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Apostila de Análise de Obras do PAS 2 – 2017

Apostila de Análise de Obras do PAS 2 – 2017


Discurso do Método - René Descartes

Por Tiago Henrique

Autor

Penso, logo existo. Esta máxima foi retirada de uma das obras mais famosas de René Descartes,
um dos pensadores mais influentes da história da humanidade, quando desenvolvia o seu método
científico (O discurso do método).

Este homem, considerado quase que unanimemente como o fundador da filosofia moderna e o pai
da matemática moderna, nasceu na província de La Haye, a 300 quilômetros de Paris. Com menos de 2
anos de idade, a sua mãe, Jeanne Brochard, faleceu enquanto estava no terceiro parto. Por essa razão,
ele foi criado pela avó. Seu pai, Joachim Descartes, nobre menor, advogado e juiz, possuidor de terras, do
título de escudeiro e conselheiro do parlamento de Rennes na Bretanha, casou-se novamente.

Ele começou a receber educação formal aos 8 anos, e de 1607 até 1612 teve a sua educação
clássica, e continuou aos 13, quando de 1612 até 1615 teve a educação em matemática, ambas no
colégio mais prestigiado da França à sua época, Colégio Jesuíta Royal Henry - Le Grand, onde se
treinavam as melhores mentes da época. Entre esses dois momentos, para Descartes, houve um claro
contraste: na sua educação em matemática, a valorização do experimento era bem maior no processo de
aprendizagem, já na educação clássica não havia experimentação e mesmo assim tudo era considerado
verdade sem qualquer exercício de questionamentos; e isso acabou fazendo com que ele colocasse em
dúvida tudo que havia aprendido nos primeiros 5 anos da educação clássica, pois valorizava muito a
verdade testada e questionada. Isso foi um particular marco nas suas ideias posteriores, já que ele tinha
pouco mais de 16 anos quando colocou em dúvida tudo que havia aprendido até então. De toda forma,
após ter concluído o curso de Direito na Universidade de Poitiers em 1616, decidiu não seguir a carreira
jurídica de seu pai, mas ir para a Holanda com o objetivo de melhor se educar e se alistar no exército,
atitude que aborreceu seu pai, pois quando Descartes era pequeno, carinhosamente o chamava de
“pequeno filósofo” e colocava nele grandes expectativas sucessórias da sua honra e profissão de jurista.

Apesar de seu pai achar que ele iria se afastar dos estudos, para ele, a escola militar era uma
complementação de sua educação. Na Holanda fez amizades com pessoas como o duque filósofo, doutor
e físico Isaac Beeckman, e a ele dedicou o "Compendium Musicae", um pequeno tratado sobre música
que faz parte do seu vasto portfólio. Também teve acesso às mais recentes pesquisas e descobertas
matemáticas e físicas da época. Isso o influenciou a iniciar todo o seu trabalho o qual temos acesso hoje,
como, por exemplo, a geometria analítica e o seu método de raciocinar corretamente.

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Em 1619, enquanto viajava pela Europa, diz-nos a tradição, que no dia 10 de novembro ele teve
uma visão em sonho de um novo sistema matemático e científico. Assim, ainda em 1619, ele propôs a
ideia de uma ciência unitária e universal, já que, para ele, a ciência devia ser baseada numa verdade
irrefutável, e isso se tornou a base do método científico moderno. Ele tinha, de fato, uma enorme
preocupação com a verdade, a ordem e a clareza das coisas, tanto que acreditava que havia sempre uma
única verdade e que a filosofia devia se pautar nela, e apenas nela.

Em 1628, influenciado pelo cardeal De Bérulle, escreveu uma de suas grandes obras "Regras para
a Direção do Espírito". Já em 1629, começou a trabalhar na obra de física "Tratado do Mundo", que nunca
foi concluída, pois com a condenação de Galileu em 1633 pela igreja católica e a sua resistência às ideias
de Copérnico, ele não quis publicar.

Em 1643, o fato de as suas ideias romperem com a filosofia aristotélica adotada nas academias e
provocarem a dúvida e racionalização de tudo, como, por exemplo, exigir sempre uma explicação científica
para a natureza e não explicações morais, religiosas ou especulativas, fez com que a filosofia cartesiana
fosse condenada pela Universidade de Utrecht (Holanda), mas, quando acusado de ateísmo, Descartes
obteve a proteção do Príncipe de Orange e se livrou de um mesmo fim tal qual teve Galileu.

Mais tarde, o embaixador francês levou uma cópia manuscrita do "Tratado das Paixões" para a
rainha Cristina da Suécia. A convite, Descartes foi para Estocolmo em 1649, com o objetivo de instruir a
rainha de 20 e poucos anos em matemática e filosofia. O horário da aula e o pesado inverno para um
estrangeiro, entretanto, acabou matando Descartes, pois acordar e lecionar às cinco horas da manhã
todos os dias não era algo com que ele estava acostumado. Naquele clima rigoroso, então, sua saúde se
deteriorou em função de uma pneumonia, e em fevereiro de 1650 ele morreu.

Em 1667, depois de sua morte, a Igreja Católica Romana colocou suas obras no Índice de Livros
Proibidos.

Obra

Apesar de não ter sido a primeira obra escrita por René Descartes, O Discurso do método (1637)
foi a primeira e principal obra publicada por ele. Certamente, os motivos que o levaram a desistir de
publicar suas outras obras foi o receio de ir de encontro ao que era proibido pela igreja no seu tempo. Ele
era um homem que tinha uma reputação, e mesmo não concordando com tudo, respeitava a igreja e sua
autoridade. Isso o privou de publicar muitas coisas. Muitas delas, aliás, nunca tivemos acesso e, a menos
que alguém ache perdido em algum lugar muito remoto, talvez nunca teremos.

Ele escreveu esta obra, portanto, com muito cuidado para não acabar tendo o mesmo fim que
Galileu, o que não significa, entretanto, que ele tenha apenas reproduzido aquilo que a igreja concordava
ou mesmo ensinava nas escolas da época, que eram as ideias de acordo com a filosofia escolástica e a

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tradição religiosa, que era uma junção das ideias de Aristóteles com as interpretações da Bíblia; ao
contrário, ele escreveu uma obra que marcou a sua época e dividiu a história em antes e depois de O
Discurso do Método, e isso aconteceu exatamente por propor um novo jeito de se chegar ao conhecimento
verdadeiro e seguro, que era usar o método da dúvida para se alcançar o conhecimento verdadeiro, isto é,
tornar-se cético não para negar algo considerado como verdade, mas para confirmá-lo, ao menos com
esta intenção.

Para escrever sua obra, ele utilizou a língua francesa e o fez de forma que narrou a sua própria
vida ao mesmo tempo em que transmitia as ideias do seu método. Ele poderia ter utilizado tanto a língua
padrão científica da época, que era o latim, como a estrutura, que era escrever de forma abstrata e
impessoal, mas rompeu com essas tradições de propósito, uma vez que tinha a intenção de divulgar o
método que o ajudou a se libertar dos dogmas e conhecimentos falsos ou inseguros para o maior número
de pessoas possíveis, para que elas mesmas soubessem como encontrar a verdade e não apenas
consumir o que era ensinado como se fosse uma verdade incontestável; e escrever na língua francesa
(idioma considerado popular da época) e fazer uma narrativa autobiográfica eram maneiras de se
conseguir isso - e deu certo. Ele queria realmente que a razão, privilégio exclusivo do ser humano, fosse
desfrutado por todos.

Como está escrito no início do livro, Descartes não teve a intenção de ensinar as pessoas a
encontrarem a verdade, isto é, a obra não era um manual de como achar a verdade, tanto que o título não
é o Tratado do Método, mas o Discurso do Método, pois ele queria apenas mostrar e narrar os caminhos
que tomou e que foram capazes de fazer com que chegasse à verdade segura, de modo que, para ele,
este era um método que não poderia falhar, já que colocava a razão acima dos sentidos, e estes por vezes
enganam e iludem mesmo os bem intencionados. Além disso, ele acreditava que todos os humanos eram
dotados de igual razão e o que faltava às pessoas era um método correto e seguro para que todos
chegassem ao conhecimento seguro. Portanto, ele acreditava que um método seguro poderia libertar as
pessoas das suas próprias prisões, ou, como disse na época medieval o pensador Nicolau de Custa, se
libertar do seu microcosmo.

Nesta obra também, um dos grandes objetivos de Descartes era provar a existência de Deus por
meio da razão e da ciência. Para isso, ele recusava se utilizar de meios não seguros, e por isso utilizou o
seu método. Ou seja, tratava-se de um método que ele utilizou para muitas áreas de sua vida. Ele
começou a criá-lo ainda quando jovem, quando era insatisfeito com a educação da ciência oficial que
recebeu. Ele colocava em dúvida e desejava a experimentação para obter a evidência e só então aceitar
como verdade. Descartes foi um filósofo além do seu tempo, que marcou a sua época, principalmente por
meio dessa obra.

Assim, nesta obra, ele escreveu e desenvolveu o discurso sobre o seu método em seis partes. De
forma resumida, vejamos:

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Na primeira parte ele nos conta sobre a sua educação: os assuntos pelos quais se interessou, as
críticas que fez aos livros que leu e sobre a educação que recebeu; conta também sobre a parte da sua
educação em que ele mesmo foi o protagonista, pois ao se graduar em Direito, foi viajar pela Europa a fim
de estudar no grande livro que é o mundo e extrair, de dentro de si e das pessoas que ia conhecendo, o
conhecimento. Nesta primeira parte ainda temos a afirmação dele de que não tinha a intenção de que
todos usassem o seu método, mas apenas de narrar o seu esforço e o sucesso do mesmo na busca de
um conhecimento seguro.

Na segunda parte ele escreveu que um homem normal, que sabe pensar com seu senso comum
sobre as coisas simples do mundo, está mais próximo de chegar num conhecimento verdadeiro e seguro
do que todos os livros científicos com várias opiniões de pensadores ao longo dos séculos. Ele escreve
isso mais ou menos como um desabafo, pois na sua infância aprendeu coisas que não haviam sido
questionadas e foram simplesmente tidas como verdadeiras. Isto é, que somos como um edifício projetado
por muitos arquitetos que desconhecemos e que nem sequer sabemos da confiabilidade dos seus
conhecimentos aplicados em nós, e que podemos ser um edifício sem qualquer segurança. Então, assim
como ele o fez, ele diz que se desde criança nós usássemos o nosso simples senso comum, o nosso
conhecimento e relacionamento com o mundo poderia ser bem diferente e mais seguro.

Em função disso, ele escreveu os preceitos mais importantes da obra. Ele cita os 4 princípios que
acha serem necessários para servir de base para se chegar num conhecimento verdadeiro ou, ao menos,
saber quando se trata de um conhecimento falso. Vejamos:

1. A regra da evidência: nada é verdadeiro até ser reconhecido como tal, ou seja, evitar
cuidadosamente a precipitação e agir com precaução;
2. A regra da análise: os problemas precisam ser analisados e resolvidos sistematicamente, ou seja,
dividir cada um dos problemas em problemas menores para melhor resolvê-los;
3. A regra da síntese: as considerações devem partir do mais simples para o mais complexo, ou seja,
subir degrau por degrau até chegar no ponto mais alto da escada e sair do obstáculo; e
4. A regra da análise do conjunto ou intuição geral: o processo deve ser revisto do começo ao fim
para que nada importante seja omitido, ou seja, cuidar para que revisões sejam feitas e erros não
permaneçam.

Por meio destes preceitos podemos observar o quanto Descartes era desconfiado quanto a tudo
aquilo que é tido como verdade, tudo que lhe foi ensinado durante toda a sua vida. Ele preferia rejeitar
tudo inicialmente para depois confirmar de forma segura. Isso acontecia desde a sua infância, pois tudo
lhe foi ensinado de forma não experimental, mas, agora, havia um método que lhe dava o caminho para
duvidar de tudo. Não um ceticismo com a intenção de negativar tudo, mas um ceticismo intencionado a
confirmar depois.

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Na terceira parte da obra ele postula algumas de suas máximas, pois, segundo ele, máximas são
necessárias para alguém que deseja se libertar de falsos conhecimentos e para alguém que deseja
reconstruir os seus juízos. Ele as dividiu em 4 partes. Vejamos:

 Obedecer às leis e aos costumes de meu país, retendo constantemente a religião em que Deus me
concedeu a graça de ser instruído desde a infância, e governando-me em tudo o mais (...);
 Ser o mais firme e o mais resoluto possível em minhas ações, e em não seguir menos
constantemente do que se fossem muito seguras as opiniões mais duvidosas, sempre que eu me
tivesse decidido a tanto;
 Procurar sempre antes vencer a mim próprio do que à fortuna, e de antes modificar os meus
desejos do que a ordem do mundo; e, em geral, a de acostumar-me a crer que nada há que esteja
inteiramente em nosso poder, exceto os nossos pensamentos (...)
 Passar em revista as diversas ocupações que os homens exercem nesta vida, para procurar
escolher a melhor (...).

Na quarta parte do seu discurso, Descartes escreveu a sua frase mais famosa e o princípio de toda
a sua filosofia: penso, logo existo. E ele escreveu isso, pois observou que para conseguir discernir entre o
verdadeiro e o falso, ele deve rejeitar como falso absolutamente tudo o que se pode enxergar a menor
dúvida, a fim de observar, após isso, se resta algo inteiramente indubitável na razão e que também os
sentidos por vezes enganam, já que às vezes pensamos com os sentidos, o que faz com que tudo seja
uma ilusão. Portanto, se tudo é falso, há necessidade de que alguém que pense seja alguma coisa, e se
há alguém pensando em coisas que não são verdadeiras, isso significa que quem está pensando existe,
ou seja, se pensamos racionalmente nós não estamos nos iludindo com coisas não verdadeiras, mas
existindo. Assim, confirma-se a máxima de que para existir, basta pensar - Penso, logo existo.

Após isso ele se considera uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar,
e que, para ser, não necessita de nenhum lugar e nem depende de qualquer coisa material, mas apenas
da razão. E se não depende de coisa material, não depende do corpo, pois o que pensa é a alma. Isto é,
contrariamente à filosofia escolástica, para ele o corpo e a alma são duas coisas completamente distintas.

Ainda nesta quarta parte, Descartes faz outra conclusão. Afirma que conhecer é uma perfeição
maior do que duvidar. Escreve que mesmo o raciocinar, o pensar, foi colocado nele por algo superior -
Deus. E que assim como o mais perfeito não pode ser conseqüência do menos perfeito, a razão só foi
colocada em nós por uma natureza mais perfeita do que a nossa, e que inclui todas as perfeições, quer
dizer, Deus.

Na quinta parte, Descartes utiliza de seu método para descrever corpos e vai dos inanimados até o
do homem. Discorre sobre a possibilidade de que os homens, em seu início, eram desprovidos de almas,
assim como os animais. Neste contexto, o coração dos homens era composto de fogos sem luz. Por fim,
Descartes reitera a independência da alma em relação ao corpo.

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Na sexta parte Descartes finaliza fazendo uma síntese de seu caminho percorrido nas cinco partes
anteriores. Discorre que no início de sua caminhada procurou encontrar em geral os princípios ou
primeiras causas de tudo quanto existe, ou pode existir no mundo, sem nada considerar, para tal efeito,
senão Deus só, que o criou, nem tirá-las de outra parte, exceto de certas sementes de verdades que
existem naturalmente em nossas almas. Depois ele conta que examinou quais os primeiros e os mais
ordinários efeitos que se podem deduzir dessas causas e, diz, “parece-me que, por aí, encontrei céus,
astros, uma terra, e mesmo, sobre a terra, água, ar, fogo, minerais e algumas outras dessas coisas que
são as mais comuns de todas e as mais simples, e por conseguinte as mais fáceis de conhecer.” E
seguidamente diz que quando quis descer às que eram mais particulares, apresentaram-se tão diversas,
que não acreditou que fosse possível ao espírito humano distinguir as formas ou espécies de corpos que
existem sobre a terra, de uma infinidade de outras que poderiam nela existir, se fosse a vontade de Deus
aí colocá-las, nem, por consequência, torná-las de nosso uso, a não ser que se vá ao encontro das causas
pelos efeitos e que se recorda a muitas experiências particulares.

Assim, Descartes finalizaria o seu Discurso do Método, obra que abriu caminho para muitas outras
pesquisas e outras publicações de outros autores e mesmo do próprio René Descartes. Com esta obra,
ele mudou conceitos filosóficos, colocando a subjetividade como conhecimento do mundo e distinguindo o
corpo da alma, ambos sacramentados em tempos passados. Na verdade, sua intuição seria criar uma
nova ciência, ciência esta com ênfase particular na experimentação. Desejava, sobretudo que estes
estudos fossem usados em prol da humanidade, melhorando-a naquilo que fosse possível. Deu certo
grande parte dos seus objetivos. Ainda hoje colhemos coisas plantadas por Descartes séculos atrás, tal a
sua importância para a humanidade.

Contexto

O contexto em que René Descartes viveu foi marcado por profundas mudanças nos contextos
político, social e científico da época. O século XVII foi de crise em praticamente toda a Europa. Os estados
nacionais tinham acabado de começar a sua formação, e portanto ainda brigavam entre si por terras e
influência, com destaque para França, Espanha, Holanda e Inglaterra. Isso não tem tanta influência sobre
ele, mas grande parte da vida de Descartes se passou concomitante à Guerra dos 30 anos, entre católicos
e protestantes no Império Alemão.

Do ponto de vista cultural, Descartes viveu durante a predominância do Barroco, cujo tom geral era
pessimista. Outra característica cultural foi o fato de que não havia muito tempo que a impressão havia
sido inventada, o que fez com que a cultura se disseminasse para além dos mosteiros e fosse de certa
forma popularizado tanto para outros idiomas que não o latim como para outras culturas.

Do ponto de vista filosófico, Descartes nasceu num período em que a ideia de modernidade, ainda
em desenvolvimento, estava diretamente relacionada ao sentimento de mudança, através da valorização

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do indivíduo e a oposição à autoridade da fé. Ora, durante a Idade Média quase não houve
questionamentos sobre as questões filosóficas feitas por leigos, já que a Igreja Católica tinha enorme
influência sobre a sociedade e limitava a produção de conhecimento por aqueles que não pertenciam ao
clero. Dessa maneira, a filosofia medieval era fortemente marcada pela religião, uma junção entre as
ideias de Aristóteles e as interpretações da Bíblia.

Contudo, as novas percepções trazidas com o desenvolvimento científico dos séculos XV e XVI,
como os novos modelos astronômicos trazidos por Nicolau Copérnico e Galileu Galilei ,entre outros, que
contestavam a visão religiosa medieval de que a Terra era o centro do Sistema Solar, motivaram uma
nova forma de encarar o mundo.

Dessa maneira, o pensamento cartesiano está fortemente baseado nesse novo modelo de se fazer
ciência, a partir da busca do progresso da humanidade e conhecimento. Assim, René Descartes é
considerado o primeiro filósofo moderno, e viveu num momento essencial para o desenvolvimento da
humanidade.

Gênero e Estrutura

A obra é escrita como uma narrativa autobiográfica. Duas técnicas narrativas são utilizadas: a
representação e a narração.

A primeira técnica diz respeito à condução do processo narrativo. Descartes leva o leitor a uma
participação da experiência do eu-narrador; ele o faz acompanhar sua história passo a passo, mostrando
suas indagações, receios, fatos significativos, proposições, enfim, sua vida.

A segunda relaciona-se, principalmente, com o próprio fato de que há um reconhecimento do


caráter narrativo do texto, uma consciência de que Descartes é um narrador que relata uma série de
eventos a um leitor.

O texto conjuga a narração e o discurso direto, a narrativa e a proposição, a dúvida e a elaboração


da verdade.

Citações da Obra na Matriz de Objetos de Avaliação

O ser humano como um ser que pergunta e quer saber:

A obra de René Descartes (1596650), Discurso do método, apresenta em 1637, uma


fundamentação para o método científico. O autor escreveu em língua francesa, numa época em que a
língua das ciências era o Latim, a fim de tornar essa obra acessível a muitos leitores. O método seria

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indispensável para o sujeito deixar os caminhos do erro e da dúvida e descobrir com clareza e distinção a
certeza da verdade intelectual. A partir da dúvida metódica, Descartes mostra que o sujeito do
cognoscente é livre para analisar suas ideias, e pode, por meio de um conjunto de regras, livrar -se de
tudo quanto seja duvidoso perante o pensamento, atingindo a certeza do conhecimento intelectual. Essa
obra tem como subtítulo o próprio horizonte de sua proposta: “para bem conduzir a própria razão e
procurar a verdade nas ciências”.

A obra de Descartes foi fundamental para o debate acerca da natureza do conhecimento e da


razão, e o seu legado influenciou diversas gerações de pensadores. Para além do estabelecimento de um
método, o pensamento de Descartes é um marco na construção do conhecimento moderno,
especialmente a ciência moderna, pois propõe que o sujeito do pensamento, o cogito, é, antes de tudo,
uma “coisa pensante”. Portanto, bem conduzir a razão é algo imprescindível para que o homem possa se
tornar “senhor e dominador da natureza”. De alguma forma, este debate ecoa no século XVIII. O filósofo
alemão, Immanuel Kant, também preocupado com o uso da razão, escreveu, em 1784, o texto Resposta
à pergunta: o que é o esclarecimento?, a partir do qual pensa e problematiza seu próprio tempo e
apresenta orientações para o uso da razão a fim de emancipar os seres humanos de uma condição de
minoridade. (Capítulo 3, segundo, terceiro, quarto e quinto parágrafos)

Indivíduo, cultura e mudança social:

Em seu Discurso do método, Descartes faz uso da língua francesa para divulgar suas ideias, de
modo a se tornar acessível, pois anteriormente os textos científicos eram escritos em latim. Em que
medida podemos reconhecer nesse fato uma manifestação a favor da mudança social? Propor a
valorização da razão, em oposição à autoridade eclesiástica da época, pode ser entendido com um
sentido favorável à mudança e à transformação social? (Página 9, terceiro parágrafo)

Estruturas:

Estruturas geométricas são obtidas ao se fazer a evolução de uma figura plana em torno de um
eixo. Considerando que a palavra estrutura nomeia um conjunto de elementos interdependentes, na
perspectiva cartesiana, para se conhecer uma estrutura é necessário buscar apreendê-la a partir dos
elementos que a constituem. Assim, com base nesses elementos podemos elaborar conclusões
abrangentes e ordenadas. Depois, enumerar cada conclusão, de modo que não ocorra omissão de
elementos e haja coerência entre as partes e o todo, conforme enuncia Descartes em seu Discurso do
método. (Página 19, segundo parágrafo)

Ambiente e vida:

Propõe-se, então, que se reconheça a importância e a dinamicidade da classificação dos seres


vivos abordando, inclusive, como se constrói um sistema de classificação, para que se entendam critérios
de sistematização. A obra de Rene Descartes, Discurso do método, sugere a aplicação de métodos

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adequados para análise e resolução de problemas, e contribui para julgar a pertinência de opções
técnicas, sociais, éticas e políticas na tomada de decisões. (Página 27, terceiro parágrafo)

A formação do mundo ocidental contemporâneo:

Este objeto refere-se, nesta etapa, à compreensão da gênese do mundo contemporâneo, com
ênfase na formação das nações americanas - em particular, da brasileira - no contexto de crise do antigo
sistema colonial. Como também, ao processo de consolidação do sistema capitalista e às suas
implicações (sociais, culturais, políticas e econômicas) nas sociedades mundiais, nos seus
desdobramentos relativos à cidadania nas várias regiões do mundo ocidental. No campo do pensamento e
das Ciências, vale destacar a construção de ideologias e paradigmas a partir do Iluminismo - e dos seus
desdobramentos. Verifica-se a abrangência desse fenômeno, sobretudo quando se abordam os
movimentos de emancipação na América Latina, em particular no Brasil. Há obras filosóficas que
antecedem este processo e apontam aspectos relevantes desta formação do mundo ocidental
contemporâneo, dentre as quais convém destacar o texto de Descartes, Discurso do método, e o de Kant,
Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento? (Página 30, segundo parágrafo)

Número, grandeza e forma:

Na primeira etapa, este objeto fez alusão a grandezas vetoriais, escrita tradicional de ritmo,
exploração dos polígonos regulares, sequências, cartografia, balanceamento de equações e contribuições
de culturas medievais, dentre outras. Nesta enfoca outros modelos e provoca novas questões, como: O
que é a linguagem matemática? O que é a modelagem pela Matemática? É possível modelar qualquer
problema com a Matemática? Todas as situações estudadas pelas ciências apresentam aspectos de
linearidade? É possível modelar problemas não lineares com Matemática? Que outras formas de
modelagem a humanidade desenvolveu? A obra de René Descartes (1596-1650), Discurso do método,
traz o método como indispensável para o sujeito deixar os caminhos do erro e da dúvida e descobrir com
clareza e distinção a certeza da verdade intelectual. A partir da dúvida metódica, Descartes mostra que o
sujeito é livre para analisar cada um de seus conhecimentos, e pode, por meio de um conjunto de regras,
livrar-se de tudo quanto seja duvidoso perante o pensamento, atingindo a certeza do conhecimento
intelectual. Essa obra tem como subtítulo o próprio horizonte de sua proposta: “para bem conduzir a
própria razão e procurar a verdade nas ciências”. Na perspectiva cartesiana, acreditava-se que teria sido
em linguagem matemática que Deus esculpira o Universo; logo, o caminho para se desvelar a realidade
seria, justamente, a compreensão de sua estrutura matemática. Nesse sentido, Descartes, apresenta a
exatidão da Matemática como critério para estabelecer a verdade, a partir das categorias de clareza e
distinção. (Página 33, primeiro, segundo, terceiro e quarto parágrafos)

Espaços:

Textos filosóficos como Discurso do método, de Rene Descartes, e Resposta à pergunta: o que é o
esclarecimento?, de Immanuel Kant, fundamentam categorias a partir da percepção e intuição da noção

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de espaço. Essas fundamentações estão presentes nas teorias desenvolvidas pelas ciências particulares.
(Página 38, quinto parágrafo)

Materiais:

No século XVII, René Descartes, no Discurso do método, rompe com as perspectivas escolásticas
e inaugura novas condições para a pesquisa científica ao enumerar procedimentos comuns para a
resolução de problemas, por meio de uma racionalidade científica, fundamentada no método. A partir do
cartesianismo, um conjunto de perspectivas desdobrou-se em distintas correntes filosóficas, numa espécie
de tensão entre racionalismo e empirismo, tendo em comum a crença na razão enquanto faculdade
humana potencialmente suficiente para produzir novos conhecimentos científicos. (Página 43, quinto e
sexto parágrafos)

Questões

Porém, logo em seguida, percebi que, ao mesmo 2. A dúvida metódica, conforme formulação de
tempo em que eu queria pensar que tudo era Descartes, assegura ao sujeito liberdade para
falso, fazia-se necessário que eu, que pensava, analisar suas ideias, livrando-o, por meio de um
fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade conjunto de regras, do que é duvidoso e
— eu penso, logo existo — era tão sólida e tão permitindo-lhe atingir a certeza do conhecimento
correta que as mais extravagantes suposições intelectual.
dos céticos não seriam capazes de lhe causar
Subprograma 2013 – Segunda Etapa, Caderno: GAUGUIN
abalo, julguei que podia considerá-la, sem Página 7, questão 49
escrúpulo algum, o primeiro princípio da filosofia
3. Segundo Descartes, a cadeia de dúvidas só é
que eu procurava.
interrompida diante do próprio sujeito que duvida
René Descartes. Discurso do método. In: Os pensadores.
— se duvida, pensa; se pensa, existe.
São Paulo: Nova Cultural, 2000, p. 62.
Subprograma 2013 – Segunda Etapa, Caderno: GAUGUIN
Considerando a obra Discurso do Método, de Página 7, questão 50
René Descartes, e o fragmento de texto dela
extraído, julgue os itens seguintes: O Discurso do Método produziu uma revolução
na filosofia e na ciência. A partir dessa obra,
1. No conceito de eu cartesiano, incluem-se o Descartes buscou um conjunto de princípios que
pensamento e o corpo, uma vez que, na cadeia pudessem ser conhecidos sem qualquer dúvida.
de dúvidas, a única certeza é que existe um ser Para investigar tal possibilidade, procedeu à
pensante habitando um corpo. análise por meio de um método próprio

Subprograma 2013 – Segunda Etapa, Caderno: GAUGUIN conhecido como “dúvida hiperbólica”, ou “dúvida
Página 7, questão 48 metafísica”, mais frequentemente referido como
“ceticismo metodológico”, que consiste em

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rejeitar qualquer ideia da qual se possa duvidar, 6. O método cartesiano, de caráter analítico, tem
para então, após análise, restabelecer ou por característica não se interessar pelo processo
reconstruir essa ideia de modo a criar uma base de síntese, que é um elemento do método
sólida para o conhecimento. sintético.

Internet: <www.infoescola.com> (com adaptações). Subprograma 2015 - Segunda Etapa, Caderno: Alice Página
8, questão 45
Considerando o texto acima e os múltiplos
aspectos a ele relacionados, julgue os itens e 7. O ponto de partida do método analítico

assinale a opção correta no item 46, que é do cartesiano (cogito) deve ser compreendido como

tipo C. a- um raciocínio do tipo dedutivo, que deduz o


pensar a partir da existência.
4. Descartes foi um dos expoentes do
Racionalismo, que considera a empiria b- um raciocínio do tipo indutivo sobre a relação

desnecessária para a obtenção de conhecimento. experimentalmente comprovada entre o pensar e


o existir.
Subprograma 2015 - Segunda Etapa , Caderno: Alice
Página 8, questão 43 c- uma percepção sintética, que identifica uma
totalidade, em seres humanos, entre o pensar e o
5. O método cartesiano se fundamenta na dúvida
existir.
hiperbólica, que consiste em duvidar de tudo o
que é possível duvidar. Tal dúvida não se aplica d- uma prova da existência material do ser
à capacidade de seu próprio método de revelar humano.
verdades.
Subprograma 2015 - Segunda Etapa, Caderno: Alice Página
Subprograma 2015 - Segunda Etapa, Caderno: Alice Página 8, questão 46
8, questão 44

Fontes:

COTTINGHAN, J. Descartes: a filosofia da mente de Descartes. Tradução de Jesus de Paula Assis. São Paulo: Editora
UNESP, 1999.

Dicionário Descartes. Tradução de Helena Martins. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.

DESCARTES, R. Discurso do método; Meditações; Objeções e respostas; As paixões da alma; Cartas. Tradução de J.
Guinsburg e Bento Prado Júnior. 2. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

https://educacao.uol.com.br/biografias/rene-descartes.htm - Acesso em 25/3/2017

http://www.ahistoria.com.br/biografia-rene-descartes/ - Acesso em 25/3/2017

http://filosofiageral.wikispaces.com/O+Discurso+do+M%C3%A9todo+%E2%80%93+Descartes+%28resen
ha+tem%C3%A1tica%29?f=print - Acesso em 25/3/2017

Apostila de Análise de Obras do PAS 2 – 2017


http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/resenha-critica-da-obra-discurso-do-metodo-de-rene-
descartes - Acesso em 25/3/2017

http://www.passeiweb.com/estudos/livros/discurso_do_metodo - Acesso em 25/3/2017

https://cogitodescartes.wordpress.com/contexto-historico/ - Acesso em 25/3/2017

http://elprofedefilosofia.blogspot.com.br/2011/01/contexto-historico-cultural-filosofico.html - Acesso em
25/3/2017

Gabaritos e justificativas:

1- E. Justificativa: Descartes se considera uma necessidade de que alguém que pense seja
substância cuja essência ou natureza consiste alguma coisa, e se há alguém pensando em
apenas no pensar, e que, para ser, não necessita coisas que não são verdadeiras, isso significa
de nenhum lugar e nem depende de qualquer que quem está pensando existe. Se pensa, então
coisa material, mas apenas da razão. E se não existe.
depende de coisa material, não depende do
4- E. Na verdade, sua intuição seria criar uma
corpo, pois o que pensa é a alma. Isto é,
nova ciência, ciência esta com ênfase particular
contrariamente à filosofia escolástica, para ele o
na experimentação, isto é, na empiria. Sim, foi
corpo e a alma são duas coisas completamente
expoente do racionalismo.
distintas.
5- C. Para conseguir discernir entre o verdadeiro
2- C. Justificativa: Ele acreditava que todos os
e o falso, o sujeito deve duvidar
humanos eram dotados de igual razão e o que
hiperbolicamente, isto é, exageradamente.
faltava às pessoas era um método correto e
Entretanto, o método n é colocado em dúvida.
seguro para que todos chegassem ao
conhecimento seguro. Portanto, ele acreditava 6- E. Justificativa: Dentre os seus quatro
que um método seguro poderia libertar as princípios, tem a regra da síntese, por meio da
pessoas das suas próprias prisões, ou, como qual as considerações devem partir do mais
disse na época medieval o pensador Nicolau de simples para o mais complexo, ou seja, subir
Custa, se libertar do seu microcosmo. degrau por degrau até chegar no ponto mais alto
da escada e sair do obstáculo.
3- C. Justificativa: Para conseguir discernir entre
o verdadeiro e o falso, o sujeito deve rejeitar 7- C. Justificativa: Ele acreditava que todos os
como falso absolutamente tudo o que se pode humanos eram dotados de igual razão e o que
enxergar a menor dúvida, a fim de observar, após faltava às pessoas era um método correto e
isso, se resta algo inteiramente indubitável na seguro para que todos chegassem ao
razão. Assim, se tudo se torna falso, há conhecimento seguro.

Apostila de Análise de Obras do PAS 2 – 2017


Para turbinar seu estudo e compreender melhor o contexto da época e da obra você pode assistir a filmes
e documentários. Segue abaixo os links de algumas sugestões:

 Descartes - Filme completo


https://documentariosvarios.wordpress.com/2012/04/20/descartes-filme-completo/
 Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes e Rousseau - Videoaula Univesp
https://www.youtube.com/watch?v=b6dCnMwmB0A
 Aula 17, filosofia - René Descartes - Tv Poliedro
https://www.youtube.com/watch?v=We3WMDmr8SY

Apostila de Análise de Obras do PAS 2 – 2017


Apostila de Análise de Obras do PAS 2 – 2017
Odeon - Ernesto Nazareth

Por Juliana Galvão

Autor

Ernesto Nazareth nasceu em 20 de março de 1863 na então cidade dos pianos, o Rio de Janeiro.
Cresceu durante um período de grandes mudanças e de instabilidade social e política, como a guerra do
Paraguai. Quando criança sofreu uma queda que ocasionou problemas auditivos que lhe acompanharam
por toda a vida. Autodidata, compôs sua primeira música (“Você bem sabe” , dedicada ao seu pai) aos 14
anos de idade. É considerado um dos compositores de maior importância para a cultura brasileira. Grande
parte de sua obra, que é essencialmente instrumental, é voltada para o piano, apesar de muitas vezes
retratar o ambiente dos choros, expressado tipicamente pelo violão, flauta e cavaquinho, que revelam a
alma carioca.

Em sua produção musical, encontramos tangos brasileiros, também denominado como choro (em
torno de 90 peças), valsas (cerca de 40), polcas (cerca de 20), entre outras composições dos mais
variados estilos.

“Ele fazia música de dança, música para se dançar, só que, diferentemente de outros
compositores, imprimiu um estilo muito próprio”. - Cacá Machado

Obra

Em 1908 começou a se apresentar na sala de espera do Cine Odeon, localizado no centro do Rio
de Janeiro. Muitas pessoas frequentavam o Cine Odeon apenas para apreciar Ernesto Nazareth tocar.
Dois anos depois compôs o tango “Odeon” em homenagem à empresa Zambelli & Cia, proprietária do
cinema Odeon. A canção não foi um sucesso imediato, se tornando conhecida apenas depois de ter
recebido a letra do poeta Vinícius de Moraes, em 1960, a pedido da cantora Nara Leão.

Gyovana Carneiro, professora da escola de música e artes cênicas da UFG, afirmou em seu blog
(Ludovica) que na ânsia de ser reconhecido como pianista, Nazareth não pôde perceber o quanto sua
música era original e repleta de brasilidade. O fato de não ter ido estudar na Europa como outros
compositores da época não o fizera menor, muito pelo contrário, foi bebendo na fonte da música urbana
carioca que ele compôs tão originalmente.

Contexto:

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No final da década de 1870 ainda não existia música que retratasse o nosso país de forma
genuína, mas apenas uma música feita no Brasil com fortes influências da música europeia. Se Nazareth
apresenta em sua peça elementos da música dita “popular” e ao mesmo tempo demonstra as influências
que teve do estilo europeu, ou seja, da música “erudita” como então podemos classificar? Erudita ou
popular?

Há inúmeras discussões a respeito dessa pergunta, mas para entendê-la é necessário


compreender as preferências do compositor e o contexto da época em que viveu. Nazareth sempre se
mostrou um excelente pianista e, de fato, o piano era sua "praia". Já em relação ao termo popular,
devemos entendê-lo como “próprio do povo”, “feito para o povo”. Nazareth não era popular, no sentido
mais amplo da palavra, como Chiquinha Gonzaga, entre outros. Ele era “reconhecido ou estimado do
povo”. Grande parte das obras de Nazareth foram escritas para o piano, e o piano até então não era um
instrumento de fácil acesso para o povo. Acredita-se que por isso a obra de Nazareth foi escrita para as
classes média e alta, pois poucos teriam à disposição dinheiro para adentrar em uma casa de música,
comprar uma partitura, ter um piano em casa à disposição e ainda alguém com conhecimento necessário
para ler e ensinar o pentagrama.

A resposta mais plausível para o fato de Ernesto Nazareth ter sido feito mote de discussão foi
certamente por transitar entre os espaços da elite e da periferia, configurando acesso ao erudito e o
popular, trazendo em sua obra o inculto, o tradicional, juntamente com a sofisticação acadêmica, mas sem
exageros. Assim, estava posto na Música de Ernesto Nazareth o potencial estético para a formação da
consciência musical e a identidade nacional/nacionalista do povo para consigo. (CARVALHO, Henri de , A
obra de Ernesto Nazareth: Síntese da particularidade histórica e da música brasileiras, Projeto História nº
43. Dezembro de 2011 , página 93)

Independente dessa discussão, Odeon figura no imaginário coletivo sendo um dos choros mais
conhecidos do Brasil e do mundo, ao lado de Apanhei-te, cavaquinho e Brejeiro.

[...] Não existiu uma relação direta entre Nazareth e o mundo dos livros, no
sentido de que, como em outros compositores, a literatura poderia ser um
campo de criação artística estimulante ou “inspiradora” para a criação
musical. “Nazareth estava muito longe do interesse e do círculo literário. Aqui
acontece o contrário. Machado de Assis demonstrou um olhar muito
perspicaz sobre a música do período. Como ninguém, captou e comentou,
entre outras coisas, o processo histórico de formação dos gêneros da música
popular urbana sob o signo da figura rítmica da síncopa (em algumas
crônicas)”.O escritor também teria tocado no tema da singularidade musical
brasileira em transitar pelos chamados espaços do “erudito” e do “popular”,
ao dramatizar no conto “Um homem célebre” a angústia de um compositor de
sucesso popular que queria o reconhecimento do universo erudito. Cacá

Apostila de Análise de Obras do PAS 2 – 2017


Machado observa que, do mesmo modo que Pestana, o personagem do
conto, Nazareth viveu esse dilema como angústia pessoal e como realização
musical em seus tangos. “Nesse sentido, foi a literatura que deu a chave
interpretativa de uma questão musical e histórica: a formação dos gêneros de
música urbana e as questões musicais e estéticas envolvidas nisso”.
(JÚNIOR, Gonçalo , Entre os dois corações e mundo - Revista Fapesp 2005).

Gênero e estrutura:

Odeon sintetiza esse espírito da música de choro, pertencendo a uma série de quase cem tangos
brasileiros, sendo uma obra prima no Gênero e uma das inúmeras peças de Nazareth em que melodia
harmonia e ritmo se entrosam de maneira quase espontânea, com refinamento de expressão, como opina
o musicólogo Aloysio de Alencar Pinto.

Enquanto a mão esquerda executa a melodia engenhosamente elaborada, a mão direita pontua os
acordes. A característica melódica do baixo no choro é um fator de distinção deste gênero musical frente a
outros. A peça é formada por 3 seções diferentes (A,B,C) estruturadas na forma rondó, que nessa peça se
encontra como A,B,A,C,A,B,A. Essa forma é muito comum na música erudita européia.

Osvaldo Lacerda, um grande compositor brasileiro, afirma que Nazareth teria feito o mesmo que o
compositor Chopin fez com as danças populares da Polônia, elevando a um grande nível de arte. A
música de Ernesto representa o choro e as influências europeias na música brasileira. Odeon apresenta
influências da polca e também mistura elementos da cultura local, valorizando a cultura nacional.

“E o tempo teima em provar que ele escolheu o caminho certo. Virou um homem célebre.” - Gonçalo
Júnior ( Revista Fapesp , Edição 117 - 2005)

Matriz de Objetos de Avaliação

O ser humano como um ser que pergunta e quer saber:

A Arte como um campo específico do saber ou saber fazer, sujeito às suas próprias regras e
delimitações, delineia-se e cresce com a participação de sujeitos especializados, os artistas, assim
reconhecidos. De certa forma, “saber”, em música, na tradição europeia, está fortemente ligado a
saber/conhecer essas regras e delimitações, nomeá-las e saber aplicá-las. Conforme essa tradição, há
duas dimensões bem delimitadas: a teoria e a prática. (Página 6, segundo parágrafo)

Indivíduo, cultura e mudança social:

Apostila de Análise de Obras do PAS 2 – 2017


Os contos de Machado de Assis são fontes importantes para se entender as
relações entre história e ficção e a descrição de uma sociedade marcada por desigualdades sociais e
em plena transformação. A música como profissão é, para muitos músicos, compositores e
intérpretes, uma possibilidade de mobilidade social que, em algumas situações, promove a mobilidade
entre classes, como foi o caso de Carlos Gomes, no século XIX, e Michael Jackson, no século XX.
Machado dedica-se ao tema no conto Um homem célebre. A personagem central, o compositor Pestana,
na sociedade carioca de final do século XIX, fazia sucesso com a música da “moda”, a polca. Na
representação individual de Pestana, fazer sucesso com polcas (música
dançante) era muito ruim, pois o seu ideal de composição eram os “clássicos” europeus. Por certo,
é possível encontrar aí relações conflituosas entre indivíduo, cultura e mudança social, sob a tensão entre
a construção da identidade nacional versus a influência europeia. A polca, no Brasil do século XIX, apesar
de identificada à cultura europeia, tinha certa proximidade de códigos, símbolos e representações com a
música que era associada às classes populares, preferida da população pobre e marginalizada da capital
federal de então. A música Odeon, de Ernesto Nazareth, é representativa do gênero choro e das
influências europeias na música brasileira, e também possui proximidades de códigos com o maxixe, ou o
que era chamado à época, tango brasileiro, o ritmo sincopado, dançante, que veio então, originar o que
chamamos de choro brasileiro. O choro era entendido, antes de ser identificado como um gênero musical,
como a forma de se tocar o repertório europeu, um jeito “chorado”. ( Página 12, primeiro e segundo
parágrafos)

A formação do mundo ocidental contemporâneo:

Ainda no século XIX, destaca-se o surgimento da música popular urbana, relacionado ao


desenvolvimento dos centros urbanos. Odeon, de Ernesto Nazareth, traz influências da polca (Europa),
mas também mistura elementos das tradições populares de negros e imigrantes que produziam música no
Rio de Janeiro, como choro ou maxixe. (Página 31, segundo parágrafo)

Materiais:

A diversidade de timbres relaciona-se tanto com os materiais físicos quanto


com a forma como esses são utilizados. Ao longo do tempo, materiais e o seu emprego nas
fontes sonoras têm definido diferentes tipos de criação e interpretação musical, como podemos observar
nas músicas de distintos tempos e espaços como Prelúdio e Fuga nº1 em Dó Maior BWV 846 do Livro 1
do Cravo Bem Temperado de J.S.Bach, a 5ª Sinfonia de Beethoven (Op.67), Odeon, Terceira Pessoa do
Plural, Santuário, Tribunal do Feicebuque. (Página 45, quinto parágrafo)

Apostila de Análise de Obras do PAS 2 – 2017


Questões:

1. Odeon, de Ernesto Nazareth, foi composta 3. Na música Odeon a melodia se encontra no


para a trilha sonora de telenovela de grande baixo, sendo executada pela mão esquerda,
sucesso nos anos 1990. enquanto a mão direita apenas complementa
com acordes.
Subprograma 2013 – Segunda Etapa Caderno: GAUGUIN
Página 4, questão 24 Questão inédita - Tudo sobre o PAS UnB 2017

2. A música Odeon, de Ernesto Nazareth, traz 4. Música europeia ou originalmente brasileira?


influências orientais e mistura elementos das Música “do povo” ou da “elite”? Discorra sobre
tradições indígenas. as influências nas obras de Ernesto Nazareth.

Questão inédita - Tudo sobre o PAS UnB 2017


(Mínimo 5 linhas)

Questão inédita - Tudo sobre o PAS UnB 2017

Fontes:

http://ernestonazareth150anos.com.br/Chapters/index/15 - Acesso em 15/3/2017

http://ludovica.opopular.com.br/blogs/papo-musical/papo-musical-1.862967/ernesto-nazareth-erudito-ou-
popular-1.953929 - Acesso em 15/3/2017

http://www.cespe.unb.br/pas/arquivos/pas_2017/Matriz%20de%20Objeto%20de%20Avalia%C3%A7%C3
%A3o%20do%20PAS-%20Segunda%20Etapa.pdf - Acesso em 15/3/2017

http://revistapesquisa.fapesp.br/2005/11/01/entre-dois-coracoes-e-mundos/ - Acesso em 15/3/2017

CARVALHO, Henri de , A obra de Ernesto Nazareth: Síntese da particularidade histórica e da música


brasileiras, Projeto História nº 43. Dezembro de 2011

NUNES, Alvimar Liberato, Raphael Rabello e Odeon de Ernesto Nazareth: Interpretação, arranjo e
improvisação, Belo Horizonte, 2017

(http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/AAGS8SFP62/alvimar_liberato_nunes_
disserta__o_mestrado.pdf?sequence=1) - Acesso em 15/3/2017

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Gabaritos e justificativas

1- E. Justificativa: A obra foi composta em 2- E. Justificativa: A obra não sofreu influências


homenagem aos proprietários da empresa orientais ou indígenas, mas sim influências
Zambelli & Cia, empresa proprietária do cinema européias e das tradições populares dos negros.
Odeon, onde Nazareth trabalhava.
3- C. Justificativa: A mão esquerda executa a
melodia enquanto a mão direita pontua acordes.

Escute a música na versão instrumental para piano. A leitura por si só não é suficiente para entender a
obra. Preste bastante atenção na estrutura da música, já detalhada acima. Onde se inicia uma nova
seção? Há retorno para alguma das seções? O que é repetição e o que é novo? Se preferir acompanhe a
versão da cantora Nara Leão para tentar compreender as seções. Não deixe de escutar e comparar com a
versão instrumental.

Apostila de Análise de Obras do PAS 2 – 2017

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