir de uma resina de poliuretano e de um
tecido de fibra de vidro. O uso de resina de poliuretano em vez de
compostos convencionais à base de epóxi torna o ciclo de pro- ser mais longas e, portanto, mais económicas do que as fabricadas
dução de pás mais curto e menos intensivo em energia. Além disso, com materiais convencionais, aumentando a viabilidade do vento
o novo material tem melhores propriedades mecânicas. como uma solução de energia com baixo teor de carbono.
Como resultado, as pás eólicas tornam-se mais leves, podendo ainda • Mais detalhes em www.windpower.covestro.com
Colégio Nacional de
Engenharia Naval
Tiago Alexandre Rosado Santos › t.tiago.santos@gmail.com
prospeção de petróleo nas concessões “Lavagante”, “Santola” e pacte ambiental nas operações de prospeção, pesquisa e extração
“Gamba”, localizadas a ocidente da costa do barlavento algarvio. de hidrocarbonetos. A ENI apresentou já, nesta fase, um documento
A data de início da perfuração está estimada para outubro de 2018. à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) sobre os potenciais im-
Prevê-se que a duração das atividades de perfuração seja de 46 pactos ambientais do furo.
dias, com um custo previsto de pelo menos €37 milhões. Estas A ENI irá utilizar neste furo de prospeção o navio-sonda SAIPEM
serão realizadas após um período de preparação logística do pro- 12000, de sexta geração, construído em 2010 na Coreia do Sul.
jeto com uma duração estimada de três meses, a ser desenvolvida Trata-se de um navio com 228 m de comprimento total e 42 m de
numa base logística em Sines. Este furo de prospeção ocorre num boca. É capaz de perfurar até uma profundidade de 10660 m, in-
bloco em que a Eni é a operadora, com uma quota de 70%, de- cluindo 3360 m de lâmina de água, portanto mais do que suficiente
tendo a Galp os restantes 30%. Este bloco está abrangido por um para o furo em questão. O navio possui seis impulsores azimutais
contrato que, ao contrário do contrato de exploração do consórcio de 4.5 MW, que lhe conferem uma capacidade de posicionamento
Repsol/Partex para o Algarve, não possui cláusulas que permitam dinâmico DP3, pelo que não necessita de ser fundeado (lançar
ao Estado anular o mesmo. ferros) no local para poder desenvolver a atividade de perfuração.
Os procedimentos legais necessários a estas atividades são esta- Após a realização deste furo, se se vier a comprovar a existência
belecidos pela Lei n.º 17/2014, de 10 de abril, que estabelece as de reservas de petróleo que justifiquem a exploração pelo con-
Bases da Política de Ordenamento e de Gestão do Espaço Marítimo sórcio, será certamente necessário realizar um estudo de impacte
Nacional, com os requisitos adicionais constantes do Decreto-Lei ambiental para essa atividade e ponderar devidamente os prós e
n.º 38/2015, nomeadamente no respeitante ao denominado “Título contras da eventual exploração deste recurso natural. Esses estudos
de utilização privativa do espaço marítimo nacional” (TUPEM), o devem adotar o ponto de vista do interesse nacional, com recurso
qual o consórcio já conseguiu obter. Adicionalmente, o processo a análises custo-benefício e recorrendo a peritos nesta área. Por
relativo a este furo foi submetido, até ao passado dia 16 de Abril, a outro lado, num processo desta natureza, envolvendo empresas
um processo de consulta pública para averiguar a necessidade de de grande dimensão, é necessária uma intervenção forte do Estado,
um estudo de impacte ambiental para este furo de prospeção. Re- como licenciador e regulador, apoiado em boas capacidades téc-
corde-se, ainda, que a Lei n.º 37/2017, de 2 de junho, impôs re- nicas, recorrendo a meios de monitorização e inspeção adequados
centemente a necessidade de ser realizada uma avaliação de im- e possuindo os instrumentos legais necessários para fazer cumprir
a lei. Cumpridos estes pressupostos, havendo viabilidade económica,
impacto ambiental aceitável e interesse nacional, poderá avançar-
se com o projeto.
Em suma, torna-se necessário prosseguir com cautela e tomar, em
cada passo, decisões de forma informada e tecnicamente funda-
mentada.
• Mais informação sobre este tema, incluindo importantes elementos
técnicos, poderá ser obtida no portal de consultas públicas
e no portal da Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis:
http://participa.pt/consulta.jsp?loadP=2160
www.enmc.pt
Encalhe de navio em Lisboa obriga a reflexão toneladas de areia (matéria prima para vidro),
cerca de 160 toneladas de combustível e
sobre os meios de reboque na costa portuguesa dez tripulantes, com destino a Casablanca
(Marrocos).
O navio espanhol Betanzos encalhou no dia As operações de desencalhe vieram a de-
6 de março junto ao Bugio, na barra do senrolar-se durante bastantes dias, até 16
porto de Lisboa. O navio de carga geral, de março, dada o mau tempo que se re-
com cerca de 118.5 m de comprimento, gistou na área durante estes dias, com vagas
15.2 m de boca e um porte bruto de 7875 de quatro a seis metros. O navio resistiu bem
t, sofreu uma falha do sistema de geração às condições adversas e não se registou
e distribuição de energia elétrica a bordo qualquer derrame de combustível, pelo que
(blackout), ficando à deriva quando saía a se pode considerar que tudo acabou por
barra de Lisboa, pelo que veio a encalhar correr pelo melhor. O navio foi posterior-
Figura 1
pela 01:00 da manhã (ver fig. 1). mente rebocado para o cais do Beato e
O navio possui dois geradores elétricos de querido pelas regras e regulamentos inter- subsequentemente foi rebocado para Viana
275 kW e um gerador elétrico de emergência nacionais em vigor, e não todos os neces- do Castelo, onde será reparado.
com 57 kW, o qual, contudo, só alimenta os sários à operação do navio. O navio seguia Impõe-se chamar a atenção que, mais uma
circuitos essenciais a bordo, conforme re- na altura carregado com alguns milhares de vez, se faz sentir a necessidade de existirem
Colégio Nacional de
Engenharia Geográfica
Maria João Oliveira de Barros Henriques › mjoaoh@gmail.com
o Grande, que contribuiu para conter a ex- nicas dominadas pelos Hunos revoltaram- privilegiados na corte de Constantinopla sob
pansão dos Francos. Em 510, Teodorico en- -se. Em 454 deu-se uma feroz batalha na a protecção do imperador Leo I e poste-
viou um exército Ostrogodo para a Hispânia Panónia (província romana que abrangia a riormente do imperador Zenão.
e derrotou Gesaleico que se refugiou junto actual Hungria) em que os germânicos, li- Em 475, Teodorico tornou-se rei dos Ostro-
dos Vândalos no Norte de África. Os Ostro- derados pelo rei Ardarico dos Gépidas, es- godos, em 483 foi nomeado, por Zenão,
godos impuseram o jovem Amalarico, com magaram os Hunos e mataram Ellac, o filho magister militum do Oriente e em 484 foi
nove anos, como rei dos Visigodos. Ama- e herdeiro de Átila. Nesse mesmo ano, nasceu nomeado cônsul Romano. Na sequência do
larico governou entre 511 e 536, sendo que, Teodorico, filho do rei Ostrogodo Teode- fim do império do Ocidente e do seu go-
até 526, foi tutelado pelo seu avô Teodorico miro. verno pelo rei germânico Odoacro (ex-militar
o Grande. O apoio da potência Ostrogoda Na sequência de um acordo entre Teode- romano), o imperador Zenão ordenou a Teo-
ajudou o reino Visigodo a consolidar a sua miro e o imperador do Oriente Leo I, os dorico que tomasse conta da Itália que este
presença na Hispânia e a conter as ambi- Ostrogodos estabeleceram-se na Panónia invadiu, em 489, com 250.000 Ostrogodos.
ções dos Francos. como foederati e entregaram Teodorico Teodorico derrubou Odoacro e tornou-se,
como refém. Dos 10 aos 18 anos, Teodorico em 493, rei de Itália, que governou excelen-
3. Após a morte de Átila, as tribos germâ- recebeu um tratamento e uma educação temente até à sua morte em 526.
Colégio Nacional de
Engenharia AGRONÓMICA
Miguel Castro Neto › mneto@novaims.unl.pt
PRORURAL. A mão-de-obra agrícola nos peia, dado que há uma intenção mani- peus, é obrigatório que as ajudas sejam na
Açores é, praticamente toda, familiar, onde festada pelos responsáveis europeus, da percentagem de 30% para o “Greening”.
98% dos produtores são familiares e ocupam convergência dos critérios, dos programas Sendo assim, nos Açores, devem ser privi-
cerca de 92% da área agrícola dos Açores em vigor, dentro e entre os Estados- legiadas as medidas de índole ambiental,
(em 2009). -membros. Ou seja, persistir na diferen- promovendo a adesão dos agricultores a
Tem-se a expectativa que a agricultura aço- ciação regional que favoreça as regiões este tipo de ajudas. Deve ser dada continui-
riana se imponha no mercado nacional, eu- ultraperiféricas, e que lhes permite pro- dade às medidas agroambientais, às da
ropeu e mundial, mas deve-se ter cons- gramas específicos e autónomos; gestão das bacias hidrográfica e às das raças
ciência que, ao viver numa economia global, 3. A transferência de verbas do POSEI para autóctones, reforçando-as, se necessário,
existe muita dependência de economias o PRORURAL; para que se tornem mais atrativas pelos
externas, como sejam: o mercado da Rússia; 4. A transferência, dentro das verbas do agricultores. O apoio aos equipamentos
China e Nova Zelândia, altamente compe- POSEI, para medidas que promovam a agrícolas e infraestruturas deve ter em con-
titivas, no setor que mais produzimos, a distribuição e comercialização dos pro- sideração a dimensão das explorações, bem
produção de leite. Logo, urge encontrar so- dutos agrícolas. Apoiar, suplementar- como a rentabilidade das explorações agrí-
luções que minimizem estas dificuldades mente, as produções de origem local, colas. A estabulação deve ser repensada,
externas. A atuação dos agricultores aço- endémica e de modo biológico; porque para além dos custos de instalação,
rianos depende de si, do mercado regional, 5. No âmbito PRORURAL, privilegiar as ajudas tem custos de manutenção e custos de ma-
europeu e mundial, nomeadamente da às infraestruturas e equipamentos agrí- neio da própria exploração. Além de que a
quantidade e preços que os países que mais colas que promovam a competitividade estabulação dos animais leva a práticas di-
concorrem com os Açores apresentem no e viabilidade económica e/ou financeira. ferentes que podem pôr em risco o bem-
mercado do leite. Reforçar as medidas de apoio à instalação -estar animal, urgindo a necessidade de
A nível mais europeu, vai depender das me- de jovens agricultores, em complemento formação profissional da área, o respeito
lhores ou piores negociações e dos lobbies – em casos particulares – com a reforma pela ecocondicionalidade e a viabilidade
que se tenha com e em Bruxelas, de modo antecipada, como forma de fixação de dietética, nutricional e sensorial.
a captarem mais fundos ou fundos mais di- jovens na agricultura, quer residam em Considerar a inovação/investigação como
rigidos aos objetivos que forem fixados pelo espaços urbanos ou rurais. Criar uma po- pilar do desenvolvimento da agricultura, não
Governo Regional dos Açores. A nível re- lítica de formação profissional efetiva e só dos produtos e dos serviços prestados
gional, o Governo dos Açores tem respon- de preferência de formação em contexto pelas explorações agrícolas, bem como das
sabilidades acrescidas pela definição de uma de trabalho; agroindústrias recorrendo aos produtos de
estratégia para a realidade agrícola açoriana. 6. O desenvolvimento de uma política in- origem local e/ou endémicas.
A definição de uma política agrícola aço- dependente de soberania alimentar aço- Por último, repensar o tipo de ajudas aos
riana que considere o conflito existente entre riana (decidirmos quais as produções re- produtores agrícolas açorianos, verificando
a vertente económica (rendimento dos agri- gionais e tradicionais que potenciam a as ajudas que mais beneficiam a agricultura
cultores) e da preservação da paisagem, produção e produtividade dos produtos açoriana, respeitando os princípios vincu-
componente ambiental. açorianos), em simultâneo com o PRO- lados na maior parte dos Estados-membros
A agricultura açoriana apresenta alguns de- RURAL e não como uma medida adicional da União Europeia. As ajudas deverão ser
safios, como sejam: e em complemento de uma política de complementares ao rendimento e à possi-
1. A continuidade dos programas POSEI e autossuficiência alimentar (apenas refe- bilidade de os agricultores se manterem na
PRORURAL, bem como a negociação de rida como objetivo do PRORURAL). atividade agrícola, criando o seu emprego e
um envelope financeiro superior ao atual; cuidando da paisagem nacional, permane-
2. A preparação prévia para os programas Em suma, ter em atenção que a nível da cendo fiéis ao seu papel de guardião da na-
comunitários em vigor na União Euro- Política Agrícola Comum, em termos euro- tureza, tal como foi defendido em 1992.
• O sistema de seguros como instrumento de apoio ao setor agrícola » ver secção Regiões » CENTRO
• Azeites do Mundo na Região Sul » ver secção Regiões » SUL
Iniciativas Regionais
• O papel da Engenharia Agronómica no acompanhamento, mitigação e adaptação da agricultura
às alterações climáticas » ver secção Regiões » MADEIRA
Colégio Nacional de
Engenharia de Materiais
Luis Gil › luis.gil@dgeg.pt
líticos e computacionais para mostrar que bono ao invés de silício, o material domi-
um tipo de magnetismo pode ser induzido nante na tecnologia atual de microproces-
em amostras reais de grafeno, tema ainda sadores. Há também a perspetiva da utili-
controverso na literatura zação do grafeno em condutores flexíveis,
que permitem avanços na chamada tecno-
O grafeno é um material promissor e com logia vestível.
grande potencial de aplicação quando se A colaboração dos investigadores mostra
fala em componentes eletrónicos. Exem- algo de novo em relação a esse revolucio-
Há perspectiva do uso do grafeno
plos das suas possíveis aplicações incluem em condutores flexíveis nário material. Os físicos combinaram cál-
culos analíticos e computacionais para mos- denominam como “espaços livres na rede
trar que um tipo de magnetismo pode ser hexagonal”. O esforço é no sentido de com-
induzido em amostras reais de grafeno, um binar as propriedades eletrónicas do grafeno
tema controverso na literatura. A indução com propriedades magnéticas, o que abriria
do magnetismo somada às demais proprie- uma enorme gama de possibilidades para
dades do material tornarão maiores as suas funcionalidades híbridas, elétrica e magné-
funcionalidades. tica, em dispositivos à base de grafeno. Uma
Já existem protótipos de uso do grafeno na das possibilidades exploradas é gerar mo-
confeção de telas flexíveis mais resistentes, Grafeno: como uma rede de arame onde
mentos magnéticos no grafeno.
sendo que já estão a ser desenvolvidas in- os pontos são átomos de carbono – Alexander
Aius via Wikimedia Commons
vestigações no sentido de tornar equipa- Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/cientistas-
mentos mais eficientes em consumo de Nas simulações realizadas em computador, estudam-como-gerar-magnetismo-no-
energia e com melhor condutividade. os cientistas estudaram os efeitos do que grafeno-material-que-pode-dominar-eletronica
e 20 vezes mais leve que o aço sua resistência – o material tem uma den-
sidade de apenas 5% e pode ter uma força
Uma equipa de investigadores do Instituto forte de todos os materiais conhecidos. Mas dez vezes maior do que o aço.
de Tecnologia de Massachusetts (MIT) criou os cientistas têm tido dificuldade em tra- “Uma vez criadas estas estruturas tridimen-
um dos mais fortes materiais leves conhe- duzir essa força bidimensional em materiais sionais, queríamos ver qual é o limite, qual
cidos, comprimindo e fundindo flocos de tridimensionais úteis. é o material mais forte possível que conse-
grafeno, uma forma bidimensional de car- A equipa do MIT conseguiu unir pequenos guimos produzir”, afirmou Zhao Qin, um
bono. flocos de grafeno numa estrutura 3D com dos autores do estudo publicado na “Science
uma forma semelhante a uma esponja. Advances”.
Na forma bidimensional, o grafeno é o mais Mas a principal característica deste objeto Assim, os especialistas criaram uma variedade
de modelos 3D feitos do mesmo material, Segundo o MIT, a nova descoberta mostra afirmou Markus Buehler, diretor do Depar-
que submeteram a vários testes. que o aspeto crucial das novas formas tri- tamento de Engenharia Civil e Ambiental do
Um dos materiais tinha paredes mais finas dimensionais tem mais a ver com a sua MIT. Os investigadores revelam que a mesma
e revelou-se mais resistente do que aquele forma geométrica do que com o próprio geometria deste novo objeto pode até ser
que foi criado com paredes mais grossas material, o que sugere que podem ser criados aplicada a materiais estruturais de grande
porque, de acordo com os cientistas, as pa- objetos fortes e leves a partir de uma varie- escala usados, por exemplo, na construção
redes mais finas permitem que a estrutura dade de materiais. de pontes e edifícios.
se deforme lentamente, dissipando melhor “Podemos substituir o material por qualquer • http://zap.aeiou.pt/mit-cria-material-20-vezes
a pressão. coisa. A geometria é o fator dominante”, -leve-aco-10-vezes-resistente-144772
A peneira feita de óxido de grafeno é apon- eficiente na filtragem do sal. O peneiro, agora,
tada como substituta de técnicas existentes será testado em comparação com as mem-
hoje. branas de dessalinização já existentes.
O grafeno, uma forma cristalina do carbono O óxido de grafeno pode ser obtido facil-
e “primo” do diamante e do carvão, pode mente em laboratório. Em forma de solução
ser a solução para tornar a água do mar po- ou tinta, pode ser aplicado numa superfície
tável e ajudar a resolver o problema da es- porosa e usado como membrana. Em termos
cassez de água, que deve atingir 14% da de custo e produção em escala, tem mais
população mundial até 2025, segundo es- vantagens e potencial do que o grafeno
Países pobres sofrem mais com a falta de água
timativa da Organização das Nações Unidas numa camada. do que os ricos
(ONU). Uma equipa de investigadores da Para tornar a camada normal de grafeno
Universidade de Manchester, no Reino Unido, permeável, é preciso fazer pequenos furos Reduzir o custo para dessalinizar a água do
criou um “peneiro” de grafeno que consegue que, se forem maiores que um nanómetro, mar pode ser um caminho para universa-
remover o sal da água do mar. A técnica deixam o sal escapar. Já as membranas de lizar o acesso ao líquido. Atualmente, 663
pode substituir outros métodos de dessali- óxido de grafeno provaram ser capazes de milhões de pessoas vivem sem água potável,
nização que são pouco viáveis economica- filtrar nanopartículas, moléculas orgânicas de acordo com um relatório da organização
mente. e até sais de cristais maiores. Mas, até agora, internacional WaterAid, publicado no Dia
Resistente e flexível, o grafeno já tinha sido estas não podiam ser usadas para filtrar sais Mundial da Água, 22 de março. Desse total,
apontado em pesquisas anteriores como comuns, que requerem peneiros ainda 552 milhões estão em áreas rurais, e a maioria
promessa para a purificação de águas. A di- maiores. Trabalhos anteriores mostraram vive em países pobres, mas o problema
ficuldade de se obter o material em larga que as membranas de óxido de grafeno fi- ocorre também em nações desenvolvidas.
escala, porém, inviabilizava as pesquisas. A cavam levemente inchadas quando imersas
solução encontrada foi sintetizar em labo- em água, o que permitia que sais menores Fonte: www.otempo.com.br/interessa/
ratório um derivado químico do material, o passassem por seus poros juntamente com peneira-de-grafeno-pode-tornar-%C3%A1gua-
óxido de grafeno, que se mostrou altamente moléculas de água. do-mar-pot%C3%A1vel-1.1457521
Iniciativas Regionais • A Engenharia ao serviço da eficiência energética » ver secção Regiões » CENTRO
Colégio Nacional de
Engenharia Informática
Ricardo de Magalhães Machado › colegioinformatica@oep.pt
Iniciativas Regionais • A Inteligência Artificial, o Homem e o Futuro » ver secção Regiões » CENTRO
Colégio Nacional de
Engenharia do Ambiente
Lisete Calado Epifâneo › lisete.epifaneo@estsetubal.ips.pt
Ações Descrição
Estudo e caracterização das fileiras do azeite, vinho e suinicultura com o objetivo de estabelecer um
Análise da realidade regional da fileira
1. ponto de partida do projeto, em termos de análise a condicionalismos legislativos e técnicos, mas
do vinho, azeite e suinicultura
também em termos de primeira análise da eficiência dos agentes económicos na utilização de recursos.
Identificação de boas práticas na utilização Ações de pesquisa de/contacto com exemplos internacionais que possam alicerçar a aposta em
2. de recursos e na valorização de resíduos práticas de economia circular. Os exemplos serão utilizados de forma demonstradora para ilustrar o
das fileiras do vinho, azeite e suinicultura potencial de aplicação dos conceitos da economia circular.
Definição de eixos preliminares de aposta na economia circular, a identificação e estruturação das
Identificação de oportunidades na fileira
3. oportunidades para a elaboração de referencial da economia circular nas fileiras e nas suas respetivas
do azeite, vinho e suinicultura
cadeias de valor, bem como eventuais barreiras à sua posta em marcha.
Organização de momentos de envolvimento direto das partes interessadas. No decurso desta Ação,
serão organizados um conjunto de eventos de natureza distinta:
4. Dinamização das jornadas “Alentejo Circular”
sessões de informação, sessões de reflexão conjunta sobre oportunidades e barreiras à economia
circular e sessões de encontro entre partes interessadas.
Conceção e dinamização de uma plataforma informativa, disponível online, destinada a centralizar e
Criação e dinamização de plataforma informar o público-alvo do projeto. Pretende-se que constitua essencialmente a versão em linha das
5.
informativa “Alentejo Circular” Jornadas de Reflexão e sessões de informação/capacitação, tendo em vista abordar as falhas de
mercado identificadas.
Desenvolvimento de atividades de comunicação e disseminação de apoio à implementação das
restantes ações. Serão desenvolvidas atividades a montante, com a captação do interesse do público e
6. Comunicação e disseminação do projeto
dos parceiros para a participação e envolvimento, mas também a jusante, servindo os propósitos de
apresentação e demonstração dos resultados e impactos gerados.
Gestão, acompanhamento e avaliação
7. Mecanismos de articulação interna, acompanhamento e avaliação interna e externa do projeto.
do projeto
dada em 1996, com sede permanente na cidade de Marselha, sobre a água a nível global, visando o uso racional e susten-
e que reúne cerca de 400 instituições que tratam da tável deste recurso. Pela sua abrangência política, téc-
temática dos recursos hídricos em aproximadamente nica e institucional, o evento tem como uma de suas
70 países. O Conselho é composto por representantes características principais a participação aberta e demo-
de governos, academia, sociedade civil, de empresas e crática de um amplo conjunto de atores de diferentes
organizações não-governamentais, formando um significa- setores, sendo um acontecimento de grande relevância na
tivo espectro de instituições relacionadas com o tema água. agenda internacional. Este ano os temas em destaque foram
Este Fórum contribui para o diálogo do processo decisório a reutilização da água e a acessibilidade deste recurso.
Especializações Horizontais
Especializações Horizontais
Especializações Horizontais
Especializações Horizontais
INTERGEO 2018
Geoinformação – o DNA da digitalização
A INTERGEO consiste numa conferência e feira comercial, corres-
pondendo ao maior evento do mundo em geodesia, geoinformação
e gestão territorial. Realiza-se todos os anos em locais diferentes
na Alemanha.
A conferência, com mais de 1.400 participantes, lida com questões
atuais da política, administração, ciência e indústria. Em 2017, apro-
ximadamente 18.000 visitantes de mais de 100 países descobriram
as últimas inovações e soluções de sistemas no setor de 590 em-
presas.
As estatísticas de visitantes, expositores e área de exposição da IN-
TERGEO são calculadas e certificadas de acordo com as definições
padronizadas da FKM (Sociedade para o Controle Voluntário de nacional de Frankfurt am Main em 2018, Stuttgart em 2019 e Berlim
Estatísticas de Feira e Exposição). em 2020.
O objetivo da INTERGEO é facilitar a otimização dos processos em • Pode encontrar vídeos, notícias e entrevistas na INTERGEO 2018 em
vários mercados-alvo com o potencial de geo-TI que ele apresenta. www.intergeo-tv.com
Os próximos locais de exposição são as cidades de renome inter- • Mais informações estão disponíveis em www.intergeo.de
Iniciativas Regionais • Estado d’Arte dos PDM’s de 2.ª Geração » ver secção Regiões » SUL
Especializações Horizontais
desprezando o que anteriormente tinha sido apresentado como problemático de gerir, quando se estima um tráfego superior a
estratégia de desenvolvimento da rede do ML – densificar a rede 3 milhões de passageiros por ano.
no interior da cidade antes de a expandir para os concelhos li- › A grande vantagem da linha circular parece residir no reforço
mítrofes, aumentar a conectividade interna da rede e promover das ligações diretas entre as atuais centralidades de Lisboa, que
a sua interligação com os outros modos pesados de transporte se localizam na Baixa e ao longo do eixo central da cidade, até
da Área Metropolitana de Lisboa (AML). Entrecampos e no alargamento da sua área de influência para o
› O estudo de procura que justifica a decisão terá sido concluído eixo da Avenida Almirante Reis. Esta nova geografia da acessibi-
em dezembro de 2016, sendo aí apontada a preferência pela lidade será, contudo, um forte potenciador do mercado imobi-
linha circular, em detrimento de uma extensão da linha vermelha liário dos escritórios, o que não deixará de se traduzir em mu-
a Campo de Ourique, porque a primeira aportaria mais passa- danças de uso de habitação para terciário, aproveitando os acrés-
geiros ao ML (cerca de 9 milhões por ano contra 6 milhões da cimos de edificabilidade que o PDM de Lisboa permite nestas
extensão a Campo de Ourique). Comparação que se afigura situações de proximidade às estações do ML.
“orientada”, porquanto uma alternativa serve o mais importante › No contexto atual, a linha circular proposta estará sujeita a uma
interface de toda a AML (o Cais do Sodré) e a outra que teria o taxa de avarias superior à do conjunto das duas linhas autónomas
seu términos num bairro “interior” da cidade, um dos piores ser- equivalentes, com dificuldades acrescidas de regulação em caso
vido pela rede de transportes urbanos e com menos ligações de afluência excessiva ou resolução de perturbações, maior di-
aos outros modos de transporte coletivo. ficuldade de regulação por ausência de almofada temporal nos
› A ligação da rede a Alcântara permitiria descongestionar o inter- términos, não preenchendo os critérios de economia de energia
face do Cais do Sodré e assegurar uma ligação sem transbordo e de manutenção que evitam curvas e pendentes – 4% na linha
à zona da cidade com maior concentração de emprego (as Ave- circular entre Estrela e Santos – e não servirá a zona ocidental
nidas Novas) a partir da linha de caminho-de-ferro de Cascais. da cidade.
Não se entende, assim, qual a vantagem relativa que se atribui à › A descontinuidade criada na linha amarela no interface do Campo
linha circular, onde essa ligação direta também existe no Cais do Grande implica uma rotura de carga no tráfego de passageiros
Sodré, mas em condições de sobrelotação da estação. Por outro com origem e destino no corredor de Odivelas, altamente pe-
lado, o traçado da linha circular obriga à implantação da estação nalizante e potencial causadora de um aumento de tráfego ro-
Estrela a uma profundidade de 50m, o que não deixará de ser doviário, por recurso ao transporte individual e Autocarros.
Visita à Autoeuropa
A Comissão de Especialização em Trans-
portes e Vias de Comunicação da OE levou
a efeito, no passado dia 15 de março, uma
visita à Volkswagen Autoeuropa.
A visita iniciou-se na nave das prensas, pri-
meira área de produção de um automóvel.
As grandes bobines de aço são cortadas em
duas linhas de corte, de onde saem as pla-
tinas que irão ser encaminhadas para as li-
nhas de estampagem. As platinas são es-
tampadas de acordo com o resultado final
que se pretende, dentro de cinco prensas
triaxiais e na linha tandem que exista na fá-
brica. No fim, todas as peças passam por
um processo de verificação de qualidade e Não foi possível visitar a nave de pintura, do chassis, linha dos motores, sumas – es-
aguardam a entrada na área das carroçarias. por razões de segurança e qualidade do paços de sequenciação de componentes,
A segunda fase do processo é caracterizada produto. montagem de bancos, vidros e foi possível
pela soldadura das peças básicas de um Por fim, passou-se à nave de montagem, acompanhar vários dos processos de qua-
carro, que darão origem à carroçaria. Faz- onde se pode ver a colocação dos interiores lidade: inspeção de superfície, túnel de água,
-se a soldadura dos pisos, das partes mó- nas carroçarias. A linha é única, ou seja, teste de rolos, calibração de luzes.
veis, até chegar à montagem das laterais, multiproduto, devido à plataforma MQB, A terminar a visita, o Diretor da fábrica, Eng.
avançando para as cabines de laser. Segui- existindo uma flexibilidade que permite a Miguel Sanches, fez uma apresentação ins-
damente, montam-se as portas laterais, a produção de qualquer modelo. Pôde ob- titucional sobre a mesma, tendo havido
porta traseira e o capot da carroçaria, ter- servar-se a colocação das proteções, tubos tempo para perguntas e respostas sobre as
minando no processo de verificação de de abs e de ar condicionado, montagem do diversas temáticas relacionadas com o uni-
qualidade. “casamento”, montagem das plataformas verso automóvel.
No âmbito das visitas organizadas pela Ordem dos Engenheiros a Desde 1872 que a Carris prestou e continua a prestar um forte con-
empresas nacionais de reconhecido e elevado valor tecnológico, tributo para o crescimento de Lisboa, cidade que, ao longo dos
a Especialização em Transportes e Vias de Comunicação organizou tempos, se desenvolveu ao ritmo da evolução do seu sistema de
no passado dia 11 de outubro uma visita ao Museu da Carris, através transportes públicos, tendo esta visita proporcionado a todos uma
do qual esta empresa tem procurado estimular o entusiasmo pelo proveitosa partilha de conhecimentos, centrados na engenharia
conhecimento da cidade e dos transportes públicos, constituindo- dos transportes.
-se uma ponte entre o seu presente, passado e futuro. Cabe uma palavra de agradecimento e apreço pelo apoio expresso
O primeiro núcleo do museológico apresenta a evolução histórica do Presidente da Carris à organização da visita e à sua presença
da Carris e do Metropolitano de Lisboa através de documentos e neste evento.
objetos de pequeno porte: a fundação da Carris e a tração animal,
os ascensores e elevador, a eletrificação da rede, objetos e docu-
mentos representativos da evolução da empresa, das suas viaturas
e da sua rede, a área administrativa, o serviço de saúde e a banda
de música.
O segundo núcleo está instalado em naves oficinais entretanto de-
sativadas e dispõe de uma área de cerca de 2000 m2, onde se
exibem viaturas de transporte, máquinas do parque oficinal, uma
oficina de tipografia e ainda uma zona dedicada à arte no Metro-
politano de Lisboa, destacando-se as viaturas utilizadas desde a
tração animal até aos finais da década de quarenta, as viaturas da
segunda metade do século XX e a biografia de Alfredo da Silva, que
integrou a Direção da Companhia até 1919.
À saída deste núcleo, encontra-se a loja do Museu com os mais
variados artigos alusivos ao Museu, à cidade e à Carris.
O terceiro núcleo apresenta alguns dos veículos de trabalho e de
transporte de passageiros, que fazem parte das suas reservas e que
se encontram a aguardar restauro. Estes veículos são representativos
de várias épocas que marcaram a história da Carris e, como tal, me-
recem ser preservados. A ligação entre os núcleos foi efetuada em
elétrico histórico, junto ao qual se tirou a fotografia do grupo.
Cerâmicos Técnicos
Materiais que vale a pena conhecer
Diamantino Dias
Rauschert Portuguesa Lda. • diamantinodias@rauschert.pt • 219 253 010
Resumo Abstract
São passadas em revista, de forma sucinta, as propriedades e as Technical ceramics: materials worth knowing
aplicações dos principais cerâmicos técnicos disponíveis no Briefly, an overview of the properties and fields of use of technical
mercado. ceramics available in the market is provided.
1. ENQUADRAMENTO micos técnicos (ou avançados) uma imagem de marca que os faz
sobressair como materiais do futuro (Figura 1).
É usual definir os cerâmicos como materiais inorgânicos, consti- É certo que os cerâmicos tradicionais já atingiram um elevado grau
tuídos por elementos metálicos e não metálicos, ligados quimica- de maturidade, o mesmo não se podendo dizer dos cerâmicos téc-
mente por ligações iónicas ou covalentes. nicos, que ainda são uns ilustres desconhecidos para muitos “de-
Há setores de atividade económica que fazem apelo a materiais signers” e engenheiros.
com elevada refractariedade e dureza, bom isolamento térmico e
excelente resistência à corrosão química. Estas propriedades – con- 2. CLASSIFICAÇÃO
templadas isoladamente ou em combinação – conferem aos cerâ-
De acordo com a prática corrente das empresas que fornecem
componentes cerâmicos a diversos setores industriais (eletrónica,
ótica, metalomecânica, fundição e química, entre outros), é comum
classificar os cerâmicos técnicos em três grupos: os silicatos, os
óxidos e os não óxidos.
Os silicatos são materiais produzidos maioritariamente a partir de
matérias-primas naturais, cujo óxido predominante é o óxido de
silício (SiO2) e que podem conter teores de fase vítrea acima de
20% em peso. Exemplos de materiais deste grupo são a porcelana,
a cordierite, a esteatite e a mulite.
Os óxidos são vulgarmente obtidos a partir de matérias-primas sin-
téticas, sendo constituídos por um óxido de um metal. Os materiais
deste grupo mais utilizados são a alumina (Al2O3), a zircónia (ZrO2)
e o titanato de alumínio (Al2TiO5).
Os cerâmicos não óxidos, tal como a própria designação o indica,
são obtidos a partir de matérias-primas sintéticas que não contêm
oxigénio, dos quais se destacam o carboneto de silício (SiC), o ni-
treto de silício (Si3N4), o nitreto de alumínio (AlN) e o carboneto de
boro (B4C).
3. PROPRIEDADES E APLICAÇÕES
de Alumínio
Titanato de
Carboneto
Carboneto
Cordierite
Porcelana
de Silício,
Alumínio
de Silício
Esteatite
Alumina
Zircónia
Material
de Boro
Nitreto
Nitreto
Denso
Mulite
Y-TZP
Propriedades Unidade
• Esteatite
A esteatite é um silicato de magnésio (MgSiO3), obtido a partir de
formulações à base de talco [4]. As esteatites são normalmente ca-
racterizadas por porosidades abertas de 0% e por propriedades
mecânicas superiores às da cordierite [5]. Revelam, porém, um pior
desempenho no que respeita à resistência ao choque térmico.
As propriedades das esteatites, aliadas à facilidade de conformação,
por exemplo, através de prensagem unidirecional, permitem a sua
utilização, em larga escala, em aplicações tais como casquilhos de
lâmpadas, corpos de termóstatos, núcleos de resistências elétricas,
fusíveis elétricos, entre outras.
• Mulite
Figura 2 Componentes fabricados a partir de silicatos A mulite é um silicato de alumina (Al3Si2O13), cujo teor de alumina
3.3 Não-óxidos
Tal como o próprio nome indica, os “Não-óxidos” fazem parte do
grupo dos cerâmicos técnicos em cuja composição não está pre-
sente o elemento oxigénio, em que predominam as ligações co-
valentes, o que os torna extremamente estáveis do ponto de vista
térmico, mecânico e químico (Figura 4). Tratam-se de cerâmicos
obtidos, exclusivamente, a partir de matérias-primas sintéticas, pro-
cessados normalmente a temperaturas superiores a 1500 °C, em
atmosferas inertes (isentas de oxigénio) ou em vácuo, e nalguns
casos recorrendo à aplicação de pressão externa, como é o caso
da prensagem a quente. Devido à complexidade do processo de
Figura 3 Componentes em alumina
fabrico e consequentes custos associados, estes são os cerâmicos
Entre os inúmeros óxidos disponíveis são relevantes: a alumina, a com maior valor acrescentado e os menos disseminados na indús-
zircónia e o titanato de alumínio.
• Alumina
Atualmente, o óxido de alumínio (Al2O3) – mais conhecido por alu-
mina – é dos cerâmicos técnicos mais utilizados [8]. De acordo
com a norma IEC 60672-3:1997, apresenta graus de pureza cujo
teor de Al2O3 se situa entre 80% e 99,9%. Regra geral, o processa-
mento destes materiais exige temperaturas normalmente superiores
a 1400 °C. A seleção do grau de pureza está intimamente relacio-
nada com o nível de desempenho pretendido, sendo que o respe-
tivo custo é diretamente proporcional ao aumento da pureza da
alumina.
Algumas das aplicações mais comuns da alumina incluem: velas
de ignição ou elétrodos de ionização, material de laboratório, guias
de fibras têxteis, pistões, veios, empanques mecânicos para bombas
de fluídos líquidos, discos de regulação de fluxo para torneiras de
água, substratos de circuitos eletrónicos, placas balísticas para a
indústria de defesa e componentes de próteses de anca. Figura 4 Componentes em nitreto de silício
tria. Os mais comuns são o carboneto de silício, o nitreto de silício e em bicos de jatos de água (contendo partículas abrasivas). A com-
e o nitreto de alumínio. binação de elevados módulos de elasticidade e dureza com baixa
densidade, explica o facto de este material ser utilizado em pro-
• Carboneto de silício teção balística (incluindo coletes à prova de bala).
O carboneto de silício (SiC) caracteriza-se por ter uma dureza Mohs
próxima da do diamante, uma elevada condutividade térmica e uma
excelente resistência à corrosão a altas temperaturas (> 1000 °C) 4. CONCLUSÕES
[11]. Os componentes fabricados em SiC apresentam, regra geral, Sendo certo que os cerâmicos tradicionais atingiram já um elevado
uma estabilidade elevada, mantendo as suas propriedades mecâ- grau de maturidade, o mesmo não se pode dizer dos cerâmicos
nicas inalteradas, mesmo a temperaturas até 1400 °C [12]. técnicos. Consequentemente, importa dar a conhecer as poten-
Das suas aplicações destacam-se: esferas para rolamentos, sedes cialidades destes materiais, que têm vindo a ser aplicados em si-
para válvulas de bombas, placas de proteção em balística, espelhos tuações cada vez mais exigentes, em virtude dos avanços tecno-
para telescópios espaciais, absorvedores de radiação solar concen- lógicos registados, quer ao nível do respetivo processamento, quer
trada para centrais de torre destinadas à produção de eletricidade. da melhoria das suas propriedades intrínsecas.
• Nitreto de silício
Referências
O nitreto de silício (Si3N4) é o material mais adequado a aplicações
[1] W.M. Carty, U. Senapati (1998), Porcelain – Raw materials, processing,
que envolvam a ação simultânea de tensões mecânicas e térmicas
phase evolution, and mechanical behavior, Journal of the American Ce-
extremas [13]. Não é um material simples de processar, pois exige ramic Society, 81 (1) 3-20.
aditivos (como, por exemplo, ítria e alumina), temperaturas elevadas
[2] F.A.C. Oliveira, J.C. Fernandes (2002), Mechanical and thermal behaviour
(> 1850 °C) e atmosferas especiais (sobre pressão e de nitrogénio) of cordierite-zirconia composites, Ceramics International, 28 (1) 79-91.
[14]. Apesar de ser um material dispendioso, o seu desempenho, [3] F.A.C. Oliveira, J.C. Fernandes, J. Schmitt, L.G. Rosa, D. Dias (2013), Fracture
em particular ao desgaste, ao choque térmico e à corrosão a altas Toughness of Dense Cordierite: Sintering Cycle Effect, Materials Science
temperaturas, traduz-se numa relação custo-benefício que é con- Forum, Vols. 730-732, pp. 445-449, Trans Tech Publications Ltd., CH.
siderada excelente em aplicações exigentes, sobretudo quando se [4] F.A.C. Oliveira, A. Ferreira, J.R. Domingues, J.C. Fernandes, D. Dias (2010).
requeiram materiais com tempos de vida longos, muito fiáveis e The role of talc in preparing steatite slurries suitable for spray-drying, In-
ternational Journal of Materials Research, 101 (10) 1272-1280.
com baixos custos de manutenção.
Algumas das suas aplicações mais usuais incluem: ferramentas de [5] F.A.C. Oliveira, H. Reboredo, J.C. Fernandes (2016), Dynamic fatigue beha-
viour of a steatite ceramic, Materialwissenschaft und Werkstofftechnik, 47
corte para maquinagem de ferro fundido, rolamentos de precisão,
(9) 797–807.
rotores de turbina para motores de combustão, componentes para
[6] H. Schneider, J. Schreuer, B. Hildmann (2008), Structure and properties of
fundição de metais não ferrosos (tubagens, cânulas de bainhas de
mullite – A review, Journal of the European Ceramic Society, 28 (2) 329-344.
termopares, etc.), diferentes componentes para o manuseamento
[7] R. Morrell (1985), Handbook of properties of technical and engineering
e o fabrico de bolachas (“wafers”) semicondutoras, componentes ceramics. Part 1: An introduction for the engineer and designer, Her
esterilizados para aplicações médicas, entre outras. Majesty’s Stationary Office, London, UK.
[8] R. Morrell (1987), Handbook of Properties of Technical & Engineering Ce-
• Nitreto de alumínio ramics: Part 2: Data Reviews: Section 1: High-Alumina Ceramics, Her
O nitreto de alumínio (AlN) é um material que combina uma con- Majesty’s Stationary Office, London, UK.
dutividade térmica elevada (> 100 W m-1 K-1) com uma alta resisti- [9] R. Stevens (1986), Zirconia and zirconia ceramics, Publication No. 113,
vidade elétrica [15]. Isto permite que possa ser utilizado em situa- Magnesium Elektron Ltd., Manchester, UK.
ções em que seja necessário, por exemplo, dissipar calor, mantendo [10] A.J. Thomas, R. Stevens (1989), Aluminium titanate – A literature review.
Part 2: Engineering properties and thermal stability, British Ceramic Tran-
o isolamento elétrico. Outros dois exemplos de cerâmicos com
sactions Journal, 88 (5) 184-190.
elevada condutividade térmica são o óxido de berílio (BeO) e o ni-
[11] M. Carruth, D. Baxter, F.A.C. Oliveira, K. Coley (1998), Hot-corrosion of
treto de boro cúbico (c-BN).
silicon carbide in combustion gases at temperatures above the dew point
O AlN apresenta, ainda, um coeficiente de dilatação térmica seme- of salts, Journal of the European Ceramic Society, 18 (16) 2331-2338.
lhante ao do silício, o que proporciona a sua vasta aplicação no [12] V.A. Izhevskyi, L.A. Genova, J.C. Bressiani, A.H.A. Bressiani (2000), Silicon
setor da microeletrónica. carbide – Structure, properties and processing, Cerâmica, 46, n.º 297
(DOI: 10.1590/S0366-69132000000100002).
• Carboneto de boro [13] F.L. Riley (2000), Silicon nitride and related materials, Journal of the Ame-
O carboneto de boro (B4C) é um dos materiais mais duros que se rican Ceramic Society, 83 (2) 245–265.
conhece, ocupando a posição atrás do diamante e do c-BN [16]. [14] F.A.C. Oliveira, P. Tambuyser, D.J. Baxter (2000), The microstructure of
Trata-se de um material difícil de sinterizar, mesmo utilizando téc- an yttria-doped hot-pressed silicon nitride, Ceramics International, 26 (6)
571-578.
nicas como a prensagem a quente ou o sinter-HIP (tratamento tér-
mico envolvendo a aplicação conjunta de temperatura e pressão). [15] H.M. Lee, K. Bharathi, D.K. Kim (2014), Processing and characterization
of aluminum nitride ceramics for high thermal conductivity, Advanced
Devido à sua capacidade de absorver neutrões, o B4C é utilizado
Engineering Materials, 16 (16) 655-669.
no fabrico de barras de comando de reações de cisão nuclear. A
[16] F.Thévenot (1990), Boron carbide – A comprehensive review, Journal of
sua elevada dureza, confere-lhe uma extraordinária resistência à the European Ceramic Society, 6 (4) 205-225.
abrasão, o que permite a sua aplicação em operações de desbaste
Ação Disciplinar
– valor monetário por cada m2 de área de
terreno e valor monetário por cada m2 de
tipo de cultura existente ou possível de cul-
Súmula de acórdão proferido por FUNDAMENTAÇÃO tivar – também não ajudam a clarificar a
Conselho Disciplinar da Ordem avaliação efetuada, uma vez que não é in-
dos Engenheiros que aplica a pena Dos Factos dicado qual o valor por m2 utilizado como
de Advertência a um Engenheiro Resulta provado, com relevo para a decisão, referência desse cálculo, nem o tipo de cul-
que elaborou um relatório pericial, que: turas ali existentes ou possíveis de cultivar
no âmbito de processo judicial, A – Deu entrada no Conselho Disciplinar e respetivos valores monetários.
na qualidade de perito, e que uma participação apresentada pelo Senhor J – O relatório em causa não responde in-
não teve em atenção a especial X, contra o Arguido, imputando-lhe um teiramente ao que fora solicitado pelo Tri-
responsabilidade a que estava comportamento censurável do ponto de bunal, na medida em que não faz a distinção
cometido, não tendo atuado com a vista deontológico. ao valor que teriam à data pretendida, como
diligência devida e adequada. B – O Arguido foi nomeado perito nos autos era expressamente solicitado pelo Tribunal.
do Processo Comum n.º X, a correr termos K – O próprio Tribunal entendeu que a pe-
no Tribunal Judicial X, ainda na fase de in- rícia realizada não se mostrava particular-
RELATÓRIO quérito do mesmo, para proceder à ava- mente detalhada e pormenorizada e, em
O Arguido fora nomeado perito nos autos liação de nove prédios rústicos. consequência, determinou que fosse reali-
do Processo Comum n.º X, para proceder C – Nessa qualidade de perito nomeado no zada uma nova perícia.
à avaliação de nove prédios rústicos, com âmbito do identificado processo-crime, o L – O Arguido é Membro Efetivo da Ordem
vista a determinar-se o preço por metro Arguido subscreveu o relatório pericial. dos Engenheiros.
quadrado, e teria elaborado um relatório D – Desse Relatório, o Arguido atribuiu aos M – O Arguido nunca foi condenado em
pericial, mal elaborado tecnicamente e criado prédios rústicos em causa, os seguintes va- nenhum processo disciplinar.
apenas com o intuito de prejudicar politi- lores, por referência aos respetivos artigos
camente o Participante e influenciar nega- matriciais: Não foram provados outros factos com re-
tivamente o Tribunal, para que este con- 1 – Art.º 16 – 69,000 m2 : €86.250,00 levo para apreciação de mérito do presente
cluísse pela condenação daquele. 2 – Art.º 21 – 3.640 m2 : €4.550,00 processo.
O Arguido foi notificado para se pronunciar 3 – Art.º 26 – 10.720 m2 : €13.400,00 Os factos provados resultaram da prova do-
sobre o teor da participação e para juntar 4 – Art.º 48 – 2.200 m2 : €2.750,00 cumental junta, das declarações das teste-
aos autos os elementos de prova que repu- 5 – Art.º 184 – 26.400 m2 : €33.000,00 munhas ouvidas, quer a indicada pelo Parti-
tasse esclarecedores da situação. 6 – Art.º 335 – 5.800 m2 : €7.250,00 cipante, quer as arroladas pelo Arguido, porque
Foi proferida a acusação, nos termos do 7 – Art.º 558 – 2.490 m2 : €3.110,00 todas depuseram com isenção e imparciali-
art.º 46º do Regulamento Disciplinar, por- 8 – Art.º 626 – 28.050 m2 : €35.625,00 dade e ajudaram a esclarecer a situação e a
quanto existiam indícios suficientes de que 9 – Art.º 629 – 15.890 m2 : €19.860,00 formar a convicção deste Conselho.
o comportamento do Arguido constituía
uma violação culposa dos art.º 143º, n.º 6, E – O Arguido indicou ter utilizado na ava- Do Direito
art.º 142º, n.º 2º, art.º 143º, n.º 1 do Esta- liação dos mesmos o “método comparativo”. Compete ao Conselho apenas apreciar o
tuto da Ordem dos Engenheiros e, portanto, F – No relatório pericial em causa não foi comportamento dos Membros da Ordem
uma infração disciplinar nos termos do art.º indicado quais os termos de comparação dos Engenheiros sob o ponto de vista deon-
89.º do mesmo Estatuto. que utilizou – nomeadamente não foram tológico, da sua aferição face aos deveres
Em sua defesa, o Arguido pugnou pela cor- indicadas escrituras de compra e venda ou que o Estatuto da Ordem dos Engenheiros
reção do relatório por si subscrito, elabo- preços fornecidos por agentes imobiliários consigna como obrigatórios. Todas as de-
rado com isenção e imparcialidade, alegando relativos a prédios transacionados naquela mais querelas, políticas ou pessoais, estão
ainda que não há critérios obrigatórios para zona e com idênticas características – para fora do âmbito da atuação do Conselho.
avaliação dos prédios rústicos, que o Minis- tornar inteligíveis os valores que atribuíra a O que releva e o que foi objeto de apreciação
tério Público, que requerera o relatório pe- cada um daqueles prédios. foi a atuação do Arguido no que respeita à
ricial, se considerou satisfeito e elucidado G – O Arguido refere também no seu rela- elaboração e subscrição do relatório pericial,
pelo mesmo, depreendendo-se, portanto, tório que utilizou também o “método de tendo presente que o mesmo foi elaborado
que continha todos os elementos condu- custo”. e apresentado na qualidade de perito no-
centes ao fim a que se destinava, que um H – No relatório pericial em causa não foram meado e ajuramentado nos autos do pro-
outro relatório elaborado por um outro téc- identificados os prédios onde teriam sido cesso-crime e a sua conformidade, ou não,
nico por decisão do Tribunal apresentava realizadas benfeitorias, nem tão pouco dis- com os deveres a que está obrigado como
valores idênticos aos seus, foi o primeiro criminou especificadamente o valor das Membro Efetivo da Ordem dos Engenheiros.
relatório daquele tipo que elaborara e que mesmas, para tornar inteligíveis os valores Dito isto, dos factos dados como provados
a experiência adquirida entretanto lhe per- que atribuíra a cada um daqueles prédios. resulta que o comportamento do Arguido
mitirá no futuro aprimorar futuros relatórios I – As formas de cálculo indicadas como é passível de censura disciplinar, como
periciais que venha a subscrever. tendo sido utilizadas no relatório em causa adiante melhor se explicará.
O Arguido vem acusado da prática de ter sido utilizadas no relatório em causa – valor dever consignado no art.º 142º, n.º 2 do
violado os deveres impostos nos art.º 143º, monetário por cada m2 de área de terreno Estatuto da Ordem dos Engenheiros.
n.º 6, art.º 142º, n.º 2 e art.º 143º, n.º 1 do e valor monetário por cada m2 de tipo de E mais, que o Arguido, ao atuar daquela
Estatuto da Ordem dos Engenheiros. cultura existente ou possível de cultivar – forma, pôs em causa o prestígio da profissão
O primeiro dos preceitos indicados – art.º também não ajudam a clarificar a avaliação que exerce, não a desempenhando da forma
143º, n.º 6 – impõe ao Engenheiro que ela- efetuada, uma vez que não é indicado qual irrepreensível que lhe é exigível nos termos
bore os seus pareceres com objetividade e o valor por m2 utilizado como referência estatutários, e, portanto, violou também o
isenção. De acordo com o disposto no art.º desse cálculo, nem o tipo de culturas ali dever consignado no art.º 143º, n.º 1 do
142º, n.º 2, o Engenheiro está obrigado a existentes ou possíveis de cultivar e respe- Estatuto da Ordem dos Engenheiros.
prestar os seus serviços com diligência, pon- tivos valores monetários. O Arguido terá violado aquelas normas –
tualidade e de forma a não prejudicar o Por tudo isto, não é possível perceber como art.º 143º, n.º 6, art.º 142º, n.º 2 e art.º 143º,
cliente, nem terceiros. E o art.º 143º, n.º 1 o Arguido chegou à conclusão que os va- n.º 1 do Estatuto da Ordem dos Engenheiros
impõe ao Engenheiro que no exercício da lores dos prédios são aqueles que indicou – culposamente, procedendo, pelo menos,
sua profissão atue de forma a não pôr em no relatório e não outros. com negligência, através da omissão do
causa o prestígio e a dignidade da profissão. O relatório pericial elaborado e subscrito cumprimento dos deveres exigíveis a um
Dos factos provados resulta que o Arguido pelo Arguido não é, portanto, inteligível e profissional médio, praticando, assim, uma
violou os três deveres consignados nestas também não responde inteiramente ao que infração disciplinar, nos termos do art.º 89º
normas. fora solicitado pelo Tribunal, na medida em do Estatuto da Ordem dos Engenheiros e
O relatório pericial não é inteligível, não se que não faz a distinção ao valor que teriam do art.º 3º do Regulamento Disciplinar, in-
compreende como chegou aos valores que à data pretendida, como era expressamente fração que, atendendo aos poucos anos de
aponta para cada prédio e não corresponde solicitado pelo Tribunal. exercício da atividade do Arguido e à sua
ao que fora solicitado pelo Tribunal. O Arguido admite ter dito em Tribunal, ao inexperiência, entendemos, deve ser con-
O Arguido, nas alegações enviadas na se- Coletivo de Juízes, “que havia sido o pri- siderada leve.
quência da acusação que lhe foi dirigida, meiro relatório de avaliação de prédios rús-
nada adianta de objetivo e concreto relati- ticos que havia levado a efeito…”. Sanção a aplicar
vamente aos factos de que está acusado, E afirma que “num qualquer pedido futuro a) Circunstâncias Atenuantes
afirmando que inexistem critérios uniformes de avaliação deste género irá aprimorar o Do registo disciplinar do Arguido nada consta,
e objetivos para avaliar prédios rústicos. mesmo, tendo em consideração os conhe- pelo que na aplicação da sanção ter-se-á
Ora, os critérios até podem não ser uni- cimentos entretanto adquiridos”. em conta essa circunstância atenuante, pre-
formes, mas existem. E é a partir deles que Na realidade, o próprio Tribunal entendeu vista no art.º 101º, n.º 2, a) do Estatuto da
se faz a atribuição de um valor, qualquer que a perícia realizada não se mostrava par- Ordem dos Engenheiros e reproduzida no
que ele seja. ticularmente detalhada e pormenorizada e, art.º 14º, n.º 2, a) do Regulamento Disci-
É fundamental saber o tipo de solo, a sua em consequência, determinou que fosse plinar.
capacidade de uso, se é de regadio ou se- realizada uma nova perícia. Não se verifica nenhuma outra das circuns-
queiro, se tem bons ou maus acessos, se é Os factos dados como provados indicam tâncias atenuantes enunciadas nas demais
plano ou de encosta, etc. Sobre essas e ou- que o Arguido não elaborou um relatório alíneas destes preceitos.
tras características, o Arguido nada referiu pericial, com o rigor técnico, objetividade e b) Circunstâncias agravantes
e do relatório pericial aqui em apreço nada isenção que devia. Não há circunstâncias agravantes a consi-
consta a esse respeito. Só podemos, pois, concluir, que violou o derar (art.º 101º, n.º 3 do Estatuto da Ordem
O Arguido indicou ter utilizado na avaliação dever prescrito no art.º 143º, n.º 6 do Es- dos Engenheiros e reproduzida no art.º 14º,
dos prédios o “método comparativo“, mas tatuto da Ordem dos Engenheiros. n.º 3 do Regulamento Disciplinar).
não indicou quais os termos de comparação Para além disso, o relatório pericial em causa
que utilizou – nomeadamente não foram foi elaborado na qualidade de perito no- Atento todo o exposto, o Arguido cometeu
indicadas escrituras de compra e venda ou meado pelo Tribunal e no âmbito de um uma infração disciplinar leve por violação
preços fornecidos por agentes imobiliários processo-crime, o que reclama uma ainda do disposto nos art.º 143º, n.º 6, art.º 142º,
relativos a prédios transacionados naquela maior exigência de rigor técnico, objetivi- n.º 2 e art.º 143º, n.º 1 do Estatuto da Ordem
zona e com idênticas características – para dade e isenção por parte dos nomeados. dos Engenheiros, pelo que, atendendo à
tornar inteligíveis os valores a que chegou. E representa uma responsabilidade acres- gravidade e às consequências da mesma, ao
O Arguido refere igualmente no seu rela- cida para qualquer técnico. grau de culpa do Arguido e à circunstância
tório que utilizou também o “método de O Arguido não teve em atenção esta espe- atenuante do exercício efetivo da profissão
custo“, mas não identificou os prédios onde cial responsabilidade que o desempenho por um período superior a cinco anos sem
teriam sido realizadas benfeitorias, nem tão do cargo de perito nomeado pelo Tribunal qualquer sanção disciplinar, se julga como
pouco discriminou especificadamente o acarreta, não tendo atuado com a diligência adequado e justo que seja punido com uma
valor das mesmas, o que não permite per- devida e adequada ao especial serviço que pena de Advertência, prevista na alínea a)
ceber o porquê dos valores que o Arguido tinha de prestar. Por isso, dos factos dados do n.º 1 do art.º 100º do Estatuto da Ordem
imputa a cada prédio. como provados resulta que o Arguido, com dos Engenheiros e na alínea a) do n.º 1 do
As formas de cálculo indicadas como tendo o seu comportamento, violou também o art.º 13º do Regulamento Disciplinar.
ANIMAIS DE COMPANHIA
Legislação
EM ESTABELECIMENTOS
CESSAÇÃO DE VIGÊNCIA
DE DECRETOS-LEIS PUBLICADOS
ENTRE OS ANOS DE 1975 E 1980
FUNDO PARA A INOVAÇÃO SOCIAL Estabelece as normas de execução do Or- SISTEMA DE APOIO À REPOSIÇÃO
çamento do Estado para 2018. DA COMPETITIVIDADE
∞ Decreto-Lei n.º 28/2018 Entre muitas e importantes disposições, al- E CAPACIDADES PRODUTIVAS
Diário da República n.º 85/2018, tera o Código dos Contratos Públicos.
Série I de 2018-05-03 ∞ Decreto-Lei n.º 31/2018
Cria o Fundo para a Inovação Social. PERITOS AVALIADORES Diário da República n.º 87/2018,
Série I de 2018-05-07
HABITAÇÃO ∞ Portaria n.º 124/2018 Altera o Sistema de Apoio à Reposição da
Diário da República n.º 87/2018, Competitividade e Capacidades Produtivas.
∞ Resolução do Conselho de Ministros Série I de 2018-05-07
n.º 50-A/2018 Define os requisitos e as condições aplicá- SISTEMA DE CERTIFICAÇÃO
Diário da República n.º 84/2018, veis ao seguro de responsabilidade civil – DE ATRIBUTOS PROFISSIONAIS
1.º Suplemento, Série I de 2018-05-02 peritos avaliadores.
Aprova o sentido estratégico, objetivos e ∞ Portaria n.º 73/2018
instrumentos de atuação para uma Nova PROTEÇÃO CONTRA A EXPOSIÇÃO Diário da República n.º 50/2018,
Geração de Políticas de Habitação. AOS CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS Série I de 2018-03-12
Define os termos e as condições de utili-
∞ Decreto-Lei n.º 29/2018 ∞ Decreto-Lei n.º 11/2018 zação do Sistema de Certificação de Atri-
Diário da República n.º 86/2018, Diário da República n.º 33/2018, butos Profissionais (SCAP), para a certificação
Série I de 2018-05-04 Série I de 2018-02-15 de atributos profissionais, empresariais e
Estabelece o Porta de Entrada – Programa Estabelece as restrições básicas ou níveis públicos através do Cartão de Cidadão e
de Apoio ao Alojamento Urgente. de referência referentes à exposição humana Chave Móvel Digital.
a campos eletromagnéticos derivados de
∞ Resolução do Conselho de Ministros linhas, instalações e demais equipamentos DIPLOMAS REGIONAIS – MADEIRA
n.º 57/2018 de alta e muito alta tensão.
Diário da República n.º 88/2018, Série I de ∞ Decreto Legislativo Regional
2018-05-08 ∞ Lei n.º 20/2018 n.º 6/2018/M
Aprova o programa Chave na Mão – Pro- Diário da República n.º 86/2018, Diário da República n.º 53/2018,
grama de Mobilidade Habitacional para a Série I de 2018-05-04 Série I de 2018-03-15
Coesão Territorial. Reforça as regras de proteção contra a ex- Sétima alteração ao Decreto Legislativo Re-
posição aos campos eletromagnéticos, pro- gional n.º 34/2008/M, de 14 de agosto, que
LABORATÓRIOS COLABORATIVOS cedendo à primeira alteração à Lei n.º adapta à Região Autónoma da Madeira o Có-
(CoLABS) 30/2010, de 2 de setembro. digo dos Contratos Públicos, aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de janeiro.
∞ Resolução do Conselho de Ministros RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS.
n.º 23/2018 REGIME EXTRAJUDICIAL ∞ Decreto Regulamentar Regional
Diário da República n.º 48/2018, n.º 6/2018/M
Série I de 2018-03-08 ∞ Lei n.º 8/2018 Diário da República n.º 55/2018,
Determina o início do financiamento com- Diário da República n.º 44/2018, Série I de 2018-03-19
petitivo a Laboratórios Colaborativos (CoLABS). Série I de 2018-03-02 Fixa o valor do metro quadrado de cons-
Regime Extrajudicial de Recuperação de trução para o ano de 2018.
LEI DO CINEMA Empresas (Altera o Código do Imposto sobre
o Rendimento das Pessoas Coletivas e o DIPLOMAS REGIONAIS – AÇORES
∞ Decreto-Lei n.º 25/2018 Código do Imposto sobre o Valor Acres-
Diário da República n.º 80/2018, centado). ∞ Decreto Regulamentar Regional
Série I de 2018-04-24 n.º 3/2018/A
Regulamenta a Lei do Cinema no que res- SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO Diário da República n.º 25/2018,
peita às medidas de apoio ao desenvolvi- EM EDIFÍCIOS Série I de 2018-02-05
mento e proteção das atividades cinema- Execução do Orçamento da Região Autó-
tográficas e audiovisuais. ∞ Resolução do Conselho de Ministros noma dos Açores para 2018.
n.º 13/2018
ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2018. Diário da República n.º 36/2018, ∞ Decreto Legislativo Regional
NORMAS DE EXECUÇÃO Série I de 2018-02-20 n.º 3/2018/A
Determina um conjunto de iniciativas sobre Diário da República n.º 38/2018,
∞ Decreto-Lei n.º 33/2018 a divulgação, verificação e cumprimento do Série I de 2018-02-22
Diário da República n.º 93/2018, regime jurídico da segurança contra incêndio Regime jurídico de gestão dos recursos ci-
Série I de 2018-05-15 em edifícios. negéticos e do exercício da caça.
O problema de Dido
O
poeta romano Virgílio (70-19 AC) pai, ter mandado matar o seu marido. Os tado quanta terra queria, Dido respondeu
relata no seu poema épico “Eneida” fugitivos acabaram por aportar no Golfo de “aquela que puder ser abarcada pela pele
a história da rainha Dido e, em Tunes, aí estabelecendo um pequeno acam- de um boi”.
particular, da fundação de Cartago. A prin- pamento. Depois do negócio fechado e pago, Dido
cesa Dido, filha do rei de Tiro, teria sido no De acordo com a lenda, Dido terá então pôs a sua gente a trabalhar: os fenícios pe-
século IX AC obrigada a fugir da Fenícia com abordado o rei local, um tal Iarbus, pro- garam numa pele de boi curtida ao sol, cor-
os seus fiéis depois de o seu irmão Pigma- pondo-lhe a compra de terra para instalação taram-na em tiras muito finas e coseram as
lião, que assumiu o poder após a morte do definitiva do seu povo. Ao ser-lhe pergun- tiras umas às outras em série. Dispuseram
então a gigantesca corda assim formada em marcar uma recta apoiada em dois pontos mais do que compensada pela área que ga-
forma de semicírculo, com extremidades da reentrância e reflectir o pedaço de curva nhamos nos crescentes adicionados (verdes).
apoiadas na costa, e mostraram o resultado correspondente nessa recta. A nova curva Ou seja: substituir o quadrado pela circun-
a Iarbus: aquela era a terra “abarcada por resultante teria o mesmo perímetro mas li- ferência resulta num aumento de área. Por-
uma pele de boi” a que tinham contratual- mitaria em região com área estritamente tanto, a circunferência é um bom “candidato
mente direito. Foi assim fundada a antiga maior. a curva ideal”, ao passo que o quadrado foi
Cartago, da qual Dido foi a primeira rainha. eliminado.
Sendo este relato verdade ou lenda, ele pre-
tende mostrar-nos a inteligência superior de Faça o leitor agora um exercício. Será que
Dido em dois factos diferentes. Em primeiro consegue, partindo de uma circunferência,
lugar, pela argúcia de cortar a pele de boi substitui-la por uma curva de perímetro igual
em tiras e com ela criar uma corda. Em se- e delimitando uma área maior? Não parece
gundo lugar porque, de posse desta corda, nada fácil! Depois de algum tempo, prova-
Dido resolveu um delicado problema mate- velmente o leitor suspeitará que é impos-
mático: o de abarcar, com uma corda de sível, sendo conduzido a conjecturar, como
comprimento fixo, uma região com a maior terá feito Dido, que a circunferência é a
área possível. De acordo com a lenda, a so- curva que resolve o problema isoperimé-
lução proposta por Dido foi um semicírculo. trico: de todas as curvas fechadas no plano
Figura 2 A curva de área máxima deve ser
Vamos reformular ligeiramente o problema convexa com o mesmo perímetro, a circunferência
de Dido, substituindo-o por uma versão em é aquela que maximiza a área da região cir-
que não existe costa (que, como veremos, Assim, a região limitada pela curva preten- cunscrita.
é equivalente ao problema de Dido original). dida não pode ter reentrâncias. Em termos É fácil agora, supondo que a conjectura é
Qual é, no plano, a curva fechada que, tendo matemáticos, tem de ser uma região “con- verdadeira, resolver o problema original de
um dado perímetro fixo, delimita uma re- vexa” (dados quaisquer dois pontos na re- Dido através de um argumento de reflexão.
gião de área máxima? Este problema é hoje gião, o segmento de recta entre eles está Suponhamos que temos um semicírculo e
conhecido entre os matemáticos como totalmente contido na região). uma outra curva C com o mesmo compri-
Problema de Dido ou problema isoperimé- O leitor pode verificar que a região cons- mento, ambos apoiados na costa. Consi-
trico, pois as curvas a considerar têm sempre truída na Figura 2 pela simetria na curva in- deremos as curvas fechadas geradas por
igual perímetro. dicada ainda não é convexa, pois existem reflexão de cada uma destas na linha de
Se as origens do problema isoperimétrico ainda duas pequenas “reentrâncias”. Mas costa. Estas novas curvas têm igual perí-
estão envoltas por uma história mais ou podemos continuar a aplicar este processo metro e cada uma circunscreve o dobro da
menos lendária, a verdade é que ele teve até obtermos uma região convexa. Geome- área da que a originou. Mas o semicírculo
implicações práticas na Antiguidade. No tricamente é mais ou menos claro que este deu origem a um círculo e pela nossa con-
plano geográfico, Tucídides (século V AC) processo vai “arredondando” progressiva- jectura este circunscreve uma área superior
faz estimativas de tamanhos de grandes mente a região inicial, tornando-a mais pa- à da outra curva. Portanto, o semicírculo
ilhas, como a Sicília, a partir das viagens de recida com um círculo. Será que a curva original delimita uma área superior à deli-
circum-navegação, em que tem acesso ao ideal é mesmo uma circunferência? mitada pela curva C. QED.
perímetro – e não à área. No plano militar, Vejamos se esta conjectura faz sentido. Par-
uma técnica antiga de estimar o tamanho tindo de um quadrado, construamos um
de exércitos inimigos era contornar os acam- círculo com o mesmo perímetro (Figura 3).
pamentos e medir o respectivo perímetro, Aquilo que se observa é que a área que per-
acreditando ser essa uma boa estimativa da demos nos cantos eliminados (vermelho) é
área ocupada e, portanto, da expressão nu-
mérica do exército. E o filósofo Proclo (sé-
culo V DC) descreve membros de comuni-
dades que enganavam os seus conterrâneos,
em negócios de partilhas, atribuindo-lhes
terrenos com maior perímetro mas menor
área do que aqueles que reservavam para
si próprios.
Terá o problema de Dido uma solução “ra-
Figura 4 Solução do Problema de Dido
zoável”? Tentemos construir alguma intuição
sobre ele.
Em primeiro lugar, parece claro que uma Tudo isto parece razoavelmente transpa-
curva que maximiza a área não poderá ter rente e, portanto, deve ser relativamente
reentrâncias ou bojos, como uma ferradura. simples demonstrar a nossa “Conjectura
Figura 3 Deformar um quadrado numa
Se tal acontecesse (ver Figura 2) poderíamos circunferência aumenta a área Isoperimétrica”. Certo?
Errado. E errado de uma forma espectacular: casco) que depende da curva solução. mada acção. É possível reconstruir toda a
não apenas uma solução rigorosa demorou Pouco depois surge nos círculos matemá- Física a partir apenas deste princípio!
mais de 2.000 anos a ser construída, como ticos europeus o famoso problema da bra- Na verdade, é graças à reformulação da Fí-
pelo caminho foi deixando uma fértil se- quistócrona, ou curva de descida mais rá- sica Clássica em termos deste princípio (dito
menteira de ideias que transformou radical- pida. Suponhamos que temos um corpo de Hamilton) que é possível construir, já no
mente a Matemática e a Física. que se desloca de um ponto A para um século XX, edifícios teóricos coerentes para
O problema isoperimétrico foi tratado se- ponto B, ao longo de um carril, sofrendo a Mecânica Quântica e para a Teoria da Re-
riamente pelos geómetras gregos da Anti- acção da gravidade. Qual é a forma do carril latividade. A formulação de Feynman da
guidade. Por volta de 150 AC, Xenodoro que minimiza o tempo total de percurso? Mecânica Quântica consiste na transcrição
tinha demonstrado rigorosamente três re- Este problema foi resolvido simultaneamente do princípio de acção mínima num contexto
sultados geométricos relevantes para o pro- por Johann Bernoulli, Newton, Leibniz e quântico.
blema, um dos quais afirma que a circun- l’Hôpital em 1697; a solução é um arco de Não podia, portanto, ser mais fértil o pro-
ferência circunscreve uma área maior do ciclóide. Note-se de novo a estrutura: que- blema de Dido: ele esteve na origem de
que qualquer polígono regular com o mesmo remos minimizar uma grandeza (neste caso novas ideias matemáticas, que conduziram
perímetro. o tempo de percurso) que depende global- a áreas genuinamente novas e a abordagens
Uma das consequências mais notáveis dos mente de toda a solução. inovadoras da Física Teórica e da nossa
resultados de Xenodoro foi deduzida por Suponha que pega num fio de prata e o compreensão do Universo. Mas qual o es-
Pappus de Alexandria (século IV AC) num suspende por cada uma das extremidades. tatuto actual do problema?
texto intitulado “Sobre a sagacidade das Qual é a forma assumida pelo fio? Mais ge- Em 1838 o matemático suíço Jacob Steiner,
abelhas”. Pappus demonstra que a pavimen- ralmente, podemos estar interessados em ao fim de quase 1.900 anos, foi o primeiro
tação de um plano por azulejos poligonais cabos suspensos, o que tem muito interesse a fazer avanços reais sobre o problema. Ele
idênticos tem perímetro mínimo quando os prático (basta pensar em pontes ou postes introduziu uma técnica chamada “simetri-
azulejos são hexagonais – explicando assim de electricidade). Este problema foi resol- zação”, pelo qual é possível substitui qual-
por que razão as abelhas constroem favos vido, em simultâneo, por Leibniz, Huygens quer curva por uma versão “simetrizada”,
com esta estrutura: minimizam o material e Johann Bernoulli. De novo este problema com o mesmo perímetro mas delimitando
de construção. pode ser formulado como um problema de área maior ou igual. A ideia é, então, realizar
No entanto, depois de Xenodoro o problema extremo global (neste caso a energia po- sucessões de simetrizações deste tipo, au-
isoperimétrico, enquanto problema clássico tencial), sendo a solução uma curva (neste mentando a simetria da curva. Curvas dife-
de geometria, foi sendo esquecido. Sempre caso uma catenária – e não uma parábola, rentes, por este processo, vão “convergir”
que a questão surgia, tomava-se simples- ao contrário do que poderia parecer e chegou para o círculo, que é a curva de área má-
mente como verdadeiro que o círculo é a a ser sugerido por Galileu). xima. QED.
curva que circunscreve a área máxima. Da O matemático suíço Leonhard Euler for- As técnicas de Steiner foram, já no século
mesma forma, os astrónomos simplesmente mulou em 1744 uma abordagem geral a XX, adaptadas a contextos bastantes mais
assumiam ser verdadeira a propriedade aná- este tipo de problemas, cujo objectivo é gerais. Por exemplo, em dimensão 3 per-
loga no espaço: uma esfera é a superfície construir uma curva que torne extrema (má- mitem mostrar que as bolas são as super-
fechada que, para uma dada área, encerra xima ou mínima) uma grandeza integral de- fícies de área mínima para um volume dado
um volume máximo. Mas nada disto estava finida sobre toda a curva. O método de Euler (razão pela qual as bolas de sabão são…
demonstrado. resolve o problema geral. Pouco depois, bolas); por outro lado, o problema isoperi-
Os desenvolvimentos da Matemática no sé- Euler recebeu uma carta do jovem Lagrange, métrico em dimensão n é, ainda hoje, fonte
culo XVII, em particular a criação do Cálculo que generalizava as suas ideias. Assim nasceu de resultados matemáticos e generalizações
Infinitesimal, vieram revolucionar a situação. aquilo que hoje conhecemos como Cálculo surpreendentes.
Não directamente, pois o problema em si das Variações, do qual a pedra basilar são De Steiner ao Cálculo de Variações e à Ma-
permaneceria dormente até ao século XIX; as chamadas equações de Euler-Lagrange. temática e Física do século XXI, o problema
mas de forma indirecta, através do desen- É difícil sobrevalorizar a importância do Cál- isoperimétrico transcendeu as suas humildes
volvimento de ferramentas analíticas ex- culo das Variações na Matemática e na Fí- origens na geometria antiga e mostrou bem
traordinariamente poderosas para tratar sica Modernas. As fundações da Mecânica fazer parte das grandes ideias da Matemá-
problemas semelhantes em espírito. dos Meios Contínuos baseiam-se em prin- tica.
Em 1687, no livro 2 dos seus Principia Ma- cípios variacionais (tornar extremas deter-
thematica (1687), Isaac Newton considera minadas quantidades conduz às equações
o problema do desenho do casco de um do sistema, que são as equações de Euler-
navio de forma a minimizar a resistência hi- -Lagrange). Mas mais ainda: nos séculos
drodinâmica. Newton resolve o problema XVIII e XIX estes métodos permitiram uma
determinando a curva correspondente a um nova formulação, equivalente mas muito
perfil óptimo do casco. Note-se a seme- mais poderosa, da Mecânica de Newton: a
lhança em espírito com o problema de Dido: Mecânica Analítica. Misteriosamente, o Uni-
pretende-se minimizar uma grandeza global verso newtoniano comporta-se de forma a Nota: o autor escreve segundo a ortografia
(neste caso a resistência total sofrida pelo tornar mínima uma grandeza integral cha- anterior ao Acordo de 1990.
OPINIÃO
Prevendo o futuro
P
rever o futuro é um exercício difícil e de ele- O passado não adivinhou o futuro. Foi o futuro que
vado risco! copiou e concretizou a imaginação e as fantasias
Difícil porque não é dado ao homem prever do passado.
o futuro. Apenas pode vislumbrá-lo por extrapo- Leonardo, com a sua fértil imaginação e criatividade,
lação do passado e do presente. E não é essa a es- imaginou o helicóptero e os investigadores e téc-
sência do conhecimento científico? Renato Morgado nicos do futuro, inspirados pelos seus geniais e in-
De elevado risco porque se se acertar dir-se-á que Membro Conselheiro teressantíssimos desenhos, concretizaram-no.
da Ordem dos Engenheiros
foi por acaso; se se errar dir-se-á que foi por não Homens como Leonardo acertaram, por vezes em
Membro Emérito
se ter tido o discernimento suficiente. da Academia de Engenharia cheio, porque se tinham tornado modelos a copiar
Possivelmente, a única certeza sobre o futuro é que Professor Catedrático e a seguir, que os vindouros quiseram concretizar.
ele será muito diferente do presente. Convidado (reformado) Assim, influenciaram o futuro!
da Universidade do Minho
Mas, apesar disso, o homem sempre tentou prever Não previram! Apontaram caminhos e disseram aos
o futuro, por um lado, espicaçado pela sua natural vindouros como achavam e desejavam que o Mundo
curiosidade, por outro lado, para se preparar para deveria ser… E eles concretizaram-no!
ele e, sobretudo, para o preparar. Com meios de informação de acesso muito fácil e
Preparar o futuro é providenciar para que ele acon- barato, largamente disseminados, com contacto
teça na forma que entendemos ser a mais conve- virtualmente instantâneo entre as pessoas e insti-
niente… E mais cedo! tuições, a chave do sucesso e da felicidade vai cen-
Como se compreende que Leonardo da Vinci, e trar-se nos processos mentais, humanos e sociais,
outros, que ousaram adivinhar o futuro acabaram e na “digestão” que formos capazes de fazer da in-
muitas vezes por ter razão? Seria Leonardo genial formação disponível. Por outras palavras: o valor
ao ponto de com cinco séculos de antecedência económico e os custos vão estar associados não à
prever a invenção do helicóptero? Talvez… Mas há informação, mas sim ao conhecimento que resulta
outra interpretação possível. da efectiva “digestão” da informação.
Pessoas, instituições, empresas e sociedades criarão riqueza na soas liberdade e responsabilidade sobre como atingir esses objec-
medida em que produzirem conhecimento e o incorporarem no tivos e os meios necessários para isso.
seu dia-a-dia, nos seus bens e serviços. Como manter a sanidade mental num ambiente destes?
Para produzirem conhecimento, as pessoas terão que estar equi- Construindo o que se pode designar por “factor de inteligência
padas com as necessárias “ferramentas” intelectuais, quer racionais, emocional da organização” (QE).
quer emocionais, e terão que ter conseguido desenvolver a capa- O QE de uma organização pode ser desenvolvido estimulando e
cidade necessária para aprenderem por si próprias, a partir de uma promovendo o relacionamento entre as pessoas da organização,
informação abundante, de acessibilidade quase imediata e a um fazendo com que elas intervenham directamente na avaliação das
preço quase nulo. dificuldades e das soluções, levando-as a sentirem a organização
As instituições de formação serão tutores nesse processo de edu- como sua, libertas de chefias rígidas e vivendo num ambiente hu-
cação, e não meramente fontes de informação, e as empresas mano e emocional estimulante.
serão contextos de aplicação de conhecimento e não meros lo- É um desafio difícil, mas é um desafio apaixonante.
cais de emprego.
Mas como se produz conhecimento? Que pessoas e atitudes são A segunda condição pode designar-se por “ser capaz de viver na
precisas? NET”.
Que organizações melhor poderão potenciar e aproveitar a pro- Sistemas isolados ou pobres em interacções rapidamente se de-
dução de conhecimento? gradam e se extinguem. Sistemas isolados e fechados, como reli-
Para terem sucesso, as pessoas deverão ser capazes de olhar para giões fundamentalistas, comunidades isoladas ou empresas mo-
toda, ou a máxima, informação que as rodeia, selecionarem a parte nopolistas, degeneram sempre, mais cedo ou mais tarde. Se não
relevante num contexto específico, “digeri-la” e aplicarem o co- forem capazes de interactuar com outros sistemas, com eles tro-
nhecimento daí resultante a acções concretas susceptíveis de ge- cando energia, informação e conhecimento, é inevitável o seu pro-
rarem riqueza (um novo produto ou processo, um novo mercado, cesso de decaimento, vítimas de in breading.
um novo conceito). Na sociedade do conhecimento, para que uma organização viva,
se fortifique e se expanda de forma saudável, tem que saber viver
Situação Inicial em rede assumindo a rede como fonte de vida.
Informação
Quanto à terceira condição: gerir o conhecimento é um “ramo do
Informação saber” que lida com a aquisição, a classificação, a transferência e a
Útil distribuição do conhecimento, tal como se faz com qualquer outro
Trabalhador
do Conhecimento activo.
A compreensão destes processos é essencial para que uma pessoa
A Situação Modificada, com
Resíduos
Valor Acrescentado Incorporado ou organização cresça e se desenvolva na sociedade futura.
Pode-se facilmente transmitir ou transferir informação. Mas a trans-
Conhecimento está associado à acção efectiva
Knowledge is just the beginning – Doing the best with knowledge
ferência do conhecimento só pode ser entendida como um diá-
logo que incida sobre contextos e sobre o próprio objecto do co-
Para uma organização ter sucesso no futuro é necessário que seja nhecimento.
capaz de gerar e estimular a criatividade, já que esta está na base
da produção do conhecimento e este na base da criação de riqueza. Sumariando em quatro ideias a perspectiva do que serão as socie-
Mas como se gera e estimula a criatividade? Satisfazendo três con- dades do futuro:
dições simultaneamente, que devem reforçar-se mutuamente: 1. O processo de criação de riqueza estará intimamente ligado ao
1. Ser-se capaz de viver com algum caos dentro das portas. conhecimento e à sua produção, transferência, conversão, par-
2. Ser-se capaz de construir as suas vantagens competitivas a partir tilha e distribuição.
de permutas de conhecimento com o exterior. 2. A riqueza de uma pessoa ou organização estará ligada à base
3. Ser-se capaz de gerir o conhecimento actuando sobre ele como de conhecimento que esteja implicada.
um activo importante. 3. Isto exigirá pessoas habilitadas para detectar e selecionar infor-
mação útil num certo contexto, digeri-la e aplicar o conheci-
Em relação à primeira condição: a gestão do caos numa organi- mento daí resultante em acções concretas. Essas pessoas são
zação é uma questão relevante. os trabalhadores do conhecimento, que são criativos e rebeldes,
A tentação imediata é impor regras niveladoras que controlem o e capazes de utilizar o conhecimento com a razão e com a
caos. emoção.
O resultado é, quase sempre, que as pessoas criativas deixam de o 4. Três condições ressaltam como necessárias: saber respirar algum
ser ou, mais tarde ou mais cedo, abandonam a organização. caos; saber viver em rede; saber gerir conhecimento.
O desafio mais interessante, embora mais difícil, é considerar a
criatividade e o caos a ela associado como parte integrante da fi- Pessoas, organizações ou nações que compreendam e adoptem
losofia da própria organização, de modo a que os limites sejam estes paradigmas terão sucesso.
estabelecidos apenas pelos objectivos a atingir que, dentro de certas
condições, devem ser claros e mobilizadores, e seja dada às pes- Nota: o autor escreve segundo a ortografia anterior ao Acordo de 1990.
OPINIÃO
Engenheiro Silvicultor
Augusto Manuel Sardinha
(1912/2018)
que deixou a obra mais emblemática na
consolidação das dunas, com a prévia cons-
trução da ante-duna – recorrendo à utili-
zação de um mecanismo de roldanas na
subida das pranchas que acompanhavam o
crescimento da ante duna – enquanto ar-
Tomás Leiria Pinto
borizava a duna com Casuarina, que assim
Engenheiro Silvicultor
Presidente da ADFERSIT – Associação servia como quebra ventos para a retenção
Portuguesa para o Desenvolvimento de areias.
dos Sistemas Integrados de Transportes
Regressado a Portugal ingressou na UTAD
– Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro, onde lecionou durante cerca de 20
C
om 106 anos completados no dia anos e deixou vasta bibliografia, com parti-
15 de Março, faleceu no passado cular destaque para a “Hidráulica Florestal”,
dia 20 de Abril o “Decano” da En- o primeiro livro português sobre “Fogos Flo-
genharia Florestal Portuguesa, o Engenheiro restais” (em colaboração com o colega e
Augusto Manuel Sardinha. amigo Wolfango de Macedo) e diversos vo-
Licenciado em Silvicultura pelo Instituto Su- lumes sobre a “Silva Tropical”.
perior de Agronomia, realizou o seu estágio Para além do seu reconhecido percurso
em Hidráulica e Correcção Torrencial, ini- profissional, em Angola evidenciou uma di-
ciando a sua vida profissional na Adminis- mensão humana que dificilmente poderá
tração Florestal em Viana do Castelo, onde ser retratada na habitual biografia. A uma
realizou trabalhos na fixação das dunas e reconhecida seriedade intelectual, e pos- esses difíceis tempos de Angola, através da
na arborização de áreas da referida Admi- suidor de padrões de rigor técnico que o sua permanente presença, atenção e co-
nistração Florestal. notabilizaram, o Engenheiro Augusto Sar- ragem.
Concorrendo à Administração Ultramarina dinha aliava uma rectidão moral com uma Este comportamento exemplar de Portu-
partiu para Angola em 1946, onde realizou invulgar lucidez e coragem na sua vida diária. guês, como funcionário de uma Adminis-
a sua marcante carreira técnica até 1975, Assumindo o cargo de Director dos Serviços tração Ultramarina que então se extinguia
sempre ao serviço da Direcção de Agricul- de Agricultura e Florestas de Angola, na di- e como reconhecido técnico silvicultor que
tura e Florestas, primeiro em Nova Lisboa fícil fase de transição que se seguiu aos sempre foi, aliado a um relevante compor-
e, posteriormente, em Luanda, onde foi Di- Acordos de Alvor, trabalhando na depen- tamento cívico e ético, levou a República
rector-adjunto e, desde 1974, Director até dência hierárquica de um Ministro da Agri- Portuguesa a distingui-lo com a Ordem de
à data da independência de Angola. cultura indigitado pela FNLA, sempre soube Mérito Agrícola – Grande Oficial por oca-
O longo período passado em Nova Lisboa assumir uma posição de inegável indepen- sião do seu centésimo aniversário.
nos anos 50/60 permitiu-lhe desenvolver dência. Para os que tiveram o privilégio de o co-
inúmeros trabalhos na área da correcção Fui presença directa desse conturbado pe- nhecer ficará sempre a memória de um téc-
torrencial, com especial relevância na cons- ríodo, durante o qual o Engenheiro Augusto nico rigoroso, de um professor que tinha o
trução de diversas barragens que permitiram Sardinha, preocupado em salvaguardar o gosto de partilhar o conhecimento e a ex-
a irrigação de terras aráveis e a plantação respeito pela ainda existente soberania por- periência adquirida, de um homem bom
de extensas áreas arborizadas que, com evi- tuguesa e garantir o direito às inevitáveis que prezava em cultivar a amizade.
dente sucesso, evitaram a erosão dos solos preferências partidárias que começavam a
com o surgimento de ravinas (como infe- despontar, revelou a sua extraordinária ca- Lisboa, 25 de Abril de 2018
lizmente hoje se verifica em inúmeras re- pacidade de diálogo e bom senso, evitando
giões do território angolano). muitas mortes humanas no turbilhão de Nota: o autor escreve segundo a ortografia
Mas foi em Porto Alexandre (hoje Tombwa) perseguições e vinganças que caracterizam anterior ao Acordo de 1990.
Em Memória
Os resumos biográficos dos Membros da Ordem dos Engenheiros falecidos são publicados na secção “Em Memória”, de acordo com o
espaço disponível em cada uma das edições da “INGENIUM” e respeitando a sua ordem de receção junto dos Serviços Institucionais da
Ordem. Agradecemos, assim, a compreensão das famílias e dos leitores pela eventual dilação na sua publicação.
Igualmente, solicita-se, e agradece-se, que futuras comunicações a este respeito sejam dirigidas à Ordem dos Engenheiros através do
e-mail rolanda.correia@oep.pt e/ou ingenium@oep.pt