E DO ESPORTE
Keywords: muscle hypertrophy, local muscular endurance, EPOC, energy cost, O2 kinetics.
INTRODUÇÃO nas concentrações de ADP, ATP, Pi e CP, são os fatores diretos, ao passo
O consumo de oxigênio ( O2) é um parâmetro fisiológico válido e que os fatores indiretos são as catecolaminas, tiroxina, glicocorticoides,
amplamente utilizado na investigação do metabolismo pós-exercício, ácidos graxos, íons de cálcio e temperatura corporal(1).
sendo que o excesso de consumo de oxigênio após o exercício é deno- Diversas investigações acerca da resposta de EPOC a exercícios
minado EPOC (excess post-exercise oxygen consuption). O O2 elevado de força vêm sendo realizadas(2-6), e a intensidade é a variável mais
após realização de exercícios físicos é decorrente de todos os fatores manipulada nesses estudos, nos quais as sessões de alta intensidade
responsáveis pela alteração da respiração mitocondrial. As modificações demonstram ter maior resposta de EPOC(6). A maior parte dos trabalhos
132 Rev Bras Med Esporte – Vol. 17, No 2 – Mar/Abr, 2011
realizados a esse respeito optou pelo controle de tonelagem, ou seja, Amostra
variar intensidade e volume entre as sessões sem alterar o trabalho A amostra deste estudo foi composta por nove homens saudáveis.
muscular total (carga x nº de repetições)(4,7,8). Em estudo de Thornton As variáveis de caracterização são apresentadas na tabela 1. Os indiví-
e Potteiger(4), comparando duas sessões de mesmo trabalho e inten- duos participantes deste estudo eram familiarizados com os exercícios
sidades diferentes, foi demonstrado que a sessão de alta intensidade de força (EF) utilizados neste estudo, mas estavam fora de qualquer tipo
provocou EPOC mais elevado em comparação com a de baixa inten- de programa de treinamento de força por, no mínimo, seis meses. Os
sidade. Já em estudo realizado por Olds e Abernathy(8), não foram en- critérios de exclusão da amostra foram: histórico de lesão neuromuscu-
contradas diferenças nas respostas de EPOC entre as sessões de alta e lar, doenças cardiorrespiratórias, distúrbios metabólicos e/ou do sistema
baixa intensidades. Esses autores, entretanto, utilizaram intensidades endócrino, administração de medicamentos de forma crônica ou a sete
relativas à carga máxima muito próximas, o que pode ter influenciado dias da coleta de dados e, por fim, qualquer quadro infeccioso e/ou
na semelhança do EPOC nas diferentes intensidades. Outros estudos, inflamatório. Todos os indivíduos assinaram o Termo de Consentimento
que compararam sessões de treinamento de força (TF) e exercícios Livre e Esclarecido e o presente estudo foi aprovado pelo Comitê de
aeróbicos (EA), encontram valores de EPOC superiores para as sessões Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
de TF em relação às sessões de EA(9,10). Nessa perspectiva, o TF parece
Tabela 1. Características antropométricas da amostra (média ± DP).
representar maior intensidade comparada com exercícios aeróbicos
contínuos, provocando distúrbios homeostáticos mais severos ao me- Características Média ± DP
tabolismo de recuperação. Idade (anos) 23,1 ± 2,1
A manipulação de variáveis agudas do treinamento de força como Estatura (cm) 173,4 ± 7,5
volume, intensidade e intervalo de recuperação, provocam diferentes
Massa (kg) 70,9 ± 5,2
respostas neuromusculares. Nessa perspectiva, maiores intensidades
relativas à força máxima e baixo número de repetições provocam % gordura 16,9 ± 3,5
maiores adaptações na força máxima e hipertrofia muscular (HP) ao % massa magra 83,1 ± 3,7
passo que o treinamento de baixa intensidade e altas repetições resul- *Indica diferenças significativas entre HP e RML.
tam em maiores ganhos de resistência muscular localizada (RML)(11). É
também amplamente descrito que, em treinamento de força, quanto Medidas antropométricas
maior forem os estímulos (específico para cada objetivo), maior serão A massa corporal e a estatura foram medidas com uma balança
as adaptações. Para isso, diversos autores defendem o trabalho de repe- analógica e um estadiômetro (resolução de 0,1kg e 1mm, respecti-
tições máximas (RM), o que compreende a execução do maior número vamente), ambos da marca ASIMED. A densidade corporal (DC) foi
possível de repetições com a intensidade proposta. Essa metodologia estimada utilizando-se os protocolos de dobras cutâneas proposto por
propõe que a capacidade física, sendo ela força máxima, potência ou Jackson e Pollock(13). Posteriormente, a composição corporal foi estima-
RML, seja sempre trabalhada a 100% da intensidade fisiológica, para
da por meio da fórmula de Siri apud Heyward e Stolarczyk(14).
otimização dos estímulos(11,12).
Embora alguns estudos tenham investigado o EPOC após sessões Força muscular dinâmica
de treinamento de força (TF), poucos estudos foram realizados com A força muscular dinâmica (kg) foi determinada mediante o teste
objetivo de comparar sessões de TF com diferentes objetivos (i.e. hi-
de uma repetição máxima (1RM) nos exercícios de supino e agacha-
pertrofia, resistência muscular localizada), realizadas com repetições
mento com pesos livres. Os procedimentos adotados para o teste in-
máximas para cada intensidade relativa à carga máxima. Nos estudos
que comparam o efeito de diferentes sessões de TF no EPOC(4,8,9), a cluíram aquecimento geral de cinco minutos e aquecimento específico.
intensidade e o volume da sessão de treinamento utilizado por esses Após cada tentativa, o valor da carga foi redimensionado até que os
autores foi inferior aos valores recomendados para alcançar objetivos sujeitos fossem aptos a realizarem apenas uma repetição, cujo valor
como aumento da RML e HP, o que torna a aplicação prática dessas ses- foi determinado no máximo em cinco tentativas. O intervalo entre as
sões limitada. Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi comparar tentativas foi de 4min, e a velocidade de execução foi de 2s para cada
as respostas fisiológicas de O2 e gasto energético após a realização fase (concêntrica e excêntrica).
de duas sessões de exercício de força com diferentes objetivos, sendo
eles a hipertrofia muscular e a resistência muscular localizada, utilizando Sessões de treino de força
repetições máximas dentro do intervalo de intensidade específico para Assim que chegavam para os testes, os indivíduos posicionavam-se
obtenção dessas adaptações. em decúbito dorsal e assim permaneciam em repouso por 10 minu-
tos. Em seguida tomavam a posição sentada e então eram equipados
MATERIAIS E MÉTODOS com o monitor de frequência cardíaca e máscara para coleta de gases
acoplada ao analisador de gases (Medical Graphics, modelo CPX/D),
Desenho experimental permanecendo desta maneira por mais cinco minutos. Terminado o
Cada indivíduo compareceu em três ocasiões à Escola de Educação período de coleta das variáveis em repouso, os indivíduos realizavam
Física (EsEF) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) uma série de 15 repetições de aquecimento para supino e agachamen-
para coletas de dados. Durante a primeira visita, foram mensuradas as to utilizando uma barra de ferro de 10kg, iniciando, logo em seguida,
características antropométricas e realizados os testes de força muscular a realização da sessão experimental. Durante ambas as sessões (RML
dinâmica máxima em dois exercícios (supino e agachamento). Nos e HP), todos os indivíduos executavam primeiro o supino e depois o
dois seguintes encontros, foram realizadas aleatoriamente as sessões agachamento. A intensidade dos exercícios foi calculada a partir dos
experimentais de exercício de força com diferentes objetivos: hipertro- valores de 1RM. A sessão de TF era composta de três séries de cada
fia muscular (HP) e resistência muscular localizada (RML). A ordem de dupla de exercício (supino e agachamento), realizada de forma alter-
realização das sessões foi randomizada e todos os indivíduos realizaram nada sem intervalo entre os exercícios e com um minuto de intervalo
os testes entre oito e 11 horas da manhã. Um intervalo de, no mínimo, entre as séries. A sessão HP compreendia e execução de 6-8RM a uma
cinco dias foi respeitado entre cada encontro. intensidade de 80% de 1RM enquanto a sessão RML compreendia a
RESULTADOS
Em nosso estudo, não foram encontradas diferenças significativas
nos valores de O2 de repouso nas situações pré-exercício entre as
duas sessões (p = 0,96), indicando que os indivíduos partiram de uma
condição metabólica semelhante em ambas as sessões experimentais
(316 ± 36ml/min para HP e 317 ± 37ml/min para RML). O tempo de
exercício foi significativamente superior para a sessão RML em relação Figura 1. Consumo de oxigênio ( O2 ml/min) durante 10min de recuperação
após sessão de treino para hipertrofia (HP) e resistência muscular localizada
à sessão HP (p < 0,001), o mesmo ocorrendo com a tonelagem, sendo (RML). Valores de repouso (RP) coletados antes da realização de cada sessão
os valores de RML significativamente maiores (p < 0,001) (tabela 2). experimental (REP_HP e REP_RML), estão em evidência.
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