R E V I S T A
7
Ano III
Janeiro
Fevereiro
Março
Publicação da Companhia 2018
de Água e Esgoto do Ceará
Operação
de guerra
A batalha da equipe da
Cagece em Crateús para
operar a maior e mais
complexa adutora do Ceará
e abastecer uma cidade
com 52 mil habitantes.
TRAZ
BENEFÍCIOS
Os dejetos serão
coletados e tratados,
assim você não vai
precisar se preocupar
com o destino deles ou
como descartá-los. Além
disso, previne doenças
como a diarreia, já que
traz saúde e qualidade
de vida à sua família.
AJUDA O
MEIO AMBIENTE
Estar interligado com
a rede de esgoto é
importante para o meio
ambiente, pois não
contamina os mananciais.
É LEI
Por lei, em Fortaleza,
todos os imóveis devem
estar ligados à rede de
esgoto, com exceção de
onde não existe redes
disponíveis. Caso não
ocorra a regularização,
o dono do imóvel
será multado.
Cagece
R E V I S T A
Revista Cagece é uma publicação trimestral da Companhia de Água e Esgoto de Ceará – Cagece
Av. Dr. Lauro Vieira Chaves, 1030 – Vila União – CEP: 60.420-280 – Fortaleza - CE
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EDITORIAL
OS HERÓIS ANÔNIMOS E A
MAIOR ADUTORA DO CEARÁ
A
matéria de capa desta edição da Revista Cagece convida
você para conhecer um dos muitos desafios enfrentados
nesses tempos de seca. Estamos falando da manutenção
da adutora Araras, a maior do estado, com 160 quilômetros e
que tem ajudado a evitar o colapso no abastecimento de água de
Crateús, município localizado no sertão do Ceará.
Entenda como manutenção a observação diária em todo com-
primento da adutora, assim como a solução rápida para vaza-
mentos, comuns em virtude da alta pressão da água. Todos os
cuidados com a adutora Araras possuem a assinatura simbólica
de dezenas de trabalhadores. O serviço não é fácil. É exaustivo
e, muitas vezes, executado com sol a pino. Gratificante mesmo é
saber que não vai faltar água na cidade. Esses trabalhadores são
como heróis anônimos.
Vale conferir o pensamento de gestores dos recursos hídricos sobre
o que nos espera ao longo de 2018, além de outras reportagens que
vão deixar você em dia com o saneamento do Ceará.
Não deixe de conferir também a entrevista com o secretário
Chefe de Gabinete do Governo do Ceará, Élcio Batista, que mostra
que água é fundamental para o desenvolvimento humano.
Boa leitura!
10
CARIRI
Formação
geológica da
região favorece
abastecimento por
poços.
44
REDE
COLETORA
Sensibilizar para
a interligação
ainda é um
grande desafio.
46
COMPLIANCE
32 Cagece avança na
implantação de
compliance.
ENTREVISTAS
Gestores falam sobre
avanços e desafios.
28 SUMÁRIO
DESERTIFICAÇÃO
Período prolongado de
seca pode contribuir
para o fenômeno no
Ceará.
18
ADUTORA ARARAS
A mais extensa adutora do Ceará
tem 160 quilômetros.
SEÇÕES
50 08 PECÉM | Cagece avança em estudos
de reúso
ÁGUA PARA
ARTIGO | O Novo Rural: Sisar promove
CIDADANIA
Projeto-piloto em 13 desenvolvimento e qualidade de vida
no campo
quatro comunidades
14
de ocupação PMSB | Plano de saneamento: Cagece
irregular. atua em parceria com municípios
54 31 ARTIGO | Governança de TI
ECONOMIA
Em Fortaleza 237
condomínios já
42 LANÇAMENTO | Livro marca gestão
hídrica do Ceará
adotaram medição
individualizada.
56 ENTREVISTA | Élcio Batista,
secretário Chefe de Gabinete
CAGECE AVANÇA
EM ESTUDOS
DE REÚSO
por JILWESLEY ALMEIDA fotos DAVI PINHEIRO
A
Companhia de Água e
Esgoto do Ceará (Cagece), Governador Camilo Santana visitou
através da sua sociedade projeto-piloto de Reúso no Pecém
de propósito especifica,
SPE Utilitas Pecém, estuda
projeto que visa produzir água de reúso a
partir do tratamento do esgoto gerado pela
Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) e
pela empresa Eneva, ambas localizadas no
Complexo Industrial e Portuário do Pecém
(CIPP). A iniciativa tem por objetivo abas-
tecer indústrias do próprio polo industrial
e econômico do estado, para que dessa
forma se possa priorizar ainda mais a água
dos mananciais para o abastecimento da
população cearense.
Os testes de reúso de água com os
efluentes gerados pelas duas empresas do
CIPP já foram realizados pela Cagece em
parceria com a empresa francesa Suez. O
projeto em escala piloto chegou a produzir
13m³/h de água. De acordo com o diretor de
Engenharia da Cagece, José Carlos Asfor,
os estudos feitos com base no volume pro-
duzido inicialmente demonstraram que
o produto final atende aos parâmetros de
qualidade das indústrias do polo.
O projeto encontra-se agora em etapa
de conclusão dos estudos de viabilidade
econômica para que, na sequência, sejam
Cagece 9
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A EXPERTISE NO
ABASTECIMENTO
POR POÇOS NO
CARIRI
por ÉRICA BANDEIRA fotos NÍVIA UCHÔA
Cagece 11
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Uma das formações mais antigas do Cariri é a Gruta do Farias, com mais
de 100 milhões de anos. Localizada no sopé da chapada do Araripe, a
gruta arenítica produz cerca de 200 mil litros de água por hora
abastecimento por poços é que não há formação sedimentar, começa toda a parte
perdas por evaporação, diferentemente do cristalino, o que acaba beneficiando
do que acontece no abastecimento por a região por causa da retenção da água.
açude, no entanto, “uma das dificuldades É por isso que existe essa diferença tão
do abastecimento por poços é dimensionar grande de que aqui é verde e em outras
a quantidade de água disponível", acres- áreas não.” complementa Celme.
centou Celme Torres. Mas não há dúvidas Porém, o solo da bacia sedimentar do
de que o Cariri é uma região que detém Araripe não se estende a todas as cidades
bastante água, deixando a localidade em da região e em alguns locais operados pela
situação mais confortável quanto aos Cagece, por exemplo, o abastecimento de
recursos hídricos disponíveis para abas- água acontece através de águas superfi-
tecimento humano. ciais, por meio de açudes, como as cidades
Além de contar com a abundância de de Altaneira, Lavras da Mangabeira, Cedro
água subterrânea, o Cariri ainda desfruta e Aurora e os distritos de Quitaiús, Iara e
de outra característica importante para a Ingazeira. A realidade de algumas cidades
manutenção dessa grande reserva hídrica, circunvizinhas e de diversas cidades do
é que a Chapada do Araripe, que é uma área estado é preocupante, principalmente
de recarga natural, apresenta uma incli- porque os locais abastecidos por açudes
nação de 5% para o lado do Ceará, o que dependem de uma boa quadra chuvosa,
faz com que toda a água de chuva escorra o que tem sido difícil nos últimos seis
na direção do Cariri. “Isto é uma formação anos com a estiagem. Isto deve servir para
natural que beneficiou a região, pois as que todos estejam atentos à dureza da
águas de chuva se acumulam na bacia realidade imposta pelas dificuldades da
sedimentar. Além disso, quando termina a escassez hídrica.
A importância e a
necessidade de cuidar
Tantas características naturais que questão muito grave e uma ameaça
beneficiam a região do Cariri exigem, muito grande à qualidade da água. Sem
portanto, atenção e cuidado. Alguns falar que um aquífero contaminado
aspectos precisam ser considerados é um aquífero perdido. Se a gente
para a garantia desse manancial e contaminar esse aquífero, a gente pode
da riqueza natural do local, já que há extinguir esse oásis no semiárido.”
fatores que podem comprometer, a A Cagece tem realizado trabalhos no
longo prazo, esses atributos que tanto sentido de conscientizar a população
beneficiam e diferenciam o lugar. É sobre o uso responsável da água e
preciso lembrar que a água, elemento também sobre a importância de se
essencial para a vida, não se trata de interligar à rede coletora de esgoto
um recurso inesgotável e isso requer da companhia com apresentação de
consumo responsável, zelo com a palestras e distribuição de material
Chapada do Araripe e cuidado com o educativo durante as visitas de
solo da região. sensibilização porta a porta, orientando
É preciso repensar o consumo de a população sobre a importância e os
água, especialmente neste cenário de benefícios da utilização da rede coletora
seca, garantir a preservação da Chapada de esgoto tanto para a saúde quanto
do Araripe, a rica reserva ecológica da para o meio ambiente. As fontes de
região, e também cuidar do solo, onde água servem à vida humana, mas é
está armazenada toda a água, e dar fim necessário entender que é preciso,
a possibilidade de contaminação por antes de tudo, cuidar. O cuidado com os
esgoto lançado de forma indevida. De recursos naturais é a maior garantia de
acordo com Celme Torres, “essa é uma uma vida com qualidade.
O NOVO RURAL
A
pesar de ser considerado um direito e um componente A Cagece, através da Gerência de Saneamento Rural, vem
fundamental na qualidade de vida da população, o acesso numa constante busca de melhorias e aperfeiçoamento, tanto
à água tratada ainda é um dos grandes desafios do Brasil para o modelo Sisar quanto para os projetos de construção
no século XXI, principalmente quando se trata de áreas rurais. de SAA e assim continua garantindo a correta aplicação do
A população rural está distribuída por todo território brasileiro, recurso por parte do estado, como também a evolução do
porém, apresenta um aspecto de concentração em algumas Sisar nas localidades.
regiões. De acordo com o Censo Demográfico realizado pelo As ações para o desenvolvimento do saneamento rural em
IBGE/2010, há cerca de 29,9 milhões de pessoas que vivem em nosso estado são uma constante. Recentemente os Sisar's
áreas rurais. Quase metade está distribuída em cinco estados: estão realizando parcerias com empresas privadas e recebendo
Bahia, Minas Gerais, Maranhão, Pará e Ceará. recursos para implantação de novas tecnologias; houve a
Estando entre os cinco estados que possuem maior população criação do instituto Sisar que visa melhorar o relacionamento
rural, no Ceará – ao longo dos 21 anos após a fundação do pri- com fornecedores, investidores e assim ter mais economia
meiro Sisar no estado – é notória a evolução das associações, em escala, excelência e celeridade nos serviços; outra prática
da saúde e da qualidade de vida dos cidadãos. O modelo de de muito sucesso nas comunidades é o Sisar em ação, com
gestão Sisar iniciou o gerenciamento com 32 comunidades práticas de esportes, música e cultura, buscando o resgate da
filiadas atendendo a 30 mil pessoas. Ao longo desses anos, o cultura local e o empoderamento das associações.
número de comunidades filiadas passou para 925, atendendo Embora haja muito o que lutar para a melhoria das condições
a 551.487 pessoas. O maior patrocinador para essa evolução sanitárias das comunidades rurais, é observado que tivemos
são as políticas públicas do nosso estado que sempre tiveram grandes avanços, onde hoje, temos uma população bem mais
uma visão voltada para o atendimento aos mais necessitados, assistida por programas e investidores que objetivam o acesso
buscando a universalização da água através de empréstimos à água de qualidade.
com bancos nacionais e internacionais e, além das ações do O objetivo do fortalecimento das ações do Sisar é contribuir
estado, a iniciativa da Cagece em executar a replicação do para que os brasileiros tenham uma visão ampla da ruralidade
Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar) para as outras brasileira, e que o “novo rural” tenha espaço para novas par-
bacias hidrográficas do estado. cerias, sejam elas públicas ou privadas. O importante, acima
A política do Governo do Ceará para o acesso à água tra- de tudo, é que as políticas públicas levem em conta a diver-
tada na zona rural, que incluí a construção de Sistemas de sidade desse meio, pois, além de ser um espaço de trabalho
Abastecimento de Água (SAA) simplificados e o total apoio e produção é também um espaço de resgate da cultura e da
ao modelo de gestão Sisar, vem contribuindo para um novo qualidade de vida. Por tudo isso, o Ceará pode se orgulhar de
cenário no meio rural no nosso estado. levar para o Brasil e o mundo um novo modelo.
Por muitas décadas era comum que, em tempo de seca, os
moradores da zona rural deixassem suas casas e migrassem
para a cidade em busca de, entre outras coisas, água. Hoje,
mesmo após seis anos de seca, é mais difícil ver essa cena
principalmente nas localidades geridas pelo Sisar, pois este
conseguiu manter a maioria dos seus mananciais ou foi em
busca de fontes alternativas para garantir o abastecimento.
O modelo de gestão Sisar é reconhecido como um dos
melhores do mundo na sua área de atuação e serve de exemplo OTACIANA ALVES é tecnóloga em Recursos Hídricos
para vários estados e países da América Latina que possuem e Saneamento Ambiental, mestre em Gestão de Recursos
características similares às do Ceará. Hídricos e gerente de Saneamento Rural da Cagece.
Cagece 13
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PMSB
Aprazível
Jaibaras
PLANO DE
SANEAMENTO:
CAGECE ATUA EM
PARCERIA COM
MUNICÍPIOS
por LUCAS PINHEIRO E RENATA NUNES
O
da situação atual do sistema
de abastecimento de água e
esgoto, estudos relacionados
Plano Municipal de Sane- acompanhamento e cumprimento dos às condições de vida da
amento Básico (PMSB) é objetivos definidos. “A Cagece apoia dire- população, prognóstico com
um instrumento de gestão tamente alguns municípios na elaboração objetivos e metas de curto,
participativa utilizado dos planos de saneamento, conduzindo médio e longo prazos e projetos
pelos municípios para a elaboração dos eixos voltados para de emergência/contingência.
alinhar as diretrizes do saneamento abastecimento de água e esgotamento Além disso, mecanismos para
básico e direcionar os investimentos sanitário. Esse trabalho acontece por monitoramento e avaliação da
no setor, objetivando a universalização meio de convênio de cooperação técnica”, eficiência e eficácia das ações e
dos serviços. A Cagece oferece suporte à explica a supervisora. revisão do plano também estão
elaboração de todos os planos dos muni- Já nos outros 67 municípios, a Cagece em andamento.
Cada município estabelece
cípios em que atua. Dos 151 municípios atua por meio de apoio indireto, con-
o seu plano de acordo com
atendidos, 92 já iniciaram ou concluíram tribuindo por meio de participação nas
suas necessidades, porém,
seu planos. Desse total, a Cagece atuou ou reuniões setoriais, revisão de documentos existem alguns princípios
atua mais fortemente na elaboração de 25. e levantamento de dados. Nesses locais, fundamentais da lei que são
Nesses 25 municípios, a Cagece possui por intermédio da Gerência de Concessão inerentes a todas as cidades.
convênio de cooperação técnica e, jun- e Regulação, a companhia participa e Dentre eles, a universalização
tamente com as prefeituras, atua dire- dá suporte técnico às prefeituras que do acesso, transparência das
tamente na elaboração e redação do avançam na construção dos planos em ações, controle social, segurança,
plano. Dentro desse grupo, 11 cidades conjunto com outros convênios, que qualidade e regularidade.
já tiveram seus PMSBs concluídos com podem se dar com empresas públicas Cabe lembrar que quatro
a participação direta da companhia. ou privadas. atividades compõem os serviços
São eles: Aquiraz, Cascavel, Crateús, de saneamento básico: coleta
de lixo, drenagem e manejo
Marco, Mauriti, Novo Oriente, Parai- CENÁRIO ESTADUAL
das águas pluviais urbanas,
paba, Santa Quitéria, Tauá, Tianguá e Após 11 anos da implantação do marco tratamento e distribuição de
Viçosa do Ceará. Os demais municí- regulatório do setor de saneamento básico água e esgotamento sanitário.
pios que encontram-se com planos em no Brasil, a conclusão dos PMSBs ainda é
andamento, contando com a participação um desafio para os municípios. No Ceará,
ativa da Cagece são: Baturité, Capistrano, a implantação dos PMSBs teve início em CORRENDO CONTRA
Itaitinga, Itapipoca, Maracanaú, Marti- 2011, por meio de uma articulação envol- O TEMPO
nópole, Pacajús, Parambu, Pentecoste, vendo Secretaria das Cidades, Associação Em dezembro de 2017, o decreto
Quixadá, Redenção e Ubajara. Cabe res- dos Prefeitos do Ceará (Aprece), Agência Federal 9.254/2017, publicado
saltar que, quando existe esse convênio, Reguladora de Serviços Públicos Dele- pela Presidência da República,
a cooperação técnica da Cagece com a gados do Estado do Ceará (Arce) e Cagece. ampliou em mais dois anos o
prefeitura é formalizada e a atuação da Fortaleza teve todo o processo de elabo- prazo para que os municípios
empresa na formulação do documento ração do PMSB concluído em dezembro concluam seus planos de sanea-
se torna mais ampla. de 2015. A Cagece atuou no plano por mento. De acordo com o decreto,
Segundo Priscila Alencar, supervisora meio de apoio indireto, levantando os a partir de 31 de dezembro de
de PMSB da Cagece, a função da empresa dados necessários e oferecendo suporte. 2019, o PMSB será condição exi-
nos municípios onde atua diretamente O convênio deste PMSB foi feito por meio gida para o acesso aos recursos
no plano tem se dado em todas as etapas da Prefeitura de Fortaleza em conjunto da União e dos órgãos da admi-
do documento, desde a elaboração até o com a empresa Acquatool. nistração pública federal.
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COMITÊ DE BACIAS
COMITÊS DE BACIAS:
20 ANOS ATENTOS
AO NOSSO BEM MAIOR,
A ÁGUA
por MARA BEATRIZ
ilustração LÉZIO LOPES
fotos ARQUIVO COGERH
E
m 2017 comemoraram-se No caso do poder público municipal, que delibera sobre as águas do
os 20 anos de atuação dos participam prefeituras e câmaras munici- Castanhão, Banabuiú e Orós, a
Comitês de Bacias no Ceará. pais; do poder público estadual e federal, participação é imensa”, completa.
Os colegiados que reúnem todos os órgãos ligados ao meio ambiente;
o poder público municipal, representando a sociedade civil orga- A ESCASSEZ HÍDRICA E OS
estadual e federal, além da sociedade nizada, entidades que tenham algum ESFORÇOS NO ENFRENTA-
civil organizada e dos usuários, os trabalho em meio ambiente ou em gestão MENTO À SECA
comitês promovem discussões sobre a de recursos hídricos; e no caso dos usu- Esses seis anos de seca fizeram
gestão da água de forma participativa ários, todas as instituições que utilizam o Ceará se reinventar. Depois
e tendo importante papel na locação água como insumo. A Companhia de de uma década de abundância,
de águas e na gestão de conflitos pelo Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) com três episódios de cheias, o
seu uso. tem secretarias executivas nos 12 comitês. Estado enfrenta agora a maior
Atualmente, são 12 os comitês que seca da sua história. E, como diz
cobrem todo o território cearense de PARTICIPAÇÃO POPULAR o ditado, a dificuldade ensina. “O
acordo com suas regiões hidrográficas, Segundo Clara Sales, gerente de Gestão Governo do Ceará tem buscado
sendo referência nacional tanto pelo pio- de Recursos Hídricos da Cogerh, “a par- cada vez mais novas tecnolo-
neirismo – o Ceará foi, acompanhado do ticipação popular aumentou bastante nos gias. O reúso da água hoje está
Rio Grande do Sul e de São Paulo, uma últimos anos por conta do agravamento da sendo muito estudado, inclusive
das primeiras unidades da federação a crise hídrica, uma vez que os comitês de pela Cagece. A dessalinização,
pensar seus comitês – quanto pelo fato bacias definem a locação dos reservató- apesar de ser uma solução cara,
de estarem não apenas constituídos, mas rios que fazem a perenização dos grandes é necessária, sem falar na trans-
atuantes (reunindo-se pelo menos quatro vales”. Como exemplo, ela cita a reunião posição do rio São Francisco,
vezes ao ano, cada um). com participação dos cinco comitês do uma obra muito grande”, pontua
Todos têm suas diretorias represen- Vale do Jaguaribe, ocorrida em junho Clara Sales.
tadas no Fórum Estadual de Comitês, passado, em Iguatu, com participação de Nesse período de crise hídrica
que discute questões comuns a todas as cerca de 500 pessoas. “Como é uma região os comitês são fundamentais por
bacias, tais como cobrança, questões de serem, legalmente, os grandes
outorga, transposição do Rio São Fran- mediadores do uso da água. Para
cisco, o próprio abastecimento humano Clara, “a política de recursos
nas cidades e medidas mitigadoras da A água tem que ser hídricos é essencial, pois sem
seca, por exemplo. bem cuidada e se água não há vida, não há desen-
A gestão participativa da água é volvimento, não há nada. A
garantida por cotas na composição das a gente não fizer água tem que ser bem cuidada
diretorias eleitas, fixadas em 30% das isso está fadado e se a gente não fizer isso está
vagas para a sociedade civil organizada;
30% para os usuários; 20% para o poder
ao colapso total. fadado ao colapso total. Água
é desenvolvimento e sempre
público municipal e 20% distribuídos vamos precisar dela pra fazer
entre poder público estadual e federal. O Clara Sales, tudo, tanto pra viver, que é o
decreto estadual 26.462, de 2001, é quem Gerente de Gestão de Recursos essencial, quanto para produzir
estabelece essas porcentagens. Hídricos da Cogerh as nossas mercadorias”.
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CAPA
ARARAS
OPERAÇÃO DE GUERRA
PARA ABASTECER
CRATEÚS
por RENATA NUNES fotos DEIVYSON TEIXEIRA
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Uma cidade com 52 mil
habitantes para abastecer,
cujo manancial mais próximo
se localiza a 160 km de
distância. Assim nasceu
a Araras, da necessidade
de levar água à população
de Crateús. Construída
emergencialmente há dois
anos, operar a adutora
hoje tem sido uma tarefa
complexa. Mesmo assim,
a equipe da Cagece se
A
mantém firme com mais de
30 pessoas, trabalhando 353 km de Fortaleza, uma gigante
habita Crateús. Sua gênese está
24h por dia numa rotina localizada na cidade de Varjota,
em um açude homônimo que, em
beligerante e persistente. meio a muitos que ali já sucum-
biram, resiste fortemente ao oitavo ano de seca
da região. Estamos falando da adutora Araras.
A equipe da Revista Cagece percorreu os 160 km
da maior e mais complexa adutora do estado,
acompanhando de perto a rotina dos que se des-
dobram 24h por dia em uma atividade que mais
parece ser uma operação de guerra: transportar
água de forma contínua para uma cidade de 52
mil habitantes, por meio de uma adutora que foi
construída para ser emergencial.
A adutora Araras foi pensada em março de
2014, depois da estiagem secar totalmente o Car-
naubal, o principal açude da cidade e, até então,
responsável pelo abastecimento de Crateús. O
objetivo do Governo do Ceará com a obra foi
evitar, de forma emergencial, o colapso hídrico
Imagem do açude Araras no município. Para isso a estrutura planejada
que está com 7,3% da deveria ser grande o suficiente para captar água
sua capacidade e ainda do manancial com bom volume e que estivesse
representa alívio para mais próximo. O problema é que o manancial
algumas cidades mais próximo ainda era distante: o açude Araras.
A primeira dificuldade foi enfrentada por meio
Ipú
Hidrolândia
Ipaporanga
Nova
Russas 7 cidades
160 km de extensão
Crateús
Cagece 21
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Driblando
Para driblar todos esses percalços, Às 22h de uma quarta-feira bem
a operação não mede esforços e comum, em um trecho escuro e
a gigante
nem estratégias na manutenção da bastante recuado da estrada, os
adutora. Atualmente, uma equipe seis operadores - Dieines, Francisco,
de pelo menos 30 homens trabalha Arthur, Zé Antônio, Alex e André -
diretamente com a adutora. As liderados pelo coordenador Técnico
atividades consistem em retirar de Operações da Cagece, Fernando
vazamentos, driblar os furtos de água Amorim, e pelo gerente da unidade,
e realizar o monitoramento diário da Dalmo Barreto, chegaram ao local
estrutura. Tudo isso com o objetivo da ocorrência em três carros e uma
de continuar garantindo a segurança retroescavadeira. Logo todos estavam
hídrica da cidade, mas com uma com as roupas trocadas, refletores de
motivação a mais: garantir a de suas luz apontados para a tubulação e as
próprias famílias. “Quando minha ferramentas a postos para retirar um
equipe é a da vez eu já me preparo. vazamento de grandes proporções
Vou pra casa e quando o vazamento que, de acordo com o diagnóstico dos
aparece saio determinado a resolver. profissionais, teria sido causado por
Se for preciso passo a noite inteira, uma tentativa de furto de água.
o importante é não desabastecer O vazamento da vez foi retirado em
nossas famílias e amigos. Para isso não cerca de quadro horas após a chegada
medimos esforços, chegamos a retirar dos profissionais e a solução escolhida
nove vazamentos por semana”, conta foi a utilização de solda e abraçadeira,
Dieines Vieira, operador da adutora um método desenvolvido pela equipe
há quase dois anos. Essa complexa que, além de solucionar o problema,
operação foi acompanhada em campo tem como objetivo reforçar a estrutura
pela Revista Cagece. e impedir ocorrências semelhantes.
Dalmo Barreto,
gerente da Unidade de Negócios Bacia do Parnaíba
Cagece 23
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Colaboradores revezam
do emergencial
As ações das equipes não restringem-se revezam na operação desse equipamento.
apenas às emergenciais. Elas também Por meio desse trabalho, é necessário
realizam manutenções programadas, tro- identificar queda de pressão, o que pode
cando trechos vulneráveis e realizando o indicar ocorrência de vazamento ou furto
monitoramento da adutora. Todos os dias de água. Dessa forma, a Cagece é capaz de
dois profissionais da Cogerh (Companhia detectar um vazamento antes mesmo dele
de Gestão dos Recursos Hídricos) fazem se tornar visível.
uma ronda por toda a extensão da adu- Não é fácil e nem barato manter uma
tora a fim de identificar trechos críticos ou operação desse porte, que abrange moni-
danificados, para substituí-los antes que se toramento, manutenção e execução de
tornem um problema maior. Graças a esse serviços. Além dos gastos da Cagece com
trabalho, já em 2018, a Cogerh pretende toda a operação, que hoje estão em apro-
trocar pelo menos 5 mil metros de tubu- ximadamente R$ 200 mil reais mensais, a
lação da adutora que já aparentam desgaste. Cogerh investe cerca de R$ 300 mil reais
As estações elevatórias são outra parte em custos com energia elétrica para manter
do equipamento que também necessitam adutora e estações elevatórias em pleno
de manutenção e muita atenção. Elas são funcionamento. O que significa dizer que
as estruturas responsáveis por elevar a atualmente são necessários R$ 500 mil
pressão necessária para mandar a água reais por mês apenas para levar água do
de uma ponta a outra. No total, a adutora açude Araras até a estação de tratamento da
Araras possui quatro estações elevatórias e, Cagece. Ao chegar lá, a água ainda será tra-
em cada uma, quatro bombas de operação tada por meio dos processos de coagulação,
manual. Para gerir esse equipamento de decantação e filtração, o que demanda mais
forma satisfatória é necessário que um um valor de R$ 75 mil reais para a Cagece.
profissional monitore e controle as pressões Após o tratamento, a água é dividida entre
24 horas por dia. Assim, os colaboradores se os dois reservatórios localizados dentro da
As estações
elevatórias também
estação da companhia, um elevado, com se localizam
capacidade de 1500 m³, e um apoiado, que
conta com 750m³, construídos assim como distantes uma da
mais uma forma estratégica para não deixar outra, em Crateús,
nenhuma parte da cidade desabastecida.
Outra iniciativa da Cagece no sentido de
Ipu, Tamboril e
distribuição de água são os reservatórios de Ipaporanga, por isso
água metálicos. O grande diferencial destas é necessário que
caixas d’agua modernas é que elas podem
ser facilmente removidas e rapidamente se tenha sempre
instaladas em outro ponto. um operador por
Toda essa megaoperação está em cons-
tante aperfeiçoamento por parte dos pro-
lá. Além disso, eles
fissionais envolvidos. Além do monito- controlam níveis de
ramento contínuo, estudos de melhores
horários para retirada de vazamento
óleo, manutenção do
sem causar grandes transtornos à cidade equipamento, etc. O
e expertise da equipe, que está sempre trabalho humano é Adutora Araras
apresentando novas ferramentas e téc-
nicas originais de retirada de vazamentos. fundamental aqui na Tempo de operação: 30 meses
O trabalho que inicia muito antes do sol elevatória. Tamanho: 160 km
nascer nunca tem hora para terminar. E é Diâmetro: 500 mm
assim que a grandiosa e complexa adutora
Vazão: 300m³/s
tem sido, ao mesmo tempo, a salvação Fernando Amorim,
e o problema do abastecimento de água coordenador Técnico de Custo mensal: R$ 500 mil
em Crateús. Operações da Cagece Ligações beneficiadas: 20 mil
Cagece 25
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Dois anos a
mais de peleja
Enquanto Fortaleza e a maioria das cidades do Ceará
estão no sexto ano consecutivo de estiagem na cidade
de Crateús, já está no oitavo ano. De 2010 até o ano
de 2017 a cidade vive oficialmente situação crítica de
escassez hídrica.
Crateús está localizada no Sertão dos Inhamuns, uma
microrregião cuja bacia Sertões de Crateús é composta
por mais outros cinco municípios: Independência,
Quiterianopólis, Novo Oriente, Ipaporanga e Tamboril.
A situação de escassez se dá, obviamente, pela falta
de recarga nos açudes da região. Atualmente, nos
sertões de Crateús, a bacia acumula apenas 1,18%
de sua capacidade total. Se considerarmos o Araras
que, apesar de estar fora da bacia, abastece a região
de Crateús, esse número sobe para 9,24%. Neste
município, três açudes já secaram, sendo eles,
o Realejo, o Barragem do Batalhão e, o Carnaubal
chegou ao volume morto em 2013, sendo a última vez
que sangrou em 2014. Independência, Barra Velha,
Cupim e Jaburu II também secaram. O mesmo ocorreu
com o Flor do Campo, em Novo Oriente, e com o
açude Sucesso, em Tamboril. Em Ipaporanga, o São
José III encontra-se com apenas 0,01% de volume. Já
em Quiterianópolis, o açude Colina acumula 0,86% de
sua capacidade.
De acordo com Dalmo Barreto, de 2015 até hoje já
foram utilizados, no total, 15 açudes para garantir o
abastecimento de Crateús. Após o Carnaubal secar
completamente, a solução mais definitiva encontrada
foi recorrer ao Araras, que atualmente encontra-se com
pouco mais de 8% de sua capacidade de reservação.
Cagece 27
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DE
SER
TI
FI
CA
ÇÃO
por JOYCE SOUZA
fotos DEIVYSON TEIXEIRA E ARQUIVO FUNCEME
D
esertificação: degra- As pesquisas sobre o tema não pararam
dação de terras, nas por aí. Em 2009, a Funceme realizou
zonas áridas, semiáridas um novo estudo em escala mais deta-
e subúmidas secas. Essa lhada, na região do médio Jaguaribe - nos
é a definição do termo de municípios de Jaguaribe, Jaguaretama,
acordo com a Convenção das Nações Jaguaribara, Alto Santo, Iracema, Poti-
Unidas de Combate à Desertificação e retama, São João do Jaguaribe, Limoeiro
Mitigação dos Efeitos da Seca (UNCCD). do Norte e Morada Nova. “Os municípios
A Fundação Cearense de Meteorologia de Jaguaribe e Jaguaretama são os que
e Recursos Hídricos (Funceme) segue se apresentam mais atingidos por esse
as determinações desta convenção, fenômeno”, ressalta Sônia.
uma vez que o Brasil é um dos países Já em 2015, foi elaborado um mape-
signatários, que fazem parte do acordo amento e caracterização de toda a área
com a UNCCD e tem comprometimento susceptível à desertificação no Brasil. Ter-
com o tema. ritório esse que é formado por uma região
É um fenômeno que ocorre em decor- semiárida e subúmida seca do país. Para os
rência de vários fatores, principalmente pesquisadores da Funceme, os resultados
devido às ações humanas e às variações não foram animadores. “Esse estudo apre-
climáticas. No caso do Nordeste, que senta o estado do Ceará como o segundo
enfrenta o sexto ano seguido de chuvas estado mais degradado, com 11,45% de sua
abaixo da média, essa situação se torna área total comprometida pelo processo de
mais grave. A seca se alastra pela região, desertificação”, afirma Sônia.
O Ceará é o fazendo com que diversas cidades, espe-
cialmente as do interior, estejam em situ- CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA
segundo estado ação de emergência devido à estiagem. DESERTIFICAÇÃO
mais degradado, De acordo com o site do Ministério do Meio
FUNCEME E SUAS PESQUISAS Ambiente, no Brasil o processo de deserti-
com 11,45% A Fundação estuda sobre desertificação ficação é consequência do uso inadequado
de sua área total desde o início da década de 1990, segundo dos recursos florestais, principalmente na
comprometidas a pesquisadora da Funceme, Sônia Per-
digão. De acordo com um estudo reali-
Caatinga e no Cerrado para o fornecimento
de biomassa florestal no atendimento de
pelo processo de zado na Conferência Internacional sobre considerável percentual da matriz energé-
desertificação. Clima, Sustentabilidade e Desenvolvi- tica do Nordeste e de outras regiões.
mento em Regiões Semiáridas (ICID), O manuseio indevido da terra pode
em 1992, 10,2% da superfície total do ser feito de diferentes formas, colabo-
Sônia Perdigão, Ceará estava associada a processos de rando para o processo de desertificação
pesquisadora da Funceme degradação susceptíveis à desertificação. ocorrer. Pode acontecer através dos
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desmatamentos, pelas práticas agrope-
cuárias sem manejo adequado dos solos
(o que provocam os processos erosivos e
esgotando os solos), além do manejo ina-
dequado dos sistemas de irrigação, com a
consequente salinização da terra.
Por isso, é importante o conhecimento
sobre a terra e as maneiras de se prevenir
a desertificação. Segundo Sônia, é pos-
sível evitar que o fenômeno aumente se o
agricultor receber informações sobre como
cultivar sem prejudicar o solo. “Pode-se
prevenir a degradação dos solos utilizando
a terra de acordo com a sua vocação, res-
peitando-se suas características e limi-
tações. Para tanto, é necessário que se
forneça ao agricultor educação ambiental
e assistência técnica através da extensão
rural, facilitando a obtenção de créditos
junto às instituições financeiras e insumos
adequados”, afirma.
Projetos da Funceme
contra a desertificação
Alguns métodos da Funceme já
estão em ação contra o fenômeno
devastador. “Foram implementadas
técnicas de manejo dos solos tais
como terraceamento, escarificação,
sulcamentos, construção de barragens
de pedra, além da adição de
serrapilheira e esterco”, nos contou
Sônia quando questionada sobre os
projetos da Funceme. E completou:
“Após dois anos da implementação
dessas técnicas, já se observa o
surgimento da vegetação herbácea
e de algumas espécies nativas da
região, onde o solo estava totalmente
descoberto, sem vegetação”.
A Fundação vem desenvolvendo um
projeto – que envolve o estudo de solos,
recursos hídricos e de meteorologia,
além dos aspectos sociais – no município
de Jaguaribe, no distrito do Brum,
onde está havendo uma recuperação
de uma área degradada em processo
de desertificação, “tendo em vista a
conservação e uso sustentável dos
recursos naturais e a multiplicação das
técnicas implementadas em outras
áreas degradadas da região semiárida”,
de acordo com a pesquisadora.
GOVERNANÇA DE TI
A
área de TI tem assumido cada vez mais um papel estra- a velocidade de atendimento dos seus clientes. Outros projetos
tégico nas organizações, fornecendo serviços e criando importantes são a disponibilização de tótens (dispositivos de
soluções inovadoras alinhadas aos negócios. A informação atendimento) que serão disponibilizados nas lojas e shoppings
deve ser gerenciada como um recurso estratégico em todo o e a cobrança eletrônica, que será realizada por e-mails e SMS.
seu processo de produção e disseminação por todos os seus A modernização e evolução constantes também se devem
interessados. A Governança é inserida neste contexto através de às áreas de Infraestrutura e Segurança da Informação, que
preparação e estruturação da área de TI em liderança, processos suportam todo o ambiente de sistemas e serviços, garantindo
e estruturas organizacionais que assegurem que a TI entenda e a disponibilidade, capacidade, confidencialidade e integridade
sustente as estratégias e objetivos da organização. Em resumo, a das informações da companhia. O projeto de aquisição de uma
Governança de TI precisa entender e contribuir com o negócio, nova storage (solução de armazenamento de dados) que se
objetivos e processos da organização. deu no ano de 2017 conseguiu duplicar o espaço de armaze-
O ambiente de TI da Companhia de Água e Esgoto do Ceará namento, utilizando-se também de discos de última geração,
(Cagece) enquadra-se como de grande porte. São aproximada- com velocidades bem mais elevadas que os anteriores. No
mente 100 sistemas que suportam os diversos macroprocessos ano de 2017 a Cagece adquiriu uma nova solução de backup
da companhia. A infraestrutura conta com 2.530 computadores, em fitas, garantindo, assim, uma camada a mais de segurança
408 impressoras, 448 tablets, 374 smartphones e 210 links de aos dados e continuidade das informações do negócio, que já
comunicação de dados, dando cobertura em todo o estado. contam com site de backup e backups redundantes realizados
A Cagece vem investindo fortemente no desenvolvimento em discos. Nesse ano também houve a compra de certificados
de sistemas e modernização da infraestrutura de TI. Saímos digitais para garantir a segurança na comunicação dos sistemas
de um de mainframe, que foi desativado em abril de 2012, e e a renovação do antivírus corporativo, visando proteger as
hoje contamos com equipamentos modernos com mais de estações de trabalho da companhia, além de outras aquisições.
60 servidores virtualizados, utilização de firewalls de última Cumpre ressaltar que muito foi feito até agora e ainda nos
geração, backups redundantes, storage de armazenamento de restam muitos desafios para elevar a Getic a um patamar supe-
alto desempenho, data center utilizando sala cofre com certi- rior de excelência em seus serviços, com a universalização da
ficações internacionais, dentre outras tecnologias. informatização em todas as instâncias da organização e melhoria
A Gerência de Tecnologia da Informação e Comunicação do atendimento ao cliente.
(Getic) passou por diversos desafios ao longo do tempo com a Tudo o que conquistamos foi com esforço e comprometimento
implantação de vários projetos, destacando-se: ERP, Prax, Des- dos nossos colaboradores, apoio constante da diretoria e parceria
pachos de Ordem de Serviço, Medição e Faturamento imediato, continuada da TI com as áreas de negócios e serviços que vem
CageceApp, Mapp, Sistema de Transporte, Sistema de Licitação, dando muito certo. Este é o caminho de Governança de TI que
dentre vários outros projetos inovadores. vislumbramos a ser trilhado, revertendo-se em benefício na
Outros projetos de modernização que envolvem os sistemas prestação dos serviços à população cearense.
encontram-se em andamento. Dentre eles podemos citar o iGeo,
que busca desenvolver e implantar uma solução baseada em
inteligência geográfica para a gestão de cadastro, compreendendo
as redes de água e esgoto numa base de dados georreferenciada
integrada para utilização pelas diversas áreas da companhia. OTÁVIO FROTA é graduado em Engenharia Civil,
O novo aplicativo da Cagece, o CageceApp, que tem previsão Especialista em Gestão para Executivos, Informática e
de disponibilização para android e iOS em março de 2018. A em Redes de Computadores, Mestre em Administração e
Getic também está desenvolvendo um chatbot, que seria um superintendente de Gestão e Serviços Compartilhados da
novo atendente virtual robotizado, visando auxiliar e aumentar Cagece.
Cagece 31
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GESTÃO DAS ÁGUAS:
AVANÇOS E DESAFIOS
A Revista Cagece conversou com cinco gestores ligados aos recursos hídricos
no Governo do Ceará para saber mais sobre os avanços da gestão e perspectivas
para a área nos próximos anos. Apesar do reconhecimento nacional com as
ações de convivência com semiárido, o Ceará ainda poderá enfrentar desafios
caso não haja uma recarga satisfatória dos mananciais na quadra chuvosa
deste ano. Estamos preparados para encarar mais um ano de seca? Quais as
expectativas e desafios esperados em 2018? São estas e outras perguntas que
nortearam nosso bate-papo com os gestores.
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Hoje nós estamos com o maior pro- fazendo, mas também tem que olhar balanço hídrico dessas duas regiões.
grama de perfuração de poços do para a economia do estado. Isso Além disso, avançamos no estudo
Ceará para que a gente possa com- está ligado diretamente à renda, ao do campo de dunas do Pecém até
plementar o abastecimento de água emprego, à geração de impostos em o Paracuru. Começamos a utilizar a
superficial com água subterrânea e todo estado, então essa preocupação água subterrânea dessa região para
nesse momento a água subterrânea nós temos tido. abastecer a área leste metropoli-
tem dado uma grande contribuição Esse período de seca tem sido um tana; estudamos todo aquífero Serra
para que a gente possa continuar aprendizado para todos nós. Fez Grande, entre outros.
abastecendo os 184 municípios do com que a gente se aprofundasse Tudo isso, nesse momento, foi
nosso estado. Além disso, nosso pro- em alguns temas importantes importante para que a gente pudesse
grama de adutoras de montagem no Ceará, como o caso de buscar avançar no bom conhecimento e
rápida já conta com mais de 1.500 também novas alternativas para o planejamento do uso da água super-
km de adutora, construídos. Várias abastecimento no estado do Ceará. ficial. Hoje, essa água subterrânea
cidades foram atendidas por esse Estamos agora caminhando para vem garantindo o abastecimento de
programa e estamos fazendo um um processo de dessalinização de várias cidades.
processo de transferência de água água do mar e acredito que seja
para que a gente possa atender a irreversível, o estado deverá ter a RC – Existe alguma perspectiva,
todas. Mesmo com essa crise hídrica primeira usina de dessalinização do caso a quadra chuvosa não seja
que estamos atravessando, temos país e também estamos avançando satisfatória, de aproveitar essa
buscado alternativas para abastecer na questão do reúso da água. Acre- água das dunas também para For-
os municípios, garantir o abasteci- dito que em pouco tempo estaremos taleza? O que está sendo pensado
mento humano e, aonde é possível, reutilizando boa parte das águas com relação a isso?
estamos atendendo também a ativi- residuais das estações que são ope- JL – Estamos estudando a pos-
dade produtiva, principalmente no radas pela Cagece. sibilidade desse aproveitamento
interior do Ceará. aqui para a região mais próxima
RC – Ainda sobre os avanços, o de Fortaleza, como a Sabiaguaba.
RC – E na Região Metropolitana de senhor fala em fontes alternativas, Estudamos desde o Pecém até o
Fortaleza (RMF), onde está locali- como se dá essa busca? Paracuru e agora estamos fazendo
zada a maior parcela da população JL – Nós passamos a estudar melhor também investigações nessa região
do Ceará, como está sendo feita a a dessalinização e o reúso e estamos mais próxima de Fortaleza para que
gestão da água pela Cogerh? partindo na frente no sentido de a gente passe a utilizar também essas
JL – No caso da RMF nós estamos que a gente possa também passar a reservas dessa área de dunas. Só
garantindo água para abastecimento utilizar essas duas alternativas. Além para ter ideia, uma cidade como
humano, mas também olhando para delas, outra coisa importante é que, Natal, hoje, é abastecida por um
a economia do estado, a geração nessa crise, nós também avançamos grande campo de dunas, que fica
de emprego e renda. O setor de com os estudos das águas subterrâ- dentro da cidade, que abastece mais
Recursos Hídricos tem que ter o neas do Ceará. Estudamos melhor de um milhão de pessoas.
olhar prioritariamente para o abaste- o aquífero das chapadas do Araripe Se tivermos um bom aproveita-
cimento humano, como nós estamos e Apodi e hoje temos o domínio do mento dessas águas subterrâneas,
“
especialmente nessa área do campo
de dunas, é possível que se possa
utilizar de forma responsável, sem
comprometer o meio ambiente e
“…nosso programa de adutoras extrair água para prioritariamente
o abastecimento humano.
de montagem rápida já conta
com mais de 1.500 km de adutora, RC – O senhor pode citar qual foi
construídos. Várias cidades foram o maior desafio enfrentada pela
Cogerh em 2017?
atendidas por esse programa". JL – Acredito que o maior desafio que
tivemos foi garantir o fornecimento
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muito amplo: vai desde colapso de situação é tão difícil, há um cálculo com a SRH, sabe fazer a previsão
estruturas, de prédios e de pontes, na Defesa Civil que é de 20 litros de qual manancial está prestes a
passando por enchentes, secas, des- de água por pessoa diariamente. É colapsar, o que ajuda bastante na
lizamentos até tremores de terra. um número bem diferente do que hora de definir as ações.
Por isso, a nossa preocupação é é recomendado pela OMS.
mais que dupla. A água da Defesa Civil é exclusiva RC – Dentro do cenário atual, qual
No caso da garantia do abaste- para o consumo humano. Quando a expectativa para a atuação da
cimento das populações, basica- a OMS fala de 110 litros, ela fala de Defesa Civil no âmbito da segu-
mente o que a gente trabalha é com asseio pessoal, afazeres domésticos rança hídrica? E, em sua opinião,
recurso federal vindo do Ministério e numa situação de normalidade. qual o desafio que a Defesa vai
da Integração, através da Defesa A Defesa Civil reduz a 20 litros enfrentar neste ano de 2018?
Civil nacional para garantir a ope- por pessoa e é exclusivo para o CC – A expectativa, não só minha,
ração pipa, a perfuração de poços, consumo humano. mas de todos os cearenses, é que
adutoras, outras ações. Em quatro tenhamos um inverno que atenda
anos, mais de R$ 200 milhões RC – Dentro dessa gama de melhor as expectativas, quando
foram captados via Defesa Civil municípios que a gente tem em comparado com anos anteriores.
para serem aplicados justamente situação de emergência, quais Em termos de perspectivas, pen-
no problema hídrico. são, hoje, as condições da Defesa sando em ter um quadro chuvoso
Civil de atender? Existe priori- favorável, já emitimos às Defesas
RC – Nós chegamos a 2018 com dade no atendimento de algum Civis e aos municípios um alerta
um número expressivo de muni- município? Como a Defesa se para que eles fiquem atentos aos
cípios em situação de emergência organiza para atender toda essa açudes, os reservatórios, pra saber
no estado. Qual a situação hoje? demanda? se eles têm condição de absorver e
CC – Hoje, cerca de 3 milhões de CC – Não é fácil. Temos dificul- de barrar realmente essa água. Essa
pessoas dependem da operação dades inerentes, mas a Defesa já é uma primeira ação.
pipa no Ceará. Temos em torno Civil é um órgão de articulação. As
de 100 municípios em situação de demandas são grandes e escolher RC – E se tivermos um sétimo
emergência. No ano de 2017, che- o atendimento de uma cidade em ano de seca, com esse cenário
gamos a atingir o número de 121 detrimento de outra é uma decisão econômico que se aponta com a
municípios. Isso porque a situação difícil. Logicamente que anali- dificuldade de recursos, a Defesa
de emergência tem uma vigência samos a população, disponibilidade está preparada para encarar um
de 180 dias, ela pode ser renovada real de água, e a gente consegue ano de seca?
ou não. ter uma noção dos municípios em CC – A gente tá com todo apoio do
Mas em termos de população e situação mais crítica. Governo do Ceará. Muito embora
escassez hídrica, a Organização Como a Cagece é um órgão que esses recursos sejam mais desti-
Mundial de Saúde (OMS) reco- está presente em quase todos os nados à SRH, que existe para esse
menda o consumo diário de 110 municípios do estado do Ceará, ela fim, a Defesa Civil também busca
litros por pessoa. No Ceará, como a mais do que ninguém, juntamente captar recursos federais. Se a gente
“
caminhar para mais um ano de
seca, vamos investir muito mais
junto ao Governo Federal para que
possamos ter a liberação de recurso
Hoje, cerca de 3 milhões de para a convivência com a seca.
pessoas dependem da operação E mesmo que haja uma estação
pipa no Ceará. Temos em torno chuvosa satisfatória, ela não será
suficiente para reabastecer todos
de 100 municípios em situação os reservatórios. Então a gente tem
de emergência. No ano de 2017, que estar preparado pra atender a
população no segundo semestre de
chegamos a atingir o número de 2018, quando começa novamente a
121 municípios". estiagem em alguns municípios.
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Funceme tem contribuído e dialo- à previsão que será anunciada expectativa e avanços, mas você
gado com as políticas de recursos pela Funceme, o acaba sendo uma teria como elencar alguns desafios
hídricos? responsabilidade muito grande para a Funceme em 2018?
ES – A gente vem trabalhando para o órgão, uma vez que mexe ES – Acho que o setor de recursos
não só com a previsão de chuvas, com a esperança de muita gente. hídricos como um todo terá um
mas também gerando previsão de Como o senhor vê essa relação? grande desafio de lidar com a
aporte dos principais reservató- ES – Independente de qualquer questão dos conflitos num ano elei-
rios do estado. Desde 2005 estamos resultado, qualquer previsão, toral. Precisamos nos antecipar a
trabalhando bem mais próximo ao vivemos num espaço semiárido, eles e chegarmos a essas áreas de
setor de recursos hídricos. Acho até então essa convivência, essa busca conflitos potenciais antes desses
que temos que fazer uma aproxi- por outras formas de abastecimento atores políticos, exatamente para
mação maior com a Cagece, colocar que não dependam apenas das esclarecer, ter oportunidades de
os cenários previstos para a com- chuvas, tem que ser constante. explicar o que está sendo pensado,
panhia. Agora que já temos modelo Existe um plano chamado Fortaleza sem a contaminação de discursos.
calibrado para todo estado, temos 2040 que aponta que há possibili- Eu acho que isso é importante.
como fornecer esse produto. É um dade de suprir parte da demanda
trabalho contínuo, mas que agora da cidade com fontes locais. Isso RC – E internamente, ainda
já podemos dar utilidade maior a está na direção de um melhor falando em desafios, do ponto de
ele, servindo para a Cagece, Cogerh, ordenamento urbano. Se a gente vista da estrutura do órgão, qual
SRH. está falando em reúso, captação de o maior esforço empreendido hoje
água de chuva, também precisamos pela Funceme?
RC – Quando o senhor fala em falar em conservação das fontes ES – Nós temos feito um esforço
cenário de aporte de reservatórios, que acontecem localmente, não só enorme para ter uma atuação
como isso é feito? a que vem do Jaguaribe ou a que além do estado, por uma questão
ES – É o volume de água que vai vem dos reservatórios. É impor- de necessidade, de sobrevivência
chegar, mês a mês. A gente pega tante pensarmos em um modelo mesmo. Precisamos garantir
a previsão climática, a previsão de conservação dessa água que cai recursos pra manter essa estru-
de chuva, e usa isso como dado na cidade. A água que cai em um tura de monitoramento que custa
de entrada para modelos hidroló- prédio desses, por exemplo, não é em torno de R$ 4,6 milhões por
gicos e transforma essa chuva em captada para consumo posterior. ano, se mensurarmos de forma bem
vazão do afluente aos principais Isso ajudaria inclusive na questão conservadora, com esquipe mínima.
reservatórios. da drenagem da cidade. Temos dois radares meteorológicos,
549 postos pluviométricos, mais de
RC – Todo ano há uma expec- RC – O Senhor já tocou em 100 estações automáticas. Como é
tativa muito grande em relação muitos assuntos com relação a que você mantém tudo isso? A gente
“
foi atrás de recursos, foi atrás de
parcerias. Mas acho que a Funceme
tem que ter um grupo pensando o
setor de recursos hídricos, ajudando
a pensar o setor. Não vai fazer isso
Passamos a trabalhar, desde 2013, sozinha, mas pode colaborar com
com um modelo alemão de clima, a Cogerh, pode colaborar com a
Sohidra, pode colaborar com a
que faz a previsão global, mas Secretaria de Recursos Hídricos,
permite que a gente faça essa ajudar a moldar esse olhar de futuro
do Governo do Ceará.
cenarização do atlântico, que é
muito valiosa para nós".
“
MELHOR RESULTADO EM 30 ANOS
Hoje estamos
com 20 máquinas
perfuratrizes
e mais três
que estão em
processo de
aquisição, com
Yuri Castro Oliveira,
superintendente da Sohidra
recurso do
BNDES".
RC – O senhor poderia fazer RC – Voltando aos avanços, o geólogos da Sohidra. Hoje estamos
um balanço sobre a atuação da que mais podemos elencar? com 20 máquinas perfuratrizes e
Sohidra em 2017? Quais avanços? YC – Em termos de açudes estra- mais três que estão em processo de
Yuri Castro – Na parte mais estra- tégicos, nós fizemos o açude aquisição, com recursos do BNDES.
tégica, temos obras estruturantes. Germinal, que vai fazer o abas-
A principal delas é o Cinturão tecimento da cidade de Palmácia RC – E essa quantidade de
das Águas. Uma obra de mais de e construímos 36 barragens de máquinas perfuratrizes é sufi-
R$2 bilhões que vai aduzir água pequenos porte para alguns dis- ciente pra demanda?
do rio São Francisco e colocar no tritos. Nesse período também YC – Olha, digo com toda sinceri-
rio Cariús. Até março deste ano construímos cerca de 200 qui- dade, para a demanda que temos
devemos entregar os primeiros 53 lômetros de Adutoras de Mon- ainda é pouca, mas também não
quilômetros, que correspondem tagem Rápida (AMR), para atender podemos aumentar muito, porque
a primeira etapa desse projeto. de forma mais emergencial aos em determinados anos, em que
municípios. Estamos fazendo a gente tem um inverno bom, a
RC – E a gente conta mesmo com agora os três sistemas que vão demanda realmente diminui. Se
essa água? Há uma discussão em dar reforço à Região Metropo- a gente pegar o histórico de poços
torno de achar que essa água do litana de Fortaleza: sistema do perfurados pela Sohidra ao longo
São Francisco não chegará para lagamar do Cauípe (interligando dos seus 30 anos de existência,
logo. Isso procede? o trecho 5 do Eixão das Águas); o vamos encontrar uma média abaixo
YC – A obra em si – que estava sistema de poços de Taíba Silpé de 400 poços por ano.
prometida pra dezembro de 2017, (um sistema de 35 poços, que Então, se aumentar o parque
janeiro de 2018 – tá um pouco também serão integrados ao sis- de máquinas pra atender uma
atrasada. Mas estamos fazendo tema metropolitano); e a segunda demanda momentânea, posso com-
a nossa parte, que é colocar água etapa do Maranguapinho (que prometer eventos futuros. A gente
nesses 53 quilômetros, até o deverá beneficiar o Distrito Indus- tem atas de registro de preços, na
riacho seco. É um percurso menor trial de Maracanaú e Pacatuba). hora em que as nossas máquinas
e mais eficiente em termos de não tiverem atendendo a gente
transporte. A própria estrutura do RC – Com relação à perfuração contrata uma empresa terceiri-
rio também ajuda porque possui de poços, é possível fazer um zada pra fazer perfuração de mais
uma calha melhor para trans- balanço dos últimos três anos? poços. Esse ano, por exemplo, nós
portar essa água. Se essa água do YC – Estamos com 4.400 poços só trabalhamos com máquinas da
São Francisco chegar até meados perfurados, seguindo a locação dos Sohidra. E só no ano de 2017 foram
de 2018 será um bom reforço no geólogos da Cagece e da Cogerh. feitos em torno de 1.500 poços. Em
abastecimento. Em alguns momentos, também 2016, foram feitos mais de 1.900
Cagece 39
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poços, sendo em torno de 1.000 per- Principalmente porque 30% dos uma ideia, no ano de 2017 não veio
furados com máquinas da Sohidra nossos poços são secos. Na hora um real para a operação carro-pipa.
e em torno de 900 por empresas em que se tem um poço seco, o Do recurso que estava aprovado,
terceirizadas. Ministério considera que a meta no valor de R$ 19 milhões, não
não foi atingida. O poço foi feito, veio nada. Das adutoras que nós
RC – Qual é o valor do investi- mas a comunidade não foi aten- solicitamos, só foram liberadas
mento feito pela Sohidra na per- dida, então o Ministério pede pra as da Região Metropolitana, por
furação de poços? devolver o dinheiro. O objetivo é o meio de verba da Defesa Civil. Já
YC – Fizemos um levantamento e atendimento à comunidade. Se ela para as do interior, por exemplo,
verificamos que um poço perfurado não for atendida, pra ele, nós não não veio até agora. Nesses últimos
pela Sohidra com profundidade cumprimos a meta. três anos não usamos verba da
média de 70 a 80 metros custa em Defesa Civil para instalação de
torno de R$ 12 mil, fazendo uma RC – A gente tem percebido uma poços. Somente para adutoras
média entre o sedimento e o crista- reclamação geral em torno da dis- e carro-pipa. As instalações de
lino. O poço perfurado no cristalino ponibilidade de recursos, especial- poços têm sido feitas, em sua
é mais barato porque não precisa mente federais, para convivência maioria, pela Cagece e os SAAEs.
de revestimento. com a seca. Até que ponto isso As prefeituras também têm dado a
interfere nas ações planejadas? sua parcela, têm feito instalações
RC – Se não tivermos um cenário YC – É um empecilho. Só pra se ter também.
positivo de chuvas este ano, qual
será o maior desafio encontrado
pela Sohidra?
YC – Já estamos trabalhando com O CUIDADO E A ATENÇÃO
essa perspectiva. Se não tivermos REDOBRADA PARA O INTERIOR
uma recarga satisfatória na maioria
dos reservatórios, nossa alterna-
tiva será poço, poço, poço e pipa.
Em algumas situações, quando
os reservatórios recebem alguma
recarga momentânea, talvez seja
necessário investir também em
adutoras de montagem rápida para
transportar essa água. Mas o que
vem salvar mesmo, de imediato,
é poço e pipa.
Cagece 41
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LANÇAMENTO
LIVRO MARCA
GESTÃO HÍDRICA
DO CEARÁ
por LEONARDO COSTA fotos TIAGO STILLE
Q
PROJETO INTEGRADO
Com coordenação editorial
uem tem em mãos pela pri- Carvalho, o livro é dividido em três atos:
da jornalista Dalviane Pires
meira vez o livro Caminho Filhos do Sertão, Água da Grande Cidade e produção executiva de
das Águas – Histórias de e O Ceará Inventivo. A publicação também Osiel Gomes e Emídio
convivência com a seca traça uma cronologia das secas mais Sanderson, a equipe
no Ceará não se encanta severas enfrentadas no Ceará, as resga- de Caminho das Águas
apenas pelas imagens e o apuro técnico tando historicamente a partir de clássicos percorreu todo o estado
do projeto gráfico. As primeiras páginas da literatura como O Quinze, de Rachel em busca de histórias e
da publicação, por si só, são um con- de Queiroz; Vidas Secas, de Graciliano personagens da vida real
vite cheio de sensibilidade que leva a Ramos, entre outros. para registrar e retratar
se deleitar pelas histórias até os leitores O fortalecimento das políticas públicas a força e a superação
mais despercebidos. de recursos hídricos para garantir o abas- dos cearenses em meio à
escassez hídrica.
Lançado em dezembro de 2017 pelo tecimento da população e a relação dos
Realizado pelo Ministério
Governo do Ceará, o livro apresenta uma cearenses com a água também são ilus-
da Cultura em parceria
narrativa sobre a relação épica do cea- trados em meio ao conteúdo da publi- com o Governo do Ceará,
rense com o clima semiárido e o fortale- cação, como destacou o governador o livro foi produzido
cimento da política estadual de recursos Camilo Santana durante solenidade de pela Seara Cultura e
hídricos ao longo dos últimos anos. lançamento de Caminho das Águas no Desenvolvimento; com
O Caminho das Águas percorre a Palácio da Abolição: “O livro não registra patrocínio da Companhia
capital e municípios do interior do Ceará somente ações importantes, criativas e de Água e Esgoto do
com o objetivo de aproximar os cearenses inovadoras, como o reúso de água; ele Ceará (Cagece) e apoio
dessa rota com mais de 200 quilômetros traz homens e mulheres que convivem da Defesa Civil do Ceará;
que é feita pela água até chegar às casas com essa realidade”, disse. Fundação Cearense de
de milhares de cearenses. Além disso, o Meteorologia e Recursos
Hídricos (Funceme);
livro passeia pela inventividade de um SALA VIRTUAL ABORDA TEMÁTICA
Superintendência de Obras
povo forte e resistente, que aposta na SOBRE RECURSOS HÍDRICOS Hidráulicas (Sohidra); e
tecnologia sem deixar de lado a criati- Durante o lançamento de Caminho das Companhia de Gestão dos
vidade e a sabedoria popular para lidar Águas – Histórias de convivência com Recursos Hídricos (Cogerh).
com uma das maiores secas dos últimos a seca no Ceará – o Governo também Além da versão impressa,
cem anos no estado. lançou a Sala de Imprensa Todos Pela o livro também está
Entre as belas histórias de força e resis- Água, ferramenta virtual que colabora disponível para download
tência relatadas na publicação está a de com o trabalho da imprensa regional e no portal da Cagece,
Dona Chiquinha, que vivenciou a reali- nacional acerca da temática voltada para www.cagece.com.br.
dade de seis períodos severos de seca no as políticas públicas de recursos hídricos
Ceará. A primeira delas, ainda aos cinco no estado.
anos de idade, quando conheceu de perto Trata-se de uma iniciativa que traz
a vida no Campo de Concentração de para o dia a dia dos jornalistas e outros
Senador Pompeu, em 1932. Hoje, aos 90 profissionais de comunicação pautas e
anos, mãe de sete filhos, Dona Chiquinha abordagens sobre a temática no estado. A sala de imprensa pode
conta em Caminho das Águas como foi Além de matérias jornalísticas e repor- ser acessada no endereço
possível vencer as secas implacáveis de tagens especiais, a Sala de Imprensa dis- eletrônico:
forma corajosa: “Eu não morro por qual- ponibiliza imagens, áudios com sonoras, www.saladeimprensa.ceara.
quer coisa, não”, diz ela. vídeos, apresentações e documentos para gov.br/todospelaagua
Com prefácio da jornalista Eleuda de download.
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REDE COLETORA
OCIOSIDADE
DA REDE DE ESGOTO:
UM ALERTA
CONSTANTE
por JILWESLEY ALMEIDA
foto DEIVYSON TEIXEIRA
A
lém do cuidado recorrente
em desenvolver estraté-
gias para uma melhor
convivência com a seca,
o Ceará também vivencia
um grande desafio na área de esgota-
mento sanitário. Apesar de intensificar
nos últimos cinco anos ações de expansão
da cobertura de esgoto no estado, o
Governo do Ceará encontra-se diante
de um obstáculo que dificulta a univer-
salização do serviço na região. Trata-se
da ociosidade da rede coletora de esgoto.
O problema consiste na escolha que a
população tem feito em não interligar os
imóveis à rede de esgoto disponível, o que
contraria a Lei Complementar que institui
a política estadual de abastecimento de
água e de esgotamento sanitário no Ceará
(n° 162/16), que prevê a obrigatoriedade da
interligação nas redes públicas de coleta.
De acordo com dados da Companhia por exemplo, da água de poço, uma das de conscientizar a população
de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), fontes exclusivas de abastecimento de acerca da importância da inter-
21,18% dos estabelecimentos no estado pelo menos 26 municípios cearenses ligação e seus impactos no meio
destinam seus efluentes de forma ina- nesse contexto atual de escassez hídrica. ambiente e na qualidade de
dequada apesar de terem rede coletora “Por isso, sempre o mais adequado é se vida. Segundo a profissional
de esgoto à disposição. A porcentagem interligar quando houver rede de coleta de educação ambiental da com-
equivale a cerca de 174.335 domicílios disponível, porque assim esse esgoto panhia, Mara Verly, o trabalho
que poderiam estar interligados. terá um tratamento e uma destinação de conscientização é realizado
Conforme o gerente de mercado da segura”, ressalta Rossas. antes, durante e após a implan-
companhia, Carlos Rossas, muitas vezes Os motivos que têm levado a popu- tação da rede de esgoto.
o esgoto de quem não está interligado lação a não se interligar à rede de esgoto Por meio do trabalho das
à rede de coleta está sendo destinado existente estão associados, principal- equipes, somente em 2017
de forma irregular, como em galerias mente, à falta de conhecimento sobre houve um incremento de 7.854
pluviais e em vias públicas. “Quando a importância do serviço e também ligações de esgoto no Ceará, o
não, esse esgoto é direcionado a uma ao custo financeiro que o usuário tem que representa uma redução de
fossa sumidouro e com isso, o esgoto de arcar para realizar as instalações 19,27% no número de ligações
pode se infiltrar no solo e contaminar hidráulicas internas em seu imóvel. ociosas no estado.
o lençol freático”, alerta. Diante desse cenário, a Cagece, por
A utilização de fossa sumidouro meio de suas equipes de interação
ameaça inclusive a saúde da população, social, tem feito um trabalho minu-
já que aumenta o risco de contaminação, cioso de visita porta a porta, no intuito
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CAGECE
ADOTA
MEDIDAS
PRÁTICAS
DE
COMPLIANCE
por EVA SILVA fotos DEIVYSON TEIXEIRA
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Compliance – uma palavra de origem
inglesa que significa “fazer correto” ou
estar em “conformidade” em relação a uma
determinada diretriz, política, controles
internos e externos, estabelecidos para
o negócio e – tem se tornado cada vez
mais presente no dia a dia das empresas
públicas e privadas no Brasil e no mundo.
Na Cagece, o Compliance passou a ser
discutido a partir da criação da Lei
12.846/13 - Lei Anticorrupção. Em junho de
2015, foi criada a unidade de Compliance
no ambiente da auditoria interna da
companhia.
C
om a promulgação da Lei anualmente, carta com os objetivos de
13.303 em junho de 2016 – políticas públicas e dados operacionais
Lei de Responsabilidade das e financeiros que evidenciem os custos
Estatais (LRE), que dispõe da atualização, os requisitos mínimos
sobre o estatuto jurídico da de transparência.
empresa pública, da sociedade de eco-
nomia mista, no âmbito da União, dos UNIDADE ESPECÍFICA
Estados e dos Municípios, regulamentada A Cagece busca a implantação de
pelo Decreto nº 8.945/16 – as empresas medidas, sendo uma delas a criação de
estatais, incluindo as companhias esta- uma unidade de GRC – Governança,
duais de saneamento básico terão até Riscos e Compliance, visando a unifi-
junho de 2018 para se adequarem às exi- cação de procedimentos, além de prever
gências da LRE. riscos nos negócios e garantir que a
O normativo determina que as estatais empresa esteja em conformidade com
adotem práticas e regras de condutas as regulamentações, leis e políticas cor-
e padrões de governança corporativa, porativas, migrando a unidade de Com-
sustentabilidade, compliance, auditoria pliance para esta nova gerência de GRC
interna, controles internos e gestão de De acordo com Simone Arrais, gerente
riscos. Além disso, terão de divulgar, da GRC, a Cagece encontra-se no estágio
inicial da implementação do Compliance. cultura da organização e no comporta- Si mone en fat i zou que
“Com a criação da unidade específica mento das pessoas que trabalham para quando a companhia conse-
esperamos entrar em uma nova fase, ela. O gerenciamento do Compliance guir transmitir os conceitos
partindo para o fortalecimento da gover- eficaz abrange toda a organização e do Compliance para todos os
nança. Pretendemos fazer com que a permite que ela demonstre seu com- seus públicos - dos acionistas e
empresa passe para uma nova fase, na prometimento com o cumprimento das funcionários aos consumidores
qual o investimento em Compliance leis pertinentes, incluindo requisitos e comunidades – a Cagece dará
começará a mostrar os benefícios que o legislativos, códigos e normas organiza- exemplo para toda a sociedade.
cumprimento de regras e regulamentos cionais, bem como as normas de gover- “O grande desafio da empresa é
trazem para o seu negócio e a notar uma nança corporativa, boas práticas, éticas o de comunicar que quem cui-
série de vantagens competitivas, como e expectativas da sociedade, além de dará de Compliance não será
a redução dos custos, o melhor controle possuir um caráter preventivo impor- apenas a GRC. O Compliance
do negócio e a mitigação dos riscos de tante. Para tanto, os primeiros compo- é obrigação de todos, assim
Compliance”, diz. nentes a serem focados são a ética e a como a gestão compartilhada
Para Ivelise Fracalossi, coordenadora conduta, pois sabe-se que podemos ter de riscos. É uma questão de
de Compliance da Cagece, o Compliance o melhor plano no papel mas a prática conscientização e responsabi-
“é a consequência de uma organização não vingará se a ética e a conduta não lização”.
cumprir as suas obrigações e é feito de estiverem enraizadas na missão e nos
forma sustentável, incorporando-o na valores da Cagece”, acrescentou.
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ÁGUA PARA
CIDADANIA
ABASTECIMENTO
LEGAL PARA QUATRO
COMUNIDADES
DE FORTALEZA
por CARLA LIARA fotos DEIVYSON TEIXEIRA
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O
projeto-piloto é uma das
medidas encontradas pela
companhia para reduzir o
desperdício e minimizar
Moradores de quatro áreas os efeitos da escassez
hídrica que o Ceará enfrenta pelo sexto
de ocupação irregular de ano consecutivo. Com a regularização,
cerca de 5.855 habitantes de áreas de
Fortaleza serão beneficiados assentamento precário serão beneficiadas
com água tratada e de qualidade em suas
com a regularização dos residências.
Para a implantação do "Água para
serviços de abastecimento Cidadania" foram estudadas diretrizes e
parâmetros necessários e suficientes para
de água. As ligações das a caracterização da infraestrutura proje-
tada. O sistema consiste na implantação
comunidades Jagatá, Novos da rede de abastecimento de água e das
ligações prediais. As comunidades aten-
Barreiros, São Francisco e didas pelo projeto não estão localizadas
em áreas de proteção ambiental ou em
Lagoa do Tronco estão sendo terrenos privados.
De acordo com Tereza Cristina Silva de
normalizadas. A iniciativa faz Sousa, moradora da comunidade Jagatá
há cinco anos, o projeto trará dignidade
parte do projeto "Água para à população da área beneficiada, “minha
família mora há 17 anos na comunidade
Cidadania", da Cagece. e eu há cinco. Durante todos esses anos
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ECONOMIA
MEDIÇÃO
INDIVIDUALIZADA:
UMA MEDIDA
CONTRA O
DESPERDÍCIO
por IARA PERES fotos DEIVYSON TEIXEIRA
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ENTREVISTA
ÉLCIO BATISTA
ÁGUA PARA O
DESENVOLVIMENTO
HUMANO
Água está na pauta prioritária do secretário
Chefe de Gabinete, Élcio Batista. O sociólogo
fala da relação entre água e desenvolvimento
humano, passando ainda pela necessidade
de avançar na redução das desigualdades.
Revista Cagece – O governo tem morando aqui. E esses índios já desestruturar e desorganizar todo o
diferentes desafios em áreas dis- sofriam com regimes de escassez. sistema de convivência das pessoas
tintas. Como o senhor posiciona Então essa escassez já é documen- com a produção, com a economia?
a questão da água em meio a tada no Ceará ainda no século XVI. Esse debate é sobre a velocidade
esses desafios? Essa é uma condição climática, geo- com que isso ocorre, o impacto do
Élcio Batista – A água talvez seja lógica do Ceará. É muito difícil, eu homem e também se a mudança
o maior desafio. Sem água você diria que praticamente impossível, das condições climáticas ocorrem
não tem vida e sem vida, obvia- conseguir reverter isso. Se ocorrer muito rapidamente como ficará o
mente, não existe possibilidade uma transformação como essa, planeta. Essas mudanças impactam
de desenvolvimento humano. A estaremos diante de uma grande o Ceará? Sim. Muitos defendem que
água é essencial para o desenvol- transformação climática em nível vamos ter um processo de deser-
vimento de uma sociedade, de um de planeta. E isso não acontecendo, tificação que vai se acelerar nas
grupo, de uma pessoa. Sem água vamos persistir nessa convivência próximas décadas. E, por isso, nós
não tem como fazer com que a com a seca e na busca por alter- devemos pensar estrategicamente
economia, as trocas, o comércio, a nativas que possam facilitar essa para tentar diminuir o impacto da
indústria aconteça. Esse é o grande convivência. desertificação.
desafio para qualquer estado. Em
um estado do semiárido como é o RC – E ao que tudo indica, a RC – Mas o Governo do Ceará
caso do Ceará esse desafio se torna desertificação tende a aumentar… tem sido ousado. Está tentando
ainda maior porque os lugares EB – Mudanças climáticas são um diversificar a matriz hídrica com
semiáridos do mundo têm como fato. Tudo o que ocorre no planeta, dessalinização e reúso. O incre-
característica a baixa precipitação toda interferência do homem na mento dessas tecnologias é um
e o regime extremamente imprevi- terra - que é um organismo vivo caminho sem volta?
sível das chuvas ao longo do tempo. -, tudo isso vai se ‘rearranjando’, EB – Em primeiro lugar está sendo
Então, essas duas condições fazem se reestruturando. Então, essas estruturada uma Política de Meio
com que em regiões semiáridas o mudanças climáticas vão continuar Ambiente. O governador Camilo
desafio seja ainda maior. ocorrendo ao longo do tempo. O Santana criou a Secretaria de Meio
impacto dessas mudanças climá- Ambiente (Sema). Não tínhamos
RC – Então é correto dizer que ticas é que é a grande discussão. O uma Secretaria de Meio Ambiente.
essa preocupação com a água é grande debate. Esse impacto está O que o Ceará tinha era um Con-
parte da nossa condição? sendo acelerado em qual veloci- selho de Política Ambiental (Copam)
EB – É da nossa condição exis- dade? Essa velocidade vai fazer com e uma Superintendência de Meio
tencial. Antes mesmo dos portu- que as mudanças climáticas criem Ambiente (Semace), que é um órgão
gueses chegarem, tínhamos índios um verdadeiro caos no planeta? Vai fiscalizador. Não tínhamos um órgão
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formador de uma política pública uma Funceme, que é uma das mais de vista institucional, sermos refe-
para o presente e para o futuro. antigas do país, e tem a Cagece. rência para o resto do país e para a
Então, a criação da Secretaria de Então, temos um sistema integrado América Latina, inovamos pouco.
Meio Ambiente criou as condições de gestão de recursos hídricos e hoje Nos últimos três anos, a decisão do
para que se pudesse pensar os temos uma política pública na área governador foi por investir em ino-
impactos das mudanças climáticas, ambiental. A convergência dessas vação e na busca por alternativas
os impactos disso no sistema hídrico duas estruturas organizacionais vai para a questão da oferta de água.
e como poderíamos trabalhar do possibilitar que a gente consiga, ao Tanto do ponto de vista da oferta
ponto de vista ambiental os manan- longo das próximas décadas, por quanto da demanda.
ciais, recuperar leitos dos rios. Uma um lado melhorar a eficiência no
série de ações que são de caracterís- uso dos recursos hídricos, ou seja, RC – A gente sabe que água é
tica ambiental e que podem produzir com a água que temos que abas- uma preocupação mundial. E
bons resultados. O Ceará tem hoje a tecer um número cada vez maior que o Ceará tem buscado conhe-
melhor estrutura do ponto de vista de pessoas e manter o desenvol- cer outras experiências do “fazer
institucional do país. vimento no comércio, na indústria água” como em visita a Israel, por
e na agricultura. Por outro lado, exemplo. Ao pensarmos em ino-
RC – O senhor se refere à forma as políticas públicas ambientais vação, qual seria o modelo mais
como são geridos os recursos contribuindo para que essa água sustentável para o Ceará?
hídricos no estado? permaneça por mais tempo à dis- EB – O modelo para o Ceará pre-
EB – A forma como são geridos posição das pessoas. Existe uma cisa combinar, por um lado, muita
e a política pública que se desen- outra vertente dentro do sistema inovação tanto do ponto de vista
volveu nos últimos anos. A gente de recursos hídricos que o gover- da gestão quanto da tecnologia. E
tem uma Secretaria de Recursos nador Camilo Santana iniciou que tem um segundo ponto que é fun-
Hídricos (SRH), uma Companhia é de buscar inovações nessa área. damental: a nossa capacidade de
de Gestão de Recursos Hídricos Apesar dos avanços dos últimos 30 fazermos uma gestão da oferta ainda
(Cogerh), uma Superintendência de anos, apesar da gestão ter melho- mais qualificada, evitando desper-
Obras Hidráulicas (Sohidra), temos rado muito, apesar de, do ponto dício, fazendo com que a água que
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“ Estou otimista não só com as possibilidades
que a natureza pode oferecer, mas também
porque hoje no Ceará, posso dizer com clareza,
que a gente tem uma capacidade de gestão de
recursos hídricos que é exemplar para o país".
semanalmente se reúne para vem se agravando há seis anos e senhor foi o homenageado dos Pro-
decisões relacionadas à oferta e manter esse grupo integrado, unido, fetas da Chuva esse ano. Como o
demanda de água. Como é, além estimulado e focado é um desafio senhor vê esse reconhecimento ao
de todo trabalho que o senhor já que passa justamente pela relação seu trabalho?
faz na chefia de gabinete, ter na de confiança que se estabeleceu EB – Eu me sinto lisonjeado por,
rotina o acompanhamento de um no Grupo de Contingência. Tem através do meu trabalho, ser reco-
grupo técnico em uma área tão sido, de fato, uma experiência extre- nhecido, receber uma homenagem.
complexa como o sistema hídrico? mamente rica, onde agradeço ao
EB – Esse talvez seja o maior desafio governador Camilo Santana por ter RC – O senhor relaciona, na sua
que eu, pessoalmente, tenho enfren- me colocado à frente desse desafio. fala, água com desenvolvimento
tado no governo. Apesar de eu ter E agradeço ao Grupo de Contin- humano, e cita também ‘redução
um certo domínio dessa literatura gência por estarmos construindo da desigualdade’. O sociólogo pre-
- inclusive já trabalhei no DNOCs, algo importante que vai ficar para valece nas suas decisões?
auxiliando Eudoro Santana, onde a história do Ceará. EB – Só consigo pensar o mundo
pude compreender a história das através da sociologia. A minha for-
secas no Ceará - tem sido um desa- RC – O senhor está otimista com a mação me leva a enxergar o mundo
fio porque conseguimos reunir um quadra chuvosa deste ano? a partir desse prisma. Ao longo da
grupo de pessoas extremamente EB – Olha, estou otimista não só minha trajetória o que fiz foi tornar
experientes, como o secretário de com as possibilidades que a natu- mais complexa a análise da reali-
Recursos Hídricos, Francisco Tei- reza pode oferecer, mas também dade, trabalhando e convergindo
xeira, que é um verdadeiro líder porque hoje no Ceará posso dizer com outras matérias das ciências
nessa área, conhece o sistema como com clareza que a gente tem uma humanas e das exatas. Hoje tenho
ninguém. Quadros qualificados capacidade de gestão de recursos uma proximidade grande com a
como o da Cogerh, da Funceme, hídricos que é exemplar para o país. física, estudo e procuro aprender
um grupo como o da Sohidra que é E temos também planejamento para cada vez mais sobre inteligência
operacional e extremamente com- as próximas décadas, justamente artificial e os modelos matemáticos
petente na perfuração de poços, ter pelas decisões inovadoras que estão nas relações sociais e como isso
a Defesa Civil bem estruturada na sendo tomadas e pela integração pode contribuir para que a gente
operação carro-pipa, que é com- entre política ambiental, gestão de enfrente determinados desafios,
plexa e cara, e contar com a Cagece recursos hídricos e desenvolvimento mas sobretudo nessa questão
que tem um quadro que é referência social e econômico. Isso me deixa específica da seca, ou da água, o
para o Nordeste. Por um lado, foi otimista, assim como a esperança olhar sociológico é extremamente
fácil para mim, pois essas pessoas na próxima quadra chuvosa. importante. Ao longo da história
são muito preparadas. Por outro das secas ou da gestão dos recur-
lado, você gerenciar uma crise que RC – E falando em esperança, o sos hídricos do Ceará prevaleceu
Cagece 61
R E V I S T A
JAN-MAR 2018
CRÔNICA
por RENATA NUNES
foto DEIVYSON TEIXEIRA
H
á um esforço quase sobre-humano na ati- mananciais ou pontos de captação… E quando se
vidade de “cavar” água em terra seca. A encontra água, o trabalho apenas começou. Eis
tarefa de buscar incessantemente o líquido que surgem elas, as gigantes do sertão: adutoras,
vital debaixo do sol escaldante e chão fervente é os equipamentos que conduzem a água do ponto
um grande desafio em todo o Nordeste, mas ele é de captação até o destino final.
ainda maior nos municípios cujos mananciais estão Mas ao passo que são a solução, também são
com volume morto. Nesses locais, o carro-chefe outro grande desafio dessa batalha. Isso porque,
das operações é o elemento humano. Nenhuma além da construção, a manutenção é um trabalho
ação seria possível sem o empenho e expertise de certo e importante, necessário 24h por dia, que
cada colaborador envolvido nas ações. garante tanto o transporte da água quanto o não
Se acompanhado de longe, por quem não desperdício ao longo do trajeto percorrido. Entre
conhece o labor diário dessa batalha, ou ainda operação e manutenção, os profissionais seguem
por quem mora na capital e não conviveu de fato sempre a cavar.
com a falta d'água contínua, esse trabalho não é A falta de água e a dificuldade dos processos,
tão conhecido ou valorizado quanto deveria ser. porém, parece não interferir na disposição dos
Mas para os profissionais envolvidos na luta coti- operadores. Prova disso, a garrafa de café na mão
diana de abastecer a secura de cidades inteiras, e o sorriso no rosto dos operadores durante as
essa labuta já é praticamente uma rotina e nem pausas da madrugada. Motivação é o que não
por isso a atividade se torna mais fácil. falta. Além do objetivo de dar continuidade ao
É com muita força no braço e posteriormente abastecimento da cidade, os profissionais carregam
suor estampado na testa, que os homens e mulheres em si o desejo de garantirem a segurança hídrica
comprometidos com esse trabalho partem para o de suas próprias famílias e amigos, considerando
ofício. Muito antes do sol nascer. Vale lembrar que, que vivem no município onde trabalham.
na maioria das vezes, ele nem tem hora pra terminar Nesse ritmo, a atividades precisam ser ágeis e
e, em algumas circunstâncias, não para nunca. estratégicas e a cada perfuração, busca, nova téc-
Dentre as atividades desenvolvidas, esqua- nica, o coração se inunda de esperança. Cada nova
drinhar o solo em busca de qualquer vestígio ou missão é como se fosse realmente uma batalha. O
sinal do líquido cristalino é uma das soluções olhar apurado sempre atento às novas soluções.
aplicadas. Para isso, perfuração de poços, uti- Esse é o profissional que trabalha com recursos
lização de ponteiras de rebaixamento de lençol hídricos em meio à escassez do sertão: enquanto
freático para captação de água do subsolo do a chuva não vem, sabemos que ao menos com sua
açude com volume mínimo e a procura por novos perseverança podemos contar.