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Cagece

R E V I S T A

7
Ano III
Janeiro
Fevereiro
Março
Publicação da Companhia 2018
de Água e Esgoto do Ceará

Operação
de guerra
A batalha da equipe da
Cagece em Crateús para
operar a maior e mais
complexa adutora do Ceará
e abastecer uma cidade
com 52 mil habitantes.

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/cageceoficial @cageceoficial
POR QUE SE
LIGAR À REDE
DE ESGOTO?

TRAZ
BENEFÍCIOS
Os dejetos serão
coletados e tratados,
assim você não vai
precisar se preocupar
com o destino deles ou
como descartá-los. Além
disso, previne doenças
como a diarreia, já que
traz saúde e qualidade
de vida à sua família.
AJUDA O
MEIO AMBIENTE
Estar interligado com
a rede de esgoto é
importante para o meio
ambiente, pois não
contamina os mananciais.

É LEI
Por lei, em Fortaleza,
todos os imóveis devem
estar ligados à rede de
esgoto, com exceção de
onde não existe redes
disponíveis. Caso não
ocorra a regularização,
o dono do imóvel
será multado.
Cagece
R E V I S T A

DIRETORIA EXECUTIVA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO


Diretor-presidente Assessora
Neuri Freitas Dalviane Pires
Diretor de Gestão Corporativa Comunicação Interna
Dario Perini Eva Silva | Estagiárias: Gabriela Rocha e Iara Peres
Diretora de Mercado Imprensa
e Unidade de Negócio da Capital Érica Bandeira, Felipe Moraes, Jilwesley Almeida
Claudia Caixeta e Renata Nunes | Estagiária: Joyce Souza
Diretor de Unidade de Negócio do Interior Sala de Imprensa
Hélder Cortez Leonardo Costa
Diretor de Engenharia Ambiente Web
José Carlos Asfor Mara Beatriz | Estagiários: Lucas Pinheiro, Thiago Matos
e Yohana Almeida
Diretor de Operações
Rogério Leite Publicidade
Flávio Moura, Leandro Bayma
Diretor de Planejamento
e Tatiana Brígido
e Captação de Recursos
Francied Mesquita Fotografia
Deivyson Teixeira
Diretor Jurídico
Sileno Guedes Produção Audiovisual
Luis Guilherme
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Patrocínio
Presidente
Joyna Sampaio
Jesualdo Pereira Farias
Administrativo
CONSELHEIROS Ana Carla Oliveira
Neuri Freitas
Izolda Cela de Arruda Coelho REVISTA CAGECE
José Élcio Batista Coordenação editorial
Fernando Matos Santana Dalviane Pires
Manuel Gomes de Farias Neto
Edição
João de Aguiar Pupo
Eva Silva
CONSELHO FISCAL Revisão
Membros Titulares Mara Beatriz
Liano Levy Almir Gonçalves Vieira
Textos
Ítalo Alves de Andrade
Carla Liara, Dalviane Pires, Érica Bandeira, Eva Silva,
Karla Cardoso de Alencar Forte
Iara Peres, Jilwesley Almeida, Joyce Souza, Leonardo
Fernando José Alves dos Santos
Costa, Lucas Pinheiro, Mara Beatriz e Renata Nunes
Eduardo Fontes Hotz
Projeto Gráfico e Diagramação
Membros Suplentes Leandro Bayma
Ronaldo Moreira Lima Borges
Raíssa Pessoa Silva e Ruivo Fotografia
Marcelo de Sousa Monteiro Deivyson Teixeira
Adriano de Camargo Oliveira Tiragem
Wilson Vasconcelos Borges Brandão Júnior 1.000 exemplares

Revista Cagece é uma publicação trimestral da Companhia de Água e Esgoto de Ceará – Cagece
Av. Dr. Lauro Vieira Chaves, 1030 – Vila União – CEP: 60.420-280 – Fortaleza - CE
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Distribuição Gratuita. Venda Proibida.
EDITORIAL

OS HERÓIS ANÔNIMOS E A
MAIOR ADUTORA DO CEARÁ

A
matéria de capa desta edição da Revista Cagece convida
você para conhecer um dos muitos desafios enfrentados
nesses tempos de seca. Estamos falando da manutenção
da adutora Araras, a maior do estado, com 160 quilômetros e
que tem ajudado a evitar o colapso no abastecimento de água de
Crateús, município localizado no sertão do Ceará.
Entenda como manutenção a observação diária em todo com-
primento da adutora, assim como a solução rápida para vaza-
mentos, comuns em virtude da alta pressão da água. Todos os
cuidados com a adutora Araras possuem a assinatura simbólica
de dezenas de trabalhadores. O serviço não é fácil. É exaustivo
e, muitas vezes, executado com sol a pino. Gratificante mesmo é
saber que não vai faltar água na cidade. Esses trabalhadores são
como heróis anônimos.
Vale conferir o pensamento de gestores dos recursos hídricos sobre
o que nos espera ao longo de 2018, além de outras reportagens que
vão deixar você em dia com o saneamento do Ceará.
Não deixe de conferir também a entrevista com o secretário
Chefe de Gabinete do Governo do Ceará, Élcio Batista, que mostra
que água é fundamental para o desenvolvimento humano.

Boa leitura!
10
CARIRI
Formação
geológica da
região favorece
abastecimento por
poços.

44
REDE
COLETORA
Sensibilizar para
a interligação
ainda é um
grande desafio.

46
COMPLIANCE
32 Cagece avança na
implantação de
compliance.
ENTREVISTAS
Gestores falam sobre
avanços e desafios.
28 SUMÁRIO
DESERTIFICAÇÃO
Período prolongado de
seca pode contribuir
para o fenômeno no
Ceará.

18
ADUTORA ARARAS
A mais extensa adutora do Ceará
tem 160 quilômetros.

SEÇÕES
50 08 PECÉM | Cagece avança em estudos
de reúso
ÁGUA PARA
ARTIGO | O Novo Rural: Sisar promove
CIDADANIA
Projeto-piloto em 13 desenvolvimento e qualidade de vida
no campo
quatro comunidades

14
de ocupação PMSB | Plano de saneamento: Cagece
irregular. atua em parceria com municípios

16 COMITÊ DE BACIAS | 20 anos atentos


ao nosso bem maior, a água

54 31 ARTIGO | Governança de TI

ECONOMIA
Em Fortaleza 237
condomínios já
42 LANÇAMENTO | Livro marca gestão
hídrica do Ceará

adotaram medição
individualizada.
56 ENTREVISTA | Élcio Batista,
secretário Chefe de Gabinete

62 CRÔNICA | Cavando água no


sertão
PECÉM

CAGECE AVANÇA
EM ESTUDOS
DE REÚSO
por JILWESLEY ALMEIDA fotos DAVI PINHEIRO

A
Companhia de Água e
Esgoto do Ceará (Cagece), Governador Camilo Santana visitou
através da sua sociedade projeto-piloto de Reúso no Pecém
de propósito especifica,
SPE Utilitas Pecém, estuda
projeto que visa produzir água de reúso a
partir do tratamento do esgoto gerado pela
Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) e
pela empresa Eneva, ambas localizadas no
Complexo Industrial e Portuário do Pecém
(CIPP). A iniciativa tem por objetivo abas-
tecer indústrias do próprio polo industrial
e econômico do estado, para que dessa
forma se possa priorizar ainda mais a água
dos mananciais para o abastecimento da
população cearense.
Os testes de reúso de água com os
efluentes gerados pelas duas empresas do
CIPP já foram realizados pela Cagece em
parceria com a empresa francesa Suez. O
projeto em escala piloto chegou a produzir
13m³/h de água. De acordo com o diretor de
Engenharia da Cagece, José Carlos Asfor,
os estudos feitos com base no volume pro-
duzido inicialmente demonstraram que
o produto final atende aos parâmetros de
qualidade das indústrias do polo.
O projeto encontra-se agora em etapa
de conclusão dos estudos de viabilidade
econômica para que, na sequência, sejam

8 Cagece JAN-MAR 2018


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realizadas negociações com as empresas águas subterrâneas, superficiais
do Complexo do Pecém interessadas em e atmosféricas da Universidade
utilizar a água de reúso em seus pro- Federal do Ceará (UFC), Assis
cessos industriais. “Após isso, a ideia é Souza Filho, a ampliação das
implantar uma estação móvel de água de ações de gestão referentes ao
reúso com capacidade de 400m³/h, para uso dos recursos hídricos, como
de fato atender a demanda dos potenciais reúso e até mesmo a dessalini-
clientes do CIPP”, afirma Asfor. zação, devem ajudar a suprir de
Ainda segundo o diretor da companhia, a forma considerável a necessi-
capacidade da estação equivale a produção dade de água da população.
de 110 litros de água por segundo, o que vai “A demanda por oferta de
representar uma economia de pelo menos água em Fortaleza, por exemplo,
10% da água bruta que hoje é destinada para é crescente. Olhando para o
o abastecimento das indústrias do CIPP. horizonte de 2040, quando a
Segundo Asfor, além de gerar economia demanda da cidade deve chegar
de água, o projeto também apresenta um a cerca de 20m³/s, a ampliação
ganho ambiental significativo, já que das estratégias de gestão dos
cerca de 70% do esgoto da CSP e da Eneva recursos hídricos deverá suprir
será reaproveitado, ao invés de lançado em até 25% da necessidade de
no meio ambiente. água para a abastecer a popu-
Para ser reaproveitado, o esgoto passará lação”, afirma ele.
por um sistema de tratamento físico-quí- Diante do cenário de escassez
mico. A tecnologia utilizada envolve pro- hídrica, a iniciativa do Governo
cessos de coagulação, floculação, filtros do Ceará de expandir a prática
multimídia e em cartucho, finalizando do reúso aos setores produtivos
com a etapa de osmose reversa, a qual, revela-se como mais um esforço
segundo Asfor, deixará a água de reúso estratégico para minimizar os
com a qualidade padrão de água bruta. impactos da seca que o estado
Conforme o engenheiro de recursos vivencia, sempre atento ao
hídricos e coordenador do núcleo de futuro do abastecimento. 

Cagece 9
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JAN-MAR 2018
A EXPERTISE NO
ABASTECIMENTO
POR POÇOS NO

CARIRI
por ÉRICA BANDEIRA fotos NÍVIA UCHÔA

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R E V I S T A
E
ntre tantas características que poços profundos e ainda garante uma
marcam a região do Cariri, grande quantidade de água e, por conta
sua riqueza natural é uma dessa formação, também se consegue ter A formação
das mais notáveis, pois em acesso à água subterrânea de forma fácil, geológica da Bacia
meio ao semiárido, a região diferentemente do resto do semiárido, cuja
se destaca com uma paisagem esver- formação é muito mais rochosa.” Sedimentar do
deada, dispondo de água abundante em Devido a esta peculiaridade, algumas Araripe, que é
seu solo. O Cariri foi beneficiado pela cidades do Cariri são abastecidas por
espontaneidade da natureza, pois a for- poços. De acordo com Galba Batista,
uma formação não
mação geológica da região é diferenciada gerente da Cagece na região da Bacia do consolidada, permite
graças à Bacia Sedimentar do Araripe, que
abrange alguns municípios da localidade
Salgado, das 33 localidades operadas pela
companhia, 22, atualmente, são abaste-
que o abastecimento
e é a grande responsável pelo verde que cidas por poços. Em cidades como Gran- seja realizado por
pinta o lugar, tornando-o um verdadeiro jeiro, Baixio, Ipaumirim, Umari e o distrito poços profundos e
oásis no semiárido. de Amaniutuba, em Lavras da Mangabeira,
É esta bacia que proporciona uma grande os poços foram uma alternativa à seca dos ainda garante uma
reserva de água subterrânea para o abaste- açudes que antes eram responsáveis pelo grande quantidade
cimento humano e faz do Cariri cearense
um lugar privilegiado em relação a outras
abastecimento dessas localidades.
O abastecimento por poços apresenta
de água
regiões do estado, que são majoritaria- ainda algumas vantagens em relação aos
mente compostas por solo cristalino. Celme açudes. A primeira grande vantagem é que Celme Torres,
Torres, doutora em engenheira civil com água subterrânea é de melhor qualidade professora da Universidade
ênfase em Recursos Hídricos e profes- por estar mais protegida de contaminação Federal do Cariri (UFCA)
sora da Universidade Federal do Cariri e sofrer menos interferências. Segundo
(UFCA), explica que “a formação geológica Galba, a água da região é de ótima qua-
da Bacia Sedimentar do Araripe, que é lidade e potável sob todos os aspectos,
uma formação não consolidada, permite e isto contribui bastante no processo de
que o abastecimento seja realizado por tratamento da água. Outro benefício do

Cagece 11
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Uma das formações mais antigas do Cariri é a Gruta do Farias, com mais
de 100 milhões de anos. Localizada no sopé da chapada do Araripe, a
gruta arenítica produz cerca de 200 mil litros de água por hora

abastecimento por poços é que não há formação sedimentar, começa toda a parte
perdas por evaporação, diferentemente do cristalino, o que acaba beneficiando
do que acontece no abastecimento por a região por causa da retenção da água.
açude, no entanto, “uma das dificuldades É por isso que existe essa diferença tão
do abastecimento por poços é dimensionar grande de que aqui é verde e em outras
a quantidade de água disponível", acres- áreas não.” complementa Celme.
centou Celme Torres. Mas não há dúvidas Porém, o solo da bacia sedimentar do
de que o Cariri é uma região que detém Araripe não se estende a todas as cidades
bastante água, deixando a localidade em da região e em alguns locais operados pela
situação mais confortável quanto aos Cagece, por exemplo, o abastecimento de
recursos hídricos disponíveis para abas- água acontece através de águas superfi-
tecimento humano. ciais, por meio de açudes, como as cidades
Além de contar com a abundância de de Altaneira, Lavras da Mangabeira, Cedro
água subterrânea, o Cariri ainda desfruta e Aurora e os distritos de Quitaiús, Iara e
de outra característica importante para a Ingazeira. A realidade de algumas cidades
manutenção dessa grande reserva hídrica, circunvizinhas e de diversas cidades do
é que a Chapada do Araripe, que é uma área estado é preocupante, principalmente
de recarga natural, apresenta uma incli- porque os locais abastecidos por açudes
nação de 5% para o lado do Ceará, o que dependem de uma boa quadra chuvosa,
faz com que toda a água de chuva escorra o que tem sido difícil nos últimos seis
na direção do Cariri. “Isto é uma formação anos com a estiagem. Isto deve servir para
natural que beneficiou a região, pois as que todos estejam atentos à dureza da
águas de chuva se acumulam na bacia realidade imposta pelas dificuldades da
sedimentar. Além disso, quando termina a escassez hídrica.

A importância e a
necessidade de cuidar
Tantas características naturais que questão muito grave e uma ameaça
beneficiam a região do Cariri exigem, muito grande à qualidade da água. Sem
portanto, atenção e cuidado. Alguns falar que um aquífero contaminado
aspectos precisam ser considerados é um aquífero perdido. Se a gente
para a garantia desse manancial e contaminar esse aquífero, a gente pode
da riqueza natural do local, já que há extinguir esse oásis no semiárido.”
fatores que podem comprometer, a A Cagece tem realizado trabalhos no
longo prazo, esses atributos que tanto sentido de conscientizar a população
beneficiam e diferenciam o lugar. É sobre o uso responsável da água e
preciso lembrar que a água, elemento também sobre a importância de se
essencial para a vida, não se trata de interligar à rede coletora de esgoto
um recurso inesgotável e isso requer da companhia com apresentação de
consumo responsável, zelo com a palestras e distribuição de material
Chapada do Araripe e cuidado com o educativo durante as visitas de
solo da região. sensibilização porta a porta, orientando
É preciso repensar o consumo de a população sobre a importância e os
água, especialmente neste cenário de benefícios da utilização da rede coletora
seca, garantir a preservação da Chapada de esgoto tanto para a saúde quanto
do Araripe, a rica reserva ecológica da para o meio ambiente. As fontes de
região, e também cuidar do solo, onde água servem à vida humana, mas é
está armazenada toda a água, e dar fim necessário entender que é preciso,
a possibilidade de contaminação por antes de tudo, cuidar. O cuidado com os
esgoto lançado de forma indevida. De recursos naturais é a maior garantia de
acordo com Celme Torres, “essa é uma uma vida com qualidade. 

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R E V I S T A
ARTIGO

O NOVO RURAL

por OTACIANA ALVES


otaciana.alves@cagece.com.br

A
pesar de ser considerado um direito e um componente A Cagece, através da Gerência de Saneamento Rural, vem
fundamental na qualidade de vida da população, o acesso numa constante busca de melhorias e aperfeiçoamento, tanto
à água tratada ainda é um dos grandes desafios do Brasil para o modelo Sisar quanto para os projetos de construção
no século XXI, principalmente quando se trata de áreas rurais. de SAA e assim continua garantindo a correta aplicação do
A população rural está distribuída por todo território brasileiro, recurso por parte do estado, como também a evolução do
porém, apresenta um aspecto de concentração em algumas Sisar nas localidades.
regiões. De acordo com o Censo Demográfico realizado pelo As ações para o desenvolvimento do saneamento rural em
IBGE/2010, há cerca de 29,9 milhões de pessoas que vivem em nosso estado são uma constante. Recentemente os Sisar's
áreas rurais. Quase metade está distribuída em cinco estados: estão realizando parcerias com empresas privadas e recebendo
Bahia, Minas Gerais, Maranhão, Pará e Ceará. recursos para implantação de novas tecnologias; houve a
Estando entre os cinco estados que possuem maior população criação do instituto Sisar que visa melhorar o relacionamento
rural, no Ceará – ao longo dos 21 anos após a fundação do pri- com fornecedores, investidores e assim ter mais economia
meiro Sisar no estado – é notória a evolução das associações, em escala, excelência e celeridade nos serviços; outra prática
da saúde e da qualidade de vida dos cidadãos. O modelo de de muito sucesso nas comunidades é o Sisar em ação, com
gestão Sisar iniciou o gerenciamento com 32 comunidades práticas de esportes, música e cultura, buscando o resgate da
filiadas atendendo a 30 mil pessoas. Ao longo desses anos, o cultura local e o empoderamento das associações.
número de comunidades filiadas passou para 925, atendendo Embora haja muito o que lutar para a melhoria das condições
a 551.487 pessoas. O maior patrocinador para essa evolução sanitárias das comunidades rurais, é observado que tivemos
são as políticas públicas do nosso estado que sempre tiveram grandes avanços, onde hoje, temos uma população bem mais
uma visão voltada para o atendimento aos mais necessitados, assistida por programas e investidores que objetivam o acesso
buscando a universalização da água através de empréstimos à água de qualidade.
com bancos nacionais e internacionais e, além das ações do O objetivo do fortalecimento das ações do Sisar é contribuir
estado, a iniciativa da Cagece em executar a replicação do para que os brasileiros tenham uma visão ampla da ruralidade
Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar) para as outras brasileira, e que o “novo rural” tenha espaço para novas par-
bacias hidrográficas do estado. cerias, sejam elas públicas ou privadas. O importante, acima
A política do Governo do Ceará para o acesso à água tra- de tudo, é que as políticas públicas levem em conta a diver-
tada na zona rural, que incluí a construção de Sistemas de sidade desse meio, pois, além de ser um espaço de trabalho
Abastecimento de Água (SAA) simplificados e o total apoio e produção é também um espaço de resgate da cultura e da
ao modelo de gestão Sisar, vem contribuindo para um novo qualidade de vida. Por tudo isso, o Ceará pode se orgulhar de
cenário no meio rural no nosso estado. levar para o Brasil e o mundo um novo modelo.
Por muitas décadas era comum que, em tempo de seca, os
moradores da zona rural deixassem suas casas e migrassem
para a cidade em busca de, entre outras coisas, água. Hoje,
mesmo após seis anos de seca, é mais difícil ver essa cena
principalmente nas localidades geridas pelo Sisar, pois este
conseguiu manter a maioria dos seus mananciais ou foi em
busca de fontes alternativas para garantir o abastecimento.
O modelo de gestão Sisar é reconhecido como um dos
melhores do mundo na sua área de atuação e serve de exemplo  OTACIANA ALVES é tecnóloga em Recursos Hídricos
para vários estados e países da América Latina que possuem e Saneamento Ambiental, mestre em Gestão de Recursos
características similares às do Ceará. Hídricos e gerente de Saneamento Rural da Cagece.

Cagece 13
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JAN-MAR 2018
PMSB

Aprazível
Jaibaras

PLANO DE
SANEAMENTO:
CAGECE ATUA EM
PARCERIA COM
MUNICÍPIOS
por LUCAS PINHEIRO E RENATA NUNES

14 Cagece JAN-MAR 2018


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51 finalizaram PMSB

41 estão com PMSB Saiba como


Situação do PMSB em andamento
funciona a
elaboração
nos municípios 59 não iniciaram /
operados pela sem informação

Cagece Municípios não


operados pela Cagece
do PMSB
O plano é constituído pelas
seguintes ações: diagnóstico

O
da situação atual do sistema
de abastecimento de água e
esgoto, estudos relacionados
Plano Municipal de Sane- acompanhamento e cumprimento dos às condições de vida da
amento Básico (PMSB) é objetivos definidos. “A Cagece apoia dire- população, prognóstico com
um instrumento de gestão tamente alguns municípios na elaboração objetivos e metas de curto,
participativa utilizado dos planos de saneamento, conduzindo médio e longo prazos e projetos
pelos municípios para a elaboração dos eixos voltados para de emergência/contingência.
alinhar as diretrizes do saneamento abastecimento de água e esgotamento Além disso, mecanismos para
básico e direcionar os investimentos sanitário. Esse trabalho acontece por monitoramento e avaliação da
no setor, objetivando a universalização meio de convênio de cooperação técnica”, eficiência e eficácia das ações e
dos serviços. A Cagece oferece suporte à explica a supervisora. revisão do plano também estão
elaboração de todos os planos dos muni- Já nos outros 67 municípios, a Cagece em andamento.
Cada município estabelece
cípios em que atua. Dos 151 municípios atua por meio de apoio indireto, con-
o seu plano de acordo com
atendidos, 92 já iniciaram ou concluíram tribuindo por meio de participação nas
suas necessidades, porém,
seu planos. Desse total, a Cagece atuou ou reuniões setoriais, revisão de documentos existem alguns princípios
atua mais fortemente na elaboração de 25. e levantamento de dados. Nesses locais, fundamentais da lei que são
Nesses 25 municípios, a Cagece possui por intermédio da Gerência de Concessão inerentes a todas as cidades.
convênio de cooperação técnica e, jun- e Regulação, a companhia participa e Dentre eles, a universalização
tamente com as prefeituras, atua dire- dá suporte técnico às prefeituras que do acesso, transparência das
tamente na elaboração e redação do avançam na construção dos planos em ações, controle social, segurança,
plano. Dentro desse grupo, 11 cidades conjunto com outros convênios, que qualidade e regularidade.
já tiveram seus PMSBs concluídos com podem se dar com empresas públicas Cabe lembrar que quatro
a participação direta da companhia. ou privadas. atividades compõem os serviços
São eles: Aquiraz, Cascavel, Crateús, de saneamento básico: coleta
de lixo, drenagem e manejo
Marco, Mauriti, Novo Oriente, Parai- CENÁRIO ESTADUAL
das águas pluviais urbanas,
paba, Santa Quitéria, Tauá, Tianguá e Após 11 anos da implantação do marco tratamento e distribuição de
Viçosa do Ceará. Os demais municí- regulatório do setor de saneamento básico água e esgotamento sanitário.
pios que encontram-se com planos em no Brasil, a conclusão dos PMSBs ainda é
andamento, contando com a participação um desafio para os municípios. No Ceará,
ativa da Cagece são: Baturité, Capistrano, a implantação dos PMSBs teve início em CORRENDO CONTRA
Itaitinga, Itapipoca, Maracanaú, Marti- 2011, por meio de uma articulação envol- O TEMPO
nópole, Pacajús, Parambu, Pentecoste, vendo Secretaria das Cidades, Associação Em dezembro de 2017, o decreto
Quixadá, Redenção e Ubajara. Cabe res- dos Prefeitos do Ceará (Aprece), Agência Federal 9.254/2017, publicado
saltar que, quando existe esse convênio, Reguladora de Serviços Públicos Dele- pela Presidência da República,
a cooperação técnica da Cagece com a gados do Estado do Ceará (Arce) e Cagece. ampliou em mais dois anos o
prefeitura é formalizada e a atuação da Fortaleza teve todo o processo de elabo- prazo para que os municípios
empresa na formulação do documento ração do PMSB concluído em dezembro concluam seus planos de sanea-
se torna mais ampla. de 2015. A Cagece atuou no plano por mento. De acordo com o decreto,
Segundo Priscila Alencar, supervisora meio de apoio indireto, levantando os a partir de 31 de dezembro de
de PMSB da Cagece, a função da empresa dados necessários e oferecendo suporte. 2019, o PMSB será condição exi-
nos municípios onde atua diretamente O convênio deste PMSB foi feito por meio gida para o acesso aos recursos
no plano tem se dado em todas as etapas da Prefeitura de Fortaleza em conjunto da União e dos órgãos da admi-
do documento, desde a elaboração até o com a empresa Acquatool. nistração pública federal. 

Cagece 15
R E V I S T A

JAN-MAR 2018
COMITÊ DE BACIAS

COMITÊS DE BACIAS:
20 ANOS ATENTOS
AO NOSSO BEM MAIOR,
A ÁGUA
por MARA BEATRIZ
ilustração LÉZIO LOPES
fotos ARQUIVO COGERH

16 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
A participação popular tem sido cada vez maior à medida em que a crise hídrica se agrava

E
m 2017 comemoraram-se No caso do poder público municipal, que delibera sobre as águas do
os 20 anos de atuação dos participam prefeituras e câmaras munici- Castanhão, Banabuiú e Orós, a
Comitês de Bacias no Ceará. pais; do poder público estadual e federal, participação é imensa”, completa.
Os colegiados que reúnem todos os órgãos ligados ao meio ambiente;
o poder público municipal, representando a sociedade civil orga- A ESCASSEZ HÍDRICA E OS
estadual e federal, além da sociedade nizada, entidades que tenham algum ESFORÇOS NO ENFRENTA-
civil organizada e dos usuários, os trabalho em meio ambiente ou em gestão MENTO À SECA
comitês promovem discussões sobre a de recursos hídricos; e no caso dos usu- Esses seis anos de seca fizeram
gestão da água de forma participativa ários, todas as instituições que utilizam o Ceará se reinventar. Depois
e tendo importante papel na locação água como insumo. A Companhia de de uma década de abundância,
de águas e na gestão de conflitos pelo Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) com três episódios de cheias, o
seu uso. tem secretarias executivas nos 12 comitês. Estado enfrenta agora a maior
Atualmente, são 12 os comitês que seca da sua história. E, como diz
cobrem todo o território cearense de PARTICIPAÇÃO POPULAR o ditado, a dificuldade ensina. “O
acordo com suas regiões hidrográficas, Segundo Clara Sales, gerente de Gestão Governo do Ceará tem buscado
sendo referência nacional tanto pelo pio- de Recursos Hídricos da Cogerh, “a par- cada vez mais novas tecnolo-
neirismo – o Ceará foi, acompanhado do ticipação popular aumentou bastante nos gias. O reúso da água hoje está
Rio Grande do Sul e de São Paulo, uma últimos anos por conta do agravamento da sendo muito estudado, inclusive
das primeiras unidades da federação a crise hídrica, uma vez que os comitês de pela Cagece. A dessalinização,
pensar seus comitês – quanto pelo fato bacias definem a locação dos reservató- apesar de ser uma solução cara,
de estarem não apenas constituídos, mas rios que fazem a perenização dos grandes é necessária, sem falar na trans-
atuantes (reunindo-se pelo menos quatro vales”. Como exemplo, ela cita a reunião posição do rio São Francisco,
vezes ao ano, cada um). com participação dos cinco comitês do uma obra muito grande”, pontua
Todos têm suas diretorias represen- Vale do Jaguaribe, ocorrida em junho Clara Sales.
tadas no Fórum Estadual de Comitês, passado, em Iguatu, com participação de Nesse período de crise hídrica
que discute questões comuns a todas as cerca de 500 pessoas. “Como é uma região os comitês são fundamentais por
bacias, tais como cobrança, questões de serem, legalmente, os grandes
outorga, transposição do Rio São Fran- mediadores do uso da água. Para
cisco, o próprio abastecimento humano Clara, “a política de recursos
nas cidades e medidas mitigadoras da A água tem que ser hídricos é essencial, pois sem
seca, por exemplo. bem cuidada e se água não há vida, não há desen-
A gestão participativa da água é volvimento, não há nada. A
garantida por cotas na composição das a gente não fizer água tem que ser bem cuidada
diretorias eleitas, fixadas em 30% das isso está fadado e se a gente não fizer isso está
vagas para a sociedade civil organizada;
30% para os usuários; 20% para o poder
ao colapso total. fadado ao colapso total. Água
é desenvolvimento e sempre
público municipal e 20% distribuídos vamos precisar dela pra fazer
entre poder público estadual e federal. O Clara Sales, tudo, tanto pra viver, que é o
decreto estadual 26.462, de 2001, é quem Gerente de Gestão de Recursos essencial, quanto para produzir
estabelece essas porcentagens. Hídricos da Cogerh as nossas mercadorias”. 

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JAN-MAR 2018
18 Cagece JAN-MAR 2018
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CAPA

ARARAS
OPERAÇÃO DE GUERRA
PARA ABASTECER
CRATEÚS
por RENATA NUNES fotos DEIVYSON TEIXEIRA

Cagece 19
R E V I S T A

JAN-MAR 2018
Uma cidade com 52 mil
habitantes para abastecer,
cujo manancial mais próximo
se localiza a 160 km de
distância. Assim nasceu
a Araras, da necessidade
de levar água à população
de Crateús. Construída
emergencialmente há dois
anos, operar a adutora
hoje tem sido uma tarefa
complexa. Mesmo assim,
a equipe da Cagece se

A
mantém firme com mais de
30 pessoas, trabalhando 353 km de Fortaleza, uma gigante
habita Crateús. Sua gênese está
24h por dia numa rotina localizada na cidade de Varjota,
em um açude homônimo que, em
beligerante e persistente. meio a muitos que ali já sucum-
biram, resiste fortemente ao oitavo ano de seca
da região. Estamos falando da adutora Araras.
A equipe da Revista Cagece percorreu os 160 km
da maior e mais complexa adutora do estado,
acompanhando de perto a rotina dos que se des-
dobram 24h por dia em uma atividade que mais
parece ser uma operação de guerra: transportar
água de forma contínua para uma cidade de 52
mil habitantes, por meio de uma adutora que foi
construída para ser emergencial.
A adutora Araras foi pensada em março de
2014, depois da estiagem secar totalmente o Car-
naubal, o principal açude da cidade e, até então,
responsável pelo abastecimento de Crateús. O
objetivo do Governo do Ceará com a obra foi
evitar, de forma emergencial, o colapso hídrico
Imagem do açude Araras no município. Para isso a estrutura planejada
que está com 7,3% da deveria ser grande o suficiente para captar água
sua capacidade e ainda do manancial com bom volume e que estivesse
representa alívio para mais próximo. O problema é que o manancial
algumas cidades mais próximo ainda era distante: o açude Araras.
A primeira dificuldade foi enfrentada por meio

20 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
PERCURSO DA ARARAS
Varjota
Pires
Ferreira

Ipú
Hidrolândia

Ipaporanga
Nova
Russas 7 cidades
160 km de extensão

Crateús

do árduo trabalho de montagem da adutora, construídas algumas ramificações da adutora,


que, além de tudo, precisava ser rápida. Assim, ligadas a pequenos açudes, localizados ao longo
a estrutura foi construída em nove meses, entre do percurso, com o objetivo de complementar
julho de 2014 e março de 2015. Cabe dizer que a captação. No primeiro momento seis açudes
a construção teve realmente um caráter emer- foram interligados à adutora – Belmonte, São
gencial, considerando que uma adutora desse Francisco, Palmares, Punga, Farias de Souza e
porte deveria ser construída em, pelo menos, Linhares. Hoje, após quase 30 meses de ope-
dois anos. Para se ter uma ideia do tamanho do ração, cinco chegaram ao volume morto por não
equipamento, para chegar a Crateús, a estrutura receberem recarga suficiente das chuvas. Desse
teve que percorrer não uma, mas seis cidades: modo, apenas o Linhares, que também é o mais
Varjota, Ipu, Hidrolândia, Pires Ferreira, Nova distante (70 km) ainda ajuda no complemento da
Russas e Ipaporanga. Desses municípios, além vazão para o abastecimento de Crateús.
de Crateús, apenas Nova Russas, a penúltima Mas a distância foi só o primeiro de muitos
cidade do percurso, também é abastecida pelo obstáculos enfrentados no extenso transporte
açude, mas não é operada pela Cagece. da água de Varjota até o destino final, a estação
De acordo com o gerente da Unidade de Negó- de tratamento localizada em Crateús. Até lá,
cios Bacia do Parnaíba (UNBPA), com sede em a adutora encara ainda outros problemas: as
Crateús, Dalmo Barreto, o longo caminho per- tubulações enterradas, feitas para a travessia de
corrido pela adutora foi o primeiro desafio do carros; as tubulações em áreas particulares; os
transporte da água, e continua sendo até os dias trechos localizados em áreas de difícil acesso; e
de hoje “nesse momento temos água garantida os pedaços da estrutura danificados devido ao
até o final de 2018 no açude Araras, o problema tempo de utilização. Além de tudo isso, a estrutura
é justamente fazer com que essa água chegue sofre com constantes furtos de água, e esse é um
a Crateús, ao longo de um caminho de 160 km grande fator desencadeador de vazamentos. As
cheio de obstáculos”, afirma. circunstâncias adversas fazem com que a vazão,
Também por conta da distância entre o manan- projetada inicialmente para ser de 468m³/s,
cial e o equipamento de transporte de água, foram chegue ao município com apenas 300m³/s.

Cagece 21
R E V I S T A

JAN-MAR 2018
Driblando
Para driblar todos esses percalços, Às 22h de uma quarta-feira bem
a operação não mede esforços e comum, em um trecho escuro e

a gigante
nem estratégias na manutenção da bastante recuado da estrada, os
adutora. Atualmente, uma equipe seis operadores - Dieines, Francisco,
de pelo menos 30 homens trabalha Arthur, Zé Antônio, Alex e André -
diretamente com a adutora. As liderados pelo coordenador Técnico
atividades consistem em retirar de Operações da Cagece, Fernando
vazamentos, driblar os furtos de água Amorim, e pelo gerente da unidade,
e realizar o monitoramento diário da Dalmo Barreto, chegaram ao local
estrutura. Tudo isso com o objetivo da ocorrência em três carros e uma
de continuar garantindo a segurança retroescavadeira. Logo todos estavam
hídrica da cidade, mas com uma com as roupas trocadas, refletores de
motivação a mais: garantir a de suas luz apontados para a tubulação e as
próprias famílias. “Quando minha ferramentas a postos para retirar um
equipe é a da vez eu já me preparo. vazamento de grandes proporções
Vou pra casa e quando o vazamento que, de acordo com o diagnóstico dos
aparece saio determinado a resolver. profissionais, teria sido causado por
Se for preciso passo a noite inteira, uma tentativa de furto de água.
o importante é não desabastecer O vazamento da vez foi retirado em
nossas famílias e amigos. Para isso não cerca de quadro horas após a chegada
medimos esforços, chegamos a retirar dos profissionais e a solução escolhida
nove vazamentos por semana”, conta foi a utilização de solda e abraçadeira,
Dieines Vieira, operador da adutora um método desenvolvido pela equipe
há quase dois anos. Essa complexa que, além de solucionar o problema,
operação foi acompanhada em campo tem como objetivo reforçar a estrutura
pela Revista Cagece. e impedir ocorrências semelhantes.

22 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
Muitas vezes temos que parar o
sistema para retirar os vazamentos
para evitar desperdício, por isso, as
intervenções durante a madrugada
proporcionam menos traumas nesse
sentido, já que a água tem menor
índice de utilização durante esse
horário. Essas operações são muito
proveitosas, em uma realizada
recentemente, por exemplo,
retiramos 10 vazamentos entre um
trecho localizado entre a cidade de
Sacramento e Crateús.

Dalmo Barreto,
gerente da Unidade de Negócios Bacia do Parnaíba

A escolha do melhor método não Vazamento em trecho da


depende apenas do tamanho da adutora Araras, localizado em
fissura identificado. Fatores como Crateús, retirado pela equipe de
frio e calor também influenciam
operações noturnas da Cagece
no trabalho dos operadores, isso
porque a tubulação tende a se
expandir ou dilatar, o que varia com
a temperatura. A depender dessa
série de circunstâncias, pode ser
necessário mover outras tubulações,
além da danificada, o que demanda
mais tempo e mais esforço na
operação. Além dessa expertise, os
profissionais têm que contar ainda
com a criatividade para desenvolver
soluções rápidas e eficazes em um
curto período de tempo. Isso porque
a cidade pode ficar desabastecida
durante o tempo de retirada dos
vazamentos.
E foi pensando em minimizar
os transtornos à população,
relacionados à interrupção da
distribuição de água, que as equipes
intensificaram os trabalhos durante
a madrugada.

Cagece 23
R E V I S T A

JAN-MAR 2018
Colaboradores revezam

Operação que vai além


a operação das estações
elevatórias 24h por dia

do emergencial
As ações das equipes não restringem-se revezam na operação desse equipamento.
apenas às emergenciais. Elas também Por meio desse trabalho, é necessário
realizam manutenções programadas, tro- identificar queda de pressão, o que pode
cando trechos vulneráveis e realizando o indicar ocorrência de vazamento ou furto
monitoramento da adutora. Todos os dias de água. Dessa forma, a Cagece é capaz de
dois profissionais da Cogerh (Companhia detectar um vazamento antes mesmo dele
de Gestão dos Recursos Hídricos) fazem se tornar visível.
uma ronda por toda a extensão da adu- Não é fácil e nem barato manter uma
tora a fim de identificar trechos críticos ou operação desse porte, que abrange moni-
danificados, para substituí-los antes que se toramento, manutenção e execução de
tornem um problema maior. Graças a esse serviços. Além dos gastos da Cagece com
trabalho, já em 2018, a Cogerh pretende toda a operação, que hoje estão em apro-
trocar pelo menos 5 mil metros de tubu- ximadamente R$ 200 mil reais mensais, a
lação da adutora que já aparentam desgaste. Cogerh investe cerca de R$ 300 mil reais
As estações elevatórias são outra parte em custos com energia elétrica para manter
do equipamento que também necessitam adutora e estações elevatórias em pleno
de manutenção e muita atenção. Elas são funcionamento. O que significa dizer que
as estruturas responsáveis por elevar a atualmente são necessários R$ 500 mil
pressão necessária para mandar a água reais por mês apenas para levar água do
de uma ponta a outra. No total, a adutora açude Araras até a estação de tratamento da
Araras possui quatro estações elevatórias e, Cagece. Ao chegar lá, a água ainda será tra-
em cada uma, quatro bombas de operação tada por meio dos processos de coagulação,
manual. Para gerir esse equipamento de decantação e filtração, o que demanda mais
forma satisfatória é necessário que um um valor de R$ 75 mil reais para a Cagece.
profissional monitore e controle as pressões Após o tratamento, a água é dividida entre
24 horas por dia. Assim, os colaboradores se os dois reservatórios localizados dentro da

24 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
Da adutora às torneiras
A população segue abastecida, mas que já estão sendo pensados, como a expertises e reinvenções: “em oito
sentindo na torneira de casa os efeitos substituição de trechos problemáticos anos de estiagem nessa região, nosso
das dificuldades dos profissionais em e a operacionalização de todos os maior problema foi Crateús, que sente
campo: “tenho esse comércio aqui há processos, existe também uma grande mais ainda os efeitos da complexa
37 anos e posso lhe dizer com toda operação que está sendo programada adutora porque está na ponta.”
certeza que essa tem sido a pior seca pela Cagece para 2018. Nela, uma Além de tudo isso, a Cagece
que já enfrentei aqui nessa cidade. força-tarefa composta por quase toda iniciou um trabalho de avaliação
Temos água quase todos os dias, mas a equipe será convocada a percorrer de resultados in loco. Nessa ação a
também estamos preparados para ficar os caminhos da adutora em busca de equipe de gestores, formada por
desabastecidos. Tenho sempre esses vazamentos e trechos problemáticos. encarregados de núcleos, supervisores
baldinhos ali à mão (aponta para cinco Essa grande operação programada e coordenadores percorrem todos
baldes na cozinha) e, quando falta, deverá contar com o apoio do exército. os quilômetros da adutora para ver
já sabemos o caminho do poço mais Para ele, mesmo diante de todos os de perto a situação, avaliar o serviço
próximo”, afirma o senhor Matheus esforços empreendidos pela Cagece, prestado, as fraquezas e os acertos
Souza, proprietário de uma lanchonete a labuta há de continuar abastecendo da operação, com o objetivo de
no centro de Crateús. a população e a operação segue firme aperfeiçoar e sugerir novas soluções
Dalmo explica que apesar dos ajustes e forte, em meio a erros e acertos, para a operação da gigante.

As estações
elevatórias também
estação da companhia, um elevado, com se localizam
capacidade de 1500 m³, e um apoiado, que
conta com 750m³, construídos assim como distantes uma da
mais uma forma estratégica para não deixar outra, em Crateús,
nenhuma parte da cidade desabastecida.
Outra iniciativa da Cagece no sentido de
Ipu, Tamboril e
distribuição de água são os reservatórios de Ipaporanga, por isso
água metálicos. O grande diferencial destas é necessário que
caixas d’agua modernas é que elas podem
ser facilmente removidas e rapidamente se tenha sempre
instaladas em outro ponto. um operador por
Toda essa megaoperação está em cons-
tante aperfeiçoamento por parte dos pro-
lá. Além disso, eles
fissionais envolvidos. Além do monito- controlam níveis de
ramento contínuo, estudos de melhores
horários para retirada de vazamento
óleo, manutenção do
sem causar grandes transtornos à cidade equipamento, etc. O
e expertise da equipe, que está sempre trabalho humano é Adutora Araras
apresentando novas ferramentas e téc-
nicas originais de retirada de vazamentos. fundamental aqui na Tempo de operação: 30 meses
O trabalho que inicia muito antes do sol elevatória. Tamanho: 160 km
nascer nunca tem hora para terminar. E é Diâmetro: 500 mm
assim que a grandiosa e complexa adutora
Vazão: 300m³/s
tem sido, ao mesmo tempo, a salvação Fernando Amorim,
e o problema do abastecimento de água coordenador Técnico de Custo mensal: R$ 500 mil
em Crateús. Operações da Cagece Ligações beneficiadas: 20 mil

Cagece 25
R E V I S T A

JAN-MAR 2018
Dois anos a
mais de peleja
Enquanto Fortaleza e a maioria das cidades do Ceará
estão no sexto ano consecutivo de estiagem na cidade
de Crateús, já está no oitavo ano. De 2010 até o ano
de 2017 a cidade vive oficialmente situação crítica de
escassez hídrica.
Crateús está localizada no Sertão dos Inhamuns, uma
microrregião cuja bacia Sertões de Crateús é composta
por mais outros cinco municípios: Independência,
Quiterianopólis, Novo Oriente, Ipaporanga e Tamboril.
A situação de escassez se dá, obviamente, pela falta
de recarga nos açudes da região. Atualmente, nos
sertões de Crateús, a bacia acumula apenas 1,18%
de sua capacidade total. Se considerarmos o Araras
que, apesar de estar fora da bacia, abastece a região
de Crateús, esse número sobe para 9,24%. Neste
município, três açudes já secaram, sendo eles,
o Realejo, o Barragem do Batalhão e, o Carnaubal
chegou ao volume morto em 2013, sendo a última vez
que sangrou em 2014. Independência, Barra Velha,
Cupim e Jaburu II também secaram. O mesmo ocorreu
com o Flor do Campo, em Novo Oriente, e com o
açude Sucesso, em Tamboril. Em Ipaporanga, o São
José III encontra-se com apenas 0,01% de volume. Já
em Quiterianópolis, o açude Colina acumula 0,86% de
sua capacidade.
De acordo com Dalmo Barreto, de 2015 até hoje já
foram utilizados, no total, 15 açudes para garantir o
abastecimento de Crateús. Após o Carnaubal secar
completamente, a solução mais definitiva encontrada
foi recorrer ao Araras, que atualmente encontra-se com
pouco mais de 8% de sua capacidade de reservação.

Ao lado, açude Jaburu II, que abastece a cidade de


Independência, em volume morto. Acima, estação
de tratamento de água da Cagece, em Crateús. Mais
acima, vista aérea do município, que chega ao oitavo
ano de situação crítica de escassez hídrica

26 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
Quando o gestor
arregaça as mangas
É importante ressaltar que a batalha do muitas vezes até atuando juntamente operação é imprescindível: “De
dia a dia para abastecer o município de com o restante da equipe. Dalmo explica um modo geral, se eu pudesse
Crateús não seria possível sem os pro- que a rotina diária não permite que seja contabilizar os esforços empre-
fissionais envolvidos na operação. Divi- diferente: “Todo mundo acaba se envol- endidos para abastecer Crateús
dindo operação e trabalho burocrático, vendo na operação. Gosto de acompa- durante o período de escassez
um personagem chave nessa força-tarefa nhar de perto a maioria das ocorrências e hídrica, eu arriscaria dizer que
é o gerente da Unidade de Negócios da atuar da melhor maneira no que eu puder, estão divididos da seguinte
Bacia do Parnaíba, Dalmo Barreto. O algumas vezes na parte operacional, se maneira: 50% recursos finan-
gerente é responsável pela unidade de necessário”. ceiros, 47% esforço operacional,
negócios da Cagece em Crateús e por E foi assim que a equipe de jornalistas 1% criatividade, 1% sorte e, não
toda a operação que abastece a cidade. encontrou Dalmo, a caminho da reti- menos importante, 1% fé.” E é
Mas engana-se quem pensa que ele rada de um vazamento, em que, além de com esse perfil de líder que ele
carrega perfil tradicional de gestor. Das liderar e decidir o melhor tipo de solução segue otimista para as próximas
quase 48h que a equipe de jornalistas da para o problema, ele ajudou, ainda, na quadras chuvosas, mas garante
Cagece acompanhou a operação, Dalmo parte operacional. que a adutora de Crateús tem
esteve presente em todas elas, não apenas Colaborador da companhia há mais sido o grande desafio da sua
supervisionando e orientando, porém, de 15 anos, para Dalmo, o esforço da carreira até hoje. 

Cagece 27
R E V I S T A

JAN-MAR 2018
DE
SER
TI
FI
CA
ÇÃO
por JOYCE SOUZA
fotos DEIVYSON TEIXEIRA E ARQUIVO FUNCEME

28 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
Segundo os estudos da Funceme, a
seca que afeta o estado contribui para
que o fenômeno aconteça, mas as
atividades humanas – como queimadas
e desmatamentos, por exemplo –
também prejudicam o solo.

D
esertificação: degra- As pesquisas sobre o tema não pararam
dação de terras, nas por aí. Em 2009, a Funceme realizou
zonas áridas, semiáridas um novo estudo em escala mais deta-
e subúmidas secas. Essa lhada, na região do médio Jaguaribe - nos
é a definição do termo de municípios de Jaguaribe, Jaguaretama,
acordo com a Convenção das Nações Jaguaribara, Alto Santo, Iracema, Poti-
Unidas de Combate à Desertificação e retama, São João do Jaguaribe, Limoeiro
Mitigação dos Efeitos da Seca (UNCCD). do Norte e Morada Nova. “Os municípios
A Fundação Cearense de Meteorologia de Jaguaribe e Jaguaretama são os que
e Recursos Hídricos (Funceme) segue se apresentam mais atingidos por esse
as determinações desta convenção, fenômeno”, ressalta Sônia.
uma vez que o Brasil é um dos países Já em 2015, foi elaborado um mape-
signatários, que fazem parte do acordo amento e caracterização de toda a área
com a UNCCD e tem comprometimento susceptível à desertificação no Brasil. Ter-
com o tema. ritório esse que é formado por uma região
É um fenômeno que ocorre em decor- semiárida e subúmida seca do país. Para os
rência de vários fatores, principalmente pesquisadores da Funceme, os resultados
devido às ações humanas e às variações não foram animadores. “Esse estudo apre-
climáticas. No caso do Nordeste, que senta o estado do Ceará como o segundo
enfrenta o sexto ano seguido de chuvas estado mais degradado, com 11,45% de sua
abaixo da média, essa situação se torna área total comprometida pelo processo de
mais grave. A seca se alastra pela região, desertificação”, afirma Sônia.
O Ceará é o fazendo com que diversas cidades, espe-
cialmente as do interior, estejam em situ- CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA
segundo estado ação de emergência devido à estiagem. DESERTIFICAÇÃO
mais degradado, De acordo com o site do Ministério do Meio
FUNCEME E SUAS PESQUISAS Ambiente, no Brasil o processo de deserti-
com 11,45% A Fundação estuda sobre desertificação ficação é consequência do uso inadequado
de sua área total desde o início da década de 1990, segundo dos recursos florestais, principalmente na
comprometidas a pesquisadora da Funceme, Sônia Per-
digão. De acordo com um estudo reali-
Caatinga e no Cerrado para o fornecimento
de biomassa florestal no atendimento de
pelo processo de zado na Conferência Internacional sobre considerável percentual da matriz energé-
desertificação. Clima, Sustentabilidade e Desenvolvi- tica do Nordeste e de outras regiões.
mento em Regiões Semiáridas (ICID), O manuseio indevido da terra pode
em 1992, 10,2% da superfície total do ser feito de diferentes formas, colabo-
Sônia Perdigão, Ceará estava associada a processos de rando para o processo de desertificação
pesquisadora da Funceme degradação susceptíveis à desertificação. ocorrer. Pode acontecer através dos

Cagece 29
R E V I S T A

JAN-MAR 2018
desmatamentos, pelas práticas agrope-
cuárias sem manejo adequado dos solos
(o que provocam os processos erosivos e
esgotando os solos), além do manejo ina-
dequado dos sistemas de irrigação, com a
consequente salinização da terra.
Por isso, é importante o conhecimento
sobre a terra e as maneiras de se prevenir
a desertificação. Segundo Sônia, é pos-
sível evitar que o fenômeno aumente se o
agricultor receber informações sobre como
cultivar sem prejudicar o solo. “Pode-se
prevenir a degradação dos solos utilizando
a terra de acordo com a sua vocação, res-
peitando-se suas características e limi-
tações. Para tanto, é necessário que se
forneça ao agricultor educação ambiental
e assistência técnica através da extensão
rural, facilitando a obtenção de créditos
junto às instituições financeiras e insumos
adequados”, afirma.

Projetos da Funceme
contra a desertificação
Alguns métodos da Funceme já
estão em ação contra o fenômeno
devastador. “Foram implementadas
técnicas de manejo dos solos tais
como terraceamento, escarificação,
sulcamentos, construção de barragens
de pedra, além da adição de
serrapilheira e esterco”, nos contou
Sônia quando questionada sobre os
projetos da Funceme. E completou:
“Após dois anos da implementação
dessas técnicas, já se observa o
surgimento da vegetação herbácea
e de algumas espécies nativas da
região, onde o solo estava totalmente
descoberto, sem vegetação”.
A Fundação vem desenvolvendo um
projeto – que envolve o estudo de solos,
recursos hídricos e de meteorologia,
além dos aspectos sociais – no município
de Jaguaribe, no distrito do Brum,
onde está havendo uma recuperação
de uma área degradada em processo
de desertificação, “tendo em vista a
conservação e uso sustentável dos
recursos naturais e a multiplicação das
técnicas implementadas em outras
áreas degradadas da região semiárida”,
de acordo com a pesquisadora. 

30 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
ARTIGO

GOVERNANÇA DE TI

por OTÁVIO FROTA


otavio.frota@cagece.com.br

A
área de TI tem assumido cada vez mais um papel estra- a velocidade de atendimento dos seus clientes. Outros projetos
tégico nas organizações, fornecendo serviços e criando importantes são a disponibilização de tótens (dispositivos de
soluções inovadoras alinhadas aos negócios. A informação atendimento) que serão disponibilizados nas lojas e shoppings
deve ser gerenciada como um recurso estratégico em todo o e a cobrança eletrônica, que será realizada por e-mails e SMS.
seu processo de produção e disseminação por todos os seus A modernização e evolução constantes também se devem
interessados. A Governança é inserida neste contexto através de às áreas de Infraestrutura e Segurança da Informação, que
preparação e estruturação da área de TI em liderança, processos suportam todo o ambiente de sistemas e serviços, garantindo
e estruturas organizacionais que assegurem que a TI entenda e a disponibilidade, capacidade, confidencialidade e integridade
sustente as estratégias e objetivos da organização. Em resumo, a das informações da companhia. O projeto de aquisição de uma
Governança de TI precisa entender e contribuir com o negócio, nova storage (solução de armazenamento de dados) que se
objetivos e processos da organização. deu no ano de 2017 conseguiu duplicar o espaço de armaze-
O ambiente de TI da Companhia de Água e Esgoto do Ceará namento, utilizando-se também de discos de última geração,
(Cagece) enquadra-se como de grande porte. São aproximada- com velocidades bem mais elevadas que os anteriores. No
mente 100 sistemas que suportam os diversos macroprocessos ano de 2017 a Cagece adquiriu uma nova solução de backup
da companhia. A infraestrutura conta com 2.530 computadores, em fitas, garantindo, assim, uma camada a mais de segurança
408 impressoras, 448 tablets, 374 smartphones e 210 links de aos dados e continuidade das informações do negócio, que já
comunicação de dados, dando cobertura em todo o estado. contam com site de backup e backups redundantes realizados
A Cagece vem investindo fortemente no desenvolvimento em discos. Nesse ano também houve a compra de certificados
de sistemas e modernização da infraestrutura de TI. Saímos digitais para garantir a segurança na comunicação dos sistemas
de um de mainframe, que foi desativado em abril de 2012, e e a renovação do antivírus corporativo, visando proteger as
hoje contamos com equipamentos modernos com mais de estações de trabalho da companhia, além de outras aquisições.
60 servidores virtualizados, utilização de firewalls de última Cumpre ressaltar que muito foi feito até agora e ainda nos
geração, backups redundantes, storage de armazenamento de restam muitos desafios para elevar a Getic a um patamar supe-
alto desempenho, data center utilizando sala cofre com certi- rior de excelência em seus serviços, com a universalização da
ficações internacionais, dentre outras tecnologias. informatização em todas as instâncias da organização e melhoria
A Gerência de Tecnologia da Informação e Comunicação do atendimento ao cliente.
(Getic) passou por diversos desafios ao longo do tempo com a Tudo o que conquistamos foi com esforço e comprometimento
implantação de vários projetos, destacando-se: ERP, Prax, Des- dos nossos colaboradores, apoio constante da diretoria e parceria
pachos de Ordem de Serviço, Medição e Faturamento imediato, continuada da TI com as áreas de negócios e serviços que vem
CageceApp, Mapp, Sistema de Transporte, Sistema de Licitação, dando muito certo. Este é o caminho de Governança de TI que
dentre vários outros projetos inovadores. vislumbramos a ser trilhado, revertendo-se em benefício na
Outros projetos de modernização que envolvem os sistemas prestação dos serviços à população cearense.
encontram-se em andamento. Dentre eles podemos citar o iGeo,
que busca desenvolver e implantar uma solução baseada em
inteligência geográfica para a gestão de cadastro, compreendendo
as redes de água e esgoto numa base de dados georreferenciada
integrada para utilização pelas diversas áreas da companhia.  OTÁVIO FROTA é graduado em Engenharia Civil,
O novo aplicativo da Cagece, o CageceApp, que tem previsão Especialista em Gestão para Executivos, Informática e
de disponibilização para android e iOS em março de 2018. A em Redes de Computadores, Mestre em Administração e
Getic também está desenvolvendo um chatbot, que seria um superintendente de Gestão e Serviços Compartilhados da
novo atendente virtual robotizado, visando auxiliar e aumentar Cagece.

Cagece 31
R E V I S T A

JAN-MAR 2018
GESTÃO DAS ÁGUAS:
AVANÇOS E DESAFIOS
A Revista Cagece conversou com cinco gestores ligados aos recursos hídricos
no Governo do Ceará para saber mais sobre os avanços da gestão e perspectivas
para a área nos próximos anos. Apesar do reconhecimento nacional com as
ações de convivência com semiárido, o Ceará ainda poderá enfrentar desafios
caso não haja uma recarga satisfatória dos mananciais na quadra chuvosa
deste ano. Estamos preparados para encarar mais um ano de seca? Quais as
expectativas e desafios esperados em 2018? São estas e outras perguntas que
nortearam nosso bate-papo com os gestores.

por EVA SILVA E LEONARDO COSTA


fotos DEIVYSON TEIXEIRA

32 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
A DIFÍCIL TAREFA DE MANTER O
CONSUMO HUMANO SEM ESQUECER
A ECONOMIA DO ESTADO
Revista Cagece – O senhor pode dado condições de fazermos as ações
fazer um balanço das ações de onde realmente é necessário, com
2017? bom planejamento da operação dos
João Lúcio – Em função desse ciclo nossos reservatórios.
prolongado de secas que a gente Todos os anos a gente faz uma
vivencia desde 2012 em todas as avaliação e replaneja a operação
bacias hidrográficas do Ceará, 2017 de todos os 155 reservatórios que são
foi um ano difícil. A gente vem pla- monitorados pela Cogerh e a ação em
nejando as ações de forma articu- nível de cada município do estado
lada com outros setores e temos do Ceará para que a gente possa ver,
realizado reuniões sistemáticas através de cenários, os nossos reser-
para que a gente possa estabelecer vatórios e até onde eles suportam o
ações conjuntas. Temos um bom abastecimento das cidades. A partir
João Lúcio de Farias, diagnóstico de todos os municípios daí nós vamos somando outras
presidente da Cogerh do estado, a situação do abasteci- ações, seja a perfuração de poços
mento de cada um. Isso tem nos ou outros.

Cagece 33
R E V I S T A

JAN-MAR 2018
Hoje nós estamos com o maior pro- fazendo, mas também tem que olhar balanço hídrico dessas duas regiões.
grama de perfuração de poços do para a economia do estado. Isso Além disso, avançamos no estudo
Ceará para que a gente possa com- está ligado diretamente à renda, ao do campo de dunas do Pecém até
plementar o abastecimento de água emprego, à geração de impostos em o Paracuru. Começamos a utilizar a
superficial com água subterrânea e todo estado, então essa preocupação água subterrânea dessa região para
nesse momento a água subterrânea nós temos tido. abastecer a área leste metropoli-
tem dado uma grande contribuição Esse período de seca tem sido um tana; estudamos todo aquífero Serra
para que a gente possa continuar aprendizado para todos nós. Fez Grande, entre outros.
abastecendo os 184 municípios do com que a gente se aprofundasse Tudo isso, nesse momento, foi
nosso estado. Além disso, nosso pro- em alguns temas importantes importante para que a gente pudesse
grama de adutoras de montagem no Ceará, como o caso de buscar avançar no bom conhecimento e
rápida já conta com mais de 1.500 também novas alternativas para o planejamento do uso da água super-
km de adutora, construídos. Várias abastecimento no estado do Ceará. ficial. Hoje, essa água subterrânea
cidades foram atendidas por esse Estamos agora caminhando para vem garantindo o abastecimento de
programa e estamos fazendo um um processo de dessalinização de várias cidades.
processo de transferência de água água do mar e acredito que seja
para que a gente possa atender a irreversível, o estado deverá ter a RC – Existe alguma perspectiva,
todas. Mesmo com essa crise hídrica primeira usina de dessalinização do caso a quadra chuvosa não seja
que estamos atravessando, temos país e também estamos avançando satisfatória, de aproveitar essa
buscado alternativas para abastecer na questão do reúso da água. Acre- água das dunas também para For-
os municípios, garantir o abasteci- dito que em pouco tempo estaremos taleza? O que está sendo pensado
mento humano e, aonde é possível, reutilizando boa parte das águas com relação a isso?
estamos atendendo também a ativi- residuais das estações que são ope- JL – Estamos estudando a pos-
dade produtiva, principalmente no radas pela Cagece. sibilidade desse aproveitamento
interior do Ceará. aqui para a região mais próxima
RC – Ainda sobre os avanços, o de Fortaleza, como a Sabiaguaba.
RC – E na Região Metropolitana de senhor fala em fontes alternativas, Estudamos desde o Pecém até o
Fortaleza (RMF), onde está locali- como se dá essa busca? Paracuru e agora estamos fazendo
zada a maior parcela da população JL – Nós passamos a estudar melhor também investigações nessa região
do Ceará, como está sendo feita a a dessalinização e o reúso e estamos mais próxima de Fortaleza para que
gestão da água pela Cogerh? partindo na frente no sentido de a gente passe a utilizar também essas
JL – No caso da RMF nós estamos que a gente possa também passar a reservas dessa área de dunas. Só
garantindo água para abastecimento utilizar essas duas alternativas. Além para ter ideia, uma cidade como
humano, mas também olhando para delas, outra coisa importante é que, Natal, hoje, é abastecida por um
a economia do estado, a geração nessa crise, nós também avançamos grande campo de dunas, que fica
de emprego e renda. O setor de com os estudos das águas subterrâ- dentro da cidade, que abastece mais
Recursos Hídricos tem que ter o neas do Ceará. Estudamos melhor de um milhão de pessoas.
olhar prioritariamente para o abaste- o aquífero das chapadas do Araripe Se tivermos um bom aproveita-
cimento humano, como nós estamos e Apodi e hoje temos o domínio do mento dessas águas subterrâneas,


especialmente nessa área do campo
de dunas, é possível que se possa
utilizar de forma responsável, sem
comprometer o meio ambiente e
“…nosso programa de adutoras extrair água para prioritariamente
o abastecimento humano.
de montagem rápida já conta
com mais de 1.500 km de adutora, RC – O senhor pode citar qual foi
construídos. Várias cidades foram o maior desafio enfrentada pela
Cogerh em 2017?
atendidas por esse programa". JL – Acredito que o maior desafio que
tivemos foi garantir o fornecimento

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R E V I S T A
de água para os 184 municípios do preparados para todas as situ- estamos torcendo pra isso, para que
estado do Ceará. Isso foi colocado ações, sejam elas de período de haja uma reposição e a gente possa
também pelo governador Camilo secas ou período de cheias. Então trabalhar com mais tranquilidade.
Santana, para que pudéssemos nossa equipe se prepara para que
garantir o abastecimento dessas a gente possa estar sempre acom- RC – Por fim, só uma curiosidade,
cidades, e esse esforço tem sido feito. panhando, monitorando, fazendo qual seria o volume de chuvas
O segundo grande desafio é olhar o planejamento da operação dos necessário para fazer o Castanhão
para a economia do estado do Ceará nossos reservatórios. A expectativa sangrar?
e garantir água também para que a é que tenhamos um bom inverno e JL – Teria que ser um dilúvio (risos).
gente possa manter a economia do
estado nesse período de seca.

RC – E se a quadra chuvosa de 2018 SECA OU CHUVA: A DUPLA


não for satisfatória? Quais são as PREOCUPAÇÃO DA DEFESA CIVIL
perspectivas para 2018?
JL – A nossa perspectiva é que
tenhamos uma boa recarga dos
nossos reservatórios. Ainda estamos
numa fase de análise. A Funceme
vem acompanhando, monitorando e
nós, junto com a Funceme, estamos
próximo, também. Vamos torcer para
que tenhamos uma boa quadra chu-
vosa para repor, principalmente em
algumas regiões do estado que estão
numa situação mais crítica. A região
dos Inhamuns, por exemplo, preo-
cupa bastante. Vamos aguardar, mas Cleyton Bezerra,
a nossa expectativa é que a gente coordenador da Defesa Civil do Estado do Ceará
possa recuperar os nossos reserva-
tórios para que possam atender aos Revista Cagece – Quais os desa- municípios pedindo para que os
usos prioritários, mas também ao fios da Defesa Civil para 2018? prefeitos façam uma vistoria nas
crescimento econômico do estado Cel Cleyton – Em 2018 a preo- barragens de pequeno porte, já que
do Ceará. cupação já começa com a quadra elas são de responsabilidade deles.
chuvosa que está se aproximando.
RC – Qual a necessidade de aporte Muito embora não seja na dimensão RC – Então, há aí uma dupla
hoje para garantir o abastecimento que a gente pensa, mesmo assim preocupação, a continuidade
de água de Fortaleza, por exemplo, a gente já começa a se preocupar, dos serviços para garantir abas-
em um ano? principalmente com as pequenas tecimento, caso não chova; e o
JL – Hoje, se nós tivéssemos uma barragens que não sabemos bem a cuidado com as estruturas e a
recarga de pelo menos 50% da repo- condição para suportar um deter- segurança das pessoas, caso
sição dos mananciais do estado, seria minado volume de água. tenhamos um aporte que preju-
suficiente pra gente atravessar o ano Esse ano, a seca não saiu da preo- dique algumas barragens. Seria
de 2018 e chegar ao ano de 2019 com cupação e nem vai sair, mas emi- esse o pensamento?
mais tranquilidade. nentemente o que já nos preocupa CC – Exatamente. A Defesa Civil
passa a ser também o volume dessas é muito abrangente. Ela não trata
RC – Caso não haja esse aporte chuvas que a gente vai encontrar apenas dos problemas hídricos.
nos açudes, a Cogerh está prepa- e a gente torce que chova mesmo Como esse problema da estiagem
rada para enfrentar mais um ano porque é necessário, mas pode nos aflora de forma muito clara no
de seca? causar alguns transtornos. Já emi- estado, a Defesa foca suas ações
JL – Temos que estar sempre timos uma circular para todos os para ela, mas nosso trabalho é

Cagece 35
R E V I S T A

JAN-MAR 2018
muito amplo: vai desde colapso de situação é tão difícil, há um cálculo com a SRH, sabe fazer a previsão
estruturas, de prédios e de pontes, na Defesa Civil que é de 20 litros de qual manancial está prestes a
passando por enchentes, secas, des- de água por pessoa diariamente. É colapsar, o que ajuda bastante na
lizamentos até tremores de terra. um número bem diferente do que hora de definir as ações.
Por isso, a nossa preocupação é é recomendado pela OMS.
mais que dupla. A água da Defesa Civil é exclusiva RC – Dentro do cenário atual, qual
No caso da garantia do abaste- para o consumo humano. Quando a expectativa para a atuação da
cimento das populações, basica- a OMS fala de 110 litros, ela fala de Defesa Civil no âmbito da segu-
mente o que a gente trabalha é com asseio pessoal, afazeres domésticos rança hídrica? E, em sua opinião,
recurso federal vindo do Ministério e numa situação de normalidade. qual o desafio que a Defesa vai
da Integração, através da Defesa A Defesa Civil reduz a 20 litros enfrentar neste ano de 2018?
Civil nacional para garantir a ope- por pessoa e é exclusivo para o CC – A expectativa, não só minha,
ração pipa, a perfuração de poços, consumo humano. mas de todos os cearenses, é que
adutoras, outras ações. Em quatro tenhamos um inverno que atenda
anos, mais de R$ 200 milhões RC – Dentro dessa gama de melhor as expectativas, quando
foram captados via Defesa Civil municípios que a gente tem em comparado com anos anteriores.
para serem aplicados justamente situação de emergência, quais Em termos de perspectivas, pen-
no problema hídrico. são, hoje, as condições da Defesa sando em ter um quadro chuvoso
Civil de atender? Existe priori- favorável, já emitimos às Defesas
RC – Nós chegamos a 2018 com dade no atendimento de algum Civis e aos municípios um alerta
um número expressivo de muni- município? Como a Defesa se para que eles fiquem atentos aos
cípios em situação de emergência organiza para atender toda essa açudes, os reservatórios, pra saber
no estado. Qual a situação hoje? demanda? se eles têm condição de absorver e
CC – Hoje, cerca de 3 milhões de CC – Não é fácil. Temos dificul- de barrar realmente essa água. Essa
pessoas dependem da operação dades inerentes, mas a Defesa já é uma primeira ação.
pipa no Ceará. Temos em torno Civil é um órgão de articulação. As
de 100 municípios em situação de demandas são grandes e escolher RC – E se tivermos um sétimo
emergência. No ano de 2017, che- o atendimento de uma cidade em ano de seca, com esse cenário
gamos a atingir o número de 121 detrimento de outra é uma decisão econômico que se aponta com a
municípios. Isso porque a situação difícil. Logicamente que anali- dificuldade de recursos, a Defesa
de emergência tem uma vigência samos a população, disponibilidade está preparada para encarar um
de 180 dias, ela pode ser renovada real de água, e a gente consegue ano de seca?
ou não. ter uma noção dos municípios em CC – A gente tá com todo apoio do
Mas em termos de população e situação mais crítica. Governo do Ceará. Muito embora
escassez hídrica, a Organização Como a Cagece é um órgão que esses recursos sejam mais desti-
Mundial de Saúde (OMS) reco- está presente em quase todos os nados à SRH, que existe para esse
menda o consumo diário de 110 municípios do estado do Ceará, ela fim, a Defesa Civil também busca
litros por pessoa. No Ceará, como a mais do que ninguém, juntamente captar recursos federais. Se a gente


caminhar para mais um ano de
seca, vamos investir muito mais
junto ao Governo Federal para que
possamos ter a liberação de recurso
Hoje, cerca de 3 milhões de para a convivência com a seca.
pessoas dependem da operação E mesmo que haja uma estação
pipa no Ceará. Temos em torno chuvosa satisfatória, ela não será
suficiente para reabastecer todos
de 100 municípios em situação os reservatórios. Então a gente tem
de emergência. No ano de 2017, que estar preparado pra atender a
população no segundo semestre de
chegamos a atingir o número de 2018, quando começa novamente a
121 municípios". estiagem em alguns municípios. 

36 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
O TRABALHO PARA ALÉM
DA PREVISÃO DE CHUVAS instrumentos que trabalhamos
junto com a ANA e estão ligados à
organizar respostas ante a seca, ou
seja, focados no sistema de abas-
tecimento urbano, em sistemas de
operação de reservatórios e também
em apoiar a operação da transpo-
sição do rio São Francisco. Com
relação à transposição, estamos no
primeiro ano, organizando base de
dados, simulações, verificando as
solicitações de cada estado para
tentar dar maior utilidade à infor-
mação que a gente tem disponível.
Eduardo Sávio,
presidente da Funceme RC – É comum a gente associar a
Funceme unicamente à previsão
RC – Passados três anos da atual plano de contingência. do tempo. Onde a previsão entra
gestão, que avanços podemos Essas ações estão muito ligadas ao nesse contexto de atuação que o
destacar no trabalho realizado momento em que estamos vivendo senhor acabou de falar?
pela Funceme? agora. A gente já estava preocupado ES – Essas linhas que falei são as
Eduardo Sávio – Algumas con- desde 2012 com a organização do que dão a visibilidade que a gente
quistas são muitos relevantes para setor de recursos hídricos, com está buscando em um futuro pró-
nós em termos institucionais como a questão de política de seca. A ximo. A outra é a previsão climá-
o fortalecimento da carreira que articulação com outros estados do tica. A gente tem feito um esforço
estava muito fragilizada. Conse- Nordeste foi importante. pra ficar totalmente independente,
guimos aprovar o plano de carreira Temos um acordo de cooperação pra poder rodar a nossa previsão
da instituição e também a auto- técnica assinado entre Funceme, independente de qualquer instituto
rização de realizar um concurso ANA, Ministério da Integração e nacional ou internacional. Isso não
público, que deve acontecer esse Inmet, que é o serviço meteoro- é por capricho, é por necessidade.
ano. Essa era uma preocupação lógico nacional, exatamente com Nenhum instituto faz a cenarização
muito relevante porque garante o foco na melhor coordenação do que nós precisamos. A gente tem
futuro da instituição. monitoramento de secas. Antes uma incerteza muito grande no
Ao mesmo tempo, destaco as cada um fazia o seu monitoramento atlântico, então a gente precisa
parcerias internacionais e nacio- de forma independente e ninguém cenarizar como é que o atlântico
nais que podem mudar a insti- conversava com ninguém. Gerando vai evoluir e ver qual o tipo de
tuição nos próximos anos. Com a inclusive questionamentos. Agora impacto nós teríamos aqui.
Agência Nacional de Águas (ANA), nós temos um instrumento único, Então em 2012 nós tomamos a
por exemplo, temos duas ações: o validado por todas as instituições decisão de abandonar a previsão
monitoramento de secas e o plano que dialogam em nível federal. de consenso, que se baseia em opi-
de contingência. Agora queremos melhorar a vali- niões e análises de especialistas,
dação desse monitoramento, mas possui alta subjetividade. Pas-
RC – Como funcionam essas porque uma coisa é o que as esta- samos a trabalhar, desde 2013, com
parcerias? ções estão dizendo, outra coisa são um modelo alemão de clima, que
ES – A Funceme liderou aqui na os impactos que nós estamos vendo faz a previsão global, mas permite
região a articulação com os nove no campo e em termos de recursos que a gente faça essa cenarização
estados do Nordeste para realizar hídricos, agricultura, entre outros. do atlântico, que é muito valiosa
o monitoramento de secas e, junta- para nós.
mente com a Universidade Federal RC – E os planos de contingência?
do Ceará (UFC), também trabalhar Como se dá esse trabalho? RC – No âmbito estadual, como
em componentes ligados a um ES – Os planos também são esse trabalho realizado pela

Cagece 37
R E V I S T A

JAN-MAR 2018
Funceme tem contribuído e dialo- à previsão que será anunciada expectativa e avanços, mas você
gado com as políticas de recursos pela Funceme, o acaba sendo uma teria como elencar alguns desafios
hídricos? responsabilidade muito grande para a Funceme em 2018?
ES – A gente vem trabalhando para o órgão, uma vez que mexe ES – Acho que o setor de recursos
não só com a previsão de chuvas, com a esperança de muita gente. hídricos como um todo terá um
mas também gerando previsão de Como o senhor vê essa relação? grande desafio de lidar com a
aporte dos principais reservató- ES – Independente de qualquer questão dos conflitos num ano elei-
rios do estado. Desde 2005 estamos resultado, qualquer previsão, toral. Precisamos nos antecipar a
trabalhando bem mais próximo ao vivemos num espaço semiárido, eles e chegarmos a essas áreas de
setor de recursos hídricos. Acho até então essa convivência, essa busca conflitos potenciais antes desses
que temos que fazer uma aproxi- por outras formas de abastecimento atores políticos, exatamente para
mação maior com a Cagece, colocar que não dependam apenas das esclarecer, ter oportunidades de
os cenários previstos para a com- chuvas, tem que ser constante. explicar o que está sendo pensado,
panhia. Agora que já temos modelo Existe um plano chamado Fortaleza sem a contaminação de discursos.
calibrado para todo estado, temos 2040 que aponta que há possibili- Eu acho que isso é importante.
como fornecer esse produto. É um dade de suprir parte da demanda
trabalho contínuo, mas que agora da cidade com fontes locais. Isso RC – E internamente, ainda
já podemos dar utilidade maior a está na direção de um melhor falando em desafios, do ponto de
ele, servindo para a Cagece, Cogerh, ordenamento urbano. Se a gente vista da estrutura do órgão, qual
SRH. está falando em reúso, captação de o maior esforço empreendido hoje
água de chuva, também precisamos pela Funceme?
RC – Quando o senhor fala em falar em conservação das fontes ES – Nós temos feito um esforço
cenário de aporte de reservatórios, que acontecem localmente, não só enorme para ter uma atuação
como isso é feito? a que vem do Jaguaribe ou a que além do estado, por uma questão
ES – É o volume de água que vai vem dos reservatórios. É impor- de necessidade, de sobrevivência
chegar, mês a mês. A gente pega tante pensarmos em um modelo mesmo. Precisamos garantir
a previsão climática, a previsão de conservação dessa água que cai recursos pra manter essa estru-
de chuva, e usa isso como dado na cidade. A água que cai em um tura de monitoramento que custa
de entrada para modelos hidroló- prédio desses, por exemplo, não é em torno de R$ 4,6 milhões por
gicos e transforma essa chuva em captada para consumo posterior. ano, se mensurarmos de forma bem
vazão do afluente aos principais Isso ajudaria inclusive na questão conservadora, com esquipe mínima.
reservatórios. da drenagem da cidade. Temos dois radares meteorológicos,
549 postos pluviométricos, mais de
RC – Todo ano há uma expec- RC – O Senhor já tocou em 100 estações automáticas. Como é
tativa muito grande em relação muitos assuntos com relação a que você mantém tudo isso? A gente


foi atrás de recursos, foi atrás de
parcerias. Mas acho que a Funceme
tem que ter um grupo pensando o
setor de recursos hídricos, ajudando
a pensar o setor. Não vai fazer isso
Passamos a trabalhar, desde 2013, sozinha, mas pode colaborar com
com um modelo alemão de clima, a Cogerh, pode colaborar com a
Sohidra, pode colaborar com a
que faz a previsão global, mas Secretaria de Recursos Hídricos,
permite que a gente faça essa ajudar a moldar esse olhar de futuro
do Governo do Ceará. 
cenarização do atlântico, que é
muito valiosa para nós".

38 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
RECORDE EM PERFURAÇÃO DE POÇOS:


MELHOR RESULTADO EM 30 ANOS

Hoje estamos
com 20 máquinas
perfuratrizes
e mais três
que estão em
processo de
aquisição, com
Yuri Castro Oliveira,
superintendente da Sohidra
recurso do
BNDES".
RC – O senhor poderia fazer RC – Voltando aos avanços, o geólogos da Sohidra. Hoje estamos
um balanço sobre a atuação da que mais podemos elencar? com 20 máquinas perfuratrizes e
Sohidra em 2017? Quais avanços? YC – Em termos de açudes estra- mais três que estão em processo de
Yuri Castro – Na parte mais estra- tégicos, nós fizemos o açude aquisição, com recursos do BNDES.
tégica, temos obras estruturantes. Germinal, que vai fazer o abas-
A principal delas é o Cinturão tecimento da cidade de Palmácia RC – E essa quantidade de
das Águas. Uma obra de mais de e construímos 36 barragens de máquinas perfuratrizes é sufi-
R$2 bilhões que vai aduzir água pequenos porte para alguns dis- ciente pra demanda?
do rio São Francisco e colocar no tritos. Nesse período também YC – Olha, digo com toda sinceri-
rio Cariús. Até março deste ano construímos cerca de 200 qui- dade, para a demanda que temos
devemos entregar os primeiros 53 lômetros de Adutoras de Mon- ainda é pouca, mas também não
quilômetros, que correspondem tagem Rápida (AMR), para atender podemos aumentar muito, porque
a primeira etapa desse projeto. de forma mais emergencial aos em determinados anos, em que
municípios. Estamos fazendo a gente tem um inverno bom, a
RC – E a gente conta mesmo com agora os três sistemas que vão demanda realmente diminui. Se
essa água? Há uma discussão em dar reforço à Região Metropo- a gente pegar o histórico de poços
torno de achar que essa água do litana de Fortaleza: sistema do perfurados pela Sohidra ao longo
São Francisco não chegará para lagamar do Cauípe (interligando dos seus 30 anos de existência,
logo. Isso procede? o trecho 5 do Eixão das Águas); o vamos encontrar uma média abaixo
YC – A obra em si – que estava sistema de poços de Taíba Silpé de 400 poços por ano.
prometida pra dezembro de 2017, (um sistema de 35 poços, que Então, se aumentar o parque
janeiro de 2018 – tá um pouco também serão integrados ao sis- de máquinas pra atender uma
atrasada. Mas estamos fazendo tema metropolitano); e a segunda demanda momentânea, posso com-
a nossa parte, que é colocar água etapa do Maranguapinho (que prometer eventos futuros. A gente
nesses 53 quilômetros, até o deverá beneficiar o Distrito Indus- tem atas de registro de preços, na
riacho seco. É um percurso menor trial de Maracanaú e Pacatuba). hora em que as nossas máquinas
e mais eficiente em termos de não tiverem atendendo a gente
transporte. A própria estrutura do RC – Com relação à perfuração contrata uma empresa terceiri-
rio também ajuda porque possui de poços, é possível fazer um zada pra fazer perfuração de mais
uma calha melhor para trans- balanço dos últimos três anos? poços. Esse ano, por exemplo, nós
portar essa água. Se essa água do YC – Estamos com 4.400 poços só trabalhamos com máquinas da
São Francisco chegar até meados perfurados, seguindo a locação dos Sohidra. E só no ano de 2017 foram
de 2018 será um bom reforço no geólogos da Cagece e da Cogerh. feitos em torno de 1.500 poços. Em
abastecimento. Em alguns momentos, também 2016, foram feitos mais de 1.900

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poços, sendo em torno de 1.000 per- Principalmente porque 30% dos uma ideia, no ano de 2017 não veio
furados com máquinas da Sohidra nossos poços são secos. Na hora um real para a operação carro-pipa.
e em torno de 900 por empresas em que se tem um poço seco, o Do recurso que estava aprovado,
terceirizadas. Ministério considera que a meta no valor de R$ 19 milhões, não
não foi atingida. O poço foi feito, veio nada. Das adutoras que nós
RC – Qual é o valor do investi- mas a comunidade não foi aten- solicitamos, só foram liberadas
mento feito pela Sohidra na per- dida, então o Ministério pede pra as da Região Metropolitana, por
furação de poços? devolver o dinheiro. O objetivo é o meio de verba da Defesa Civil. Já
YC – Fizemos um levantamento e atendimento à comunidade. Se ela para as do interior, por exemplo,
verificamos que um poço perfurado não for atendida, pra ele, nós não não veio até agora. Nesses últimos
pela Sohidra com profundidade cumprimos a meta. três anos não usamos verba da
média de 70 a 80 metros custa em Defesa Civil para instalação de
torno de R$ 12 mil, fazendo uma RC – A gente tem percebido uma poços. Somente para adutoras
média entre o sedimento e o crista- reclamação geral em torno da dis- e carro-pipa. As instalações de
lino. O poço perfurado no cristalino ponibilidade de recursos, especial- poços têm sido feitas, em sua
é mais barato porque não precisa mente federais, para convivência maioria, pela Cagece e os SAAEs.
de revestimento. com a seca. Até que ponto isso As prefeituras também têm dado a
interfere nas ações planejadas? sua parcela, têm feito instalações
RC – Se não tivermos um cenário YC – É um empecilho. Só pra se ter também. 
positivo de chuvas este ano, qual
será o maior desafio encontrado
pela Sohidra?
YC – Já estamos trabalhando com O CUIDADO E A ATENÇÃO
essa perspectiva. Se não tivermos REDOBRADA PARA O INTERIOR
uma recarga satisfatória na maioria
dos reservatórios, nossa alterna-
tiva será poço, poço, poço e pipa.
Em algumas situações, quando
os reservatórios recebem alguma
recarga momentânea, talvez seja
necessário investir também em
adutoras de montagem rápida para
transportar essa água. Mas o que
vem salvar mesmo, de imediato,
é poço e pipa.

RC – Qual a situação hoje de orça-


mento para a Sohidra. Há recursos Hélder Cortez,
para a realização dessas ações? diretor da Cagece para Unidades de Negócios do Interior
Existe linha de crédito ou captação
do ponto de vista federal?
YC – Não temos. Tem que haver um RC – A gente queria começar essa Hoje, temos um contrato em fun-
aporte do estado. O que a gente tem entrevista fazendo um balanço do cionamento que nos dá suporte
feito pra execução dessas adutoras, ano que passou. Quais avanços pra tudo, desde a escavação, a
por exemplo, é utilizado verba da podemos elencar em 2017? construção de poços de Jacó, e
Defesa Civil nacional, através do Hélder Cortez – Apesar de ter sido muitos outros serviços. Eu achei
Ministério da Integração. o sexto ano de seca, nós tivemos fantástico! Melhorou e muito o
Já para poços é bem mais com- grandes avanços. O primeiro deles desempenho da Cagece nas ações
plicado. Todas as vezes que ten- foi a realização de uma licitação relacionadas à convivência com
tamos fazer convênio pra perfu- para atender e agilizar as solu- a seca. Outro fato muito impor-
ração de poços, houve problemas. ções de convivência com a seca. tante foi a criação da Diretoria de

40 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
Unidades de Negócio do Interior,
que possui foco específico nas
cidades do interior. A partir da

O problema é
que a falta de
estão compreendendo melhor o
saneamento. Então, devido a esse
formato, o estado do Ceará hoje,
criação dessa diretoria, nós temos água nos nossos em nível de Brasil, é o estado que
conseguido dar maior atenção, está melhor preparado.
maior cuidado e melhorado a pres- mananciais já é Estamos com seis anos de seca e
tação dos serviços. Até a moti- escassa há seis conseguimos sobreviver, graças a
vação dos colaboradores é algo que essa equipe formada por diversos
melhorou a partir dessa atuação.
anos, então foi órgãos que se uniram, somando-se
Hoje temos uma estrutura maior, muito difícil, aqui a Defesa Civil, o Exército Bra-
com assistência e assessoria, vol-
tadas para dar todo apoio às supe-
não deu pra sileiro, a Secretaria do Desenvol-
vimento Agrário (SDA), que todos
rintendências e as áreas técnica, resolver tudo, os outros que, de uma forma ou
comercial e administrativa das mas amenizou de outra, têm contribuído para
unidades do interior. Com todas as melhorar a situação.
dificuldades, foram feitos inves- bastante".
timentos específicos nas áreas RC – Para fazer um trocadilho,
mais necessitadas, com critério podemos dizer que a Cagece tem
mais rigoroso sobre a aplicação tirado água de pedra para abas-
dos recursos, que são tão poucos. tecer a população. Se de fato não
Considero investimentos altos RC – A Cagece participa ativa- tivermos uma quadra chuvosa
para o tamanho da nossa crise. mente do Grupo de Contingência satisfatória ou regular, quais
Mesmo nas condições que temos formado pelo Governo do Ceará. são as perspectivas reais para o
hoje, com faturamento compro- Como se dá essa atuação e qual abastecimento?
metido pela seca e dificuldades a participação dela nas ações de HC – Nosso estado é muito grande
mil, ainda conseguimos reativar enfrentamento à seca? e sabemos que o Nordeste é muito
muitas obras. HC – O Governo do Ceará tem sofrido com a seca. Temos regiões
uma lógica em termos de recursos onde chove mais e outras em que
RC – O senhor falou sobre os seis hídricos e saneamento básico. não chove quase nada. O que mais
anos de seca. Caso não haja uma Temos uma secretaria específica, nos interessa é que o inverno seja
boa quadra chuvosa, a Cagece uma política de recursos hídricos o mais regular e homogêneo no
está preparada para enfrentar definida por lei, onde a Secretaria estado. Assim, muitas cidades
mais uma estiagem? de Recursos Hídricos faz a gestão, poderão ficar com o abastecimento
HC – Sim, ela está preparada. juntamente com as suas vinculadas. garantido no ano.
Sabemos que é difícil encon- Dentro desse contexto, podemos Considerando que vamos ter alguma
trar água e tratar, porque caso dizer que a Cagece só tinha que chuva, por menor que seja, ela vai
tenhamos mais um ano de seca, solicitar à SRH o fornecimento de amenizar e até resolver muitos
a água disponível não vai ser de água, mas não é isso que acontece. problemas, principalmente com
boa qualidade e não vai ser fácil Fazemos parte do Grupo de Con- a recarga de poços. A partir disso,
negociar. Será um produto muito, tingência onde a Cagece também se poderemos diminuir ainda mais o
muito mais importante, valioso inclui e se insere como responsável número de cidades em regime de
e difícil. Então, não havendo um por todo o processo. Somos soli- contingência, o que nos dá mais
bom inverno ou inverno regular, dários aos companheiros da SRH, tranquilidade para agirmos em
vamos ter dificuldades principal- trabalhamos em conjunto e temos determinadas regiões.
mente para os irmãos da agricul- investido muito em alguns setores. O problema é que a falta de água
tura, porque a lei nos dá priori- Estamos nessa parceria, encon- nos nossos mananciais já é escassa
dade. Mas tenho fé em Deus que trando soluções para os municípios. há seis anos, então foi muito difícil,
vamos ter uma quadra chuvosa Assim como nós do saneamento não deu pra resolver tudo, mas
regular, com recarga suficiente evoluímos e compreendemos amenizou bastante. Agradecemos
para garantir o bom funciona- melhor os recursos hídricos, os a Deus e pedimos que nesse ano
mento da Cagece. gestores de recursos hídricos tenhamos um inverno melhor. 

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JAN-MAR 2018
LANÇAMENTO

LIVRO MARCA
GESTÃO HÍDRICA
DO CEARÁ
por LEONARDO COSTA fotos TIAGO STILLE

Q
PROJETO INTEGRADO
Com coordenação editorial
uem tem em mãos pela pri- Carvalho, o livro é dividido em três atos:
da jornalista Dalviane Pires
meira vez o livro Caminho Filhos do Sertão, Água da Grande Cidade e produção executiva de
das Águas – Histórias de e O Ceará Inventivo. A publicação também Osiel Gomes e Emídio
convivência com a seca traça uma cronologia das secas mais Sanderson, a equipe
no Ceará não se encanta severas enfrentadas no Ceará, as resga- de Caminho das Águas
apenas pelas imagens e o apuro técnico tando historicamente a partir de clássicos percorreu todo o estado
do projeto gráfico. As primeiras páginas da literatura como O Quinze, de Rachel em busca de histórias e
da publicação, por si só, são um con- de Queiroz; Vidas Secas, de Graciliano personagens da vida real
vite cheio de sensibilidade que leva a Ramos, entre outros. para registrar e retratar
se deleitar pelas histórias até os leitores O fortalecimento das políticas públicas a força e a superação
mais despercebidos. de recursos hídricos para garantir o abas- dos cearenses em meio à
escassez hídrica.
Lançado em dezembro de 2017 pelo tecimento da população e a relação dos
Realizado pelo Ministério
Governo do Ceará, o livro apresenta uma cearenses com a água também são ilus-
da Cultura em parceria
narrativa sobre a relação épica do cea- trados em meio ao conteúdo da publi- com o Governo do Ceará,
rense com o clima semiárido e o fortale- cação, como destacou o governador o livro foi produzido
cimento da política estadual de recursos Camilo Santana durante solenidade de pela Seara Cultura e
hídricos ao longo dos últimos anos. lançamento de Caminho das Águas no Desenvolvimento; com
O Caminho das Águas percorre a Palácio da Abolição: “O livro não registra patrocínio da Companhia
capital e municípios do interior do Ceará somente ações importantes, criativas e de Água e Esgoto do
com o objetivo de aproximar os cearenses inovadoras, como o reúso de água; ele Ceará (Cagece) e apoio
dessa rota com mais de 200 quilômetros traz homens e mulheres que convivem da Defesa Civil do Ceará;
que é feita pela água até chegar às casas com essa realidade”, disse. Fundação Cearense de
de milhares de cearenses. Além disso, o Meteorologia e Recursos
Hídricos (Funceme);
livro passeia pela inventividade de um SALA VIRTUAL ABORDA TEMÁTICA
Superintendência de Obras
povo forte e resistente, que aposta na SOBRE RECURSOS HÍDRICOS Hidráulicas (Sohidra); e
tecnologia sem deixar de lado a criati- Durante o lançamento de Caminho das Companhia de Gestão dos
vidade e a sabedoria popular para lidar Águas – Histórias de convivência com Recursos Hídricos (Cogerh).
com uma das maiores secas dos últimos a seca no Ceará – o Governo também Além da versão impressa,
cem anos no estado. lançou a Sala de Imprensa Todos Pela o livro também está
Entre as belas histórias de força e resis- Água, ferramenta virtual que colabora disponível para download
tência relatadas na publicação está a de com o trabalho da imprensa regional e no portal da Cagece,
Dona Chiquinha, que vivenciou a reali- nacional acerca da temática voltada para www.cagece.com.br.
dade de seis períodos severos de seca no as políticas públicas de recursos hídricos
Ceará. A primeira delas, ainda aos cinco no estado.
anos de idade, quando conheceu de perto Trata-se de uma iniciativa que traz
a vida no Campo de Concentração de para o dia a dia dos jornalistas e outros
Senador Pompeu, em 1932. Hoje, aos 90 profissionais de comunicação pautas e
anos, mãe de sete filhos, Dona Chiquinha abordagens sobre a temática no estado. A sala de imprensa pode
conta em Caminho das Águas como foi Além de matérias jornalísticas e repor- ser acessada no endereço
possível vencer as secas implacáveis de tagens especiais, a Sala de Imprensa dis- eletrônico:
forma corajosa: “Eu não morro por qual- ponibiliza imagens, áudios com sonoras, www.saladeimprensa.ceara.
quer coisa, não”, diz ela. vídeos, apresentações e documentos para gov.br/todospelaagua
Com prefácio da jornalista Eleuda de download. 

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R E V I S T A
Governador Camilo
Santana destacou a
importância do livro
Caminho das Águas

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REDE COLETORA

OCIOSIDADE
DA REDE DE ESGOTO:
UM ALERTA
CONSTANTE
por JILWESLEY ALMEIDA
foto DEIVYSON TEIXEIRA

A
lém do cuidado recorrente
em desenvolver estraté-
gias para uma melhor
convivência com a seca,
o Ceará também vivencia
um grande desafio na área de esgota-
mento sanitário. Apesar de intensificar
nos últimos cinco anos ações de expansão
da cobertura de esgoto no estado, o
Governo do Ceará encontra-se diante
de um obstáculo que dificulta a univer-
salização do serviço na região. Trata-se
da ociosidade da rede coletora de esgoto.
O problema consiste na escolha que a
população tem feito em não interligar os
imóveis à rede de esgoto disponível, o que
contraria a Lei Complementar que institui
a política estadual de abastecimento de
água e de esgotamento sanitário no Ceará
(n° 162/16), que prevê a obrigatoriedade da
interligação nas redes públicas de coleta.

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R E V I S T A
Projeto prevê interligações
gratuitas no Ceará
O Governo do Ceará, por meio da da Região Metropolitana e regiões do atua exclusivamente em Fortaleza
Secretaria das Cidades e da Cagece, interior do estado com alto índice de e quem tem o poder de penalizar
colocará em prática no primeiro ociosidade na rede de esgoto. pelas possíveis irregularidades
semestre de 2018 um programa De acordo com Robervânia, referentes ao saneamento básico
que visa realizar obras de ligações equipes da companhia estão em na cidade. A multa por não se
domiciliares e intradomiciliares de campo identificando os imóveis interligar tem sido aplicada apenas
forma gratuita em imóveis de padrão de padrão básico e regular aos proprietários de imóveis com
básico e regular. Trata-se do "Se Liga e oferecendo o benefício da padrão elevado. Entretanto, com
na Rede". A iniciativa conta com um interligação gratuita aos seus a possibilidade de interligação
investimento de R$ 13 milhões de proprietários. “Ao aceitar a proposta, gratuita, ela também será aplicada
reais, advindos do Tesouro do Estado. o cliente assina um termo de aos clientes de padrão básico e
A expectativa do Governo do concordância, no qual vem todas as regular, em casos de recusa ao
Ceará com o projeto é atender explicações sobre o projeto”, diz ela. benefício.
inicialmente 10.202 imóveis. Com Ainda conforme Robervânia, Segundo a assessora de
início previsto para fevereiro, o projeto mesmo o benefício sendo ofertado planejamento da Agefis, Laura
tem um contrato de duração de 18 gratuitamente, algumas pessoas Jucá, os valores da multa variam
meses, podendo se estender por ainda se recusam a se interligar. de R$ 80,97 a R$ 12.145,50,
mais tempo, segundo a gerente de “Em Fortaleza, nesses casos em que dependendo do índice de poluição
responsabilidade e interação social da o cliente tem a oportunidade de causado. “Primeiro, a gente
Cagece, Robervânia Barbosa. interligação gratuita e mesmo assim notifica o proprietário do imóvel
O projeto de interligações gratuitas se recusa, ele será multado pela e damos um prazo de 30 dias
vem para melhorar a adesão ao Agência de Fiscalização de Fortaleza, a para ele se regularizar. Caso isso
sistema de esgotamento sanitário Agefis”, comunica a gerente. não ocorra nesse período, ele é
do Ceará e vai contemplar Fortaleza, A Agefis é o órgão fiscalizador que autuado”, informa.

De acordo com dados da Companhia por exemplo, da água de poço, uma das de conscientizar a população
de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), fontes exclusivas de abastecimento de acerca da importância da inter-
21,18% dos estabelecimentos no estado pelo menos 26 municípios cearenses ligação e seus impactos no meio
destinam seus efluentes de forma ina- nesse contexto atual de escassez hídrica. ambiente e na qualidade de
dequada apesar de terem rede coletora “Por isso, sempre o mais adequado é se vida. Segundo a profissional
de esgoto à disposição. A porcentagem interligar quando houver rede de coleta de educação ambiental da com-
equivale a cerca de 174.335 domicílios disponível, porque assim esse esgoto panhia, Mara Verly, o trabalho
que poderiam estar interligados. terá um tratamento e uma destinação de conscientização é realizado
Conforme o gerente de mercado da segura”, ressalta Rossas. antes, durante e após a implan-
companhia, Carlos Rossas, muitas vezes Os motivos que têm levado a popu- tação da rede de esgoto.
o esgoto de quem não está interligado lação a não se interligar à rede de esgoto Por meio do trabalho das
à rede de coleta está sendo destinado existente estão associados, principal- equipes, somente em 2017
de forma irregular, como em galerias mente, à falta de conhecimento sobre houve um incremento de 7.854
pluviais e em vias públicas. “Quando a importância do serviço e também ligações de esgoto no Ceará, o
não, esse esgoto é direcionado a uma ao custo financeiro que o usuário tem que representa uma redução de
fossa sumidouro e com isso, o esgoto de arcar para realizar as instalações 19,27% no número de ligações
pode se infiltrar no solo e contaminar hidráulicas internas em seu imóvel. ociosas no estado. 
o lençol freático”, alerta. Diante desse cenário, a Cagece, por
A utilização de fossa sumidouro meio de suas equipes de interação
ameaça inclusive a saúde da população, social, tem feito um trabalho minu-
já que aumenta o risco de contaminação, cioso de visita porta a porta, no intuito

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CAGECE
ADOTA
MEDIDAS
PRÁTICAS
DE
COMPLIANCE
por EVA SILVA fotos DEIVYSON TEIXEIRA

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R E V I S T A

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Compliance – uma palavra de origem
inglesa que significa “fazer correto” ou
estar em “conformidade” em relação a uma
determinada diretriz, política, controles
internos e externos, estabelecidos para
o negócio e – tem se tornado cada vez
mais presente no dia a dia das empresas
públicas e privadas no Brasil e no mundo.
Na Cagece, o Compliance passou a ser
discutido a partir da criação da Lei
12.846/13 - Lei Anticorrupção. Em junho de
2015, foi criada a unidade de Compliance
no ambiente da auditoria interna da
companhia.

C
om a promulgação da Lei anualmente, carta com os objetivos de
13.303 em junho de 2016 – políticas públicas e dados operacionais
Lei de Responsabilidade das e financeiros que evidenciem os custos
Estatais (LRE), que dispõe da atualização, os requisitos mínimos
sobre o estatuto jurídico da de transparência.
empresa pública, da sociedade de eco-
nomia mista, no âmbito da União, dos UNIDADE ESPECÍFICA
Estados e dos Municípios, regulamentada A Cagece busca a implantação de
pelo Decreto nº 8.945/16 – as empresas medidas, sendo uma delas a criação de
estatais, incluindo as companhias esta- uma unidade de GRC – Governança,
duais de saneamento básico terão até Riscos e Compliance, visando a unifi-
junho de 2018 para se adequarem às exi- cação de procedimentos, além de prever
gências da LRE. riscos nos negócios e garantir que a
O normativo determina que as estatais empresa esteja em conformidade com
adotem práticas e regras de condutas as regulamentações, leis e políticas cor-
e padrões de governança corporativa, porativas, migrando a unidade de Com-
sustentabilidade, compliance, auditoria pliance para esta nova gerência de GRC
interna, controles internos e gestão de De acordo com Simone Arrais, gerente
riscos. Além disso, terão de divulgar, da GRC, a Cagece encontra-se no estágio

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R E V I S T A
Valorização de ondutas éticas
A importância em definir e stakeholders estendem suas obtenção de autorizações, licenças e
cumprir condutas éticas, assim exigências de Compliance para além permissões.
como a permanente atualização das fronteiras do setor financeiro Outros elementos dizem respeito à
da conformidade com novas da empresa, contemplando todas as “aplicação do programa e fiscalização
regulamentações e demandas dos atividades da empresa. de seu cumprimento, tais como a
stakeholders, deverá ser regra no dia a Ivelise lembra que, de acordo com a criação de canais de denúncia de
dia dos negócios. legislação, a partir do exercício formal irregularidades e de mecanismos
Como se pode observar, definir de análise de riscos, os Programas destinados à proteção de denunciantes
o Compliance na empresa não se de Compliance e Integridade deverão de boa-fé, diligências apropriadas
resume à criação do cargo de gestor conter elementos mínimos para para contratação e, conforme o caso,
de Compliance. É preciso promover que sejam considerados efetivos, supervisão de terceiros, fornecedores,
a implantação de uma estratégia incluindo: padrões de conduta, código prestadores de serviço, entre outros”,
adequada com o estabelecimento de ética, políticas e procedimentos elencou Ivelise.
das responsabilidades de todos os de integridade aplicáveis a todos "A organização que pretende ser
envolvidos, do dimensionamento dos os empregados e administradores, bem-sucedida em longo prazo precisa
custos e orçamentos necessários e além de treinamentos periódicos, manter uma cultura de integridade e
da definição de um Plano Anual de procedimentos específicos para compliance, bem como considerar as
Compliance, que permita a avaliação prevenir fraudes e ilícitos no âmbito necessidades e expectativas das partes
da sua eficácia e do contínuo de processos licitatórios, na execução interessadas. Portanto, integridade e
monitoramento das atividades de contratos administrativos ou de compliance não somente são a base
desenvolvidas pela empresa no qualquer outra interação com os mas também uma oportunidade para
seu relacionamento com as partes órgãos tais como pagamento de uma organização sustentável e bem-
interessadas, uma vez que estes tributos, sujeição a fiscalizações ou sucedida”, complementou.

inicial da implementação do Compliance. cultura da organização e no comporta- Si mone en fat i zou que
“Com a criação da unidade específica mento das pessoas que trabalham para quando a companhia conse-
esperamos entrar em uma nova fase, ela. O gerenciamento do Compliance guir transmitir os conceitos
partindo para o fortalecimento da gover- eficaz abrange toda a organização e do Compliance para todos os
nança. Pretendemos fazer com que a permite que ela demonstre seu com- seus públicos - dos acionistas e
empresa passe para uma nova fase, na prometimento com o cumprimento das funcionários aos consumidores
qual o investimento em Compliance leis pertinentes, incluindo requisitos e comunidades – a Cagece dará
começará a mostrar os benefícios que o legislativos, códigos e normas organiza- exemplo para toda a sociedade.
cumprimento de regras e regulamentos cionais, bem como as normas de gover- “O grande desafio da empresa é
trazem para o seu negócio e a notar uma nança corporativa, boas práticas, éticas o de comunicar que quem cui-
série de vantagens competitivas, como e expectativas da sociedade, além de dará de Compliance não será
a redução dos custos, o melhor controle possuir um caráter preventivo impor- apenas a GRC. O Compliance
do negócio e a mitigação dos riscos de tante. Para tanto, os primeiros compo- é obrigação de todos, assim
Compliance”, diz. nentes a serem focados são a ética e a como a gestão compartilhada
Para Ivelise Fracalossi, coordenadora conduta, pois sabe-se que podemos ter de riscos. É uma questão de
de Compliance da Cagece, o Compliance o melhor plano no papel mas a prática conscientização e responsabi-
“é a consequência de uma organização não vingará se a ética e a conduta não lização”. 
cumprir as suas obrigações e é feito de estiverem enraizadas na missão e nos
forma sustentável, incorporando-o na valores da Cagece”, acrescentou.

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ÁGUA PARA

CIDADANIA
ABASTECIMENTO
LEGAL PARA QUATRO
COMUNIDADES
DE FORTALEZA
por CARLA LIARA fotos DEIVYSON TEIXEIRA

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O
projeto-piloto é uma das
medidas encontradas pela
companhia para reduzir o
desperdício e minimizar
Moradores de quatro áreas os efeitos da escassez
hídrica que o Ceará enfrenta pelo sexto
de ocupação irregular de ano consecutivo. Com a regularização,
cerca de 5.855 habitantes de áreas de
Fortaleza serão beneficiados assentamento precário serão beneficiadas
com água tratada e de qualidade em suas
com a regularização dos residências.
Para a implantação do "Água para
serviços de abastecimento Cidadania" foram estudadas diretrizes e
parâmetros necessários e suficientes para
de água. As ligações das a caracterização da infraestrutura proje-
tada. O sistema consiste na implantação
comunidades Jagatá, Novos da rede de abastecimento de água e das
ligações prediais. As comunidades aten-
Barreiros, São Francisco e didas pelo projeto não estão localizadas
em áreas de proteção ambiental ou em
Lagoa do Tronco estão sendo terrenos privados.
De acordo com Tereza Cristina Silva de
normalizadas. A iniciativa faz Sousa, moradora da comunidade Jagatá
há cinco anos, o projeto trará dignidade
parte do projeto "Água para à população da área beneficiada, “minha
família mora há 17 anos na comunidade
Cidadania", da Cagece. e eu há cinco. Durante todos esses anos

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R E V I S T A
vivemos sem água de qualidade, con- educativo para que as pessoas
vivemos com dias sem água, passando passem a utilizar a água de forma
por dificuldade. Com o projeto da Cagece responsável.
teremos uma maior qualidade de vida, Para a cabeleira Cristina,
água limpa, pois a água que usamos aqui “o trabalho social traz infor-
é imprópria para consumo”, contou. mações sobre os cuidados que
De acordo com Fabíola Cunha, coor- devemos ter com a água, pois,
denadora de Estratégias de Mercado da em tempos de escassez hídrica,
Cagece, o "Água para Cidadania" busca a ordem é economizar. Muitas
levar água tratada e cidadania para as pessoas estão mal informadas
pessoas, além de colaborar na redução do e acham que, com a chegada da
desperdício de água nas áreas afetadas, água, poderemos utilizar ela de
“as famílias que se abastecem de água não qualquer maneira. Esse trabalho
medida, em sua maioria, consomem mais que a Cagece está realizando está
água. Em tempos de escassez hídrica, a abrindo a mente da população”.
regularização do abastecimento é funda- Os habitantes que fazem a
mental para evitar o desperdício”, afirmou. adesão no momento em que a
Um trabalho social está sendo desen- obra está sendo executada não
volvido com os habitantes das áreas pagam pelo kit de ligação nem
beneficiadas a fim de diminuir possíveis pela ligação de água. Todos os
dúvidas da população sobre os benefícios clientes das localidades aten-
da regularização, bem como informar didas pelo projeto serão consi-
sobre a situação de abastecimento dessas derados perfil básico, desde que
localidades e sensibilizar acerca de eco- tenham o Número de Identidade
nomia no uso da água. O trabalho consiste Social (NIS) do Bolsa Família e
em visitas aos imóveis, palestras, apre- registrem consumo inferior a 10
sentação de teatro, oficinas e um trabalho metros cúbicos de água. 

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ECONOMIA

MEDIÇÃO
INDIVIDUALIZADA:
UMA MEDIDA
CONTRA O
DESPERDÍCIO
por IARA PERES fotos DEIVYSON TEIXEIRA

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R E V I S T A
O
Conju nto Ros a l i n a, O prédio, construído em 1995, passou passará a ter o seu consumo
no bairro Parque Dois por uma adaptação interna para atender medido de maneira unitária e
Irmãos, foi o primeiro às padronizações do procedimento. Mas, não como forma de rateio, como
condomínio no Ceará a antes das adequações, Luana fez uma acontece em condomínios que
adotar a medição indivi- verdadeira “caça” aos vazamentos. “Mesmo ainda não adotaram essa medida
dualizada, com 120 apartamentos. O pro- com alguns moradores empenhados em de economia.
cedimento, que contou com a inciativa economizar, outros não estavam preocu- A coordenadora da Gerência de
da Cagece, completa oito anos e deixou pados e numa vistoria descobrimos vários Relacionamento com o Cliente,
Fortaleza à frente das prescrições esta- vazamentos. Por conta disso optamos pela Flávia Taleires explica a impor-
belecidas pela lei Federal 13.312/2016, individualização, porque a nossa conta tância dos condomínios em optar
que torna obrigatória a medição indi- de água já estava superior a 14 mil reais pela medição individualizada.
vidualizada do consumo hídrico nas por mês”, comenta Luana, que convenceu “Com esse procedimento, a res-
novas edificações condominiais. os moradores antes de adotar medidas ponsabilidade pelo consumo de
O Ceará partiu na frente e em 2005 emergenciais como uma taxa extra no água deixa de ser partilhada e
criou a lei municipal 9.009, que traz no valor do condomínio. passa a ser individual, o que leva
seu texto exigências similares à recente O processo é simples e pode ser aplicado as pessoas a ter um cuidado maior
lei federal, em que os novos condomí- tanto em edificações horizontais quanto com o próprio consumo, promo-
nios verticais já sejam adequados à verticais. Inicialmente, o pedido por parte vendo o uso responsável da água”.
individualização. Apesar dos imóveis do condomínio está submetido a medidas O investimento, segundo
antigos não estarem obrigados por lei técnicas, que consistem em adaptações Luana, foi de cerca de 130 mil
a se adequarem à cobrança individua- internas para atender às padronizações reais. “Apesar desse valor, a
lizada de água, diversos condomínios de instalação dos hidrômetros, executados individualização trouxe uma
no estado já adotaram o procedimento. por empresas do segmento; e as premissas economia de cem por cento.
Na capital, 237 condomínios já foram administrativas junto à Cagece. Hoje a nossa conta está zerada”,
individualizados. É importante entender que a medição comenta a síndica. Atualmente os
Com a lei, o consumidor dessas edifica- individualizada consiste na aferição por consumos individuais variam de
ções tem o respaldo para pleitear a implan- unidade usuária, ou seja, cada morador 80 a 200 reais. 
tação da medida e o recurso tornou-se
mais que necessário diante da atual situ-
ação hídrica, o que ampliou os esforços da
Cagece em ações como palestras a fim de
esclarecer vantagens e possíveis dúvidas
na implantação desse sistema.
E foi pensando em evitar os desperdí-
cios constantes de água e economizar nas
despesas administrativas que a síndica do
Condomínio Everest Nepal, Luana Fer-
nandes, deu o primeiro passo para adotar
essa medida.“Nós optamos pelo processo
de individualização em abril de 2016 e a
obra foi concluída em dezembro do mesmo
ano, separando o consumo dos 90 aparta-
mentos”, explica.

VOCÊ SABIA? SAIBA MAIS


O mais alto condomínio de Fortaleza, o Edifício Cidade, já Quer saber quais os procedimentos para
conta com sua medição individualizada. São 312 apartamentos individualizar a mediação no seu condomínio?
distribuídos em 35 andares. Uma economia expressiva para os No site da Cagece (www.cagece.com.br/
condôminos que passam a ter autonomia no seu consumo de norma-de-medicao-individualizada) tem o
água e identificarão com mais facilidade possíveis vazamentos. passo a passo. Acessa lá!

Cagece 55
R E V I S T A

JAN-MAR 2018
ENTREVISTA
ÉLCIO BATISTA

ÁGUA PARA O
DESENVOLVIMENTO
HUMANO
Água está na pauta prioritária do secretário
Chefe de Gabinete, Élcio Batista. O sociólogo
fala da relação entre água e desenvolvimento
humano, passando ainda pela necessidade
de avançar na redução das desigualdades.

por DALVIANE PIRES


fotos DEIVYSON TEIXEIRA

56 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
Élcio Batista é cientista social
de formação e Mestre em
Sociologia pela Universidade
Federal do Ceará (UFC).
Professor e pesquisador,
foi secretário executivo
da Academia Estadual de
Segurança Pública do Ceará e
esteve à frente da Secretaria
de Juventude de Fortaleza.
Atualmente é secretário
Chefe de Gabinete do
Governo do Ceará.

Revista Cagece – O governo tem morando aqui. E esses índios já desestruturar e desorganizar todo o
diferentes desafios em áreas dis- sofriam com regimes de escassez. sistema de convivência das pessoas
tintas. Como o senhor posiciona Então essa escassez já é documen- com a produção, com a economia?
a questão da água em meio a tada no Ceará ainda no século XVI. Esse debate é sobre a velocidade
esses desafios? Essa é uma condição climática, geo- com que isso ocorre, o impacto do
Élcio Batista – A água talvez seja lógica do Ceará. É muito difícil, eu homem e também se a mudança
o maior desafio. Sem água você diria que praticamente impossível, das condições climáticas ocorrem
não tem vida e sem vida, obvia- conseguir reverter isso. Se ocorrer muito rapidamente como ficará o
mente, não existe possibilidade uma transformação como essa, planeta. Essas mudanças impactam
de desenvolvimento humano. A estaremos diante de uma grande o Ceará? Sim. Muitos defendem que
água é essencial para o desenvol- transformação climática em nível vamos ter um processo de deser-
vimento de uma sociedade, de um de planeta. E isso não acontecendo, tificação que vai se acelerar nas
grupo, de uma pessoa. Sem água vamos persistir nessa convivência próximas décadas. E, por isso, nós
não tem como fazer com que a com a seca e na busca por alter- devemos pensar estrategicamente
economia, as trocas, o comércio, a nativas que possam facilitar essa para tentar diminuir o impacto da
indústria aconteça. Esse é o grande convivência. desertificação.
desafio para qualquer estado. Em
um estado do semiárido como é o RC – E ao que tudo indica, a RC – Mas o Governo do Ceará
caso do Ceará esse desafio se torna desertificação tende a aumentar… tem sido ousado. Está tentando
ainda maior porque os lugares EB – Mudanças climáticas são um diversificar a matriz hídrica com
semiáridos do mundo têm como fato. Tudo o que ocorre no planeta, dessalinização e reúso. O incre-
característica a baixa precipitação toda interferência do homem na mento dessas tecnologias é um
e o regime extremamente imprevi- terra - que é um organismo vivo caminho sem volta?
sível das chuvas ao longo do tempo. -, tudo isso vai se ‘rearranjando’, EB – Em primeiro lugar está sendo
Então, essas duas condições fazem se reestruturando. Então, essas estruturada uma Política de Meio
com que em regiões semiáridas o mudanças climáticas vão continuar Ambiente. O governador Camilo
desafio seja ainda maior. ocorrendo ao longo do tempo. O Santana criou a Secretaria de Meio
impacto dessas mudanças climá- Ambiente (Sema). Não tínhamos
RC – Então é correto dizer que ticas é que é a grande discussão. O uma Secretaria de Meio Ambiente.
essa preocupação com a água é grande debate. Esse impacto está O que o Ceará tinha era um Con-
parte da nossa condição? sendo acelerado em qual veloci- selho de Política Ambiental (Copam)
EB – É da nossa condição exis- dade? Essa velocidade vai fazer com e uma Superintendência de Meio
tencial. Antes mesmo dos portu- que as mudanças climáticas criem Ambiente (Semace), que é um órgão
gueses chegarem, tínhamos índios um verdadeiro caos no planeta? Vai fiscalizador. Não tínhamos um órgão

Cagece 57
R E V I S T A

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formador de uma política pública uma Funceme, que é uma das mais de vista institucional, sermos refe-
para o presente e para o futuro. antigas do país, e tem a Cagece. rência para o resto do país e para a
Então, a criação da Secretaria de Então, temos um sistema integrado América Latina, inovamos pouco.
Meio Ambiente criou as condições de gestão de recursos hídricos e hoje Nos últimos três anos, a decisão do
para que se pudesse pensar os temos uma política pública na área governador foi por investir em ino-
impactos das mudanças climáticas, ambiental. A convergência dessas vação e na busca por alternativas
os impactos disso no sistema hídrico duas estruturas organizacionais vai para a questão da oferta de água.
e como poderíamos trabalhar do possibilitar que a gente consiga, ao Tanto do ponto de vista da oferta
ponto de vista ambiental os manan- longo das próximas décadas, por quanto da demanda.
ciais, recuperar leitos dos rios. Uma um lado melhorar a eficiência no
série de ações que são de caracterís- uso dos recursos hídricos, ou seja, RC – A gente sabe que água é
tica ambiental e que podem produzir com a água que temos que abas- uma preocupação mundial. E
bons resultados. O Ceará tem hoje a tecer um número cada vez maior que o Ceará tem buscado conhe-
melhor estrutura do ponto de vista de pessoas e manter o desenvol- cer outras experiências do “fazer
institucional do país. vimento no comércio, na indústria água” como em visita a Israel, por
e na agricultura. Por outro lado, exemplo. Ao pensarmos em ino-
RC – O senhor se refere à forma as políticas públicas ambientais vação, qual seria o modelo mais
como são geridos os recursos contribuindo para que essa água sustentável para o Ceará?
hídricos no estado? permaneça por mais tempo à dis- EB – O modelo para o Ceará pre-
EB – A forma como são geridos posição das pessoas. Existe uma cisa combinar, por um lado, muita
e a política pública que se desen- outra vertente dentro do sistema inovação tanto do ponto de vista
volveu nos últimos anos. A gente de recursos hídricos que o gover- da gestão quanto da tecnologia. E
tem uma Secretaria de Recursos nador Camilo Santana iniciou que tem um segundo ponto que é fun-
Hídricos (SRH), uma Companhia é de buscar inovações nessa área. damental: a nossa capacidade de
de Gestão de Recursos Hídricos Apesar dos avanços dos últimos 30 fazermos uma gestão da oferta ainda
(Cogerh), uma Superintendência de anos, apesar da gestão ter melho- mais qualificada, evitando desper-
Obras Hidráulicas (Sohidra), temos rado muito, apesar de, do ponto dício, fazendo com que a água que

58 Cagece JAN-MAR 2018


R E V I S T A
temos à disposição seja capaz de ponto de vista. Precisamos prio- últimos três anos, todos os investi-
atender à demanda. E um terceiro rizar a questão da água da mesma mentos feitos no sistema hídrico
ponto: é preciso organizar melhor forma que priorizamos a educação, foram investimentos do estado, da
a demanda. Ou seja, preciso criar que é fundamental. O processo de fonte do tesouro estadual. Isso por-
as condições para que as pessoas educação tanto é fundamental para que o governador estabeleceu que
também passem a consumir água que tenhamos uma sociedade mais isso seria tratado como prioridade
de uma forma mais responsável, produtiva, que gere mais riqueza e que os recursos sairiam da fonte
que passem a utilizar determinadas e que, portanto, possa distribuir do tesouro, porque não temos ainda
tecnologias que podem reduzir a essa riqueza, e também porque a no Ceará nenhuma experiência de
demanda de água. Isso tanto na educação é uma aliada estratégica parceria público-privada nessa área.
indústria quanto no consumo dessa questão da água. O nosso modelo atual é estatal.
individual. Esses três pontos são
fundamentais. Outro ponto que tem RC – Mas voltando aos recur- RC – A usina de dessalinização tal-
relação com oferta de água e com sos necessários a esses projetos vez seja o primeiro grande projeto
inovação é que não podemos mais inovadores, como é tratada essa a adotar outro modelo?
perder tanta água como perdemos questão: aposta em parcerias EB – Uma ação extremamente ino-
hoje. Grande parte da água das público-privadas ou o governo vadora do governador Camilo San-
chuvas vai para o mar. E precisamos tem margem financeira? tana, a única no país. A usina de des-
aproveitar melhor essa água. EB – A gente não pode ter nenhum salinização vai ser uma experiência
tipo de preconceito em relação às em PMI, ou seja, uma Proposta de
RC – Quando se pensa tecnologia diferentes modalidades de financia- Manifestação de Interesse, para
e inovação a gente imagina uma mento, seja da gestão da água, seja que a gente possa ter uma proposta
quantidade expressiva de recur- da construção e investimentos em de uma planta capaz de produzir
sos financeiros. Como o governo infraestrutura hídrica, seja do ponto inicialmente 1m³/s de água, com
pensa a captação de recursos para de vista da demanda. Então, exis- possibilidade de chegar a 2m³/s,
esses projetos? tem diferentes modelos. O estatal, e o governo comprar essa água da
EB – O governo trata a questão da propriamente dito, modelos públi- empresa que será responsável pelo
água como prioridade. O gover- co-privados, existem modelos de tratamento da água do mar. Então,
nador estabeleceu que água seria concessão, e existe a possibilidade essa será uma experiência inova-
uma política pública prioritária e de trabalharmos com modelos dora e acreditamos que teremos
que o governo faria o aporte dos públicos não estatais. Então, acho sucesso, sim, e que, nos próximos
recursos necessários para garantir que não devemos ter preconceito e quatro, cinco anos, teremos a pri-
o equilíbrio da oferta e demanda sim ver qual o melhor modelo para meira experiência no país de des-
de água no Ceará. Se não temos cada situação específica. Isso signi- salinização em larga escala.
água, não temos possibilidade de fica que precisamos estudar esses
crescer economicamente. Se não modelos todos e identificar onde RC – A água realmente tem sido
temos água, não temos também a eles funcionam bem e que ganhos um assunto da sua pauta diária,
possibilidade da vida prosperar. podemos ter usando determinado até porque o senhor está à frente
Então é prioridade sob qualquer modelo. Mas vale destacar que, nos do Grupo de Contingência, que

“ O governo trata a questão da água como


prioridade. O governador estabeleceu que
água seria uma política pública prioritária e
que o governo faria o aporte dos recursos
necessários para garantir o equilíbrio da oferta
e demanda de água no Ceará".
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“ Estou otimista não só com as possibilidades
que a natureza pode oferecer, mas também
porque hoje no Ceará, posso dizer com clareza,
que a gente tem uma capacidade de gestão de
recursos hídricos que é exemplar para o país".

semanalmente se reúne para vem se agravando há seis anos e senhor foi o homenageado dos Pro-
decisões relacionadas à oferta e manter esse grupo integrado, unido, fetas da Chuva esse ano. Como o
demanda de água. Como é, além estimulado e focado é um desafio senhor vê esse reconhecimento ao
de todo trabalho que o senhor já que passa justamente pela relação seu trabalho?
faz na chefia de gabinete, ter na de confiança que se estabeleceu EB – Eu me sinto lisonjeado por,
rotina o acompanhamento de um no Grupo de Contingência. Tem através do meu trabalho, ser reco-
grupo técnico em uma área tão sido, de fato, uma experiência extre- nhecido, receber uma homenagem.
complexa como o sistema hídrico? mamente rica, onde agradeço ao
EB – Esse talvez seja o maior desafio governador Camilo Santana por ter RC – O senhor relaciona, na sua
que eu, pessoalmente, tenho enfren- me colocado à frente desse desafio. fala, água com desenvolvimento
tado no governo. Apesar de eu ter E agradeço ao Grupo de Contin- humano, e cita também ‘redução
um certo domínio dessa literatura gência por estarmos construindo da desigualdade’. O sociólogo pre-
- inclusive já trabalhei no DNOCs, algo importante que vai ficar para valece nas suas decisões?
auxiliando Eudoro Santana, onde a história do Ceará. EB – Só consigo pensar o mundo
pude compreender a história das através da sociologia. A minha for-
secas no Ceará - tem sido um desa- RC – O senhor está otimista com a mação me leva a enxergar o mundo
fio porque conseguimos reunir um quadra chuvosa deste ano? a partir desse prisma. Ao longo da
grupo de pessoas extremamente EB – Olha, estou otimista não só minha trajetória o que fiz foi tornar
experientes, como o secretário de com as possibilidades que a natu- mais complexa a análise da reali-
Recursos Hídricos, Francisco Tei- reza pode oferecer, mas também dade, trabalhando e convergindo
xeira, que é um verdadeiro líder porque hoje no Ceará posso dizer com outras matérias das ciências
nessa área, conhece o sistema como com clareza que a gente tem uma humanas e das exatas. Hoje tenho
ninguém. Quadros qualificados capacidade de gestão de recursos uma proximidade grande com a
como o da Cogerh, da Funceme, hídricos que é exemplar para o país. física, estudo e procuro aprender
um grupo como o da Sohidra que é E temos também planejamento para cada vez mais sobre inteligência
operacional e extremamente com- as próximas décadas, justamente artificial e os modelos matemáticos
petente na perfuração de poços, ter pelas decisões inovadoras que estão nas relações sociais e como isso
a Defesa Civil bem estruturada na sendo tomadas e pela integração pode contribuir para que a gente
operação carro-pipa, que é com- entre política ambiental, gestão de enfrente determinados desafios,
plexa e cara, e contar com a Cagece recursos hídricos e desenvolvimento mas sobretudo nessa questão
que tem um quadro que é referência social e econômico. Isso me deixa específica da seca, ou da água, o
para o Nordeste. Por um lado, foi otimista, assim como a esperança olhar sociológico é extremamente
fácil para mim, pois essas pessoas na próxima quadra chuvosa. importante. Ao longo da história
são muito preparadas. Por outro das secas ou da gestão dos recur-
lado, você gerenciar uma crise que RC – E falando em esperança, o sos hídricos do Ceará prevaleceu

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o olhar da engenharia, da infraes- inovadores e que a empresa se água, a necessidade de universalizar
trutura. A partir da década de 60 fortaleça cada vez mais na boa água e esgoto, redução de perdas e
isso mudou um pouco, sobretudo prestação de serviços essenciais investir na melhoria de suas redes
com Celso Furtado e com a análise à população. Como o senhor antigas. Mas para enfrentar tudo
que ele fez do desenvolvimento do enxerga a Cagece nesse cenário isso, a Cagece precisa realmente de
Nordeste – e do período em que do saneamento? um bom planejamento do ponto de
ficou à frente da Sudene. Aí passou EB – Olha, acho que a Cagece, mais vista de financiamento e investi-
a predominar um olhar econômico do que nunca, precisa olhar para mentos necessários para crescer e
sobre o Nordeste e sobre a questão o futuro. Vejo três grandes desa- melhorar cada vez mais.
hídrica. Substituindo um pouco o fios: primeiro, o desafio da gestão.
que na história se convencionou Precisa melhorar, aperfeiçoar cada RC – Só para finalizar - e não
chamar de ‘fase hidráulica’. Óbvio vez mais a gestão. Ou seja, precisa poderia deixar de perguntar, já
que o DNOCs sempre se estruturou criar um sistema de gestão baseado que é um tema muito sensível na
a partir de um olhar mais hidráu- em muitos dados, com muita infor- companhia. A imprensa costuma
lico, mais da infraestrutura, mais da mação para que tenha uma capa- especular sobre uma possível
engenharia. E acho que, a partir da cidade maior de oferecer melho- privatização da Cagece. O que o
década de 90, a gente tem um olhar res serviços, com mais eficiência. senhor pensa disso?
mais da sociologia, da antropologia, O segundo grande desafio que a EB – A privatização da Cagece não
da própria ciência política, no pro- Cagece tem é aprimorar seu setor está em discussão nesse governo.
cesso de entender como é possível de pesquisa e inovação. Precisa ter Nunca esteve. Nós trabalhamos é
uma civilização se desenvolver no capacidade permanente de inovação para o fortalecimento da Cagece,
regime de escassez hídrica. e acompanhar avanços no setor de justamente para que a companhia
saneamento. E o terceiro desafio é avance e se mantenha como uma
RC – O senhor tem sido um par- conseguir encontrar uma matriz de empresa capaz de investir, de ino-
ceiro importante para a Cagece, no financiamento para avançar nos var e de oferecer um serviço de
sentido de acompanhar a eficiência próximos 30 anos. São desafios que qualidade, melhorando assim a
na operação, de estimular projetos a Cagece precisa enfrentar: reúso de vida das pessoas. 

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CRÔNICA
por RENATA NUNES
foto DEIVYSON TEIXEIRA

H
á um esforço quase sobre-humano na ati- mananciais ou pontos de captação… E quando se
vidade de “cavar” água em terra seca. A encontra água, o trabalho apenas começou. Eis
tarefa de buscar incessantemente o líquido que surgem elas, as gigantes do sertão: adutoras,
vital debaixo do sol escaldante e chão fervente é os equipamentos que conduzem a água do ponto
um grande desafio em todo o Nordeste, mas ele é de captação até o destino final.
ainda maior nos municípios cujos mananciais estão Mas ao passo que são a solução, também são
com volume morto. Nesses locais, o carro-chefe outro grande desafio dessa batalha. Isso porque,
das operações é o elemento humano. Nenhuma além da construção, a manutenção é um trabalho
ação seria possível sem o empenho e expertise de certo e importante, necessário 24h por dia, que
cada colaborador envolvido nas ações. garante tanto o transporte da água quanto o não
Se acompanhado de longe, por quem não desperdício ao longo do trajeto percorrido. Entre
conhece o labor diário dessa batalha, ou ainda operação e manutenção, os profissionais seguem
por quem mora na capital e não conviveu de fato sempre a cavar.
com a falta d'água contínua, esse trabalho não é A falta de água e a dificuldade dos processos,
tão conhecido ou valorizado quanto deveria ser. porém, parece não interferir na disposição dos
Mas para os profissionais envolvidos na luta coti- operadores. Prova disso, a garrafa de café na mão
diana de abastecer a secura de cidades inteiras, e o sorriso no rosto dos operadores durante as
essa labuta já é praticamente uma rotina e nem pausas da madrugada. Motivação é o que não
por isso a atividade se torna mais fácil. falta. Além do objetivo de dar continuidade ao
É com muita força no braço e posteriormente abastecimento da cidade, os profissionais carregam
suor estampado na testa, que os homens e mulheres em si o desejo de garantirem a segurança hídrica
comprometidos com esse trabalho partem para o de suas próprias famílias e amigos, considerando
ofício. Muito antes do sol nascer. Vale lembrar que, que vivem no município onde trabalham.
na maioria das vezes, ele nem tem hora pra terminar Nesse ritmo, a atividades precisam ser ágeis e
e, em algumas circunstâncias, não para nunca. estratégicas e a cada perfuração, busca, nova téc-
Dentre as atividades desenvolvidas, esqua- nica, o coração se inunda de esperança. Cada nova
drinhar o solo em busca de qualquer vestígio ou missão é como se fosse realmente uma batalha. O
sinal do líquido cristalino é uma das soluções olhar apurado sempre atento às novas soluções.
aplicadas. Para isso, perfuração de poços, uti- Esse é o profissional que trabalha com recursos
lização de ponteiras de rebaixamento de lençol hídricos em meio à escassez do sertão: enquanto
freático para captação de água do subsolo do a chuva não vem, sabemos que ao menos com sua
açude com volume mínimo e a procura por novos perseverança podemos contar. 

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