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POEMAS INTRAVENOSOS

Era raro viver no sentido direito e progressivo ou ilusório era misterioso o rugir da terra
sob os nossos pés que era o rugido da nossa própria imaginação apavorada com a
grandeza do deserto em frente deserto que era para tantos a vida e o viver autentico sem
transístor nem pilhas nem música nem corpo nem tão pouco destino ou cabeça.

Mas mais forte que o destino era a recusa do destino e o caminhar sempre em recta e em
respeito pela lei universal da gravidade nas alturas era o irascível e o insondável e no
chão dos nossos corações apenas a podridão da terra que nos parecia inerte e quieta
inerte como um relógio de igreja e quieta como uma puta envelhecida pelos anos e
depois comida pelas baratas do bordel.

Era o rigor que amordaçada a vida corria possesso pelo deserto sem limites prováveis a
morte era a causa e o fim e o consumo dos dias sem azul no céu cheios de frio e de
cinzento depois era o pulsar motor acelerado e taquicárdico e o cinzento a ser sempre
mais preto que cinzento e muito cheio de musgo consistente de ranho verde escuro e
larvas submúndicas e estéreis e eternas.

Costumava chamar-lhe pássaro distante e negro antes de estar nas asas de um pássaro
bem mais negro que voava insólito no sentido da queda inesgotável nutrida apenas da
sede de cair e era o mesmo buraco em que D. João caíra na eternidade e foi sagrado no
mal e na abundância do cinismo mais digno e arrepiante e na verdade inspirador do
único respeito – o medo.

De medo se formavam as orgias e de rigor se fardavam nos triunfos os soldados para


que o vinho os saudasse em sua imponência de devastadores de rigor se vestiam os
bravos soldados e de medo que era o nosso medo – nós senhores e escravos e soldados e
generais mas nunca subalternos e em caso algum sargentos.

Era a esfinge altiva e incompreensível era a mágica irrealizável era o bem e o mal a
afogarem-se na pia da inconsciência era o corpo a crescer por dentro da alma asmática e
grande de desejo e imensidão eram as portas que se abriam para a grotesca paisagem
eram as pulgas que fodiam umas com as outras dentro das minhas veias estanques era a
loucura que é o que era e o que é.
POEMAS INTRANSITÁVEIS

Por maldizer outras instituições mais obsessivas das massas trabalhadoras de covas
profundas e sinistras e sinuosas e saltitantes de um sítio para o outro sem que realmente
a nuvem se dissipe por qualquer obra de magia física ou epidémica.

Curvar-se circularmente no chão da terra coberta de tacos e pedras e fluidos demoníacos


e verdes de mistura com entulhos detríticos e fósseis relativamente recentes e limpos de
tal maneira que possam caminhar pela rua sem baixar a cabeça com arrependimentos
líquidos e curiosamente numismáticos plásticos ou implícitos incham em grossas pipas
de desgraças e imprecações encharcadas de seiva desluzida de maquinal e parva tudo
envolvido no conluio para a liquidação total da sensibilidade.

Compilam-se em garras sanguinárias esses obeliscos estáticos da octogésima segunda


repartição da mórbida existência terrena de gravata de sapatos a gravata a separar a
gravata dos sapatos o resto adormecido de calçada de estradas nacionais e municipais e
camarárias e estreitas e longas e umas com desenhos e outras sem desenhos e lixam-se
os detritos com água e vereis mármore quase branco encardido e negro escuro e mortal
e padres e metalúrgicos e canalizadores e muito particularmente leiteiros.

Cavem as profundas catacumbas que por meios possíveis e impossíveis transplantais


para outros civis e vivos.
POEMAS INTROVERTIDOS

Aparece e desaparece:

Quando aparece é uma festa depois desaparece é uma tristeza e as mais hipotéticas
desgraças podem acontecer derivadas do seu desaparecimento inigualável a qualquer
outro desaparecimento excepto um que é o desaparecimento por excelência através da
perda da memória com saudação ritual própria das vezes em que aparece para amenizar
a ideia do desaparecimento por excelência.

Quanto ao aparecimento é sempre breve e alem de breve distante para com os que estão
presentes para assistir ao seu aparecimento ausente e breve logo seguido do
desaparecimento.

Para atenuar o desaparecimento só um novo aparecimento mas se o desaparecimento for


o desaparecimento por excelência é difícil de atenuar por meio de qualquer
aparecimento porque este é breve e ausente e aquele total e definitivo ou melhor
infinitivo visto que quando realmente desaparece é difícil encontrá-lo é mesmo muito
difícil para não dizer impossível e a sua extensão não tem limites e a maior vicissitude é
a que provém desta razão.

O princípio e o fim:

Quando finalmente chega ao fim lembra-se sempre o princípio vê-se que se transformou
no fim e que o fim não podia ser outro senão o princípio que começou tal como acabou
sem nunca existir a mais prudente e sábia ignorância que é o que digeriu o próprio
tempo que é sempre sequioso do fim e quere-o sangrento e exótico e o código do seu
transitar apaga-se ante os olhos abertos e iluminados e ilumina-se para os que estão
fechados antes de ter começado já existia a fuzilaria das acusações seria mais um gemer
de dor animalesca quanto o fim fora sereno e calmo.
Agitação:

Quero que o modo seja sempre outro diferente do que é a seguir ao que é seja sempre
outro que já é e então já não possa ser senão outro que venha depois.

A imagem:

Já era tempo de se descansar um pouco sobre a imagem que se procura e também sobre
aquela que se possui por dentro para onde se olha quando se está só e que se olha pouco
e quase sempre apressadamente aquela que pode ser a mais doce imagem que se
procura.

É bonito ver a imagem que se procura porque ela aparece só para ser vista e para nada
mais pois desaparece logo que deixa de ser vista e só quer ser vista não quer ser despida
da sua aparência de imagem para ser observada detalhadamente no que ela já não é uma
imagem mas uma suprema congestão de uma matéria e a doce imagem se foi vista
mesmo que por pouco tempo ainda bem.
Apêndice:

JASS
(dedicado a charlie parker eric dolphy e albert ayler)

Dos catres e dos anjos que a concebem já que por outros meios impossível se torna falar
dela sem incorrer em vastos e laboriosos riscos de êxtase e triste complacência de tão
inócua e curiosamente igual a todas as outras mas diferente.

Dos filhos da noite com que se nutre e lhes bebe o desgosto e os caga em grossas e
inusitadas pastas moles e densas e portanto fugazes e rebarbativas e essencialmente
musculares.

Do enlaçado harmónico da anémona que inspira e retira de tão imenso dever de viver
por dentro do arcaboiço e de modo algum fora dele.

Do rigor analítico infausto e ridículo que diz ser essa a certeza da medida na rigidez dos
espaços vedados a principiantes explodentes de efusões orgásmicas mais do que de
certezas míticas e quanto ao fundo de si paranóicas.

Duns porque são pretos e dos outros porque são brancos e até de alguns que são azuis e
por sua própria natureza indecifráveis mas compreensíveis a média altitude.

Dos restantes outras memórias descreveram como se de bichos se tratasse mas fósseis
irrecuperáveis embora o Sol cantasse dentro das suas veias como uma bola de claridade
no fundo escuro do esgoto.
PROCLAMAÇÃO

A Águia:

Custa-me crer que seja preciso fustigar a alma com os dardos de sempre imbuídos de
algum suco que sabemos pertencer ao passado mas que também desconfiamos pertencer
ao futuro como uma dessas desconfianças que se tem a propósito de ter perdido a chave
de casa ou de quem chega atrasado ao emprego e desconfia do relógio do capataz
apenas por descargo de consciência.

Eu presentemente não estou certificado de nada do que posso ver com os olhos da
minha paixão e com os olhos da minha cara sem vergonha nem anseio alguns de que os
seus olhos olhem e de que quando olham vejam aquilo que está às claras mesmo para
ser visto pelos que olham para ver e encoberto aos que procuram discernir para depois
poderem afirmar.

Quando por algum tempo deixa de existir o suporte do real é que é vê-los a afirmar e
depois durante algum tempo já não se pode afirmar e então é que é bom afirmar porque
aquele que afirma só afirma o que já foi por ele afirmado ou foi afirmado por outro que
também é ele embora não saiba a tragédia da afirmação nunca ocorre embora a sua
preponderância seja permanente e a ideia da tragédia seja ilusória como ilusória é a
ideia da sua dimensão os que a aumentam dão-se mal porque vivem tristes e os que a
atrofiam também se dão mal por outras razões que no fundo são as mesmas os que
procuram afirmar com plena consciência são os mais grosseiros e lamentável é a sua
sina ridícula pois o que afirmam com tanta consciência parece pouco depois palha seca
na fogueira endiabrada da inconsciência e prova cabal da grande inconsciência.

Antes o homem fosse como a águia que nunca afirma nada mas cuja presença é basta e
invulgarmente afirmativa antes o homem tivesse penas a cobri-lo em vez de ter
vergonha como tem em vez das penas que lhe escapam ou que por uma ou outra razão
entende mal se ao menos não entendesse nada já não era mau ou pelo menos não era tão
mau como entendê-las mal que é tê-las cravadas na carne e com grande desgosto e
grande dor arrancá-las para não ser como a águia superior e afirmativa e ser apenas um
animal nu e flácido encolhido com temor da própria grandeza precariamente equilibrada
no mal-entendido da sua superioridade.

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