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ENTREVISTA COM O PROFESSOR MOHAMED HABIB

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POR MÁRCIO JOSÉ ANDRADE DA SILVA

UNICAMP - 30/03/2000

Concebo as religiões como uma forma que o ser humano encontrou de se relacionar com
algo que foge a sua compreensão, principalmente a morte. Nas minhas leituras e pesquisa
me deparei, certa feita, com as chamadas religiões abraâmicas, aquelas que são oriundas
de Abraão (judaísmo, cristianismo e islamismo). Com as leituras surgem os
questionamentos. Para sanar algumas dúvidas minhas procurei o professor Mohamed
Habib, amigo e uma pessoa que admiro pelo seu caráter e postura diante do mundo. E
uma referência em se tratando do diálogo inter-religioso. Prontamente ele concordou em
me auxiliar. O resultado foi esta pequena entrevista.

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O significado da palavra “Islã”

MOHAMED: A palavra “Islã” – Eeslã e não íslã – como se fosse dois “e”. A palavra
“Islã” é o nome da religião islâmica. Islã é um derivado da palavra “paz”, “salam”.
Então “salam” é paz. Portanto, Islã exatamente é sujeitar-se à paz, isso seria o significado
da palavra “Islã” sujeitar-se à paz, viver em paz. Islã também significa submissão a Deus.

Muslim, é aquele cidadão adepto ao Islã, em árabe, em inglês fala-se a mesma


palavra Muslim, em português Muçulmano. Mas, é muito comum você ouvir o pessoal
falando Muslim, que é a palavra em árabe.

A caracterização da religião islâmica como paz, na realidade ela veio muito antes
do surgimento da religião islâmica. Aí vale a pena falar um pouquinho sobre a relação ser
humano–Criador.

O Criador é um só. Único e Eterno. Acho que não preciso te convencer das provas
da existência do Criador único e eterno, que são duas características distintas. A
Unicidade é uma característica, a Eternidade é a outra. Ele tem as duas. Essas são as duas
características básicas do Criador, ele é único e eterno. Têm mais de cem características,
mais de cem adjetivos Dele se encontram inclusive, noventa e nove deles escrito no
Alcorão. Tem um trecho alcorânico que coloca os noventa e nove adjetivos do Criador,
provavelmente você já viu isso, está no Alcorão.

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Esse Criador, único e eterno, Ele não precisa da gente, não depende da gente, Ele

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criou esse universo todo, deve ter outras vidas em outros lugares desse universo. Mas,
para esse planeta, para esse ambiente, com as características que ele tem, o ser vivo mais
sofisticado somos nós, provavelmente ele tenha um outro ser vivo mais nobre em um
outro ambiente qualquer, mas não é humano. É um outro ser vivo nobre naquelas
condições ambientais daquela estrela, daquele planeta, daquele sistema. Para nós aqui,
nós fomos criados como ser mais sofisticado e mais complexo há 200.000 anos, a partir
do Adão. A linguagem alcorânica e bíblica, quando fala que nós fomos criados do barro
– embora o Criador tenha toda a capacidade de pegar um pedaço de barro e fazer assim
“Seja Adão!” mas, Ele não precisava fazer isso, Ele nos ensina e nos educa usando
sempre isso que ele nos deu, que é o cérebro. Então ele cria em sucessão as diferentes
formas de vida, e todas de fato começaram a partir da água e da terra, a partir do barro. E
vai criando em etapas, uma forma cada vez mais sofisticada, este prédio biológico, essa
torre biológica e lá em cima coloca nossa espécie “homo sapiens” há 200.000 anos, a
partir do casal Adão e Eva.

Esses Adão e Eva podem ter surgido a partir de qualquer processo biológico
natural, então quando se fala de mutantes ou mutações é um fenômeno natural, pode ser
até que nasceu de qualquer “homo erectus” um gêmeo, dois gêmeos, masculino e
feminino, pode ser até grudado um ao outro, como mutante, com uma massa cerebral três
vez maior da que gerou esses dois gêmeos, é uma mutação, é uma obra divina, e depois
saíram grudados aqui nessa parte [aponta para a costela] na medida que o tempo passa
eles vão crescendo e chega a hora quando os dois se separam dessa pele. É comum até
nas pessoas gêmeas grudadas e a medicina hoje separa, não é isso? e no tempo se
separaram, e fala que Eva saiu da costela de Adão, aquelas coisas, pode ser até isso, mas
não importa, o importante é que nós somos a espécie superior.

Durante esse tempo todo, Deus mandou um monte de mensageiro, de profetas,


para nos ensinar, para nos orientar, já que nós temos cérebros, nós temos que tomar muito
cuidado, porque a interferência do pensar é diferente da do sentir, o pensar é um processo,
o sentir é outro processo. Então Ele teria uma preocupação com esse recurso, quando é
usado de uma forma errada, pode nos levar a um sofrimento, então Ele começa a nos
orientar com teses de mensageiros, de profetas, para que nós possamos viver e termos
uma vida digna, coerente com essa qualidade que nós temos como uma espécie pensante.
Assim, Ele coloca para nós as religiões, e as religiões vêm de uma forma simples e cada

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vez vai mais uma sofisticação, mais um enriquecimento, mais umas exigências, que nem

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o sistema educacional, vai cada vez adicionando conteúdo maior. Até que chegamos a
Abraão.

Abraão é o grande companheiro do Criador, porque ele é o portador, ele é o


carregador da tese do monoteísmo. Ele que veio, para com bastante lucidez e sabedoria,
ensinar a humanidade o que que é um Deus Único e Eterno, o monoteísmo. Isso há 3.500
a 4.000 anos atrás.

Do Abraão, o monoteísta, o companheiro do Criador, dar-se os descendentes dele,


desses descendentes vem Moisés, trazendo a religião judaica, vem Jesus Cristo trazendo
a religião cristã, vem Mohammad trazendo a religião islâmica.

São três etapas monoteístas. E o monoteísmo e as demais etapas são todas etapas
de uma religião única. Tudo o que Deus mandou para nós, desde o início do processo até
o profeta Mohammad, é uma religião única, a Religião Divina, é um processo educativo
único, é um programa educacional único, só que é enviado em etapas. Cada uma vai
completando a outra, você nunca vai ver o professor de matemática do 2º grau xingando
e odiando o professor de matemática do 1º grau. Uma etapa completa a outra, não tem
choques entre os princípios matemáticos ensinados no 1º grau e a matemática ensinada
no 2º grau. Uma sustenta a outra. Só que na religião o ser humano é complicado demais,
então ele consegue fazer com que a religião fosse motivo de discórdia e antagonismo
entre os povos, aí se criam os atritos. Isto é, o interesse do próprio homem faz com que
haja guerras “santas”, haja cruzadas, haja esses conflitos que nós estamos vivendo.
Interesses de grupos, interesses geopolíticos, interesses de todos os tipos, muitas vezes
vestidos de roupa religiosa, para usar os fiéis de forma equivocada nessas disputas.

Então, quando você pega a religião judaica, a religião judaica tinha uma filosofia,
convencer o ser humano, a partir do temor, do medo.

O Deus dessa época também é aquele mau, o que castiga?

MOHAMED: É, o castigador, o bravo, o poderoso. Então, por que? Porque o povo da época
tinha uma cultura e um desenvolvimento intelectual que só se convence com esse tipo de
abordagem, e o povo mais qualificado, na época, que era do Egito antigo, qual era a
maneira de se convencer? com as magias. Aí com isso Deus dá para Moisés o poder da
magia.

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“Vá lá, entre em disputa com os mágicos do faraó”,

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Moisés diz: “mas eu não sei fazer”

“Vá lá, eu te ajudarei, vá lá, e faça o desafio, monte a arena, chame o povo”

E os mágicos fizeram aparecer as cobras no meio da arena.

E Moisés só tinha aquele cajado:

“O que é que eu faço?”

“Jogue o seu cajado no meio da arena”

“Mas, meu Deus é um pedaço de pau”

“Jogue!”

Aí ele jogou e ela se transformou noutra cobra bem maior, e comeu todas as
cobras. Com isso, todo o povo acreditou que Moisés era Mensageiro de Deus. Então para
cada povo, para cada cultura, para cada estrutura de comunidade, Deus tinha que mandar
um mensageiro com as ferramentas de trabalho que funcionassem com aquela sociedade.
Então, na época de Moisés era essa.

Depois, vem a época do Jesus Cristo, é outro extremo. Jesus Cristo veio para
defender a paz absoluta, a paz total, a misericórdia total. Se baterem no seu lado direito,
não faz mal, dá o lado esquerdo. Mas não precisa ter ódio no seu coração, é outro extremo.
Porque Deus é o misericordioso, Deus é o perdão, Deus é outro extremo.

Depois vem a última mensagem monoteísta, aquela que veio para estabelecer
exatamente o ponto de equilíbrio.

Então existem dois polos?

MOHAMED: Não, Deus é poderoso sim, é bravo sim, castigador sim. Mas, também ele
um misericordioso, ele perdoa, ele nos oferece o inferno de um lado, representando o
castigo, mas também ele nos oferece o céu, o paraíso, representando a recompensa. E para
isso não pense que quando alguém for covarde, oprimido, castigado por outro, que irá
para o paraíso, sem mais ou sem menos. Não, porque você tem as obrigações de procurar
pelos seus direitos, de lutar por eles, e de se esforçar para conquistar corretamente aquilo
que é seu. Aí começa a parecer uma postura da justiça, da justiça social, do equilíbrio, de

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combate a corrupção, de recuperar os direitos da criança, da mulher, de fazer o melhor

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movimento para combater a escravidão.

Portanto o melhor combate à escravidão foi de 1.400 anos atrás com o Islã. Mas
foi de que jeito? Não foi com arma, com revolta, não, nada disso. Nada disso. Foi quando
o profeta convenceu um grupo dos ricos ou da burguesia da Arábia Saudita da época a se
converterem ao Islamismo, os poderosos, a tribo de Coraich, e todos tinham escravos.
Liberte os seus escravos ... eles são iguais a vocês. Não há diferença entre o árabe e o
persa e o africano e isso e aquilo. Não há nenhuma diferença entre um e outro, existe não
ser com o seu grau de conduta, de religiosidade e de espiritualidade. Essa é a única
superioridade que Deus aceita, e só cabe a Ele identificar e medir. Então você não pode
ser dono de um ser igual a você. Liberte-o. Ali, um dos seus companheiros, libertou a
meia dúzia de escravos aí falou para ele: “Gostou?”

“Muito. O escravo até não queria sair”

“Tudo bem, contrate ele, dá para ele um salário, dá para ele um trabalho e pague-
o”.

Só que tem uma lei de pagar o serviço do trabalhador. Qual é a lei? Você tem de
pagar antes do suor do corpo dele secar. O cara terminou o serviço, ainda está suado, dá
para ele o que ele merece. Não deixe para o dia seguinte. E, não fale:

“Te pago amanhã”,

E, se o muçulmano não tinha escravos, ou havia libertado todos, a recomendação


e de comprar escravos de outros para libertá-los em seguida.

“Meu irmão, você já libertou seus escravos, está vendo fulano? ele tem um
escravo, e não quer libertá-lo, compre esse escravo e liberte-o. Deus vai te dar uma
grande recompensa, por isso.” Ele vai lá compra o escravo e o liberta.

O outro: “Ó profeta, eu cometi um erro, eu devia fazer jejum, mas eu estraguei o


meu jejum, eu errei assim, eu errei assado, o que é que eu devo fazer?”

“Não tem problema, Você errou, você tem condição de corrigir esse erro, vai, e
liberte um escravo.” E o cidadão vai lá e liberta um escravo. Está quite com Deus.

Este são exemplos de correção numa estrutura social problemática que existia
naquela época.

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Eu estava vendo que entre os cinco primeiros discípulos de Mohammad existiam
dois ex-escravos. Portanto eles não poderiam ser escravos e muçulmanos, teriam que
ser libertos?

MOHAMED: É Isso! Teria que ser liberto, exatamente. A sociedade muda de rumo mas de
forma consciente, todo mundo participa do processo, não foi decreto. Não foi decreto, foi
um trabalho, foi um movimento social pela libertação do escravo, pela libertação da
mulher.

A mulher antes era a vergonha, a mulher antes desonrava o homem, então quando
nascia criança do sexo feminino, enterravam-na, escondiam, era vergonha. O Islã veio
para mudar isso. Veio para dar para a mulher o seu direito dentro da sociedade, dentro
da família. Hoje, você vê que tentam mostrar que a cultura islâmica é machista. Acredito
eu que a verdadeira mulher escrava é aquela que se mostra nos out-doors, mulher escrava
é aquela que está nua nas avenidas, no carnaval, mulher escrava é aquela que está se
prostituindo o corpo para alimentar o filho, essa é a escravidão social mais nojenta que
um ser humano pode sentir.

Então você pode ver que a correção da sociedade no Islã foi um processo
fantástico, utilizando-se os meios de conscientização, antes de qualquer coisa, sobre os
seus direitos e as suas obrigações, mas de uma forma bastante pedagógica. Então o álcool
no Islã, por exemplo, a bebida alcoólica, o Islã veio para combater essa cultura, ele não
aceita, não admite, é um pecado no Islã.

Por que? Porque é prejudicial, tanto para a sociedade como para esse corpo que
você recebeu como responsável por ele. Então, você na minha frente, tem dois aspectos:
você é a pessoa quem decide e você é o corpo, o veículo que você carrega. Você é
responsável pela integridade deste corpo que você recebeu do Criador. Ele te deu a saúde,
corpo, sentidos, olhos para ver, ouvidos para ouvir, sistema digestivo para se alimentar,
para curtir a vida; você não pode prejudicar nem esse indivíduo, nem a sociedade; e o
álcool é inimigo desses dois princípios. “Mas, como eu vou fazer o cara largar de beber
numa sociedade que só tem bebuns?”. Na época todo mundo bebia. Aparece o primeiro
trecho alcorânico dizendo: “Não faça oração, enquanto você estiver bêbado” ele não
disse para o cara: “Não beba” mas disse para ele: “Se você estiver bêbado, não faça
oração”. São quantas orações por dia? Cinco. [risos] Em cinco horários diferentes não

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dá tempo para o cara beber. Não dá tempo. Então, vai devagarzinho, vai devagarzinho,

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vai devagarzinho. Aí chega no final do tempo, nos últimos capítulos alcorânicos, aí fala:
“Deus te proíbe de beber o álcool”, como ordem Divina.

Ele já estava no momento certo para receber a Ordem?

MOHAMED: Sim, ele já estava preparado e consciente. Agora, é proibido por causa disso,
por causa daquilo, acho que os motivos da proibição todos nós sabemos. Enfim, veja a
sabedoria, já que estamos falando de proibições. Carne de porco. É outra proibição, outro
pecado alimentar. Os pecados alimentares: álcool, carne de porco e sangue. Animal morto
e não abatido. Esses são os pecados.

Qual é a diferença do animal morto para o abatido?

MOHAMED: O abatido é aquele que você corta para sangrar, para tirar o sangue dele, com
a finalidade de consumi-lo como alimento. O morto é aquilo que morreu por qualquer
causa, como tiro, doença, envenenamento, queda ou qualquer coisa assim. O animal
abatido, ele é abatido de uma forma humanitária, ele não percebe, ele não deve perceber
que ele está sendo levado para ser abatido. Ele não deve sentir a faca. Ele não deve ver a
faca. Ele não deve ficar nervoso. Tem que ser tratado com muito carinho, não deve
perceber nada. Agora, bater na cabeça, dar um tiro, não, isso não pode.

Muito bem, então uma das proibições é a carne de porco, por exemplo, comer
carne de porco é pecado. Uma velha sabedoria. Por que? É para proteger o seu corpo e
sua saúde. Então, o princípio é salvar a vida da pessoa? Sim. Então, vem cá: “eu estou
numa situação, no deserto, faminto, não tem a comida, acabou a minha comida, eu estou
morrendo por falta de energia e a mim foi oferecido um pedaço de carne de porco. Se eu
não comer eu vou morrer. O que é que eu faço?” Coma, é permitido. Não vá comer para
encher tua barriga, e tomar uma cervejinha, não. É para matar tua fome até conseguir uma
alternativa permitida. A mesma coisa a cerveja, a mesma coisa o álcool.

Sendo o único líquido que você tenha?

MOHAMED: O único líquido que você tem para te salvar, da morte pela sede. Toma um
gole. E vai andando até achar água. Vai morrer de novo? Toma outro gole.

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É interessante que ao mesmo tempo em que existem as proibições, existe o que seria
quebrar as proibições, e é permitido. Não existe uma proibição....

MOHAMED: Absoluta. Exatamente. Então, quando você vê esse gradiente de mensagens


religiosas. Um vem para completar o outro.

Quando perguntaram para o Profeta Mohammad: “Vem cá, afinal, o que você está
trazendo de novo, qual é sua relação em relação aqueles que lhe antecederam? E aí, qual
a diferença entre vocês?”

“A diferença. Não tem nenhuma diferença. É como se vocês estivessem andando


na rua e vissem uma bela construção, vocês olharam, falaram: ‘puxa que bela construção,
uma pena que naquele buraquinho está faltando um tijolinho’ Eu sou esse tijolinho. Essa
construção é grande obra divina que se iniciou desde Adão e a suas últimas etapas foram
Moisés e Jesus Cristo.” São as palavras do Profeta.

Aí eu pergunto hoje para a sociedade ocidental: “Qual é a imagem de vocês em


relação ao Islã?” “É o inimigo número 1 do cristianismo. É o inimigo número 1 do
judaísmo.” Não é. Está entendendo a distorção? Para que? Para atender o que? Interesses
políticos e geopolíticos.

Aí vem a história da camisa do meu pai. A exploração dos britânicos do Egito, a


exploração dos americanos no mundo inteiro hoje, inclusive no Brasil. Está entendendo?
Então eles escravizavam o povo egípcio para, entre outros, levar para a Inglaterra o
algodão que o Egito plantava, levava lá para a indústria têxtil inglesa, depois devolvia
para vender para o Egito.

Meu pai me dá uma camisa “Comprei para você, já que você passou o primeiro
da classe esse ano, uma camisa inglesa.”

“Pai, não é inglesa pai. É egípcia. É egípcia. É a nossa camisa, esses caras estão
roubando da gente, pai, tão roubando. Eles levaram o algodão que o povo sofrido aqui
plantou, levaram para lá. Essa é a nossa, essa é a nossa camisa.”

Então, o Islã veio exatamente para combater isso. Antes de elaborar, cinquenta
anos atrás, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, está no Alcorão há 1.400 anos.
Há 1.400 anos. Só que o imperialismo, o colonialismo, os europeus no passado, e os norte-
americanos no presente, para eles continuarem com essa aparente superioridade, com esse

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conforto, eles tinham que destorcer a História. Eles sabem que o inimigo deles é o Islã.

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Porque é uma das poucas teses que de fato defendem, e com toda convicção, os direitos
humanos.

Este Código te dá toda a coragem de defender os seus direitos. Então o Islã te


ensina, exatamente, defender os seus direitos. Quando você tem comunidade sabendo
disso, e o imperialismo e o colonialismo têm interesse nas suas terras, ele tem que te pintar
de satanás, de anticristo.

É o Grande Satã?

MOHAMED: Na visão imperialista é bom caracterizar o islã como tal. Exatamente. Então,
enquanto eles tiverem interesse no petróleo vai continuar esse inferno.

E, quando acabar o petróleo?

MOHAMED: Isso está escrito no livro de Richard Nixon, ex-presidente dos Estados
Unidos, na biografia dele. Então você pega o capítulo do Oriente Médio, esse parágrafo
está escrito assim. “O Oriente Médio voltará a viver em paz, só depois do esgotamento
da última gota de petróleo, até lá nós temos que manter essa situação de conflito, de
guerras internas.” palavras de Richard Nixon.

Hoje, Estados Unidos, conta com uma população de 250 milhões, menos de 4%
da população humana, que é de 6 bilhões de habitantes. Se de fato aquele país fosse
democrático, como ele de diz, ele devia consumir dos recursos naturais do globo terrestre
a mesma porcentagem, isto é 4% da população, deve consumir 4% dos recursos naturais.
Concorda comigo?

Claro.

MOHAMED: Então o petróleo mundial que não está no território americano, dele os
americanos consomem 33%, quase 10 vezes o que eles teriam de direito. Dos recursos
minerais, eles consomem 42%. Do gás natural que não se encontra no território norte-
americano, ele gasta 61%. É democrático? É justo? É ético? Mas se veste de tudo isso.

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E coloca os árabes como os terroristas, como os criminosos, radicais e briguentos.

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Terroristas! O que é terrorista? terrorista é o cara que faz terror. Agora, os milhões que
morrem de fome, de falta de abrigo, de falta de atendimento médico, e de falta de escola,
esses são terroristas? Terroristas são os responsáveis por isso; é aquilo que consome
sozinho tudo isso. Então o Islã não admite isso.

Na época do Omar, segundo Califa, depois da morte do Profeta, veio uma


delegação da Pérsia. Pérsia era outro império, império da riqueza, do ouro, e das
caravanas. Veio uma delegação em forma de caravana, saindo da Pérsia, que é o atual Irã,
e entra na península arábica, para Meca, para levar uma mensagem e presentes como
expressão de amizade ao Califa Omar. A delegação chega em caravana, entra na cidade
de Meca, pergunta: “como a gente encontra o Califa?”

“Ah, mas para frente, vira a direita, vira esquerda...”

“Não tem palácio, não tem castelo, não tem nada.” Chega, chega, chega. Não vê
nada. “Ei, por favor, nós estamos procurando o Califa Omar, e nos indicaram que seria
esse caminho, mas não estamos vendo palácio, castelo”

“Vocês estão querendo falar com ele?”

“Sim, falar. Cadê?”

“Aquele que está deitado lá, embaixo da árvore.”

“Deitado?”

“É. Está dormindo embaixo da árvore.”

Chegaram lá e viram um cidadão, roupa bem simples, dormindo embaixo da


árvore, duas três horas da tarde, assim, após o almoço, deitado sozinho. Não tem guarda,
não tem nada. Nem guarda? Não. E que o chefe da delegação diz, uma frase que ficou
famosa, até hoje: “Governou com justiça, aí se sentiu a segurança e aí dormiu em paz.”
O segredo está onde? Na justiça de governar. Todo mundo está satisfeito? Está seguro?
Aí dormiu tranquilamente.

Então este é o Islã. Aí você pode falar para mim “E os governantes atuais desses
países muçulmanos, eles governam desse jeito?” Não, não governam. Todos são aliados
ao império norte-americano, todos, sejam sistemas monárquicos, sejam republicanos.
Então hoje, Saddam Hussein, Kadafi, Mubarak, são repúblicas. Estão fazendo o jogo

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direitinho que o americano quer. Vestem-se de independentes, progressistas, de

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republicano, e tal, xingam, mas, estão fazendo do jeito que ele quer.

Os monarcas são assumidos mesmo, nós somos amigos dos EUA, eles que nos
protegem, eles que nos deram isso, eles dividiram a península arábica em estados
diferentes e pegaram as famílias mais fortes e fizeram acordo.

“Olha, você vai ser o rei e nós vamos proteger vocês, está bom?”

“Está ótimo.”

Está aí o Kuwait, os Emirados, a Arábia Saudita e por aí vai. Os que não


concordam são o satanás. Então, o Irã, inimigo dos Estados Unidos. Por que? Porque não
aceita a hegemonia norte-americana. Ele defende a democracia, defende a justiça, defende
os direitos dos povos. Outro inimigo dos Estados Unidos é o Kadafi, outro inimigo é o
Saddam Hussein, mas o Saddam Hussein era muito amigo durante os nove anos de guerra
entre o Irã e o Iraque. Portanto esse é o mapa geopolítico dos países muçulmanos. O Islã
é uma coisa. E hoje o Estado dos países muçulmanos é outra coisa. Tem corrupção, tem
todos os problemas que nós conhecemos nos países periféricos. Não governam através
dos princípios islâmicos.

Além de serem republicanos, monárquicos, eles seriam teocráticos também?

MOHAMED: Não.

Não seriam?

MOHAMED: Não esses republicanos, não. Os monarcas também não. Porque, a partir do
Século 18, separou-se a liderança teológica espiritual do Estado. Que até então eram
unidos no grande chefe da nação. Isto é, estendeu-se desde 1.400 anos atrás até o Império
Otomano, na Turquia, quando se degradou muito e os britânicos entraram em ação e
fizeram os acordos, venceram as guerras e dividiram, e fizeram o compromisso:
“Separem o Estado da Religião nos países muçulmanos”

“Sim senhor”

E foi feito, e aí começou o caos. E você está vendo o que está acontecendo hoje.

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Nos livros, após a Palavra “Mohammad” existe uma saudação.

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MOHAMED (Alaihu Salam-ullah) - Isso é, que a paz de Deus esteja com ele.

E para os outros profetas existe uma saudação diferente?

MOHAMED: Não, é a mesma.

Essa saudação, o que é que seria, qual é o significado dela, ou a sua obrigatoriedade?

MOHAMED: Que a paz de Deus esteja com fulano, que a benção de Deus esteja com
sicrano. São apenas saudações para respeitar a figura deles, a história deles. Então, essa é
uma forma de reconhecimento à importância desses profetas, vamos dizer, de lideranças
em uma época em que a humanidade estava num caos e esses mensageiros vieram,
exatamente, para mudar a história da humanidade em 180º. Então, a intenção é essa. Mas,
não significa santificar as pessoas.

Nem o Profeta é santificado. Nem o Profeta! O Profeta é um simples homem igual


a você, igual a mim. Mas ele foi escolhido pelo seu caráter, pela sua educação, pela sua
sensatez, pelo Criador para ser o Mensageiro da religião. Se você quiser pedir perdão,
você não vai pedir ao Profeta, se você cometeu um pecado, ele é que nem você, não tem
nenhum poder. Você vai pedir a quem? A Deus e só. No Islã, não há nenhuma
intermediação entre você e o Criador. Não há. Não existe. Aí para isso você não precisa
nem horário nem de local para se comunicar com o Criador, onde você estiver basta
concentrar e falar com Ele, Ele está te ouvindo. Às vezes não precisa nem falar com voz
alta Ele está sabendo o que você está pensando. Na época do Profeta, com a perseguição
aos muçulmanos, matavam-se os muçulmanos, um grupo foi perguntar ao Profeta:
“Profeta, eles nos pegam e nos castigam e querem que a gente confesse e declare que
nós não estamos mais seguindo a religião islâmica, se não eles matam a gente, e com
isso vários de nossos companheiros morreram”

“Vocês erraram, eles querem essa confissão, pode falar o que eles querem ouvir,
Deus sabe o que vocês estão pensando isso é o que importa. Deus quer que a sua vida
seja protegida, não pense que você se matando Deus vai ficar contente, não, não. Ele
sabe o que é que você tem dentro do seu coração. ‘Não, não sou mais’ ‘Jura?’ ‘Juro!

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não, não sou mais’. Mas Deus sabe o que você é ou não é. E o importante é isso o que

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você tem no seu coração”

Sobre a deturpação da Bíblia.

MOHAMED: Muito bem. Há uma grande diferença entre os dois livros sagrados. Os
muçulmanos acreditam em todos os profetas e mensageiros que Deus enviou, incluindo
os que eu citei, Moisés, Jesus Cristo, Abraão, Noé. Em todos esses, os muçulmanos
acreditam e fazem parte da sua religiosidade. Além de acreditar em seus mensageiros e
profetas, acreditar em todos os livros sagrados que Deus mandou. Os “povos dos livros”
são exatamente: judeus, cristão e muçulmanos. Eu como muçulmano sou autorizado a me
casar com qualquer mulher dos “povos dos livros”. Então eu posso me casar com cristã,
com judia, com muçulmana, não tem qualquer restrição. O muçulmano ele parte da sua
crença acreditar nos livros sagrados que Deus mandou, inclusive para essas religiões, no
entanto, o Islã sabe que o homem alterou os livros, pode ser de uma forma proposital ou
não, não importa. Se há 2.000 anos, 1.800 anos atrás, 1.500 anos atrás, escreveu-se um
livro e esse livro passo a ser traduzido, de uma língua para outra, a própria língua muda
até de sentido a cada centena de anos. Se você pega a literatura escrita há duzentos anos
atrás, em português, você vai até achar até palavras esquisitas, palavras diferentes até.
Então a própria tradução já é um mecanismo de alteração no termo. 1) a Bíblia foi escrita
pelos discípulos, não foi escrita na época, essa Bíblia que você tem nas mãos, não foi
escrita na época de Jesus Cristo. Então passados muitos anos, muita coisa se perde.
Quando se faz essa comparação com o Alcorão, o Alcorão foi escrito simultaneamente
no momento de sua revelação. Foi revelado, o Profeta repetia a mesma coisa para o seu
companheiro, o companheiro escrevia, porque o Profeta era analfabeto e não sabia
escrever, então ele ouvia, decorava e pronto. Dava para o outro escrever. Depois isso foi
juntado. 2) a proibição de traduzir o Alcorão. Você não tem Alcorão em outras línguas.
Você tem a tradução do seu significado em outras línguas. Então com isso, você sempre
fica com o original. Aí você pode ter 30.000 traduções, você leia e acompanhe e vê se
confere ou não confere.

O sagrado é o ….

Entrevista com o professor Mohamed Habib sobre o Islã – por Márcio José Andrade da Silva
MOHAMED: O sagrado é esse que está escrito há 1.400 anos em árabe e nunca foi alterado

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nem sequer uma vírgula.

O traduzido, então, não é sagrado?

MOHAMED: Não é sagrado, não. Não é Alcorão. Chama-se “tradução do significado”.


Essa é a grande diferença.

Eu estava vendo que o Alcorão cita algumas passagens da Bíblia, acho que para
justificar, ou exemplificar a passagem de Mohammad. Mas, se a Bíblia está
deturpada como saber se não é aquela passagem exatamente que está deturpada?

MOHAMED: A Bíblia que cita o surgimento de Mohammad, essa Bíblia está guardada a
sete chaves no Vaticano. Tem uma ou outra coisa em algum lugar. E se chama Barnabé,
ou Bíblia Barnabé, alguma coisa...

Os Evangelhos de Barnabé?

MOHAMED: Isso. É só isso. E isso não é o comum, usado assim pela sociedade cristã e
pela igreja. Se não me engano é essa que consta nela, mas, nas demais não constam isso.
Mas, de qualquer modo, se você pega diferentes Bíblias hoje, e faz comparação você vai
ver a diferença.

Mas de qualquer modo quando eu discuto essa questão eu não quero colocar uma
contra a outra, não, eu sempre defendo a tese que são etapas diferentes de um único
processo, infelizmente o interesse humano complica a relação entre essas etapas.

Por que a língua árabe é considerada uma língua sofisticada? Não houve uma
evolução da língua desde a época de Mohammad até os nossos dias?

MOHAMED: Muito bem. Nada é perfeito. Só Deus é perfeito, o resto não é perfeição. A
língua árabe é considerada e foi considerada na época, 1.400 anos atrás, como a maneira
de comunicação e a língua mais rica na época. Então a beleza da expressão, a riqueza do
vocabulário, o sentimento da palavra, é uma língua fantástica nesse sentido. E na época,
1.400 anos atrás, os escritores e os poetas, à época, expressavam o auge da escrita, da

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literatura árabe. Então havia feiras, feiras de poesias, que nem feira que vende qualquer

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coisa. Mas feira de poesias, de letras. Um cara fica falando uma poesia durante 2, 3 horas
e outro sai falando 2, 3 horas, e uma banca examinadora define quem é o melhor, aí o
Califa, o Sheik, premiava. Era o período onde a letra, onde a fala estava no auge.
Exatamente, nisso Deus entra, para a disputa. Moisés era a magia. Vocês são bons na
letra, então nós vamos entrar em letras. E desce com o conteúdo alcorânico, o mais belo
que a humanidade ouviu na língua árabe, até hoje, até hoje. Eles não tinham condições
como... E Deus desafia nos Seus trechos alcorânicos: “Façam igual. Façam os
parágrafos, capítulos, faça uma frase igual” Nem isso.

É o som dela? A construção dela?

MOHAMED: É a construção, o som, o significado, a sensibilização. É tudo, é tudo. É uma


música com expressão, com profundidade, com ideias, com tudo. Hoje, o mundo da
informática mostra que esse conteúdo todo segue equações matemáticas bastantes
complexas, se você tirar uma vírgula, ou uma letra, quebra aquele todo. Disseram: “Não
é possível que seja uma obra humana, porque só o computador, hoje, é que teve condições
de identificar isso.”

1.400 anos depois.

MOHAMED: 1.400 anos depois. Como? Então usam dessa técnica para provar que é uma
obra não humana. É outro milagre é que até hoje tudo o que a ciência descobre está no
Alcorão. Não houve nenhuma descoberta científica que entra em choque com o Alcorão,
que é um tratado de teologia, de história natural, de climatologia, de geologia, de
astronomia...

Eles mantêm a ciência e a fé coexistindo?

MOHAMED: Exatamente. A ciência e a fé estão em paralelo.

Existem dois profetas citados que são contemporâneos, logo após Abraão, na
verdade os filhos de Abraão: Isaac, que é o que deu origem ao povo judeu, e Ismail,
que deu origem ao povo árabe, eles são considerados dois profetas e são
contemporâneos?

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MOHAMED: Isso. Exatamente.

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1) Porque parece não existir só eles, eles são os profetas principais, existem profetas
de menor contribuição?

MOHAMED: Exatamente. Isso que eu queria falar para você. Há um gradiente de..., você
tem milhares, de profetas e mensageiros do Criador. Mas, os principais, que representam
as etapas principais, são aqueles que são contados nas Bíblias e nos Livros Sagrados.
Isaac e Ismail, eles têm sem dúvida nenhuma, um prestígio espiritual muito elevado, eles
são os filhos de Abraão. Tem histórias muito bonitas deles, tem passagens fantásticas.
Tem um papel muito importante que eles exerceram, mas, obviamente, não chega à altura
dos principais Abraão, Moisés, Jesus Cristo e Mohammad.

Fora destes tem outros nomes também, inclusive antes de Abraão, por exemplo, tem
Zacarias, Yahia, que seria o João, tem vários nomes também que tiveram uma
contribuição espiritual muito grande, da divulgação da palavra do Criador. Agora, eles
estão enquadrados nessas etapas que nós falamos, e as palavras do Abraão, quando ele
falava, ele falava do Islã, ele era o Muslim, que a religião, que a relação entre o ser
humano e o Criador é o Islã, isso é a submissão a Deus.

Em relação ao significado da palavra “Muslim”, todos os que se submetem a Deus...

MOHAMED: São muçulmanos, por tanto.

Não são só os árabes...

MOHAMED: Exatamente.

Como alguns tentam passar.

MOHAMED: Isso, exatamente. É muito comum que aqui, os nossos colegas aqui, amigos
falam: “Peça a teu Allah” Como se fosse o meu Allah, uma entidade que não tem nada a
ver com Deus.

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Senão teremos o “God” dos ingleses, e cada língua vai ter o seu deus?

MOHAMED: Exatamente. Um pede a God, outro pede a Dieu, e o outro ao Allah..., não é
por aí. Então, tem esse tipo também de informação. Mas, o Muslim, para ser Muslim, o
muçulmano para ser muçulmano, ele teve, senão não seria, que crê e acreditar em todos
esses profetas e mensageiros, e tem obviamente alguns detalhes, “Ah, mas nós cristãos,
nós consideramos Jesus Cristo com o filho de Deus”, o filho direto, o filho biológico,
filho orgânico. E não como os muçulmanos interpretam: “Ele é filho de Deus tanto quanto
eu sou filho de Deus”, todos nós somos filhos de Deus. Isso é, no Islã, nós colocamos
como Jesus Cristo como profeta, como mensageiro, e que também foi escolhido pelas
suas características como profeta Mohammad também foi escolhido. Deus é único, Ele
não foi gerado de ninguém e não gerou ninguém, mas o sopro Dele deu a vida a todos
nós, inclusive a Jesus Cristo. Jesus Cristo foi escolhido e foi criado e surgiu, exatamente
para expressar mais um milagre. Então, o milagre da magia de Moisés, o milagre da letra
do Alcorão do Mohammad e quais foram os milagres de Jesus Cristo? Começa com o
próprio nascimento, nascer de mãe virgem. Quando o cristão fala Virgem Maria, é porque
é Virgem, sim, porque é virgem. Dizer que ela foi casada com José, o carpinteiro, não, na
visão islâmica não é verdade, se fosse não seria virgem. Ela foi virgem. Isso foi um
milagre divino. Então quando Deus escolhe a Virgem Maria, e dá o sopro, e o arcanjo
Gabriel a avisa “Você foi escolhida por Deus, para gerar um filho e vai surgir aqui para
estabelecer e para divulgar a paz”. Então você pega essas palavras todas: “paz”,
“submissão a Deus”. Tudo são palavras bem parecidas: “Paz”, “Salam”, “Islã” ...

Shalom...

MOHAMED: Shalom, tudo é uma coisa só. Aí ela disse: “Puxa, mas como eu vou gerar
filho eu nunca fui tocada, nunca ninguém me tocou?”

“Deus, sabe o que vai fazer, fica tranqüila.”

Então quando começaram os sinais... a barriga cresce, ela fica com vergonha e sai
correndo e a própria comunidade sai correndo atrás dela, a procura dela. “Onde está a
Maria? Sumiu”, “Onde está a menina? Sumiu”. Aí ela vai lá no deserto, correndo,
fugindo da vergonha. Aí chega tão cansada em um tronco de uma tamareira morta, há
anos, sem folha, sem vida. Morta. Encosta-se a ela, naquela sombrinha, pergunta a Deus

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“porque isso que está acontecendo comigo? O que é que eu fiz? O que é que eu fiz?”. Aí

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a voz do arcanjo Gabriel apareceu de novo: “Calma, encoste sua mão no tronco.” Nascem
as folhas, balançam, bela sombra, tâmaras maduras começam a cair, ela começa a se
alimentar, a criança nasce, chega o pessoal “Maria, como você faz isso? Você é de família
honrada.” Aí o arcanjo Gabriel fala para ela: “Fala para eles perguntarem a essa criança”
Ela fala: “Perguntem a essa criança, ele explica. Perguntem a essa criança.” “Mas como
vamos perguntar, para uma criança recém-nascida, ela não fala!” aí Jesus Cristo fala: “Eu
sou o Mensageiro de Deus, Deus me enviou para a humanidade, que a paz esteja comigo
no dia em que eu nasci, no dia em que eu vou morrer e no dia em que eu vou me
ressuscitar.” Quando essa criança fala, pronto, aí foi o começo. E essa história você não
acha na Bíblia. Então o Islã, ele glorifica e revela os milagres da religião cristã de fato, e
coloca Jesus Cristo no lugar que o Alcorão explica, é mais um profeta, mais um
mensageiro, mas não é filho de Deus. O Alcorão tem um capítulo dizendo “Diz Deus é
único, não gerou e não foi gerado.” Exatamente para responder essa questão. A segunda
questão referente a Jesus Cristo foi a etapa final, a crucificação. O Islã, e de acordo com
o que está escrito no Alcorão, Jesus não foi crucificado, mas pareceu para eles que ele foi
crucificado porque outro foi crucificado de fato, com a aparência dele de fato, mas não
foi Jesus Cristo, foi aquele que dedou Jesus Cristo. Aquele fez a maldade e dedou ele.

O Hassan [1] até comentou e mostrou que na Bíblia cita a transfiguração, a


transmutação na hora que vão prendê-lo.

MOHAMED: Exatamente, exatamente.

Porque se você olhar o texto, fica meio fora do contexto aquela palavra ali.

MOHAMED: Está escrito num livro... quem estava na cruz gritou e pediu a Deus “Não me
deixa” se for Jesus Cristo ele não ia reclamar da ordem divina. Mas, eu estou explicando
para você o que é a religião Islâmica no Alcorão, por favor, não cabe a mim fazer
comparações nem críticas. Todos nós temos que ter a nossa espiritualidade e a
espiritualidade de cada um tem que ser bem respeitada. Porque a coisa mais sagrada na
vida de um ser humano é sua relação com o Criador.

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Então, nesse sentido, toda religião leva para o mesmo caminho?

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MOHAMED: Claro. Exatamente. Por isso eu faço parte desde 1990 do “Fórum das
Religiões do Brasil” batalhamos, formamos e atuamos muito bem. Este Fórum inclui
muçulmanos, judeus, cristão católico, cristão protestante, comunidade indígena, afro-
brasileiro e budista. Todos. Mesmo direito.

O próprio Moisés foi o único mensageiro ou profeta que dialogava diretamente com Deus.
O profeta Mohammad era através do arcanjo Gabriel, pro exemplo. Todos através do
arcanjo Gabriel, menos Moisés, era judeu. Era o único que falava diretamente, o Criador
falava com ele. Então um dia com a curiosidade, a não satisfação do ser humano – faz
parte da nossa natureza – ele pede para ver Deus: “Deus, eu sei que o Senhor está muito
generoso comigo, sou o único que fala com o Senhor, e tal. Mas, eu quero vê-Lo.”

“Moisés, não fala aquilo que não te cabe”

“Mas, por favor, eu quero vê-Lo”

“Moisés, não insista, você não sabe o que está dizendo.”

“Não, mas eu quero, eu quero...”

“Não tem como você possa me ver. Você tem as suas limitações como ser humano, você
não tem condições”

“Mas, por favor!”

“Acho que você não vai entender. Está bom. Olha Moisés, vamos fazer o seguinte eu vou
projetar um único raio da minha luz, um único raio da minha luz naquela montanha que
está ao seu lado esquerdo. Presta atenção, olha naquela montanha lá.”

Ele ficou olhando a montanha, desceu um raio e “brummm” acabou com a montanha. Aí
Moisés desmaiou. Aí ele acordou depois...

“E aí Moisés?”

Ele olhou para montanha: “Agora, entendi o que o Senhor queria dizer, peço desculpas”

Então, é só um exemplo, de fato nós temos as nossas limitações, e nós temos que saber
respeitar.

A vida de Mohammad serve de exemplo a ser seguido, um modelo de conduta social?

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MOHAMED: Exatamente. Ele desde sua infância, foi sensato, nunca mentiu, nunca

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cometeu erros, antes desse negócio da missão. Ele recebeu a missão aos 40 anos, já era
casado, trabalhava com o capital da esposa dele, tipo funcionário dela, trabalhava com o
comércio dela, sempre foi honesto. A infância dele, ele nasceu já como órfão de pai, o pai
morreu quando ele estava na barriga da mãe, a mãe morreu quando ele era criancinha, foi
ser criado pelo avô, o avô morreu quando ele era criancinha, foi criado pelo tio. Então a
infância sem mãe e sem pai, a família não era muito rica, era normal, pega a missão aí
tira todos os confortos e vive a vida mais simples possível. Apesar de ser escolhido por
Deus e garantido a recompensa, o paraíso, ele toda noite rezava, mais rezava que doía as
pernas, às vezes sangrava, e chorava e pedia o perdão de Deus e agradecia a Deus pelo
carinho que Deus teve com ele de escolher ele para essa missão. Aí os companheiros
falavam:

“Você não precisa tudo isso, você já está assegurado.”

“Porque não devo agradecer? É o mínimo que posso fazer é agradecer, as minhas
orações são para agradecer a Deus.”

Então foi exemplo em tudo na realidade, em tudo. E para mostrar para nós que não é
dinheiro, não é parentesco, não é a família, não é nada, mas sim a conduta da pessoa que
faz a pessoa valer alguma coisa ou não. Então é um exemplo, é um exemplo realmente.
É uma pena que nós estamos falando de valores que estão muito longe da realidade de
hoje.

[1] Hassanali Nazzarali, foi através dele que tive contato com uma outra visão dos livros sagrados (Gïta,
Bíblia e Corão), onde afirmava que todos são um grande livro, e que transmite a mesma mensagem divina
e se complementam. Quando o questionei sobre a existência de várias religiões, ele me afirmou que cada
ser humano está num estágio evolutivo e que desta forma cada religião atenderia os anseios daquele
momento.

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