V. F. DORNELAS1 e C. A. M. da SILVA2
1
Universidade Federal do Espírito Santo, Engenharia de Petróleo
2
Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Ciências Naturais
E-mail para contato: vitoriafeliciodornelas@hotmail.com¹/ candreufrj@gmail.com²
1. INTRODUÇÃO
A determinação do volume de uma reserva petrolífera é de extrema importância para a realização
da operação de exploração e produção de hidrocarbonetos, devido aos altos custos destas operações.
Uma estimativa prévia do volume de hidrocarbonetos que pode ser recuperado se faz necessária para
que o responsável pelo projeto determine se é conveniente continuar com o projeto de exploração ou se
o mesmo se mostrará inviável.
A perfilagem geofísica consiste no registro contínuo dos parâmetros geofísicos captados ao longo
da parede do poço, por meio de ferramentas a cabo, ou ainda, de ferramenta acopladas à coluna de
perfuração (RIDER, 2000 apud ROSA, 2006).
Rocha e Azevedo (2009) afirmam que o perfil é a imagem visual, em relação à profundidade, de
uma ou mais características ou propriedades das rochas atravessadas por um poço. Podem-se obter
dessa forma, perfis do tipo litológico, tempo de perfuração, granulométrico e etc.
Quaisquer que sejam os perfis empregados durante a avaliação de um poço não são fornecidas
diretamente as propriedades de interesse, tais como a porosidade, a permeabilidade, a saturação de
fluidos, etc. Na realidade tais propriedades são aferidas a partir de parâmetros registrados em forma de
medições elétricas, acústicas e radioativas (ROCHA & AZEVEDO, 2009)
𝑉𝑝 (1)
𝜙=
𝑉𝑡
Outro parâmetro de interesse é a resistividade, Sfredo (2006) define como sendo a habilidade de
um material para resistir ao fluxo de corrente elétrica. A medida de resistividade da formação é um dos
métodos primários de identificação de fluido em um reservatório.
A equação de Archie é uma formula empírica que é normalmente utilizada para estimar a
saturação de água, e era válida para quase todos os tipos de formação (SFREDO, 2006). Ransom (1995)
mostra que, para uma rocha composta por um único mineral ou uma combinação de minerais de
proporção constante, Archie sugeriu a seguinte relação:
𝑎𝑅𝑤 (2)
𝑅𝑡 =
𝜙 𝑚 𝑆𝑤𝑛
Onde os parâmetros 𝜙 e 𝑆𝑤 (saturação de água) são expressos como frações. Rw e Rt são as
resistividades da zona de água e zona não invadida, respectivamente, medida em 𝑜ℎ𝑚. 𝑚. 𝑚 é o fator
de cimentação, 𝑛 é o expoente de saturação e 𝑎 é o fator de tortuosidade ou correção local. Os valores
de 𝑚, 𝑛 e 𝑎 são encontrados na tabela 1. Onde a formação siliciclástica tipo 1 pode ser considerada
uma formação arenítica menos consolidada e 2 uma formação arenítica mais consolidada.
Siliciclástica 2 2 2 0,82
Carbonática 2 2 1
3. PERFIS GEOFÍSICOS
Os perfis geofísicos a serem utilizados serão: perfil de raios gama, perfil de resistividade, perfil
de densidade e perfil neutrônico.
4. MÉTODO VOLUMÉTRICO
Rosa et al. (2006) denomina estimativa de reservas a atividade dirigida à obtenção dos volumes
de fluidos que podem ser retirados do reservatório até que ele chegue a condição de abandono. Não
existe uma maneira única de se estimar os volumes originais de hidrocarbonetos e as reservas de uma
jazida de petróleo (THOMAS, 2001). Dentre os métodos mais comumente utilizados destacamos o
método volumétrico.
O método volumétrico tem uma maior utilidade no início da produção e por isso é caracterizado
como método estático, sendo considerado o de maior utilização. O método volumétrico envolve o
cálculo da quantidade inicial in place, através da combinação de mapeamento geológico, análise
petrofísica e da engenharia de reservatório, das frações de petróleo, gás e outros elementos associados
(FERREIRA, 2005).
O volume de óleo inicial in place no reservatório, 𝑂𝐼𝐼𝑃, será dado pelo produto entre o volume
total do reservatório, 𝑉𝑡 , a porosidade, 𝜙, a saturação de óleo, (1 − 𝑆𝑤 ). (DAKE, 1978). Portanto
𝑂𝐼𝐼𝑃 = 𝑉𝑡 × 𝜙 × (1 − 𝑆𝑤 ) (3)
𝑉𝑡 = 𝐴 × ℎ (4)
5. METODOLOGIA
Com base em dados geofísicos, pertencentes ao campo de Namorado – Bacia de Campos,
disponibilizados na literatura pela ANP – Agência Nacional do Petróleo, foram utilizados os dados, em
formato .LAS, de perfis realizados no poço 7NA_0007_RJS. Os dados utilizados correspondem às
leituras dos perfis de raios gama (GR), resistividade (ILD), densidade (RHOB) e neutrônico (NPHI).
O primeiro passo para a realização da estimativa de reserva consiste em gerar gráficos em forma
de perfil geofísico através do software MatLab (R2011a). Em seguida é realizada a análise de cada um
dos perfis geofísicos.
O perfil de raios gama permite identificar o índice de raios gama, com isso o volume de argila na
área perfilada e por consequência sua litologia. Quando associado ao perfil de densidade permite
identificar o tipo do reservatório. Isso resulta também na identificação da espessura do reservatório.
Os perfis de densidade e neutrão (NPHI) são utilizados para estimar a porosidade do reservatório.
O primeiro através de uma relação linear entre o valor de densidade lido e os valores de densidade do
filtrado e da matriz e o segundo através de leitura direta no perfil.
Dado que foram identificados as possíveis formações de acumulação de óleo e elas apresentam
potencial reservatório é necessário inferir sobre o seu conteúdo.
O perfil de resistividade indica quais áreas possuem maior probabilidade de conter óleo, através
da resistividade lida na região de interesse.
Foram necessárias algumas considerações gerais, tais como, densidade do filtrado e da matriz,
resistividade padrão a ser utilizada na zona de água, e quais equações a serem utilizadas para estimar o
volume de argila e a área do reservatório, para enfim poder ser realizado o cálculo do volume do
reservatório.
Os resultados foram organizados em tabelas para melhor visualização. As tabelas serão utilizadas
para mostrar como o método escolhido para estimar a porosidade e a saturação influenciam no cálculo
da quantidade inicial de óleo in place do reservatório.
6. RESULTADOS
Como primeiro passo da avaliação do volume de óleo inicial in place, a figura 1 representa os
gráficos dos perfis geofísicos analisados para o poço 7NA_0007_RJS, pertencente ao campo de
Namorado – Bacia de Campos. O poço foi analisado para cada um dos perfis de raios gama,
resistividade, densidade e neutrão.
De acordo com Silva, Portugal & Vidal (2010), os principais litotipos, do Campo de Namorado,
foram agrupados em três eletrofácies por meio da combinação dos perfis GR e RHOB:
1 2 1 2
𝒉(𝒎) 58 58 𝒉(𝒎) 58 58
𝑶𝑰𝑰𝑷𝝓𝑫 (𝒎³) 1,125 × 1012 1,120 × 1012 𝑶𝑰𝑰𝑷𝝓𝑵(𝒎𝟑 ) 1,004 × 1012 1,001 × 1012
𝑶𝑰𝑰𝑷𝝓𝑫 (𝒃𝒃𝒍) 7,077 × 1012 7,047 × 1012 𝑶𝑰𝑰𝑷𝝓𝑵(𝒃𝒃𝒍) 6,317 × 1012 6,296 × 1012
Tabela 3 - Resultado da avaliação do intervalo 5 do poço 7NA_0007_RJS
Litologia Siliciclástica Litologia Siliciclástica
1 2 1 2
𝒉(𝒎) 14 14 𝒉(𝒎) 14 14
𝑶𝑰𝑰𝑷𝝓𝑫 (𝒎³) 1,809 × 1011 1,808 × 1011 𝑶𝑰𝑰𝑷𝝓𝑵(𝒎𝟑 ) 2,324 × 1011 2,316 × 1011
𝑶𝑰𝑰𝑷𝝓𝑫 (𝒃𝒃𝒍) 1,138 × 1012 1,137 × 1012 𝑶𝑰𝑰𝑷𝝓𝑵(𝒃𝒃𝒍) 1,462 × 1012 1,457 × 1012
7. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Tendo em vista os resultados apresentados para a quantidade inicial de óleo in place, OIIP, nota-
se que ambos reservatórios apresentam grande potencial de reserva de óleo. O potencial em barris de
óleo superam à casa dos bilhões, sendo proporcional a espessura de cada reservatório, à porosidade e a
saturação de óleo. Como o intervalo 3 possui valores maiores em relação à espessura, porosidade e
saturação maiores que os encontrados no intervalo 5 é esperado que seu potencial seja também maior.
Apesar de ser relativamente pequeno o reservatório do intervalo 5, aparenta ser de rochas mais
limpas que o intervalo 3, como pode ser comprovado visualmente observando como a curva do perfil
de raios gama, figura 1-b, se apresenta mais à esquerda no intervalo 5.
A porosidade é o parâmetro mais importante do reservatório. Já que ela define o espaço poroso
disponível para acúmulo de fluido e influencia diretamente a saturação a quantidade inicial de óleo in
place. Os métodos utilizados para avaliá-la, perfil de densidade e neutrão, geraram resultados distintos.
Apesar dos resultados para o intervalo 5 divergirem um pouco, os valores de porosidade foram
suficiente próximos à 20% que além de representarem bons reservatórios, condizem com os dados
disponibilizados pela ANP para a Bacia de Campos. Para os reservatórios Turbiditos Cretáceo e
Terciário a porosidade destas formações se encontram na faixa de 20%-31%.
Os resultados também mostram que os reservatórios possuem boa saturação de óleo, independente
do método de cálculo utilizado. Embora apenas a perfuração possa realmente comprovar a existência
de óleo no reservatório a perfilagem apresenta uma visão inicial do que se esperar da perfuração de um
poço.
8. REFERÊNCIAS
CONTREAS, S. A, C.; CASTRO, J. C. Metodologia para determinar parâmetros petrofísicos de
corte em um campo de petróleo: o caso Socororo, bacia do Oriente, Venezuela. REM: R. Esc.
Minas, Universidade Estadual Paulista –Campus Rio Claro. São Paulo. 2012.
ELLIS, D. V.; SINGER, J. M. Well Logging for Earth Scientists. Segunda edição. Springer. The
Netherlands, 2007.
FERREIRA, D. Curva de Hubbert: uma análise das reservas brasileiras de petróleo. 2005. 101 f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
JAHN, Frank et al. Introdução à Exploração e Produção de Hidrocarbonetos. Segunda edição. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2012.
ROSA, Henrique. Estudo de caracterização de eletrofácies por meio de perfis geofísicos de poços
e de amostras de testemunhos utilizando estatística multivariada. 2006. 230 f. Dissertação
(Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.