a
SOCIOLOGIA
SÉRIE
ENSINO
MÉDIO
1 O Estado moderno
O ESTADO ABSOLUTISTA
Surgido no contexto da expansão do mercantilismo, o Estado absolutista foi implantado inicial-
mente em Portugal, no final do século XIV, com a Revolução de Avis. Posteriormente, estabeleceu-se
em vários lugares da Europa e teve seu ponto alto na França, no reinado de Luís XIV (1638-1715). A
concentração de poderes, isto é, o poder absoluto, do Estado é bem expressa na frase atribuída a
esse rei: “O Estado sou eu!”.
Ao assumir o controle das atividades econômicas, o Estado intervinha na concessão dos mo-
nopólios, fixava preços e tarifas, administrava a moeda e os metais preciosos. O acúmulo de metais
preciosos era a expressão máxima da riqueza de um país. O Estado absolutista assumia também
a responsabilidade de centralizar e praticar a justiça e de cuidar do contingente militar, formando
exércitos profissionais. Para financiar essas atividades, foram fixados os impostos gerais.
O matemático, teórico político e filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) procurou fun-
damentar a necessidade de um Estado absoluto. Para ele, as pessoas viviam em luta por causa do
egoísmo e da ambição, e a vida em sociedade era muito difícil. Somente um poder superior ao dos
indivíduos poderia garantir a segurança de todos. Esse poder deveria ser absoluto, para que nin-
guém o contestasse, e duradouro, para que não se rompesse o equilíbrio racional necessário a uma
convivência também duradoura. Justificava-se assim a continuidade das monarquias baseadas na
hereditariedade.
O Estado fascista
Essa forma de Estado foi implantada e se desenvolveu nas décadas de 1920 a 1940, primeiro
na Itália, depois na Alemanha e em vários outros países europeus, com pequenas diferenças. A base
econômica desse Estado era a capitalista, mantendo-se a propriedade privada como um de seus
fundamentos.
No Estado fascista, a participação política significava plena adesão ao regime e a seu líder má-
ximo (Benito Mussolini na Itália e Adolf Hitler na Alemanha), ou seja, ninguém podia fazer qualquer
crítica ou oposição ao governo.
ROGER_VIOLLET/AFP
STAPLETON COLLECTION/CORBIS/LATINSTOCK
SOCIOLOGIA
Estado e liberdade
THOMAS RASSLOFF/CITIZENSIDE
“Unidos por uma mudança global”: manifestações contra governos
e corporações em diversas cidades do mundo, no dia 15 de
novembro de 2011. À esquerda, protesto diante da embaixada
norte-americana em Amã, Jordânia; acima, manifestação na praça
Alexander, em Berlim.
1 De seu ponto de vista, qual é o significado dos movimentos políticos mencionados no texto? Eles anunciam uma nova forma
de fazer política?
2 No lugar onde você vive, estão se manifestando novas formas de participação política? Explique.
1 O francês Jaques Bossuet foi um dos maiores defensores do a) Quais as diferenças básicas entre a concepção de Estado
absolutismo político. No seu livro A Política tirada da Sagrada de Bossuet e a de Madison?
Escritura, publicado postumamente em 1709, ele defende Na resposta a esta questão, o aluno deverá observar que Bos-
suet procura legitimar o poder por meio de argumentos reli-
que todo poder viria de Deus. Os governantes agiriam como giosos, enquanto Madison assenta a legitimação do poder na
ministros de Deus e seus representantes na terra. Conse- vontade geral da população.
quentemente, o trono real não seria o trono de um homem,
mas o trono do próprio Deus. b) Qual é a relação entre indivíduo e Estado na concepção
Já James Madison, presidente dos Estados Unidos entre 1809 de Bossuet e na de Madison? SOCIOLOGIA
e 1817 e um dos principais formuladores da constituição fe- A principal diferença na concepção da relação entre indivíduo
deral estadunidense, entendia que o poder político emana e Estado nas duas formulações é a participação. Enquanto em
do povo. Em uma de suas emendas à constituição, definiu um Estado monárquico absolutista o indivíduo é um súdito
obediente, mero receptor das decisões estatais, no Estado
que todo o poder é originalmente concedido ao povo e, con- constitucional de direito, ele participa do governo, seja ele-
sequentemente, emanou do povo. gendo seus representantes, seja ocupando cargos públicos.
Considere essas informações e responda às questões:
b) Predominou na Europa ocidental durante o século XIX, d) Teve seu auge na França durante o reinado de Luís XIV
caracterizando-se pela não interferência na economia, (1638-1715). Caracterizado principalmente pela defesa
com o intuito declarado de promover o indivíduo, a li- dos interesses da nobreza e por um severo controle da
berdade de troca e a propriedade privada. Segundo o sociedade, essa forma de organização estatal é conside-
filósofo e economista escocês Adam Smith (1723-1790), rada por alguns historiadores, em razão da pressão que
nesse tipo de organização estatal a economia deveria ser exerceu sobre a população, como um dos fatores res-
regida pela mão invisível do mercado. ponsáveis pela eclosão da Revolução Francesa em 1789.
Estado absolutista.
Estado liberal.
ANOTAÇÕES
2 O poder e o Estado
Objetivos: De acordo com Norbert Elias (1897-1990), no livro A sociedade dos indivíduos (1987), há uma
tendência nas ciências sociais de não considerar o Estado como objeto da Sociologia. Ele afirma que
c Discutir sobre outras
isso vem de uma antiga tradição intelectual que vê o Estado como algo extrassocial ou até oposto
formas de poder que
à sociedade. Desde o século XVIII, o termo “sociedade” — ou “sociedade civil” — era usado como
estão fora do sistema
contraposição a “Estado”, pois havia interesse da classe em ascensão, a burguesia, em acentuar essa
estatal.
separação. Naquela época, a burguesia procurava destacar a ideia de que a nobreza detinha o mo-
c Identificar e nopólio do poder do Estado.
Reconhecer a Essa ideia de separação entre sociedade e Estado dominou por muito tempo e prejudicou a
sociedade disciplinar e compreensão de que o Estado se estrutura nas questões públicas e sua constituição decorre de um
de controle. processo histórico. Neste capítulo vamos verificar como os autores clássicos da Sociologia abordaram
essa questão.
Karl Marx
Em seus estudos, voltados à análise das relações de produção na sociedade capitalista, Marx
não formulou uma teoria específica sobre o Estado e o poder. Num primeiro momento, ele se apro-
ximou da concepção anarquista, definindo o Estado como uma entidade abstrata, contraposta à
sociedade, que procurava conciliar os interesses de todos, mas principalmente garantir o daqueles
que dominavam economicamente.
No livro A ideologia alemã, escrito em 1847 em parceria com Friedrich Engels (1820-1895),
Marx identificou a divisão do trabalho e a propriedade privada, geradoras das classes sociais, como
a base do surgimento do Estado, que seria a expressão jurídico-política da sociedade burguesa. A
organização estatal apenas garantiria as condições gerais da produção capitalista, não interferindo nas
relações econômicas. Em 1848, no Manifesto comunista, Marx e Engels afirmaram que os dirigentes
do Estado moderno funcionavam como um comitê executivo da classe dominante (a burguesia).
Nos livros escritos entre 1848 e 1852, As lutas de classe na França e O Dezoito Brumário de
Luís Bonaparte, analisando uma situação histórica específica, Marx declara que o Estado nasceu
para refrear os antagonismos de classe e, por isso, favorecer a classe dominante. Existem momentos,
porém, em que a luta de classes é equilibrada e o Estado se apresenta com independência, como se
fosse um mediador.
SOCIOLOGIA
Analisando a burocracia estatal, Marx afirma que o Estado pode estar acima da luta de classes,
separado da sociedade, como se fosse autônomo. É nesse sentido que pode haver um poder que
não seja exercido diretamente pela burguesia. Mesmo dessa forma, o Estado continua criando as
condições necessárias para o desenvolvimento das relações capitalistas, principalmente o trabalho
assalariado e a propriedade privada.
HULTON-DEUTSCH COLLECTION/CORBIS/LATINSTOCK
Barricada erguida pelos integrantes da Comuna de Paris. Constituída na crista de um levante popular, na fase
final da guerra franco-prussiana, a Comuna estabeleceu em Paris, na França, o autogoverno dos trabalhadores
e o voto universal, aboliu a Guarda Nacional e decretou o congelamento dos preços de produtos de primeira
necessidade. O governo revolucionário sobreviveu de março a maio de 1871.
Estado e burguesia
[...]
Cada etapa da evolução percorrida pela burguesia foi acompanhada de um progresso político correspondente. Classe
oprimida pelo despotismo feudal, associação armada e autônoma na comuna, aqui república urbana independente, ali terceiro
estado tributário da monarquia; depois, durante o período manufatureiro, contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou
absoluta, base principal das grandes monarquias, a burguesia, com o estabelecimento da grande indústria e do mercado mun-
dial, conquistou, finalmente, a soberania política exclusiva no Estado representativo moderno. O executivo no Estado moder-
no não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa.
[...]
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. São Paulo: Boitempo, 1998. p. 41-42..
Max Weber
Cinquenta anos depois da publicação do Manifesto Comunista por Marx e Engels, em um mo-
mento no qual o capitalismo estava mais sólido e burocratizado, Weber escreveu sobre as questões
do poder e da política. Questionava: como será possível o indivíduo manter sua independência diante
REUTERS/LATINSTOCK
Estado e política
[…] O que é um “Estado”? Sociologicamente, o Estado não pode ser definido em termos de seus fins. Dificilmente haverá
qualquer tarefa que uma associação política não tenha tomado em suas mãos, e não há tarefa que se possa dizer que tenha sido
sempre, exclusivamente e peculiarmente, das associações designadas como políticas: hoje o Estado, ou, historicamente, as
associações que foram predecessoras do Estado moderno. Em última análise, só podemos definir o Estado moderno sociolo-
gicamente em termos dos meios específicos peculiares a ele, como peculiares a toda associação política, ou seja, o uso da
força física.
“Todo Estado se fundamenta na força”, disse Trotski em Brest-Litovsk. Isso é realmente certo. Se não existissem instituições
sociais que conhecessem o uso da violência, então o conceito de “Estado” seria eliminado, e surgiria uma situação que pode-
ríamos designar como “anarquia”, no sentido específico da palavra. É claro que a força não é certamente o meio normal, nem
o único do Estado — ninguém o afirma — mas um meio específico ao Estado. Hoje, as relações entre o Estado e a violência
são especialmente íntimas. […] porém, temos de dizer que o Estado é uma comunidade humana que pretende, com êxito, o
monopólio do uso legítimo da força física dentro de um determinado território. […] Especificamente, no momento presen-
te, o direito de usar a força física é atribuído a outras instituições ou pessoas apenas na medida em que o Estado o permite. O
Estado é considerado como a única fonte do “direito” de usar a violência. Daí “política”, para nós, significar a participação no
poder ou a luta para influir na distribuição de poder, seja entre Estados ou entre grupos dentro de um Estado.
[…]
WEBER, Max. Ensaios de sociologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. p. 97-98..
GLAUCO, 1977
A democracia também pode ser analisada com base nos aspectos
institucionais necessários para seu desenvolvimento e manutenção. De
acordo com Joseph Schumpeter (1883-1950), Giovanni Sartori (1924-),
Robert Dahl (1915-), Adam Przeworski (1940-) e Guillermo O’Donnell
(1936-2011), entre outros, para haver democracia em um país, é neces-
sário preencher alguns critérios:
eleições competitivas, livres e limpas para o Legislativo e o Executivo;
direito de voto, que deve ser extensivo à maioria da população adulta,
ou seja, cidadania abrangente no processo de escolha dos candidatos;
proteção e garantia das liberdades civis e dos direitos políticos me-
diante instituições sólidas, isto é, liberdade de imprensa, de expressão
e de organização, além do direito ao habeas corpus e outros que com-
preendem o componente liberal da democracia;
controle efetivo das instituições legais e de segurança e repressão —
poder Judiciário, Forças Armadas e forças policiais.
SOCIOLOGIA
Charge de Glauco publicada em 1977, durante o governo Geisel, quando
teve início a abertura política. Figura comum nas redações dos principais
veículos de imprensa, o censor vetava matérias, artigos e crônicas
considerados subversivos pela ditadura militar.
Os desafios à democracia
[...] Os desafios que são postos à democracia no nosso tempo são os seguintes. Primeiro, se continuarem a aumentar
as desigualdades sociais entre ricos e pobres ao ritmo das três últimas décadas, em breve, a igualdade jurídico-política entre
os cidadãos deixará de ser um ideal republicano para se tornar uma hipocrisia social constitucionalizada. Segundo, a demo-
cracia atual não está preparada para reconhecer a diversidade cultural, para lutar eficazmente contra o racismo, o colonia-
lismo e o sexismo e as discriminações em que eles se traduzem. [...] Terceiro, as imposições econômicas e militares dos
países dominantes são cada vez mais drásticas e menos democráticas. Assim sucede, em particular, quando vitórias eleitorais
legítimas são transformadas pelo chefe da diplomacia norte-americana em ameaças à democracia, sejam elas as vitórias do
Hamas [na Palestina], de Hugo Chavez [na Venezuela] ou de Evo Morales [na Bolívia]. Finalmente, o quarto desafio diz
respeito às condições da participação democrática dos cidadãos. São três as principais condições: ser garantida a sobrevi-
vência: quem não tem com que alimentar-se e à sua família tem prioridades mais altas que votar; não estar ameaçado: quem
vive ameaçado pela violência no espaço público, na empresa ou em casa, não é livre, qualquer que seja o regime político
em que vive; estar informado: quem não dispõe da informação necessária a uma participação esclarecida, equivoca-se quer
quando participa, quer quando não participa.
Pode dizer-se com segurança que a promoção da democracia não ocorreu de par com a promoção das condições de par-
ticipação democrática. [...]
SOUSA SANTOS, Boaventura de. O futuro da democracia. Visão. Paço de Arcos: Edimpresa, 31 ago. 2006. Disponível em:
<www.ces.uc.pt/opiniao/bss/164.php>. Acesso em: 11 ago. 2012.
JADSON MARQUES/AE
A sociedade disciplinar é a que conhecemos desde o século XVIII. Nela se organizam grandes
meios nos quais os indivíduos se reúnem: a família, a escola, a fábrica, o exército e, em alguns casos, o
hospital e a prisão. Nesse tipo de sociedade, os indivíduos passam de um espaço fechado para outro
e não param de recomeçar, pois em cada instituição devem aprender alguma coisa, principalmente
a disciplina específica do lugar.
Na sociedade disciplinar, a fábrica, por exemplo, é um espaço fixo e restrito onde se produ- SOCIOLOGIA
zem mercadorias. A fábrica reúne os indivíduos e estes parecem formar um só corpo, com a dupla
vantagem de facilitar a vigilância por parte dos patrões, que controlam cada elemento na massa, e
de facilitar a tarefa dos sindicatos, que mobilizam uma massa de resistência. Nessa sociedade o que
identifica os indivíduos, na escola, no exército, no hospital, na prisão ou nos bancos, é a assinatura e
o número na carteira de identidade ou na carteira profissional, além de diversos outros documentos.
A sociedade de controle está aparecendo lentamente, e alguns de seus indícios já são percep-
tíveis. Ela é como uma “prisão ao ar livre”, na expressão do filósofo e sociólogo alemão Theodor
LAERTE, 2007
le contínuo são os “conselhos”
a respeito da saúde que estão
presentes em todas as publica-
ções, na televisão e na internet:
“Não coma isso porque pode
engordar ou aumentar o nível
de colesterol ruim”; “Faça exer-
cícios de manhã ou à tarde, des-
ta ou daquela maneira, para ter
uma vida mais saudável”; “Tome
tal remédio para isso, mas não
tome para aquilo”.
Os controles nos alcançam,
assim, em todos os momentos e
lugares. Não há possibilidade de
fuga. E isso está sendo amplia-
do pelo aumento significativo
de aparelhos celulares, tablets
e outras máquinas vinculadas à
internet.
Se na sociedade disciplinar
o elemento central de produção
Sociedade de controle:alguém precisa vigiar? é a fábrica, na de controle é a
empresa, algo mais fluido. Se na
fábrica já havia o sistema de prêmios, na empresa ele foi aperfeiçoado como uma variação para cada
salário, instaurando um estado de eterna instabilidade e desafios. Se a linha de produção é o coração
da fábrica, o serviço de vendas é a alma da empresa. O marketing é o instrumento de controle social
por excelência — é de curto prazo e mudança rápida, mas também contínuo e ilimitado, ao passo
que a disciplina é de longa duração, infinita e descontínua.
O lugar do marketing em nossa sociedade é evidente, uma vez que somos todos vistos como
consumidores. O convencimento é ao mesmo tempo externo (pela recepção da mensagem) e in-
terno (pela própria natureza do convencimento). Ao ser assimilada por nós, a coerção aparece como
algo de que não podemos fugir. Se tudo pode ser comprado e vendido, por que não as consciências,
os votos e outras coisas mais?
O que nos identifica cada vez mais é a senha. Cada um de nós é apenas um número, parte
de um banco de dados de amostragem. A quantidade de senhas de que necessitamos para nos
relacionar virtualmente com as pessoas ou com instituições é enorme e, sem elas, ficamos isolados.
Se na sociedade disciplinar há sempre um indivíduo vigiando os outros em várias direções
num lugar confinado, na sociedade de controle todos olham para o mesmo lugar. A televisão é um
bom exemplo disso, pois milhares de pessoas estão sempre diante do aparelho. Na final da Copa do
Mundo de futebol em 2010, por exemplo, cerca de 620 milhões de pessoas assistiram ao jogo entre
Espanha e Holanda pela televisão..
ANOTAÇÕES
SOCIOLOGIA
1 Em julho de 1917, inspirados em doutrinas anarquistas e co- tipo ideal ao qual se relacionam. Explique suas opções.
munistas e organizados por sindicatos recentemente criados, a) A dominação do pai sobre seu filho.
trabalhadores urbanos, da indústria e do comércio, iniciaram Dominação tradicional.
uma greve na capital paulista que rapidamente refletiu em b) A dominação em um Estado regido por uma constituição.
outros municípios de São Paulo e mesmo em outros estados Dominação legal.
do sudeste e do sul. Reivindicando basicamente melhores c) A dominação exercida por Antonio Conselheiro, na Bahia,
condições de trabalho, como salários e jornadas de trabalho e pelo Padre Cícero, no Ceará.
mais adequados, os grevistas de 1917 foram duramente re- Dominação carismática.
primidos pela polícia. Exemplo da repressão estatal foi a mor- 2 Na maioria dos países ocidentais, a liberdade e a privacidade
te do jovem José Martinez, em 9 de julho de 1917, em conse- dos cidadãos são garantidas constitucionalmente. Porém, na
quência de um embate com a cavalaria da polícia em frente prática, os indivíduos são submetidos a poderosos mecanis-
à fábrica Mariângela, no bairro do Brás, na capital paulista. mos de controle.
Como a greve geral de 1917 no Brasil pode ser analisada à luz a) Dê exemplos de alguns dos mecanismos de controle so-
da concepção de Estado expressa por Karl Marx? cial aos quais os indivíduos estão sujeitos no Brasil atual.
Neste exercício, propõe-se a leitura de um fato histórico com base na b) Explique: por que se estabelecem mecanismos de contro-
concepção marxista de Estado. Se o Estado moderno é uma espécie le em organizações sociais baseadas na liberdade?
de comitê executivo da burguesia, então, a maneira como a República
brasileira abafou as greves gerais de 1917 pode ser vista como uma O enunciado da questão expõe uma contradição do Estado de-
forma de manter a dominação de classe vigente no Brasil do começo mocrático de direito para propor ao aluno uma reflexão acerca do
do século XX. controle social e dos limites da democracia em uma sociedade
estruturada para atender às necessidades de produção/consumo.
2 O sociólogo alemão Max Weber distingue três tipos ideais
de dominação legítima: a tradicional, a carismática e a legal.
Considere os exemplos de dominação a seguir e indique o
ANOTAÇÕES
Objetivos: Por mais de 300 anos, enquanto na Europa constituíam-se Estados absolutistas e depois liberais,
o Brasil permaneceu como colônia de Portugal — portanto, submetido ao Estado português. Com a
c Compreender o independência, em 1822, instituiu-se no Brasil um Estado monárquico do tipo liberal, mas com uma
conhecimento científico
contradição imensa, que perduraria por 66 anos: a escravidão.
como resultado do
Após a proclamação da república, em 1889, o Estado brasileiro assumiu diferentes feições ao
trabalho de gerações
longo do tempo, caracterizando-se como oligárquico, ditatorial ou liberal, sempre à sombra do poder
de seres humanos em
dos militares, cujas intervenções e golpes foram frequentes. Só a partir da Constituição de 1988 o país
busca da compreensão
passou a conviver com a perspectiva de um Estado democrático duradouro, mas também com uma
do mundo.
política econômica neoliberal, sem ter efetivamente passado por um Estado de bem-estar social.
c Diferenciar os tipos
básicos de padrões
celulares e associá-los
O ESTADO ATÉ O FIM DO SÉCULO XIX
à classificação dos Podemos dizer que o Brasil conheceu várias formas de organização do Estado, de acordo com
seres vivos. os caminhos que a história política do país traçou.
SOCIOLOGIA
Representação do beija-mão,
no Rio de Janeiro, durante o
período joanino (1808-1820),
uma cerimônia da realeza
absolutista transplantada para
a colônia. Desenho de A.P.D.G.
do início do século XIX.
de fato, quem exercia o poder era o imperador. A sustentação política do Império, nesse
primeiro período, era assegurada pelos senhores de escravos, aliados aos militares e a
uma burocracia que mantinha fortes laços com Portugal.
Depois da abdicação de Dom Pedro I, com as regências e o governo de Dom Pe-
dro II, os laços da estrutura estatal com Portugal se afrouxaram e a gestão das questões
públicas brasileiras adquiriu maior autonomia.
O Brasil, nesse período, e os Estados Unidos da América, entre 1776 e 1861, talvez
tenham sido os únicos países do mundo em que uma constituição liberal coexistiu com
a escravidão. Isso é uma grande contradição, pois as constituições liberais dispõem que
todos os indivíduos são iguais perante a lei, e a escravidão é a negação disso. A perma-
nência dessa contradição se explica pelo fato de a escravidão ser um dos elementos
estruturais da monarquia brasileira. A escravidão foi abolida em 1888, e a monarquia
caiu em seguida.
O ESTADO REPUBLICANO
O Estado que nasceu com a implantação da república no Brasil caracterizou- -se, principalmen-
te, pela ligação da classe dominante com a cúpula da estrutura militar. Desde o início da república a
cúpula militar teve presença marcante na estruturação política nacional e esteve no posto máximo
de comando — a presidência da república — ou nos bastidores, influindo nas principais decisões
políticas.
Ao longo do período republicano, configuraram-se diferentes momentos de poder: o do poder
oligárquico (um governo de grupos), exercido pelos grandes proprietários de terras, os das ditaduras
explícitas, os de governos democráticos liberais com restrições etc. Enfim, em várias situações a de-
Charge de Angelo Agostini feita nos mocracia esteve por um fio ou foi suprimida.
primeiros anos da Primeira República
(1889-1930), ironizando as práticas Primeira República: o Estado oligárquico (1889-1930)
eleitorais da época. Não havia
mecanismos institucionais que pudessem Enquanto na Europa e nos Estados Unidos já havia um desenvolvimento industrial significativo
coibir as fraudes, pois o voto era aberto e um Estado liberal democrático estruturado, o Brasil era um país essencialmente agrário, com um
e não existia uma justiça eleitoral Estado oligárquico que excluía a participação popular.
independente.
A república no Brasil surgiu de um movimento da cúpula militar,
sem a participação da população. Segundo o jornalista republicano
Aristide Lobo (1838-1896), em sua coluna “Cartas do Rio”, escrita no
dia da proclamação e publicada no Diário Popular de 18 de novem-
bro de 1889, “o povo assistiu bestializado, atônito, surpreso, sem co-
nhecer o que significava”, ao movimento que derrubou a monarquia.
Após um período de governo provisório, entre 1889 e 1891, foi
promulgada uma constituição, que instituía a República dos Estados
Unidos do Brasil, de caráter federativo. Isso significava que o Brasil era
um conjunto de estados, os quais tinham autonomia e uma consti-
COLEÇÃO PARTICULAR
ACERVO ICONOGRAPHIA
nadores e o coronelismo. À exceção do período compreendido entre 1889 e 1894,
quando os militares estiveram no comando da república, a chamada política dos go-
vernadores procurava evitar disputas entre o governo central e os estaduais, garantindo
assim a manutenção e o predomínio da máquina administrativa federal.
Essa política expressava um acordo entre o governo federal e as mais fortes oli-
garquias regionais, por meio da destinação de verbas da União para obras públicas
estaduais. Em troca, o governo recebia o apoio dos deputados e senadores para apro-
vação dos projetos de interesse do Executivo. Nesse quadro, foi marcante a chamada
política do café com leite, que expressou a presença dominante dos estados de São
Paulo e Minas Gerais no Executivo federal.
O coronelismo era uma forma de poder econômico, social e político encarnado
pelo proprietário rural, que controlava os meios de produção e os moradores da zona
rural e das pequenas cidades do interior. A prática político-social dos coronéis manti-
nha uma articulação local-regional e regional-federal, como nos tempos do Império, e
funcionava para manter o sistema eleitoral e o mandonismo local.
ACERVO ICONOGRAPHIA
AFP
COLEÇÃO PARTICULAR
Estado Novo
Golpe e instalação do governo Eleição de Vargas à presidência pelo
provisório Congresso Deposição de Vargas
Com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, estabeleceu-se o que a Sociologia chama de po-
pulismo: uma relação de poder em que o governante buscava o apoio dos trabalhadores e também
da burguesia industrial (setor que de fato representava). Já que seu objetivo era implantar uma nova
ordem industrial, Getúlio entrou em divergência com o setor agrário dominante (mesmo não esten-
SOCIOLOGIA
Charge de Théo, publicada na revista Careta, em janeiro de 1960. Jânio Quadros foi
eleito com a promessa de varrer a corrupção e a dívida pública com sua vassoura —
símbolo de sua campanha. No entanto, o que se viu foi uma renúncia mal explicada e
o começo de uma crise que culminou no golpe militar, em 1964.
1
Brasil. Câmara dos Deputados. Há 50 anos, a renúncia de um Presidente da República marcou a história política do país. Dispo-
nível em: <www2.camara.gov.br/noticias/institucional/noticias/ha-50-anos-a-renuncia-de-um-presidente-marcou-a-historia-
-republicana-do-pais>. Acesso em: 31 ago. 2012.
UH/FOLHAPRESS
ACERVO ICONOGRAPHIA
COLEÇÃO PARTICULAR
FOLHAPRESS
Governo de transição
comandado por Café Filho
Governo do general Eurico Governo de Vargas, eleito pelo voto Suicídio de Vargas
Gaspar Dutra, eleito pelo voto popular
popular
ARQUIVO/AE
ARQUIVO/AE
ARQUIVO/AE
Governo e renúncia de Jânio
Governo de Kubitschek, eleito pelo Quadros. Posse de João Goulart. Volta do presidencialismo, com Deposição de Goulart por golpe
voto popular Implantação do parlamentarismo Goulart no comando militar em 1o de abril
FOLHA IMAGEM
Governo provisório do marechal Governo de Vargas, eleito pelo Governo do marechal Costa e Silva
Castelo Branco voto popular
ZIRALDO, 1984
de estudantes e trabalhadores, contra o regime militar. Os movimentos foram per-
mitidos inicialmente, mas depois passaram a ser reprimidos com violência.
O momento mais repressivo do período iniciou-se em 1967, sob a presidência
do general Arthur da Costa e Silva. Após grandes manifestações, principalmente de
operários e estudantes, em 13 de dezembro de 1968 foi editado o mais conhecido
e terrível Ato Institucional: o AI-5, que cassava todos os direitos civis, permitia a
cassação dos mandatos parlamentares e o fechamento do Congresso Nacional,
das Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais, sob a ordem direta do
presidente. Também limitava os poderes do Judiciário, ao suspender o direito de
habeas corpus em crimes contra a “segurança nacional”, e impunha a censura prévia
à imprensa e restrições à liberdade de reunião.
Costa e Silva não conseguiu completar o mandato, pois adoeceu (sofreu um
derrame cerebral em setembro de 1969), sendo substituído por uma junta militar,
que impediu a posse do vice-presidente, Pedro Aleixo. O mandato de Costa e Silva
e o de Pedro Aleixo foram declarados extintos em 6 de outubro de 1969.
A junta militar, composta dos ministros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, baixou o A intransigência dos militares e as
Ato Institucional no. 13 (AI-13), que punia com banimento os brasileiros considerados “ameaça à arbitrariedades cometidas no período
posterior à edição do Ato Institucional no. 5
segurança nacional”, e o Ato Institucional no. 14 (AI-14), que instituía a pena de morte e a prisão desafiavam as evidências e a razão, como
perpétua para os envolvidos em “guerra revolucionária e subversiva”, além de sancionar a nova Lei de satiriza Ziraldo nesta charge de 1984.
Segurança Nacional. Diante desse aparato jurídico, os cidadãos não tinham mais nenhum amparo
legal para fazer frente aos poderes ditatoriais.
A junta militar aplainou o caminho para que o general Emílio Garrastazu Médici assumisse a
presidência da república em 1969, mantendo intensa repressão aos movimentos sociais organizados
e às manifestações públicas. Com o endurecimento, aumentou a oposição ao regime, e foram orga-
nizados movimentos de guerrilha na cidade e no campo.
Os militares reagiram com violência, colocando em prática a tortura, os assassinatos e o desapa-
recimento de ativistas de esquerda e de pessoas que eles afirmavam conspirar contra a segurança na-
cional. Paralelamente, o país passou por um processo que foi designado de “milagre econômico”, pois
houve um crescimento expressivo da produção nacional e grandes investimentos em infraestrutura.
Os últimos dez anos do regime militar (1975-1985) foram críticos, pois o país sofreu os reflexos
FOLHA IMAGEM
JAIR CARDOSO/JB
SOCIOLOGIA
Governo do general Emílio Garrastazu Médici Governo do general Ernesto Geisel Governo do general
João Batista Figueiredo
Fonte: Elaborado pelo autor.
CLAUDIUS, 1992
-se a privatização de empresas estatais (nos setores de siderurgia, energia e
comunicações) e a abertura do mercado nacional a produtos estrangeiros,
derrubando barreiras de importação.
No sistema financeiro, foi permitida a livre atuação dos bancos e o mo-
vimento de capitais no mercado interno; renunciou-se ao controle da
moeda nacional e da política cambial, atrelando a moeda nacional ao
dólar, para facilitar as transações no mercado financeiro.
Alteraram-se os contratos de trabalho, o limite de horas na jornada de
trabalho, as férias remuneradas, além do sistema de aposentadorias, sendo
criado o sistema de previdência privada.
Incentivou-se a fundação de escolas privadas em todos os níveis, mas
principalmente no superior. Houve, com isso, a proliferação de faculdades
e universidades particulares no Brasil. O financiamento proporcionado
pelo Estado assegurou essa expansão, em detrimento das universidades públicas. Ascensão e queda de Fernando Collor,
Ampliou-se a presença das administradoras de planos de saúde, permanecendo na dependência afastado da presidência por meio de
impeachment, em charge de Claudius.
do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) apenas os mais pobres.
No governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que sucedeu o de Fernando Henrique Cardoso, foi man-
RETORNO À DEMOCRACIA
LULA MARQUES/FOLHAPRESS
SERGIO LIMA/FOLHAPRESS
PEDRO LADEIRA/FRAME/AE
SOCIOLOGIA
Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, eleito
e reeleito pelo voto popular
ANGELI, 1994
tindo que os grandes conglomerados
industriais e financeiros obtivessem
lucros exorbitantes. Em contrapartida,
ampliaram-se as políticas de redistri-
buição de renda, visando amenizar a
situação precária da maior parte da
população brasileira.
Uma das medidas tomadas para
enfrentar o problema da distribuição
de renda foi o aumento do salário
mínimo acima da inflação e, conse-
quentemente, a ampliação do valor
das aposentadorias para os beneficiá-
rios que recebiam até um salário mí-
nimo. O que mais marcou o governo
Lula, entretanto, principalmente no
segundo mandato, foi a criação de
empregos estáveis, que possibilitou a
expansão do consumo a uma parcela
da população estimada em torno de
30 milhões de brasileiros.
Além disso, puseram-se em prá-
tica os programas Fome Zero e Bolsa
Família. Foram integrados ao Fome
Zero os programas implantados no
governo de Fernando Henrique Car-
doso: o Bolsa Escola, o Auxílio Gás e o
Na charge de Angeli, um Cartão Alimentação. A ampliação do
cotejo entre as relações programa Bolsa Família e similares propiciou uma renda mínima a milhares de famílias que viviam
políticas de Lula (PT) e as de em condições de miséria absoluta.
Fernando Henrique Cardoso A sustentabilidade das famílias visada por essas políticas requer a criação de empregos estáveis
(PSDB).
para a absorção não só dos desempregados, mas também dos jovens que estão integrando o merca-
do de trabalho no Brasil. Além disso, na perspectiva da elevação da participação política efetiva, essas
políticas poderiam estar alicerçadas no acesso à educação de qualidade do ensino, e não somente
na quantidade de alunos matriculados. A mesma observação pode ser feita em relação ao acesso à
assistência à saúde, que está longe de ser razoável.
Na avaliação desses programas, convém destacar ainda tratar-se de ações governamentais, que
podem incluir e excluir famílias dependendo do governante, não constituindo ações políticas de
Estado, que geram direitos.
Em termos representativos, houve nos últimos anos uma série de atuações governamentais
que contribuíram para despolitizar a prática política, limitando-a a uma participação quase somente
por meio do voto. A demanda social por maior participação foi neutralizada e canalizada de forma
burocratizada e controlada pelos agentes do governo mediante os vários conselhos e conferências
nacionais sobre o meio ambiente, os direitos da pessoa idosa, a segurança pública, os direitos da
mulher, o esporte, a igualdade racial, o acesso à saúde etc.
Do ponto de vista dos trabalhadores, os sindicatos passaram por um processo de despolitização,
uma vez que a luta por direitos coletivos foi pouco a pouco sendo substituída pela busca de soluções
possíveis para os problemas dos indivíduos. O resultado foi a desmobilização dos trabalhadores e
a burocratização das organizações sindicais mais combativas. Além disso, houve uma tendência à
cooptação dos líderes sindicalistas, que passaram a atuar em órgãos públicos.
Em 2011, assumiu a presidência da república Dilma V. Rousseff. A primeira presidenta do Brasil
deu continuidade aos projetos desenvolvidos no governo Lula.
DIDA SAMPAIO/AE
que afetem o Executivo. Não têm força para tal. Além do
mais, o Legislativo é continuamente cooptado pelo Execu-
tivo, por meio do empreguismo, das concessões de recur-
sos para atendimento de bases eleitorais, promessas de
escolha para ministérios, superintendências. Acontece que
a tradição política autoritária, uma cultura política que
combina o patrimonial com a racionalidade do grande ne-
gócio, impregna também o Legislativo.
Na prática, a independência entre os poderes Legisla-
tivo, Executivo e Judiciário dissolve-se na expansão e no
predomínio do Executivo. Em um país no qual a cultura
política das classes dominantes é essencialmente autoritá-
ria, essa expansão do Executivo caminha fácil, livremente. Manifestação contra a corrupção e a impunidade de
[…] Nesse contexto, verifica-se uma espécie de divórcio parlamentares na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em
24 de outubro de 2007.
entre as tendências predominantes no âmbito do Estado e
aquelas predominantes no âmbito da sociedade. a) O que a foto lhe sugere?
À medida que se alarga o poder estatal, redefine-se e b) Junte-se a alguns colegas e façam uma pesquisa sobre a
modifica-se a relação do Estado com a sociedade, com- função de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e as
preendendo as diversidades e desigualdades sociais, eco- CPIs em andamento no país. A seguir, troquem ideias sobre o
nômicas e outras. Na prática, dissocia-se o poder estatal de assunto.
ANOTAÇÕES
SOCIOLOGIA
1 Entre 1970 e 1974, a ditadura militar brasileira promoveu uma b) Aponte a mensagem política contida nessa imagem e
intensa propaganda ufanista. Observe a imagem a seguir e relacione-a ao contexto do período.
depois responda às questões propostas. No mesmo período pode-se notar a preocupação do regime militar
com a propaganda, que procura, de forma ufanista, destacar o patrio-
tismo através de símbolos e frases de efeito, como a apresentada na
ACERVO ICONOGRAPHIA
imagem. Dessa maneira, aqueles que faziam oposição ao governo
eram considerados elementos antipatrióticos, que deveriam deixar o
país. O discurso militar da época era: ou você gosta do país do jeito
que ele é ou deve deixá-lo, não deve tentar mudá-lo.
4 A democracia no Brasil
Objetivos: Analisar a questão da democracia no Brasil significa examinar não somente as instituições políti-
cas e as regras vigentes, mas também a maneira de viver a democracia. Pode-se dizer que ela é ainda
c Discutir sobre
uma possibilidade, pois as forças de manutenção de práticas antigas são muito poderosas. Vejamos
democracia e formas
alguns aspectos dessa questão no Brasil.
de representação.
PAULA GIOLITO/FOLHAPRESS
O Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras
de Vereadores — o Legislativo brasileiro em seus vários níveis — são
as instituições políticas com o mais baixo índice de credibilidade na-
cional. As instituições da democracia representativa, portanto, ainda
são vistas como espaços para conchavos, corrupção e negociatas, e
poucos de seus membros têm credibilidade perante a população.
Além disso, a erosão progressiva dos poderes do Parlamento
se estabelece quando sua função, na maioria das vezes, limita-se a
ratificar o que o poder Executivo envia para ser analisado, por meio
SOCIOLOGIA
de projetos de lei ou de medidas provisórias. A pauta de discussões
fica na dependência da maior ou menor sensibilidade do governante
em relação às questões que afetam a maioria da população brasileira.
Privatização do público
Podemos dizer que houve e há no Brasil uma apropriação privada do que é público, ou seja,
quem chega ao poder toma conta do patrimônio público como se fosse seu. Dessa forma, a insti-
tuição que deveria proteger a maioria da população — o Estado — adota como princípio o favo-
recimento dos setores privados, que dominam economicamente a sociedade e dão sustentação ao
governo.
Para o restante da sociedade, as políticas públicas são desenvolvidas na forma de “doação” ou de
dominação, em nome da tranquilidade social. Isso não significa que a população tenha sido sempre
passiva. Muitas ações do Estado resultaram da pressão dos movimentos sociais no país.
econômico.
A troca de favores políticos por benefícios econômicos é conhecida como clien-
telismo. Ela pode ser observada, por exemplo, na distribuição pelo poder público de
concessões de emissoras de rádio e canais de televisão ou financiamentos para empre-
sas, sempre em busca de apoio e sustentação de um partido, de uma organização ou
de uma família no poder.
Isso ocorre nos vários setores da sociedade, até mesmo naqueles considerados
modernos, que sempre encontraram no Estado um aliado nos momentos de crise.
Quantas vezes ouvimos dizer que o governo socorreu determinadas empresas e bancos
que estavam em situação precária? Quantas vezes assistimos ao Estado oferecer finan-
ciamento com juros baixíssimos para grandes empresários que estavam quase falindo?
Instalou-se no Brasil um capitalismo sem riscos, pois o poder público sempre este-
ve pronto para salvar aqueles que se punham em perigo. São esses setores envolvidos na
troca de favores os primeiros a questionar o Estado quando este procura aplicar recursos
em educação, saúde, habitação ou transporte para beneficiar a maioria da população.
A economia e muitos outros setores da sociedade se modernizaram, mas as práticas
políticas no Brasil, com raríssimas exceções, continuam a reproduzir as velhas relações
políticas, com poucas modificações.
A política do favor aparece também no cotidiano, na relação dos indivíduos com
o poder público. Ela acontece na busca de ajuda para resolver problemas, emergências
de trabalho, saúde etc. Manifesta-se ainda na distribuição de verbas assistenciais e nas
promessas de construção de escolas, de postos de saúde e de doação de ambulâncias,
feitas às pessoas ou às instituições por vereadores, deputados e senadores. Tudo para
render votos futuros, assegurando a nossos representantes a reeleição ou eleição para
outro posto.
Os “ratos” e os “queijos”... que eram feitas pelos chefões. Sua relação com seus par-
Antigamente, lá em Minas, a política era coisa séria. tidos não era ideológica. Nada tinha a ver com a inteli-
Havia dois partidos com nome registrado, programa de gência. Eles já sabiam que política não se faz com razão.
governo e tudo mais. Mas não era isso que entusiasmava Ganha não é quem tem razão. Ganha quem provoca
os eleitores. Eles não sabiam direito o nome do seu par- mais paixão. O entusiasmo que tomava conta deles era
tido nem se interessavam pelo programa de governo. O igualzinho ao entusiasmo que toma conta do torcedor
que fazia o sangue ferver era o nome do bicho e correla- no campo. [...] O que provoca o entusiasmo não é o
tos por que seu partido era conhecido. Em Lavras, os jogador. Jogadores são mercenários. Se o Real Madrid
partidos eram os “Gaviões” e as “Rolinhas”. Em Dores da oferecer um contrato vantajoso, eles dizem adeus ao Bra-
sil e se mandam para a Espanha. Tudo isso é esquecido
SOCIOLOGIA
Boa Esperança, onde nasci, eram os “Ratos” e os “Quei-
jos”. Os nomes diziam tudo. Ratos querem mesmo é co- quando o jogador entra em campo vestindo a camisa do
mer o queijo. E o queijo quer mesmo é se colocar de isca seu time. Donde vem o entusiasmo? O entusiasmo vem
na ratoeira para pegar o rato. do nome do time, vem da bandeira do time, vem da
[...] camisa do time, vem do barulhão da torcida. E quando
Como já disse, os eleitores nada sabiam dos progra- o time ganha o campeonato é aquela euforia, buzinação,
mas de governo nem prestavam atenção nas promessas foguetório, provocações.
1 O mandato de Fernando Collor de Mello como presidente 3 O Estado e a política podem parecer esferas sociais distantes e
da República brasileira começa em 1990. Como o primeiro desconectadas das nossas vidas. Porém, quanto mais aprende-
presidente eleito por voto popular depois de 29 anos, Collor mos sobre eles, mais percebemos como são cruciais para tudo
inicia seu governo prometendo acabar com as velhas chagas aquilo que fazemos. Como o Estado e a política influenciam
sociais do país, a inflação e a enorme desigualdade econômi- diretamente a sua vida? Dê um exemplo e explique.
ca da população. Essa é uma questão de reflexão geral sobre os capítulos da unidade.
Trata-se de um exercício de percepção da influência que o Estado e
Porém, em menos de um ano aparecem os primeiros casos de
a política exercem em nossas vidas. Aqui, o aluno tem a possibilida-
corrupção do seu governo. Uma comissão parlamentar de in- de de arregimentar todo o conhecimento adquirido e produzir uma
quérito (CPI) foi aberta na Câmara Federal para investigar o caso. reflexão bem aos moldes da imaginação sociológica, elucidando, em
Collor, diante do quadro desesperador, tomou uma atitude sua própria trajetória, os pontos de convergência com a sociedade.
intempestiva e desafiadora: convocou os brasileiros a saírem
COMPLEMENTARES
PARA PRATICAR
às ruas trajando as cores verde e amarela, em solidariedade a
ele, no domingo, 16 de agosto de 1992. O resultado foi inver- 1 (UEL, 2004)
so ao pretendido, pois muita gente foi às ruas de preto, em
“Formado nos quadros da estrutura familiar, o brasi-
sinal de protesto contra o governo.
leiro recebeu o peso das ‘relações de simpatia’, que dificul-
A partir daí, uma série de manifestações públicas tomou conta
tam a incorporação normal a outros agrupamentos. Por
do país, com impulso dado pelos estudantes secundaristas e
isso, não acha agradáveis as relações impessoais, caracterís-
universitários. Pedia-se ética na política e o impeachment de Col-
ticas do Estado, procurando reduzi-las ao padrão pessoal e
lor, medida legal para afastar o presidente da República quando
afetivo. Onde pesa a família, sobretudo em seu molde tra-
ele não cumpre a contento suas funções constitucionais.
dicional, dificilmente se forma a sociedade urbana de tipo
Em votação memorável no dia 29 de setembro de 1992, a moderno.”
Câmara Federal aprovou o afastamento de Collor da presi- Candido, Antonio. Prefácio. In: Holanda, Sérgio B. Raízes do Brasil.
dência. A sessão histórica foi assistida pela televisão em todo 10. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1976. p. XVIII.
o país. A população vibrou com o resultado e saiu para co- De acordo com o texto, a sociedade brasileira, apoiada nas
memorar pelas ruas: a pressão política sobre o Congresso foi relações de simpatia, encontra dificuldades de constituir rela-
a principal responsável pela aprovação do processo de im- ções próprias do Estado moderno. Assinale a alternativa que
peachment. indica corretamente uma das características que fundamen-
Com base nessas informações, responda: tam o Estado moderno a que se refere o autor.
a) Como foi a atuação da população brasileira no processo O sociólogo Antonio Candido afirma a dificuldade que o brasileiro,
de impeachment? educado numa estrutura familiar, com forte carga emocional e afe-
Mesmo tendo sido um impedimento de continuação do mandato tiva, tem para se situar num modelo em que imperam as relações
decidido pelo Congresso Nacional, o processo de impeachment impessoais, como as que ocorrem nas sociedades urbanas próprias
de Collor foi em boa medida um resultado da pressão popular. do Estado moderno.
Esse episódio da nossa recente história política, ocorrido pouco
depois do término da ditadura, foi crucial para a consolidação da a) Ênfase na afetividade.
democracia no Brasil. b) Uso do “favor” nas relações políticas.
c) Servilismo.
b) No primeiro parágrafo, afirma-se que Collor foi o primei- X d) Procedimento universal.
ro presidente eleito por voto popular depois de 29 anos. e) Recorrência ao expediente do “jeitinho”.
Por que a população brasileira ficou 29 anos sem ir às
urnas para escolher o presidente? 2 (UEM, 2010)
Por contraste, a partir do texto o aluno deve lembrar que a ditadu- Considerando o tema poder, política e Estado, assinale o que
ra militar, presente no Brasil entre 1964 e 1984, impôs eleições for correto.
indiretas à presidência até 1989.
SOCIOLOGIA
X 01) O Estado moderno surgiu da desintegração do mundo
2 O que falta, no seu ponto de vista, na democracia brasileira? feudal e das relações políticas dominantes até então na
O ideal é que o aluno analise: distribuição de renda, igualdade de Europa.
direitos, impunidade dos que têm recursos para obter proteção
02) Ao longo dos anos, o Estado capitalista manteve a mes-
ou prorrogar quase indefinidamente os processos, várias reformas
(tributária, política, previdenciária e outras), fragilidade da estrutura ma forma, não sendo a sua estrutura afetada pelas mu-
partidária etc. danças sociais.
X 04) É com o Estado liberal que se estabelece a separação
ANOTAÇÕES
SOCIOLOGIA
Alex Silva
daqueles
daqueles que que habitavam
habitavam oo setor
setor oriental
oriental
migraram
migraram parapara oo ocidental.
ocidental. Para
Para impedir
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quatro zonas
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administração
administração comunista
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NASA/GSFC/MIT/ERSDAC/JAROS, and U.S. Japan ASTER Science Team
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Berlim.
Segunda
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trabalhador
Roberto Pfeil/AP Photo/Glow Images
desafia
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Secretário-Geral
baleado
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Partido Comunista
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em 1968,
1968, quando
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processo dede insatisfação
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principal ponto
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Segunda Guerra,
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linear, nem
nem SOCIOLOGIA
era
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um ponto
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livre para
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homogêneo. Mas Mas oo dia
dia 99 de
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berlinenses do do ocidente.
ocidente. O
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novembro de de 1989,
1989, emem razão
razão
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primeiros das
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ser derrubado
derrubado em em 1989.
1989. Na
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presidente estadunidense
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Ronald Reagan
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foi estabelecido
estabelecido comocomo
discursa
discursa nono local
local em
em 1987.
1987. aa data
data de
de sua
sua queda.
queda.
LAERTE, 2007
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política
nasce a prostituta,
o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos
que é o político vigarista,
pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do
povo. 1 “Um homem, um voto — e a maioria decide.” Essa definição
vale para a democracia atual?
BRECHT, Bertolt. O analfabeto político. Apud: CITELLI, Adilson. Bertold
Brecht: comunicação, poesia e revolução. Comunicação & Educação, ano XII, 2 O modelo da democracia ocidental seria adequado para
n. 2, maio-ago. 2007. Disponível em: <www.revistas.univerciencia.org/index. organizar politicamente as várias sociedades existentes no
php/comeduc/article/viewFile/7101/6402>. Acesso em: 31 ago. 2012.
mundo, apesar da grande diversidade que se observa entre
elas?
EDITORA BRASILIENSE
silêncio. In: Governo do Estado de São Paulo. Fundação do Desenvolvimento
Maar. São Paulo: Brasiliense.
Administrativo. Políticas Públicas em Debate.
Ciclo de Seminários. Seminário Reforma Política. São Paulo, 10 ago. 2010. A política permeia diferentes
Disponível em:<www.fundap.sp.gov.br/debatesfundap/pdf/16_seminario/ dimensões da vida social: falamos
apres_marco_aurelio.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2012..
em política estudantil, política
econômica, política da Igreja, en-
1 Qual é a relação entre o texto citado acima e o texto e a tre tantas outras, sem contar as
charge apresentados na seção “Para refletir”? vezes que nos referimos aos políti-
cos, à politicagem, ou classifica-
2 É possível relacionar os dois textos com a política atual? mos uma ação como atitude polí-
Exemplifique. tica. Nesse livro, o professor Wolfgang Leo Maar constrói
um painel elucidativo da atividade política na história,
desde a Antiguidade clássica até o Estado moderno.
PARA
PARA PESQUISAR
PRATICAR
Política: quem manda, por que
EDITORA OBJETIVA
Junte-se a alguns colegas e reúnam informações, manda, como manda, de João
por meio de textos, fotos ou gravações, sobre as propos- Ubaldo Ribeiro. Rio de Janeiro: Objeti-
tas de diferentes partidos políticos envolvendo os se- va.
guintes temas: política ambiental, segurança pública, Utilizando uma linguagem
política educacional, serviços de saúde e transporte co- clara, esse livro aborda temas da e
letivo. sobre a política. Trata de questões
Vocês podem pesquisar em jornais, revistas ou nos práticas e mostra como a vida co-
sites dos partidos. Se possível, conversem sobre esses tidiana é permeada pela política.
assuntos diretamente com representantes (vereadores,
prefeitos, deputados estaduais ou federais e senadores) Política pra quê? Atuação partidá-
EDITORA ATUAL
Minority report (EUA, 2002). Direção: Steven Spielberg. Produtor gráfico: Robson Cacau Alves
Projeto gráfico de miolo: Daniela Amaral,
Esse filme, baseado em um conto do escritor Philip K. Talita Guedes
Dick, também autor de Blade runner, está ambientado no ano Colaboraram para esta Edição do Material:
de 2054, na cidade de Washington (Estados Unidos). A socie- Projeto Sistema SESI de Ensino
Gestão do Projeto: Thiago Brentano
dade vive, então, sob extremo controle, e os crimes são puni- Coordenação do Projeto: Cristiane Queiroz
dos antes de ser cometidos. Pessoas superdotadas fazem pre- Coordenação Editorial: Simone Savarego, Rosiane
Botelho e Valdete Reis
visões que levam às prisões. O controle da violência, antes
Revisão: Juliana Souza
mesmo de ser praticada, tem alto custo para a liberdade dos Diagramação: Lab 212
indivíduos e a possibilidade de defesa. Capa: Lab 212
Ilustrações de capa: Aurielaki/Golden Sikorka/
Sentavio/Macrovector/Shutterstock
V de Vingança (Estados Unidos, 2005). Direção: James McTeigue. Consultores
WARNER BROS./SILVER PICTURES/ANARCHOS
PRODUCTIONS INC./VIRTUAL STUDIOS
V de Vingança tem como cenário a sociedade inglesa num Coordenação: Dr. João Filocre
Sociologia: Dra. Vera Alice Cardoso da Silva
futuro próximo. A população, vigiada e temerosa, é submetida SESI DN
a uma estrutura política autoritária e policialesca que procura Superintendente: Rafael Esmeraldo Lucchesi
Ramacciotti
manter a ordem a qualquer custo. Um homem, V, desenvolve Diretor de Operações: Marcos Tadeu de Siqueira
ações concretas visando destruir o regime totalitário que do- Gerente Executivo de Educação: Sergio Gotti
mina o país. Quais são seus planos para mobilizar a população Gerente de Educação Básica: Renata Maria Braga
dos Santos
em torno de seus objetivos? Uma trama muito bem montada
que incita a reflexão sobre as possibilidades de ação política Todos os direitos reservados por SOMOS Educação S.A.
Avenida das Nações Unidas, 7221
num mundo quase totalmente controlado. Pinheiros – São Paulo – SP
CEP: 05425-902
DIREÇÃO DE EDUARDO ESCOREL E JOSÉ JOFFILY
(0xx11) 4383-8000
Vocação do poder (Brasil, 2005). Direção: Eduardo Escorel e José © SOMOS Sistema de Ensino S.A.
Joffily.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Esse documentário apresenta a campanha de seis candi- (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
datos a vereador nas eleições de 2004 no Rio de Janeiro. A Tomazi, Nelson Dacio
Sistema de ensino ser : sociologia : 2º ano :
produção do filme acompanhou todo o processo eleitoral: as professor / Nelson Dacio Tomazi. — 3. ed. — São
convenções partidárias, a panfletagem nas ruas, a apuração Paulo : Ática, 2017.
dos votos e a reação dos eleitos e dos derrotados. Por meio 1. Sociologia (Ensino médio) I. Título.
Impressão e acabamento
Uma publicação
1 Direitos e cidadania
Objetivos: Direitos de todos, das mulheres, dos negros, das crianças, dos adolescentes, do consumidor, dos
idosos… Há várias leis e decretos que os traduzem. Mas de que adianta haver tantas leis e decretos se
c Possibilitar uma visão não forem respeitados? Os direitos básicos dos cidadãos devem ser garantidos pelo Estado. Vamos
geral e introdutória dos ver como a relação entre direitos e cidadania foi tratada na história das sociedades.
temas relativos aos Alguns povos da Antiguidade tiveram suas normas e leis registradas por escrito. As leis dos
direitos e à cidadania. babilônios, por exemplo, foram registradas no Código de Hamurábi, no século XVIII a.C., e as normas
c Identificar e
que regiam a vida dos gregos de Atenas estavam contidas nas leis de Clístenes, elaboradas no século
Reconhecer a
VI a.C. As leis babilônicas reforçavam o poder do Estado e as atenienses definiam as instituições da
questão dos direitos democracia. Nenhuma delas, porém, tratava dos direitos humanos, cuja história é bem mais recente.
e sua relação com a Foi somente a partir do século XIII, na Inglaterra, que se criaram as primeiras cartas e estatu-
cidadania. tos que asseguravam alguns desses direitos: a Magna Carta (1215-1225), por exemplo, protegia os
homens livres e a Petition of Rights (1628) requeria o reconhecimento de direitos e liberdades para
os súditos do rei. A mais importante das “cartas de direitos”, porém, foi a Bill of Rights (1689), que
tornava a monarquia constitucional, submetendo-a à soberania popular. Cabe destacar ainda o Act
of Settlement (1707), que completava o conjunto de limitações ao poder monárquico, e o Habeas
Corpus Amendment Act (1769), que anulava as prisões arbitrárias. Todos esses atos eram dirigidos
apenas às pessoas nascidas na Inglaterra.
No século XVIII, quando as colônias inglesas da América do Norte se tornaram independen-
tes, foram elaborados alguns documentos importantes, como a Declaração de Direitos da Virgínia
(1776) e a Constituição de 1787. Nesse mesmo ano, foram ratificadas as dez primeiras emendas à
Constituição estadunidense, que determinavam os limites do Estado e definiam os campos em que
a liberdade devia ser estendida aos cidadãos. Embora as emendas garantissem liberdade de culto, de
palavra, de imprensa e de reuniões pacíficas, ainda promoviam distinções entre os seres humanos, já
que não aboliram a escravidão.
“Venda simbólica da Terra” em ato promovido pela organização ambientalista Agir pour
l’environnement, em Paris, na França, em 2012, às vésperas da Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. A conferência da ONU marcaria o aniversário
de 20 anos da Cúpula da Terra, que ocorreu em 1992 e abriu o debate sobre o futuro do
planeta e de seus recursos. Na faixa está escrito: “A natureza é um patrimônio comum, não uma
mercadoria”.
MEHDI FEDOUACH/AFP
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967. p. 76..
CIDADANIA HOJE
Ser cidadão é ter a garantia de todos os direitos civis, políticos e sociais que asseguram a possi-
bilidade de uma vida plena. Esses direitos não foram conferidos, mas exigidos, integrados e assumi-
dos pelas leis, pelas autoridades e pela população em geral. A cidadania também não é dada, mas
construída em um processo de organização, participação e intervenção de indivíduos ou de grupos
sociais. Só na constante vigilância dos atos cotidianos o cidadão pode apropriar-se desses direitos,
fazendo-os valer de fato. Se não houver essa exigência, eles ficarão no papel.
AHMAD AL-RUBAYE/AFP
pessoas, principalmente crianças, morrem de fome
todos os dias em vários locais do planeta. Essas pes-
soas não conseguiram ter o direito à vida, o direito
real e substantivo à cidadania.
O segundo direito básico em nossa sociedade,
o de ir e vir, é reconhecido desde o século XVII. No
dia a dia, entretanto, nem sempre as pessoas po-
dem se deslocar para qualquer lugar e ficar onde
querem. Tomando alguns exemplos bem próximos,
podemos citar o impedimento à livre circulação
dos cidadãos em algumas ruas (vias públicas), que
AFP
Direitos e comunidade
Somos todos interdependentes neste nosso mundo que rapidamente se globaliza, e devido a essa interdependência nenhum
de nós pode ser senhor de seu destino por si mesmo. Há tarefas que cada indivíduo enfrenta, mas com as quais não se pode
lidar individualmente. O que quer que nos separe e nos leve a manter distância dos outros, a estabelecer limites e construir
barricadas torna a administração destas tarefas ainda mais difícil. Todos precisamos ganhar controle sobre as condições sob as
quais enfrentamos os desafios da vida — mas para a maioria de nós esse controle só pode ser obtido coletivamente.
Aqui, na realização de tais tarefas, é que a comunidade mais faz falta; mas também aqui reside a chance de que a comu-
nidade venha a se realizar. Se vier a existir uma comunidade no mundo dos indivíduos, só poderá ser (e precisa sê-lo) uma
comunidade tecida em conjunto a partir do compartilhamento e do cuidado mútuo; uma comunidade de interesse e respon-
sabilidade em relação aos direitos iguais de sermos humanos e igual capacidade de agirmos em defesa desses direitos.
BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p. 133-134.
O Congresso americano e a infame redu- entre os EUA e o México que, com 1.300 quilômetros,
equivale à cortina de ferro não apenas na extensão, mas
ção das liberdades individuais também na vergonha.
O Congresso dos Estados Unidos da América (EUA) Numa perspectiva institucional interna, os EUA fo-
aprovou, na semana passada (28 de setembro de 2006), ram, por muitos anos, um farol da liberdade a inspirar a
um projeto de lei que busca convalidar as práticas atenta- evolução internacional dos direitos humanos, das liberda-
tórias aos direitos humanos levadas a efeito pelo governo des democráticas, do estado de Direito e da própria demo-
Bush, após decisão adversa da Suprema Corte do país, cracia. Hoje, todavia, a lamentável situação jurídica em
tomada em junho deste ano, que declarava ilegal o trata- que se encontra o país evoca mais os tempos sombrios da
mento de combatentes insurgentes e os procedimentos Alemanha nazista, da União Soviética stalinista e da Itália
jurídicos daquela administração. fascista.
A nova lei rompe com uma tradição de juridicidade Por outro lado, o poderio militar incontrolado do país
que existe há mais de 200 anos no país ao convalidar não permitia sua categorização precisa como uma repúbli-
normas que suspendem o Bill of Rights, acabam com o ca banana, ainda que suas instituições políticas estejam em
habeas corpus, convalidam a tortura, cerceiam o direito de franco processo de aviltamento.
defesa, permitem o uso de provas obtidas ilegalmente, auto- De fato, para além da crise do poder legislativo dos
rizam a prisão sem culpa formada e por prazo indetermina- EUA, o executivo já demonstrou todos os vícios antide-
do e conferem ao presidente dos EUA o poder de “interpre- mocráticos e o judiciário tornou-se um poder subordinado
tar” convenções internacionais. ao executivo, balizando-se, por enquanto ocasionalmente,
A lei não se restringe aos chamados prisioneiros de na lealdade partidária mais do que na lei.
Guantánamo e tem uma aplicação ampla a todos que “in- Assim, o efeito deletério de tais sombrios desdobra-
tencionalmente e materialmente tenham apoiado hostili- mentos de ordem interna se fazem sentir nos foros inter-
dades contra os EUA”. Essa definição permite uma inter- nacionais, nos quais os EUA tornaram-se a força da opres-
pretação extraordinariamente ampla, que poderá inclusive são, do arbítrio e da miséria.
limitar o direito à liberdade de expressão de opiniões. Da
mesma forma, ela irá discriminar ainda mais os estrangei- GOYOS, Durval de Noronha. O Congresso americano e a infame redução
ros residentes no território do país norte-americano, ainda das liberdades individuais. Disponível em: <www.professor-noronha.adv.br/por/
ar249dnp.htm>. Acesso em: 14 set. 2012.
que legalmente.
Essa infame lei não é uma iniciativa isolada mas, ao
contrário, reforça uma tendência de aumento das restri- 1 Que princípios da cidadania e que direitos as ações governa-
ções ao império da lei e às liberdades civis, nos EUA. De mentais e a lei estadunidense comentadas no texto desres-
fato, na mesma semana, a Câmara dos Representantes peitam?
aprovou um projeto do governo de escutas telefônicas. Por
sua vez, contemporaneamente, o Senado aprovou a verba 2 É possível classificar como democrático um regime com essa
de US$ 1,2 bilhão para a construção do muro da infâmia lei? Explique, comparando-o com outros regimes citados no
texto.
ANOTAÇÕES
SOCIOLOGIA
1 A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de será um ser vazio, reduzido a puro sofrimento e carên-
1789, aprovada no contexto da Revolução Francesa, pode cia, esquecido de dignidade e discernimento — pois
ser considerada um dos marcos iniciais da concepção de quem perde tudo, muitas vezes também perde a si mes-
cidadania. Qual é a ruptura social que a Declaração repre- mo; transformado em algo tão miserável, que facilmen-
senta, em fins do século XVIII, quando defende os ideais de te se decidirá sobre sua vida e sua morte, sem qualquer
liberdade e igualdade para todos (não incluindo as mulhe- sentimento de afinidade humana, na melhor das hipó-
res) em forma de lei? teses considerando puros critérios de conveniência. Fi-
cará claro, então, o duplo significado da expressão
A questão destaca o impacto resultante da garantia dos direitos de “Campo de extermínio”, bem como o que desejo ex-
liberdade e igualdade, na forma de lei. Afinal, a Revolução Francesa
aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão no con-
pressar quando digo: chegar no fundo.
texto de uma sociedade caracterizada pela naturalização da desigual- LEVI, Primo. É isto um homem? Rio de Janeiro: Rocco, 1988. p. 24-25.
dade, proporcionada pela “verdade” da ordem estamental, e pelo
forte controle das possibilidades individuais de culto, opinião e ação. Agora, leia alguns artigos da Declaração Universal dos Di-
Assim, a resposta deve apresentar as noções de cidadania, liberdade reitos Humanos, documento aprovado pela Organização
e igualdade como uma novidade crítica em relação ao antigo regime. das Nações Unidas (ONU) em dezembro de 1948.
Artigo 2º
2 Leia, a seguir, um trecho do livro É isto um homem?, do italia- Todos os seres humanos podem invocar os direitos
no Primo Levi, um sobrevivente do holocausto, na Segunda e as liberdades proclamados na presente Declaração,
Guerra Mundial. Ele escreveu o livro com a intenção de refle- sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor,
tir sobre suas experiências em um dos campos de concen- de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou
tração nazista. outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nas-
cimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não
[...] Estamos transformados em fantasmas como os será feita nenhuma distinção fundada no estatuto polí-
que vimos ontem à noite. tico, jurídico ou internacional do país ou do território
Pela primeira vez, então, nos damos conta de que a da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território
nossa língua não tem palavras para expressar esta ofensa, independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a algu-
a aniquilação de um homem. Num instante, por intuição ma limitação de soberania.
quase profética, a realidade nos foi revelada: chegamos ao Artigo 3º
fundo. Mais para baixo não é possível. Condição humana Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à
mais miserável não existe, não dá para imaginar. Não mais segurança pessoal.
é nosso: tiraram-nos as roupas, os sapatos, até os cabelos; Artigo 4º
se falarmos, não nos escutarão — e, se nos escutarem, não Ninguém será mantido em escravatura ou em ser-
nos compreenderão. Roubarão também o nosso nome, e, vidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as
se quisermos mantê-lo, deveremos encontrar dentro de formas, são proibidos.
nós a força para tanto, para que, além do nome, sobre Artigo 5º
alguma coisa de nós, do que éramos. Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou
Bem sei que, contando isso, dificilmente seremos tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
compreendidos, e talvez seja bom assim. Mas que cada Artigo 6º
um reflita sobre o significado que se encerra mesmo em Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimen-
nossos pequenos hábitos de todos os dias, em todos esses to, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica.
objetos nossos, que até o mendigo mais humilde possui: Artigo 7º
um lenço, uma velha carta, a fotografia de um ser amado. Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm
Essas coisas fazem parte de nós, são algo como os órgãos direito a igual proteção da lei. Todos têm direito a pro-
de nosso corpo; em nosso mundo é inconcebível pensar teção igual contra qualquer discriminação que viole a
em perdê-las, já que logo acharíamos outros objetos para presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal
substituir os velhos, outros que são nossos porque conser- discriminação.
vam e reavivam as nossas lembranças. Disponível em: <www.ohchr.org/EN/UDHR/Pages/Language.
Imagine-se, agora, um homem privado não apenas aspx?LangID=por>. Acesso em: 29 nov. 2013.
dos seres queridos, mas de sua casa, seus hábitos, sua
roupa, tudo, enfim, rigorosamente tudo que possuía; ele Com base nesses textos e considerando a consolidação
ANOTAÇÕES
SOCIOLOGIA
2 Os movimentos sociais
Objetivos: Os movimentos sociais são ações coletivas com o objetivo de manter ou mudar uma situação.
Eles podem ser locais, regionais, nacionais e internacionais. Há vários exemplos de movimentos sociais
c Possibilitar uma visão em nosso dia a dia: as greves trabalhistas (por melhores salários e condições de trabalho), os movi-
geral e introdutória dos mentos por melhores condições de vida na cidade (por transporte, habitação, educação, saúde etc.)
temas relativos aos e no campo (pelo acesso à terra ou pela manutenção da atual situação de distribuição de terras), os
movimentos sociais. movimentos étnico-raciais, feministas, ambientalistas e estudantis.
c Tratar e discutir sobre Além dos movimentos organizados, existem outros que podemos chamar de conjunturais. São
os movimentos sociais os que duram alguns dias e desaparecem para, depois, surgir em outro momento, com novas formas
que lutam por direitos de expressão. Por causa dessa diferença e mobilidade, é preciso analisar cada tipo de movimento para
individuais, sociais, entender as ideias que motivam e sustentam suas ações, assim como seus objetivos.
civis ou políticos. Os movimentos sociais não são predeterminados; dependem sempre das condições específicas
em que se desenvolvem, ou seja, das forças sociais e políticas que os apoiam ou os confrontam, dos
recursos existentes para manter a ação e dos instrumentos utilizados para obter repercussão.
Os movimentos sociais que se mantêm durante longo tempo tendem a criar uma estrutura
de sustentação e uma organização burocrática, por mínima que seja, para continuar atuando. Ao
se institucionalizar, correm o perigo de perder o vigor, pois, para continuar sua ação, precisam obter
recursos e assumir gastos com aluguel de uma sede, telefone, pessoal de apoio fixo e materiais. A
preocupação que antes se concentrava em organizar as ações efetivas divide-se assim com a preo-
cupação de manter uma estrutura fixa, deslocando parte das energias para outro foco.
“Manifestação de professores
municipais em Curitiba, no Paraná,
em março de 2012. Os professores em
greve exigiam aumento do piso salarial.
O RECURSO DA GREVE
A greve é um dos instrumentos mais utilizados pelos trabalhadores, na sociedade capitalista,
para reivindicar, por exemplo, a manutenção dos direitos adquiridos, melhores salários e condições
de trabalho mais dignas. A greve pode ser organizada pelos trabalhadores de uma empresa, de uma
categoria profissional ou, no caso de uma greve geral, pelos setores da sociedade que decidam de-
monstrar a insatisfação da população, por exemplo, com um governo.
A greve pode ser analisada, pelo menos, de acordo com dois pontos de vista: o de Émile Dur-
kheim (1858-1917) e o de Karl Marx (1818-1883).
O enfoque de Émile Durkheim tem como ponto de partida a ideia de que todo conflito é
resultado da inexistência de normas (anomia) que regulem as atividades produtivas e a organização
das várias categorias profissionais. A desordem (no caso, a greve) é, para ele, um momento especial
em uma ordem estabelecida e serve apenas para desintegrar a sociedade.
Para Durkheim, a questão social é também moral, pois envolve ideias e valores divergentes dos
da consciência coletiva. Ele defende que os desejos de alguns indivíduos ou grupos devem estar sub-
metidos aos sentimentos gerais da sociedade em vez de prevalecer sobre eles. Assim, uma sociedade
dividida não pode ser normal, pois o fundamental é manter a solidariedade orgânica decorrente da
divisão do trabalho social.
NAS PALAVRAS DE DURKHEIM
A questão social
Não se trata de substituir a sociedade existente por uma totalmente nova, senão
adaptar aquela às novas condições de existência social. Não é uma questão de classes,
de oposição entre ricos e pobres, de empresários e trabalhadores, como se a única so-
lução possível consistisse em diminuir a parte que corresponde a uns para aumentar a
dos outros. O que se requer no interesse de uns e outros é a necessidade de se refrear,
desde o alto, os apetites de ambos e assim pôr fim ao estado de desagregação, de agita-
ção maníaca, que não é produto da atividade social e que inclusive provoca sofrimentos.
Em outras palavras, a questão social concebida desta maneira não é uma questão de
dinheiro ou de força; é uma questão de agentes morais. O que domina não é a situação
de nossa economia, senão o estado de nossa moralidade.
DURKHEIM, Émile. El socialismo. Madrid: Nacional, 1982. p. 287-288. [tradução do autor].
Karl Marx entende a questão de outra forma. A greve aparentemente é apenas um movimento
reivindicatório por melhores salários e condições de trabalho. Mas, analisando um pouco melhor o
movimento, percebe-se que em uma greve operária existem sempre três atores sociais: o trabalhador,
o empresário capitalista e o Estado. O trabalhador representa a força de trabalho e só tem isso para
defender. Assim, sua luta por melhores salários e condições de trabalho o coloca em confronto com
o empresário, que representa o capital, cujo objetivo é conseguir o maior lucro possível. A greve, para
O movimento ambiental
Esse movimento é típico da sociedade industrial, pois a industrialização predatória afeta o meio
ambiente, contaminando a água, o ar e o solo e colocando em risco os seres vivos. Isso sem falar no
desmatamento desenfreado nas áreas ainda recobertas por florestas.
O movimento ambientalista surgiu no século XIX, quando foram percebidos os primeiros sinais
de distúrbios ambientais, mas desenvolveu-se lentamente até a década de 1970; desde então, vem
crescendo rapidamente.
Esse tipo de movimento envolve desde a ação de um pequeno grupo para salvar uma árvore
ANTONIO SCORZA/AFP
em área urbana até a ação de grupos e instituições internacionais pela
preservação de uma mata inteira. Ou seja, ele vai do local ao global, evi-
denciando a existência de uma consciência ecológica difusa no mundo
todo. Não é um movimento organizado mundialmente, mas um conjun-
to de movimentos que desenvolveu uma cultura ambientalista e criou
um direito: o de viver em um ambiente saudável. Organizações locais,
regionais ou internacionais lutam para limitar, por meio da legislação ou
pela ação direta, a presença predatória e poluente principalmente das
indústrias. No meio rural, lutam para conter, por exemplo, o uso indiscri-
minado de agrotóxicos e a cultura de alimentos transgênicos.
Em várias partes do mundo, grupos ambientalistas pressionam os
Estados a agir para que o direito a um ambiente sadio seja garantido por
meio de leis e de fiscalização. As ações desenvolvidas por movimentos
e organizações no mundo todo contribuíram para que a Organização
das Nações Unidas (ONU) passasse a orientar seus membros a respeito
das questões ambientais, recomendando medidas urgentes para resolver
muitos desses problemas.
Manifestação realizada no Rio de Janeiro, Vários são os questionamentos e motivações que animam os movimentos ambientalistas. Va-
em 2012, contra as políticas ambientais do
governo e as agressões ao meio ambiente.
mos resumir os mais importantes:
No foco dos protestos, a construção da a proteção da diversidade da vida na Terra contra a crescente eliminação de formas de vida animal e
usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. vegetal, o que provoca problemas ambientais significativos, gerando a superpopulação de espécies
animais e vegetais e alterando o equilíbrio da natureza (o desmatamento desenfreado das florestas,
onde estas ainda existem, é o principal foco dessa ação);
a preservação da qualidade de vida dos habitantes do planeta, que são atingidos por agentes po-
luidores na água, no ar ou no solo;
o controle da aplicação industrial de substâncias e processos propiciados pelo avanço científico e
técnico que possam trazer problemas à humanidade, como o uso de energia nuclear e de agrotó-
xicos e, mais recentemente, de produtos transgênicos e elementos nanotecnológicos;
o controle do uso dos recursos naturais, principalmente da água doce e daqueles oriundos da
atividade extrativa de elementos não renováveis, como o petróleo e vários minérios (ferro, cobre,
bauxita etc.).
Existem problemas ambientais que só podem ser tratados globalmente, como a emissão de
gases que provocam o efeito estufa, as mudanças climáticas do planeta e as alterações na camada de
ozônio que protege a Terra. Outras questões tratadas globalmente são a poluição dos mares pelos
navios-tanque de petróleo, a matança de baleias e o despejo de resíduos tóxicos nos rios ou mares
de todo o mundo, o que também compromete os oceanos.
Há também problemas regionais e nacionais, que devem ser resolvidos no local em que surgem.
Se uma indústria polui um rio, por exemplo, e este passa por vários países, é necessário que se dis-
cutam as providências a tomar para evitar que todos sofram prejuízos. Existem ainda questões am-
bientais locais, como o lixo nas cidades, que exigem soluções na coleta, no depósito e na reciclagem.
A cultura ambiental, que começou a se formar na década de 1970, está disseminada e tem
na vida cotidiana seu ponto fundamental, expressando-se em ações de pessoas que questionam e
buscam soluções para problemas que podem prejudicar o modo de vida de cada comunidade. A
O movimento feminista
A questão moderna sobre a posição da mulher nas diferentes
sociedades vem sendo discutida desde o século XVIII. Como vimos, os
direitos do homem e do cidadão referiam-se aos homens e excluíam as
mulheres. Mas elas não se calaram, como atesta o exemplo da ativista
e dramaturga francesa Olympe de Gouges (1748- -1793), que enca-
minhou à Assembleia Nacional da França, em 1791, uma Declaração
dos Direitos da Mulher e da Cidadã, pedindo que o documento fosse
tomado como fundamento da Constituição.
Em um dos textos que Olympe de Gouges publicou em plena
efervescência da Revolução Francesa, ela manifestou nos seguintes ter-
mos seu inconformismo com a discriminação da mulher:
Diga-me, quem te deu o direito soberano de oprimir o meu
sexo? […] Esta Revolução só se realizará quando todas as mulhe-
res tiverem consciência do seu destino deplorável e dos direitos
que elas perderam na sociedade.
Apud: ALVES, Branca Moreira. O que é feminismo 3: o feminismo como
movimento político. Em: Empoderando as mulheres. Disponível em: <www.
empoderandoasmulheres.com/2011/03/o-que-e-feminismo-3-o-feminismo-como.
html>. Acesso em: 14 set. 2012.
Após as lutas pelo direito ao voto, o movimento das mulheres se enfraqueceu, sendo retomado
na década de 1960, quando ganhou força e difundiu-se rapidamente. Importantes estudos sobre
a condição feminina foram publicados desde então, entre os quais Mística feminina, em 1963, por
Betty Friedan (1921-2006), Política sexual, em 1960, por Kate Millet (1934-), e A condição da mu-
lher, em 1961, por Juliet Mitchell (1940-). Paralelamente, desenvolveu-se um movimento vigoroso
de reivindicação de direitos políticos, civis e sociais, além do questionamento das raízes culturais da
desigualdade de gênero.
O segundo sexo
Simone de Beauvoir, escrevendo no final da década de 1940 o livro intitulado O
segundo sexo, é uma voz isolada neste momento de transição. Denuncia as raízes
culturais da desigualdade sexual, contribuindo com uma análise profunda na qual
trata as questões relativas à biologia, à psicanálise, ao materialismo histórico, aos mi-
tos, à história, à educação para o desenvolvimento desta questão. Afirma ser necessá-
rio estudar a forma pela qual a mulher realiza o aprendizado de sua condição, como
ela vivencia, qual é o universo ao qual está circunscrita.
Simone de Beauvoir estuda a fundo o desenvolvimento psicológico da mulher e
os condicionamentos que ela sofre durante o período de sua socialização, condicio-
namentos que, ao invés de integrá-la a seu sexo, tornam-na alienada, posto que é
treinada para ser mero apêndice do homem.
ALVES, Branca Moreira; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. p. 50-52.
Nas primeiras décadas da segunda metade do século XX, o movimento procurava contrapor-se
ao discurso que justificava a dominação masculina, segundo o qual as mulheres seriam inferiores aos
homens, isto é, fisicamente mais fracas, além de demasiadamente emocionais e sentimentais. Para
desmistificar esse discurso, destacava-se o caráter histórico, e não natural, da desigualdade sexual,
construída desde a Antiguidade para manter a opressão dos homens e a condição subalterna das
mulheres.
Nas décadas posteriores, ocorreu uma grande diversificação nas lutas e nos movimentos das
mulheres, bem como de suas organizações. Os seguintes temas se destacam hoje no movimento
feminista:
a crítica à sociedade patriarcal, baseada na dominação do homem como cabeça do casal e da família;
a igualdade de condições e de salários no trabalho;
o direito à liberdade de uso do corpo, no que se refere a reprodução, contracepção e aborto;
o questionamento da heterossexualidade como norma e o reconhecimento de outras manifesta-
ções da sexualidade, como a bissexualidade e o lesbianismo;
Os indignados
O início da década de 2010 foi marcado por movimentos sociais que envolveram popu-
lações inteiras nos países árabes e uma variedade de atores na Europa e nos Estados Unidos.
Esses movimentos não eram centralizados nem tinham uma liderança definida. Os manifes-
tantes lutavam contra o poder financeiro e por um mundo melhor e mais democrático, no
qual se levassem em conta as necessidades da maioria da população.
O sociólogo brasileiro Giovanni Alves1 destaca algumas características desses novos
movimentos na Europa e nos Estados Unidos. De acordo com Alves, eles apresentam uma
densa e complexa diversidade social e expressam a proletarização crescente da população. Na
Europa, os manifestantes são jovens trabalhadores, desempregados, estudantes endividados e
inseguros em relação ao futuro e manifestam sua insatisfação em distúrbios de rua, como os
observados na Inglaterra e na França. Nos Estados Unidos, movimentos como o Ocupe Wall
Street agregam liberais, anarquistas, neo-hippies, jovens desencantados, trabalhadores organi-
zados e sindicalistas, entre outros. Os indignados (como os participantes desses movimentos
se denominam) europeus e estadunidenses expõem e criticam a concentração de riqueza
(dizem ser os 99% contra o 1%), a precariedade do trabalho e da vida e, principalmente, a
farsa democrática em seus países.
Esses movimentos, de caráter pacífico, utilizam com frequência as redes sociais e a estra-
tégia de ocupar áreas e edifícios para obter visibilidade social. Eles refletem as contradições do
sistema capitalista, mas não se pode dizer que são anticapitalistas. Constituem uma incógnita
social, pois são novos e de difícil classificação, por ora.
1 In: Ocupar Wall Street... e depois?. Carta Maior, 13 out. 2011. Disponível em: <www.cartamaior.com.br/templates/
materiaMostrar.cfm?materia_id=18687>. Acesso em: 14 set. 2012.
LUKE MACGREGOR/REUTERS/LATINSTOCK
[…]
Do lado das semelhanças há o detonador que, tanto
na França em 2005 e 2007, como agora na Inglaterra,
originou-se num enfrentamento em que a polícia, volun-
tária ou involuntariamente, causou a morte de um jovem
vivendo numa zona urbana desleixada pelos poderes pú-
blicos. Em seguida, há também a reação dos governantes
e da maioria da mídia que, na França de ontem e na Ingla-
terra de hoje, negam prontamente a responsabilidade po-
licial e o mal-estar social dos jovens.
[…]
De fato, por trás das revoltas há o desemprego, a de-
JOEL SAGET/AFP
cadência de áreas urbanas, a falta de perspectivas para jo-
vens saídos de famílias europeias modestas ou de comuni-
dades de imigrantes instalados na França e na Inglaterra.
Este último ponto levou a extrema direita — e não só ela
— a atribuir a responsabilidade dos tumultos às minorias
étnicas e aos estrangeiros.
Na realidade, os processos dos envolvidos na bader-
na em Londres têm mostrado que a esmagadora maioria
dos acusados tem a nacionalidade britânica. A mesma
constatação foi feita na França em 2005 e 2007: os con-
denados por vandalismo eram majoritariamente france-
ses. Aliás, mesmo quando são estrangeiros na Inglaterra,
Imagens do mal-estar social na Europa: no alto, protesto dos estagiários
muitos dos acusados são cidadãos de outros países da
franceses em frente ao Ministério do Trabalho em Paris, em 2005; acima,
União Europeia. Dispondo assim de livre acesso e estadia confronto entre jovens e policiais em Londres, em 2011.
no território inglês.
No final das contas, as razões mais profundas do mal- 1 Com base nos dois textos, responda: qual é a relação entre
-estar social e das revoltas parecem residir na falta de cui-
dado e diálogo das autoridades locais com as comunidades revoltas, inconformismo e luta por direitos e democracia?
de jovens deixados de lado pelo mercado de trabalho e
2 Aponte semelhanças e diferenças entre os movimentos so-
pelos serviços públicos. Segundo estudos feitos sobre os
motins franceses de 2005 e 2007, nas cidades suburbanas ciais da década de 2010 abordados no capítulo e os movi-
onde os vereadores, os representantes sindicais, comuni- mentos sociais anteriores. Fundamente suas considerações
tários e os serviços públicos e culturais tinham presença com exemplos extraídos dos textos citados. .
1 Entre 1979 e 1980, uma série de greves eclodiu nas cidades dos discursos produzidos pela sociedade para classificar
que formam o chamado ABC paulista. Lideradas pelo então e controlar as práticas homoeróticas, ele está questio-
sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, essas greves tinham nando essa relação de poder presente na sexualidade.
como objetivo melhorar os salários e as condições de tra- Mais do que isso, ele está reagindo a essa relação de
balho dos funcionários das empresas automobilísticas da re- poder, propondo novas formas de conhecimento que
gião. Contudo, não foram raros os comícios e encontros dos lutam em duas direções: por um lado, combatem e des-
grevistas que acabaram em confrontos com a polícia e, até constroem os discursos dominantes, e, por outro, ela-
mesmo, na prisão de vários manifestantes. boram novas formas de entendimento para as práticas
homoeróticas.
a) Considerando as relações entre capital e trabalho, como
FERRARI, Anderson. Revisando o passado e construindo o presente: o
se justificam as greves como forma de reivindicação? movimento gay como espaço educativo. In: Revista Brasileira de Educação,
jan. /fev. / mar./ abr., n. 25, 2004, p. 108. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/
Se nas relações sociais entre capital e trabalho o primeiro prepon- rbedu/n25/n25a09.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2013.
dera sobre o segundo, as greves se justificam como forma de o
trabalhador reclamar por melhores condições de vida. Ou seja, se De acordo com o autor, o movimento gay se propõe a
é com sua força de trabalho que o trabalhador entra nas relações combater e desconstruir os discursos dominantes e apre-
sociais de produção, ele encontra na interrupção periódica das sentar novas formas de compreensão do homoerotismo.
suas tarefas trabalhistas um meio de lutar por melhores salários
e condições de trabalho. Esses propósitos podem ser relacionados à construção da
cidadania? Por quê?
b) Utilizando o instrumental teórico de Émile Durkheim, Sim. Os movimentos sociais que visam legitimar as diferenças das
como você analisaria as greves gerais do ABC paulista? identidades sexuais contribuem para a aceitação e o reconhecimen-
to do outro como igual e, assim, para a construção da cidadania.
As greves expressariam uma situação de anomia, isto é, resul- 3 Leia a matéria a seguir e responda à questão.
tariam da inexistência de regras e normas capazes de regular
as atividades produtivas e a organização das várias categorias [...]
sociais. Para Durkheim, a questão social é também moral, pois Moradores de Higienópolis, bairro de alto poder
envolve ideias e valores divergentes dos da consciência coletiva.
Assim, ao sobrepor os desejos de alguns grupos ou de alguns aquisitivo da região central de São Paulo, andam incon-
indivíduos aos sentimentos gerais da sociedade, as greves con- formados com a vida.
tribuiriam apenas para a desintegração da sociedade, quando o Insatisfeitos com o que dizem ser mais deveres do
fundamental seria preservar a coesão social e manter a solidarie- que direitos, fundaram um grupo para lutar por uma
dade orgânica decorrente da divisão do trabalho social.
causa comum, o bem-estar e a prosperidade de ilustres
habitantes daquela vizinhança, os cães.
c) Agora, analise as greves utilizando os conceitos de Karl Assim surgiu o Sindicato dos Cachorros, um grupo
Marx. de cachorreiros, como os donos gostam de ser chamados.
Para Marx, as greves são a expressão mais visível da luta de No estatuto do sindicato, “os cachorros são como
classes na sociedade capitalista e envolvem sempre três atores as vacas na Índia, animais sagrados”, e criar os bichos
sociais: o trabalhador, o empresário e o Estado. No caso das gre- “não é uma mera vaidade, mas um estado de espírito”.
ves do ABC, a participação do Estado foi particularmente acen-
tuada: mobilizando-se para lutar por melhores condições salariais O grupo, que já reúne mil filiados, de médicos a
e de trabalho num momento histórico em que vigorava a ditadura advogados, diz ter se juntado para “dar representativi-
militar, os trabalhadores confrontavam não só o patronato, mas o dade, proteção e apoio político e social aos cachorros e
próprio regime, tendo sido duramente reprimidos. assim conquistar seus direitos”.
2 Leia o texto a seguir e responda à questão. Na pauta de reivindicações do parque Buenos Ai-
res, o reduto dos cachorros no bairro, tanques para os
Mas pensar a articulação entre sociedade, intimidade
cães se refrescarem; esterilização do solo; novo bebe- SOCIOLOGIA
e sexualidade é pensar, principalmente, na relação de po-
douro e melhorar o piso de barro, que fica enlameado
der que organiza essa associação. À luz do pensamento
na chuva.
foucaultiano, o poder que se organizou em torno da se-
[...]
xualidade não se caracterizou apenas como repressor. Ele GALVÃO, Vinícius Queiroz. “Sindicato” com mil afiliados levanta bandeira
foi capaz de produzir prazer e reação. Nesse sentido, dos cães. Folha de S.Paulo. São Paulo, 12 dez. 2010. Disponível em: <www1.
quando o movimento gay se dispõe a pensar a organização folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1212201018.htm>. Acesso em: dez. 2013.
Ao refletir sobre a questão proposta, os alunos poderão perceber que os movimentos sociais nem sempre envolvem confrontos com o
Estado ou entre classes, podendo canalizar interesses diversos dos variados segmentos da sociedade. Um movimento voltado para a
defesa dos direitos dos animais, como o mencionado no texto, também é, da perspectiva sociológica, um movimento social.
ANOTAÇÕES
Objetivos: Pensar em direitos e cidadania no Brasil significa refletir sobre a história da população brasilei-
ra e as características das relações políticas e sociais que aqui se estabeleceram. De acordo com o
c Compreender que historiador brasileiro José Murilo de Carvalho (1939-), no livro Cidadania no Brasil: o longo caminho,
os direitos foram publicado em 2001, a sequência histórica da conquista de direitos no Brasil foi diferente da que
conquistados examinamos anteriormente, proposta por T. H. Marshall. Aqui, primeiro se estabeleceram os direitos
gradativamente sociais; depois, os políticos e os civis. Neste capítulo, vamos verificar como isso aconteceu.
e, dessa maneira,
estruturou-se a
cidadania. UMA SOCIEDADE COM DIREITOS PARA POUCOS
Cem anos após a independência, nos anos 1920, o legado colonial, principalmente da escra-
c Analisar historicamente vidão, continuou presente na sociedade brasileira. Os valores de liberdade individual praticamente
e entender que muitas inexistiam na sociedade escravocrata e pouco significavam para a maioria da população. Para os não
pessoas lutaram para escravos, os direitos civis só existiam no papel.
conquistar direitos que
Se a maioria estava abaixo da lei, os senhores coronéis estavam acima dela. Os direitos de ir e
estão incorporados ao
vir e de propriedade, a inviolabilidade de domicílio e a proteção da integridade física dependiam do
nosso dia a dia e são
poder dos coronéis. São da época dos coronéis, por exemplo, algumas expressões que continuam
garantidos por lei.
vivas: “Para os amigos, pão; para os inimigos, pau”; “Para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei”.
c Compreender que os Somente no final da década de 1920, em decorrência da imigração e da luta dos trabalhadores
direitos e a cidadania nas grandes cidades, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, algumas pequenas conquistas foram
garantidos por lei, alcançadas, como os direitos de organização, de manifestação, de escolha do trabalho e de fazer
devem ser exigidos e greve. Mas, como aos olhos dos governantes a “questão social era uma questão de polícia”, houve
exercidos em plenitude. muita repressão.
Os direitos políticos eram igualmente restritos. A Constituição de 1824 permitia que votassem
c Analisar o
todos os homens (as mulheres não votavam) acima de 25 anos, com renda de 100 mil réis, mesmo
desenvolvimento dos
que fossem analfabetos; com isso, apenas 13% da população tinha condição de votar. O voto era
direitos e da cidadania
obrigatório, como é ainda hoje. E, como já vimos, as eleições eram controladas pelos coronéis locais
no Brasil desde o
ou pelas oligarquias regionais, o que significava que a decisão do voto estava na mão de quem tinha
período colonial.
o poder. Era o chamado voto de cabresto.
Em 1881, a Câmara de Deputados votou uma lei que aumentava a renda dos eleitores para 200
mil réis e proibia o voto dos analfabetos. Como somente 15% da população era alfabetizada, 80%
dos homens perderam o direito de votar. Nas eleições parlamentares de 1886, por exemplo, votaram
pouco mais de 100 mil pessoas, ou 0,8% da população brasileira.
Essa situação legal não mudou com a primeira Constituição da República, promulgada em 1891.
No ano seguinte, apenas 2,2% da população votou e, em 1930, 5,6% dos brasileiros foram às urnas.
Como podemos ver, os governantes eram escolhidos por pouquíssimas pessoas.
Com os direitos civis e políticos tão restritos, quase não existiam direitos sociais durante o perío-
do imperial e a Primeira República. A assistência social estava nas mãos das irmandades religiosas ou SOCIOLOGIA
de sociedades de auxílio organizadas por pessoas leigas. Essas instituições funcionavam para quem
contribuía, fazendo empréstimos, garantindo apoio em casos de doença, auxílio funerário e, em
algumas circunstâncias, pensão para viúvas e órfãos. Existiam, também, sociedades de auxílio mútuo
que eram organizadas por trabalhadores e sindicatos. O Estado não se envolvia nessas questões.
Os direitos dos trabalhadores das cidades não existiam e, quando se estabelecia alguma regu-
lamentação — como a da jornada de trabalho infantil (1891) ou a do direito de férias (1926) —, seu
cumprimento não era levado em conta nem cobrado pelas autoridades. Na zona rural, prevalecia a
ACERVO ICONOGRAPHIA
cia alguma assistência médica e remédios, numa atitude paternalista que encobria a
exploração.
Na área do ensino, a Constituição de 1824 estabelecia como obrigação do Estado
fornecer educação primária, mas essa determinação nunca foi efetivada. A Constitui-
ção de 1891 retirou essa obrigação do Estado, ou seja, a educação passou a ser uma
questão particular.
Muitos foram os movimentos sociais que surgiram nesse período para modificar
o cenário político e social em várias partes do Brasil, o que demonstra que a população
tinha noção de seus direitos e dos deveres do Estado. Mas tais movimentos refletiam
muito mais reações aos abusos sofridos do que tentativas de proposição de novos
direitos.
A CIDADANIA REGULADA
Entre 1930 e 1964, o tratamento da questão dos direitos civis e políticos variou
bastante, mas na maior parte do tempo eles foram restritos ou abolidos. Os direitos
O sapateiro eleitor. Na charge de Rafael
sociais, por sua vez, avançaram, embora sob o controle do Estado. Configurou-se o que o sociólogo
Mendes Carvalho, publicada em 1840,
um sapateiro exibe desenhos na parede a brasileiro Wanderley Guilherme dos Santos (1935-) chamou de “cidadania regulada”, uma cidadania
um candidato que lhe pede voto. Em um restrita e sempre vigiada pelo Estado, do ponto de vista legal ou policial.
dos desenhos, um político eleito derruba De 1930 a 1945, os direitos civis e os direitos políticos evoluíram pouco porque foi curto o
o que o ajudou a conquistar o cargo. Em
outro, um candidato sobe ao poder por
período de vigência da Constituição liberal de 1934. Com a Constituição de 1937, no contexto do
uma escada formada pelo povo. Estado Novo (o regime ditatorial que se prolongou até 1945), a participação da população restringiu-
-se às votações para o Legislativo, pois as eleições para os cargos executivos foram indiretas ou não
ocorreram.
De 1945 a 1964, os direitos civis e políticos retornaram a uma situação estável, com liberdade de
imprensa, de manifestação e de organização partidária, mas houve exceções: o Partido Comunista
Brasileiro (PCB), por exemplo, teve seu registro cassado em 1947, e as greves só eram consideradas
legais quando autorizadas pela Justiça do Trabalho.
Quanto às eleições, a Constituição de 1946 determinava a extensão do direito ao voto a todos
os cidadãos (homens e mulheres) maiores de 18 anos, menos os analfabetos. Assim, a participação
da população nas eleições cresceu lentamente: em 1945 era de 13,4%; em 1950, subiu para 15,9%; em
1960, o índice de participação chegou a 18% (ainda muito baixo).
No âmbito dos direitos sociais, o período do governo de Getúlio Vargas, mesmo durante a di-
tadura do Estado Novo, ficou conhecido como aquele em que se colocaram em prática as reformas
trabalhistas no Brasil. Um dos primeiros atos desse governo, ainda em 1930, foi a criação do Ministério
do Trabalho, Indústria e Comércio. Já na vigência da ditadura estadonovista, em 1o. de maio de 1943,
entraria em vigor a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Essa legislação continua vigente com poucas alterações importantes. As disposições mais signi-
ficativas dessas leis, que não regulavam o trabalho rural, foram a jornada de oito horas diárias para os
trabalhadores do comércio e da indústria, a regulamentação do trabalho de menores e do trabalho
feminino, o direito a férias remuneradas e a implantação do salário mínimo. É importante lembrar
que essas disposições eram reivindicadas pelos trabalhadores desde o início do século XX.
Para que esses direitos se efetivassem, foi montada uma estrutura sindical, previdenciária e jurídi-
ca que envolveu a criação de diversos órgãos e instituições, entre os quais a Justiça do Trabalho, com
tribunais regionais, o Tribunal Superior do Trabalho e os Institutos de Aposentadorias e Pensões por
categoria profissional, como a dos industriários, comerciários, ferroviários, bancários. Houve a criação
da Carteira de Trabalho como o documento do trabalhador, importante para que fossem esclareci-
das pendências jurídicas entre patrões e empregados, e do Imposto Sindical (valor correspondente
a 1/30 do salário mensal ou de um dia de trabalho), que serviria para a manutenção dos sindicatos.
A estrutura sindical foi construída como órgão colaborador do Estado. Para que os sindicatos
existissem oficialmente, era exigido seu reconhecimento pelo Ministério do Trabalho. Assim, o mo-
vimento operário tinha um dilema: ganharia a proteção do Estado e perderia a liberdade. Se quisesse
ter liberdade, perderia a proteção do Estado.
ACERVO ICONOGRAPHIA
Comemoração do Dia do Trabalho no
estádio do Pacaembu, em São Paulo,
SP, 1º. de maio de 1944.
ARQUIVO/AE
U. DETTMAR/FOLHAPRESS
Entre as ações do governo militar, no plano social, cabe ainda destacar a tentativa de facilitar a
compra da casa própria pela população de baixa renda. Para isso, foram fundados o Banco Nacional
de Habitação (BNH) e o Sistema Financeiro de Habitação (SFH), que disciplinavam o financiamento
No dia 3 de outubro de 1988, em Brasília,
o presidente do Congresso Constituinte, de imóveis.
Ulysses Guimarães, ergue a Constituição
que seria promulgada dois dias depois.
CIDADANIA HOJE
A Constituição de 1988, chamada de Constituição Cidadã, tornou possível pela primeira vez
na história do Brasil a vigência de uma legislação democrática, garantindo a plenitude dos direitos
civis, políticos e sociais.
O aspecto mais marcante dessa Constituição é o fato de os direitos e garantias fundamentais
aparecerem antes das disposições sobre o funcionamento dos poderes do Estado. Isso significa que
o Estado está a serviço dos cidadãos e esses direitos não podem ser abolidos. Em outras palavras, os
direitos civis, políticos e sociais estão acima do Estado e legalmente definidos.
Os direitos humanos ganharam tal posição na Constituição porque, nos últimos anos da dita-
dura militar, ocorreram muitos movimentos sociais em defesa deles. No entanto, para que se tornem
substantivos, é necessário que sejam efetivados no cotidiano dos indivíduos.
Como vimos, o histórico dos direitos no Brasil parece estar invertido em relação ao que se ob-
LULA MARQUES/FOLHAPRESS
servou nos Estados Unidos e nos países europeus. Os direitos civis e políticos foram restritos na maior
parte de nossa história, e as propostas de direitos sociais tiveram sempre o sentido de minimizar as
condições precárias de vida da população. Só recentemente podemos dizer que a maioria dos direitos
clássicos foi estabelecida nas leis do país. Ainda assim, há muito por fazer para que os indivíduos pos-
sam de fato viver dignamente, com educação de boa qualidade, sistema de saúde eficiente, direitos
trabalhistas permanentes, terra para trabalhar e habitação digna.
ANOTAÇÕES
SOCIOLOGIA
ANGELI
histórico da situação apresentada? Que elementos jus-
tificam essa conclusão?
A charge faz alusão ao período pós-ditadura militar. Tal contexto
fica explícito nas palavras da personagem central da charge, a
senhora que agradece aos céus por não haver mais no país per-
seguições políticas e censura à manifestação pública de opinião
contrária aos poderes estabelecidos.
ANOTAÇÕES
SOCIOLOGIA
4 Os movimentos sociais
no Brasil
Objetivos: Há registros de movimentos sociais no Brasil desde o primeiro século da colonização até nossos
dias. Esses movimentos demonstram que os que viviam e os que vivem no Brasil sempre procuraram,
c Compreender como de uma ou de outra forma, lutar em defesa de seus ideais e projetos.
se constituíram e
se organizaram os
movimentos sociais.
PERÍODO COLONIAL
Durante o período colonial (1500-1822), os movimentos sociais mais significativos foram os dos
c Conhecer os ideais e indígenas e os dos africanos escravizados. Além desses, ocorreram vários movimentos políticos, dois
projetos que moveram pela independência do Brasil.
esses movimentos.
Movimentos indígenas e
de escravos Resistência indígena na Colônia
Os povos indígenas lutaram do
MARIO YOSHIDA
século XVI ao século XVIII para não ser
escravizados e para manter suas terras e Equador
Rio Neg on
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seu modo de vida. Veja, no mapa ao lado, ro
Ri
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Rio Itapecuru
Rio Canindé
Rio ingu
onde ocorreram alguns dos principais us
í ba
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movimentos indígenas do Brasil colonial.
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Rio Tocantins
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Os escravos africanos também não
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ficaram passivos diante das condições em
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que viviam. As principais formas de resis- bá
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tência que eles utilizaram foram as revoltas o Taqu
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localizadas e a formação de quilombos,
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que existiram do século XVII até o fim da guai
Para
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Rio
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Trópico de Capricórnio Rio Para
escravidão. Confederação dos Tamoios
(1555-1567)
O maior e mais significativo quilom- Guerra dos Aimorés
(1555-1673)
bo foi o de Palmares, que se localizava no Guerra dos Potiguaras
OCEANO
ATLÂNTICO
(1560-1689)
Equador
ram em diferentes épocas e lugares da Guerra dos Açus
km
(1686-1692)
Rio Neg
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Belém colônia. Veja, no mapa ao lado, onde se
Alcobaça
GRÃO-PARÁ
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io Recife
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Rio Tocantins
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BAHIA
Salvador
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Kalunga
No período colonial, entre os conflitos e revoltas motivados pelas políticas metropolitanas, dois
Ri
GOIÁS MINAS
GERAIS
Ambrósio
Rio Gran Bambuí
Campo
Grande
de
movimentos se destacaram por propor a independência em relação a Portugal: a Conjuração Mineira
(1789-1792) e a Conjuração Baiana (1796-1799). Ambos tinham por base as ideias disseminadas pela
Fonte: Elaborado pelo autor.
OCEANO
ATLÂNTICO
Revolução Francesa, mas havia diferenças em seus objetivos. Os inconfidentes mineiros propunham
a independência e um governo republicano, mas não o fim da escravidão. Já os conjurados baianos
defendiam a independência e o fim da escravidão, um governo republicano, democrático, com li-
Área de quilombo
berdades plenas, o livre-comércio e a abertura dos portos. Esses movimentos foram reprimidos de
0 645 1290
Cidade
km
modo violento, e seus líderes, presos, degredados ou enforcados.
Fonte: CAMPOS, Flávio, DOLHNIKOFF, Miriam. Atlas História do Brasil. São Paulo:
Scipione, 1993.
PERÍODO MONÁRQUICO
No período monárquico, entre 1822
e 1889, ocorreram movimentos pelo fim Rebeliões no Império
MARIO YOSHIDA
da escravidão e contra a monarquia, ten-
do como objetivo a instauração de uma Cabanagem
(1835-1840)
república no Brasil ou a proclamação de Balaiada
(1839)
repúblicas isoladas. Ocorreram ainda
Confederação do
movimentos em que se lutou por ques- Equador (1824)
Equador
tões específicas, contra as decisões vin- Belém
Manaus
das dos governantes, percebidas como São Luís
Fortaleza
autoritárias. Os mais expressivos estão Natal
Paraíba
indicados no mapa ao lado. Revolução Praieira
(1848)
Recife
Salvador
Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: Fundação
OCEANO
não seguir. ATLÂNTICO
io Rio de Janeiro
Trópico de Capricórn
Revoltas regionais
Três movimentos regionais podem Porto Alegre Guerra dos Farrapos
(1835-1845)
ser tomados como exemplos de revoltas
contra políticas governamentais específi-
cas: a Revolta Ronco da Abelha, a Revolta Capital do Império
0 750 1500
do Quebra-Quilos e a Revolta das Mu- Cidade
km
lheres. A primeira ocorreu em 1851, com Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de (org.). Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro:
SOCIOLOGIA
manifestações em várias províncias do Fundação Nacional de Material Escolar, 1973.
Nordeste contra o decreto que exigia o registro civil de nascimentos e óbitos. Dizia-se que essa era
uma forma de escravizar os recém-nascidos.
A Revolta do Quebra-Quilos começou na Paraíba em 1874 e se alastrou por todo o Nordeste,
motivada pelas arbitrariedades dos cobradores de impostos e pela imposição dos novos padrões de
pesos e medidas de acordo com o sistema decimal.
A Revolta das Mulheres ocorreu em 1875, em várias províncias do Nordeste. Tinha como alvo
Movimentos nacionais
Dois grandes movimentos sociais, a partir de 1850, alcançaram âmbito nacional: o movimento
abolicionista e o republicano. Eles se desenvolveram paralelamente, mas com composições diferentes,
e foram fundamentais para a queda do império e a instauração da república no Brasil.
Tanto o movimento abolicionista quanto o republicano utilizaram a imprensa e a discussão
em vários níveis sociais. O fim da escravidão no Brasil, em 1888, abriu as portas para a implantação
da República, em 1889.
O movimento abolicionista
O movimento abolicionista agregou muitos negros e pardos libertos, além de políticos, inte-
lectuais, poetas e romancistas. Cresceu lentamente, pois sofria a oposição dos grandes proprietários
de terras e de escravos.
Vários passos foram necessários para a extinção da escravidão no Brasil. O primeiro foi dado
em 1850, quando, sob pressão da Inglaterra, o governo aboliu o tráfico de escravos, por meio da Lei
Eusébio de Queiroz.
Em 28 de setembro de 1871, a Câmara dos Deputados aprovou a Lei do Ventre Livre, que de-
terminou a liberdade para os filhos de escravos nascidos a partir daquela data. Na prática, porém,
o nascido livre ficava com a mãe até completar 8 anos de idade. Então, o senhor podia decidir se
libertaria a criança, em troca de uma indenização paga pelo Estado, ou se a manteria cativa até que
completasse 21 anos.
Em 28 de setembro de 1885, a Lei dos Sexagenários libertou os escravos com mais de 60 anos.
Essa lei tinha pouco efeito prático, pois a maioria dos escravos não chegava a essa idade.
Também contribuiu para o fim da escravidão a Guerra do Paraguai (1864-1870), pois eram
libertos todos os escravos que ingressavam no exército brasileiro. Pessoas livres que conviveram com
escravos nas fileiras do exército acabaram abraçando a causa abolicionista.
A tudo isso se pode agregar a presença das ideias liberais e republicanas nos últimos anos
do Império, que motivaram a criação de várias organizações, como a Sociedade Brasileira contra a
Escravidão (em 1880), a Confederação Abolicionista (em 1886) e a Caixa Emancipadora Luís Gama
(em 1882), além de jornais, como a Gazeta de Notícias, a Gazeta da Tarde, O Cabrito, O Mulato e O
Homem de Cor, que possibilitaram a divulgação da causa abolicionista.
A escravidão no Brasil deixou de existir oficialmente em 13 de maio de 1888, mas a abolição não Multidão reunida em frente ao Paço
garantiu melhores condições de vida para os ex-escravos, que foram abandonados à própria sorte. Imperial, no Rio de Janeiro, RJ, após a
assinatura da Lei Áurea, em maio de 1888.
Essa situação deu início a uma questão social que ainda está presente no Brasil: a discriminação racial
e a enorme desigualdade social e econômica entre brancos e negros.
O movimento republicano
O movimento republicano foi dominado pelos segmentos mais ricos e poderosos da socieda-
de e contou com pouca participação popular. Seus organizadores buscavam uma nova forma de
acomodar os grupos que desejavam o poder sem a presença do imperador e da monarquia. Houve
a participação de liberais que defendiam uma república democrática, mas eles foram afastados e os
conservadores se apossaram do poder.
O movimento teve apoio também do exército brasileiro, que estava descontente com a mo-
narquia desde a Guerra do Paraguai. Os motivos desse descontentamento eram a resistência
do governo em abolir a escravidão e a exclusão dos integrantes do exército do processo de tomada
de decisões políticas. Jornais e organizações como a maçonaria, com forte presença do positivismo,
também difundiram ideias antimonarquistas.
A proclamação da República, em 1889, foi liderada por um militar, o marechal Manoel Deodoro
da Fonseca (1827-1892), monarquista e próximo ao imperador dom Pedro II — ou seja, a república
SOCIOLOGIA
PERÍODO REPUBLICANO
Desde as primeiras décadas da República registraram-se no Brasil, no campo e nas cidades,
movimentos sociais caracterizados por distintas motivações, formas de luta e abrangência. Exami-
naremos a seguir alguns deles.
PORTAL DE MAPAS
Equador
0º
CEARÁ
AMAZONAS
PARÁ RIO GRANDE
MARANHÃO
DO NORTE
PARAÍBA
PIAUÍ
PERNAMBUCO
Arraial ALAGOAS
o 1
de Canudos
SERGIPE
BAHIA
GOIÁS
Fonte: RESENDE, Maria Efigênia Lage de; Moraes, Ana Maria de. Atlas
Salvador
Sal
llvadd
dor OCEANO
O
MATO GROSSO
ATLÂNTICO
AT
C
Caraguatá
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Taquaruçu
aquua
uuaruçu
a
1 Canudos (1893-1897) SANTA N
2 Contestado (1912-1916) RIO GRANDE CATARINA
DO SUL
Forças federais de repressão
aos movimentos messiânicos 0 440 km
60º O 40º O
AE
Manifestação de camponeses no
Recife, Pernambuco, em 1961.
ACERVO UH/FOLHAPRESS
como a promoção de concursos de beleza da mulher negra.
Nas décadas de 1950 e 1960, inspirados no TEN, outros grupos
teatrais vinculados ao movimento negro foram criados no Rio de
Janeiro e em São Paulo. Em 1968, no entanto, a repressão do regime
militar impediria as manifestações do movimento e levaria ao exílio
alguns de seus ativistas, entre os quais o fundador do TEN.
O movimento negro voltaria a emergir nos últimos anos da dé-
cada de 1970, apresentando significativas mudanças. O Movimento
Negro Unificado (MNU), fundado em 1978, e outras organizações
passaram a priorizar em sua luta a desmistificação do credo da de-
mocracia racial, negando o caráter cordial das relações raciais e afir-
mando que o racismo está entranhado na sociedade brasileira. A
defesa de políticas públicas voltadas à população afrodescendente
ganhou espaço, ferindo interesses e privilégios consolidados.
Hoje, o movimento negro, com uma diversidade enorme de
organizações, defende, entre outras medidas, o desenvolvimento
de políticas de reconhecimento de diferenças raciais e culturais, de
combate à discriminação, de afirmação dos direitos civis e de ações
afirmativas ou compensatórias.
Movimento das mulheres
O movimento das mulheres no Brasil seguiu inicialmente os
passos do movimento feminista internacional. Em 1918 a bióloga bra-
sileira Bertha Lutz (1894-1976) publicou na Revista da Semana uma
carta denunciando o tratamento discriminatório dado às mulheres.
Em 1919 criou a Liga pela Emancipação Feminina. Em 1921, no Rio de SOCIOLOGIA
Janeiro, fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, que
lutava pelo voto, pela escolha do domicílio e pelo trabalho de mu-
lheres sem autorização do marido. Além dela devem ser lembradas,
entre outras ativistas pelo direito do voto, Mietta Santiago (1903-
1995), Luíza Alzira Soriano Teixeira (1897-1963) e Jerônima Mesquita Encenação da peça Sortilégio, de Abdias
(1880-1972). do Nascimento, pelo grupo Teatro
Graças à luta dessas mulheres, o Código Eleitoral de 1933 es- Experimental do Negro, no Rio de Janeiro,
em 1960.
ACERVO ICONOGRAPHIA
Entre o fim do século XIX e o início do século XX,
ocorreram dois movimentos importantes na Marinha:
a Revolta da Armada e a Revolta da Chibata.
A Revolta da Armada ocorreu no Rio de Janei-
ro, entre setembro de 1893 e março de 1894. Nessa
ocasião, quase todos os integrantes da Marinha se
posicionaram contra o então presidente da República,
Floriano Peixoto.
A Revolta da Chibata também ocorreu no Rio de
Janeiro entre 22 e 27 de novembro de 1910. Os mari-
nheiros que participaram do movimento reivindicaram
principalmente a eliminação de castigos físicos, o au-
mento do soldo, melhora da alimentação e melhores
condições de trabalho.
Movimentos tenentistas
Na década de 1920, emergiram os movimentos
Participantes da Revolta da Chibata no militares, com alguma participação civil, que ficariam conhecidos como tenentismo, por causa da
encouraçado São Paulo, Rio de Janeiro, forte presença de tenentes em sua organização e condução. Esses movimentos, cujos integrantes
RJ, 1910. tinham como objetivo pressionar ou conquistar o poder para promover as reformas necessárias à
modernização da sociedade, se estenderiam por vários anos.
Os tenentes rebeldes eram contra as oligarquias políticas regionais e a estrutura de poder que
as sustentava. Viam por trás delas a corrupção na administração pública e as fraudes eleitorais. Além
disso, defendiam um sistema econômico que não se sustentasse no setor agroexportador e propu-
nham uma educação pública abrangente. Consideravam-se responsáveis pela salvação nacional e
defendiam um Estado forte, pois julgavam a sociedade incapaz de promover as mudanças políticas
requeridas. Nesse sentido, tinham tendência autoritária.
O primeiro levante dos tenentes ocorreu em 5 de julho de 1922, no Forte de Copacabana, no
Rio de Janeiro. Nessa ação, para tentar impedir a posse do presidente eleito Arthur Bernardes, os
oficiais rebelados ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro. A reação foi rápida e o movimento foi
controlado pelo exército. O pequeno grupo dos cerca de trezentos revoltosos do Forte de Copaca-
bana, que ficaria conhecido como os 18 do Forte, não aceitou a rendição e saiu à rua para enfrentar
as tropas do governo. Só dois deles sobreviveriam, Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
CPDOC/FGV
VENEZUELA
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Avanço da Coluna
Retirada da Coluna URUGUAI 0 425 km
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Integralistas no Rio
Grande do Sul, na
década de 1930.
A Aliança Nacional Libertadora (ANL) foi constituída em março de 1935 como uma frente
popular para combater o fascismo e o imperialismo. Defendendo o cancelamento da dívida externa,
a nacionalização das empresas estrangeiras e o combate ao latifúndio, promoveu grandes manifesta-
ções públicas até ser posta na ilegalidade por Vargas, alguns meses depois de sua fundação. Membros
do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e antigos tenentes que se agregavam na ANL passaram então a
articular um levante armado para depor o governo, sob a liderança de Luís Carlos Prestes. A tentativa
de golpe fracassou e o episódio, que ficou conhecido como Intentona Comunista, foi utilizado como
pretexto para que Vargas desse o próprio golpe em 1937, instaurando o regime ditatorial chamado
Estado Novo.
ACERVO ICONOGRAPHIA
ANOTAÇÕES
1 O texto a seguir estabelece comparações entre o movimento a) Quais são as semelhanças apontadas pelos autores entre
liderado por Antônio Conselheiro em Canudos e o Movimen- Canudos e o MST, movimentos separados historicamente
to dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Leia-o e respon- por quase cem anos?
da às questões. Os dois movimentos contestam a concentração de terras e propõem um
novo projeto de sociedade. O latifúndio, marca da nossa colonização, não
Canudos (BA, 1893-7) foi um dos mais significativos desapareceu depois de tantas reformas modernizantes empreendidas pe-
episódios da História do Brasil. Comunidade de inspira- las elites.
ção religiosa sertaneja que intentou o projeto de reinven-
tar o Sertão, buscando novas formas de governo local, b) No último parágrafo do texto citado, os autores afirmam
produção e distribuição de riqueza coletiva e integração que a mídia nacional se empenha em desqualificar as
das dimensões social e espiritual do viver comunitário. reivindicações dos trabalhadores rurais. Dê um exemplo
Esta experiência, considerada à sua época grande ameaça desse tipo de atuação da mídia e explique seus possíveis
para a ordem republicana recém-implantada, oferecia al- efeitos sociais.
ternativas às populações privadas de seus direitos e até As lutas sociais não são travadas apenas no âmbito de suas demandas,
mas, em certos casos, no plano simbólico e midiático também. É importan-
mesmo de sua dignidade de ser humano. Massacrado em te que os alunos percebam que as relações de poder dominantes não se
quatro expedições militares que envolveram conjunta- mantêm só no plano econômico e político, mas também no plano simbóli-
mente cerca de 49,8% do efetivo do Exército Brasileiro de co. No caso em questão, sob o rótulo da objetividade do jornalismo, órgãos
da imprensa veiculam notícias nas quais os integrantes dos movimentos
então e quatro forças públicas estaduais (AM, BA, PA e sociais são apresentados como baderneiros responsáveis por invasões e
SP), o arraial de Bello Monte tombou em 5 de outubro de depredações de propriedades privadas. A desqualificação dos movimentos
sociais pela mídia impede que suas reivindicações sejam conhecidas e que
1897, ceifando mais de vinte mil vidas, após haver expe- a sociedade possa avaliá-las para se posicionar. Dessa maneira, o instru-
rimentado um crescimento populacional da ordem de mento midiático se mostra tão ou mais poderoso do que a lei ou a força.
10.335% nos seus breves quatro anos de existência.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 2 No Rio de Janeiro, em 1969, um grupo de jovens sequestrou
(MST), por sua vez, surge quase cem anos depois de Ca- o então embaixador estadunidense no Brasil, Charles Elbrick,
nudos, como parte de um complexo processo de luta que, com o intuito de pedir, como resgate, a libertação de alguns
ao se reproduzir em diferentes formas, cria um elo com companheiros que tinham sido presos por criticar o regime
todas as outras campanhas travadas para a construção de político então vigente no Brasil e atuar contra ele.
uma sociedade mais justa.
Tal como Canudos, o MST luta por um novo projeto a) Em 1969, como era a relação entre o Estado e o indivíduo no
de sociedade, onde haja inclusão, formas mais democrá- Brasil?
O objetivo dessa questão é caracterizar o contexto político dos últimos
ticas de produção e de acesso aos direitos, distribuição anos da década de 1960, preparando o aluno para a pergunta seguinte.
mais justa de recursos, cidadania e dignidade. Como Ca- Ele deverá se lembrar de que nesses anos se observa a intensificação do
controle social do Estado sobre o indivíduo, exemplarmente representada
nudos, denuncia também o vigoroso trabalho na comu- pela aprovação do Ato Institucional nº 5, em dezembro de 1968.
nicação social, financiado pelos grandes latifundiários
nacionais e internacionais, para que a luta pela reforma b) Considerando o contexto político do final da década de
agrária — que é a luta por um outro projeto de sociedade 1960 no Brasil, como se pode explicar a opção pelo uso da
— seja vista não como uma luta construída e protagoni- violência, feita por grupos que lutavam contra a ditadura?
A questão demanda uma reflexão sobre as razões sociais do uso da vio-
zada pelos excluídos, o que mostraria poder e capacidade lência como forma de resistência política. Os alunos deverão observar que
organizativa, mas como uma luta protagonizada por ba- a opção pela luta armada foi feita em um contexto de recrudescimento do
derneiros, de modo a desqualificar perante a sociedade os controle social e da repressão, não havendo espaço para a reivindicação
de direitos civis, sociais e políticos, ou seja, para a prática da cidadania.
esforços de inclusão e de democratização da sociedade
realizados por estes dois movimentos sociais. 3 Leia a reportagem a seguir.
A audácia e a criatividade nas manifestações em de-
SOCIOLOGIA
MARTINS, Paulo Emílio Matos; LAGE, Allene Carvalho. Canudos e o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST): singularidades e nexos fesa do meio ambiente são características do Greenpeace.
de dois movimentos sociais brasileiros. In: VIII CONGRESSO LUSO-AFRO- Na semana passada, um grupo de cinquenta ativistas da
BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, 8., 2004, Coimbra. A questão social no
novo milênio, Coimbra, 2004. p. 2-3. Disponível em: <www.ces.uc.pt/lab2004/ organização viajou cinco horas por estradas de terra para
inscricao/pdfs/painel47/PauloMartins_AlleneLage.pdf>. Acesso em: nov. 2013. estender sobre uma área de floresta recém-desmatada uma
faixa de dimensões inusitadas: quadrada, com 50 metros
de lado, ocupava uma extensão de 2.500 metros quadra-
2 (Enem, 2009)
A área desmatada citada na reportagem é propriedade da
União. Sua fiscalização, portanto, cabe ao governo. É legíti- Um aspecto importante derivado da natureza históri-
mo um movimento como o Greenpeace assumir uma fun- ca da cidadania é que esta se desenvolveu dentro do fenô-
ção do Estado? meno, também histórico, a que se denomina Estado-na-
ção. Nessa perspectiva, a construção da cidadania na
Discute-se nessa questão se os movimentos sociais devem realizar tare- modernidade tem a ver com a relação das pessoas com o
fas que competem aos órgãos oficiais. Coloca-se para o aluno a seguinte
reflexão: se o Estado não faz a sua parte, devemos reivindicar um Estado Estado e com a nação.
mais atuante ou fazer aquilo que ele não faz? A pergunta suscita polêmi- CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro:
ca e dúvidas; assim, um levantamento de questões sobre o tema pode Civilização Brasileira, 2002 (adaptado).
constituir uma boa resposta.
Considerando-se a reflexão apresentada, um exemplo re-
COMPLEMENTARES
PARA PRATICAR lacionado a essa perspectiva de construção da cidadania é
encontrado
a) em D. Pedro I, que concedeu amplos direitos sociais aos
1 (UEL, 2007)
trabalhadores, posteriormente ampliados por Getúlio Var-
A proteção e a promoção dos direitos humanos con- gas com a criação da Consolidação das Leis do Trabalho
tinuaram a se situar entre as principais carências a ser en- (CLT).
frentadas pela sociedade civil. [...] A enumeração das prin- b) na Independência, que abriu caminho para a democracia
cipais áreas de intervenção das organizações da sociedade e a liberdade, ampliando o direito político de votar aos
civil soa como demandas de séculos passados: a ausência cidadãos brasileiros, inclusive às mulheres.
do estado de direito e a inacessibilidade do sistema judi- c) no fato de os direitos civis terem sido prejudicados pela
ciário para as não elites; o racismo estrutural e a discrimi- Constituição de 1988, que desprezou os grandes avan-
nação racial e a impunidade dos agentes do Estado envol- ços que, nessa área, havia estabelecido a constituição
vidos em graves violações aos direitos humanos. Como anterior.
vimos, a nova democracia continuou a ser afetada por um
SOCIOLOGIA
8 4 EstadosPolônia
Unidos 5.000.00017.105.000
9 5 Bangladesh
Ucrânia 4.041.463
6.380.850
O alimento e a bebida que 10 6 Reino Unido
Irã 6.169.000
3.991.142
7 Alemanha 5.572.000
os camponeses partilham 8 Polônia 5.000.000
devem restaurá-los de uma Maiores
9 consumidores (2005)
Bangladesh Em kg per capita
4.041.463
O alimento e a bebida que 10 3.991.142
jornada de trabalho ou 1 Belarus
Irã
181
os camponeses partilham
prepará-los para outra. A de uma 2 Maiores consumidores
Quirguistão 143
devem restaurá-los (2005) Em kg per capita
3 1 Ucrânia 136
representação
jornadasugere issoou
de trabalho 181
4 2 Belarus
Rússia 131
porque oprepará-los
alimento retratado,
para outra. A Quirguistão
Polônia
143
131
5 3 Ucrânia 136
a batata,representação
possui um grandesugere isso
131 125
SOCIOLOGIA
6 4 Ruanda
Rússia
porque o e
valor nutricional, alimento retratado,
o líquido 7 5 Lituânia
Polônia 116
131
a batata, possui um grande 8 6 Letônia
Ruanda 125114
servido pela camponesa da 103
116
valor nutricional, e o líquido 9 7 Casaquistão
Lituânia
direita parece ser café, um Reino Letônia 114
102
servido pela camponesa da 10 8 Unido
Casaquistão 103
poderosodireita
estimulante
parece serfísico
café, um
9
102
Fonte10 ReinoeUnido
dos dados do quadro das tabelas: Divisão de estatística da Organização das Nações Unidas para a Alimentação
e mental.poderoso estimulante físico e a Agricultura (FAOSTAT). Disponível em: <http://www.potato2008.org/en/world/>. Acesso
Fonte dos dados do quadro e das tabelas: Divisão de estatística da Organização das Nações Unidasem:
para12a Alimentação
abr. 2013.
e mental. e a Agricultura (FAOSTAT). Disponível em: <http://www.potato2008.org/en/world/>. Acesso em: 12 abr. 2013.
EDITORA BRASILIENSE
causas coletivas quando estas causas têm a ver com o
des Manzini Covre. São Paulo: Brasiliense.
mundo vivido pelas pessoas, e não porque estejam moti-
vadas pelas ideologias que fundamentam aquelas causas. Breve texto analisando os elementos
[...] fundamentais para entender a questão
Quanto a nós, preferimos continuar acreditando na da cidadania.
necessidade das utopias e esperando que as lições que os
movimentos sociais democráticos e progressistas têm
dado ao mundo venham a contribuir para a redefinição
dessas utopias, a reinstaurar a esperança e a crença de que
vale a pena lutar por uma sociedade mais justa e igualitá-
ria. SUGESTÃO
PARA DE FILMES
PRATICAR
[...] Os movimentos são fluidos, fragmentados, perpas-
sados por outros processos sociais. Como numa teia de
Justiça, (Brasil, 2003). Direção: Maria
DIREÇÃO DE MARIA AUGUSTA RAMOS
16-08240 CDD-301
Impressão e acabamento
Uma publicação