Anda di halaman 1dari 8

Edited by Foxit Reader

Copyright(C) by Foxit Software Company,2005-2008


For Evaluation Only.

Química de igarapés de água preta do nordeste do


Amazonas - Brasil
Adriana Maria Coimbra HORBE1, Liliam Gleicy de Souza OLIVEIRA

RESUMO
Neste estudo foram analisados pH, Eh, condutividade elétrica, cloreto, sílica, fosfato, K, Na, Ca, Mg, Fe, F, Zn, Ni, Co, Mn, Pb,
Cu, Cr, Li e Cd nas águas de drenagens de pequeno porte no nordeste do Amazonas. As águas são pretas, predominantemente
ácidas e levemente redutoras e com baixo conteúdo de elementos dissolvidos. Contudo, a química indica que são heterogêneas
e refletem o ambiente geológico por onde percolam. SiO2, Na e K são os constituintes mais abundantes na fase dissolvida,
especialmente nas drenagens mais a norte pertencentes as bacias do Uatumã, Urubu e no igarapé Canoas que drenam as rochas
da Suíte Intrusiva Água Branca e Mapuera e as sedimentares do Grupo Iricoumé e as Formações Prosperança, Nhamundá,
Manacapuru, Pitinga Os igarapés menores, que drenam exclusivamente os sedimentos da Formação Alter do Chão, são os
mais diluídos. Os elementos-traços analisados estão em concentrações muito baixas.
Palavras chave: afluentes do Amazonas, estiagem; carga dissolvida

Chemical composition of black water creeks from northern of Amazonas -


Brasil
ABSTRACT
The present study analyzed pH, Eh, electric conductivity, chloride, silica, phosphate, K, Na, Ca, Mg, Fe, Zn, Ni, Co, Mn, Pb,
Cu, Cr, Li and Cd in draining waters making part of smaller creeks located in the northeastern Amazonas State. The waters
have black colour, are predominantly acid and slightly reductive and have low content in dissolved elements. Otherwise they
are chemically heterogeneous and reflect the geological environment. The SiO2, Na and K are the most abundant dissolved
constituents, especially on the drainages farther north belonging to Uatumã, Urubu basins and Canoas Stream, which drain
the rocks of Água Branca and Mapuera Intrusive Suite, Iricoumé Group and Prosperança, Nhamundá, Manacapuru, Pitinga
Formations. Smaller Streams, which drains Alter do Chão Formation sediments, exclusively, are the most diluted ones. The
analysed trace elements present very low concentrations.
Keywords: tributaries from Amazonas River; dry season; dissolved load

1
Universidade Federal do Amazonas - UFAM, ahorbe@ufam.edu.br

753 vol. 38(4) 2008: 753 - 760


Edited by Foxit Reader
Copyright(C) by Foxit Software Company,2005-2008
For Evaluation Only.
Química de igarapés de água preta do nordeste do Amazonas - Brasil

INTRODUÇÃO O relevo da região, marcado por interflúvios tabulares,


A maioria dos rios de pequeno porte da Amazônia, colinas e vales, abrange o Planalto Dissecado Rio Trombetas
classificados como de cor preta, nascem nos escudos das – Rio Negro e o Planalto da Bacia Sedimentar do Amazonas,
Guianas e do Brasil Central ou nas rochas sedimentares segundo a classificação do Radambrasil (1978). A cobertura
cretáceas da bacia Amazônica. Nesses ambientes o processo vegetal é de floresta densa, ocorrendo também contato com
de erosão é reduzido pela mata pluvial, conseqüentemente campinarana. Edafologicamente, Latossolo Amarelo é a
a carga de sedimentos é baixa e os rios são transparentes. A tipologia predominante, com solos Hidromórficos Gleyzados
cor escura das águas é devido à presença de material orgânico nas áreas de planície.
solúvel de coloração marrom ou avermelhada (ácidos húmicos A região de estudo abrange as seguintes unidades geológicas
e fúlvicos) produzido pela decomposição da floresta ao ser (das mais antigas para as mais jovens): Suítes Intrusivas Água
inundada parte do ano (Sioli, 1965). Branca e Mapuera, Grupo Iricoumé e Formações Prosperança,
As pesquisas realizadas no mais conhecido rio de águas Nhamundá, Manacapuru, Pitinga e Alter do Chão (Santos et
pretas em volume da Amazônia, o Negro, descrevem suas al., 1974; Veiga et al., 1979; Schobbenhaus et al., 1984; Cunha
águas como levemente ácidas e de baixa condutividade elétrica, et al., 1984 e Valério et al., 2006) (Figura 1). As rochas das
o que reflete a pobreza em elementos alcalinos e alcalino- Suítes Intrusivas Água Branca e Mapuera e do Grupo Iricoumé
terrosos e nutrientes como fósforo livre, nitrito e nitrato são compostas por granitóides (monzogranitos, granodioritos
(Lopes, 1992). Cunha e Simões (2000) verificaram que as e dioritos), vulcânicas e piroclásticas ácidas e intermediárias.
suas águas, nas proximidades de São Gabriel da Cachoeira, No seu conjunto apresentam composição mineralógica a base
são ácidas, com teor baixo em cátions dissolvidos, e atribuem de quartzo, feldspato potássico, plagioclásio, anfibólio, biotita,
estas características à contribuição geoquímica dos terrenos quartzo, feldspato, piroxênio em menor proporção apatita,
arenosos presentes na região das montantes do rio Negro. Em opacos, clorita e epidoto (Valério et al. 2006). As Formações
geral, as águas pretas têm mais ferro e alumínio que as brancas; Prosperança, Nhamundá, Pitinga, Manacapuru e Alter do
dentre os álcalis, apesar de Na, K e Ca terem grande variação Chão são constituídas por arcóseos, arenitos silicificados,
de teores, os dois primeiros são normalmente mais elevados e arenitos argilosos, conglomerados e folhelhos (Cunha et al.,
o Mg é mais baixo (Tab. 1) (Sioli, 1957; Santos et al., 1984; 1984). Mineralogicamente, estas rochas são constituídas
Santos e Ribeiro, 1988; Konhauser et al., 1994; Gaillardet essencialmente por quartzo e caulinita e em menor proporção
et al., 1997, entre outros). Em igarapés naturais próximos a por feldspato.
Manaus, SiO2 é mais elevado que Cl e, dentre os álcalis, Na O rio Uatumã, a maior drenagem da região estudada,
predomina sobre K e Ca e Mg são os mais baixos (Silva et al., tem suas nascentes na porção a norte da área, em domínios
1999, Horbe et al., 2005). sob a influência de rochas ígneas das Suítes Intrusivas Água
Para ampliar o estudo de pequenas drenagens na região Branca e Mapuera e do Grupo Iricoumé (Figura 1). Devido
nordeste do Amazonas, foram selecionados igarapés que fazem a dificuldade de acesso a estes terrenos, somente foram
parte das bacias do Uatumã e Urubu e alguns tributários do rio amostrados seus dois afluentes maiores, os igarapés Coruja
Amazonas e Negro. Foi utilizada como logística de acesso para
amostragem as principais rodovias da região (BR-174, AM-
010, AM-240 e AM-363) (Figura 1). Como algumas destas
drenagens já foram objeto de estudos anteriores (Schmidt,
1972 e Campos, 1994), os dados deste trabalho permitiram
verificar se ocorreram modificações na composição química
de suas águas ao longo dos anos, além de possibilitar o estudo
comparativo com as águas do rio Negro e verificar, neste caso,
as influências de distintos meios geológicos.

ASPECTOS FISIOGRÁFICOS E GEOLÓGICOS


O clima da região é do tipo equatorial, quente e úmido
com temperatura média em torno de 26º C, com períodos
de cheia nos meses de dezembro a junho e de estiagem para
os demais meses do ano. A umidade relativa do ar varia em
torno de 80 % e a média de precipitação pluviométrica anual
é acima 2.000 mm/ano (Nimer, 1991). Figura 1 - Mapa de localização dos pontos amostrados e geologia da área

754 vol. 38(4) 2008: 753 - 760  Horbe & OLIVEIRA


Química de igarapés de água preta do nordeste do Amazonas - Brasil

(P1) e Barreto (P2), localizados ao longo da BR-174, além de na primeira, obtiveram-se os escores de todas as variáveis;
um ponto 10 Km a jusante da hidroelétrica de Balbina (P3). posteriormente, foram selecionadas aquelas que tiveram
Ainda nos tratos norte da área estudada sob influência do variança maior que 0,7 em um dos dois primeiros fatores.
mesmo ambiente geológico, também foi amostrado o igarapé Com base nessas variáveis foram determinados os escores das
Canoas (P4), afluente do rio Cuieiras, que é tributário da amostras também nos dois primeiros fatores. Esses escores
margem esquerda do rio Negro. foram representados em gráfico para melhor visualização.
O rio Urubu, segunda drenagem em extensão na área,
tem suas cabeceiras na porção norte da região estudada (P5, RESULTADOS E DISCUSSÃO
P6 e P7 - Figura 1), sob influência de rochas sedimentares Os valores obtidos para pH variaram entre 4,44 e 6,21,
das Formações Prosperança, Nhamundá, Manacapuru e os mais baixos foram no rio Urubu (4,44) e nos igarapés
Pitinga, e drena a Formação Alter do Chão no seu amplo Urubuí (4,54) e Barreto (4,76) e o mais elevado (menos ácido)
segmento médio e jusante. Na porção sul-sudeste da região, no igarapé Canoas (6,21). O Eh (potencial de oxi-redução)
dentre as drenagens de menor porte, tem destaque o rio variou, em média, entre 206 mV à 272 mV e apresentou
Preto da Eva (P9 – denominado no local de amostragem relação inversa com o pH, ou seja, quanto menos ácida a água,
de igarapé Preto – e P10), o igarapé Tarumã-Açú (P11) e os mais oxidante ela é (Tabela 1, figura 2). A relação entre pH e
igarapés dos pontos 12 a 17 na porção sul-sudeste da área, Eh indica que o ambiente é redutor ácido e, apesar do igarapé
todos percolam exclusivamente os sedimentos da Formação Canoas ser o menos ácido, constata-se regionalmente uma
Alter do Chão e foram denominados neste trabalho de rios tendência de diminuição de acidez para sul-sudeste, à medida
menores (Figura 1). que as bacias de drenagens diminuem sua área de escoamento
e passam a serem influenciadas exclusivamente pela Formação
MATERIAIS E MÉTODOS Alter do Chão (Figura 2).
As amostras de água foram coletadas em novembro de Dentre os álcalis, K e Na predominam na maioria das
2002, no final do período da estiagem, sendo tomadas a uma drenagens, especialmente nos igarapés Canoas e Coruja, sendo
profundidade de 10 cm da lâmina de água. Após sucessivas os valores de K bem mais elevados que os de Na. Os demais
lavagens com água da drenagem a ser amostrada, foram igarapés têm variações menos acentuadas no conteúdo de
armazenadas em recipientes de polietileno com capacidade álcalis e os mais a sudeste são os mais diluídos, quimicamente
para 2000 mL. Estes foram previamente desmineralizados com mais homogêneos, com conteúdos muito similares de K, Na
solução de ácido nítrico a 25 %, lavadas com água deionizada e Ca (Tabela 1). Somente no rio Preto da Eva, o Mg ocorre
e secas. Ao todo foram coletadas 17 amostras ao longo das 50% mais concentrado que o Ca, enquanto no Urubu, mais a
rodovias BR-174, AM-010, AM-240 e AM-363 (Figura 1) jusante (P8) e no igarapé Preto, o conteúdo desses dois cátions
que correspondem a águas de cor preta. é similar, porém inferior ao K e Na.
No local de amostragem foram medidos pH, Eh e
condutividade elétrica por potenciometria e, em seguida, as
amostras foram preservadas sob refrigeração (4ºC) para evitar
alteração das suas propriedades originais. No Laboratório
de Geoquímica da UFAM, as amostras foram filtradas à
vácuo com filtro de fibra de vidro GF/C (Whatman), para a
determinação de cloreto, fosfato, sílica, flúor e metais (K, Na,
Ca, Mg, Fe, Zn, Ni, Co, Mn, Pb, Cu, Cr, Li, Cd, Sr e Mo).
O cloreto foi determinado por titulação; fosfato e sílica por
espectrofotometria ótica; flúor, por íon específico; os metais
por espectrometria de absorção atômica com chama, segundo
as especificações do Standard Method (1998).
Os resultados foram submetidos à análise estatística
multivariada por componentes principais (Statística 5.1),
com o objetivo de reduzir os parâmetros analisados (variáveis)
e as amostras a um conjunto mais significativo. Esta técnica,
que possibilita avaliar a inter-relação existente entre as
variáveis (parâmetros) e as amostras, gera fatores e escores que Figura 2 - Correlação entre os parâmetros de Eh e pH das águas estudadas
representam a variância dos dados, ou seja, o grau de correlação com base no diagrama de Krauskopf (1972).
ou significância. A análise multivariada abrangeu duas etapas:

755 vol. 38(4) 2008: 753 - 760  Horbe & OLIVEIRA


Química de igarapés de água preta do nordeste do Amazonas - Brasil

Tabela 1 - Características químicas das água estudadas (Eh em mV, condutividade (cond.) em μS.cm-1 e os íons em mg.L-1).
Amostra pH Eh Cond K Na Mg Ca Cl SiO2 F PO4 Fe Ni Zn
1- Coruja 5,64 242 12,20 4,40 1,39 0,40 1,31 6,54 4,67 0,05 0,001 1,10 0,06 1,50
2- Barreto 4,76 331 18,20 1,55 0,34 0,41 0,60 2,18 1,65 0,01 0,007 1,40 0,08 <0,20
3- Uatumã 5,30 243 12,40 0,77 0,68 0,38 2,07 2,18 2,79 0,02 <0,001 0,70 0,13 0,60
4- Canoas 6,21 219 10,90 4,47 1,25 0,50 1,16 2,18 9,62 0,04 0,001 2,40 0,12 <0,20
5- Sta.Cruz 5,13 299 15,70 1,08 0,41 0,12 0,28 4,36 2,41 <0,01 0,002 0,60 <0,05 <0,20
6- Urubuí 4,54 331 19,80 0,63 0,47 0,19 0,33 2,18 2,04 0,01 <0,001 1,30 0,12 <0,20
7- Urubu 4,44 333 20,80 0,26 0,47 <0,01 0,13 2,06 1,92 0,02 0,005 0,70 0,12 <0,20
8- Urubu 5,50 162 6,80 0,90 0,47 0,06 0,04 1,82 1,16 0,05 <0,001 0,20 0,15 <0,20
9- Preto 5,17 231 8,70 0,25 0,57 0,06 0,04 2,06 0,04 0,02 0,001 0,80 0,10 <0,20
10- Preto da Eva 5,48 177 8,20 1,51 0,62 0,24 0,13 <0,05 1,70 0,04 0,002 2,10 0,15 1,30
11- Tarumã Açu 5,00 241 10,10 0,15 na na 0,25 2,06 0,02 <0,01 0,006 na 0,12 <0,20
12- Caru 5,36 169 8,80 0,19 0,24 0,03 0,07 <0,05 1,14 0,05 0,002 0,20 0,12 <0,20
13- Anebá 5,45 199 7,90 0,25 0,20 0,04 0,33 <0,05 1,16 0,02 0,004 0,20 0,06 <0,20
14- Treze 5,49 188 8,00 0,16 0,20 0,01 0,22 <0,05 1,58 0,02 0,005 0,10 0,12 <0,20
15- Sanabani 5,06 206 8,60 0,23 0,23 0,04 0,04 <0,05 1,58 0,01 0,004 0,20 0,10 <0,20
16- Itabani 5,30 222 7,80 0,31 0,25 0,01 0,22 1,87 1,62 0,03 0,002 0,10 0,08 <0,20
17- Itapiranga 5,80 235 9,40 0,36 0,32 0,04 0,22 3,63 1,04 0,02 0,002 0,10 0,20 <0,20
Média - 237 11,43 1,03 0,51 0,17 0,44 2,76 2,13 0,03 0,002 0,76 0,11 1,13
Água preta1 4-6,3 0,1-2,2 0,1-2,9 0,01-0,7 0,01-4,5 0,4-3,5 4,2-6,9 0,8-2,8
CONAMA 0,30 0,25 0,18
1 a 3 – Bacia do Uatumã; 5 a 8 – Bacia do Urubu; 9 a 17 – rios menores. Média calculada só com os valores acima do limite de detecção, na – não analisado, 1- média obtida
dos dados de Sioli (1957), Santos et al. (1984), Santos e Ribeiro (1988), Konhauser et al. (1994) e Gaillardet et al. (1997).

Dentre os ânions analisados o Cl foi o mais abundante, direta entre a composição química da drenagem principal e
exceto no Uatumã, Canoas, Preto da Eva, Caru, Anebá, os afluentes.
Treze e Sanabani, onde o silício predomina. O conteúdo Dentre os elementos-traço analisados (Fe, Zn, Ni, Co,
mais elevado de Cl nas bacias do Uatumã e Urubu pode ser Mn, Pb, Cu, Cr, Li, Cd, Sr e Mo), somente Fe, Zn e Ni
conseqüência de estar associado, além da água da chuva, como apresentaram teores acima do limite de detecção (Tab. 1).
normalmente ocorre nas águas da Amazônia (Gaillardet et al., O ferro é predominante sobre os demais (Tabela 1) e atinge
1997), também a minerais das rochas do Supergrupo Uatumã valor máximo de 2,10 mg/L no rio Preto da Eva e 2,40
como apatita (Ca5(PO4)3(F,Cl,OH)) que por ser instável no mg/L no igarapé Canoas. Os teores menos expressivos estão
ambiente superficial (Oliveria e Imbernon, 1988) pode liberar nos rios menores, onde varia entre 0,1 mg/L e 0,2 mg/L.
Cl que é altamente móvel. Contudo, não se pode descartar um O Ni tem pequena variação entre as drenagens, de <0,05
incipiente aporte antrôpico. O F e P têm teores bem menores mg/L a 0,20 mg/L (Fig.11), enquanto o Zn está abaixo do
que os demais ânions e não há diferenças significativas entre limite de detecção (<0,2 mg/L) na maior parte delas, exceto
as bacias (Tabela1). nos igarapés Coruja e Uatumã e no rio Preto da Eva, onde
Considerando-se os rios maiores, Uatumã e Urubu, alcança, respectivamente, 1,5 mg/L, 0,6 mg/L e 1,3 mg/L
com dois (P1 e 2) e três (P5, 6 e 9) afluentes estudados, (Tabela 1).
respectivamente, nota-se que para o primeiro há decréscimo de A condutividade elétrica (CE) é mais elevada nas drenagens
K e aumento de Ca no canal principal, enquanto no segundo do Uatumã e Urubu, com destaque para o Barreto, Urubuí e
K e Mg diminuem dos afluentes para o ponto mais a montante Urubu (P7), entre 18,2µS/cm e 20,8µS/cm (Tabela 1). Esses
do Urubu (P7), enquanto Na e Ca têm variação irregular. O valores, que são a medida indireta da quantidade de íons
Ca, Cl e SiO2 diminuem e Na se mantém constante do P7 dissolvidos presentes na água, indicam aporte de soluções
para jusante do Urubu (P8). O Preto tem menor conteúdo mais concentradas em elementos solúveis, possivelmente em
de material dissolvido que Preto da Eva no qual deságua, conseqüência das rochas ígneas por onde percolam (Fig.1).
exceto Cl (Tabela 1). Observa-se, portanto que não há relação Como SiO2, K e Na são os íons com os teores mais elevados,

756 vol. 38(4) 2008: 753 - 760  Horbe & OLIVEIRA


Química de igarapés de água preta do nordeste do Amazonas - Brasil

Tabela 2 - Matriz de correlação entre os parâmetros analisados (F, PO43, Zn e Ni apresentaram correlação ≤ 0,5).
pH Eh CE Cl - SiO2 Na K Mg Ca Fe
pH 1,00 -0,46 1,00 -0,62 0,81 0,82 0,80 0,81 0,72 0,71
Eh 1,00 -0,47 -0,57 -0,46 -0,41 -0,45 -0,49 -0,42 -0,43
CE 1,00 0,48 0,97 0,99 0,98 0,96 0,89 0,89
Cl 1,00 -0,42 -0,46 -0,42 -0,57 -0,34 -0,30
SiO2 1,00 0,96 1,00 0,93 0,96 0,92
Na 1,00 0,97 0,95 0,88 0,88
K 1,00 0,94 0,94 0,91
Mg 1,00 0,89 0,87
Ca 1,00 0,94
Fe 1,00

são eles que mais contribuem para a condutividade elétrica


nestas águas, o que é reforçado por terem as correlações
elevadas entre si (Tabela 2). A condutividade também tem
correlação com os demais elementos analisados, exceto Cl
e Eh.
A variação nos teores e na proporção na ordem de grandeza
dos íons reflete a heterogeneidade das águas pretas, contudo a
composição química é compatível com a encontrada por Sioli
(1957), Stallard e Edmund (1988), Santos et al. (1984), Santos
e Ribeiro (1988), Konhauser et al. (1994), Gaillardet et al.
(1997), Silva et al. (1999), Horbe et al. (2005), entre outros,
ou seja, Na e K são mais concentrados que Ca e Mg. Quando
comparados aos valores máximos permitidos (CONAMA Figura 3: Diagrama da análise de componentes principais das águas estudadas
357/2005) constata-se que, apesar do ferro estar acima do (♦ - Drenagens do Uatumã, - igarapé Coruja, n - drenagens do Urubu,
permitido, assim como Zn, especialmente nas drenagens do ▲- rios menores a sul sudeste).
Uatumã e Urubu, as demais características estudadas indicam
preservação de seus ambientes naturais. Esse fato é reforçado
por manterem valores similares aos encontrados por Schmidt Tabela 3 - Carga das variáveis nos fatores 1 e 2.
(1972) e Campos (1994). Variáveis Fator 1 Fator 2
pH 0,87 -0,11
ANÁLISE MULTIVARIADA
Eh -0,53 0,32
Com base nas cargas do primeiro fator da análise estatística CE 0,98 -0,05
multivariada por componentes principais, verificou-se que, das Cl -0,55 0,46
variáveis analisadas, somente Eh, Cl e F apresentaram carga SiO2 0,97 0,04
inferior a 0,60 (Tabela 3), ou seja, são as menos significativas F 0,32 0,52
para caracterizar as águas estudadas. Com base nas demais Na 0,97 -0,04
variáveis foram obtidos os escores das amostras (Figura 3). K 0,98 0,01
As amostras estudadas se dispõem ao longo do eixo do fator Mg 0,07 -0,78
1, de modo que as drenagens a sudeste, com cargas positivas Ca 0,92 0,12
nesse fator, formam um grupo que se situa no primeiro Fe -0,07 -0,84
quadrante e somente o rio Tarumã-Açu, com escore negativo Zn 0,27 0,76
no fator 2, situa-se no quarto quadrante. O Uatumã, Canoas Ni 0,23 0,68
e Santa Cruz tem as cargas mais negativas no fator 1, de modo Variânça 50 % 21%
que situam-se mais a esquerda no eixo, enquanto o Urubu,
Urubuí, Barreto e Preto, com cargas nesse fator entre -0,51 e
0,45, estão em posição intermediária entre os dois primeiros

757 vol. 38(4) 2008: 753 - 760  Horbe & OLIVEIRA


Edited by Foxit Reader
Copyright(C) by Foxit Software Company,2005-2008
For Evaluation Only.
Química de igarapés de água preta do nordeste do Amazonas - Brasil

grupos. O igarapé Coruja assemelha-se estatisticamente ao


Uatumã e seus afluentes (Figura 3). Essa disposição caracteriza
que, a medida que aumenta o valor do escore do fator 1, as
águas tornam-se mais diluídas, com decréscimo no conteúdo
de álcalis, HCO3-, Cl e SiO2. Assim, as drenagens mais a norte,
sob maior influência das rochas ígneas, são as que têm maior
conteúdo de elementos dissolvidos; as drenagens da bacia
do Urubu, sob maior influência das rochas sedimentares das
Formações Prosperança, Nhamundá e Pitinga, têm conteúdo
intermediário de elementos dissolvidos; enquanto as drenagens
a sul-sudeste, que drenam exclusivamente a Formação Alter
do Chão, são as mais diluídas.
RELAÇÃO ENTRE A QUÍMICA DAS ÁGUAS E A LITOLOGIA
Ao considerar que quartzo, caulinita e feldspato potássico
são minerais abundantes nas rochas da região e, portanto, são
a fonte de K e SiO2, o diagrama de estabilidade desses dois Figura 4 - Diagrama de estabilidade dos minerais em relação a composição
química das águas estudadas a 25ºC (a relação dos número está na tabela 1)
elementos a 25ºC (Drever 1997) pode nos dar informações
sobre a relação de estabilidade das águas em relação ao ambiente
geológico. O feldspato potássico gera caulinita por hidrólise CONCLUSÃO
durante o intemperismo, conforme a reação abaixo: Este estudo demonstra que as águas pretas de pequenas
drenagens localizadas no NE do Amazonas, apesar de
2 KAlSi3O8 (s) + 9 H2O + 2 H+ = Al2Si2O5(OH)4 (s) + 4 H4SiO4 (aq) + 2K+
serem de ambiente redutor ácido e com baixo conteúdo de
feldspato caulinita elementos dissolvidos, são quimicamente heterogêneas e
cuja constante de equilíbrio é: K felds-caul. = [H4SiO4]4 [K+]2 refletem o ambiente geológico por onde percolam. SiO2, Na
[H+]2 e K são os constituintes mais abundantes na fase dissolvida.
As menos diluídas são as drenagens mais a norte da região,
A caulinita, sob condições de intenso intemperismo,
correspondentes as bacias do Uatumã, Urubu e igarapé Canoas
forma gibbsita, de acordo com a reação abaixo:
que drenam rochas da Suíte Intrusiva Água Branca e Mapuera,
Al2Si2O5(OH)4 (s) + 5 H2O = 2 Al(OH)3 (s) + 2 H4SiO4 (aq) Grupo Iricoumé e as Formações Prosperança, Nhamundá,
caulinita gibbsita Manacapuru, Pitinga. Os rios menores, que correm para o rio
Amazonas, sobre os sedimentos da Formação Alter do Chão,
cuja constante de equilíbrio é: Caul.-gibb.= [H4SiO4]2
são os mais diluídos, enquanto o Tarumã-Açú, afluente do
Essas equações mostram a relação direta entre a quantidade rio Negro e sobre o mesmo tipo de rocha, diferencia-se destes
de feldspato e a concentração de potássio em solução, de modo pelos teores bem mais baixos de SiO2. A forte diluição e as
que, sob condições de intenso intemperismo, as águas tendem concentrações muito baixas de elementos-traços são típicas de
a ter mais H4SiO4 em detrimento da caulinita. Quando ambiente intempérico em condições tropicais úmidas onde
a composição das águas é lançada no diagrama log ([K+]/ há intensa e rápida percolação de água.
[H+] versus log [H4SiO4] (Figura 4), observa-se que, em sua
maioria, estão em equilíbrio com a caulinita. Devido ao maior
conteúdo em K e SiO2, os igarapés Coruja (P1) e Canoas
AGRADECIMENTOS
(P4) estão próximos à linha de solubilidade do quartzo e do Os autores agradecem a Universidade Federal do Amazonas
campo do feldspato potássico, o que é indicativo de maior e a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – Serviço
contribuição desses minerais na composição química da água e Geológico do Brasil, pela infra-estrutura dos laboratórios e de
supersaturação em SiO2. As demais drenagens, quimicamente campo e a CAPES, pela bolsa de mestrado do primeiro autor.
mais diluídas, estão próximas ao limite caulinita/gibbsita, Agradecem também as sugestões dos revisores, que ajudaram
o que indica ambiente mais lixiviado, especialmente nos a melhorar a qualidade do trabalho.
igarapés Preto (P9) e Tarumã-Açu (P11) em equilíbrio com a
gibbsita. Constata-se, portanto a forte influencia litológica na BIBLIOGRAFIA CITADA
composição química das águas, corroborando o observado por Campos, Z. E. S. 1994. Parâmetros Físico-químicos em igarapés de
Stallard e Edmund (1988) para águas da Amazônia. água clara e preta ao longo da rodovia BR-174 entre Manaus e
Presidente Figueiredo – AM. Dissertação de mestrado, Instituto
Nacional de Pesquisa da Amazônia. 90pp.

758 vol. 38(4) 2008: 753 - 760  Horbe & OLIVEIRA


Química de igarapés de água preta do nordeste do Amazonas - Brasil

CONAMA 357/2005 In: http://www.mma.gov.br/port/conama Santos, U. M.; Bringel S. R. B.; Bergamin F. H.; Ribeiro M. N. G.;
Cunha, H.B.; Simões, C.A. 2000. Caracterização físico-química das Bananeira, M. 1984. Rios da Bacia Amazônica I – Afluentes do
águas do Rio Negro e seus tributários. In. IX Jornada de Iniciação Rio Negro. Acta Amazônica, 14 (1-2), 222-237.
Científica. Anais. Manaus-AM. 325-329pp. Santos, U. M.; Ribeiro, M. N. G. 1988. A Hidroquímica do rio
Cunha, P.R.C.; Gonzaga, F.G.; Coutinho, L.F.C., Feijó, F.J., 1984. Solimões-AM. Acta Amazônica, 18 (3-4): 145-172.
Bacia do Amazonas. Bol. Geoc. Petrobras, 8:47-55. Schmidt, G.W. 1972. Chemical properties of some water in the
Drever, J.I. 1997. The Geochemistry of Natural Waters Surface and tropical rain forest region of central Amazonia along the new
Groundwater Environments. Prentice Hall. 460pp. road Manaus-Caracaraí. Amazoniana 3:199-207.
Gaillardet, J.; Dupré, B.; Allègre, C. J.; Négrel P. 1997, Chemical Schobbenhaus, C.; Campos, D. A.; Derze, G. R.; Asmus, H. E.
and physical denudation in the Amazon River Basin. Chemical 1984. Geologia do Brasil. DNPM. 86-87p.
Geology 142, 141-173. Silva, M.S.R.; Ramos, J.P.; Pinto, A.G..N. 1999. Metais de transição
Horbe, A.M.C.; Gomes, I.L.F.; Miranda, S.A.F.; Silva, M.S.R. 2005. nos sedimentos de igarapés de Manaus-AM. Acta Limnologica
Contribuição à hidroquímica de drenagens no Município de Brasiliensis, 11:89-100.
Manaus – AM. Acta Amazônica 35:119-124. Sioli, H. 1957. Valores de pH de águas Amazônicas. Boletim do museu
Konhauser, K. O.; Fyfe, W. S.; Kronberg, B. I., 1994, Multi-element paraense Emilio Goeldi. Geologia 1: 1-35.
chemistry of some Amazonian waters and soils. Chemical Geology Sioli, H. 1965. A limnologia e a sua importância em pesquisas da
111: 155-175. Amazônia. Amazoniana, I: 11-35.
Krauskopf, K. B. 1972. Introdução a Geoquímica. Ed. da USP. Stallard, R. F.; Edmond, J.M. 1988, Geochemistry of the Amazon
Volume 1, 197-214. 2. The influence of the geology and weathering environment
Lopes, U. B. 1992. Aspectos Físicos, Químicos e Ecológicos das on the dissolved load. Journal of the Geophysical Research 388:
misturas naturais de águas físico-quimicamente diferentes, na 9671-9688.
Amazônia. INPA–Pós-graduação em Ciências Biológicas. Tese Standard methods for the examination of water and wastewater
de doutorado, 49pp. (1998). Prepared and published jointly by American Public
Nimer, E.1991. Clima. Geografia do Brasil – Região Norte. IBGE. Health Association APHA, 19th edition.
Rio de Janeiro, v.3, 61- 67pp. Valério, C.; Souza, V.S.; Macambira, M.J.B.; Galarza, M.A.
Oliveria, S.M.B. e Imbernon, R.A.L. 1998. Weathering alteration 2006. Geoquímica e geocronologia Pb-Pb em zircão da Suite
and related REE concentration in the Catalão I carbonatite Intrusiva Água Branca, Município de Presidente Figueiredo
complex, central Brazil. Journal of South American Earth (AM): evidências de colisão no Paleoproterozóico da Amazônia
Science, 4, 379-388 Ocidental. Revista Brasileira de Geociências 36:359-370.
Radambrasil 1978. Folha SA.20. Geologia, geomorfologia, pedologia, Veiga, J.P.J.; Nunes, A.C.B.; Souza, E.C.; Santos, J.O.S.; Amaral, J.E.,
vegetação e uso potencial da terra. 626pp. Pessoa, M.R.; Cruz, S.A.S. 1979. Projeto Sulfetos do Uatumã.
Parte I. Vol. I A . Convênio DNPM-CPRM. 345p.
Santos, J.O., Souza, M.M., Prazeres, W.V., Silva, L. S., Barreto,
E.L., Pessoa, M.R. 1974. Projeto Norte da Amazônia – Domínio
Baixo Rio Negro, Geologia da folha SA.20-X. Vol.II A. Convênio Recebido em 29/11/2007
DNPM-CPRM. 238pp. Aceito em 01/09/2008

759 vol. 38(4) 2008: 753 - 760  Horbe & OLIVEIRA

Anda mungkin juga menyukai