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O CAMPO DA COMUNICAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE O SEU ESTATUTO


DISCIPLINAR

Article · February 2001


DOI: 10.11606/issn.2316-9036.v0i48p46-57

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1 author:

Maria Immacolata VASSALLO DE LOPES


University of São Paulo
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açã
MARIA IMMACOLATA VASSALLO DE LOPES
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O campo da comunicação:

MARIA IMMACOLATA
VASSALO DE LOPES
é professora da Escola
de Comunicações e Artes
da USP.

46 REVISTA USP, São Paulo, n.48, p. 46-57, dezembro/fevereiro 2000-2001


ção
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

reflexões sobre
seu estatuto disciplinar
“Inscrever na ordem do dia a multidisciplinaridade. Não aquela das
grandes construções prometéicas de uma nova Enciclopédia, mas
aquela que provoca o encontro ao redor de um mesmo objeto de
estudo de pesquisadores pertencendo a metodologias múltiplas.
Estabelecer com eles alianças, aproveitando o prestígio atual da
comunicação e prevenindo-se contra as tendências à hegemonia
das antigas disciplinas” (Armand Mattelart).

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Em texto anterior e mesmo em pesquisa empírica re-


cém-terminada (Lopes, 1998 e 1999), exploramos algumas

questões epistemológicas e metodológicas acerca da pes-


quisa de comunicação com base nas propostas de conver-

gência e de sobreposição de temas e metodologias que se

fazem notar de forma crescente na literatura atual, tanto por


parte de pesquisadores da comunicação como das ciências

sociais e humanas. Essas propostas podem ser identificadas


como constituintes de um movimento contemporâneo

crítico da compartimentação disciplinar que foi sendo


construída ao longo da história dessas ciências. Mais impor-

REVISTA
REVISTAUSP,
USP,São
SãoPaulo,
Paulo,n.48,
n.48,p.
p.46-57,
46-57,dezembro/fevereiro
dezembro/fevereiro2000-2001
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tante é que, além de serem polêmicas, essas ções institucionais e sociopolíticas dessa
propostas são concretas e factíveis e visam produção. A autonomia relativa do “tempo
uma reestruturação disciplinar das ciênci- lógico” da ciência em relação ao “tempo
as sociais e humanas, com base na abertura histórico” é que faz da sociologia da ciência
e revisão das suas estruturas de conheci- ou do conhecimento um instrumento impres-
mento. É uma “chamada para um debate cindível para “dar força e forma à crítica
sobre o paradigma”, como diz Wallerstein epistemológica ou crítica do conhecimento,
(1991). pois permite revelar os supostos inconsci-
Partimos de uma definição formal e entes e as petições de princípios de uma tra-
abrangente do que seja o campo acadêmico dição teórica” (Bourdieu, 1975, p. 99).
da comunicação: um conjunto de institui- É dentro dos marcos da sociologia da
ções de nível superior destinado ao estudo ciência que Pierre Bourdieu desenvolve sua
e ao ensino da comunicação e onde se pro- noção de campo científico. De antemão,
duz a teoria, a pesquisa e a formação uni- vale-se de sua noção de campo: “Um cam-
versitária das profissões de comunicação. po é um espaço social estruturado, um cam-
Isso implica dizer que nesse campo podem po de forças – há dominantes e dominados,
ser identificados vários subcampos: 1) o há relações constantes, permanentes, de
científico, que implica em práticas de pro- desigualdade, que se exercem no interior
dução de conhecimento: a pesquisa acadê- desse espaço – que é também um campo de
mica tem a finalidade de produzir conheci- lutas para transformar ou conservar este
mento teórico e aplicado (ciência básica e campo de forças. Cada um, no interior des-
aplicada) através da construção de objetos, se universo, empenha em sua concorrência
metodologias e teorias; 2) o educativo, que com os outros a força (relativa) que detém e
se define por práticas de reprodução desse que define sua posição no campo e, em con-
conhecimento, ou seja, através do ensino seqüência, suas estratégias” (Bourdieu,
universitário de matérias ditas de comuni- 1997, p. 57). Fazer sociologia da ciência,
cação; e 3) o profissional, caracterizado por segundo o autor, é analisar as condições
práticas de aplicação do conhecimento e sociais de produção desse discurso e que são
que promove vínculos variados com o mer- a estrutura e o funcionamento do campo ci-
cado de trabalho (1). entífico. O campo científico é análogo ao
Analisando essa definição inicial sobre acadêmico, pois residem aí tanto as condi-
o campo acadêmico da comunicação, é ções de produção (sistema de ciência) como
preciso explicitar os seguintes pontos: 1) o de sua reprodução (sistema de ensino).
sentido da noção de campo e de campo Seguindo Bourdieu (1983, pp. 122-55),
acadêmico; 2) o problema da herança dis- o campo científico, enquanto sistema de
ciplinar dos estudos de comunicação; e 3) relações objetivas entre posições adquiridas,
a questão da institucionalização das ciên- é o lugar, o espaço de jogo de uma luta
cias sociais. concorrencial pelo monopólio da autorida-
de científica definida, de maneira insepará-
vel, como capacidade técnica e poder polí-
tico; ou, se quisermos, o monopólio da com-
O SENTIDO DA NOÇÃO DE CAMPO petência científica, compreendida enquanto
capacidade de falar e de agir legitimamente,
E DE CAMPO ACADÊMICO isto é, de maneira autorizada e com autori-
dade, que é socialmente outorgada a um
A produção da ciência depende intrin- agente determinado. Essa legitimidade é,
1 Sobre as relações entre o ensi-
secamente das suas condições de produ- portanto, reconhecida socialmente pelo con-
no e o mercado de trabalho, ção. Estas são dadas pelo contexto junto dos outros cientistas (que são seus con-
coordenei uma ampla pesqui-
sa sobre os egressos dos cur- discursivo que define as condições correntes), à medida que crescem os recur-
sos de Comunicação Social no epistêmicas de produção do conhecimento sos científicos acumulados e, correlativa-
Brasil. Ver: Maria Immacolata
Vassallo de Lopes, 1999. e pelo contexto social que define as condi- mente, a autonomia do campo.

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Ao sublinhar a indissolubilidade entre no estado objetivado, sob a forma de ins-
o saber especializado e o reconhecimento trumentos, obras, instituições, etc., e, no
social presente na autoridade do cientista, estado incorporado, sob a forma de hábitos
Bourdieu afirma que a posição de cada um científicos, sistemas de esquemas gerados
no campo é tanto uma posição científica de percepção, de apreciação e de ação. São
como uma posição política e que suas es- também uma espécie de ação pedagógica
tratégias para manter ou conquistar lugar que torna possível a escolha dos objetos, a
na hierarquia científica possuem sempre solução dos problemas e a avaliação das
esse duplo caráter. Correlativamente, os soluções, que é a essência do sistema de
conflitos epistemológicos são, sempre, ensino. Complementarmente, existem ins-
inseparavelmente, conflitos políticos e, tâncias especificamente encarregadas da
assim, uma pesquisa sobre o poder no cam- consagração (academias, prêmios) e ainda
po científico poderia perfeitamente só com- o sistema de circulação constituído pelas
portar questões aparentemente epistemo- revistas científicas, livros e congressos, que
lógicas. Resulta, então, ser “inútil distin- opera em função de critérios oficiais de
guir entre as determinações propriamente avaliação.
científicas e as determinações propriamen- Temos aí delineado um quadro de aná-
te sociais (políticas) das práticas essencial- lise de grande densidade explicativa. A
mente sobredeterminadas” dos agentes en- ciência acaba sendo definida por Bourdieu
volvidos (Bourdieu, 1983, p. 124). como um campo de práticas institucio-
A importância da noção de campo cien- nalizadas de produção (pesquisa), repro-
tífico de Bourdieu é essencialmente dução (ensino) e circulação de capital e
heurística por diversas razões. Em primei- poder científicos. Entretanto, devido à dis-
ro lugar, por permitir romper com a ima- tinção que ele traça entre formas objetivadas
gem hagiográfica que vem normalmente das práticas (rituais) e formas subjetivadas
incorporada à noção de “comunidade cien- dessas práticas (estruturas mentais
tífica”, mesmo em autores como Kuhn interiorizadas, isto é, habitus), é possível
(1976), que dá lugar ao conflito em sua identificar aí o que outros autores traba-
teoria funcionalista da evolução científica. lham como sendo as representações soci-
Em segundo lugar porque, dentro da con- ais (Moscovici). As representações sociais
cepção estruturalista que está na base de da ciência funcionam como matéria-prima
sua análise do campo, Bourdieu analisa das identidades científicas, fruto das for-
dialeticamente as posições estruturadas mas simbólicas introjetadas, isto é, da cul-
com as práticas estruturantes dos agentes tura científica interiorizada. Cabe aqui re-
(2). As práticas são vistas como estraté- tomar as idéias de ações estratégicas dos
gias, portanto, como ações refletidas, sem- sujeitos agentes (agency) antagônicas – o
pre com o duplo caráter indicado acima (ci- antagonismo, seguindo Bourdieu, é o prin-
entífico e político) e que se orientam como cípio da estrutura e da transformação de
estratégias de conservação/sucessão ou es- todo campo social – que agem no sentido
tratégias de subversão. Essas estratégias de- da continuidade (estratégias de conserva-
pendem das posições ocupadas pelos agen- ção) e da mudança (estratégias de subver-
tes no campo, isto é, do capital científico e são). Bourdieu, diferente de Kuhn, acredi-
do poder que ele lhes confere. Os agentes ta ter havido uma revolução inaugural na
chamados por Bourdieu de dominantes de- ciência quando ela se autonomizou dos
dicam-se às estratégias de conservação ou campos político e religioso, com a revolu-
2 Apesar de não reduzir a im-
de sucessão (através de seus discípulos) vi- ção copernicana, “que nos dá o paradigma portância do livro de Giddens
(1989), muitos elementos de
sando assegurar a manutenção da ordem no verdadeiro sentido da palavra” (p. 141). sua teoria da estruturação já
científica com a qual se identificam. Essa Com o crescimento da autonomia do cam- se encontram desenvolvidos em
Bourdieu, tanto conceitual-
ordem, a que ele chama de ciência oficial, po científico, o próprio funcionamento mente nas categorias de cam-
não se reduz ao conjunto de recursos cien- deste, como “ciência normal”, passa a se po e de habitus como no traba-
lho de pesquisa sobre a cate-
tíficos herdados do passado que existem, definir através de “revoluções ordenadas”, goria do gosto.

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a
como diz Bachelard, ou revoluções perma-
nentes, que estão inscritas na própria lógi-

co m c
ca da história da ciência, isto é, da polêmi-
ca científica. O que leva Bourdieu a afir-
mar que o campo científico “encontra na
ruptura contínua o verdadeiro princípio de
sua continuidade” (p. 143). É que o campo
provê permanentemente as condições táci-
tas da discussão que se desenha entre a or-

i
todoxia e a heterodoxia, entre o controle e
a censura, por um lado, e a invenção e a
ruptura, por outro.
Esta extensa reprodução da análise do
campo científico feita por Bourdieu justifi-

u
ca-se, a nosso ver, pelas seguintes razões:

n
para criticar aqueles que apressadamente
vêem nas mudanças internas de uma “ciên-
cia normal” sempre sinais de “crise de pa-
radigmas”; para impedir que se identifique
automaticamente lutas institucionais com
lutas epistemológicas ou, dito de outro
modo, as conquistas institucionais são con-
dições necessárias, porém não garantem per
se o fortalecimento teórico de um campo;
para evitar que se confunda o subcampo do
ensino (reprodução) com o subcampo da
pesquisa (produção) dentro do campo aca-
dêmico.
Acreditamos que esse delineamento
básico ajudará a esclarecer a questão da
disciplinarização do campo da comuni-
cação.

A DIFÍCIL HERANÇA DOS ESTUDOS


DISCIPLINARES DA COMUNICAÇÃO
Como vimos, a crítica da ciência não é
nova. Qualquer estudo é sempre feito den-
tro dos quadros de referência herdados do
passado de uma ciência, do que é sua his-
tória ou sua tradição. Porém, os objetos de
estudo, por seu caráter histórico, dinâmico
e mutável, colocam permanentemente em
xeque essa tradição no sentido de sua reno-
vação e revisão. A tradição é vista como
um ponto de partida, na qual enraíza-se a
identidade de uma ciência, porém, nunca
no sentido de fechar um saber, mas de abri-

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lo para dar continuidade à sua construção, gizado, mas também cada vez mais frag-
pois um saber não é, em essência, nem mentado e desigual.
estático, nem definitivo. É sobre a tensão O que se nota é um movimento de con-
constante entre a tradição e a mudança no vergência de saberes especializados sobre
campo científico que reside a base do sur- a comunicação, entendido mais como mo-
gimento de estudos e diagnósticos que bus- vimento de intersecção que não é, em hipó-
cam sua reestruturação. Como afirma tese alguma, uma amálgama ou síntese de
Octavio Ianni, “se as ciências sociais nas- saberes. É, antes, um produto das relações
cem e desenvolvem-se como formas de entre o objeto de estudo, a especificidade
autoconsciência científica da realidade so- das contribuições analíticas e a particulari-
cial, pode-se imaginar que elas podem ser dade da evolução histórica entre ambos.
seriamente desafiadas quando essa reali- São os percursos disciplinares já trilhados
dade já não é mais a mesma. O contrapon- nas tradições dos estudos da comunicação
to de pensamento e pensado, ou de lógico que autorizam parafrasear Canclini, que diz:
e histórico, pode alterar-se um pouco, ou “Estudar a (cultura) comunicação requer
n
muito, quando um dos termos modifica- converter-se num especialista de
se; e mais ainda quando ele se transfigu- intersecções” (Canclini, 1999, p. 69).
ra” (Ianni, 1992, p. 171). Tomada como Por outro lado, isso significa abrir mão
novo paradigma histórico-social, a socie- das certezas disciplinares e do poder dado
dade global produz uma ruptura histórica pela ortodoxia, a que Giddens chama de
de amplas proporções e em todas as di- “consenso ortodoxo”. Ao contrário, o pen-
mensões. No dizer de Ianni, “com as me- samento heterodoxo impele a estratégias
tamorfoses do ‘objeto’ e a simultânea al- de mudança, como vimos em Bourdieu, e
teração das possibilidades que se abrem nos leva de volta ao caráter institucional do
ao ‘sujeito’ da reflexão, colocam-se no- campo científico.
vos desafios não só metodológicos e teó-
ricos, mas também epistemológicos”
(Ianni, 1998, p. 34).
Na pesquisa de comunicação, as diver- A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS
sas tradições teórico-metodológicas, tal
como nas ciências sociais em escala mais CIÊNCIAS SOCIAIS
ampla, têm sido postas em revisão nos úl-
3 Mencionei: Raúl Fuentes
timos anos. Em outro trabalho (Lopes, O relatório da Comissão Gulbenkian Navarro, La Emergencia de un
1998), registrei o aumento das análises auto- Campo Académico:
para a reestruturação das ciências sociais,
Continuidad Utópica y
reflexivas no campo da comunicação (3). presidida por Immanuel Wallerstein, inti- Estructuración Científica de la
Investigación de la
A multiplicação de propostas de refor- tulado Abrir as Ciências Sociais (1996), Comunicación, Guadalajara,
mulação teórica dos estudos da comunica- está estruturado ao redor de uma discussão Iteso/Universidad de Guada-
lajara, 1998; Maria
ção manifesta uma insatisfação generali- histórica dos processos de disciplinarização Immacolata V. Lopes, “O Esta-
zada com o estado atual do campo e a ur- do da Pesquisa de Comunica-
das ciências sociais desde o século XVIII ção no Brasil”, in Maria
gência de repensar seus fundamentos e de até a atualidade. Immacolata V. Lopes (org.),
Temas Contemporâneos em
reorientar o exercício de suas práticas. São Há dois pontos polêmicos que constam Comunicação , São Paulo,
análises convergentes, se bem que nem Edicom/Intercom, 1997;
desse relatório. O primeiro é o de que a “Ferment in the Field”, in Journal
sempre complementares, análises que rea- divisão interna das ciências sociais em of Communication, vol. 33, 3,
1983; “The Future of the Field”,
lizam revisões, redefinições, reestrutu- múltiplas disciplinas resultou principal- in Journal of Communication,
rações, reinterpretações e rupturas com mente de decisões institucionais que quase vol. 43, 3 e 4, 1993; “O
Pensamento Latino-americano
categorias analíticas, esquemas conceitu- sempre mantiveram laços fracos com o em Comunicação”, in Comu-
ais, métodos de investigação. Não obstante, nicação & Sociedade , 25,
debate propriamente epistemológico. E o 1997; “América Latina:
são análises reveladoras da complexidade segundo ponto é a proposta de trabalho Comunicación, Cultura y
Nuevas Tecnologías. Teoría,
e multidimensionalidade dos fenômenos transdisciplinar com base na crítica da prá- Políticas e Investigación”, in
comunicativos num mundo cada vez mais Telos , 19, 1989; “La
tica interdisciplinar. Comunicación en América La-
globalizado, multiculturalizado e tecnolo- O Relatório Gulbenkian tem por base a tina”, in Telos, 47, 1996.

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história dessas ciências em seu crescente saram a ler os livros uns dos outros e a
processo de institucionalização e de mu- publicar artigos nas novas revistas trans-

mi
danças nas formas organizativas do traba- disciplinares de cada especialidade. Estas
lho científico. Detém-se nas mudanças práticas vieram pôr a nu o muito que havia
ocorridas a partir de 1945, no pós-guerra, de artificial nas rígidas divisões institu-
com o desenvolvimento da guerra fria, os cionais do conhecimento associado às ci-
investimentos no desenvolvimento cientí- ências sociais.
fico e a concentração dos pólos científicos Consideramos importante transcrever a
em alguns países, com a hegemonia dos avaliação que o relatório faz desse movi-
Estados Unidos. Entre as conseqüências mento de convergência e de sobreposição
destas mudanças no âmbito mundial sobres- entre as disciplinas.
sai a questão da validade das distinções no
interior das ciências sociais que, baseada “Não só se tornou cada vez mais complica-
em clivagens estabelecidas pelo paradig- do achar linhas de diferenciação nítidas
ma da ciência do século XIX para as então entre elas, quer no respeitante ao seu objeto
nascentes ciências sociais, passa a ser pro- concreto de estudo, quer no que concerne
fundamente contestada. Essas clivagens às modalidades de tratamento dos dados,
eram: a) a demarcação entre o estudo do como também sucedeu que cada uma das
mercado (a economia), do Estado (a ciên- disciplinas se tornou cada vez mais hetero-
cia política) e da sociedade civil (a sociolo- gênea, devido ao alargamento das balizas
gia); b) a divisão entre o estudo do mundo dos tópicos de investigação considerados
moderno/ocidental (a economia, sociolo- aceitáveis. Uma das formas de lidar com
gia e política) e o mundo não-moderno/não- esta situação foi a tentativa de criar novas
ocidental (a antropologia); c) do mundo pre- designações ‘interdisciplinares’, como se-
sente (a economia, sociologia e política) e jam os estudos da comunicação, as ciênci-
o mundo passado (a história). Posterior- as da administração e as ciências do com-
mente a 1945, a inovação acadêmica mais portamento”.
importante foi, segundo o relatório, a cria-
ção de estudos por áreas ou regiões (URSS, Esses campos “interdisciplinares” ma-
China, América Latina, África, Europa nifestaram um “questionamento interno
Central, Sudeste Asiático, etc.), uma nova considerável em torno da coerência das
categoria institucional (a geográfica) que disciplinas e a legitimidade das premissas
levou a um reagrupamento do trabalho in- intelectuais que cada uma delas havia uti-
telectual. Esses novos estudos por área lizado para defender seu direito a uma exis-
eram, por definição, “multidisciplinares” e tência autônoma” (pp. 72-3).
as “motivações políticas subjacentes à sua O segundo ponto polêmico do relatório
origem eram bastante explícitas” (p. 60). é a proposta de reestruturar as ciências so-
Chama-se a atenção para o fato de que os ciais com base no estabelecimento, no in-
estudos por áreas atraíram para o interior terior das estruturas universitárias, de pro-
de uma estrutura única pessoas cuja filiação gramas integrados de investigação trans-
disciplinar atravessava transversalmente as versais às balizas de demarcação tradicio-
três clivagens já referidas. Cientistas soci- nais, os quais seriam “novas vias de diálo-
ais de origens e inclinações diferentes en- go e de troca para além das disciplinas e
contraram-se frente a frente com geógrafos, não apenas entre elas” (p. 124).
historiadores da arte, estudiosos das litera- A crítica à interdisciplinaridade é ex-
turas nacionais, epidemiologistas e até plícita e, não obstante reconhecer-se que se
geólogos. Passaram a produzir currículos constituiu numa forma de abordagem cria-
em conjunto, a participar nas bancas de tiva, ela não teria implicado uma frutuosa
doutoramento dos alunos uns dos outros, a fertilização recíproca entre as disciplinas,
assistir congressos organizados por espe- condição única que faria a interdisci-
cialistas de cada área e, principalmente, pas- plinaridade merecedora de um maior

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aprofundamento e desenvolvimento.
Em trabalho anterior, Wallerstein
mn c ã
(1991) já criticara os méritos da pesquisa e
do ensino interdisciplinar em seu duplo
sentido. O primeiro é o da combinação de
perspectivas de diversas disciplinas sobre
um objeto (por exemplo, o trabalho) e a
u a lógica dessa abordagem leva à formação
de uma equipe multidisciplinar ou a um só
pesquisador estudando diversas disciplinas
relacionadas ao objeto. O segundo sentido
é o da localização do objeto nas fronteiras
de duas ou mais disciplinas, sendo que a
lógica desta abordagem pode dirigir-se
eventualmente ao desenvolvimento de uma
nova disciplina autônoma (é o que aconte-
ceu com a lingüística, por exemplo).

“Sabe-se que as múltiplas disciplinas exis-


tem desde que há múltiplos departamentos
acadêmicos nas universidades em todo o
mundo, cursos de graduação nessas disci-
plinas e associações nacionais e internacio-
nais de pesquisadores destas disciplinas.
Isto é, nós sabemos politicamente que dife-
rentes disciplinas existem. Elas têm uma
organização delimitada, estrutura e pesso-
al para defender seus interesses coletivos e
assegurar sua reprodução coletiva. Mas isto
nada nos diz acerca da validade das exigên-
cias intelectuais da separação, exigências
que presumivelmente justificam só a rede
organizativa” (Wallerstein, 1991, p. 239).
ç
Por isso, os méritos do trabalho interdis-
ciplinar nas ciências sociais não chegaram
a solapar significativamente a força dos
aparatos organizacionais que protegem as
disciplinas separadas. E mesmo o contrá-
rio pode ser verdadeiro. Um pesquisador,
ao justificar que precisa aprender do outro
o que não pode conseguir no seu próprio
nível de análise com suas metodologias

o
específicas e que o “outro” conhecimento
é pertinente e significante para a resolução
dos problemas intelectuais sobre os quais
está trabalhando, tende a reafirmar e não a
embaralhar os dois conhecimentos. O tra-
balho interdisciplinar não é, per se, uma
crítica da compartimentação existente nas
ciências sociais, além de lhe faltar o toque

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político para afetar as estruturas insti- mulos para a sua criação” (p. 241).
tucionais existentes. Ou, colocado de outro modo, as dife-
Mas, pergunta o autor: as várias disci- renças dentro de uma disciplina tendem a
plinas das ciências sociais são disciplinas? ser maiores do que as diferenças entre elas.
Etimologicamente, a palavra disciplina é Isto quer dizer, na prática, que a
vinculada a discípulo ou estudante e é sobreposição é substancial e nas histórias
antitética à doutrina que é a propriedade do desses campos ela tem crescido todo o tem-
doutor ou professor. Portanto, doutrina po. Isto não quer dizer que todos os cientis-
concerne à teoria abstrata e disciplina é tas sociais devam fazer um trabalho idênti-
relativa à prática e ao exercício. A primeira co. Há sempre necessidade de especializa-
tem a ver com a produção e a segunda com ção em campos de estudo (fields of inquiry).
a reprodução do conhecimento. O autor dá um exemplo esclarecedor de
Na história das ciências sociais, uma que especialização e disciplinarização não
disciplina só aparece depois de um longo são sinônimos, mas que a segunda é uma
trajeto de prática quando se torna doutrina, forma própria do século XIX para contro-
ensinada e justificada pelos doutores e pro- lar a primeira. Entre 1945 e 1955, as disci-
fessores. Mas, com isso, pergunta-se o au- plinas separadas botânica e zoologia fun-
tor, atingiu-se um nível defensável e coe- diram-se em uma única disciplina chama-
rente de análise ou apenas separou-se um da biologia. Desde então a biologia tem sido
assunto? uma disciplina florescente e gerou muitos
Todas as divisões em assuntos deriva- subcampos mas nenhum que tenha os con-
ram intelectualmente da ideologia liberal tornos da botânica ou da zoologia.
dominante no século XIX, que argumenta- Portanto, os campos de estudo apare-
va que o Estado e o mercado, a política e a cem como um novo padrão emergente a
economia eram setores analiticamente se- que se pode chamar transdisciplinarização
parados, cada um com suas regras ou “ló- ou pós-disciplinarização (Fuentes, 1998),
gicas” particulares. Sabemos o que as difi- quer dizer, um movimento para a supera-
culdades de fronteiras causaram nos itine- ção dos limites entre especialidades fecha-
rários intelectuais dos campos (sociologia, das e hierarquizadas, e o estabelecimento
política, economia e antropologia), e que de um campo de discurso e práticas sociais
eles foram complexos e variados. Porém, cuja legitimidade acadêmica e social vai
como o mundo real evoluiu, a linha de con- cada vez mais depender da profundidade,
tato entre “primitivo” e “civilizado”, “po- extensão, pertinência e solidez das expli-
lítico” e “econômico” embaraçou-se. In- cações que produza, do que do prestígio
vasões intelectuais tornaram-se comuns, institucional acumulado.
porém os invasores moveram as estacas mas Em resumo, a crítica à compartimen-
não as quebraram. tação das ciências sociais tem, portanto, a
A questão diante de nós, hoje, é se há ver com clivagens colocadas por paradig-
algum critério intelectual que possa ser mas histórico-intelectuais do século XIX e
usado para assegurar de um modo relativa- que, segundo o Relatório Gulbenkian, são
mente claro e defensável as fronteiras entre mais clivagens ideológicas e organizativas
as quatro presumidas disciplinas de antro- do trabalho intelectual do que propriamen-
pologia, economia, ciência política e socio- te derivadas de exigências internas do co-
logia. A “análise do sistema-mundo” (world nhecimento, isto é, epistemológicas, teóri-
systems analysis), proposta pelo autor, res- cas e metodológicas.
ponde com um inequívoco “não” a essa Há, entretanto, outro aspecto que deve-
questão. “Todos os critérios presumidos – ria ser acrescentado a esse poderoso argu-
nível de análise, objeto, métodos, teorias – mento. Trata-se da relação orgânica entre
ou não são verdadeiros na prática ou, se as ciências sociais e a comunicação na me-
sustentados, são linhas divisórias para um dida em que a sociedade moderna foi sendo
conhecimento adicional mais do que estí- cada vez mais plasmada nas formas da

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comunicação moderna. Dois exemplos são ais as formas de autoconsciência social em
suficientes: um saber como o da antropolo- que elas sempre se constituíram (Ianni),
gia não seria possível sem o encontro entre através da revelação das pluralidades dos
civilizações e grupos humanos diferentes mecanismos e das armaduras internas de
em escala cada vez mais intensa, e um es- sua construção.
tudo como o de Habermas sobre a opinião
pública revelando a importância desta na
constituição da sociedade civil moderna, e
a emergência da idéia de esfera pública li- A PESQUISA ACADÊMICA DE
gada aos mecanismos da informação e da
comunicação social. Daí, no dizer de COMUNICAÇÃO NO BRASIL OU
Vattimo, “as ciências humanas, ciências que
nascem de fato somente na modernidade, O PARADOXO DA
estão condicionadas, em uma relação de
determinação recíproca, pela constituição INSTITUCIONALIZAÇÃO
da sociedade moderna como sociedade da
comunicação. As ciências humanas são ao DA TRANSDISCIPLINARIDADE
mesmo tempo efeito e meio do posterior
desenvolvimento da sociedade da comuni- DE UM CAMPO
cação generalizada” (Vattimo, 1987). Che-
ga-se assim a definir a intensificação dos Como vimos, para nós, estudiosos da
fenômenos comunicativos, a acentuação da comunicação, este é um momento históri-
circulação das informações não somente co particular porque vemos colocada a co-
como um aspecto a mais da modernização, municação no centro da sociedade con-
senão como o próprio centro e o sentido temporânea e no seu próprio sentido. É
mesmo deste processo. É no objeto-mundo nesse momento que residem as explica-
“com sentido” que as ciências humanas e a ções mais plausíveis para a “explosão da
comunicação se encontram. No mundo “co- comunicação”, a explosão dos cursos de
municado”, que tanto os media como as comunicação e, principalmente, a explo-
ciências humanas nos oferecem, constitui- são da importância dos estudos de comu-
se a objetividade mesma do mundo e não nicação. Estamos longe das enganosas
somente interpretações diferentes de uma explicações sobre as fantasias midiáticas
“realidade” de alguma maneira “dada”. A dos jovens que fariam crescer vorazmente
realidade do mundo como algo que enfim as faculdades de comunicação ou sobre a
não é uma reunião de visões disciplinares inespecificidade dos estudos de comuni-
do empirismo ingênuo, mas algo que se cação.
constrói como contexto de múltiplas narra- É no entroncamento dos processos de
tivas. Tematizar o mundo nestes termos é institucionalização acelerada dos estudos
precisamente a tarefa e o significado das de comunicação com o crescimento da in-
ciências humanas. É neste sentido, também, satisfação generalizada com a sua disci-
que o debate metodológico passa a ocupar plinarização no contexto das ciências soci-
um amplo espaço nas ciências sociais de ais (Wallerstein) e com a sociedade da co-
hoje, porque discutir a realidade globalizada municação (Vattimo) que se pode identifi-
ou mundializada como paradigma social e car a institucionalização transdisciplinar
epistemológico passa a ser uma questão dos estudos de comunicação a que remete
central e substantiva para desdogmatizar o sociólogo italiano Mario Morcellini. Para
as ciências sociais e discutir a própria cons- a comunicação vale a sua metáfora de que
trução da ciência como discurso. Admitir o ela é “indisciplinada” (Morcellini e Fatelli,
caráter intrinsecamente histórico desse dis- 1996), o que a torna um “paradoxo” em
curso (epistemologia histórica de face da aceleração do seu processo de
Bachelard) é reconhecer nas ciências soci- institucionalização acadêmica, pelo menos

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desde a última década (4). É a preocupação além das “grupais”, que em todo caso se
com esse mesmo paradoxo que leva somariam em uma identidade maior para
Capparelli e Stumpf à seguinte afirmação: assim fortalecer-se. A segunda observação
é que a transdisciplinarização assim enten-
“A Comunicação, na sua dimensão insti- dida não supõe uma arbitrária e radical dis-
tucional, procura se organizar de forma solução da estrutura disciplinar no insti-
autônoma, mas não em termos episte- tucional, e menos no cognoscitivo ou en-
mológicos. Não que os objetos de estudo quanto processo de formação. É precisa-
tivessem se tornado particulares ou que os mente através da conquista do rigor teóri-
pressupostos teóricos fossem próprios. Na co-metodológico e da ampliação e conso-
verdade, a massa crítica sobre o fenômeno lidação do domínio dos saberes até agora
criou nichos de pesquisadores situados, em fragmentados em disciplinas que nós, pes-
termos profissionais ou burocráticos, nos quisadores nas ciências sociais, poderemos
chamados departamentos de comunicação. avançar, a partir do espaço acadêmico, jun-
Em outras palavras, o campo institucional tamente com o nosso tempo sociocultural.
procurou se especializar. Um paradoxo: Para concluir, referendamos a análise
procurou se especializar institucionalmente feita apresentando um breve resumo de um
no momento em que a fragmentação au- aspecto importante do campo acadêmico
menta em termos de interfaces e de pers- da comunicação no Brasil, que é o seu sis-
pectivas teóricas” (Capparelli e Stumpf, tema de pós-graduação.
1998, p. 9). O campo acadêmico da comunicação
no Brasil é atualmente constituído por 163
Não obstante a correção do diagnósti- faculdades de comunicação que oferecem
co, meu esforço foi demonstrar que esse 356 cursos de graduação das seguintes ha-
paradoxo é aparente, sustentando que, no bilitações: 118 de publicidade, 116 de jor-
caso dos estudos de comunicação no Bra- nalismo, 68 de relações públicas, 35 de rádio
sil, a sua institucionalização como campo e televisão, 5 de cinema, 5 de produção
acadêmico é concomitante a uma progres- editorial e 9 de comunicação social (5). A
siva afirmação de seu estatuto transdis- pós-graduação (6), onde se realiza a pes-
ciplinar. Em outros termos, é um caso de quisa acadêmica nos níveis de mestrado e
luta para afirmar institucionalmente um de doutorado, é constituída por 14 progra-
campo acadêmico transdisciplinar e afir- mas oficiais, que oferecem 20 cursos, sen-
4 Essa crescente institucionali- mar o estatuto transdisciplinar da comuni- do 12 mestrados e 8 doutorados. São 371 os
zação do campo acadêmico
da comunicação possui carac- cação. Este estatuto, como tratamos de professores pesquisadores que atuam nes-
terísticas próprias em alguns pa- mostrar aqui, não constitui um caso isola- ses cursos. Dos programas, 8 são públicos
íses da Europa, como a Itália,
onde os cursos de graduação do, mas antes deve ser entendido como e 6 são privados. De 1994 a 1998 foram
em comunicação são criação
recente, dos anos 90, e se dão fazendo parte de movimento contemporâ- titulados 777 mestres e 271 doutores,
num movimento contrário ao neo de reconstrução histórica das ciências totalizando 1.048 titulados, com média
que aconteceu no Brasil e na
América Latina. Lá, até então, sociais. anual de 210 titulados, sendo 155 mestres
os cursos eram de pós-gradua-
ção, tanto como cursos de es-
Duas observações decorrem dessa po- e 55 doutores. Em termos de organização
pecialização profissional sição. A primeira é que a reestruturação institucional, as características mais mar-
(Master) como cursos de douto-
rado, o que fez com que a ati- transdisciplinar das ciências sociais não cantes da pós-graduação são: 1) o forte
vidade de pesquisa antecedes- implica dissolver a formação de pesquisa- crescimento nos anos 90, quando passou
se a de ensino no campo.
dores nem a prática científica em generali- de 8 para 20 cursos; 2) a regionalização,
5 Base: cadastramento/99 da
Associação Brasileira de Esco- dades, mas sim articular nela a experiência através da constituição de diversos pólos
las de Comunicação (Abecom).
e os recursos de diversos ramos e enfoques geograficamente disseminados; e 3) o rá-
6 Os dados que se seguem fo-
ram retirados da pesquisa
em uma síntese que, na proliferação de pido crescimento do número de instituições
Nupem/Compós, coordenada objetos de estudo abordados, conflua en- privadas. Do ponto de vista do campo de
pela autora, sobre os egressos
dos cursos de pós-graduação quanto lógica científica para a produção de pesquisa, os assuntos estudados apontam
em comunicação no Brasil e que conhecimento pertinente e consistente, e para uma configuração transdisciplinar. Os
neste momento se encontra em
sua etapa inicial. que responda às necessidades sociais, mais principais campos de pesquisa são: estudo

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de meios; práticas da comunicação; comu- estabelecidas preferencialmente com as
nicação e cultura, estudos interpretativos e ciências humanas e sociais (filosofia, éti-
semióticos; sociabilidade, subjetividade e ca, estética, história, política, economia,
comunicação; comunicação, arte e litera- sociologia) e com as ciências sociais apli-
tura; estudos de recepção; teoria e episte- cadas (ciências da informação, administra-
mologia da comunicação. As interfaces são ção, educação, direito).

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