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Responsabilidade Civil

Direito das Obrigações A/B/C/D (Universidade Catolica Portuguesa)

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Baixado por Nelson Jose Mutambe (nelsonmutambe1@gmail.com)
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Responsabilidade Civil:
Estudaremos a RC como fonte de obrigações, sendo esta a última fonte a vir tratada no CC. A
obrigação que nasce verificados os pressupostos da RC é a obrigação de indemnizar, ou seja, a obrigação de
reparar um dano sofrido por outrem. Assim, ser civilmente responsável significa estar civilmente responsável
a reparar um dano ao lesado. O responsável será o devedor e o lesado será o credor (titular da esfera
jurídica onde o dano se verificou).
 A Responsabilidade Civil constitui uma figura jurídica com manifesta relevância prática e teórica.
Ocorre, quando uma pessoa deve reparar um dano sofrido por outrem. a lei faz surgir uma
obrigação em que o responsável devedor e o lesado credor. Trata-se, portanto, de uma
obrigação que nasce diretamente da lei e não da vontade das partes, ainda que o responsável
tenha querido causar o prejuízo.

Figuras Afins:
Em primeiro lugar, vamos diferenciar da RC alguns institutos que lhe são próximos, mas com os quais
não se confunde:
- Primeiro, cabe não confundir a Responsabilidade Civil (reparação patrimonial de um dano que é
privado) com a Responsabilidade Penal (esta pressupõe um ilícito penal e tem natureza pública; não se trata
de uma reparação patrimonial de um dano privado). As sanções, verificados os pressupostos da RP têm
carater publico, pessoal e indisponível, na medida em que se visa a regulação de interesses coletivos;
diferentemente ocorre perante um ilícito civil onde se visa a regulação de interesses privados. As sanções
civis são privadas e disponíveis, e têm carater patrimonial. Quanto à finalidade, se a Responsabilidade Penal
tem uma finalidade simultaneamente preventiva e punitiva, a Responsabilidade Civil de acordo com a
doutrina clássica tem como finalidade principal um fim de reparação ou compensação do dano causado. A
finalidade primária da RC é uma finalidade compensatória, visando-se remover o dano sofrido por
determinada pessoa, imputando-se este ao lesante. A par da função compensatória, mas a título meramente
subsidiário, aponta-se à RC uma finalidade preventiva e uma também punitiva, mas não como finalidade
primária. Na RC não se visa punir e prevenir posteriores comportamentos do lesante, mas sim compensar o
dano que foi causado em esfera jurídica alheia. Contudo, em determinadas situações pode-se pôr a questão
da RC promover finalidades punitivas e preventivas. E porque assim é, o argumento principal que leva a
doutrina a considerar que a finalidade primordial é compensatória leva a que o critério do cálculo da medida
da indemnização seja o valor do dano (art. 562º e art. 566º). O critério geral é o de que a medida de
obrigação de indemnizar é a medida do dano. Pode suceder que um facto que tenha sido praticado por culpa
leve, tenha por consequência um valor do dano muito excessivo, ou seja, uma indemnização num valor
muito elevado. O critério é o da medida do dano e não o da medida da culpa. É possível, contudo, a redução
equitativa em caso de mera culpa, podendo o juiz fixar um valor inferior ao que resultaria do dano (aqui o
juiz afasta-se do regime geral, permitindo-se ao juiz que fixe a indemnização em valor inferior à medida do
dano). O inverso já não é possível – o juiz não pode fixar uma indemnização superior ao valor do dano, em
razão da intensidade da sua culpa. O mesmo facto pode simultaneamente preencher os pressupostos da RC
e da RP – naturalmente aplicar-se-ão os dois regimes. Contudo, aqui, quando um facto preencha
simultaneamente os pressupostos de ambas, vigora de acordo com o CPP o princípio da adesão. Este
princípio consagra que em regra o pedido de indemnização civil deve ser formulado no processo penal
respetivo, sendo o mesmo juiz aquele que vai conhecer da RP e da RC. O regime nesta hipótese que o juiz vai
aplicar será o da RC no que concerne ao pedido de indemnização.
- Diferença entre o ESC e a RC: Ambos envolvem uma indemnização em sentido amplo ou
restituição, verificados os pressupostos de cada um dos institutos. Em todo o caso, os institutos têm
pressupostos diferentes e prosseguem funções distintas. Se no ESC a obrigação de restituição tem por
finalidade a restituição do enriquecimento indevidamente obtido, sendo pressuposto a verificação de um
enriquecimento; na RC, porque a finalidade é a da remoção de um dano e não a da restituição de um
enriquecimento, não é pressuposto que o obrigado a indemnizar tenha enriquecido com o facto ilícito que
praticou, é sim pressuposto que tenha causado um dano a outrem (diferente do que se passa no ESC).

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 A Responsabilidade Civil distingue-se bem da simples Responsabilidade Moral, que pertence ao


domínio da consciência e em que o resultado externo não representa pressuposto necessário.
Consoante se analisará, a culpa moral e a culpa civil não se mostram sincronizadas: esta última
não somente é apreciada com referência à conduta do homem médio, mas tambem coloca no
mesmo plano comportamentos que do ponto de vista ético se revestem de diversa gravidade.
Configurando-se a RM como uma responsabilidade não jurídica, a destrinça reporta-nos a
relações entre o direito e a moral. Não parece exato, entanto, dizer que a RM, considerada em si
mesma, se apresenta juridicamente irrelevante, recordemos que constitui fonte de obrigações
naturais.
 A Responsabilidade Civil autonomiza-se da Responsabilidade Penal, embora não possam
ignorar-se aspetos problemáticos dos vetores que a separam. Desde logo, a primeira pertence à
esfera do direito civil, que é direito privado, ao passo que a segunda se reconduz ao direito
penal, ramo do direito público. Estre o ilícito civil e o ilícito penal (criminal) há diferenças
substanciais e tambem diferenças de pura índole formal, atendendo à natureza das sanções que
a um e a outro correspondem.
o Está subjacente à responsabilidade civil a ideia de reparação de um dano privado, pois o
dever jurídico infringido foi estabelecido diretamente no interesse da pessoa lesada. O
que verdadeiramente importa nas sanções civis é a restituição dos interesses lesados 1.
Daí que sejam privadas e disponíveis.
o Diversos são os caracteres da responsabilidade penal. Esta aparece como uma defesa
contra os autores dos factos que atingem a ordem social. No ilícito penal, portanto,
ofende-se um dever jurídico estabelecido imediatamente no interesse da coletividade.
As sanções criminais visam defender a sociedade: propõem-se fins de prevenção geral e
especial, através da intimidação e da reeducação do delinquente (penas e medidas de
segurança), e fins ético-retributivos, através da expiação pelo delinquente da sua culpa
(penas).
o As duas formas de responsabilidade posto que sejam diversas não se excluem
necessariamente. Muitas vezes, existe apenas uma delas. Mas não é raro que um facto
reúna em si as duas modificações, de ilícito civil e de ilícito penal. Considere-se, por
exemplo, um homicida: a lei civil obriga-o a reparar os prejuízos que causou aos
familiares da vítima e a lei penal aplica-lhe uma pena (privação da liberdade). Nestes
casos, existe responsabilidade civil conexa com a criminal.
 A Responsabilidade Civil tambem não se confunde com o Enriquecimento sem causa. Ambos os
institutos envolvem uma indemnização ou restituição. Mas o primeiro, dirige-se apenas a
eliminar o dano ou prejuízo do lesado, enquanto o segundo intenta suprimir um locupletamento
injusto de alguém à custa alheia, embora releve a situação do que o suporta. Distinguem-se,
pois, a função típica e a perspetiva de cada um deles. O enriquecimento sem causa, por
definição, pressupõe um acréscimo do património da pessoa obrigada a restituir, que pode não
se verificar no caso de responsabilidade civil. Neste, é sempre devida a indemnização ao lesado,
ainda que o responsável, como amiúde sucede, não retire qualquer benefício do facto que
ocasione o dano. Lembre-se, além disso, que a obrigação de restituição tem como limite o
locupletamento do enriquecido, pelo que pode não ser coberta toda a diminuição patrimonial
do empobrecido. Ora, na responsabilidade civil, impera a regra da indemnização integral dos
prejuízos. Noutros termos: o ESC refere-se às vantagens resultantes de uma simples deslocação
patrimonial injustificada, em face do direito, ao passo que a responsabilidade civil visa os
prejuízos derivados de um ato ilícito ou equivalente. E observe-se que, no plano da

1
O CC consagra basicamente a conceção clássica de que a responsabilidade civil por atos ilícitos tem a função de
reparar os danos causados e não fins sancionatórios (art. 483º/1 e 562º e, de um modo geral, a disciplina da obrigação
de indemnização. Todavia, num ou noutro aspeto do regime da obrigação de indemnizar, pode ver-se aflorada a ideia
de que a referida responsabilidade civil visa também, embora acessoriamente, um escopo de repressão e prevenção
desses atos ilícitos.

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responsabilidade civil, a remoção das eventuais vantagens conseguidas pelo lesante apenas se
opera de modo indireto, como reflexo da indemnização de um dano igual ou superior. Aliás,
existe a possibilidade de a mesma situação concreta preencher os pressupostos da
responsabilidade civil e do enriquecimento sem causa. É a hipótese da intervenção ou ingerência
ilícita em bens ou direitos alheios, com a obtenção de um lucro que exceda o dano produzido ao
respetivo titular2.

2
Apresentando-se o dano igual ou superior ao lucro, parece muito duvidoso que surja uma situação de facto em que,
no campo do art. 494º, a equidade imponha ou consinta uma indemnização abaixo do que o agente obteve e, portanto,
que possa ocorrer a invocação subsidiária, pelo lesado, do enriquecimento sem causa.

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Evolução deste instituto e os seus problemas modernos:


Nos primórdios dos tempos, a Responsabilidade Civil e a Responsabilidade Penal não se distinguiam,
tendo se verificado a autonomização de cada uma das modalidades num processo paulatino. Atente-se:
Nas sociedades primitivas a responsabilidade era predominantemente objetiva (o lesante era
responsabilizado independentemente de culpa) e sobretudo de índole penal (a pena era de natureza pessoal
e não patrimonial). A responsabilidade era predominantemente coletiva, pois era a comunidade familiar que
era responsabilizada e não exclusivamente o autor do dano. Não havia aqui também o monopólio da força
pública na concretização da RP. Cedo, porém, foi-se possibilitando ao lesante que entregasse uma quantia
em dinheiro, reparando o dano causado, não se exigindo que a reparação do dano se fizesse à custa da sua
pessoa através da privação da liberdade, mas sim através do pagamento de uma indemnização em dinheiro.
Um outro passo de evolução passou pela intervenção da autoridade publica a fim de compor o litígio,
acabando por fixar um valor de indemnização.
Pouco a pouco foram-se distinguindo em função da natureza do ilícito, reservando-se para a RP a
verificação de certos factos que afetavam diretamente a sociedade e cabendo à autoridade publica a fixação
das sanções. Assim, a evolução foi no sentido de uma responsabilidade subjetiva, ou seja, dependente de
culpa, de uma responsabilidade individual (do próprio lesante) e ao mesmo tempo de uma responsabilidade
patrimonial. Houve aqui um marco importante quanto ao requisito da culpa – a culpa seria assim
pressuposto da obrigação de indemnizar.
Seguidamente, os códigos vieram a consagrar no direito positivo o pressuposto da culpa. Chegando a
esta fase, quando falamos da RC no seu sentido clássico, apela-se ao pressuposto da culpa, estamos no
tempo das primeiras codificações – há aqui um fundamento axiológico na medida em que o homem é livre e,
por isso, responsável pelos seus atos. Se se pode autodeterminar, escolhendo causar dano através da
violação de um direito de outrem, deve responder pelo dano causado (princípio ético de responsabilidade
imputando-se-lhe culpa). Nesta conceção liberal-individualista que pressupõe o nascimento de uma
obrigação de indemnizar quando há culpa do lesante é uma conceção que é adequado ao princípio liberal de
atribuição de um espaço de liberdade. Há uma perspetiva liberal de tutela do lesante, devendo preservar-se
o seu espaço de liberdade, só devendo responsabilizar-se perante um ato culposo.
Qual a evolução que se verificou até aos dias de hoje? Esta conceção liberal estaria porventura
adaptada às circunstâncias da época, de uma sociedade predominantemente agrícola. Contudo, com a
revolução industrial, multiplicam-se os danos, os lesados, a gravidade, como tambem, na perspetiva do
lesante, a multiplicação de acidentes a quem não é imputável um juízo de culpa, a maior parte destes
acidentes não são censuráveis. Quem tem a culpa de um acidente de trabalho ocorrido numa fábrica? Assim,
foi necessário, em determinados domínios, a necessidade de fazer nascer um outro tipo de fundamento para
a responsabilidade que fosse independente de culpa, nascendo assim a Responsabilidade Objetiva,
independente de culpa. Há uma obrigação de indemnizar, não fundada na culpa, mas no risco, de risco-
proveito (quem beneficia de uma atividade perigosa, deve suportar os danos). Posteriormente, noutros
domínios foi alargada a responsabilidade pelo risco, nomeadamente nos caminhos de ferro, nos acidentes
de viação. A RC por acidentes de viação é tambem uma responsabilidade civil, independente de culpa.
Tambem perante produtos defeituosos (ex.: empresas farmacêuticas) – há um diploma especifico de 1989.
Tambem há responsabilidade civil por danos ambientais, independentemente de culpa. Chegando a esta
parte, a par da Responsabilidade Objetiva, sente-se a necessidade de socialização do risco. Porquê? Estamos
perante danos muito avultados e graves e a solução não passa pela proibição de atividades técnicas, ou seja,
de proibir a sociedade técnica e industrializada de que todos beneficiamos. Assim, já que uma comunidade
beneficia das vantagens da evolução seja a de repartir o risco dos danos que resultem dessa atividade pelo
sujeito e sujeitos que beneficiem dessa atividade e, portanto, nasce o fenómeno de
socialização/coletivização do risco. E há varias formas de isso conseguir-se. No domínio dos acidentes do
trabalho e dos acidentes de viação, a coletivização do risco passa pela obrigatoriedade de celebração de um
seguro de RC por acidentes de trabalho (entidade patronal está obrigada a acionar o seguro por danos
sofridos pelos seus trabalhadores) e o mesmo se verifica com os acidentes de viação. E quando o causador

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do dano seja desconhecido ou quando incumprindo a obrigação de não celebrar um seguro de RC, há um
fundo de natureza publica, que vai suportar pelo menos os danos pessoais e patrimoniais mais graves
suportados pelo lesado. Assim, quando falamos de coletivização falamos com fundamento ético, ou seja, de
solidariedade para com os nossos pares (uma ideia de Estado Social). Assim, se no liberalismo se olhava para
a situação jurídica do lesante, considerando que só seria fundamento justificado a culpa em razão da
proteção do mesmo; hoje em dia, desloca-se a visão da proteção do lesante para a proteção do lesado, em
todo o caso terá de haver um fundamento ou a culpa ou caberá nas hipóteses previstas na lei ao abrigo da
responsabilidade objetiva ou de intervenção por facto lícito.

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 A História Comparada mostra que todos os sistemas sofreram uma evolução idêntica. Nos
primórdios das instituições jurídicas da generalidade dos povos, o direito de vingança que a
consciência coletiva reconhecia à vítima constituía o modo por que se operavam, ao mesmo
tempo, a reparação do dano e a punição do seu autor. Tratava-se de uma reação quase
instintiva contra o malsofrido, mais baseada na causalidade material, entre a ação humana
violadora da ordem jurídica e o dano, do que na intenção do agente. E, nesses direitos
primitivos, a solidariedade familiar, dos vizinhos ou de entidades protetoras – tanto da parte da
vítima como da parte do agressor – desempenhava um papel de relevo. Era, em resumo, uma
responsabilidade predominantemente objetiva e coletiva, sobretudo de índole penal.
 Cedo, porém, se admitiu que o autor do prejuízo pudesse escapar ao direito de revindicta do
ofendido, entregando-lhe uma soma em dinheiro. Esta continuava a ter o simultâneo alcance de
reparação e punição. Entretanto, verificar-se-ia a intervenção da autoridade pública, a fim de
evitar as desordens e lutas produzidas pela vingança privada. Tal intervenção operou-se de duas
formas: por um lado, os poderes públicos fixaram o montante das várias indemnizações
pecuniárias e obrigaram os ofendidos e obrigaram os ofendidos a aceitá-las; por outro lado,
passaram a punir certos factos que, em virtude de não afetarem diretamente os particulares,
ficavam desprovidos de sanção. Dando-se depois um passo em frente, os poderes públicos
passaram tambem a punir os autores de certos prejuízos que, não obstante, atingirem interesses
particulares, faziam especialmente perigar a ordem social.
o Apuramos assim que a responsabilidade civil e a responsabilidade penal, embora
confundidas no começo se foram a pouco e pouco separando. O que equivaleu a cindir-
se a reação contra o autor do facto ilícito: a vítima obtém dele uma reparação (ação
privada) e a autoridade pública pune-o (ação pública).
 No direito romano, costuma-se apontar a Lei das XII Tábuas como o ponto de transição da fase
da composição facultativa para a fase da composição obrigatória, visto que em certos casos a
vítima se encontrava já obrigada a aceitar a composição e a renunciar à vingança privada. Mas,
segundo parece, foram os juristas bizantinos da época pós-clássica que, aprofundando a
vertente subjetiva, fizeram a análise psicológica da culpa e produziram a base doutrinal e
técnica da compilação justinianeia.
 Pelo que toca à evolução do nosso direito, o problema ainda não está completamente
esclarecido. Sabe-se, no entanto, que o seu rumo foi paralelo ao dos outros direitos europeus.
Desde cedo, se começou a distinguir, mais ou menos nitidamente, a responsabilidade civil e a
responsabilidade penal. Ao mesmo tempo que, superando-se a conceção arcaica da
responsabilidade objetiva e coletiva, se caminhou para uma responsabilidade subjetiva e
individual.

 A Questão Moderna da Responsabilidade Civil:


 Os estudos sobre a matéria, após alguma letargia, tendem de novo a ocupar um
plano cimeiro nas preocupações dos civilistas. Ao facto não será de todo
estranho o estímulo resultante da profunda análise a que os penalistas e os
filósofos do direito submeteram a responsabilidade criminal. Quer dizer, a
civilística como que deseja conservar ou retomar a posição condutora e
paradigmática que lhe tem pertencido ao longo dos tempos na investigação da
generalidade dos temas comuns aos vários ramos do direito.
 Todavia, mais do que em motivações dessa ordem, o interesse ultimamente
despertado pela responsabilidade civil muito radica na conveniência ou até
urgência de reformulação de alguns aspetos básicos. Verifica-se que a
responsabilidade se encontra em nossos dias sob a influência de dois parâmetros
irrecusáveis: por um lado, conhece um desenvolvimento nunca atingido; por

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outro lado, sofre a concorrência de sistemas de reparação coletiva, tais como o


seguro e a segurança social, que lhe retiram uma parte da razão de ser e
modificam o seu alcance. Consequentemente, determinados fundamentos a que
se prendia a construção clássica do instituto foram ruindo ou colocados em
pauta.
 O direito moderno na verdade, mercê da relevância sempre crescente
atribuída ao interesse coletivo, tem superado os tradicionais dogmas
individualistas e voluntaristas. O fenómeno revela-se particularmente
nítido em matéria de responsabilidade civil. Desde logo, desviou-se do
subjetivismo para as conceções objetivas: admitindo que pessoas
isentas de culpa respondam por danos causados, ou como decorrência
de uma evolução registada no próprio conceito de culpa.
 Segundo a perspetiva clássica, a noção de responsabilidade constitui um
corolário do princípio de que o homem, sendo livre, deve responde pelos
seus atos. Portanto, a condição essencial da responsabilidade civil, nesta
ótica, incide na culpa, que pode traduzir-se num facto intencional, ou em
simples imprudência ou negligencia.
 Contudo, no mundo contemporâneo, fortemente tecnológico, o
desenvolvimento das possibilidades e dos modos de atuação humana
multiplicou tambem os riscos. Cada nova conquista pelo homem das
forças da natureza não exclui que um tal domínio lhe possa escapar e
que essas forças retomem os seus movimentos naturais. É o risco que
acompanha a atividade humana. Acresce que os factos causadores de
prejuízos se apresentam frequentemente imputáveis não a indivíduos
isolados, mas a conjuntos de homens. E quanto mais complexa e
numerosa seja a composição dessas equipas humanas, tanto mais tende
a ficar no anonimato o exato culpado. Qual foi, por exemplo, o
engenheiro, o desenhista ou operário que pela sua atuação ocasionou as
deficiências de uma peça essencial à segurança de uma viatura? Ora,
esta mudança de condicionalismos levou a encarar a responsabilidade
civil de novos ângulos. A vida moderna, fazendo avultar a categorias dos
danos resultantes de acidentes, suscitou o problema paralelo da sua
indmenização adequada, a que não satisfaziam os esquemas
tradicionais. Assim, ao lado do princípio da responsabilidade subjetiva –
responsabilidade baseada na culpa -, acolhe-se a ideia, posto que em
casos excecionais, de uma responsabilidade independente de culpa –
responsabilidade objetiva, máxime responsabilidade pelo risco. os
acidentes de circulação terrestre e os acidentes de trabalho representam
o ponto de partida, vindo-se-lhes a juntar outras situações expressivas,
como consequência da criação acelerada de processos técnicos próprios
do nosso tempo, mas cuja utilização constitui fonte de elevados perigos
para terceiros. Perante um crescimento desordenado da
responsabilidade pelo risco, que se verifica em certos países, não
surpreende que chegue a pensar-se na introdução de uma clausula geral
relativa a essa matéria.
 A evolução ainda prosseguiu. Reconheceu-se também excecionalmente,
sem dúvida, que a obrigação de indemnização pudesse resultar de uma
conduta ilícita do agente causadora de danos. Trata-se do campo da
responsabilidade por intervenções lícitas. Com efeito, assiste-se a um
claro movimento, que intenta garantir a reparação de todo e qualquer
dano ao lesado, independentemente do caráter culposo ou ilícito do

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ato que o produziu. O sistema começou por encontrar a sua expressão


mais avançada nos países escandinavos a respeito dos danos pessoais. A
questão põe-se sobretudo com os acidentes de trabalho. Mas também,
quanto aos acidentes de viação, alguns autores e projetos legislativos
modernos, preconizam que o Estado garanta sempre, em princípio, a
indemnização, devida ao lesado, quer o acidente resulte de
circunstâncias de força maior estranhas ao funcionamento do veículo,
quer se desconheça o efetivo responsável ou este não disponha de
meios para cobrir a indemnização. Atribui-se, todavia, ao Estado um
direito de regresso3.
 A uma tal propensão para subtrair à responsabilidade civil certos
domínios de reparação de danos, ou modificar o seu esquema, junta-se,
mesmo no âmbito tradicional do instituto, um outro aspeto relevante –
referimo-nos à generalização do seguro voluntário da responsabilidade,
que é um fenómeno característico do espírito do nosso tempo, não só
nos países ocidentais, mas também no comum dos antigos países de
regime socialista, cujos sistemas se encontravam, de qualquer modo,
mais ligados ao conceito de responsabilidade fundada na culpa. Assiste-
se, até, a uma crescente tendência que propugna a consagração do
seguro obrigatório, para além das áreas da circulação rodoviária e dos
acidentes de trabalho, em determinados domínios, como o das
profissões liberais (médicos, revisores de contas, etc.).
 Um elemento novo se introduz, por esta via, na querela sobre a função
da responsabilidade civil, que o consenso predominante, ainda sob
inspiração do positivismo do séc. XIX, entende apenas reparadora do
dano ou indemnizatória. Não é inédito, contudo, que juristas e
legisladores assinalem subsidiariamente uma função punitiva e
preventiva ao ilícito civil4. Avança-se mesmo mais longe, admitindo que,
à semelhança da culpa, o dano não constitua um seu pressuposto
necessário5. Só que a difusão do seguro da responsabilidade diminui a
força deste aspeto sancionatório, mormente a sua eficácia preventiva.
Daí o problema da maneira de atenuar a natural modificação que se
opera na mentalidade do segurado, propicia à eliminação do efeito
pedagógico-educativo.
 Como pano de fundo, não pode ignorar-se que se assiste ao
desenvolvimento da responsabilidade civil em direções novas. À
medida que a vida moderna tem alcançado determinados êxitos
científicos e tecnológicos ou posto em destaque certas atividades ou
profissões, suscetíveis de causar danos a terceiros, colocam-se aos

3
Entre nós, a Lei nº 104/2009, de 14 de setembro, com vigência a partir de 1 de janeiro de 2010 aprovou o regime de
concessão pelo Estado de indemnização às vítimas de crimes violentos e de violência doméstica, revogando os regimes
anteriores, respetivamente, o Dec-Lei nº423/91 de 30 de outubro, e a lei nº 129/99, de 20 de agosto. Verificados certos
requisitos, têm direito à concessão de um adiantamento da indemnização pelo Estado as vítimas de danos graves à sua
saúde física ou mental que resultem, diretamente, de atos de violência praticados em território português ou a bordo
de navios ou aeronaves portuguesas (art. 2º) e as vítimas de violência doméstica (art. 5º).
4
O escopo precípuo da responsabilidade civil é indemnizatória, quer dizer, a reparação de danos. Mas reconhece-se
que, acessória ou lateralmente, quando se funde na culpa, pode caber-lhe uma função preventiva e punitiva. O aspeto
punitivo ou retributivo afirma-se estranho à responsabilidade objetiva ou por intervenções ilícitas, dada a respetiva
natureza. Todavia, não o será, de algum modo, a ideia de prevenção com vista a evitarem-se situações de risco e a
estimular a vigilância das pessoas sobre os seus próprios comportamentos.
5
Deverá atentar-se numa corrente de análise económica do direito, em especial, sedeada nos EUA, oposta à ideia da
vincada função indemnizatória da responsabilidade civil – pás. 532 (em nota de rodapé).

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juristas problemas de responsabilidade civil, muitas vezes contemplados


insatisfatoriamente na lei. Assim, por exemplo, a reparação dos danos
devidos à utilização de algumas formas de energia, máxime a nuclear e a
elétrica, ou resultantes da poluição industrial e das atividades espaciais.
Questão que concita largo interesse na doutrina dos sistemas mais
representativos é a da responsabilidade do fabricante intimamente
ligada ao comércio e consumo de massas que caracteriza a sociedade
contemporânea. O tema encontra-se mais bem teorizado a respeito dos
bens de consumo, mas não se descura, tambem, quanto aos bens de
equipamento. Por outro lado, como antes se salientou, a
responsabilidade civil implantou-se com grande vigor no domínio
profissional particularmente em relação às chamadas artes ou profissões
liberais. Compreende-se, pois, a organização de um correspetivo sistema
de seguro. As considerações precedentes visam tão-só assinalar, a traços
largos, a diversidade e a magnitude de algumas das controvérsias, novas
ou renovadas que se apresentam aos juristas em matéria de
responsabilidade civil. Especialmente, destacou-se o problema da sua
socialização.
 O que se observou parece bastante para mostrar os motivos porque a
responsabilidade civil constitui uma das áreas que mais vêm solicitando
as atenções e a imaginação dos juristas e dos legisladores.

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Modalidades da Responsabilidade Civil:


 Responsabilidade Civil Extra Obrigacional. Podemos classifica-la:
o RC Delitual (facto ilícito e culposo) – art. 483º a 498º do CC. Em regra, a RC só existe
quando se pratique um facto ilícito e culposo do qual tenha resultado um dano. Diz o
art. 483º, independentemente de culpa, nos casos especificados na lei – aqui
estamos já no âmbito da RC Objetiva.
o RC Objetiva (responsabilidade civil pelo risco) – art. 499º a 510º - verificados certos
pressupostos, responsabiliza-se certa pessoa que encarrega outrem que sofreu um
dano.
 Art. 502º - danos causados pelos seus animais desde que o dano resulte do
risco
 Art. 503º - 508º - veículos
 Art. 509º - 510º - instalações de gás
o RC por Facto Lícito – não é sistematicamente regulada no CC, no entanto, há
algumas hipóteses, sobretudo no domínio dos direitos reais, em que o legislador
autoriza excecionalmente que alguém interfira em esfera jurídica alheia no seu
próprio interesse, estando obrigado ao mesmo tempo a indemnizar pelo dano
causado. Art. 1367º.
 Responsabilidade Obrigacional (art. 798º e ss.)

O que distingue as duas grandes modalidades – responsabilidade civil contratual ou obrigacional e


responsabilidade civil extracontratual ou extra-obrigacional?
A Responsabilidade Civil Obrigacional pressupõe a violação de um direito de crédito, derivado da
prática de um facto ilícito e culposo. Assim, a RCO resulta da violação de uma obrigação em sentido técnico.
A fonte mais importante da RCO é o contrato e por isso se fala em Responsabilidade Civil Contratual. No
entanto, há outras obrigações que nascem de uma fonte que não um contrato, por exemplo, uma obrigação
que nasce de um NJ unilateral violado ou de uma Gestão de Negócios violada. Sempre que seja violada uma
obrigação, nasça esta de um contrato, de um NJ unilateral ou de qualquer outra fonte, o regime a aplicar
será sempre o da RO. Por isso, a expressão RCO é aquela que permite caracterizar o regime a aplicar quando
se verifique uma violação de uma obrigação em sentido técnico.
Pela mesma razão, é mais correto falar-se em RCEO, na medida em que por vezes o facto ilícito não
resulta na violação de uma obrigação. Na RCEO estamos perante a violação de um direito absoluto por facto
ilícito, que se distingue do direito de crédito.
Algumas diferenças de regime:
- Culpa:
 Quer a RC Delitual, quer a RCO, dependem de culpa, sendo esta um dos seus
pressupostos – assim, é pressuposto de ambas que o facto ilícito seja praticado
ilicitamente.
o Contudo, o critério na RCO é o da capacidade de exercício; já o critério na RCEO
é o da imputabilidade (art. 488º).
o Um segundo aspeto que distingue é o do ónus da prova, ou seja, segundo o
RCEO (art. 487º/1), a regra é a de que cabe ao lesado provar a culpa do autor da
lesão, diferentemente (há algumas exceções a estudar no art. 491º, 492º, 493º,
503º/3), na RCO a culpa presume-se, incumbindo ao devedor provar que a falta
de cumprimento não procede de culpa sua, estando o credor-lesado
desincumbindo de prova-la (art. 799º/1).
o O art. 494º do CC está previsto para a RCEO, permitindo este artigo ao juiz que
em caso de mera culpa, fixe a indemnização em valor inferior ao valor do dano.
Não existe disposição análoga no regime da RCO, o que leva o prof. AV e AC a
dizer que tal regime só se aplica ao RCEO (não se justifica que o credor veja o
valor do seu dano diminuído, frustrando as suas expectativas). Todavia, há quem

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entenda que o art. 494º do CC, apesar de estar previsto sistematicamente no


domínio do RCEO, tambem se pode aplicar ao regime da RCO – é o que defende
o professor Pessoa Jorge.
- RC por facto de outrem: hipótese em que alguém – comitente – encarregou outrem – comissário - a
realizar determinada tarefa, havendo este sofrido um dano na execução dessa tarefa:
 Responsabilidade civil extra-obrigacional: é o regime do art. 500º, responsabilidade de
alguém, comitente, que encarregou alguém de realizar uma tarefa, comissário. Estes
pressupostos são mais exigentes do que os previstos no art. 800º.
o Exemplo: se A encarrega B de transportar uma encomenda e B, no exercício
dessa trefa, B causa dano a outrem, A responde pelo dano causado por B nos
termos do art. 500º.
 Responsabilidade civil obrigacional: é o regime do art. 800º, se alguém utiliza um auxiliar
para completar a prestação, responderá perante o credor pelos danos causados pelos
seus auxiliares. Este regime é mais favorável ao lesado.
o Exemplo: A está encarregue de pintar a parede de B, e para isso utiliza auxiliares.
A responderá pelos danos dos auxiliares.
- Pluralidade de responsáveis pelo mesmo dano: se o dano for causado por conduta de mais que
uma pessoa, há pluralidade de responsáveis, o regime da responsabilidade civil extra-obrigacional é o da
solidariedade (art. 497º e 507º), ao passo que na responsabilidade civil obrigacional, o regime, em regra, é o
da conjunção, a não ser que a obrigação violada tenha natureza solidária, hipótese em que a
responsabilidade civil será também solidária.
 Solidariedade: os vários responsáveis pelo dano respondem perante o credor pela
totalidade da indemnização. O credor pode exiegir de cada um dos devedores solidários
a integralidade da indemnização. Tem o benefício de que se um for insolvente, não deixa
de poder exigir ao outro.
o Exemplo: A e B causaram a C um dano no valor de 500. Se estivermos no
domínio da responsabilidade civil extra-obrigacional, C pode exigir de A ou de B
500, optando por um ou por outro, consoante o que lhe for mais conveniente. Se
C optar por exigir 500 ao A, não poderá exigir ao B. A, que pagou a mais, poderá
exercer o direito de regresso perante o B.
 Conjunção: os vários responsáveis pelo dano respondem perante o credor pela sua
quota-parte da indemnização.
o Exemplo: A e B causaram a C um dano no valor de 500. Se estivermos no
domínio da responsabilidade civil obrigacional, C pode exigir de A a sua quota-
parte e de B a quota-parte. Não pode optar por exigir a totalidade a qualquer um
dos dois.
- Prescrição: regime da responsabilidade civil extra-obrigacional é o art. 498º. O da obrigacional
não há uma disposição específica, sendo que se palica o regime regra da prescrição ordinária.
 Obrigacional: o prazo de prescrição é de 20 anos a contar da prática do ato lesivo. Este é
mais benéfico para o lesado.
 Extra-obrigacional: há que contar, no número 1, de dois prazos de prescrição em que
vale o prazo ordinário e o prazo especial de 3 anos a contar da data em que o lesado tem
conhecimento do seu direito, independentemente do conhecimento da identidade do
responsável. O direito prescreve quando decorrer o primeiro dos prazos.

Assim, tendo presente estas diferenças depreende-se que a RCO é mais favorável ao lesado
do que o regime da RCEO. Senão vejamos: ao nível do ónus da prova da culpa, pois a culpa do
devedor é presumida na RCO (art. 799º/1); na RCO não será possível reduzir equitativamente o valor
da indemnização em caso de mera culpa; na responsabilidade por facto de outrem, o regime do art.
800º é mais favorável ao credor lesado do que o previsto no art. 500º; no regime da prescrição, na
RCO o regime ordinário é mais favorável ao credor lesado. Só há um aspeto em que o regime da

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RCEO é mais favorável ao lesado, que é o regime da solidariedade, havendo pluralidade de


responsáveis aplica-se o regime da solidariedade.
Pode concluir-se que, feito um saldo global, o regime da responsabilidade civil obrigacional é
mais favorável ao lesado do que o regime da responsabilidade civil extra-obrigacional. Vejamos:
 Ao nível do ónus da culpa porque a culpa do devedor presume-se na obrigacional,
coisa que não acontece na extra-obrigacional.
 Na obrigacional não será possível diminuir o valor da indemnização em caso de mera
culpa.
 O regime do art. 800º é mais favorável ao credor do lesado do que o art. 500º.
 O regime da prescrição da obrigacional é mais favorável ao lesado que o da extra-
obrigacional porque aí se contam os dois prazos.

Posto isto, vamos ver as hipóteses de concurso de RCEO e RCO: pode suceder-se que o mesmo facto
danoso preencha ao mesmo tempo os pressupostos da RCEO e o da RCO. Estamos a falar de um concurso,
como refere Almeida Costa, meramente aparente, em que um mesmo ato danoso preenche ao mesmo
tempo os pressupostos da responsabilidade civil por facto ilícito e culposo e os pressupostos da
responsabilidade civil obrigacional.
 Exemplo: A celebra um contrato de transporte com B, em que se obriga a transportar
um objeto de B de Lisboa para o Porto e o objeto que se obrigou a transportar chega
ao seu destino partido, e vamos admitir que por culpa de A. Há responsabilidade civil
obrigacional? Há violação do contrato. Há responsabilidade civil extra-obrigacional
delitual? Há violação do direito absoluto de propriedade. O mesmo facto preenche
simultaneamente os pressupostos da responsabilidade civil obrigacional e extra-
obrigacional.
 Exemplo: A celebra um contrato com B, cirurgião, em que B se obriga a operar A. B é
negligente grosseiramente e o A sofre graves lesões. Há responsabilidade civil
obrigacional? Há violação do contrato de prestação de um serviço médico. Há
responsabilidade civil extra-obrigacional delitual? Há violação do direito absoluto à
integridade física.
A pergunta que se coloca nestas hipóteses, em que há um concurso de normas potencialmente
aplicáveis a esta hipótese, é saber qual o regime ou regimes a aplicar. A questão tem relevância porque em
alguns aspetos o regime não é coincidente (ex.: ónus da prova da culpa, redução da indemnização, etc.). Há
controvérsia doutrinária em que há várias respostas a este problema:
1. Teorias do Cúmulo – teoria da ação híbrida, teoria da opção e teoria da duplicação de
ações:
o Teoria da AÇÃO HÍBRIDA: O lesado pode pedir uma indemnização e convocar as
normas que quiser de um ou outro regime da responsabilidade, consoante
entenda qual lhe é mais favorável. Pode prevalecer-se desta ação de quaisquer
normas que pretenda. O lesado pode pedir uma ação híbrida, ou seja, não sendo
esta restrita a qualquer das modalidades.
 Teoria segundo a qual o lesado pode propor uma ação de
responsabilidade e nessa ação convocar as normas que quiser de um ou
de outro regime de responsabilidade, consoante entenda as que sejam
mais favoráveis. Poderá prevalecer-se das normas que desejar. É uma
ação híbrida porque poderiam ser aplicadas normas de uma
responsabilidade civil ou de outra.
o Teoria da OPÇÃO: o lesado poderia optar por propor uma ação de RCEO ou de
RCO, não podendo misturar os dois regimes e beneficiar naquilo que lhe seria
mais favorável. Só pode propor uma ação.

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 O lesado poderia optar por propor uma ação de responsabilidade civil


obrigacional ou de responsabilidade civil extra-obrigacional. Não poderia
misturar na mesma ação os dois regimes.
o Teoria da DUPLICAÇÃO DE AÇÕES (ou Cúmulo de Ações Autónomas): o lesado
poderia propor mais do que uma ação, podendo propor duas ações ao mesmo
tempo, mas não para se multiplicar a indemnização relativo ao mesmo dano.
Esta não tem sido uma solução que tenha sido aventada como adequada, mas
em outros ordenamentos jurídicos sim. Em outros ordenamentos, em que há
uma diferença importante de regime entre Danos Patrimoniais e Danos Não
Patrimoniais, certa doutrina admitia que fosse permitido ao lesado propor uma
ação de RCEO e ainda propor uma ação de RCO quanto aos danos patrimoniais
e, ainda, uma ação de RCEO por danos não patrimoniais. No nosso ordenamento
jurídico, a doutrina dominante e a jurisprudência dizem que os danos
patrimoniais são ressarcíeis em ambas as modalidades.
 O lesado poderia propor duas ações ao mesmo tempo, uma ação de
responsabilidade civil obrigacional e uma ação de responsabilidade civil
extra-obrigacional. Não para duplicar a indemnização pelo mesmo dano.
No nosso ordenamento esta solução não tem sido aventada como
adequada, mas noutros ordenamentos jurídicos sim. No nosso
ordenamento não porque há uma diferença importante de regime entre
as responsabilidades na indemnização de danos não patrimoniais, em
que não se contemplava na opção de responsabilidade civil obrigacional,
era admitido ao lesado que propusesse uma ação de responsabilidade
civil obrigacional quanto aos danos patrimoniais e uma ação de
responsabilidade civil extra-obrigacional quanto aos danos não
patrimoniais, uma vez que só nesta responsabilidade era possível ser
ressarcido. No nosso ordenamento jurídico, a maioria doutrinária vem
dizer que os danos não-patrimoniais são ressarcíveis quer na
responsabilidade civil extra-obrigacional quer na responsabilidade civil
obrigacional. Por isso mesmo, propor duas ações não será necessario.
2. Teorias do Não Cúmulo: o princípio seria o da consunção, o de consumir, em que o
regime da responsabilidade civil obrigacional esgotaria, consumiria, o regime da
responsabilidade civil extra-obrigacional. Segundo esta teoria, o lesado não poderia
escolher, proporia uma ação e essa ação teria de ser uma ação responsabilidade civil
obrigacional. Esta é a solução defendida por AC com o seguinte fundamento: seria a ação
que melhor se coadunaria com a autonomia privada e porque seria uma solução que
globalmente não seria prejudicial ao lesado, uma vez que o regime da responsabilidade
civil obrigacional, globalmente considerado, é mais favorável ao lesado que o regime da
responsabilidade civil extra-obrigacional.

 Distingue-se a RC em contratual e extracontratual. Esta classificação bipartida do ilícito civil


encontra-se generalizada, assim como a referida nomenclatura.
 A responsabilidade contratual resulta da violação de um direito de crédito ou obrigação em
sentido técnico. Verificamos, que, além dos contratos, existem outras fontes de tais vínculos,
cujo incumprimento ocasiona essa espécie de responsabilidade civil. Podem eles, do mesmo
modo, surgir de negócios jurídicos unilaterais e, inclusive, diretamente da lei. Mercê da razão
exposta, alguns autores preferem chamar-lhe responsabilidade negocial ou responsabilidade
obrigacional6.

6
Esta última designação é a mais completa, embora também se apresente suscetível de críticas. Alega-se, desde logo, a
sua demasiada latitude ou equivocidade, pois abrange, tanto o dever de indemnizar, como o próprio dever de prestar,
relativo ao cumprimento da obrigação. Contra a expressão responsabilidade negocial, sem dúvida restritiva, acresce a

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 Contraposta à categoria mencionada, surge, em termos residuais, a da responsabilidade


extracontratual, onde se abrangem os restantes casos de ilícito civil. Deriva, maxime, da
violação de deveres ou vínculos jurídicos gerais, isto é, de deveres de conduta impostos a todas
as pessoas e que correspondem aos direitos absolutos, ou até da prática de certos atos que,
embora lícitos, produzem dano a outrem. utilizam-se aqui as designações de Responsabilidade
Delitual ou Aquiliana.
 O CC vigente sistematiza a responsabilidade civil em três lugares: a responsabilidade
extracontratual (art. 483º e ss., e a responsabilidade contratual, nos art. 798º e ss. Às duas
formas de responsabilidade interessam ainda os artigos 562º e ss., respeitantes à obrigação de
indemnização em si mesma, independentemente da fonte onde procede. Além dos referidos
preceitos, existem uns tantos preceitos que contêm regras de responsabilidade para hipóteses
especiais. Observe-se, por outro lado, que o regime da responsabilidade contratual é
basicamente idêntico ao da responsabilidade extracontratual. Os art. 483º e ss., visam,
sobretudo, a responsabilidade extracontratual, mas várias das suas normas aplicam-se também
à responsabilidade contratual.
o De facto, o nosso legislador adotou uma orientação que tende a consagrar certa
coincidência de regimes. Parte-se, com efeito, da perspetiva de que a maior parte, pelo
menos, das diferenças tradicionalmente admitidas não encontra qualquer justificação
prática ou lógica.
o Todavia, cabe sintetizar as diferenças essenciais com que a nossa lei marca as referidas
espécies de responsabilidade civil, algumas delas posteriores à versão primitiva do
Código. Resulta do seu confronto, que o regime da responsabilidade contratual se
apresenta mais favorável ao lesado. Pois analisemos:
 A culpa presume-se na Responsabilidade Contratual (art. 799º/1), e não na
Responsabilidade Extracontratual (art. 487º/1), embora só em princípio, porque
vários preceitos referentes a esta última consagram presunções de culpabilidade
(art. 491º, 492º/1, 493º e 503º/3);
 Em caso de pluralidade passiva, o regime é o da solidariedade na
responsabilidade extracontratual (art. 497º e 507º), ao invés do que sucede na
responsabilidade contratual, exceto se a própria obrigação violada tinha
natureza solidária (art. 513º);
 A possibilidade de graduação equitativa da indenização quando haja mera culpa
do lesante, está apenas consagrada na lei para a responsabilidade
extracontratual (art. 494º), mesmo que fundada no risco (art. 499º), não
devendo considerar-se extensiva à responsabilidade contratual, onde se afigura
pouco de acordo com as legítimas expectativas do contraente lesado 7;
 Pelo que se refere à prescrição, vigoram na responsabilidade extracontratual
certas normas especiais respeitantes ao prazo, mormente a que o fixa em três
anos (art. 498º), enquanto a responsabilidade contratual se encontra apenas
submetida ao prazo ordinário de vinte anos (art. 309º) 8;
 A responsabilidade contratual por facto de terceiro não depende do pressuposto
da comissão, requisito estabelecido para a responsabilidade extracontratual (art.
500º), máxime dispensando-se naquela uma relação de subordinação ou
dependência entre o devedor e o auxiliar (art. 800º);
 As regras da capacidade de exercício de direitos, rectius de agir juridicamente
por ato próprio ou de representante voluntário, relativas à responsabilidade
contratual (art. 123º, 127º, 139º e 156º), divergem das regras da imputabilidade,

falta de uma tradição que a consagre.


7
F. Pessoa Jorge sustenta, pelo contrário, que a doutrina do art. 494º é aplicável à própria responsabilidade contratual.
8
Discute-se sobre a aplicabilidade do prazo especial de prescrição fixado no art. 498º às duas formas de
responsabilidade civil. Em sentido afirmativo indicam-se alguns Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça.

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ou seja, da capacidade de culpa, concernentes à responsabilidade


extracontratual (art. 488º);
 Sobre o momento da constituição do devedor em mora, estabelece-se um
regime exclusivo da responsabilidade extracontratual, que não impera, portanto,
para a responsabilidade contratual (art. 805º/3, 2ª parte);
 Nas obrigações pecuniárias, em caso de mora do devedor permite-se que o
credor obtenha uma indemnização suplementar, além dos juros previstos pelos
nº1 e 2 do art. 806º, se o fundamento da dívida se reconduz à responsabilidade
extracontratual, sendo esse preceito inaplicável a situações de responsabilidade
contratual (art. 806º/3);
 Existem ainda discrepâncias em matéria de cláusulas contratuais gerais (art, 18º,
alíneas a) a d) do Decreto-Lei nº446/85 de 25 de outubro, de direito
internacional privado (art. 41º, 42º e 45º) e tambem quanto ao tribunal
cometente (art. 74º/1 e 2 do CPC).
 Pode acontecer que o dano se mostre consequência de um facto que simultaneamente viole
uma relação de crédito e um dos chamados direitos absolutos, como o direito à vida ou à
integridade física. Melhor dizendo, que exista uma situação suscetível de preencher os
requisitos de aplicação dos regimes de ambas as modalidades de responsabilidade civil.
o Imagine-se alguns exemplos: o transportador que, por culpa sua, ocasiona um acidente
em que a pessoa transportada sofre ferimentos; o médico radiologista que provoca
lesões ao paciente; o farmacêutico que, em vez do remédio solicitado, entrega a cliente
um produto nocivo à saúde; o depositário que danifica a coisa depositada. Nas referidas
hipóteses, existe, ao mesmo tempo, a violação de um contrato e de um dever geral de
conduta.
o Tem sido muito discutido o problema da equação, em tais casos, do concurso de ambas
as espécies de ilícito civil. As diversas orientações dividem-se em dois grupos: os
denominados sistema do cúmulo e sistema de não-cúmulo. Dentro do primeiro cabem
três perspetivas: a do lesado se socorrer numa única ação das normas da
responsabilidade contratual e da responsabilidade extracontratual, amparando-se nas
que entenda mais favoráveis; a de conceder-se-lhe opção entre os procedimentos
fundados apenas numa ou noutra dessas responsabilidades; e a de admitir, em ações
autónomas, ao lado da responsabilidade contratual, a responsabilidade extracontratual.
Pelo contrário, o sistema que exclui o cúmulo consiste na aplicação do regime da
responsabilidade contratual, em virtude do princípio de consunção.
 A lei omitiu preceito expresso que decidisse a controvérsia. Terá de procurar-se,
pois, a solução que, no seu quadro, se apresenta mais adequada, sobretudo
ponderando os interesses e valores contrapostos.
 Posição de Almeida Costa:
 Recorde-se que o CC consagra regimes sem diferenças essenciais para a
responsabilidade contratual e extracontratual. Tambem se sabe que as
poucas especificidades de cada um deles permitem concluir que a
disciplina da primeira, globalmente encarada, confere maior proteção ao
lesado. Mas resta, ainda, averiguar se, nas situações em apreço, o
simples recurso à responsabilidade contratual nega reparação a
quaisquer danos atendíveis que seriam tutelados através da via do ilícito
aquiliano. Afasta-se, naturalmente, a possibilidade de uma dupla
indemnização, em correspondência a essas duas espécies de ilícito civil.
Por outras palavras, havendo um só dano, resultante de um único facto,
nada justifica a duplicação de ações ou concorrência de pretensões.
 Tambem parece inaceitável o sistema da ação híbrida. Afigura-se
substancialmente injusto que o lesado beneficie das normas que

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considere mais favoráveis da responsabilidade contratual e da


extracontratual, afastando as que nos respetivos sistemas, repute
desvantajosas. Por exemplo, prevalecer-se do ónus da prova que
impende sobre o devedor na responsabilidade contratual (art. 799º/1) e,
ao mesmo tempo, do regime da solidariedade passiva, caso haja vários
responsáveis, que vigora para a responsabilidade extracontratual (art.
497º e 507º). Existiria, ainda, o problema da determinação do foro
competente: se o próprio da responsabilidade contratual ou o da
extracontratual.
 Não menos insatisfatória se revela a teoria da opção – ela equivale a
deixar-se ao lesado a escolha de uma ação baseada no ilícito contratual
ou no ilícito extracontratual. É que, além do resto, a questão se analisa
no que pode considerar um concurso legal ou aparente, em que os dois
regimes têm campos de aplicação próprios.
 Infere-se, assim, que o prof. Almeida Costa, adere à ideia de exclusão do
cúmulo. Se, de um vínculo negocial, resultam danos para uma das
partes, o pedido de indemnização deve alicerçar-se nas regras da
responsabilidade contratual. A mesma diretriz se impõe quando o facto
que produz a violação do negócio jurídico – ou melhor, da relação que
dele deriva – simultaneamente preenche os requisitos da
responsabilidade aquiliana. Esta solução mostrar-se-ia correta no plano
material e sistemático.
o As hipóteses de concurso da responsabilidade contratual e da
extracontratual reconduzem-se à figura do concurso aparente,
legal ou de normas. Quer dizer, trata-se de situações em que só
aparentemente se pode falar de um concurso, já que nos
deparamos com uma única conduta ilícita – a merecer, portanto,
uma só indemnização. A essência do problema reside, assim, na
solução do conflito positivo de regimes, que decorre da
circunstância de uma mesma factualidade ser simultaneamente
subsumível à responsabilidade contratual ou à responsabilidade
extracontratual. Posto isto, a escolha da disciplina aplicável
deve, em derradeira análise, depender do sentido que assume,
no sistema jurídico-positivo, a distinção entre responsabilidade
contratual e ponto de vista teológico, que atenda ao juízo de
valor e à função que subjazem àquelas duas figuras.
o A responsabilidade aquiliana intervém se o dano resulta da
infração de um dever geral de conduta, ao passo que a
responsabilidade contratual apenas atua quando se verifica a
violação de um crédito. Cada uma possui esfera particular ou
autónoma de atuação, pelo que não se pode afirmar que se
encontram numa relação de especialidade. Outras razões, que
Almeida Costa recusa, levam, contudo, à defesa da subordinação
exclusiva dos casos considerados às regras da responsabilidade
contratual.
o Nas hipóteses de concurso das duas variantes da
responsabilidade civil, há-de convir-se que qualquer delas, a
funcionar isoladamente, esgotaria a proteção que a ordem
jurídica pretende dispensar a casos desse tipo. A integração de
tais hipóteses num ou noutro esquema depende, portanto, da
perspetiva geral que preside à regulamentação do direito das

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obrigações. Ora, neste âmbito, impera, como não se ignora, o


princípio da autonomia privada, segundo o qual compete às
partes fixar a disciplina que deve reger as suas relações, com
ressalva dos preceitos imperativos. Assim, parece que, perante
uma situação concreta, sendo aplicáveis paralelamente as duas
espécies de responsabilidade civil, de harmonia com o
assinalado princípio, o facto tenha, em primeira linha, de
considerar-se ilícito contratual9.
 Sintetizando: de um prisma dogmático, o regime da
responsabilidade contratual consome o da
extracontratual. Nisto se traduz o princípio da
consunção.
 Saliente-se, por outro lado, o aspeto decisivo de que o
caminho preconizado, alem de uma adequação
conceitual, dá plena satisfação aos interesses do lesado.
Não se esqueça, na verdade, a ideia de relação
obrigacional complexa, concebida como um todo e um
processo dirigidos à tutela dos interesses globais das
partes nela envolvidos. Aí se encontram, não só deveres
de prestação, mas tambem deveres acessórios e
laterais, que incluem deveres de proteção e cuidado
para com a pessoa e o património dos intervenientes.
Observe-se, ainda, que o devedor se encontra obrigado
ao que expressamente convencionou e ao que resulta
dos ditames da boa-fé (art. 762º/2).
 Em idêntico sentido, postula a figura do cumprimento
defeituoso ou imperfeito, designadamente, quanto à
cobertura dos danos relativos à vida, à integridade física
e ao património do credor. O cálculo da indemnização é
feito nos mesmos termos básicos para as duas espécies
de responsabilidade civil. E, inclusive, podem apurar-se
e compensar-se danos não patrimoniais, no âmbito da
responsabilidade contratual.
 Assim, considera AC que a posição adotada acautela
devidamente todos os interesses atendíveis do lesado,
sem sacrifício injusto da posição do responsável:
mostra-se correta no plano da justiça material e
tambem encarada de um angulo sistemático. Só no se
aplicará em face de preceito contrário da lei. Este terá
de ser a regra. O que não invalida que, diante de
situações concretas, se lhe introduzam possíveis desvios,
em homenagem à solução substancialmente mais justa.
Estar-se-á perante casos de consunção impura.
 Importa agora distinguir a responsabilidade civil dos esquemas de segurança social: qualquer
destes institutos se dirige à reparação de danos. Todavia, enquanto a responsabilidade civil tem
subjacente a ideia de equilíbrio entre a liberdade de cada um e o respeito devido aos direitos
alheios, a segurança social consiste num mecanismo de proteção dos indivíduos mediante a
repartição coletiva dos riscos ou encargos de reparação dos danos. Existe na responsabilidade
civil, um problema de justiça individual, de ponderação de interesses do autor do facto danoso e

9
Se a responsabilidade foi disciplinada por negócio jurídico apresenta-se como contratual, posto que, na falta dele,
existisse responsabilidade extracontratual.

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da vítima, ao passo que a segurança social se baseia em considerações de justiça coletiva.


Tambem sob o angulo dos pressupostos, os dois institutos se configuram como esquemas
indemnizatórios diversos. Ao contrário do que, em regra, sucede com a responsabilidade civil, a
segurança social promove a reparação dos danos independentemente de o ato que os produziu
ser ilícito e culposo.

Aparentemente e de acordo com grande parte da doutrina, a responsabilidade civil obrigacional e a


responsabilidade civil extra-obrigacional esgotariam a responsabilidade civil. Porém, há doutrina que
defende que ao lado destas duas haveria que admitir uma terceira via da responsabilidade civil, em cujo o
universo se compreenderiam as hipóteses em que não está em causa a violação de um direito absoluto, mas
sim de deveres específicos e que portanto se distinguem das hipóteses de responsabilidade civil extra-
obrigacional, mas por outro lado não se coadunam com a violação de um dever primário de prestação, pelo
que também não seria responsabilidade civil obrigacional. Já nos referimos a estas hipóteses relativamente à
responsabilidade civil pré-contratual e na responsabilidade civil pós-contratual. Em que estariam em causa
deveres específicos entre sujeitos determinados de deveres de lealdade, de segurança, mas não seria um
dever primário de prestação. Também incluir-se-iam aqui os contratos com proteção para terceiros
 Exemplo: A tem uma empresa e celebra um contrato com B adquirindo-lhe maquinaria
utilizada pelos trabalhadores da fábrica, admitamos que essa maquinaria apresenta um
defeito e no manuseamento dessa maquinaria, um trabalhador é lesado na sua integridade
física em razão desse mesmo defeito, e que era conhecido do vendedor. A questão que se
coloca é a seguinte: pode o trabalhador responsabilizar o vendedor com base no contrato? O
trabalhador é um terceiro no contrato, pelo que não tem um direito de exigir que a máquina
seja entregue, não há aqui um dever de prestação primário. Contudo, há doutrina que vem
invocar aqui a relação obrigacional complexa em que nascem alguns deveres de proteção
para terceiros do contrato. E sendo lesados estes direitos, o trabalhador pode invocar esse
contrato para responsabilizar o vendedor por violação dos deveres de proteção. A vantagem
prática seria a de que permitiria ao trabalhador beneficiar do regime de responsabilidade
civil obrigacional. Neste caso o trabalhador não recorreria à responsabilidade objetiva contra
acidentes de trabalho porque o regime da responsabilidade civil por acidentes de trabalho
apenas restitui os danos patrimoniais e não os danos não-patrimoniais.
 Exemplo: A e B celebram um contrato de arrendamento. A vive lá com a sua família que não
foram parte no contrato mas vivem lá legitimamente. Imaginemos que o teto cai e lesa a
família do arrendatário. Se admitamos que se trata de um contrato para proteção de
terceiros, que significaria que o senhorio está obrigado a manter o bem locado para proteger
não só quem arrendou, mas quem lá habita legalmente e as visitas, os terceiros poderiam
invocar o contrato para usufruir da responsabilidade civil obrigacional.
Quem admite esta terceira via, defende que em função do problema jurídico concreto que importe
resolver poderá ser aplicado um ou outro aspeto de regime da responsabilidade civil obrigacional ou da
responsabilidade civil extra-obrigacional, e admite a aplicabilidade da presunção de culpa do devedor do
regime da responsabilidade civil obrigacional.
 Importa, desde já, referir a doutrina de diversos autores, nacionais e estrangeiros, que não
reconduzem as situações de responsabilidade civil apenas às modalidades tradicionais de
responsabilidade contratual ou obrigacional e de responsabilidade contratual ou obrigacional.
Admite-se entre ambas, uma terceira via (ou tertium genus) que, segundo os seus defensores,
permite uma melhor equação e análise de alguns casos, como, paradigmaticamente, o da
responsabilidade pré-contratual.
 É uma respeitável posição minoritária a que Almeida Costa não adere, pelo menos, em face do
nosso direito, não obstante a coerência que lhe assista. Acredita-se com efeito, que o legislador
português configura as duas modalidades clássicas de ilícito civil em termos amplos e flexíveis,
de molde a proporcionarem a disciplina básica adequada a todas as situações nesse
enquadráveis.

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Responsabilidade Civil Delitual:


Só nasce obrigação de indemnizar verificados certos pressupostos que se encontram definidos no
art. 483º do CC.
 O princípio geral da matéria encontra-se consagrado no art. 483º do CC: “Aquele que, com dolo
ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a
proteger direitos alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da
violação” (nº1), acrescentando-se que “só existe obrigação de indemnizar independentemente
de culpa nos casos especificados em lei” (nº2).
 Logo, decorre da própria analise destes preceitos que o dever de reparação resultante da
responsabilidade civil por factos ilícitos depende de vários pressupostos. São eles: a existência
de um facto voluntário do agente e não de um mero facto natural causador de danos; a ilicitude
desse facto; que se verifique um nexo de imputação do facto ao lesante; que da violação do
direito subjetivo ou da lei derive um dano, pois sem isso não se poe qualquer problema de
responsabilidade civil; e, também, que haja um nexo de causalidade entre o facto praticado pelo
agente e o dano sofrido pela vítima, de modo a concluir-se que este resulta daquele.
o Assim, apontam-se, na terminologia técnica corrente, como elementos constitutivos da
RCEC: o facto, a ilicitude, a imputação do facto ao lesante, o dano e o nexo de
causalidade entre o facto e o dano.
o Antes, porém, recorde-se que sobre a enunciação destes pressupostos se verificam
divergências maiores ou menores entre os autores. Nenhum dos critérios propostos
alcançou ainda verdadeira predominância, embora talvez se registe certa tendência para
a aceitação do que perfilha Almeida Costa.
Assim ter-se-á de identificar os pressupostos e requisitos de que o artigo faz depender o nascimento
da obrigação de indemnizar. Tentando interpretar várias formulações seriam possíveis. O AC defende da
interpretação do nº1 do art. 483º a verificação dos seguintes pressupostos:
1. Voluntariedade:
a. Aqui, ato voluntário significa comportamento dominável pela vontade do homem, ou
seja, o facto que causou o dano tem necessariamente de ser controlável pela vontade do
homem e pode traduzir-se numa ação ou numa omissão. Com este requisito, o facto não
tem de ser intencional ou querido (isto fica para a culpa), aqui exige-se para que haja
obrigação de indemnizar um facto suscetível de domínio pelo homem, excluindo-se os
danos causados por factos de força maior ou aqueles que provêm de situações
irresistíveis frutíferas. O facto tem de ser apreensível pela vontade. Depois este facto
pode ser positivo ou negativo, ou seja, pode traduzir-se numa ação ou omissão (este
ultimo obedece a um regime restrito).
i. Ex.: se A sofre uma síndrome cardíaca e destrói o bem de B – aqui o requisito
não está cumprido.
ii. Este facto pode se traduzir numa omissão – Responsabilidade por Omissão: Art.
486
1. O que resulta deste artigo é: o artigo deve ser aplicado em conjugação
com o art. 483º do CC – a responsabilidade por omissão pressupõe o
preenchimento dos requisitos do art. 483º, que em termos literais
consagra que só há responsabilidade civil por omissão se existir por
força da lei ou do negócio jurídico o dever de praticar o ato omitido. Ou
seja, diferentemente do que se sucede na RC por ação em que existe um
dever genérico de não lesar por ação os direitos de outrem, na omissão
considera-se que não existe um dever genérico de evitar a ocorrência de
danos para outrem. Assim, não pode sem mais qualificar-se de omissão
ilícita uma omissão que se traduza sem mais num não evitar de uma
ocorrência de danos. A omissão só é ilícita se houvesse por força da lei

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ou de negócio jurídico um dever jurídico específico de prática do ato


omitido. Aqui há por isso uma diferença: se por ação se viola
ilicitamente o direito de outrem causando-se dano, há responsabilidade
civil; se determinado sujeito não pratica determinado comportamento
que a ser praticado teria evitado o dano, esta omissão não pode sem
mais ser considerada ilícita. O prof. Antunes Varela, dá um exemplo
ilustrativo: se A está a comer muito, B não é civilmente responsável se A
ficar mal-disposto por não lhe ter dito estás a comer muito. Aqui, a
omissão do dever de cuidado ou de aviso não responsabiliza quem
omitiu essa ação. Não existe na ordem jurídica um dever genérico de
evitar que outrem sofra um dano. A simples omissão não responsabiliza
quem não age evitando que o outro sofra dano. Este principio genérico
explica-se pela ideia inspirada no pensamento liberal de que a
responsabilidade civil só deve existir quanto tenha sido praticado um ato
ilícito e danoso, protegendo a liberdade genérica de ação, pois poder-se-
ia levar a uma limitação desmesurada da liberdade de ação. A conduta
tem de ser especificamente devida (ou seja, iria demasiado longe,
limitando desproporcionalmente a esfera de liberdade do lesante se
consagrasse o dever genérico de ação). Quando, diversamente, a lei ou
NJ imponha uma conduta especifica que não foi observada e que a ser
observada evitaria o dano, então haverá responsabilidade civil por
omissão – ou seja, quando exista um dever específico de agir que não
tenha sido adotado e que torne o sujeito garante da ocorrência do dano,
então, caso este ocorra, haverá responsabilidade. Este dever específico
pode resultar da lei ou de um NJ – ex.: um polícia está por força da lei,
obrigado a prevenir o dano, estando obrigado a socorrer um cidadão
que esteja a ser agredido. Os pais têm o dever de cuidar e vigiar os filhos
e se omitirem esse seu dever, serão responsabilizados civilmente.
a. A doutrina e a jurisprudência têm refletido se a enumeração que
resulta do art. 486º quanto a saber se as fontes do dever são
taxativas, e a resposta que é hoje aceite passa por defender que
a enumeração deve ser compreendida com um fundamento de
solidariedade social que justificará a consagração de um dever
de auxílio e que explica porque é que a lei ou o NJ estabelecem
um dever de ação e que, por sua vez, legitima ao mesmo tempo
que se faça uma interpretação extensiva do art. admitindo que
existam deveres específicos de agir, mesmo que no plano formal
não se imponha este dever jurídico. Neste sentido, o prof. AC
convoca o próprio CP na interpretação que faz do termo de lei –
esta deve ser atendida em termos amplos, abrangendo as
hipóteses em que o CP imponha um dever de auxílio (desde
logo, importa aqui atentar ao art. 200º). Este artigo 200º
estabelece que a omissão não é punível quando se verificar
grande risco para a vida e integridade física da pessoa que teria
de socorrer – ou seja, o dever específico está limitado por estas
circunstâncias. Em todo o caso, a conduta do banhista que não
sabia nadar e que se limitou a chamar o 112 para socorrer a
pessoa de se afogar, não preenche os requisitos do art.886º (o
dever de auxilio consubstancia-se no facto de ter ligado ao 112).
Todavia, a doutrina sublinha que há que alargar em
determinadas hipóteses a exigência de adoção de um

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determinado comportamento – estas hipóteses que se


caracterizam pela existência de um dever de evitar o dano
existem por fundamento num principio de solidariedade:
i. Existência de uma situação de monopólio – há um
determinado sujeito que se encontra em situação de
monopólio (só aquelas pessoas poderiam ter evitado o
dano e não o fizeram sem qualquer razão atendível; a
ação que não levou a cabo não envolveria, para a única
pessoa que poderia ter evitado o dano, uma situação de
risco para a sua vida ou integridade física. Ex.: caso da
pessoa que em tempo útil não consegue salvar a criança
que se estaria a afogar numa poça de água.
ii. Criação de perigo ou agravamento de uma situação de
perigo – quem cria um perigo ou agrava um perigo pré-
existente deve adotar um comportamento por forma a
que sejam evitados os danos que esse perigo possa
consubstanciar. Ex.: quem na sua propriedade particular
que não esteja murada e que tenha uma piscina, não a
protegendo por forma a evitar afogamento, será
civilmente responsável pelos danos se se verifique na
piscina. Existiriam aqui, de acordo com a doutrina,
deveres de segurança no tráfego, ou seja, deveres de
prevenção do perigo delituais. Quem exerce uma
atividade que potencialmente seja suscetível de criar
danos a outrem, tem de ser diligente e adotar deveres
de prevenção de forma a evitar o dano, ou seja, tem de
evitar que o perigo se verifique.
1. O prof. Vaz Serra estabelecia nos trabalhos
preparatórios, exatamente esta ideia. Todavia,
esta formulação literal não ficou consagrada,
contudo, isto não significa que esta não deva ser
a solução a adotar.

 Na raiz da responsabilidade por factos ilícitos está necessariamente uma conduta da pessoa
obrigada a indemnizar, ou seja, um facto voluntário. Tal qualificação da conduta do agente tem o
único sentido de excluir os factos naturais produtores de danos, ou seja, os que não dependem da
vontade humana e se apresentam por ela objetivamente incontroláveis, como sucede quando os
danos procedem de causas de força maior ou de circunstâncias fortuitas invencíveis (ex.: um
ciclone, inundações, uma faísca, etc.). Portanto, em contrapartida, não se exige que se trate de
factos humanos intencionais, quer dizer, de comportamentos cujos resultados se hajam de antemão
desejado ou apenas considerado possíveis. Assim como se não mostra necessário que o agente
possua capacidade de exercício de direitos e, em certos termos, se admite até a responsabilização
de pessoas sem capacidade natural de entendimento ou de vontade (art. 488º e 489º).
 Via de regra, a conduta do agente constitui um facto positivo ou ação, que viola um dever jurídico
de não intromissão na esfera de outra pessoa, titular do correspondente direito absoluto (ex.:
injuria, ofensa corporal, apropriação, etc.). Mas também um facto negativo ou omissão pode
ocasionar danos. Aliás, na responsabilidade contratual é mesmo uma conduta negativa – a não
realização da prestação – que as mais das vezes fundamenta a obrigação de indemnizar. Quanto ao
ilícito civil extracontratual, todavia, o problema da responsabilidade por omissões ou abstenções
tem maiores melindres.

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o A nossa lei toma posição no art. 486º. Nele se declara que “as simples omissões dão lugar à
obrigação de reparar os danos, quando, independentemente, dos outros requisitos legais,
havia, por força da lei ou de negócio jurídico, o dever de praticar o ato omitido”.
o De facto, esta norma reclama importante atenção. Almeida Costa propende para uma
compreensão ampla da disciplina consagrada. Segundo a sua letra, demasiado restrita, as
omissões tão-só geram responsabilidade civil desde que – além dos restantes requisitos
legais – se verifique um pressuposto específico: que exista o dever jurídico da prática do ato
omitido. Entre aqueles requisitos legais, coloca-se o problema da causalidade, equacionado
em termos hipotéticos, isto é, exige-se que o ato omitido tivesse seguramente ou com a
maior probabilidade obstado ao dano (art. 563º).
 O dever jurídico de agir pode resultar diretamente da lei ou de negócio jurídico.
Lembre-se o dever dos pais de cuidar dos filhos, dos agentes de polícia de impedir
agressões, do professor de natação de socorrer o discípulo em perigo, do guarda da
linha de fechar a cancela da passagem de nível. Não se oferecem duvidas quanto a
hipóteses deste tipo, em que existe um dever precetivo que de forma expressa
deriva da lei ou de negócio jurídico.
 Pensam, todavia, o professor Almeida Costa, que se impõe uma interpretação da
doutrina do art. 486º que abranja outras situações.
 No âmbito da autonomia privada, afigura-se razoável equiparar ao negócio
jurídico certos casos porventura qualificáveis como relações contratuais de
facto. Imagine-se que o negócio de que resultaria o dever jurídico de ação
era nulo, como, por exemplo, o contrato celebrado entre o professor de
natação e os pais da criança que sofre o acidente. Ora, desde que o aludido
professor ou a baby-sitter, com a celebração do contrato nulo, não só
excluíram o recurso a outro meio para obstar à produção do resultado
danoso – gerando uma relação de confiança -, mas também se encontravam
na posição de, sem riscos pessoais, serem os únicos em circunstâncias de
evitá-lo, parece igualmente de defender a sua responsabilização nos termos
do art. 486º.
 Do mesmo modo, considera-se adequado um entendimento mais lato da referência
ao dever geral de praticar o ato omitido. Cabe admitir aqui uma alusão genérica à
ordem pública. Sempre que, por exemplo, na esfera do direito penal impenda sobre
o omitente o dever de agir – isto é, ele esteja investido na posição de garante pela
não verificação do resultado danoso -, sustenta-se que tambem no plano civilístico
se terá de afirmar a existência de idêntico conteúdo, que o responsabiliza caso o
dano efetivamente se produza. De resto, o próprio art. 486º permite esta
interpretação, enquanto se reporta a dever por força da lei e não apenas por força
da lei civil.

2. Ilicitude – o pressuposto está previsto na expressão violado ilicitamente o direito de outrem ou


qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios. Assim, o facto ilícito terá de se
traduzir na violação ilícita de um direito de outrem ou de uma disposição legal.
a. Primeira nota: ilicitude é utilizada aqui de forma sintética, definida nos termos da RC
Delitual. O conceito de ilicitude ou o facto ilícito, gera obrigação de indemnizar, quando
preencha os art. 483º e ss. do CC. Ilicitude não equivale, aqui, ao conceito de
contrariedade ao direito. Não há qualquer ação ou omissão contrária ao direito que
permite a conclusão que esse facto ou omissão são ilícitos. O facto só será ilícito,
gerando obrigação de indemnizar, se preencher a previsão do art. 483º e ss. O art. 483º
define ilicitude como uma violação do direito de outrem ou violação de qualquer
disposição legal destinada a proteger interesses alheios. Assim, estabelece-se duas
modalidades de ilicitude. Só numa destas duas hipóteses o facto será ilícito, assim não é

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qualquer facto que viole o direito. O facto será ainda ilícito se preencher algumas
clausulas especiais de ilicitude que vêm previstas no CC: 484º, 485º ou 334º. Só nestas
hipóteses é que o facto se considera ilícito.
i. Um dever de auxílio e que explica porque é que a lei ou o NJ estabelecem um
dever de ação e que legitima ao mesmo tempo que se faça uma interpretação
extensiva do art. admitindo que existam deveres específicos de agir, mesmo que
no plano formal não se imponha este dever jurídico. Neste sentido, o prof. AC
convoca o próprio CP na interpretação que faz do termo de lei – esta deve ser
atendida em termos amplos, abrangendo as hipóteses em que o CP imponha um
dever de auxilio (desde logo, importa aqui atentar ao art. 200º)
1. Violação ilícita de um direito de outrem – esta expressão tem sido
entendida como violação de um direito absoluto, de acordo com a tese
clássica. Isto porque o art. 483º ter-se-ia inspirado no paragrafo 823 do
BGB (este parágrafo definiu a ilicitude em termos estritos, dizendo que o
facto é ilícito quando violar determinados bens jurídicos que identifica).
O legislador português teria avançado um pouco mais, não optando por
enumerar os bens jurídicos absolutos, como fez o art. 483º, mas utilizou
a expressão mais ampla para querer significar que a violação de um
direito absoluto gera obrigação de indemnizar. Assim, não estaria
abrangido pelo conceito o direito de crédito se violado por terceiro.
Direitos absolutos: direitos reais, direitos de personalidade, direitos de
propriedade intelectual (direitos de autor e direitos de propriedade
industrial), são estas as hipóteses mais relevantes. Se A furta a coisa de
B, viola o direito de propriedade.
2. Violação de disposições legais destinadas a proteger direitos alheios
(violação de normas de proteção) – ex.: violação da norma do Código da
Estrada; o condutor ignora o sinal vermelho e passa – aqui, o condutor
não viola um direito absoluto, pois o Código da Estrada não confere a
quem ande na estrada o direito de exigir de outrem o dever de parar. O
CE não atribui aos utentes rodoviários o direito subjetivo de exigirem
aos demais utentes que respeitem o sinal vermelho. Há aqui uma
proteção meramente indireta dos utentes rodoviários. Quando a norma
não atribua o direito subjetivo, não está preenchida a primeira
modalidade de ilicitude; no entanto, está preenchida a segunda
modalidade de ilicitude. A pessoa que foi vítima do acidente é
indiretamente protegida por esta norma do Código da Estrada. O que se
verifica aqui é um fenómeno de antecipação da tutela, pois se existirem
semáforos, evitam-se os acidentes e, consequentemente, os danos que
se reflitam num bem jurídico absoluto. Esta expressão é genérica. Esta
modalidade de ilicitude só estará preenchida se se verificarem
determinados pressupostos que a doutrina e a jurisprudência têm
descriminado:
a. À lesão dos interesses dos particulares corresponda a ofensa de
uma norma legal – por outras palavras, ter-se-á de verificar a
violação de uma norma legal que proteja interesses alheios.
Comportamento que viola uma norma legal que proibia este
comportamento.
b. Que se trate de interesses alheios legítimos e juridicamente
protegidos por essa norma, e não … - a disposição legal que é
violada tem de visar proteger interesses alheios, de uma pessoa
ou de um círculo de pessoas, não sendo suficiente que tenha por

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objetivo a coletividade em geral. Exige-se que essa norma


proteja simultaneamente interesses de uma pessoa particular
ou de um grupo particular de pessoas, ou seja, que essa norma
proteja interesses particulares e não exclusivamente o interesse
da coletividade em geral. Há disposições legais que impõe
determinado comportamento, visando tão só a proteção do
interesse geral, não havendo aqui obrigação de indemnizar. Ex.:
não pagamento de impostos pelo concidadão; esta norma que
obriga o pagamento de impostos, visa proteger o interesse da
coletividade em geral e não o interesse particular de uma ou de
um grupo de pessoas. Na norma do Código de Estrada, visa
proteger o interesse particular dos utentes daquela via, a par do
interesse geral da coletividade – esta norma preenche assim o
segundo requisito. O mesmo se verifica com a norma penal que
proíbe o homicídio.
c. Que a lesão se efetive no próprio bem jurídico ou interesse
privado que a lei tutele – é necessário interpretar a norma,
tendo-se de determinar o fim da norma quanto ao seu âmbito
material de proteção (Quais os danos que se visa evitar? Porque
modo se pode evitar os danos?). O dano causado tem de ser
aquele que a norma pretenda evitar.
ii. Segunda nota - tipos delituais específicos:
1. Art. 484º - o credito traduz-se na diminuição da confiança e vontade da
pessoa para cumprir as suas obrigações. Se alguém afirmar ou difundir
um facto através do qual cria suspeição ou afirme que determinada
pessoa não cumpre ou não é capaz de cumprir, será civilmente
responsável. Ex.: A afirma num jornal que B não paga as suas dividas –
aqui A está a ofender o crédito de B, transmitindo um facto segundo o
qual B não tem capacidade para pagar as suas dividas.
Consequentemente, B não consegue celebrar mais contratos.
a. Aqui há alguma controvérsia doutrinaria, nomeadamente
quando a afirmação é verdadeiro ou falsa. AV e AC defendem
que a ilicitude do comportamento só é excluída caso o facto seja
verdadeiro e se demonstrar interesse legitimo na divulgação
desse facto. Parece razoavel esta ponderação.
2. Art. 485º: A pede um conselho a B perguntando qual o melhor caminho
de Lisboa-Porto. B dá-lhe um conselho e o A segue este conselho
verificando que o percurso é mais longo e mais caro e que, por isso,
perdeu o negocio. Este exemplo é académico, mas há outros um
bocadinho mais sérios. Vamos supor que A é uma empresa de auditoria
financeira e realiza uma auditoria na empresa B, e no fim desta auditoria
considera que a saúde financeira da empresa é ótima. Um determinado
empresário, com interesse em adquirir a empresa, tem acesso a este
relatório da empresa A e confia na correção desse relatório, adquirindo
a empresa por esse valor. Posteriormente, descobre que a empresa
tinha problemas financeiros gravíssimos. Ora, aqui, C pode
responsabilizar A? Outro exemplo: A dirige-se a um advogado e pede-lhe
um conselho. O advogado dá o conselho e este conselho revela-se
péssimo e o cliente pretende responsabilizar o advogado. Pode?
a. O principio geral alicerça-se na ideia de que os simples
conselhos e recomendações não responsabilizam, ainda que

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dados de forma negligente. Normalmente, os conselhos que


damos são dados a titulo de cortesia. A ideia é: o conselho é
pedido e dado, mas quem o pede deverá fazer um juízo critico.
Porém, o nº2 vem consagrar que poderá haver responsabilidade
civil: 1) se quem dá o conselho assume a responsabilidade; 2) se
havia o dever jurídico de dar esse conselho; 3) se o
procedimento constitua facto punível. Aqui, no caso do
advogado, do medico e da empresa auditoria estariam
tendencialmente verificados.
3. Abuso de Direito (remissão).

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b. O facto só é ilícito se preencher cada uma das modalidades de ilicitude. Se o facto for
contrário ao direito e não preencher nenhum destes requisitos, não há dever de
indemnizar. Cada ordenamento juridico define o pressuposto da ilicitude em termos
mais ou menos amplos. Há ordenamentos, como por exemplo, o francês que definem o
conceito de ilicitude em termos muito amplos – sendo difícil distinguir a ilicitude da
culpa (caberá aos tribunais a concretização do conceito de ilicitude em termos mais
estritos ou mais amplos). A ilicitude está definida através do termo falta, que define
simultaneamente a ilicitude e a culpa. Por exemplo, o CC alemão define em termos
muito estritos o conceito de ilicitude, definindo os bens jurídicos que a ser violados
geram ilicitude – aqui preserva-se em maior medida a liberdade do lesante. O CC italiano
faz referência a uma ilicitude injusta – o dano tem de ser causado injustamente. O nosso
legislador não foi ao ponto de definir em termos tao precisos o conceito de ilicitude, não
enumerando os bens que a serem violados determinam a ilicitude do facto, utilizando
uma clausula delitual geral, não o fazendo, contudo, de forma tao genérica como o fez o
CC francês e o CC alemão. O legislador tentou circunscrever o conceito de ilicitude.
c. Quid iuris quando à não indemnizabilidade de danos puramente patrimoniais:
i. Exemplos: cortes de cabos de alta tensão – A danifica um cabo de alta tensão e
reclama um direito de indemnização o proprietário do cabo, reclamando ainda
todos os utilizadores da energia elétrica daquela localidade alimentada por
aquela rede elétrica. Assim, reclama não apenas o proprietário uma
indemnização, como tambem todos os moradores do bairro que ficaram sem luz
num determinado período. Quanto ao proprietário do cabo: está preenchido o
requisito da ilicitude, pois foi violado o direito de propriedade sobre o carro.
Agora, quanto ao dano dos utilizadores da energia elétrica, serão estes titulares
de um direito subjetivo absoluta que os permita reclamar contra quem danificou
o local? Não. Nem há violação de uma disposição que vise protege-los. Isto
significa que os moradores têm dano, mas não têm direito a indemnização, pois
não está preenchido o requisito da ilicitude. Este exemplo ilustra como o
pressuposto da ilicitude não se define como mera contrariedade ao direito.
ii. No direito francês não era difícil indemnizar os moradores. No entanto, tal não
se verifica no nosso ordenamento. Ao não adotar (o nosso legislador) esta
solução, poder-se-ia estar a alargar o universo de forma desproporcional de
lesados com direito a indemnização.
iii. Violar ilicitamente um direito de outrem? Aqui o legislador utiliza esta expressão
porque se pode suceder que um facto que viole um direito de outrem não seja
ilícito por ter ocorrido uma causa que exclui a ilicitude. Ex.: ação direta, estado
de necessidade, legitima defesa – há causas justificativas de exclusão da
ilicitude.
1. Como causas genéricas de exclusão da ilicitude compreendem:
(1) Regular exercício de um direito – se alguém for autorizado a exercer
um direito causando dano a outrem, não está obrigado a
indemnizar. Há aqui que atender ao art. 334º e 335º
(2) O cumprimento de um dever jurídico – nesta hipótese, de conflito
de deveres, tem de preponderar o dever superior, sacrificando o
dever inferior, não sendo civilmente responsável. Quando se
verifique um dano que resulte do problema do conflito de deveres,
havendo optado por um dos deveres, não haverá responsabilidade.
(3) Causas especiais com previsão expressa na lei:
a. Ação Direta – 336º:

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i. Recurso à força para assegurar o próprio direito –


comportamento de ataque e não de defesa.
ii. Fundamento: assegurar o direito próprio e não o
direito de terceiro e, portanto, distingue-se quer da
legitima defesa quer do estado de necessidade, pois
nestes últimos pode socorrer-se dele para acautelar
um direito de outrem.
iii. Art. 336º/2 – exemplo de apropriação de uma coisa
para assegurar o seu proprio direito ou a destruição
de uma coisa. Se há furo aos pneus do carro de B
que ia fugir com coisa que pertencia a A.
iv. Requisitos de exclusão de ilicitude: necessidade
(pelo que o recurso à força deverá ser
indispensável), adequação (o agente não pode
exceder o estritamente necessário - critério de
adequação), ponderação entre os bens jurídicos em
causa (o pneu ou o valor da coisa que estava a ser
furtada).
v. A ação direta putativa verifica-se quando há erro –
art. 338º - não se excluindo a ilicitude, se o erro for
desculpável, não haverá obrigação de indemnizar.
b. Legítima Defesa – Art. 337º:
i. É uma atitude de defesa destinada a afastar uma
agressão atual e ilícita, que se dirige ou à pessoa ou
ao património, quer do agente ou de terceiro. É uma
reação contra uma agressão de outrem; agressão
que justifica a defesa é uma conduta
necessariamente humana (não há legitima defesa
contra o ataque de animais – aqui o instituto poderá
ser o estado de necessidade). A agressão terá de ser
atual, ou seja, aquela que esteja em execução e seja
iminente. Não há legitima defesa contra agressão já
consumada. Se a agressão já se verificou e não
havendo perigo de nova agressão, não é excluída a
ilicitude numa conduta posterior. A agressão não
tem de ser culposa, basta que seja ilícita. Tambem
aqui há o requisito da necessidade --- atenção, aqui,
na legitima defesa, exige-se uma certa adequação,
mas não estrita, é licito o ato contra uma agressão
se o dano causado pelo ato praticado em defesa seja
superior ao que se pretende evitar, desde que este
não seja manifestamente superior ao dano que se
pretende causar.
ii. Art. 337º/2 – se se verificar um excesso de legitima
defesa o ato não se considera justificado, a não ser
que seja devido a perturbação ou medo não culposo
do agente e em rigor, até aqui, por esse excesso
resultar de medo não culposo o que se verifica é a
exclusão da culpa e não da ilicitude (segundo a
doutrina).

Baixado por Nelson Jose Mutambe (nelsonmutambe1@gmail.com)


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iii. Art. 338º: o erro nos pressupostos pode excluir a


culpa, ainda que não exclua a ilicitude.
c. Estado de Necessidade – Art. 339º
i. É aquela hipótese clássica em que para transportar
um ferido ao hospital utiliza carro alheio.
ii. Há semelhança no que se sucede na ação direta,
tem de se estar perante ataque e não defesa.
Distingue-se na legitima defesa, porquanto no
estado de necessidade tem de se acautelar um dano
manifestamente superior. Na ação direta permite-se
utilizar a força para acautelar um direito próprio de
valor igual. Para alem do mais, distingue-se da ação
direta, pois no estado de necessidade legitima-se a
proteção do agente ou de terceiro.
iii. No Estado de Necessidade sacrificam-se bens que
não pertencem ao titular da esfera jurídica do que
se pretende proteger ao evitar o dano (ex.: caso do
homem que usa o carro do ferido para o levar ao
hospital – aqui utiliza-se o regime do consentimento
do lesado). Mais, se o agente utilizar o seu carro,
suportando despesas, aí o problema seria de gestão
de negócios.
d. Consentimento do lesado – Art. 340º

 O facto voluntário que lesa interesses alheios só obriga a reparação havendo ilicitude – que
consiste na infração de um dever jurídico. Mas conduzirá a esse resultado a violação de todo e
qualquer dever jurídico?
 Todavia, pode verificar-se que a inexistência de ilicitude, não obstante a prática de um facto que
normalmente a envolveria. Entra-se, então, no domínio das causas de exclusão da ilicitude ou
das causas justificativas do facto danoso.
 O art. 483º/1 do CC fixa o princípio geral da matéria. Aí se indicam as duas formas essenciais de
ilicitude: 1) violação de um direito de outrem; 2) violação de preceito de lei tendente à proteção
de interesses alheios.
o Nesse primeiro dispositivo – violação de direitos subjetivos – incluem-se tipicamente as
ofensas de direitos absolutos, de que constituem exemplos os direitos reais (art. 1251º e
ss.), e os direitos de personalidade (art. 70º e ss.). Quanto aos direitos familiares
pessoais, cujos traços peculiares indicamos noutra altura, tem sido doutrina maioritária
que a sua infração não origina um dever de indemnizar, que, numa palavra, não se lhes
aplicam os princípios comuns da responsabilidade civil; mas esta regra, mesmo admitida,
comporta exceções (art. 1792º) e descaracteriza-se a respeito dos direitos familiares
patrimoniais (art. 1594º, 1681º, 1900º/2, 1940º/4 e 1945º).
o A matéria da violação dos direitos de crédito não se encontra aqui contemplada, pois,
como sabemos, o legislador ocupou-se dela em lugar à parte (art. 798º e ss.). Insiste-se,
porém, na proximidade dos regimes da responsabilidade contratual e da
extracontratual.
o A segunda vertente geral do nº1 do art. 483º é dirigida à violação de disposições legais
destinadas a proteger interesses alheios. Tem-se agora em conta a ofensa de deveres
impostos por lei que vise a defesa de interesses particulares, sem que confira,
correspectivamente, quaisquer direitos subjetivos. Por exemplo: infração de uma lei que
imponha determinadas providencias sanitárias ou proíba o estacionamento de veículos

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em certos locais, ou a infração de uma lei aduaneira destinada a proteger a indústria do


país.
 Saliente-se, todavia, que a invocação do referido fundamento da
responsabilidade depende de se verificarem os seguintes requisitos próprios:
1) que à lesão dos interesses dos particulares corresponda a ofensa
de uma norma legal, entendendo-se esta expressão em termos
amplos (pode ser, por exemplo, um mero regulamento de polícia);
2) que se trate de interesses alheios legítimos ou juridicamente
protegidos por essa norma e não de simples interesses reflexos ou
por elas reflexamente protegidos, enquanto tutela interesses gerais
indiscriminados (ex.: se uma lei proíbe determinada importação com
o fim de evitar a saída de divisas ou gastos sumptuários, tão-só
reflexamente se defende a industria do país; mas já se estará em
face de um interesse juridicamente protegido, se essa lei, veda a
importação com o objetivo direto de favorecer os fabricantes
nacionais);
3) que a lesão se efetive no próprio bem jurídico ou interesse
privado que a lei tutela (ex.: sendo impostas normas de uma
especialidade farmacêutica com o escopo da saúde dos
consumidores e certo laboratório as viola, não pode um seu
concorrente, amparado no nº1 do art. 483º, reclamar qualquer
indemnização pelos danos sofridos em consequência do descrédito
público desse produto).
o Às referidas condutas antijurídicas suscetíveis de gerar responsabilidade civil, importa
acrescentar, antes de mais, o abuso do direito. Sabemos em que consiste este instituto e
qual a sua disciplina jurídica. Apurando-se, de harmonia com o critério do art. 334º e
segundo as circunstâncias do caso, que um determinado comportamento deve ser
qualificado como abuso de direito, resulta para o titular desse direito abusivamente
exercido a obrigação de reparar os danos produzidos a outrem. Torna-se necessário, sem
dúvida, que ocorram os restantes requisitos ou pressupostos da responsabilidade civil.
o Mas não se limita o CC à fixação do art. 483º/1 dos mencionados critérios básicos.
Contempla, logo após, alguns casos especiais de ilicitude que não se enquadrariam
nessa previsão genérica, pelo menos, a salvo de quaisquer hesitações.
 Um deles concerne à ofensa de crédito ou do bom nome. Como resulta do art.
484º, “quem afirma ou difundir um facto capaz de prejudicar o crédito ou o bom
nome de qualquer pessoa, singular ou coletiva, responde pelos danos causados”.
Infere-se da lei que tem de haver a imputação de um facto, não bastando
alusões vagas e gerais. A regra consiste na irrelevância da veracidade ou
falsidade do facto, mas, sempre que esteja em causa a proteção de interesses
legítimos, parece de admitir a exceptio veriatis. Sublinhe-se, por fim, que o facto
afirmado ou difundido deve mostrar-se, ponderadas as circunstâncias concretas,
suscetível de afetar o crédito ou a reputação da pessoa visada – pessoa singular
ou coletiva, onde se incluem as sociedades.
 Uma outra situação que pode ocasionar responsabilidade é a de prestação de
conselhos, recomendações ou informações. Em princípio, de acordo com o art.
485º/1, “os simples conselhos, recomendações ou informações não
responsabilizam a quem os dá, ainda que haja negligencia da sua parte”. Nem se
verificando dolo, existe essa obrigação de indemnizar, desde que a conduta se
não configure como abuso do direito e fora dos casos previstos pelo nº2 do
mesmo art. 485º.

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 Este último preceito, contudo, abre três exceções à referida regra, a


saber: 1) quando se haja assumido a responsabilidade pelos danos que
dos conselhos, recomendações ou informações resultarem para o
destinatário; 2) quando exista o dever jurídico legal ou convencional
(ex.: derivado da profissão), de aconselhar, recomendar ou informar e se
tenha agido culposa ou dolosamente; 3) quando a conduta do agente
constitua crime.
 Embora o ponto não apresente importância decisiva, dado que o
legislador dispensa às três figuras o mesmo tratamento jurídico, os
conceitos de conselho, recomendação e informação diferem. Assim,
enquanto o conselho se traduz sempre numa exortação à adoção de
determinado comportamento e a recomendação constitui uma sua
subespécie – ou seja, uma exortação menos forte -, na informação
encontra-se de todo ausente a ideia de “proposta de conduta” dirigida
ao respetivo destinatário.
 A lei incluiu tambem a obrigação de reparar em consequência de omissões (art.
486º). Todavia, já antes considerou-se uma tal hipótese de ilicitude. Acrescenta-
se, apenas, que o critério que levou o legislador a autonomiza-la é diverso do
que presidiu às anteriores. Com efeito, na ofensa do crédito ou do bom nome e
na prestação de conselhos, recomendações ou informações, perspetiva-se a
natureza do bem jurídico lesado, ao passo que o motivo de a lei autonomizar o
caso das omissões se relaciona com as especificidades desta particular forma de
comissão.
 Exclusão da ilicitude:
o Trata-se das circunstâncias que, por tirarem ao facto que ocasionou o dano a sua
ilicitude, excluem a responsabilidade civil. O próprio nº1 do art. 483º pressupõe a
possibilidade de violação lícita de direitos de outrem ou de normas dirigidas a proteger
interesses alheios, o que corresponde à intervenção de uma causa justificativa.
o Existem, desde logo, duas causas gerais, sem disciplina expressa na lei civil, que afastam
a ilicitude: o regular exercício de um direito e o cumprimento de um dever jurídico. Ao
lado destas, encontram-se certas causas jurídicas especiais justificativas do facto, que se
consagram a propósito do exercício e tutela dos direitos (art. 334º e ss.): a ação direta, a
legítima defesa, o estado de necessidade e o consentimento do lesado.
 Exercício de um direito ou cumprimento de um dever:
 O facto danoso não é ilícito quando praticado no regular exercício de um
direito ou no cumprimento de um dever jurídico. Este último apresenta-
se normalmente como uma obrigação legal, quer dizer, tendo a lei como
fonte direta.
 A pessoa que viola um direito alheio no exercício de um direito próprio
não atua, em princípio, ilicitamente (art. 483º/1). Importa, todavia,
atender à doutrina do art. 335º, segundo a qual, “havendo colisão de
direitos iguais ou da mesma espécie, devem os titulares ceder na
medida do necessário para que todos produzam igualmente o seu
efeito, sem maior detrimento para qualquer das partes“ (nº1); e, “se os
direitos forem desiguais ou de espécie diferente, prevalece o que deva
considerar-se superior” (nº2).
 Tambem conhecemos os limites postos pelo instituto do abuso do
direito (art. 334º). Ainda há pouco o recordamos
 De igual modo, não se verifica, em princípio, responsabilidade dos que
atuam no cumprimento de um dever jurídico. Existindo colisão de
deveres que recaiam sobre a mesma pessoa, caberá ao agente dar

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prevalência ao mais importante. Essa supremacia é determinada,


naturalmente, pelo valor do bem ou interesse que se visa prosseguir ou
proteger.
 Observe-se que a invocação do cumprimento de um dever como causa
justificativa do incumprimento de outro só releva se o respetivo sujeito
não contribuiu culposamente para a impossibilidade de satisfação de
ambos. Assim como, se ocorre impossibilidade não imputável do
cumprimento de um dos deveres, a ilicitude resulta, por isso, excluída,
sem que se torne necessário alegar a efetivação do outro.
 Ação Direta:
 Consiste a ação direta no recurso à força com o fim de realizar ou
assegurar o próprio direito. Encontra-se regulada no art. 336º do CC. O
nº2 deste preceito indica, a título exemplificativo, que a “a ação direta
pode consistir na apropriação, destruição ou deterioração de uma coisa,
na eliminação da resistência irregularmente oposta ao exercício do
direito, ou noutro ato análogo”.
 Em matéria de exercício de direitos, como sabemos, o princípio
fundamental consiste na proibição da autodefesa. Estabelece o art. 1º
do CPC que “a ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou
assegurar o próprio direito, salvo nos casos e dentro dos limites
declarados na lei”. Daí que a consagração da ação direta em termos
gerais tenha sido feita com grande cautela.
 Precisamente, conforme o disposto nos nº1 e 3 do art. 336º do CC, a
licitude da ação direta depende da verificação dos seguintes requisitos
ou pressupostos: 1) que se trate de realizar ou assegurar um direito
próprio; 2) que haja impossibilidade de recorrer em tempo útil aos
meios coercivos normais, para evitar a inutilização prática desse direito;
3) que o agente não exceda o estritamente necessário para impedir o
prejuízo; 4) que não se sacrifiquem interesses superiores aos que visam
defender.
 Constituindo um expediente de emergência, a ação direta subentende a
ulterior necessidade de o agente regularizar a situação através do
recurso aos meios coercivos normais. Deverá fazê-lo, logo que seja
possível, sem prejuízo da conservação prática do direito em causa.
 Se o titular do direito proceder na convicção errónea de que se verificam
os pressupostos justificativos da ação direta, nem por isso deixa esta de
ser ilícita. Trata-se de uma ação direta putativa. Contudo, se o erro for
desculpável, o agente não é obrigado a indemnizar os prejuízos
causados (art. 338º):
 Legítima Defesa:
 De um modo geral, pode definir-se a legitima defesa como sendo a
realizada pelo próprio titular de um direito, ou por terceiro, contra uma
agressão atual e ilícita a esse direito, quando não for possível, em tempo
útil, o recurso à autoridade pública. Dada a natureza e a importância
desta figura, não se estranhará que se ache oportuno reconhecê-la
genericamente no texto constitucional10.
 Em matéria de direito civil, ocupa-se do instituto o art. 337º do respetivo
Código. Este preceito estabelece como requisitos da legítima defesa: 1)
uma agressão atual e lícita, contra a pessoa ou o património do agente
ou de terceiro; 2) a impossibilidade de o defendente recorrer aos meios
10
O art. 21º (2ª parte) da Constituição da República Portuguesa, onde se prevê a admissibilidade da legítima defesa.

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normais para afastar a agressão; 3) o prejuízo causado pelo ato não ser
manifestamente superior ao que pode resultar da agressão 11.
 Quanto ao último requisito, assinala-se uma diferença em confronto
com a figura anterior: ao contrário do que acontece na ação direta, pode
haver na legitimidade defesa desproporção entre os prejuízos, desde
que não seja manifesta. Compreende-se, aliás, essa diferença pela
dificuldade normal de o agente avaliar com rigor, mercê das
circunstâncias em que atua, os prejuízos possíveis resultantes da
agressão.
 Por outro lado, considera-se justificado o excesso de legitima defesa,
sempre que devido a perturbação ou medo não censurável do agente
(art. 337º/2). Ainda nesse caso se verifica isenção de responsabilidade
civil. A defesa excessiva pode resultar de os meios utilizados serem mais
graves do que os necessários para afastar a agressão ou de os interesses
do atacante se apresentarem manifestamente superiores aos do
defendente.
 Também se prevê a hipótese de erro acerca da existência dos
pressupostos da legítima defesa (legítima defesa putativa). Aplica-se a
disciplina, já analisada, que paralelamente se estatui a respeito da ação
direta (art. 338º).
 Estado de Necessidade:
 Determina o art. 339º/1 que é “lícita a ação daquele que destruir ou
danificar coisa alheia com o fim de remover o perigo atual de um dano
manifestamente superior, quer do agente, quer de terceiro”. Nisto
consiste o chamado Estado de Necessidade.
 Atendendo à letra da lei e aos correspondentes trabalhos preparatórios,
parece que o referido preceito apenas admite o sacrifício de coisas ou
direitos patrimoniais alheios, inclusive através do ato menos prejudicial
do seu simples uso. Esta interpretação salienta a prudência com que o
legislador acolheu o instituto no âmbito civilístico.
 Todavia, a ideia de ponderação de interesse subjacente ao estado de
necessidade torna-o suscetível de abranger situações em que se
verifique a violação de bens pessoais. Com efeito, se a razão de ser
dessa categoria dogmática radica no propósito de preservar bens
jurídicos manifestamente mais valiosos em detrimento de outros menos
valiosos, não se vê que os termos da equação tenham de alterar-se
quando o bem jurídico sacrificado possua natureza não patrimonial.
Dada a própria essência de tais bens, trata-se, porém, de situações de
verificação rara – uma vez que os bens da personalidade se apresentam,
via de regra, mais valiosos do que os patrimoniais. Até por esta
circunstância, os casos práticos em que se revele uma supremacia dos
bens patrimoniais sobre os pessoais serão de uma tão forte evidência
que se tornará difícil deixar de considerá-los abrangidos pelo espírito do
nº1 do art. 339º (ex.: A, para evitar a destruição de valiosíssima coleção
de arte, provoca num terceiro, C, ligeiros ferimentos). Mesmo assim, há

11
O princípio proporcionalidade não integra o regime jurídico da legítima defesa no direito penal. Nesse âmbito, a
referida causa de exclusão da ilicitude pode ter lugar quando o bem jurídico salvaguardado possua menor valor do que
o bem jurídico ofendido com vista à sua preservação. As situações porventura chocantes a que um tal regime se mostra
suscetível de conduzir (ex.: o sacrifício do valor da vida para proteger um valor patrimonial de diminuta importância)
seriam remediadas pela intervenção do instituto do abuso do direito. Quer dizer, o direito de legitima defesa encontra-
se como qualquer outro direito submetido às limitações decorrentes da figura do abuso do direito (art. 334º).

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que ter presente a natureza extrema de tais situações, que, se, por um
lado, justificam o teor restritivo da lei, por outro lado, só poderão
exatamente, apreciar-se em função de cada hipótese concreta.
 Considerou-se a preservação de um bem patrimonial à custa de um bem
não patrimonial. Podem, no entanto, ocorrer situações de confronto
entre bens pessoais, que tambem se afiguram razoavelmente
subsumíveis à proteção do nº1 do art. 339º (ex.: A, para salvaguarda da
vida, atenta contra a integridade física de C, estranho à situação de
perigo). Nesse caso, a valoração dos bens torna-se mais fácil do que a
anterior.
 Posto isto, alinhemos os requisitos que o estado de necessidade deve
reunir como causa justificativa do dano danoso. São os seguintes: 1)
exige-se a existência de um perigo atual; 2) esse perigo deve ameaçar
um direito ou bem jurídico relativo à pessoa ou ao património do agente
ou de terceiro; 3) a conduta do agente deve constituir meio necessário
para preservar o direito ou bem jurídico em causa; 4) os interesses
defendidos devem ser manifestamente superiores aos sacrificados 12.
 O nº2 do art. 339º estabelece soluções diversas, consoante a situação de
necessidade seja ou não criada por culpa exclusiva do autor da
destruição ou dano. No primeiro caso, ele fica “obrigado a indemnizar o
lesado pelo prejuízo sofrido”; ao passo que, no segundo caso, pode o
tribunal “fixar uma indemnização equitativa e condenar nela não só o
agente, como aqueles que tiraram proveito do ato ou contribuíram para
o estado de necessidade”. Verdadeiramente, apenas nessa segunda
hipótese existe um estado de necessidade justificativo do facto danoso.
o Não se mostra difícil contradistinguir as três últimas figuras de que nos ocupámos – todas
elas formas de autotutela do direito.
 A ação direta ou justiça privada, que em tempos primitivos teve tão
larga importância, consiste no recurso à força, sob a forma de ataque,
com o fim de realizar ou assegurar por autoridade própria a sanção de
um direito já violado do agente (A apodera-se à força de uma coisa
infungível, por ex., uma obra de arte que B lhe deve e se propõe
destruir). Ao passo que a legítima defesa e o estado de necessidade
apresentam o traço comum de a lesão do direito alheio em que se
traduzem ser para o efeito da conservação (defesa) de um interesse ou
bem ameaçado.
 Na legítima defesa, todavia, apenas se reage contra uma agressão ilícita
(A atinge B em defesa da sua pessoa ou fazenda); enquanto, no estado
de necessidade, a situação de perigo de dano para o bem jurídico em
causa tanto pode resultar de uma agressão como de caso fortuito ou de
força maior (ex.: o capitão que lança o carregamento ao mar para
impedir o naufrágio do navio; os bombeiros que danificam uma seara
para que o incendio não se propague). O traço fundamental de distinção
assenta em que, na legitima defesa, se reage contra quem criou a
situação de perigo e, no estado de necessidade, se salvaguarda o bem
jurídico através da lesão de interesses de terceiro que nada contribuiu
para a situação de perigo. Daí que se imponha concluir que o estado de
necessidade seja subsidiário em relação à legitima defesa: compreende-
se que o agente só possa proteger o seu direito com sacrifício da esfera

12
Quando o interesse a defender seja a vida, ele é sempre superior aos bens materiais, ma, tratando-se da simples
integridade física, pode o interesse em causa ser ou não superior àqueles.

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jurídica de terceiro, quando não possa fazê-lo à custa da esfera jurídica


do agressor.
 Verificamos, por outro lado, que na ação direta se trata de realizar ou
assegurar um direito próprio. Ora, a legítima defesa e o estado de
necessidade referem-se tanto à proteção de interesses do agente como
de terceiro.
 Consentimento do Lesado:
 Considera-se tambem causa justificativa o consentimento do ofendido.
Nos termos do art. 340º/1 e 2, o ato lesivo dos direitos de outrem é
lícito, desde que o ofendido consinta na lesão; mas o consentimento do
lesado não exclui a ilicitude do ato quando este se mostre contrário a
uma proibição legal ou aos bons costumes.
 Facilmente se justifica a primeira das normas referidas. Na verdade, o
direito protege a esfera jurídica dos particulares através da ilicitude, que
resulta da interferência em bens ou interesses alheios. Todavia, se há
autorização do respetivo titular, essa lesão torna-se lícita. Desaparece,
portanto, o motivo da indemnização ou reparação em que se traduz a
responsabilidade civil.
 Do mesmo modo se compreende a restrição decorrente da circunstância
de os atos consentidos contrariarem uma proibição legal ou os bons
costumes. É que, nesses, estão em jogo interesses públicos indisponíveis
(ex.: o direito à vida – art. 134º CP).
 O consentimento do ofendido deve anteceder o ato. Depois da prática
deste, apenas pode verificar-se uma renúncia aos efeitos da ilicitude da
lesão.
 Existe, contudo, uma presunção de consentimento. Como determina o
nº3 do art. 340º, “tem-se por consentida a lesão, quando esta se deu no
interesse do lesado e de acordo com a sua vontade presumível”. Quer
dizer, admite-se esse consentimento, desde que, de acordo com um
critério objetivo, seja presumível que o titular do interesse lesado,
perante a situação concreta, teria permitido o ato lesivo. Conforme se
indica, o primeiro critério de que se lança na mão para determinar a
vontade presumível reveste natureza objetiva, coincidindo com o juízo
do homem médio. Se, porém, o agente sabe que, nessa situação, o
titular do bem se teria manifestado em sentido diverso, então deve
prevalecer este último critério subjetivo. O problema deixa de se pôr,
evidentemente, quando o lesado exteriorizou a sua vontade, hipótese
em que se passa ao âmbito do consentimento real.
 Cabem na órbita do nº3 do art. 340º, por exemplo, as intervenções
cirúrgicas, indispensáveis ao tratamento de pessoas em estado de não
poderem manifestar a sua vontade. Contudo, não parece que aí se
incluam os casos de danos resultantes da participação do lesado
nalgumas atividades particularmente perigosas (ex.: provas desportivas
de boxe, artes marciais, automobilismo ou futebol).
 A própria letra da lei predispõe nesse sentido. Em tais situações, poderá
fazer-se apelo à ideia de um consentimento tácito. Ou seja, a simples
participação nas mencionadas atividades envolve, necessariamente, o
consentimento do lesado, excluídos os casos de dolo do lesante e de
inobservância das regras do jogo. Haverá, portanto, uma efetiva
formação e manifestação da vontade, ao invés do que sucede com o
consentimento presumido, que é ficcionado em função das

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circunstâncias concretas e da vontade hipotética do lesado, no quadro


de idênticas circunstâncias. Uma vez que o consentimento tácito
pressupõe uma conduta concludente, torna-se irrelevante uma vontade
contrária.

3. Culpa – aquele com dolo ou mera culpa 483º/1- aqui o conceito de culpa abrange o dolo ou a
mera culpa. Não basta, assim, que se verifique uma violação ilícita de um interesse
juridicamente protegido de outrem. Uma coisa é, pois, a ilicitude e outra a culpa. O artigo 483º/2
acrescenta que só existirá responsabilidade independente de culpa quando a lei o especifique.
a. A culpa é talvez o conceito de direito civil mais difícil de definir e por isso, a definição
que damos é aproximada. Enquanto o facto viola valores defendidos pela ordem jurídica,
e por isso o juízo de culpa envolve já um juízo de censura sobre o agente e de tal modo
que se possa afirmar, que sendo o facto resultado do comportamento do agente, tal não
é suficiente. Só há culpa se o agente podia e devia, nas circunstâncias do caso, ter agido
diversamente – a culpa é um juízo que se apura sobre a ação do agente. Se o facto que
foi ilicitamente provocado, o agente podia e devia ter agido diversamente.
A culpa em sentido amplo consiste na imputação do facto ao agente. Ela define um nexo
de ligação do facto ilícito a uma certa pessoa. A responsabilidade civil, em regra,
pressupõe a culpa, que se traduz numa determinada posição ou situação psicológica do
agente para com o facto. Só excecionalmente a lei se contenta com a existência entre o
facto e o agente, de um puro nexo material (artigo 483º/2). São os acasos de
responsabilidade objetiva.
Os conceitos de ilicitude e de culpa refletem aspetos distintos da conduta do agente,
posto que intimamente relacionados. Pode dizer-se que a ilicitude encara o
comportamento do autor do facto sob um ângulo objetivo, enquanto violação de valores
defendidos pela ordem jurídica (juízo de censura sobre o próprio facto); ao passo que a
culpa pondera o lado subjetivo desse comportamento, ou seja, as circunstâncias
individuais concretas que o envolveram (juízo de censura sobre o agente em concreto).
Ao declarar-se que a culpa envolve um juízo de censura dirigido ao agente, considera-se
apenas a responsabilidade resultante de factos ilícitos: quer dizer, só na medida em que
o próprio facto é ilícito e, por isso, censurável, também censurável terá de ser o agente
que o praticou – salvo nos casos de responsabilidade objetiva ou de ocorrência de
causas de exclusão da culpa. Algo de diverso se verifica quanto à responsabilidade
derivada de factos lícitos: neste âmbito, dado que não há uma conduta objetivamente
censurável (isto é, ilícita), a culpa não assume a natureza de um juízo de censura,
coincidindo, pois, com a mera imputação do facto ao agente. Daí que o regime jurídico
das causas de exclusão da ilicitude se apresente autónomo da disciplina de causas de
exclusão, atenuação ou agravamento da culpa.
A lei exige, em suma, que a violação ilícita dos direitos ou interesses de outrem esteja
ligada a uma certa pessoa, de maneira que possa afirmar-se, não só que foi obra sua,
mas também que ela podia e devia, nas circunstâncias, ter agido diversamente. A culpa
implica, assim, uma ideia de censura ou reprovação da conduta do agente.
A pergunta que se coloca é a seguinte: quando é que a conduta do lesante se poderá
considerar culposa?
i. O agente é imputável? Para que se possa concluir pela culpa, importa
determinar se o agente é imputável, sendo a imputabilidade um requisito da
culpa. Se o agente não for imputável não se poderá formar um juízo de culpa. Se
conhecesse ou devesse conhecer o desvalor do seu comportamento e pudesse
escolher a sua conduta. A lei considera inimputável, art. 488º, quem no

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momento em que o facto ocorreu estava por qualquer causa incapacitado de


querer ou entender os efeitos da sua conduta. Exige-se assim, discernimento ao
agente, para que este possa prever os efeitos da sua conduta (o dano) e medir o
valor dos atos que pratica. Na parte final, diz-se que se se verificar que o agente
se colocou culposamente num estado de não poder entender os efeitos da sua
conduta e desde que esse facto seja transitório, então aqui considera-se o
agente imputável13. Ex.: caso de embriaguez. A sobre o estado de embriaguez
parte o vidro do carro de B, no dia seguinte não se recorda, é imputável porque
se colocou culposamente neste estado. Contudo, se A consome estupefacientes
ou outras substâncias e como consequência do consumo fica a padecer de um
impedimento mental ou psíquica que o impede de se determinar e tomar
consciência do valor da sua conduta e respetivos efeitos e nesse estado de
incapacidade, adota um comportamento que causa danos a outrem, aqui será
considerado inimputável, pois já não estaremos perante uma situação
transitória. O nº2 presume a inimputabilidade dos menores de sete anos e dos
interditos por anomalia psíquica – o legislador presume que um menor de sete
anos não tem capacidade para se autodeterminar e apurar os efeitos dos seus
atos. Esta presunção é ilidível. Maiores de sete anos e sujeitos a maiores de
idade que não sejam interditos por anomalia psíquica considerar-se-ão
imputáveis – isto retira-se à contrário.
1. Regime da responsabilidade dos inimputáveis: a regra é a de
irresponsabilidade dos inimputáveis pelo facto danoso que haja
praticado. Mas, o art. 489º do CC estabelece uma exceção a esta regra
da irresponsabilidade dos inimputáveis, nomeadamente no nº1 –
conclui-se que à luz deste artigo, o legislador consagrou uma
responsabilidade subsidiaria dos inimputáveis. Em princípio não
responde, mas excecionalmente, mediante determinados pressupostos,
o inimputável pode ter que responder. E quais são os pressupostos: 1)
verificação de um facto ilícito, verificando-se um nexo de causalidade; 2)
podemos comparar este facto com um facto análogo a ter sido praticado
por pessoa imputável e se mesmo praticado por pessoa imputável, esta
não respondesse, então naturalmente, que o inimputável não
responderá; 3) reparação do dano não é conseguida através das pessoas
obrigadas à vigilância de outrem (art. 491º - estabelece um regime de
responsabilidade das pessoas que estão obrigadas a vigiar outrem em
virtude da sua incapacidade natural; ex.: se um vigilante que está
obrigado a vigiar o interdito, não só acautelando que este cause danos a
si próprio, como a terceiros, se se eximir deste seu dever, será
responsável.) Em princípio, o inimputável não responde, em seu lugar
responde o seu vigilante. Contudo, pode suceder que a reparação do
dano causado não possa ser obtida através dos vigilantes – artigo 489º
nº 1 e 2. Pode suceder-se, contudo, que ele não tenha vigilante, não
havendo por isso vigilante ou a haver vigilante que prove que cumpriu o
seu dever de vigilância (491º); ou ainda que tenha incumprido o seu
dever de vigilância estar insolvente, não tendo património suficiente
para cobrir os danos; ou quando se verifique a simples impossibilidade
prática de conseguir destas a reparação14. Assim em determinadas
hipóteses haverá responsabilidade do inimputável perante terceiros, se

13
Pode entender-se que o sono constitui causa de inimputabilidade, nos termos do 483º/1. Mas não deixa de
considerar-se que se coloca culposamente nesse estado, por exemplo, o condutor que, apercebendo-se do perigo de
adormecer durante a condução, não a suspende até se restabelecer.

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a equidade justificar a responsabilidade total ou parcial do mesmo. O


juiz poderá condenar subsidiariamente me medida inferior ao valor do
dano causado (art. 489º/1 e 2). 15
ii. O agente agiu no caso concreto em termos que justifiquem a sua censura -
Capacidade intelectual e volitiva para avaliar os efeitos do seu comportamento.
Admitindo que o sujeito é imputável, ter-se-á de aferir se a conduta do agente é
censurável, digna de censura. Importa apurar, em face das circunstâncias
concretas, a existência de culpa. Assim, entrar-se-á na definição de culpa. O
termo pode ser entendido de forma ampla ou em sentido estrito. Aqui cabe
fazer referencia à culpa em sentido amplo: engloba a culpa em sentido estrito
(mera culpa – culpa leve, negligência) ou o dolo (dolo direto, indireto ou
necessário, eventual). A mera culpa consiste no simples desleixo, imprudência
ou inaptidão. Portanto, o resultado ilícito deve-se somente a falta de cuidado,
imprevidência ou imperícia. No dolo, ao invés, o agente tem a representação do
resultado danoso, sendo o ato praticado com a intenção malévola de produzi-lo,
ou apenas aceitando-se reflexamente esse efeito.
1. Para que se considere preenchido o pressuposto culpa como requisito da
indemnização atualizada, basta que se verifique a mera culpa ou
negligencia, não é necessário que o facto tenha sido dolosamente praticado.
Em regra, na responsabilidade penal, só há crime se o facto ilícito penal tiver
sido causado com dono, se tiver sido praticado com negligencia ou mera
culpa, em regra, não há responsabilidade penal. Só em hipóteses
excecionais, o legislador penal basta-se com a negligencia. Isto não se
verifica na responsabilidade civil, pois quando se faz referência a culpa está-
se a fazer referencia apenas a negligencia como bastando. Contudo, o art.
494º permite a redução equitativa da indemnização se as circunstâncias do
facto se justificarem se o facto tiver sido praticado com mera culpa.
2. O que caracteriza todas as modalidades de dolo é o seguinte: o agente ou
autor do facto tem a representação do resultado ilícito. As diversas ordens
de situações que integram o dolo recebem o mesmo tratamento jurídica.
Modalidades especificas:
a. Dolo Direto: o agente sabe que com o seu comportamento poderá
ocorrer um facto ilícito, como tem a intenção de causar esse
resultado ilícito com esse comportamento. Aqui, o agente quer o
resultado ilícito.
O autor do facto age com o intuito de atingir o resultado ilícito da
sua conduta, que de antemão representou e quis. Será o caso de A,
consciente e premeditadamente, fazer publicar um escrito
atentatório contra o bom nome e reputação de B.
b. Dolo Necessário ou Indireto: o agente não tem a intenção de causar
o facto ilícito, mas sabe que esse resultado será uma consequência
necessária e inevitável do efeito imediato que a sua conduta visa. O
agente não quer o resultado ilícito, mas sabe que este resultado
ilicito necessariamente vai verificar-se. Ex.: A quer destruir a casa de
14
No caso de mera impossibilidade prática, o inimputável condenado a reparar o dano terá direito de regresso contra
quem não cumpriu o dever de vigilância. Quanto ao calculo da indemnização ver o 489º/2.
15
A perspetivação dogmática desta responsabilidade suscita problemas. Desde logo, quanto à qualificação, Vaz Serra
considera-a como responsabilidade objetiva. A.C considera que a posição se afigura indiscutível, uma vez que se trata
de inimputáveis, exclui-se a culpa, pelo que, a existir responsabilidade, ela terá sempre natureza objetiva. Outro ângulo
do problema respeita ao comportamento do inimputável no âmbito da distinção entre responsabilidade por facto lícito
ou ilícito. A inclusão das situações concretas em qualquer das duas categorias depende da natureza licita ou ilícita do
ato danoso do inimputável.

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B, e para tanto coloca uma bomba na casa de B, e coloca a bomba


porque quer destruir a casa de B e sabe que B está dentro de casa,
acamado, e que necessariamente vai morrer. O seu objetivo direto
era destruir a casa e não matar B.
c. Dolo Eventual: o agente representa o resultado ilícito e o dano surge
como consequência meramente possível – e não necessária – da
conduta do seu autor, atuando ele sem confiar que o mesmo se
produza. Existe, portanto, do ponto de vista objetivo, uma relação
causal entre a conduta do agente e o evento danoso, mais ténue do
que a verificada no caso do dolo necessário. Neste caso não há
também intenção de causar o resultado ilícito. E, portanto,
distingue-se do dolo direto, por não haver intenção de causar o
resultado ilícito. Contudo, distingue-se igualmente do dolo
necessário (aqui o agente sabia que o resultado ilícito
necessariamente se verificaria), pois no dolo eventual o agente
admite como provável que esse resultado ilícito se verifique, não
tendo a certeza que este resultado se vai verificar. A coloca uma
bomba na casa de B, não sabe se B está em sua casa, e mesmo assim
coloca a bomba conformando-se com a possibilidade de B morrer.
3. Negligência: o agente omitiu a diligencia a que estava adstrito. A negligencia
pode ser consciente, sendo que aqui o agente atua, violando o dever,
representa o resultado ilícito como possível, mas confia que este resultado
não vai se verificar. Na negligencia inconsciente, o agente não se apercebe
que está a violar um dever de cuidado. A consciência prende-se com a
violação de um dever de diligencia e com isso a ação ter um resultado ilícito
como efeito. Ex.: A, no transito, fura um semáforo vermelho, e apercebe-se
que respeita o semáforo, e faz isso confiando que não causará qualquer
acidente, porque não há muito transito e que muito provavelmente, apesar
de furar no sinal vermelho, não irá magoar ninguém. Aqui há negligencia
consciência. Segundo exemplo: A não se apercebe que tem um semáforo e
que está vermelho – aqui estamos perante um a
a. Dolo eventual e negligência consciente: a diferença está em saber se
o agente se conforma ou não com esse resultado ilícito. Aqui
importa provar o estado de espirito do agente. Isto tem toda a
relevância no direito penal, pois se houver dolo eventual há crime e
se houver negligencia consciente não há crime.
Particularmente a respeito do direito penal, salientando o aspeto
subjetivo, procuram certos autores distinguir estas duas figuras,
segundo os quais, ambas as figuras constituem a zona de passagem
entre a negligência e o dolo. De acordo com esse critério, na
negligencia consciente, a pessoa só atua porque, embora represente
o resultado como possível, confia em que ele não venha a verificar-
se. Ora, no dolo eventual, o agente representa do mesmo modo o
quadro fáctico, mas não confia (inclusive, por não tomar posição)
em que o resultado não se produza.
4. Relevância da distinção: Em princípio, os efeitos são os mesmos: aquele que
viola ilicitamente direito ou interesse alheio fica constituído na obrigação de
reparar os danos causados, tenha agido com dolo ou mera culpa (artigo
483º/1). Nalgumas hipóteses excecionais a obrigação de indemnização
pressupõe o dolo (artigos 814º nº1, 815º nº1 e 1681º nº1); assim como só
nas situações de mera culpa se admite, em certos termos, a possível

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redução equitativa da indemnização, o art. 484º admite a redução da


indemnização; art. 497º - quando haja um conjunto de responsáveis, o
lesante que tenha sido chamado a responder pela totalidade do dano, terá
direito de regresso sobre os demais responsáveis. Como se calcula no
âmbito da relação interna o grau de responsabilidade e a medida da
indemnização? Ora, segundo o grau de culpa ao abrigo do nº2; art. 570º -
regula a hipótese em que exista culpa do lesante na produção do dano e
simultaneamente culpa do lesado: manda ajustar o montante de
indemnização à forma como no caso concreto a culpa do lesado e do lesante
contribuíram para a situação – ou mantém, ou reduz ou exclui. O critério
atende ao grau de culpa do lesado e do lesante.
iii. Padrão pelo qual se afere a culpa do lesante:
1. Em teoria existiriam dois critérios possíveis: a culpa apreciada em
concreto e a culpa apreciada em abstrato (a lei exige ao agente a
diligencia padrão do homem medio e não aquela que habitualmente
coloca na sua conduta). O art. 487º diz que a culpa é apreciada de
acordo com um bom pai de família tendo em conta as circunstâncias do
caso. Se um lesante é um medico e a questão está em saber se ao
operar foi diligente, é evidente que aqui em causa está a necessidade de
aferir outro cirurgião naquela situação teria procedido de forma
diferente. Padrão: conduta que uma pessoa medianamente cuidadosa
teria.
Consagra-se a apreciação da culpa em abstrato. Desde que a lei não
estabeleça outro critério, a culpa será valorada, em face das
circunstâncias de cada caso, pela diligência de um bom pai de família ou
homem médio e não segundo a diligência habitual do autor do facto
ilícito – artigo 487º/2.
Serve, assim, de paradigma a conduta que teria uma pessoa
medianamente cuidadosa, atendendo à especificidade das diversas
situações. Esclareça-se que, por homem médio, não se entende o puro
cidadão comum, mas o modelo de homem que resulta do meio social,
cultural e profissional daquele indivíduo concreto. O homem médio que
interfere como critério da culpa é determinado a partir do círculo de
relações em que está inserido o agente.
iv. A quem cabe o ónus da culpa? A culpa é pressuposto, sem culpa não há
indemnização. A regra na RCEC, o ónus da prova de culpa incumbe ao lesado
(art. 487º/1 do CC). Esta regra comporta exceções: salvo existindo presunções
legais de culpa, que implicam uma inversão do ónus da prova. (art. 491º, 492º,
493º e 503º/3). Convém distinguir isto da responsabilidade objetiva não
depende de culpa, nascendo a obrigação de indemnização mesmo que o facto
danoso tenha sido praticado sem culpa. Nestas hipóteses de presunção, a
mesma é ilidível, o lesante pode afastar esta presunção, provando que não tem
culpa. Destruindo a presunção, não responderá. E esta presunção não será
atribuída na responsabilidade objetiva.
1. Art. 491º: hipótese de responsabilidade civil por omissão; ex.: A criança
de seis anos causa dano a terceiro e está submetida ao dever de
vigilância dos seus pais ou de quem dela esteja a cuidar. Trata-se de
danos que teriam sido evitados por cumprimento do dever de vigilância.
Presume-se a culpa do vigilante. Esta presunção admite prova em
contrário: 1) ou prova que cumpriu o seu dever de vigilância (a pessoa
foi extremamente cuidadosa, mas mesmo assim foi impossível impedir o

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dano); 2) ou prova que os danos se teriam produzido ainda que o


tivessem cumprido. Nesta 2ª parte do art. 491º, o legislador permite que
o vigilante exclua se demonstrar que uma outra causa teria causado o
dano ainda que não tenha sido cumprido o dever de vigilância.
Estamos perante danos causados por incapazes, presumindo-se a
existência de culpa da parte das pessoas que, em virtude da lei ou do
negócio jurídico, estavam obrigadas à sua vigilância. Estas respondem,
portanto, ‘’salvo se mostrarem que cumpriram o seu dever de vigilância
ou que os danos se teriam produzido ainda que o tivessem cumprido’’ –
artigo 491.
A diligência e os cuidados exigíveis às pessoas obrigadas a vigilância, por
exemplo os pais, começam antes da verificação do resultado. Haverá
que apreciar as circunstancias de cada caso, tendo-se em vista as
conceções dominantes e os costumes.
2. Art. 492º: Danos causados por edifícios ou outras obras – estabelece-se
a responsabilidade sobre o dono da obra que venha a ruir em todo ou
em parte, por defeito de construção ou de conservação. É o dano
causado pela ruina de edifício ou outra obra por vicio de construção ou
defeito de conservação. Todavia, o proprietário ou possuidor do edifício
ou outra obra pode afastar a presunção de culpa e não é
responsabilizado. Pode afastar também a culpa se provar que não existiu
culpa sua ou demonstrando que apesar de não ter usado da diligencia
devida na construção e na conservação, mesmo que o tivesse feito a
obra teria ruido (ex.: um prédio em má conservação ruiu por causa de
um terramoto). Aqui temos também um exemplo da relevância negativa
da causa virtual. Solução que se repete, quanto ao estrito aspeto da
conservação, para as pessoas a esta obrigadas, legal ou
convencionalmente. Tais pessoas respondem ‘’em lugar do proprietário
ou possuidor’’ (artº 492/2). Segundo o nº2, a responsabilidade recai
sobre o sujeito adstrito à conservação.
3. Art. 493º/1: Existe presunção de culpa em relação à responsabilidade de
quem detenha coisa móvel ou imóvel com dever de vigia-la, ou haja
assumido o encargo de vigilância de quaisquer animais, pelos danos
causados por essas coisas ou esses animais. ex.: uma arma, um
explosivo, uma caldeira, são coisas moveis sujeitas a dever de vigilância.
A presunção de culpa aqui pode ser ilidível quer pela prova de
inexistência de culpa, sublinhe-se que o regime do art. 493º quem é
civilmente responsável é o vigilante da coisa ou o vigilante do animal
(pode não ser o proprietário), ou se provar que os danos se teriam
produzido ainda que não houvesse culpa sua. O proprietário pode
responder objetivamente, independentemente de culpa e segundo o
regime do art. 502º, ou segundo o regime do art. 493º - podem ser
cumulativas se não se afastar o art 493º.
Cumpre salientar que a lei prevê, no referido preceito, os danos
produzidos pelas coisas ou pelos animais. Se é o agente que provoca os
danos com o emprego das coisas ou dos animais, então vigora o regime
geral da responsabilidade civil.
4. Art. 493º/2: responsabilidade por atividade perigosa pela sua natureza
ou pela natureza dos meios utilizados, ex: fabrico de explosivos,
navegação aérea, transporte de matérias inflamáveis, aplicação médica
de raios X. Deve tratar-se, pois, de atividade que, mercê de qualquer

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dessas duas razoes, tenha ínsita ou envolva uma probabilidade maior de


causar danos do que a verificada nas restantes atividades em geral. Aqui
é mais difícil ilidir esta presunção do que nas hipóteses anterior, por dois
motivos: 1) em primeiro lugar não basta demonstrar que foi diligente e
que aditou o padrão de um homem medianamente diligente, ter-se-á de
fazer prova de todas as diligencias exigidas pelas circunstâncias com o
fim de as prevenir; 2) não se admite a causa virtual
a. Verificou-se uma controvérsia sobre a seguinte questão: os
danos causados por veículos de circulação estão abrangidos pelo
art. 493º/2, presumindo-se a culpa do condutor? A interrogação
poe-se porque a responsabilidade de quem utiliza tais veículos
tanto pode basear-se no risco como na culpa. São vários os
preceitos que referem à culpa do responsável (artº 503 nº3,
504º nº2, 506º 1, 507º nº1 e 2, 508º nº1 e 2); sucede, mesmo,
que, em certas hipóteses, apenas se responde havendo culpa e
que a fundamentação da responsabilidade na culpa permite
formular uma pretensão indemnizatória que ultrapassa os
limites fixados para a que se baseia no risco. Ora, de todos esses
preceitos só um deles consagra uma presunção de culpa (artigo
503º/3). Daí a pergunta: quando esteja em causa a culpa do
responsável – quer dizer, não se curando da responsabilidade
pelo risco, mas sim por factos ilícitos – deve aplicar-se a regra
que impõe o ónus da prova ao lesado (487º/1) ou o regime
próprio das atividades perigosas que estatui uma presunção de
culpa (493º/2)? Houve discussão na jurisprudência e na
sequencia foi proferido o assento nº1/80, que veio estabelecer
que este artigo não se aplica mediante acidentes provocados
por veículos terrestres e o condutor não vê presumida a sua
culpa. A razão deste entendimento pautou-se pelo facto de
haver um regime especifico para os acidentes de aviação – art.
503º e ss. – onde vigora o regime da responsabilidade objetiva.
Este tratamento especifico nos artigos 503º a 508º deve-se, não
só à enorme frequência e características da circulação
rodoviária, mas também ao facto de que se mostra inequívoco,
no caso, que o perigo criado corresponde a uma vantagem
particular do utente.

A culpa pode ser excluída sempre que o agente se encontre numa determinada situação – por
exemplo, art. 338º ou art. 337º/2. E depois a desculpabilidade em termos gerais – ex.: um medico que em
estado de emergência é obrigado a trabalhar por cinco dias sem dormir.
A respeito da culpa, considera-se o caso de serem vários os autores, instigadores ou auxiliares do ato
ilícito. Quando tal se verifique, todos eles respondem pelos danos que hajam causado (artigo 490º). E a sua
responsabilidade é solidária (artigo 497º). Advirta-se que a lei não pressupõe, necessariamente, uma ação
concertada ou a cooperação desses diversos agentes. Existirá a sua responsabilidade mesmo que tenham
atuado isolados e sem plano de conjunto. Também se concebem hipóteses de meros encobridores poderem
ocasionar dano, resultando, por consequência, diretamente responsáveis.
b. Responsabilidade Objetiva – responsabilidade independente de culpa (remissão).

4. Dano:
a. O dano é pressuposto da obrigação de indemnizar, sem dano não nasce a obrigação de
indemnizar, ainda que tenha sido praticado um facto ilícito e culposo. Se se pratica um

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facto ilícito e culposo sem que do mesmo facto surja um dano, não há obrigação de
indemnizar. Assim, é pressuposto de indemnizar. Aliás, é requisito da existência de
responsabilidade civil a verificação de um dano ou prejuízo a ressarcir. Apenas em
função do dano o instituto realiza a sua finalidade essencialmente reparadora ou
reintegrativa. Mesmo quando lhe caiba algum papel repressivo ou preventivo, sempre se
encontra submetido, como regra, aos limites da eliminação do dano. Este elemento
também se acha referido no nº1 do artigo 483º do C.C que proclama o responsável
‘’obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação’’. Exemplo: se A
salta o muro da casa de B, invadindo a propriedade de B, mas não causa dano a B,
verifica-se um facto ilícito (violação de um direito de propriedade) praticado com culpa
(até com dolo direto), mas deste facto não resulta qualquer dano, quer patrimonial, quer
não patrimonial. Aqui, não há obrigação de indemnizar. Quando os artigos relativos à
obrigação de indemnizar estabelecem como requisito o dano, isto significa que a função
primaria a RC é a finalidade reparatória, de eliminar o dano causado em esfera jurídica
alheia. Assim, se o fim fosse preventivo o sancionatório, o dano não seria pressuposto,
bastaria que tivesse sido praticado um dano ilícito e com culpa. No entanto, tal não se
verifica de acordo com os artigos 483º e ss e art. 562º e ss. Já adiantamos, aliás, que em
regra um montante da indemnização corresponde aos valores dos danos. Pode não
existir correlação entre a gravidade da culpa e a amplitude dos danos. A extensos
prejuízos pode corresponder uma culpa leve do agente, assim como, ao invés, podem
derivar prejuízos ligeiros de um facto em que se verifique dolo ou culpa grave.
i. O art. 494º do CC determina que em caso de mera culpa do lesante, ou seja,
quando não exista dolo, mas mera culpa, o juiz pode, de acordo com as
circunstancias do caso, reduzir equitativamente o montante da indemnização.
Assim, em vez de fixar uma indemnização correspondente ao montante do dano,
fixar uma indemnização inferior ao valor do dano, tendo em conta que o facto
ilícito e culposo foi praticado com mera culpa e porque as demais circunstâncias
do facto assim o justificam (ex.: o lesante com fracos recursos económicos, ao
invés do lesado que é abastado economicamente). A questão que se coloca é o
de perceber o fundamento da solução que permite ao juiz reduzir
equitativamente a indemnização. Grande parte da doutrina considera que tal
artigo reflete, embora a título acessório, uma função punitiva da RC, ou seja:
como há mera culpa e não dolo, justifica-se permitir ao juiz fixar uma
indemnização inferior ao valor do dano, graduando o valor da indemnização em
função do grau de culpa, o que significa que também haveria, acessoriamente,
uma função através da indemnização que passaria por uma função punitiva. Mas
atenção, tal doutrina sublinha que esta é meramente complementar, pois se o
art. permite reduzir, não permite condenar o lesante a valor superior ao valor do
dano com fundamento em dano, não resultando de tal artigo uma função de
punição em caso de dolo, condenando o lesante a uma indemnização de valor
superior. Em todo o caso, reconhece à RC uma função punitiva, mas apenas de
forma complementar. Há outra doutrina, Brandão Proença, que encontra outro
fundamento para a solução consagrada que explica tal artigo por razão diversa
de uma função punitiva. O que reflete é uma ponderação, um juízo de
proporcionalidade e não necessariamente uma perspetiva punitiva – temperar a
medida da indemnização com critérios de proporcionalidade, sendo que um dos
elementos que relevaria era a culpa.
b. Almeida Costa diz que dano é toda a ofensa de bens ou interesses alheios protegidos
pela ordem jurídica. O prof. MC diz que dano é a diminuição de uma situação jurídica
protegida pelo direito. Classificações de danos:

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i. 1) Danos Patrimoniais e Danos Não Patrimoniais – o critério de distinção é a


suscetibilidade de avaliação pecuniária do dano. Os primeiros, porque incidem
sobre interesses de natureza material ou económica, refletem-se sobre
interesses de natureza material ou económica, refletem-se no património do
lesado, ao contrário dos últimos, que se reportam a valores de ordem espiritual,
ideal ou moral. Constituem danos não patrimoniais, por exemplo, o sofrimento
ocasionado pela morte de uma pessoa, o desgosto derivado de uma injúria, as
dores físicas produzidas por uma agressão. O mesmo facto pode produzir mais
do que um dano e danos de diferentes espécies, designadamente, danos
patrimoniais e não patrimoniais (a difamação de que resultem não só
sofrimentos morais, mas igualmente perdas económicas, mercê da diminuição
da clientela profissional; ou o desgosto que leva a um estado depressivo e a uma
consequente paralisação do trabalho). Os danos patrimoniais podem ser diretos
e indiretos e os danos não patrimoniais também. O dano de ofensa à integridade
física é um dano insuscetível de avaliação pecuniária, sendo um dano não
patrimonial direto, de consequência do tiro. Admitamos que por causa da lesão
do braço, B deixou de poder trabalhar, perdendo rendimentos correspondentes
a dois meses de trabalho, aqui o mesmo facto ilícito (resultado do tiro) causou o
dano não patrimonial direto e também o dano patrimonial indireto (a perda de
rendimentos – lucro cessante) – nestas situações, a reparação abrangerá um
aspeto duplo: à compensação do puro dano não patrimonial acresce a
indemnização dos seus reflexos materiais. Outro exemplo: A estraga um quadro
de família de B, quadro esse que tinha o retrato da mãe. Aqui há um facto ilícito
(violação do direito de propriedade), produz um dano patrimonial direto, mas
como um quadro tinha um valor de feição, verifica-se aqui um dano não
patrimonial indireto. O critério rigoroso é o da suscetibilidade de avaliação
pecuniária. Normalmente, o dano não patrimonial resulta da lesão de bens e
direitos insuscetíveis de avaliação pecuniária, mas também da lesão de bens
patrimoniais podem nascer danos patrimoniais indiretos. A lesão de um
interesse não patrimonial pode ter como consequência a produção de danos
patrimoniais. O importante é perceber que a lesão de um bem pode conduzir a
que se produzam danos de diferente natureza. Como vamos ver, são
indemnizáveis quer os danos patrimoniais, quer os danos não patrimoniais.
ii. Danos pessoais e Danos não pessoais – o critério que aqui está em causa passa
pela realidade sobre que o dano recaia. O dano pessoal produz-se em pessoas. O
dano não pessoal produz-se em coisas. Exemplo: A dispara B e causa-lhe a tal
lesão que impede B de trabalhar durante dois meses – quer o dano à integridade
física (dano biológico), quer a perda de rendimentos do trabalho são danos
pessoais, incidindo sobre a pessoa de B. nos dois casos, trata-se de danos
pessoais. Já a lesão do quadro, será um dano não pessoal, porque se verifica
sobre coisas – mesmo o dano de apego segue tal regime. Esta distinção é
particularmente relevante no regime do seguro obrigatório do regime de RC
automóvel, em que se verifica para termos de cobertura um tratamento mais
favorável na comparação entre danos pessoais ou danos não pessoais,
garantindo-se uma cobertura mais favorável aos danos pessoais, do que aos
danos materiais. É mais importante garantir a indemnização de danos pessoais,
do que garantir a indemnização de danos não pessoais. Há uma preocupação em
distinguir os danos pessoais dos danos materiais, não é que não estejam
cobertas a indemnização dos danos materiais, mas esta é menos densa. No que
concerne às pessoas transportadas, o regime garante a indemnização de danos
pessoais da pessoa transportada, do que a indemnização das coisas

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transportadas pelo passageiro. Em certos aspetos de regime, há um tratamento


de favor relativamente aos danos pessoais, o que se justifica pela maior
importância.
Uns e outros podem apresentar-se como danos patrimoniais ou não
patrimoniais. 16
iii. Dano real e o dano de calculo – quando utilizamos a expressão dano real, o que
está em causa é considerar o prejuízo ou dano que o lesado sofreu em sentido
naturalístico, não se atendendo à expressão pecuniária do dano, mas no seu
sentido naturalístico (que pode analisar-se nas múltiplas formas possíveis de
ofensa de interesses ou bens alheios juridicamente protegidos, de ordem
patrimonial ou não patrimonial. Ex: privação da vida, doença que se contrai,
ferimentos, dores físicas, sofrimento moral, perda de emprego, afetação do bom
nome e reputação, estragos numa coisa ou a sua provação por subtração ou
apropriação alheia). O dano de calculo consiste na expressão pecuniária do dano
real (do prejuízo). Quanto é que o carro ficou a desvalorizar pela porta riscada?
Aqui, o dano rela será a porta riscada, o dano de calculo traduzir-se na
desvalorização com a porta riscada. A importância de um ou de outro difere das
modalidades de regime. Por exemplo, se atendermos ao nexo de causalidade,
atendemos à importância do dano real (o legislador dá primazia à relação
natural). Já quando não é possível a reconstituição natural e então a
indemnização terá lugar em dinheiro, sendo necessário atender à expressão
pecuniária do dano, o conceito de dano aqui em causa será o conceito de dano
de calculo.
1. Dano de cálculo – expressão pecuniária do dano:
a. Aqui poderá haver mais do que um critério para exprimir
pecuniariamente o valor do prejuízo. Como se avalia o prejuízo?
Qual o critério? Poder-se-ia optar por uma solução abstrata do
prejuízo, independentemente da repercussão do prejuízo no
património do lesado – avaliação abstrata do prejuízo. Mas não
foi esta a solução a dotada pelo legislador, no art. 566 nº2 e 3, o
legislador opta por uma ponderação do prejuízo em concreto,
ponderando a diminuição do valor no património daquele
lesado. Assim, o legislador atendeu, não ao critério objetivo,
mas a repercussão no património do lesado. A teoria da
diferença pressupõe uma avaliação concreta do prejuízo e não
uma avaliação abstrata.
Avaliação abstrata ou uma avaliação concreta. A primeira é uma
ponderação objetiva do prejuízo sofridos, ex: o preço corrente
da coisa destruída; a segunda é uma ponderação subjetiva desse
mesmo prejuízo, quer dizer, em que se apura a diferença para
menos produzida no património do lesado.
Esta classificação é seguida igualmente por Manuel de Andrade
e Pereira Coelho. O dano de cálculo designa-se, por vezes, como
dano abstrato e também o dano real como dano concreto.
16
Têm-se discutido os limites e a própria aceitação dogmática do chamado dano existencial, com origem na doutrina.
Nele se individualizam lesões que atingem diretamente a esfera íntima da pessoa. A.C questiona o que se deve pensar
da respetiva construção. Perante o nosso direito, admitimos que o binómio de dano patrimonial e de dano não
patrimonial proporciona solução idónea às diversas situações de dano existencial. Assim, o conteúdo útil da nova
categoria reconduz-se, no máximo, a uma especialização, dentro da globalidade dos danos não patrimoniais, dos que
encontrem ligação imediata a elementos relacionados com a atividade de realização da pessoa. O resultado, todavia, é
outro, pois os seus adeptos, condicionados pela admissão taxativa dos danos não patrimoniais (CC italiano), deixam a
porta aberta a uma sobreposição da categoria dos danos existenciais à da totalidade dos danos não patrimoniais.

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Na avaliação concreta do dano de cálculo, opera-se com a teoria


da diferença: deve confrontar-se a situação em que o
património do credor da indemnização foi posto pela conduta
lesiva (situação real) com a situação em que se encontraria se a
mesma conduta não houvesse ocorrido (situação hipotética),
referindo-se os dos valores ao momento (atual) em que se apura
essa diferença (artº 566º/2).
Mas a distinção entre dano real e dano de cálculo limita-se tão-
somente a pôr em destaque duas faces de uma única realidade.
Ambas interessam ao regime da RC. Ex: é o conceito de dano
real que se utiliza no problema da causalidade, mas, ao invés,
para a determinação da indemnização por equivalente, parte-se
do dano de cálculo.
iv. Danos emergentes e lucros cessantes – atende-se à configuração do prejuízo
realmente suportado. Deste modo: o dano emergente compreende a perda ou
diminuição de valores já existentes no património do lesado; e o lucro cessante
refere-se aos benefícios que ele deixou de obter em consequência da lesão, ou
seja, ao acréscimo patrimonial frustrado - Art. 564º/1 do CC: exemplo do taxista
que sofre um acidente por causa que não lhe é imputável; o táxi avaria e fica
parcialmente destruído, o táxi era um valor que existia no património do lesado,
assim o lucro cessante corresponderá aos rendimentos que vai deixar de auferir,
já os danos emergentes será o prejuízo causado no táxi.
O critério de distinção de tais formas de dano, apesar da sua aparente clareza,
levanta algumas dificuldades. Em princípio, tanto os danos emergentes como os
lucros cessantes são indemnizáveis. Não se trata, contudo, de uma regra
absoluta (cfr., por ex., os arts. 899.º, 909.º e 1594.º).
v. Danos presentes e danos futuros (art. 564º/2): quanto aos danos futuro, diz tal
artigo, que são também indemnizáveis desde que previsíveis. Aqui o critério tem
como referência um determinado momento, e o momento será o momento da
fixação da indemnização pelo juiz(estaremos em face de uns e outros, consoante
se tenham já verificado ou não no momento que se considera, designadamente
à data da fixação da indemnização. Os danos futuros são aqueles que se
preveem que se venham a verificar, previsivelmente, no futuro, num momento
posterior (os danos futuros são indemnizáveis desde que previsíveis; e, a seu
turno, subdividem-se em certos e eventuais, conforme a respetiva produção se
apresente infalível ou apenas possível). Ex.: o dano emergente do taxista que é o
táxi ter ficado destruído é naturalmente um dano presente; e quanto à perda de
rendimentos? Se o acidente ocorreu há dois anos, e o taxista está parado, todos
os rendimentos perdidos serão danos presentes na qualidade de lucros
cessantes. Todavia, os lucros cessantes podem ainda ser futuros – é previsível
que o carro esteja pronto daqui a seis meses, pelo que juiz pode prever a
indemnização por perda de rendimentos por mais de seis meses. Exemplo:
incapacidade de trabalho permanente – a perda de rendimentos do período que
antecede a data de fixação da indemnização pelo juiz serão danos presentes,
contudo, no futuro é previsível que o dano seja irreversível, aqui haverá um
dano futuro na modalidade de lucro cessante. Um dano não patrimonial poderá
também ser futuro – supondo que a pessoa ainda vai ter danos.
vi. Danos diretos e indiretos – os primeiros resultam imediatamente do ato ilícito e
danos indiretos os restantes. Ex: A agride B, que tem de ser longo termo
hospitalizado e, em consequência disso, sofre prejuízos profissionais. A lesão

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corporal de B constitui dano direto e os reflexos daí decorrentes para a sua


profissão representam dano indireto.
vii. Dano positivo ou de cumprimento e dano negativo ou de confiança. É uma
classificação particularmente ligada à responsabilidade contratual, pelo que se
alude, em correspondência, a violação do interesse contratual positivo e do
interesse contratual negativo.
Mas não parece que os mencionados conceitos se mostrem de todo irrelevantes
para a responsabilidade extracontratual. Há situações em que também operam
no âmbito desta. 17
A indemnização de dano positivo destina-se a colocar o lesado na situação em
que se encontraria se o contrato fosse exatamente cumprido. Reconduz-se,
assim, aos prejuízos que decorrem do não cumprimento definitivo do contrato
ou do seu cumprimento tardio ou defeituoso. Ao passo que a indemnização do
dano negativo tende a repor o lesado na situação em que estaria se não
houvesse celebrado o contrato, ou mesmo iniciado as negociações com vista à
respetiva conclusão. Por outras palavras, encara-se o prejuízo que o lesado
evitaria se não tivesse, sem culpa sua, confiado em que, durante as negociações,
o responsável cumpriria os específicos deveres a elas inerentes e derivados da
boa fé, «maxime» convencendo-se de que a manifestação da vontade deste
entraria no mundo jurídico tal como esperava, ou que havia entrado correta e
validamente.
c. Ressarcibilidade de danos não patrimoniais:
i. Discutiu-se se se poderia admitir a ressarcibilidade de danos não patrimoniais. Ora, o
nosso CC, numa solução considerada como muito generosa, consagra uma clausula geral
de reparação de dano não patrimonial. Há um princípio geral, consagrado no art. 496º,
segundo o qual a fixação da indemnização de danos não patrimoniais deverá atender à
gravidade do dano e o dano merecer a tutela do direito, como limite à reparabilidade
deste dano (admite-se a indemnização dos ‘’danos não patrimoniais que, pela sua
gravidade, mereçam a tutela do direito’’- artigo 496º/1). A jurisprudência, na senda da
doutrina do prof. AV, entende que é de excluir a reparação quando em causa estejam
meras contrariedades e pequenos incómodos.
A.C entende que os danos não patrimoniais são compensáveis. Entende que os danos
não patrimoniais, embora insuscetíveis de uma verdadeira e própria reparação ou
indemnização, porque inavaliáveis pecuniariamente, podem ser, em todo o caso, de
algum modo compensados. E mais vale proporcionar à vitima essa satisfação do que
deixá-la sem qualquer amparo.
ii. Âmbito da reparação – a localização sistemática de tal artigo 496º, inserido na secção
relativa à RC por facto ilícito foi tida como sistematicamente infeliz tendo a doutrina
interrogado se o dano não patrimonial só seria indemnizável na modalidade da RC por
facto ilícito e culposo? A resposta é negativa. Apesar da localização sistemática, doutrina
e jurisprudência têm consagrado que o dano não patrimonial é indemnizável também na
Responsabilidade Objetiva (art. 599º) e na Responsabilidade Contratual. A maioria da
doutrina, entende que o dano não patrimonial é indemnizável também na RC
Contratual, ao contrário do defendido por AV.
A.C: No domínio da legislação anterior já se aceitava a ressarcibilidade dos danos não
patrimoniais. Discutia-se, porém, se o princípio abrangia toda a área da RC ou apenas
certos aspetos. O atual CC consagra essa doutrina num sentido amplo. Mas não foi
inteiramente feliz na formulação e localização da sua disciplina. A circunstância de se

17
Sustentam a vinculação exclusiva da referida classificação à responsabilidade contratual F.Pessoa Jorge e Antunes
Varela. Em contrário, bastará pensar no caso da responsabilidade pré-contratual pela rutura das negociações, que se
qualifica como extracontratual e em que se indemniza o dano negativo (A.C)

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incluir o princípio na sequencia de um conjunto de preceitos relativos à indemnização


por lesão corporal, sobretudo quando ocasiona a morte da vitima (artº495º) e de se
contemplar o calculo da indemnização a respeito desta hipótese expressa (art. 496º nº2
e 3) não constitui obstáculo a que se reconheça genericamente admitida a
ressarcibilidade dos danos não patrimoniais. Estes devem atender-se em quaisquer
casos, sempre que, dada a sua gravidade e relevância jurídica, caiba qualifica-los como
indemnizáveis. Salientou-se a inoperância de puros elementos subjetivos.
Quanto à responsabilidade civil pelo risco, a solução logo decorre de se lhe estenderem,
na parte aplicável, as disposições respeitantes à responsabilidade por factos ilícitos
(artº499). Também se afigura justificada relativamente à responsabilidade que derive de
intervenções licitas. E nem se vê motivo para excluir a própria esfera da
responsabilidade contratual. Embora no domínio do incumprimento das obrigações em
sentido técnico se produzam tais danos com menor frequência e intensidade, podem
verificar-se hipóteses em que bem se justifique uma compensação por danos não
patrimoniais, dentro do critério do artigo 496. É pouco convincente a alegação de uma
dificuldade acrescida que exista, porventura, em certos casos, na prova e apreciação
desses danos, ou a de eventuais fatores de insegurança que se introduzam no comércio
jurídico. Com efeito, sempre funciona o requisito de que os danos não patrimoniais
apresentem suficiente gravidade. Muito menos se aceita a procedência do argumento
sistemático derivado da colocação do artigo 496º. De resto, a lei refere-se apenas ao
prejuízo causado ao credor pelo inadimplemento, sem que estabeleça distinção alguma
entre danos patrimoniais e não patrimoniais (art. 798º e 804º/1).
1. O nº1 do art. 496º - estabelece o princípio geral. Quais os danos não
patrimoniais indemnizáveis? Danos que pela sua gravidade mereça a tutela do
direito. Depois, o nº2, 3 e 4 regulam uma particular hipótese, que se
circunscreve à hipótese em que se verifica a morte da vitima. Já no nº4, parte
final, estabelece-se o critério da fixação do valor da indemnização. A opção do
nosso legislador foi a de atribuir ao juiz de equitativamente fixar o valor da
indemnização – o montante da indemnização é fixado equitativamente pelo
tribunal, tendo em atenção as circunstâncias que referidas no art. 494º. Fixa-se a
indemnização segundo a equidade, cabendo ao juiz fixar o valor.
A lei não enumera os danos não patrimoniais indemnizáveis, confia ao tribunal o
encargo de apreciar, no quadro das várias situações concretas, socorrendo-se de
fatores objetivos, se o dano não patrimonial se mostra digno de proteção
jurídica. Serão irrelevantes, segundo A.C, os pequenos incómodos ou
contrariedades, assim como os sofrimentos ou desgostos que resultam de uma
sensibilidade anómala.
Admite-se, em suma, a plena consagração, tanto do princípio da ressarcibilidade
dos danos não patrimoniais (artº496º/1), como do critério de fixação equitativa
da indemnização corresponde (artº496º/3). Parece manifesto que o
funcionamento do aludido critério não depende de haver ou não motivo para
atenuação da responsabilidade, nos termos do artigo 494º. Este preceito e o do
artigo 496/3 têm campos de aplicação diversos (o artigo 494 estabelece uma
disposição genérica respeitante a todos os danos, que se destina a facultar a
atenuação da responsabilidade em casos de mera culpa. Pelo contrário, na
primeira parte do nº3 do artº496, inclui-se o critério para calcular a
indemnização dos danos não patrimoniais, sempre aplicável, mesmo que o
agente tenha procedido com dolo).
Daí que, em qualquer caso, a determinação do montante indemnizatório ou
compensatório que corresponde aos danos não patrimoniais se calcule segundo
critérios de equidade. Atende-se, portanto, não só à extensão e gravidade dos

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danos, mas também ao grau de culpa do agente, à situação económica deste e


do lesado, assi, como a todas as outras circunstâncias que contribuam para uma
solução equitativa.

2. Hipóteses em que se verifica a morte da vitima, hipóteses estas que vêm


contempladas no art. 495º: Exemplo – A é responsável pelo acidente do qual
resulta a morte de B. De acordo com a jurisprudência e a doutrina, há três danos
não patrimoniais a considerar:
 Dano da perda da vida: discutiu-se se este dano era indemnizável,
tendo-se dito que não se poderia de acordo com o rigor dos conceitos,
em que não faria sentido admitir que nasceu na esfera jurídica da pessoa
que morreu um direito a indemnização, uma vez que pela morte cessa a
personalidade jurídica. A doutrina tem afastado este argumento
defendendo que se trata de um argumento puramente conceptual e que
terá de se proceder a uma interpretação valorativa de proteção da vida
e esta é qe deve ser valorizada. Depois, quanto à função da RC, criticava-
se que a função compensatória já não se cumpriria, pois a pessoa que
morre não iria beneficiar de tal indemnização, pelo que ao admitir-se
estar-se-ia a atribuir uma função punitiva à RC.
 Dano de sofrimento pelo tempo que antecede a morte: este é um dano
meramente eventual, em que o se indemniza a vítima pelo sofrimento
da vitima entre o facto que causa a morte e a própria morte, aqui tem-se
direito a indemnização pelo dano não patrimonial por sofrimento que
antecede a morte.
 Dano do sofrimento dos familiares próximos da pessoa que morreu –
art. 496º/4, parte final.
Estes artigos (art. 495º e 496º) vêm levantar algumas dúvidas:
 Como se constitui o direito de indemnização em caso de morte da
vítima?
o De acordo com AV e a maioria da jurisprudência, o direito a
indemnização em caso de morte nasce diretamente na esfera
jurídica dos familiares indicados no art 496º, não se constitui por
via sucessória (não se aplicando as regras da herança – este
direito não responderá pelas dívidas da pessoa que faleceu).
o Para outra corrente doutrinária, ter-se-ia de distinguir o dano
em causa. Relativamente à indemnização pela morte e à
indmenização pelo sofirmneto do momento que antecede a
morte não nasceriam na esfera jurídica das pessoas referidas
pelo art. 496º, mas sim na esfera do de cujos e ser-lhe-iam
transmitidos segundo as regras sucessórias. O art. 496º apenas
regularia os danos do sofrimento dos familiares próximos, que aí
teriam direito a uma indemnização autónoma
 Enumeração dos familiares:
o No art. 496º/2, o legislador considerou que primeiramente se
atribui o direito à indemnização aos familiares mais próximos.
Na falta destes, atribuía-se aos restantes familiares. Segundo
AV, não se seguiu um critério de normalidade/afetividade, de
presunção, mas sim um critério de sangue. Posteriormente,
acrescentou-se o companheiro de facto. Assim, esta
enumeração seria taxativa e deverá ser seguida pelos tribunais.
Discute-se, basicamente, se faz sentido admitir uma

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interpretação taxativa ou meramente exemplificativa do art.


496º/2, se não deverá ser aplicado analogicamente este artigo a
pessoas que tenham grande afetividade à vítima.
1. Se bem resulta do art. 496º/2 e 4, os familiares só têm direito à
indemnização em causa da morte. Ora, e perante os familiares dos
grandes acidentados, se a vítima ficar gravemente ferida? Na verdade, o
artigo só refere a hipótese da morte e não reconhece um direito de
indemnização aos familiares próprios se a vítima não morre e fica
gravemente ferida, discutindo-se se se poderá admitir uma
interpretação analógica. Houve grande problemática jurisprudencial
quanto ao cônjuge – assim, foi elaborado um Acórdão de Uniformização
de Jurisprudência de 2014 que atribui ao cônjuge o direito a
indemnização.
iii. Sujeitos da indemnização:
Quem está obrigado a reparar os danos resultados do facto ilícito será a pessoa ou
pessoas à quais se atribui a conduta constitutiva da responsabilidade, podendo, porém,
responder-se por facto de outrem (art. 491º).
Caso existam vários responsáveis, diz-nos o art. 497º/1 que haverá responsabilidade
solidária. Esta norma refere-se a todos os que produziram o dano, sejam autores,
instigadores ou auxiliares (art. 490º), valendo esta solução para outros responsáveis
como a pessoa obrigada a vigilância (art. 491º), o comitente (art. 500º), o Estado (art.
501º), entre outros.
Todavia, o artigo 497º/2 diz-nos que o direito de regresso entre os responsáveis
existe na medida das respetivas culpas e das consequências que daí advieram,
consagrando ainda uma presunção de igualdade de culpas podendo, porém, ser ilidida
pelos interessados.
A titularidade do direito à reparação cabe, em princípio, à pessoa ou pessoas a quem
pertence o direito ou interesse juridicamente protegido que a conduta ilícita violou.
Haverá, contudo, segundo a doutrina excecional, algumas situações excecionais em que,
para além do ofendido, haja pessoas com o direito a exigir indemnização, ou que esta se
alargue a terceiros que só mediata ou reflexamente prejudicados. Neste sentido
consagra o art. 495º que disciplina a reparação de terceiros em caso de morte da vítima
ou de simples lesão corporal (consideram-se lesões corporais não apenas os ferimentos
corpóreos, mas também quaisquer ofensas à saúde).
A lei indica como terceiros com direito a indemnização: os que socorreram a vítima
(art. 495º/2); os estabelecimentos hospitalares e os médicos ou outras pessoas ou
entidades que hajam contribuído para o seu tratamento ou assistência (art. 495º/2); os
que legalmente lhe podiam exigir alimentos (tanto no momento da lesão como, em
certos termos, os que mais tarde viriam a ter esse direito se a vítima fosse viva) ou
aqueles a quem a vítima os prestava em cumprimento de uma obrigação natural (art.
495º/3). No caso de morte terão também direito a indemnização os que fizeram
despesas para salvar a vítima ou outras como, por exemplo, as do funeral (art. 495º/1).
Quanto à reparação de danos não patrimoniais (compreendendo tais danos os
sofridos pela vítima e pelas pessoas com direito à indemnização – art.496º/3),
verificando-se a morte da vítima, o direito é atribuído, com exclusividade pela seguinte
ordem: em conjunto ao cônjuge e aos filhos ou outros descendentes que os
representem; na sua falta os pais ou outros ascendentes; e, por último, aos irmãos ou
sobrinhos com direito de representação (art. 496º/2).
Terão sido razões de certeza e de segurança que levaram o legislador a restringir a
referia indemnização às pessoas enumeradas e segundo essa ordem.

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5. Nexo de causalidade entre o facto e o dano: o dano tem de resultar do facto, o facto tem que
constituir causa do dano – danos resultantes da violação. Não é todo e qualquer dano, mas
apenas aquele que resulta da violação.
i. Extrai-se um requisito segundo o qual tem de se verificar um nexo de causalidade entre o
facto ilícito e o dano. Diz o art. 483º que a obrigação de indemnização só existe se se
verificar um dano que tenha uma conexão com esse dano ilícito e portanto o nexo de
causalidade é pressuposto da obrigação de indemnizar, e releva ainda na fixação da
indemnização, porque na medida da obrigação de indemnizar não se contemplam
quaisquer danos, mas apenas aqueles que estejam abrangidos pelo pressuposto do nexo
de causalidade que vem delimitar se os danos que se seguem, aqueles que o direito
considera causados pelo facto. Só serão indemnizáveis os danos causados pelos danos e
não todos os danos que se seguem ao facto ilícito.
Não há que ressarcir todos e quaisquer danos que sobrevenham ao facto ilícito, mas tão-só
os que ele tenha na realidade ocasionado, os que possam considerar-se pelo mesmo
produzidos (artigo 563º). O nexo de causalidade entre o facto e o dano desempenha,
consequentemente, a dupla função de pressuposto da responsabilidade civil e de medida
da obrigação de indemnizar.
Ao longo da história, procurou-se identificar um critério jurídico que permita circunscrever
a limitação da obrigação de indemnizar, naqueles que o direito considera causados pelo
facto. Não são tidos tutelados pelo direito os danos que naturalisticamente são
sobrevindos ao facto (Está fora de cogitação uma pura causalidade em sentido
naturalístico. Não vincula, como tal, o conceito de causa típico das ciências naturais ou da
filosofia). É uma operação jurídica – cabe ao direito selecionar quais os que são causados
por esse facto. É o prof. AV que dá o seguinte exemplo: se um carro passa numa estrada e
parte um vidro de uma janela de uma casa; o vidro ter-se partido não significa que o vidro
tenha sido partido pelo carro. Haveria que demonstrar que o vidro foi partido porque uma
pedra foi projetada pelo carro.
Muitas vezes a determinação do nexo causal entre o facto e o dano mostra-se expedita, e
o dano apresenta-se como resultado direto e atual do facto ilícito. Todavia, não raro, ela se
analisa também numa operação mais ou menos complexas, interferindo causas indiretas
ou virtuais. Daí que se ponha a questão dos critérios a utilizar no aferimento da suficiente
ligação causal do dano ao facto, quer dizer, na definição dos prejuízos reparáveis. Graves
dificuldades surgem, sobretudo, quando entre o facto e os danos se interpõem outras
ações humanas ou simples acontecimentos naturais.
ii. Ao longo das épocas, foram ensaiadas pela doutrina, diversas doutrinas que vêm definir o
nexo de causalidade – qual a solução mais adequada?
1. Doutrina da Equivalência das Condições ou conditio sine qua non – parte-se do
conceito filosófico em causa, entendida como o conjunto das condições que
concretamente produzem o efeito, portanto, cada uma das condições sem a qual o
resultado não se teria verificado encontra-se no mesmo plano das restantes,
relativamente à produção desse resultado. Qualquer delas é sua condição “sine
quo non”. Transpostos estres princípios para o domínio da responsabilidade civil,
segundo esta doutrina, seria causa de um evento toda e qualquer condição que
tivesse concorrido para a sua produção. Em termos tais, que não se verificando a
sua concorrência o dano deixaria de se verificar. É causa do dano toda e qualquer
condição que se verificou e que a não se ter verificado implicaria que o dano não
se tivesse produzido. Esta doutrina é rejeitada porque conduz a situações injustas:
1) implica uma demasiada extensão da responsabilidade, alargando
desmesuradamente o universo dos danos indemnizáveis – ex.: o lavrador compra
ao comerciante de gado uma vaca doente, sem saber, a vaca contamina as demais
vacas do lavrador e todas morrem e, desgostoso, o lavrador suicida-se. Pode

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responsabilizar-se o comerciante da vaca responsável pela morte do lavrador? De


acordo com esta teoria, a resposta seria sim. Conclui-se, por isso, que a entrega da
vaca doente é uma causa ou condição que a não se ter verificado conduziria a que
o lavrador não se teria suicidado. A doutrina considera que esta doutrina era
injusta. É criticável também, porque em determinadas hipóteses, é restritiva,
nomeadamente nas hipóteses de causalidade cumulativa – A e B batem em C e C
morre. Conclui-se que C teria morrido quer com a agressão de A quer com a
agressão de B. Segundo esta teoria, não se responsabilizaria A, nem B.
A doutrina exposta põe em destaque aspetos importantes. Desde logo, a
necessidade de que o facto danoso seja condição “sine qua non” do prejuízo: o
que leva a excluir a responsabilidade quando se demonstre, em face das
circunstâncias concretas, que o prejuízo se daria, quer o facto danoso se
verificasse, quer não. E, além disso, desta a responsabilidade do homem pelos
danos resultantes de forças naturais desencadeadas por ação sua.
Facilmente se reconhecem as manifestas injustiças a que pode conduzir a
aplicação da teoria da equivalência das condições. Exemplo: no caso de uma
pessoa ferir outra ligeiramente e esta vir a morrer no hospital, aonde se deslocou
para simples curativo, em consequência de incendio nele ocorrido.
Os próprios defensores desta doutrina reconhecem a demasiada extensão da
responsabilidade que por via dela se alcança e procuram afastar os seus resultados
chocantes, fazendo intervir a ideia da culpa. Mas o expediente não funciona nos
casos em que a culpa não constitui pressuposto da responsabilidade. E, inclusive
no domínio da responsabilidade subjetiva, a culpa só é exigível em relação ao facto
em si e não relativamente aos danos que do mesmo resultem.

Visam dar um passo em frente as orientações que se designam por doutrinas


seletivas. Dadas as consequências insatisfatórias da doutrina da equivalência das
condições, que propõe um conceito demasiado amplo de causa, desenvolveu-se
um esforço no sentido de selecionar entre as várias condições a que deveria
considerar-se verdadeira e única causa do dano. Intentou-se restringir o conceito
de causa para efeitos jurídicos. Nesta linha surgem as duas próximas doutrinas.
2. Doutrina da Última Condição ou Causa Próxima: entre as múltiplas condições que
ocorreram antes do dano ocorrer, só seria considerada juridicamente a última
causa (será causa a condição mais próxima do resultado). A esta doutrina aponta-
se a critica de que é demasiado restritiva.
Se A ocasiona a B o prejuízo X, que, por sua vez, determina o prejuízo Z, haverá
somente que indemnizar o primeiro.
3. Doutrina da Condição Eficiente: Outra doutrina considera que de entre as varias
causas que concorreram, ter-se-ia de fazer uma avaliação para ver qual foi a mais
relevante. (condição que na verdade foi eficaz ou proeminente em relação às
restantes, quer dizer, a que mais determinou a produção do resultado). A critica
dirigida vai no sentido de ser demasiado subjetivista. Ex.: A é vitima de violência
domestica. Há quem aponte que a vítima morreu por falha de legislação por
matéria de armas, ou por exemplo porque as policias são ineficientes.

Também estas duas construções trouxeram algum contributo positivo à solução do


problema. Por exemplo, a distinção entre danos diretos ou imediatos e danos
indiretos e mediatos. Mas todas elas apresentam um defeito comum de base:
partem do princípio de que é possível estabelecer-se uma diferença objetiva ou
essencial entre causa e simples condição. E mais: à difícil praticabilidade que
patenteiam, acresce que a sua aplicação conduz a resultados injustos. Em sentido

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contrário a estas doutrinas pode invocar-se, aliás, o preceituado nos artigos 564º/2
e 807º nº1 C.C.

4. Teoria da Causalidade Adequada: segundo esta teoria, a ideia geral será a de que
se considera causa de um prejuízo a condição que, em abstrato, se mostra
adequada a produzi-lo. Assim, em princípio, toda a condição sine qua non de um
evento danoso deve ser considerada como causa; contido, deverá deixar-se de
verificar essa correspondência sempre que, de acordo com a experiência comum e
dadas as circunstâncias do caso, não se possa afirmar que, em termos de
probabilidade, que o facto originaria normalmente o dano. Assim, para que exista
nexo de causalidade há dois requisitos que têm de estar preenchidos: 1) facto em
concreto tem de ser causa do dano; 2) exigir que em abstrato o facto seja
adequado a produzir aquele tipo do dano, segundo o critério que atende ao curso
normal das coisas.
 Exemplo: Estudante que morre atropelado ao ir buscar o livro ao seu
amigo.
o Segundo esta teoria, poderá afirmar-se que a morte do estudante
é consequência do incumprimento do contrato. O atraso foi em
rigor uma condição que contribuiu para a ocorrência do dano. No
entanto, poder-se-á afirmar que em abstrato o atraso da entrega
do livro conduz à morte do estudante? Não. Assim, estaria em
falta o segundo requisito.
 Exemplo: A dispara sobre B e mata B. O comportamento de A é causa do
dano de B segundo a tese da causalidade adequada? 1º requisito: aquele
facto foi a causa da morte em concreto? Sim, faz-se prova que B morreu
do tiro de A. 2º requisito: um tiro, em abstrato, causa a morte? Sim,
normalmente isso pode acontecer. Esta teoria considera que o conceito
de provavelmente leva à teoria da causalidade adequada.
No prognóstico a posteriori de adequação abstrata deve atender-se tanto às
circunstâncias cognoscíveis à data da produção do facto por uma pessoa normal,
como às na realidade conhecidas do agente.
 Exemplo: C agride D com um pequeno encontrão que lhe causa a morte
devido a uma grave lesão craniana. A agressão de C a D não é, em
princípio, adequada a pôr em perigo a vida deste. Porém, se a condição de
D é conhecida por C ou este tinha a obrigação de a conhecer, já existirá um
nexo de causalidade adequada.
A Teoria admite várias formulações, mais ou menos exigentes – a professora quis
sublinhar uma formulação positiva e uma formulação negativa.
 Formulação Positiva: considera-se consequência adequada do facto se o
dano que resulte segundo o juízo que atenda ao curso normal das coisas,
resulte desse mesmo facto. Haveria que demonstrar que o facto em
concreto foi causa do dano.
 Formulação Negativa: para alguma doutrina é esta a formulação que se
deve admitir, se o facto em concreto for causa do dano, só deverá deixar de
se considerar como consequência adequada, se tiver sido produzido em
circunstâncias anómalas ou excecionais. É uma presunção de adequação –
permite-se que se demonstre, mas só mediante circunstancias anómalas ou
excecionais a conduzir ao nexo de causalidade entre o facto e o dano.
o Exemplo: Se A dispara sobre B a uma distância tal, que
normalmente deste disparo, B não seria atingido, entende Almeida
Costa que o A deverá ser responsabilizado. É um facto ilícito e só

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não será responsabilizado se haverá condições anómalas ou


excecionais.
Parece aconselhável, segundo Almeida Costa, uma formulação mais ampla da
doutrina da causalidade adequada quando estejamos a falar de responsabilidade
por factos ilícitos e culposos, contratuais ou extracontratuais, do que relativamente
a intervenções lícitas. No primeiro caso, o facto que atua como condição apenas
deixará de ser causa do dano se se mostre por sua natureza de todo inadequado e
o haja produzido unicamente em consequência de circunstâncias anómalas ou
excecionais.
 Exemplo: E dispara sobre F a uma distância que normalmente apenas
originaria ligeiros ferimento, contudo, devido a circunstâncias fortuitas, o
tiro mata F. O facto será ou não causa da morte de F conforme se passe por
um ou outro critério. Embora o projétil apenas tenha morto F devido a
circunstâncias excecionais, não se poderá considerar em absoluto que a
sua natureza seja inadequado a produzir tal efeito.
Já na área da responsabilidade derivada de intervenções lícitas, que abrange
também a responsabilidade pelo risco, deixará de haver adequação abstrata
quando o dano cair fora das consequências normais típicas do facto.
Relativamente ao nexo de causalidade no âmbito da responsabilidade objetiva,
este pressuposto será essencial para delimitar os danos indemnizáveis. Neste
plano, a causalidade resulta de a origem dos danos se localizar na zona de risco
normativamente definida, o que torna desnecessária a formulação de um juízo
hipotético sobre a idoneidade do comportamento para produzir as consequências
danosas. Porém, quando se trate de determinar os prejuízos que preenchem a
obrigação de indemnização, é indispensável o critério da causalidade adequada
pelo que não basta que uma condição esteja situada na zona abrangida pela
atividade lesiva. Excluem-se do âmbito da indemnização os prejuízos relativamente
aos quais não se possa afirmar, atendendo às regras da experiência comum e das
particularidades do caso, que constituem o resultado normal do facto que as
originou.
A doutrina da causalidade adequada não pressupõe a exclusividade da condição,
podem ter colaborado na produção dos danos outros factos concomitantes ou
posteriores. Assim como não se impõe que o nexo causal seja direito ou imediato,
basta que se seja indireto ou mediato. Esta solução justifica-se porque o dano,
muitas das vezes, apenas é possível pela intermediação de fatores de diversa
ordem, sendo razoável que o agente responda por esses factos posteriores, desde
que especialmente favorecidos pela sua conduta ou tão-só prováveis segundo o
curso normal das coisas.
Não se postula especificamente a previsibilidade do dano. Essa previsibilidade é
apenas necessária em relação ao facto constitutivo da responsabilidade e não para
os danos dele derivados.
5. Teoria do fim da norma: ao nível da causalidade, esta teoria não era
desconsiderada.
iii. Ainda a propósito da teoria da causalidade adequada apontam-se outras questões,
nomeadamente no que concerne às causas virtuais ou hipotéticas.
 Exemplo: A envenena o cavalo de B, o cavalo de B, apesar disto, não vem a morrer
por causa do envenenamento, mas sim porque C dispara sobre esse mesmo cavalo
e mata esse cavalo. O cavalo teria morrido como consequência do envenenamento,
mas, no entanto, antes do veneno fazer o seu efeito, C disparou um tiro sobre o
cavalo, matando-o. Qual foi a causa real ou efetiva que em concreto matou o
cavalo? O tiro. Esta é designada por causa real efetiva.

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O que é a causa virtual? É o facto que, em abstrato, é adequado à produção de um dano,


mas que não chega a causa-lo porque, entretanto, outro facto, e que é autónomo da causa
virtual, produziu o mesmo resultado danoso. Assim estamos perante uma causalidade
interrompida ou interrupção do nexo causal quando um facto (causa virtual), adequado a
provocar determinado dano, não chega, todavia, a ocasiona-lo, porque, entretanto, outro
facto (causa operante) autónomo do primeiro – que não seja sua consequência adequada –
e independente dela, produziu o mesmo resultado danoso. A esta figura contrapõe-se a da
causalidade antecipada ou prematura, que se verifica quando o dano, provocado por certo
facto, se teria produzido mais tarde, em consequência de outro.
 Exemplo: E destrói uma pintura de F, que perecia no dia imediato num incêndio do
edifício em que se encontrava.
Quais os problemas jurídicos que a causa virtual coloca? O problema da relevância positiva
e o problema da relevância negativa.
1. Relevância positiva – O autor da causa virtual responde pelo dano? Poderá ser
responsabilizado o autor da causa virtual? Este é um problema de nexo de
causalidade. Em primeiro lugar há que demonstrar que o facto é causa do dano.
Não acontece, uma vez que a causa real foi causa do dano. Atribuir relevância
positiva à causa virtual, seria negar o requisito de que o facto tenha sido em
concreto causa do dano. Assim, a doutrina responde negativamente à pergunta.
2. Relevância Negativa – Deverá excluir-se a responsabilidade do autor da causa
efetiva? O autor da causa efetiva pode invocar o argumento da causa virtual,
dizendo-se que o dano se teria produzido pela causa virtual? A pergunta que se
coloca é: segundo o nosso ordenamento é de atribuir relevância negativa à causa
virtual? Alguns preceitos que conhecemos (art. 491º, 492º/1, 493º/1, 616º/2,
807º/2, 1136º/2), atribuem relevância negativa à causa virtual, permitindo ao
autor da causa efetiva excluir a sua responsabilidade. A questão é saber se estes
artigos são causas excecionais ou se expressam um princípio geral. Há aqui uma
divergência doutrinária.
 A maioria da doutrina considera que a causa virtual não tem relevância
negativa, salvo nas situações excecionais. A razão pela qual se admite
excecionalmente a relevância negativa seria a seguinte: estes artigos vêm
agravar a culpa do lesante pelo que se permitiria que se invocasse a
relevância negativa da causa virtual para atenuar este agravamento.
 O prof. Pessoa Jorge considera que é de aplicar em termos gerais a
relevância negativa à causa virtual, pois esta é a situação mais coerente
com a função reparatória da RC. O dano sempre lá estaria e, portanto,
negar-se-ia o direito à indemnização, porque a situação do lesado sem ou
com o facto ilícito seria a mesma. Assim, não faria sentido reparar um
danos que se verificaria em todo o caso. Segundo este professor,
genericamente dever-se-á atribuir relevância negativa à RC.
Finalmente, no exemplo do cavalo em que estava em causa determinar no caso do
envenenamento, quem responderia pela morte do cavalo, há quem sublinhe que a solução
segundo a qual não é de atribuir relevância positiva à causa virtual é uma solução que não
exclui a responsabilidade pelo efeito parcial. O envenenamento não foi a causa efetiva do
dano – morte do cavalo – e, portanto, relativamente a este dano, seria uma causa virtual.
No entanto, se atendermos ao facto de que o cavalo envenenado tem menos valor que um
cavalo saudável, poderá levar o autor da causa virtual ser responsabilizado pela diminuição
do preço do cavalo.

Responsabilidade Objetiva:

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Já vimos que, em regra, a ilicitude e a culpa são requisitos da responsabilidade civil extracontratual
(art. 483.º/2). Mas não se desconhecer, que, embora predomine o princípio da responsabilidade subjetiva ou
baseada na culpa, se sancionam situações excecionais de responsabilidade objetiva ou pelo risco, quer dizer,
independentes de dolo ou de simples culpa da pessoa obrigada à reparação. Dispensa-se, assim, a culpa do
agente ou responsável.
A Responsabilidade objetiva é uma responsabilidade que não depende de culpa. O nº 2 do art. 483º
diz que só existe obrigação de indemnização afastando a culpa, mediante situações previstas em lei. Importa
não confundir responsabilidade objetiva com as hipóteses de presunção de culpa. O lesante cuja culpa se
presume pode fazer prova em contrário.
Fundamento da RO: a epigrafe desta subsecção é a responsabilidade pelo risco, que é uma das
modalidades da RO. E isto significa o quê? No fundo é o fundamento da responsabilidade independente de
culpa. O fundamento é porque cria, mantém ou agrava o risco e beneficiando de tais vantagens, é justo que
seja ele a responder pelo dano, mesmo que não tenha culpa da produção do dano. A maior parte da RO
justifica-se pelo risco.
A responsabilidade pelo risco representa a mais importante e vasta categoria de hipóteses de
responsabilidade objetiva. Compreende-se que se alguém exerce uma atividade criadora de perigos
especiais possa responder pelos danos que ocasione a terceiros. Será como que uma contrapartida das
vantagens que aufere do exercício de tal atividade.
Nesse caso, o dever de indemnizar resulta de uma conduta perigosa do responsável. Existem, com
efeito, certas atividades humanas que envolvem o risco de causar prejuízos a terceiros, mas que a lei não
proíbe em virtude de serem socialmente úteis ou, quando menos, não reprovadas pelo consenso geral.
Apenas se responsabilizam as pessoas que as exercem perante os danos que eventualmente venham a
produzir, embora sem culpa.
É importante referir que, nestas hipóteses, a obrigação de indemnizar não depende de culpa. Mas
daqui não se infira que a averiguação da culpa do agente e da gravidade desta seja irrelevante. Ela pode ter
interesse, não só a respeito dos limites do quantitativo indemnizatório, que em certos casos se prevê (art.
508º e 510º), mas ainda existindo vários responsáveis (art. 500º/3, 501º e 507º/2) ou concorrência de culpa
do lesado na produção ou no agravamento do dano (art. 570º). Alias, o disposto no art. 494º, que faculta a
graduação equitativa da indemnização em hipóteses de mera culpa, aplica-se à responsabilidade pelo risco
(art. 499º).
Conclui-se que a responsabilidade objetiva não depende de ilicitude e de culpa. Não existe, portanto,
o problema da sua alegação e prova. Aspeto diverso é o do nexo de causalidade entre o facto e o dano que
resultou para o lesado. A sua demonstração torna-se necessária nesta forma de responsabilidade.
A hipótese paradigmática dos acidentes de trabalho – ex.: uma empresa que cria um risco para o
trabalhador responde pelos danos causados das máquinas ao trabalhador. Outro ex.: acidentes de viação.
Considera o legislador que quem cria o risco na circulação destes veículos, beneficiando da circulação do
mesmo, e beneficiando das vantagens correspondentes à sua utilização, considera justo que seja o
proprietário a responder pelos riscos próprios. Com a sociedade industrializada potenciou-se o risco e por
mais controlo que se tenha quando ao risco, há danos que não se conseguem evitar. Mais, a estrutura
revela-se tao complexa quanto aos sujeitos potencialmente responsáveis, nomeadamente numa fábrica.
Assim, desde o séc. XIX surgiu em determinados domínios, hipóteses de responsabilidade independente de
culpa.
Razões de certeza e de segurança jurídica levam o legislador a especificar as atividades perigosas que
constituem fontes de responsabilidade. Além destas, existem múltiplas situações previstas noutros
diplomas, por exemplo, a respeito dos acidentes de trabalho, dos danos ambientais, etc. Assim, as que estão
previstas no CC são:
 

 Responsabilidade do Comitente (artigo 500.º):

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O art. 500º define os pressupostos da RC do promitente por facto ou por omissão de outra pessoa
denominado de comissario:

1. Relação de comissão: Quando existe uma relação de comissão? Quando alguém designou outra
pessoa de uma comissão de uma tarefa, serviço ou função que é realizada no interesse e por
conta do comitente. Quem encarrega outrem designa-se por comitente. Exemplo: numa relação
laboral, o trabalhador será o comissário, a entidade patronal o comitente. Discute-se se para
que esteja perante uma relação de comissão é de exigir a liberdade de escolha do comissario
pelo comitente. A doutrina maioritária diz que não. No entanto, é entendido que é necessário
um nexo de subordinação, exige-se que o comitente dê ordens ao comissario (poder de
direção). Porque não existe esta relação de subordinação, não existe, p.e., entre um motorista
de táxi e o passageiro, entre o dono da obra e o empreiteiro. Quando afirmamos que a RC do
comitente é uma RC Objetiva, isto significa que o promitente responde pela tarefa feita pelo
comissario, independentemente de culpa, ou seja, mesmo que comitente não tenha culpa na
escolha, nas instruções que dá e na fiscalização do exercício dessa tarefa pelo comissario.
Quando afirmamos que a RC do Comitente é objetiva, significa que responde
independentemente de culpa. Onde poderia haver culpa? Culpa na escolha, culpa nas
instruções e culpa na fiscalização. O que resulta do art. 500º é que a RC do Comitente existe
mesmo que o comitente não tenha tido culpa. Assim, o primeiro pressuposto do comitente por
facto do comissario é a existência de uma relação de comissão. Ex.: A é motorista de B e ao
conduzir o automóvel de B para realizar uma tarefa instruída por B, o motorista conduz em
excesso de velocidade e despista-se. A questão é: B responde pelos danos causados por B? Ora,
há aqui uma relação de comissão, logo, o primeiro pressuposto está reunido.
Em primeiro lugar, impõe-se a existência de uma relação de comissão, traduzida num
vínculo de autoridade e subordinação correspetivas. Que isto dizer, que se exige que uma
pessoa tenha encarregado outra, gratuita ou onerosamente, de uma comissão ou serviço,
consistindo num ato isolado ou numa atividade duradoura. O que interessa é que o comissario
se encontre numa relação de subordinação ou de dependência quanto a este último, de
maneira que se possua o direito, não só de dar-lhe ordens ou instruções precisas sobre a
finalidade e os meios de execução da comissão, mas também de fiscalizar diretamente o seu
desempenho.
Concebe-se este requisito fora de um contexto negocial (ex: com base em relações
familiares). Todavia, ocorre as mais das vezes alicerçado num contrato de trabalho, que se
caracteriza precisamente pela subordinação de uma das partes à outra (art. 1152.º).
Exclui-se, em princípio, a relação de comissão quanto a certas profissões, como a dos
médicos e a dos advogados, pois não se admite uma subordinação para com os clientes nos
termos indicados. Afigura-se, contudo, de aceitar a possibilidade de uma relação de comissão,
por exemplo, de um médico ou advogado para com outro médico ou advogado.

o Rui de Alarcão distingue dois grupos de casos entre as situações de responsabilidade pelo risco
que o CC prevê: o fundamento de um deles encontra-se na “própria natureza da atividade em
causa”, ao passo que, quanto ao outro, “a responsabilidade só é objetiva em relação a um
determinado sujeito, mas o nascimento do dever de indemnizar pressupõe, em princípio, a
prática de um facto ilícito”. Neste segundo caso, inclui as hipóteses previstas nos artigos 500º e
501º, e entende que “a imputação de um risco não implica aqui a criação de um especial perigo
de causação de danos para terceiros, sendo antes (…) uma consequência da posição do
onerado em relação àquele que pratica o facto danoso”. A interpretação restritiva do art. 500º
ao caso de imputação aquiliana do dano ao comissario parece ser perfilhado por Antunes
Varela, pois, desde logo, coloca como epigrafe do segundo pressuposto da responsabilidade
objetiva do comitente a “prática do facto ilícito no exercício da função”. Sustentam essa
orientação Pedro Carvalho e Manuel da Frada. Mota Pinto, a propósito da responsabilidade

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extracontratual das pessoas coletivas, adota a posição ampla para que Almeida Costa
propende. No mesmo sentido, Menezes Cordeiro, Pessoa Jorge, Sofia Sequeira e Graça Trigo.
Segundo Almeida Costa não se afigura que uma interpretação restrita do art. 500º/1,
possa proceder. Repare-se que, de acordo com este preceito, a responsabilidade
objetiva do comitente depende do facto recair sobre o comissário “a obrigação de
indemnizar”, ou seja, sem que a circunscreva à derivada de facto ilícito. Nem se afigura
que a proteção do lesado – em última analise, reconduzindo-se a uma garantia prestada
pelo comitente (art. 500.º/3) – mereça um tratamento diverso, conforme a obrigação de
indemnização do comissario resulte de facto ilícito ou de risco. Aliás, essa obrigação do
comissario pode igualmente fundar-se, como se salientou, numa intervenção licita.
A remissão do art. 165º para o regime da responsabilidade do comitente pelos atos
do comissário, portanto, para o artigo 500º, é decisiva a favor da interpretação ampla,
que Almeida Costa perfilha, deste preceito. Manifestamente, o legislador, no art. 165º,
quis, não só abranger a obrigação de indemnizar por factos ilícitos, mas ainda a que
resulta da responsabilidade objetiva ou de intervenção licitas dos representantes,
agentes ou mandatários da pessoa coletiva.
Nem AC pensa que a letra do nº 3 do art. 500 impeça a posição ampla, mais razoável.
Aí se utiliza, para excluir o direito de regresso do comitente, a expressão “exceto se
houver também culpa da sua parte” – o que pareceria pressupor que o comitente só
responde por facto ilícito (culposo) do comissário. Não repugna a seguinte explicação a
letra restrita do preceito referido: ao aludir-se à possibilidade de haver “também” culpa
do comitente, apenas se representaram, de imediato, as hipóteses de existência de
culpa do comissário, certamente pela sua maior relevância prática, embora o espírito da
lei seja mais amplo. Acresce que sempre se poderá considerar a utilização da palavra
“também” num sentido enfático ou pouco rigoroso, correspondendo a “além de”.
Aquela expressão do nº 3 do artigo 500º equivale a esta outra: “exceto se houve culpa
da sua parte, além da situação culposa ou não do comissário”.

2. Que recaia também sobre o comissário a obrigação de indemnizar: O segundo requisito de que
depende a RC do Comitente por danos causados pelo comissario é que sobre este recaia uma
obrigação de indemnizar. Assim, no nosso exemplo, o B só responde se o motorista for
responsável pelo acidente, ou seja, tem de haver responsabilidade do comissário. Se faltarem os
pressupostos da RC em relação ao comissário, então o comitente não responde. Estão
relativamente ao comissario verificados os pressupostos da RC no exemplo dado.
Relativamente a este requisito, torna-se, portanto, necessário que o comissário haja
praticado com culpa o facto ilícito causador do dano, salvo tratando-se, por sua vez, de uma das
situações excecionais em que se dispensa a culpa ou de um dos casos de responsabilidade
derivada de intervenções lícitas. Logo, a responsabilidade que apreciamos apenas se apresenta
objetiva a respeito do comitente; no que toca ao comissario, terá outro fundamento.

3. Facto danoso praticado no exercício da função que lhe foi confiada: Se causa dano, então, o
promitente não responde pelos danos causados pelo comissario. No nosso exemplo, o
motorista tem um acidente ao realizar um recado a pedido da entidade patronal e no caminho
que lhe foi indicado tem um acidente. Causa o dano no exercício da função que lhe foi confiada,
ainda que desrespeitando as instruções dada pelo comitente. Se o motorista foge com o carro e
decide dar um passeio, então aqui já o dano não foi causado no exercício das funções que lhe
foram causadas.
A lei abrange unicamente os atos ligados ao serviço, atividade ou cargo, embora exista
apenas um nexo instrumental, excluindo os praticados por ocasião da comissão com um fim ou
interesse que lhe seja estranho. E subsiste a responsabilidade do comitente, mesmo que o
comissário nesse quadro, tenha agido intencionalmente ou contra as suas instruções.

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Nem sempre é fácil a concretização deste último requisito. Quando se pode afirmar que o facto
danoso foi praticado no exercício da atividade confiada pelo comitente ao comissário? O motorista atropela
alguém, o operário arranja o telhado de uma casa e deixa cair uma telha e essa cai em cima de uma pessoa,
o segurança de uma discoteca agride um cliente, o funcionário do banco guarda o dinheiro do cliente para si
– em todos estes exemplos o requisito cumpre-se. Aqui não basta um nexo instrumental ou temporal.
Existem depois várias teorias que visam estabelecer este nexo, o prof. Antunes Varela exige adequação,
aderindo a uma teoria que é semelhante à da teoria da causalidade adequada. A prof. Graça Trigo convoca a
tese da aparência.
Verificados os pressupostos, o comitente é responsável pelo dano ou danos causados pelo
comissario, ainda que ele comitente não tenha culpa, ou seja, tenha sido diligente na escolha, instrução e
fiscalização.
Assim, teremos duas pessoas responsáveis. Perante o lesado respondem duas pessoas e respondem
solidariamente (art. 497º). Se o lesado intentar a ação de RC contra o comitente, o regime do direito de
regresso de comitente sobre o comissario possibilita que este exija tudo o que indemnizou pelo comissario,
desde que não haja culpa, nº3 do art. 500º. Isto significa que a RC do Comitente exige que este fosse um
garante do pagamento pelo dano causado. Contudo, perante o lesado, como normalmente o comitente terá
melhor condições financeiras para suportar a indemnização considera-se nas relações externas responsável,
mas o comitente terá direito de regresso se não tiver tido culpa. Só se houver culpa é que o direito de
regresso se faz mediante as respetivas culpas. Assim, a função da RC do comitente visa uma finalidade
garantística e não baseada no risco. Esta solução poderá eventualmente ser questionada.
Será que sobre o comissário relativamente ao requisito que referimos – recair uma obrigação de
indemnizar – o mais comum é que o fundamento seja a prática pelo comissario de um facto ilícito e culposo.
Por isso é que o nº3 diz que o comitente só não pode exigir o reembolso total mediante culpa. A questão
que se coloca é saber se se pode considerar algum exemplo em que se verifique pelo comissário uma RC
Objetiva e por seu turno o comitente responderia também pela mesma modalidade.
O art. 500º disciplina os pressupostos de responsabilidade de alguém por facto de outrem. importa
recordar que nas hipóteses da RC por omissão, designadamente no art. 491º - responsabilidade do vigilante
pelo incapaz – aqui, o vigilante responde por facto próprio, que é a omissão do dever de vigilante.
A prof. Graça Trigo conclui que não está excluído que sobre o comissario se verifiquem as
modalidades de RC Objetiva. O que se passa é que muito difícil é que é muito difícil de encontrar os
pressupostos da RC Objetivo – ele está a desenvolver uma tarefa no interesse e por conta do comitente. Ex.:
segurança que trabalha para uma entidade patronal e exerce essas funções acompanhado do seu cão que o
auxilia no exercício dessa função, o proprietário do cão responde objetivamente pelos danos causados pelo
cão e que provenham dos riscos próprios do animal. Vamos supor que o cão morde em alguém.
Relativamente ao comissario existe a obrigação de indemnizar, segundo o art. 502º. Aqui, o comissário
responde mediante a modalidade de Responsabilidade Objetiva. Este exemplo pode evidenciar que quando
o art. 500º/1 exige que sobre o comissario exija uma obrigação de indemnizar, tanto pode ser porque
praticou um facto lícito e culposo, quer porque estão preenchidos os requisitos da RCO. Na prática é muito
difícil de se avançar um exemplo. Em teoria, se assim for, é evidente que o direito de regresso nos termos do
nº 3 terá de obedecer a critérios diferentes. A repartição das responsabilidades teria de ser feita segundo o
critério do risco – ambos beneficiaram da utilização do animal.
A exigência de que sobre o comissário recaia também a obrigação de indemnização constitui simples
pressuposto da responsabilidade objetiva do comitente. Já se dispensa, caso se apure uma conduta culposa
deste último, que responderá, então, por facto ilícito e culposo. A culpa do comitente pode referir-se À
escolha do comissário (“culpa in eligendo”), às instruções ou ordens que lhe deu (“culpa in instruendo”) ou à
fiscalização da respetiva atividade (“culpa in vigilando”). Afigura-se que, em matéria de culpa do comitente,
se deve aplicar o regime do art. 493.º/2, quando a comissão consiste numa atividade arriscada, a respeito da
qual exista, ex ante, forte probabilidade de a ação do comissario produzir danos.
A respeito da indemnização, estabelece o art. 500º/3, que o comitente que a satisfaça “ tem direito a
exigir do comissário o reembolso de tudo quanto haja pago, exceto se houver também culpa da sua parte;

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neste caso será aplicável o disposto no nº 2 do artigo 497.º”. Por consequência, atribui-se ao comitente,
quando sujeito a mera responsabilidade objetiva, tão-só a posição de garante da indemnização que o
comissário culposo deva satisfazer ao lesado. A lei transfere do terceiro para o comitente, como parece
razoável, os efeitos da eventual insuficiência do património do comissário.
O regime é, pois, o seguinte: se existe apenas culpa do comissário, o comitente que indemnize o
terceiro tem direito de exigir daquele tudo o que pagou; havendo só culpa do comitente, caber-lhe-á o
ressarcimento integral dos danos, nos termos da responsabilidade por factos ilícitos; caso se verifique culpa
do comissário e do comitente, ambos respondem solidariamente para com o lesado, mas no plano das
relações entre os dois, ou seja, quanto às relações internas, o encargo repartir-se-á em função “das
respetivas culpas e das consequências que delas advieram presumindo-se iguais as culpas das pessoas
responsáveis” (art. 500.º/3 e 497.º/2).

 Responsabilidade do Estado e de outras pessoas coletivas públicas (artigo 501.º):

O Estado e outras pessoas coletivas públicas respondem sobre os pressupostos do artigo 500º.
Importa sublinhar que o regime do 501º se aplicará na atividade de gestão privada por parte do Estado.
Aqui, o artigo 501º terá uma aplicação residual.
A Constituição da República Portuguesa estabelece, no seu art. 22º, doutrina que não se afasta
substancialmente do disposto pelo art. 501º CC.
Repare-se que se trata de responsabilidade em relação aos atos dos órgãos, agentes ou
representantes de tais entidades, no âmbito da sua gestão privada. Ora, de harmonia com o critério comum,
a atividade diz-se de gestão pública ou de gestão privada, conforme decorre sob a égide do direito público
ou do direito privado, respetivamente. A distinção releva para determinar, quer as normas substantivas
aplicáveis, quer, em princípio, a jurisdição competente, isto é, se o conhecimento do pedido pertence aos
tribunais administrativos ou aos tribunais judiciais.
Constituem atos de gestão pública, entre outros, a detenção de uma pessoa pela polícia, a sentença
de um juiz ou o registo de um imóvel feito pelo conservador do registo predial, enquanto se qualificam como
atos de gestão privada, por exemplo, a compra, livremente convencionada, de mobiliário destinado a uma
escola ou o arrendamento de um edifício para instalação de serviços camarários.

 Danos causados pelos animais (artigo 502.º):

Diz este artigo que quem no seu próprio interesse utilizar quaisquer animais responde pelos danos
causados, desde que estes resultem do perigo especial, independentemente de culpa. É uma
responsabilidade objetiva. Entende-se por perigo especial o que é característico ou típico dos animais
utilizados, variando com a natureza destes. Segundo Vaz Serra, este termo “tem por finalidade esclarecer
que o risco há-de variar conforma a espécie dos animais utilizados, e não que, desprezando o risco geral do
seu aproveitamento, os utentes deles só respondam por riscos específicos, criados por circunstâncias
anormais.
Exige-se, portanto, que o dano se encontre numa adequada correlação com o perigo específico do
animal.
Vamos ver as diferenças do artigo 493º e a do artigo 502º:
Em qualquer um destes regimes se define os pressupostos por danos causados por animais. Mas, no
art. 493º o fundamento da RC é a pratica de um facto ilícito e culposo, e por isso quem está obrigado a
indemnizar é quem estivesse encarregue da vigilância do animal e omitisse esse dever de vigilância e em
consequência o animal causou dano a terceiro – só o vigilante responde e responde apenas pela omissão
culposo do dever de vigilância e responde com fundamento na culpa (se tiver sido cuidadoso ao vigiar o
animal, não vai responder; é certo que se presume a culpa, mas esta pode ser afastada pelo vigilante). Já o
art. 502º determina que a responsável quem no seu próprio interesse utilizar o animal. Aqui o fundamento é
uma responsabilidade objetiva, independentemente de culpa – não está aqui em causa um juízo censurável.
Quem tem um animal e beneficia desta fonte perigo responde pelos danos causados – ideia do risco

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proveito. O sujeito responsável não é necessariamente o vigilante, normalmente será o proprietário do


animal, também poderá estar abrangido pela formulação do art. 502.º o usufrutuário, locatário ou o
comodatário do animal e os possuidores em nome próprio (art. 1251º e segs.). Exclui-se, por exemplo, o
sujeito que experimenta um animal antes de adquiri-lo. Esse responde, sim, nos termos do art. 493º/1. Pode
suceder que estejam relativamente ao mesmo sujeito verificados os pressupostos de ambos os artigos –
exemplo: o animal morde uma criança e o proprietário é quem estava a passear o animal. O proprietário
responde ainda que não tenha culpa, mediante o art. 502º. Também responderá mediante o art. 493º/1,
embora aqui possa afastar essa presunção de culpa. Pode suceder que o cão esteja a ser passeado pela
pessoa encarregue de passear o cão todos os dias, B passeava o cão de A que mordeu o cão. Aqui teremos
responsabilidade solidaria de dois sujeitos – o lesado pode dirigir-se a um ou a outro, ao vigilante ou ao
proprietário e exigir de um deles a totalidade da indemnização. Concretizemos: A vigia o cão de B e omitindo
culposamente o seu dever de vigilância, o cão morde C e C sofre um dano no valor de 500 euros. Temos dois
sujeitos que respondem solidariamente – A e B. ambos respondem pelo lesado pela integralidade dos danos.
Isto não significa dobro da indemnização. Simplesmente pode escolher um dos sujeitos e quanto a um dos
responsáveis peça o valor integral da indemnização. Se escolhe um deles, este que escolheu terá direito de
regresso perante o outro responsável, para ver reembolsado o valor que pagou a mais. No âmbito das
relações internas será necessário calcular o valor do dano que cabe a cada um. Quando se afirma que na RC
Obrigacional o regime era o da conjunção, isto significa que no âmbito das relações externas, cada
responsável responde, apenas e somente, pela sua quota-parte. Já diversamente, na RC extracontratual, o
lesado pode dirigir-se a cada um dos responsáveis, à sua escolha, e exigir a indemnização integral. O lesado
não suporta o risco da insolvência de cada um dos responsáveis (ex.: se um dos credores entra em
insolvência, na responsabilidade obrigacional, ele suporta o risco e não verá satisfeito o pagamento daquela
quota-parte).
O art. 502º diz que os danos têm de resolver de perigo especial, ou seja, a RC não abrange todo e
qualquer dano causado, mas tão só os danos que resultem de perigo especial que resulte da utilização do
animal. Já no art. 493º não se estabelece esta limitação. É evidente que os danos causados pelo animal
resultam praticamente sempre de perigo especial que envolva a utilização do animal (ex.: mesmo que um
cavalo se assuste verificam-se os requisitos). O fundamento da RCO é o proveito da utilização do animal,
assim se exigir danos que resultem do perigo.

 Acidentes causados por veículos de circulação terrestre (artigo 503.º a 508.º):


Há dois fundamentos hipotéticos para a RC, pode haver lugar a uma obrigação de indemnizar com
fundamentos nos artigos 483º e ss. e ou pode haver lugar à obrigação de indemnizar segundo o regime geral
da RC Objetiva (art. 502º e ss). Pode aplicar-se um ou outro regime, dependendo da circunstância em causa.
o Exemplo: se A conduz o seu veículo em excesso de velocidade e se despista atropelando B, este
pode responsabilizar A com fundamento nos artigos 483º e seguintes (pois A praticou um facto
ilícito e culposo – estão alias preenchidas as duas modalidades de ilicitude). Todavia, também
pode fundar o seu direito a indemnização mediante o regime da responsabilidade objetiva. Se
se quiser prevalecer deste regime, não terá de fazer prova da culpa do responsável, pois aqui a
RC é Objetiva. No nosso exemplo, em que A conduz em excesso de velocidade, B lesado pode
socorrer-se de um ou outro regime.
Em determinados aspetos de regime, o regime da RC Objetiva não é inteiramente coincidente com o
regime do art. 493º e ss., em concreto o âmbito dos danos indemnizáveis. Assim, se o peão pode fundar o
seu direito de indemnização sem fazer prova da culpa, a verdade, porém, é que terá algumas limitações
quanto aos danos indemnizáveis.
o Outro exemplo: A conduzia o seu veículo respeitando as regras do Código da Estrada, sem
excesso de velocidade e com cuidado e por avaria dos travões, despista-se e atropela B. nesta
hipótese, o A não tem culpa, e assim B não podia fundar o seu pedido indemnizatório mediante
os art. 493º e ss. pode, ainda assim, fundar o pedido ao abrigo do regime dos art. 503º - 508º.

Baixado por Nelson Jose Mutambe (nelsonmutambe1@gmail.com)


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Quando tal pedido se funde em Responsabilidade Civil nos termos do art. 493º e ss., tem-se por base
um juízo de censura quanto ao comportamento do condutor. Diversamente, na RCO não está em causa
qualquer juízo de valor negativo, de censurabilidade da conduta do agente, estando, apenas em causa
atender à posição em que o responsável se encontra investido e quem tenha criado proveito próprio a
situação de risco que é a situação de risco de circulação automóvel é objetivamente responsável pelos danos
que resultem pela utilização deste veículo. Aqui, não se reside o juízo numa censura, mas sim na criação de
uma situação de risco, entendendo-se que quem tira proveito desta situação de risco deve ser civilmente
responsável pelos danos que venham a resultar desse mesmo veículo. Assim, se na primeira quem é
responsável é o condutor, na RCO é quem tira proveito da situação do risco é o proprietário do veículo
(“quem tenha a direção efetiva do veículo” – art. 503º). Quem tem direção efetiva não significa que o sujeito
responsável é aquele que conduz, uma vez que quem tem direção efetiva é quem tem um controlo de facto
sobre o veículo, que decide se este está parado ou não, se ele vai ou não à revisão. Assim, poderá dar-se o
caso de quem seja responsável não seja o condutor.
Responsabilidade por facto ilícito e culposo – coloca-se a questão de saber qual o regime do ónus da
prova. Isto foi discutido quer na jurisprudência, quer na doutrina. Será que a presunção do nº2 do art. 493º
aplica-se perante acidentes de viação, ou seja, será que se presume a culpa do condutor por ser uma
conduta perigosa? Sim ou não? Ora, depois de divergência na jurisprudência, o STJ pelo Assento 1/80 veio
estabelecer que o disposto não tem aplicação em matéria de situação de acidentes de viação terrestre, não
se presumindo a culpa do condutor, pelo que o lesado deverá ter de fazer prova, com uma exceção relativo a
nº3 do art. 503º (não é a localização sistemática mais feliz). Quanto ao regime do ónus da prova e segundo o
regime do art. 483º e ss., o lesado terá de fazer prova, salvo se o condutor for um condutor por contra de
outrem, hipótese em que é presumida a culpa do condutor. Esta solução – não se presume a culpa por
contra própria – esta solução é criticada por alguma doutrina, nomeadamente pela prof. Graça Trigo, pelo
prof. Sousa Ribeiro e Pinto Oliveira. A doutrina entende que não se encontra fundamento razoável para
presumir a culpa do condutor por conta de outrem, e não presumir a culpa nos restantes casos, estando aqui
uma solução inconstitucional por violação do princípio da igualdade. A doutrina entende que se deveria
presumir a culpa nos restantes casos. Já a jurisprudência considera que o art. não se aplica porque existe o
regime especial da RC Objetiva.
Art. 503º/3 – discutiu-se também na jurisprudência e na doutrina o âmbito da presunção de culpa do
condutor comissario, ou por conta de outrem, e a razão de ser tem precisamente haver com uma
preocupação de atenuar esta desigualdade de tratamento. Alguma doutrina, veio com tal objetivo, limitar o
âmbito da aplicação do art., circunscrevendo esta presunção ás relações internas. Contudo, a jurisprudência,
através de vários assentos – 1/83, 7/94, 3/94 – veio a rejeitar esta tese, defendendo que a presunção de
culpa vale nas relações externas, ou seja, nas relações entre o lesado e o comissario, valendo plenamente,
quer se trate de atropelamento, quer se trate de colisão de veículos. O prof. Antunes Varela sufraga esta
decisão dos Assentos.

O assento n º 1/83 define as seguintes interpretações:


 A primeira parte do nº 3 do art. 503º do CC estabelece a presunção de culpa do condutor do veículo
por conta de outrem pelos danos que causar, aplicável nas relações entre ele como lesante e o
titular ou titulares do direito a indemnização. Adota-se a orientação que vinha sendo sustentada
maioritariamente, embora com argumentos diversos, pela doutrina e pela jurisprudência.
 Deste assento decorre expressamente: por um lado, que a 1ª parte do nº 3 do art. 503º consagra
uma daquelas presunções legais de culpa excetuadas no trecho final do art. 487º/1; por outro lado,
que essa presunção de culpa se aplica às relações entre condutor-lesante e o titular do direito a
indemnização. Nada se explicita quanto a dois aspetos conexos: sobre se a presunção da 1ª parte do
nº 3 do art. 503º opera também no domínio das relações internas, entre o comitente e o comissário,
e se estende o seu âmbito de aplicação ao art. 506º, nº 1 (colisão de veículos), e ao art. 508º (limites
máximos da responsabilidade.

O STJ fixou jurisprudência que toca nestes dois pontos:

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 O assento 3/94 determina que a responsabilidade por culpa presumida do comissário, estabelecida
no art. 503º/3, 1ª parte, é aplicável no caso de colisão de veículos prevista no art 506º/1.
 O assento de 7/94 declara que a responsabilidade por culpa presumida do comissário, nos termos do
art. 503º/3, não tem os limites fixados no nº1 do art. 508º. É manifesto que se exclui todo o art. 508º
e não apenas o seu nº 1.

Houve discrepâncias quanto ao indicado assento nº 1/83: ´


 Sinde Monteiro admitia que a aludida presunção de culpa funcionasse para afastar os limites
máximos do art. 508º, mas considerava-a inaplicável nas relações internas, entre comitente e
comissário, e a respeito da colisão de veículos, prevista no art. 506º, nº 1.
 Sousa Ribeiro, interpretando mais restritivamente o alcance da norma da 1ª parte do art. 503º/3,
defendia que a presunção de culpa aí sancionada não tinha aplicação às relações internas entre
comitente e comissário, nem pelo que toca aos arts. 506º/1 e 508º, quer dizer, no entendimento de
que estes preceitos se referem a culpa provada e não a culpa presumida.
 Para AC, a presunção já referida envolve apenas um problema de prova (art. 350º/1). Logo, essa
presunção deve funcionar quando se esteja perante um preceito cuja aplicação depende da
existência ou não de culpa. Sustentando que a lei não faz qualquer distinção entre culpa provada e
culpa presumida, isto é, que a 1ª parte do art. 503º/3, com a interpretação dada pelo Assento nº
1/83, contem um preceito de índole genérica, só de afastar em face de disposição legal que lhe abra
reserva ou exceção.

Vamos então estudar o regime dos artigos 503.º e seguintes:

Pressupostos de que depende a Responsabilidade Civil Objetiva:

o Artigo 503º/1:
(1) Quem é objetivamente responsável? Aquele que tiver a direção efetiva do veículo e utilizar
no seu próprio interesse ainda que por intermedio do comissário. Exemplo: A é proprietário
do veículo conduzido pelo seu motorista – condutor comissario – quem responde
objetivamente é o proprietário, ainda que não esteja a conduzir. Quem tem a direção
efetiva, neste caso, é o proprietário.
Tem a direção efetiva, o sujeito que de facto goza ou usufrui das vantagens do veículo.
Quem tem, em regra, a direção do veículo é o proprietário do mesmo. A regra é a de quem
está juridicamente legitimado a um controlo de facto sobre o veículo é quem beneficia do
interesse dessa utilização (ex.: proprietário, usufrutuário, comodatário, locatário, adquirente
sob reserva de propriedade). Esta é a solução-regra. Contudo, esta regra comporta desvios:
se o titular juridicamente legitimado não exercer essa direção de forma efetiva, porque o
veículo foi furtado e o ladrão tem um acidente, aqui quem tem a direção efetiva do veículo
será o ladrão pois é ele que exerce o controlo de facto sobre o mesmo. Quem tem a direção
efetiva quem exerça o controlo de facto embora não esteja juridicamente legitimado para
tal.

A quem tenha o poder de facto sobre o veículo, acompanhado ou não e legitimação jurídica e o
utilize em proveito próprio, mesmo através de comissario, ajusta-se a designação de detentor.
Visto isto, deverão cumular-se dois requisitos: a direção efetiva do veículo e o interesse próprio na
utilização deste. Com tais elementos pretende a lei a definição da pessoa ou pessoas que criam o risco
especial da utilização do veículo, que fundamenta a responsabilidade objetiva.

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O interesse da pessoa que utiliza o veículo tanto pode revestir natureza patrimonial como não
patrimonial. Mas terá de tratar-se de um interesse próprio, embora, porventura, não exclusivo.
As mais das vezes, o detentor será o proprietário do veículo, ou, inclusive, um usufrutuário ou
adquirente com reserva de propriedade. Todavia, pela conjugação dos referidos elementos, a
responsabilidade objetiva também pode caber a um locatário ou comodatário, ou a outrem que o haja
furtado ou apenas utilizados abusivamente. Em contrapartida, o critério legal, como se afigura razoável,
permite excluir a responsabilidade, por exemplo, do aluno da escola de condução, durante a aprendizagem
(mas já não quando efetua o exame), do passageiro de táxi ou do comissário.
 Na hipótese de locação ou comodato, a responsabilidade objetiva recai apenas sobre o locatário ou
comodatário, ou solidariamente sobre o locador e locatário ou comodante e comodatário, ou,
ainda, apenas sobre o locador ou comodante? A solução do problema depende de saber quem cria
a risco e aproveita dele, isto é, relativamente a quem se verificam os dois elementos referidos no
art. 503º/1: a direção efetiva do veículo e o interesse próprio na sua utilização. Deverá, portanto,
atender-se ao que resulte da análise das circunstâncias do caso concreto.
 A orientação seguida por Almeida Costa sustenta que, no caso de condução de um veículo por um
locatário ou às suas ordens, os requisitos da direção efetiva e do interesse próprio se verificam em
relação a este e ao locador, pelo que a responsabilidade objetiva os atinge a ambos; e que, havendo
comodato, do mesmo modo o comodante é solidariamente responsável (o interesse próprio pode
reconduzir-se ao puro gosto de ser agradável ou atencioso para com um amigo), salvo quando o
empréstimo tenha sido feito em termos de se transferir ao comodatário o encargo da conservação
e bom funcionamento do veículo.
 Para Vaz Serra, nas situações de locação ou comodato, a responsabilidade objetiva impende sobre o
locatário ou comodatário, e não, em princípio, sobre o locador e comodante. Adverte, por exemplo,
a respeito do comodato, que o interesse próprio do comodante não pode ter uma extensão tão
larga que abranja o simples desejo de ser agradável a outrem, mas não e exclui a cedência do
veículo a um parente, amigo ou vizinho como meio de obter alguma vantagem pessoal.

Numa hipótese em que o veículo é conduzido no interesse e por conta de outrem, resulta do
nº1 e nº2 do art. 503º que quem tem a direção efetiva do veículo é o comitente e não o
comissario – quem responde pelos danos causados numa hipótese em que o condutor
comissario conduza o veículo nas suas funções de comissario, é o comitente. O comissario
responde se tiver culpa, mas nunca responde objetivamente, ou seja, independentemente
de culpa. Se o motorista sem culpa causa acidente, quem responde objetivamente é o
comitente. Se o comissário tiver culpa, o comissário responde segundo o regime do art. 483º
(causou o acidente culposamente) e 503º/3, presumindo-se a sua culpa. O comitente
responderá por duas vias, que será solidariamente responsável pelo art. 500º e com
fundamento no art. 503º/1. Se o comissario afasta a presunção de culpa, então o comissario
não responde, porque ele não responde objetivamente – apenas responde só e apenas o
comitente.
 Três situações distintas perante acidente de comissario:
i. Comissário que conduzia no exercício das suas funções não consegue afastar a
presunção de culpa do art. 503º/3: responde o comissário segundo o regime dos
arts. 483º e seguintes, presumindo-se a culpa (503º/3); assim como o comitente
segundo o regime do art. 500º o que significa que a medida da responsabilidade
do comitente é a medida da responsabilidade do comissário, que neste caso será
o dos arts. 483º, sendo uma responsabilidade solidária; não está excluído que
responda o proprietário do veículo segundo os artigos 503º e 508º.
ii. Comissário que conduzia no exercício das suas funções afasta a presunção de
culpa: o comissário não responde porque não praticou nenhum facto ilícito e
culposo e sobre ele não recai responsabilidade objetiva; quem responde será

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quem tenha a direção efetiva do veículo (art. 503º/1 e apenas segundo este
artigo e não segundo o art. 500º porque o comissário não responde).
iii. Comissário conduz fora do exercício das suas funções: aqui o condutor
comissário não vai responder como se fosse um condutor por conta de outrem,
não se aplica a presunção de culpa do art. 503º/3, vai responder segundo os
artigos 483º e seguintes, não se presumindo a sua culpa; e quem responde
objetivamente é também o condutor uma vez que é ele que tem o controlo
efetivo do veículo (parte final do art. 503º/3).

(2) Veículos abrangidos: automóveis, motorizadas, metropolitanos, bicicletas (veículos


motorizados ou não motorizados de circulação terrestre, independentemente se é ou não
necessário um título para a sua condução).

(3) Danos abrangidos: danos provenientes dos riscos próprios do veículo, independentemente
de este estar ou não em circulação. Os danos não abrangidos são aqueles que não resultem
do risco próprio do veículo – art. 503º/1 (ex.: entala a mão do veículo; alguém tropeça no
carro e magoa-se; são hipóteses residuais).
É indispensável que os danos traduzam a indicada especificidade dos riscos. Desde que ela se
verifique, tanto se abrangem os danos provocados pelos veículos em circulação, na via
pública ou num recinto privado, ou mesmo fora de qualquer via, como devidos a veículos
estacionados. Os danos que não correspondam a esta especificidade, isto é, os danos
relacionados com riscos estranhos ao veículo, ficam fora da responsabilidade objetiva. Mas
poderão, eventualmente, ser indemnizados no âmbito da responsabilidade por factos
ilícitos, caso se reúnem os respetivos pressupostos.

o Artigo 505.º - Causas de exclusão da Responsabilidade: há três causas de exclusão da RC


Objetiva.
Utiliza-se neste preceito a palavra “imputável” no sentido de o acidente se apresentar como
consequência de facto atribuível ou devido ao lesado ou a terceiro. É irrelevante que estes se
mostrem ou não suscetíveis de culpa, que a sua conduta geradora do sinistro mereça ou não
censura.
(1) Acidente for imputável ao próprio lesado:
 Já aludimos ao conceito de imputabilidade a propósito da RC por facto ilícito e culposo
quando dissemos quem era imputável ou inimputável. Aqui, o conceito está utilizado
noutro sentido, ou seja, no sentido de causalidade. Se o acidente é também causado
pelo lesado, sendo este imputável ou inimputável, exclui-se a Responsabilidade
Objetiva.
 Entendimento tradicional do artigo, mediante a perspetiva do prof. AV: a
responsabilidade de quem é objetivamente responsável é totalmente excluída
(ex.: A conduz o seu automóvel respeitando o Código da Estrada, é o
proprietário, no respeito pelo Código da Estrada e atropela B que não estava
numa passadeira e cujo sinal estava vermelho para peões) - segundo o
entendimento tradicional, pode excluir-se a responsabilidade segundo o
regime do art. 505º, porque o acidente foi causado pelo lesado,
independentemente deste ser ou não imputável. Aqui não estaria presente o
nexo de causalidade. Com efeito, o entendimento tradicional tem sido objeto
de critica e de reponderação, quer pela jurisprudência, desde 2007, e pela
doutrina. Esta solução que exclui a responsabilidade total, é eventualmente
desproporcional, uma vez que conduz à total exclusão de responsabilidade,

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independentemente do lesado ser ou não imputável e mesmo sendo imputável


ter culpa leve ou culpa grave e independentemente de o veículo ter contruído
com o seu risco para o acidente. Considera-se, mediante uma interpretação
sistemática e atualista e conforme ao DUE que a solução do art. 505º quando
exclui sem qualquer ponderação é uma solução errada, propondo-se, em
alternativa, a aplicação do art. 570º do CC. Este artigo permite ao juiz decidir se
mantém, reduz ou exclui a indemnização, mediante as circunstâncias em causa
(é inimputável? Tem condições financeiras). A doutrina mais alternativa (prof.
Brandão Proença, Graça Trigo e Calvão da Silva e alguma Jurisprudência) tem
proposto o seguinte entendimento: aplicar o art. 570º quando se verifique um
concurso entre o risco concretizado do veículo e a culpa do lesado e nesta
hipótese não se aplicaria o art. 505º, mas sim o art.570º - o risco concretizado
não se confundiria com um risco de mera circulação. Há hipóteses em que há
um concurso entre a culpa do lesado e o risco efetivo do veículo, que não é um
mero risco de circulação, aplicando-se nestas hipóteses o art. 570º. Terceira
hipótese: para alguma doutrina, quando o lesado seja inimputável e a culpa
seja leve, se deveria aplicar o art. 570º. Esta solução conseguiria através de
uma interpretação conforme e sistemática ao DUE.
No fundo, tem-se criticado a solução tradicional, estando a
jurisprudência por força da doutrina a afastar a solução rígida da
doutrina tradicional.

Para Almeida Costa, o legislador fixou como exclusivo pressuposto a exigência de que o facto do lesado
constitua a causa única do acidente. No sentido em que o acidente só é imputável ao lesado quando o “o
carro foi um instrumento amorfo, no processo danoso, nele intervindo sem o concurso daquela sua típica
aptidão para a criação do risco e que está na base da responsabilidade prevista no art. 503º/1”. Assim, se
esse facto apenas concorrer para o sinistro, verificando-se culpa do condutor, caberá ao tribunal, de
harmonia com o art. 570º, decidir sobre o montante ou até a exclusão da indemnização.

(2) Acidente for imputável a terceiro:


A está parado no sinal vermelho e é embatido por detrás por um automóvel em excesso
de velocidade e o veículo parado acaba por ser impelido contra outro veículo, havendo
um choque em cadeia. No âmbito da exclusão da responsabilidade por terceiro, também
é possível defender-se uma posição atualista e critica.
O terceiro aqui significa qualquer sujeito que não seja o condutor do veículo, o condutor
do outro automóvel que terá causado o acidente, o vigilante de um animal que se
atravessa na estrada levando a que um automóvel se despiste e cause dano a outrem, o
peão que atira uma pedra a um carro levando a que ele se despiste. Também
relativamente a esta causa de exclusão se poderá ponderar a solução que decorre do
art. 505º, que nos diz que em situações como esta o juiz exclui totalmente a
responsabilidade, pelo que não se consideram as hipóteses em que haja concurso de
responsabilidades entre o terceiro e o sujeito que tem a direção efetiva do veículo.
Assim, há quem proponha que se aplique o art. 570º, uma vez que não deixa de haver
um concurso entre o risco do veículo e a ação de um terceiro.

Segundo Almeida Costa, quando o acidente se dever a facto de terceiro, trata-se de um problema simples de
ligação causal dos danos verificados ao facto de terceiro, ou seja, dever-se o acidente tão-só a este. Se existir
concorrência de culpas entre o condutor e o terceiro, reparte-se correspondentemente a responsabilidade
(art. 497º). Assim como, havendo culpa do lesado e do terceiro, se aplica o disposto no art. 570º.

(3) Acidente que resulte de causa de força maior estranha ao funcionamento do veículo:

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Aqui o objetivo é excluir a RC Objetiva que não resulte dos riscos próprios do veículo.
Exemplo: uma inundação de tal modo que faz transportar os veículos que,
consequentemente, embatem em pessoas. São estas hipóteses que são excecionais que
preenchem esta causa de exclusão. Não confundir força maior com caso fortuito. Não é
excluída a responsabilidade nos seguintes casos: acidente causado por avaria do motor,
acidente causado por quebra dos travões, da embraiagem, da direção, pois este risco
provem do funcionamento do veículo. Como o veículo não funciona sem condutor, os
eventos fortuitos relativos ao condutor estão ainda ligados ao funcionamento do
condutor. Assim, se o condutor adormece sem culpa ou tem uma síndrome cardíaca e
tem um acidente, aqui mantém-se também a RC Objetiva.

Caso fortuito consiste em qualquer risco inerente ao funcionamento das coisas ou maquinismos que
o agente utiliza; força maior entende-se como uma força da natureza estranha a essas coisas ou
maquinismos. Nos termos do artigo 505º apenas se afasta a responsabilidade com esta última
fundamentação.
Tenha-se presente que o preceito analisado visa a exclusão da responsabilidade objetiva. Havendo
culpa do detentor ou condutor do veículo, o caso de força maior que com ela porventura concorra não evita
a responsabilidade. Constitui, todavia, uma circunstância atendível para efeitos de limitação equitativa da
indemnização em hipóteses de mera culpa (artigo 494º).

Quem beneficia da Responsabilidade? Diz o nº 1 do artigo 504.º que a RC por danos causados por
veículos aproveita tanto a terceiros como a pessoas transportadas, tal significa que o conceito abrange
desde logo as pessoa que se encontrem fora do veiculo (ex.: o peão, quem se encontre em outro
automóvel), as pessoas ocupadas no comando do veículo há depois um regime especial quanto à
responsabilidade, ou melhor, à titularidade do direito de indemnização pelas pessoas transportadas no
veiculo relativamente ao qual o seu detentor é responsável.
Hipótese: A é proprietário de um veículo e transporta um passageiro; A despista-se, sem culpa, e o
passageiro que era transportado sofre uma lesão à sua integridade física. A pergunta que se coloca é a de
saber se quem tenha a direção efetiva deste veículo (aqui o condutor responde objetivamente porque é o
proprietário) é responsabilizado por terceiros transportados. Aqui, há um regime especial: o do nº2 e o nº 3.
Distingue-se consoante a pessoa transportada seja transportada mediante celebração de contrato,
tratando-se de transporte oneroso (nº 2 do art. 504º) ou mediante transporte gratuito (nº 3). Do nº 2
resulta que no caso de transporte por virtude de contrato abrange só os danos que atingem a própria pessoa
transportada (danos pessoais), e quanto a danos materiais, apenas quanto àquilo que por elas for
transportada – há aqui uma restrição quanto aos danos indemnizáveis: quem tenha a direção efetiva do
veiculo não é responsável por todo e qualquer dano, mas apenas por danos pessoais (lesão à integridade
física, sofrimento com as dores, rendimentos que não se auferem por não se conseguir trabalhar) e coisas
transportadas pela pessoa (ex.: se a pessoa transportar um computador, tem direito a que seja
indemnizado). Estão excluídos aqui os danos reflexos, ou seja, danos de sujeitos de pessoas não
transportadas. Aqui, os familiares não terão direito a indemnização, porque se trata de danos que não
atingem a pessoa transportada. O mesmo se diga relativamente ao art. 495º quando reconhece o direito a
indemnização a terceiros. Há, pois, aqui, uma limitação restrita quanto aos familiares da pessoa
transportada e no que concerne às pessoas enunciadas no art. 495º. No referente ao nº 3 do art. 504º, diz
este artigo que a responsabilidade abrange, apenas, os danos pessoais da pessoa transportada. Esta solução
é mais limitada, pois não abrange os danos causados a coisas por ela transportadas e também os danos a
terceiros.
Poderá perguntar-se qual o fundamento que levou a esta solução? Desde logo, a razão de ser da
solução do nº 2 era seguinte: uma primeira duvida que se colocou foi – se é celebrado um contrato de
transporte será razoável que se permita à pessoa transportada convocar ou fundamentar o regime com base
na responsabilidade objetiva, na medida em que a pessoa transportada já beneficiava da RC Obrigacional
por incumprimento do contrato. Ainda assim, o legislador entendeu que poderia, pois, a RC Obrigacional

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depende de culpa, havendo uma tutela mais efetiva. Entendeu-se, ao mesmo tempo, contudo, que não seria
de equiparar a pessoa transportada e terceiros, porque de alguma forma se admitia que a pessoa
transportada aceita, de algum modo, o risco que comporta a circulação do veículo (já não a culpa), daí, não
se excluir totalmente o regime da RC Objetiva. Mais, o nº 3, que não tem a sua redação originaria (nesta a
pessoa transportada gratuitamente só tinha direito a indemnização se houvesse culpa do condutor, estando
aqui uma solução mesmo rigorosa), já reconhece direito de indemnização à pessoa transportada, segundo o
RC Obrigacional. Significa isto que há uma diferença de regime relevante quanto aos danos que decorram de
um acidente em que é transportado um acidente, quer a título oneroso, quer a título gratuito, e o passageiro
morre. Se ele morre e apenas é possível invocar a RC Objetiva, então aí, os danos de terceiros não são
indemnizáveis, só o dano da perda da vida, mas não os do art. 495º/3 (isto significa que filhos não teriam
direito à indemnização por obrigação de alimentos). Diversamente, se o acidente for devido a culpa do
condutor, então, os familiares da pessoa transportada que morreu terão direito a indemnização quer no que
concerne a danos pessoais, quer relativos a danos patrimoniais.
De acordo com a professor e alguma doutrina, esta solução deverá ser reponderada – parece haver
aqui um tratamento discriminatório. Particularmente relevante, é a obrigação de alimentos, não se negando
esta a alimentos a que estaria obrigado o lesante (a seguradora que responde por ele) porque a vítima era
transportada.

Quanto aos beneficiários da responsabilidade: no artigo 504º desenham-se diversas situações. Em


consonância, deve atender-se aos titulares do direito à indemnização e ao alcance das cláusulas sobre a
responsabilidade:
 A respeito dos terceiros afetados nas suas pessoas ou bens pelos acidentes (art. 504.º/1). Observe-
se que o conceito de terceiros abrange aqui, antes de mais, os que se encontravam fora do veículo.
Todavia, não apenas estes. Também se consideram terceiros as pessoas ocupadas na atividade do
veículo, sempre que o acidente se relacione com os riscos que são próprios daquele. Mas a
responsabilidade objetiva que se produza para tais terceiros, quando os ligue à entidade
transportadora um contrato de trabalho, há que ter o mesmo em linha de culpa.
 Relativamente às pessoas transportadas em virtude de contrato oneroso (nº 2). Aqui, declara a lei,
que a responsabilidade objetiva abrange apenas os danos que atinjam as próprias pessoas ou as
coisas por elas transportadas, objetos de uso pessoal ou bagagens. Consequentemente, excluem-se
da responsabilidade objetiva, tanto as coisas não transportadas com a pessoa, como as pessoas
enumeradas nos nº 2 e 3 do art. 495º e no nº 1 do art. 496º que hajam sofrido danos patrimoniais
ou não patrimoniais. Estas só têm um direito autónomo de indemnização, desde que exista culpa do
condutor.
Além da responsabilidade objetiva, funcionam, evidentemente, as regras do contrato de transporte.
E, sendo caso disso, aplicam-se as normas da responsabilidade por factos ilícitos.
 Quanto ao transporte gratuito – de natureza contratual ou por mera cortesia ou benevolência (nº
3). Nesta hipótese, a responsabilidade cobre apenas os danos pessoais sofridos pelo transportado.
A solução difere da que constava da versão originária do CC, em que o transportador só respondia,
nos termos gerais (art. 487º), pelos danos que culposamente causasse.
 Estabelece-se a nulidade das cláusulas que excluam ou limitem a responsabilidade referente às
pessoas transportadas (nº 4). Constitui uma norma de ordem pública.

O artigo 506º regula a hipótese em que se verifica colisão de veículos. Não é muito feliz porque
disciplina todas as hipóteses em que se verifique colisão de veículos, existindo culpa ou não existindo culpa.
Agora, traçaremos o regime por danos resultantes de um acidente, acidente esse que resulta de uma colisão
de veículos. Na primeira parte do nº 1 retira-se que se da colisão entre dois veículos ou mais e caso resultem
danos em relação a um dos veículos e não houver culpa, a Responsabilidade é repartida. Há uma colisão de
veículos, não se apura a culpa dos condutores envolvidos e, então, quem tenha a direção efetiva será
objetivamente responsável. A lei determina ainda que a medida da responsabilidade é repartida na
proporção dos riscos em que cada veículo contribuiu para o acidente (ex.: A é proprietário de um automóvel

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ligeiro e B é proprietário de um camião, aqui, apura-se que a proporção com que o camião contribuiu para o
acidente é de 2/3 e que a do automóvel ligeiro é de 1/3). Os critérios são: o peso, o cumprimento, a carga, a
velocidade, entre outros. Se os danos forem, contudo, causados por apenas um dos veículos, só a pessoa por
eles responsável é obrigada a indemnizar (ex.: um automóvel está parado e é embatido por um automóvel
que se despista).
Pode suceder que se verifique culpa, quer presumida, quer demonstrada, de um dos condutores na
colisão de veículos. Ora, se assim for, a solução que decorre a contrário do art. 506º é a de que é
responsável pelo valor integral dos danos dos veículos quem tenha tido culpa do acidente – o condutor do
veículo que contribuiu para o acidente. Se se apurar a culpa de ambos os condutores, diz o nº 2, que ambos
respondem pela respetiva culpa. Em caso de dúvida quanto ao risco, considera-se igual a medida de
contribuição do risco.
Relativamente a Colisão de um condutor por conta de outrem (comissario) com um condutor por
conta própria: aqui, o comitente responde pelos danos, ao abrigo do art. 506º, não se presumindo a culpa do
condutor por conta própria. A jurisprudência tem considerado que esta solução é de considerar.
O art. 506º na sua letra refere-se aos danos dos veículos, pelo que estes critérios de repartição da
responsabilidade, segundo a letra do art. 506º referem-se à responsabilidade pelos danos nos veículos. Será
que o mesmo critério deve valer quanto á repartição da responsabilidade quanto a outros danos, que não os
danos nos veículos (ex.: danos que sofram as pessoas transportadas; danos que sofra um peão). Será que o
critério do art. 506º é aplicado à repartição da responsabilidade perante outros danos? Esta questão não
está muito trabalhada. A professora considera que o regime da Responsabilidade Solidaria, onde havendo
pluralidade todos respondem perante o lesado pelos danos na sua integralidade, deverá aplicar-se. Assim, o
critério 506º não pode ser convocado pelos responsáveis pelo acidente para diminuir a sua responsabilidade
para se dizer que só se responde pelos danos na medida da repartição do risco. ex.: da colisão resulta lesão
para um peão na rua e que é atingido pela colisão entre o carro e o camião, o peão terá direito a ser
indemnizado por cada um dos responsáveis do acidente pelo dano integral que tenha sofrido. O proprietário
do automóvel ligeiro não pode defender-se que só contribuindo pelo risco na proporção de 1/3, o lesado
terá de ir pedir ao camionista 2/3 continua a valer aqui, o regime da responsabilidade solidária (art. 507º). O
art. 506º só valerá entre os danos relativos aos veículos e no âmbito das relações internas. Quanto aos
demais danos, prevalece a regra do regime da solidariedade e no âmbito das relações internas é que poderá
ser invocado o critério da medida do risco (art. 506º). Ex.: A e B colidem entre si, A transporta um passageiro
e nenhum dos condutores teve culpa, ambos os veículos eram conduzidos pelos respetivos proprietários –
aqui, o critério da medida da responsabilidade far-se-á mediante o critério do art. 506º. No que concerne à
pessoa transportada, esta pode prevalecer-se, ao abrigo do 507º, quanto ao outro veículo.

O artigo 506º encara a colisão de veículos. Analisemos as várias situações previstas:


 Artigo 506º/1, integrando no contexto das normas sobre a responsabilidade pelo risco, dirige-se
diretamente à hipótese de ausência de culpa dos condutores. Haverá, então, que distinguir se os
danos são produzidos por um só ou por ambos os veículos. No primeiro caso, apenas o detentor do
veículo que originou os danos é obrigado a indemnizar. No segundo caso, a responsabilidade
reparte-se na proporção em que o risco de cada um dos veículos tenha contribuído para os danos,
sendo indiferente que estes se verifiquem sobre os dois veículos ou só quanto a um deles. Se
existirem dúvidas a respeito da medida da contribuição de cada um dos veículos para os danos,
considera-se que os produziram por igual (art. 506º/2).
o Exemplo: os veículos X e Z colidiram, tendo sofrido, respetivamente, danos no valor de 500 e
de 1.600 euros; o tribunal apurou que, para esses danos, o veículo X contribuiu em dois terços
e o veículo Z apenas num terço, sem que se verificasse culpa de qualquer dos condutores.
Logo, de acordo com o disposto no art. 506º/1, há que somar os danos derivados da colisão
(500 + 1.600) e repartir o montante total de responsabilidade assim obtido (2.100)
proporcionalmente à participação dos veículos na produção desses danos (dois terços = 1.400
e um terço =700); ou seja, o responsável pelo veículo X suporta o prejuízo de 500 euros nele
ocasionado e deve satisfazer 900 euros ao dono do veículo.

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 A letra do art. 506º/1 reporta-se apenas a danos relativos aos veículos. Mas, segundo Almeida
Costa, parece manifesto que a mesma solução deva abranger todos os prejuízos resultantes da
colisão e indemnizáveis de acordo com os preceitos anteriores, designadamente também os
danos pessoais causados aos responsáveis pelos riscos dos veículos, às pessoas ou coisas neles
transportadas e ainda a terceiro ou no património destes.
Afigura-se também quanto aos danos causados a terceiros pela colisão de veículos se justifica a
aplicação do art. 506º. De resto, o problema apenas se levanta no âmbito das relações internas
entre os detentores dos veículos, pois, em face dos terceiros, qualquer deles responde
solidariamente (art. 497º e 507º);
 Vaz Serra manifesta-se, porém, no sentido de que o art. 506º só compreende os danos
causados nos veículos e nas pessoas dos responsáveis por esses riscos. Ente Vaz Serra que,
relativamente aos danos causados a terceiros, vigora o princípio da responsabilidade solidária
dos vários representantes pelo dano (art. 507º). Conclui, na verdade, que, “perante os
terceiros lesados, qualquer dos veículos foi causa da totalidade dos danos (que se não teriam
verificado sem o concurso de qualquer dos veículos) e, por isso, o respetivo responsável pelo
risco é obrigado à indemnização integral deles”.

Problema conexo e não menos discutido era o da reparação dos danos provocados pela referida
colisão de veículos às pessoas transportadas gratuitamente. Dado que o transportador só respondia
em relação ao passageiro quanto aos danos produzidos com culpa (art.504º/2), que na hipótese se
não verifica, poderia tal passageiro reclamar do responsável pelo risco do outro veículo a inteira
indemnização do prejuízo ou apenas a indemnização correspondente à proporção em que o risco
desse veículo concorreu para o dano? Pelo que toca aos danos pessoais a questão encontra-se
resolvida. E relativamente aos danos não pessoais? A resposta oferece dúvidas. Vaz Serra fala de
uma responsabilidade parcial; Já Antunes Varela entende que, quanto aos danos pessoais dos
passageiros em regime de transporte gratuito, ambos os condutores respondem objetivamente,
embora, quanto aos danos nas coisas por aqueles transportadas, não haja, faltando culpa,
responsabilidade de qualquer destes últimos.

 Quando se verifique a culpa de um dos condutores ou de ambos: nestes casos, haverá


responsabilidade pelos danos causados.
 Nota: o acórdão do STJ de 7-II-1985, sustenta a culpa exclusiva do condutor
que desrespeita os sinais luminosos.
Quando se verifique a culpa de ambos, mercê do concurso recíproco de culpas, deve atender-se,
para fixação de indemnização ao que dispõe o artigo 570º. Em caso de dúvida, reputa-se igual a
contribuição da culpa de cada um dos condutores (art. 506º/2).

O artigo 507º vem também consagrar a responsabilidade solidária – a solução que resulta é: sempre
que se verifica um acidente de viação e haja vários responsáveis, todos respondem solidariamente. Ainda
que um responda pela culpa, outro pelo risco, ambos respondem solidariamente – todavia, nesta hipótese, o
responsável pelo risco é titular de um direito de regresso ao abrigo do nº 2 do art. 507º.

Quando houve pluralidade de responsáveis, em face de terceiros, ou das pessoas transportadas, ou


seja, nas relações externas, os vários responsáveis respondem solidariamente (art. 507º). Mas, nas relações
internas, há que distinguir as seguintes hipóteses: (1) não se verificando culpa de qualquer dos responsáveis,
isto é, se existir apenas concorrência de riscos, “a obrigação de indemnizar reparte-se de harmonia com o
interesse de cada um na utilização do veículo” – critério que vale, tanto no caso de os danos terem resultado
de um veículo utilizado por diversas pessoas, como no caso de serem produzidos por mais que um veículo
(art. 507º/2, 1ª parte). Sendo que, sustenta Mário de Brito, remetendo para a lição de Vaz Serra, que, em

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caso de dúvida, deve considerar-se igual o interesse dos vários responsáveis, como resulta analogicamente,
do art. 506º/2; (2) se apenas algum dos responsáveis teve culpa, isto é, produzindo-se concorrência entre a
culpa e o risco, somente aquele responde, cabendo ao responsável pelo risco que satisfaça a indemnização o
direito de regresso por inteiro contra ele, mas não inversamente (artigos 507º/2, 2ª parte e 497º/2).
Há uma situação de pluralidade de responsáveis que merece especial referência: a que inúmeras
vezes resulta de um mesmo facto danoso revestir a simultânea qualidade de acidente de viação e acidente
de trabalho. Existirá, neste caso, mais do que um responsável, sempre que o detentor do veículo e a
entidade empregadora não sejam uma única pessoa. Exemplo: um empregador da empresa X, ao dirigir-se à
residência de certo cliente para efetuar uma cobrança, é atropelado pela viatura de terceiro. A disciplina
jurídica apresenta-se clara do ponto de vistas das relações entre sinistrado e os responsáveis. Entende-se
que aquele pode exigir a indemnização ao responsável pelo veículo ou à entidade empregadora. E também
está fora de questão que indemnizações não se cumulam, mas apenas se completam até ao inteiro
ressarcimento do dano. Somente se excetua a hipótese de o quantitativo de uma das indemnizações exceder
a outra, aqui, a vitima poderá exigir a diferença.

Já o artigo 508º estabelece limites máximos – se a responsabilidade se fundar na culpa, aplicar-se-á


o regime geral de que o responsável é obrigado a indemnizar por todos os danos, salvo perante mera culpa e
aplicação do artigo de redução da indemnização. Em todo o caso, se a R for objetiva há um limite máximo à
indemnização. Esta é uma diferença importante de regime entre a RC objetiva por acidentes de viação e RC
por culpa. Esta diferença de regime era relevante na redação originaria, porquanto, o limite máximo da
indemnização do art. 508º do CC eram limites muitos baixos (200 contos). Havia, aqui, uma diferença muito
significativa de regime, o que podia levar a que o lesado tivesse todo o interesse de fazer prova da culpa do
condutor. Hoje em dia, não é tanto assim, por alteração do art. 508º, de 2004, tendo sido alterado por
imposição do DUE – exige limites mínimos. O limite máximo tem de corresponder ao capital mínimo
necessariamente coberto pela seguradora, assim, a indemnização fundada em acidente de viação tem como
valor o estipulado no seguro obrigatória de RC automóvel (5 milhões de euros em danos corporais e 1
milhão para danos materiais – art. 12º do DL que está no moodle). Hoje em dia, dificilmente, num acidente
que envolva dois veículos, o valor dos danos ultrapassa este limite. Todavia, isto pode acontecer em
acidentes muitos graves – acidentes que envolvam transportes coletivos. Aqui, há um maior número de
lesados, sendo ultrapassado o limite máximo.

O artigo 508º tem como referência o capital mínimo do seguro obrigatório da responsabilidade civil
automóvel.
Não se transpôs na integra a referida diretiva. Faltou precisamente a parte respeitante aos limites
individuais de indemnização. O legislador português, ao transpô-la, não foi além da fixação dos montantes
globais de indemnização por acidente, nada determinando para a hipótese da repartição desses montantes
quando exista pluralidade de lesados.
Havendo mais que um lesado, impõe-se a presença de todos os autores da ação de indemnização.
Trata-se de um caso de legitimidade plural na vertente de coligação necessária. Se nem todos os lesados
propuserem a ação de responsabilidade civil baseada no risco, ocorre uma situação de ilegitimidade ativa. É
sanável por intermédio do incidente de intervenção principal provocada.
Discute-se se vigorará, no âmbito da responsabilidade por acidentes de circulação terrestre, a norma
de graduação equitativa da indemnização que o art. 494º consigna. AC opta pela afirmativa, refere que, o
art. 499º declara extensivos, em princípio, à responsabilidade pelo risco, na parte aplicável, os preceitos
reguladores da responsabilidade por factos ilícitos. E faz perfeitamente sentido atuar com a doutrina do art.
494º, quando se verifique mera culpa do condutor ou no caso de responsabilidade pelo risco. Cabe, pois,
atender à situação económica do lesado e do responsável, bem como às demais circunstâncias do caso. É
evidente que, na hipótese de responsabilidade sem culpa, sempre a indemnização encontra os parâmetros
máximos do art. 508º.

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Posto isto, se se verifica um acidente de viação, o lesado que pede uma indemnização por danos
fundados no acidente, tem de fundar o seu regime. Aqui, pode fazer prova dos requisitos da RC por facto
ilícito e culposo ou da RC Objetiva. E pode convocar os dois fundamentos. Qual a diferença? O responsável
não será necessariamente o mesmo. Na primeira, será o condutor que não tenha sido diligente; na RC
Objetiva será quem tenha a direção efetiva do veículo, por regra, o seu veículo. Aqui, poderá haver
diferenças se quem tem a direção efetiva não é o proprietário. Quanto ao fundamento, é evidente que se a
RC por facto ilícito e culposo que pressupõe a culpa que, em regra (condutor por conta de outrem), não se
presume, pelo que o lesado tem, por isso, este ónus. Haverá aqui vantagens para o lesado? Pode sim – o
universo dos danos indemnizáveis não é exatamente o mesmo. Na RC Objetiva há alguns limites, desde logo
o art. 508º, o que pode ter relevo se o acidente envolver muitos lesados, o art. 504º/2 e 3 também
estabelece alguns limites no que concerne ao direito à indemnização dos familiares que lhes é vedado;
finalmente, o regime da culpa do lesado – se o acidente for imputável a culpa do condutor e se verifique
simultaneamente culpa do lesão aplica-se o art. 570º, pelo que o juiz pode ainda assim manter ou reduzir,
não tendo necessariamente de a excluir. Já na perspetiva tradicional, se houver RC Objetiva mais culpa do
lesado, ter-se-ia de aplicar o regime do art. 505º, o que significaria que o lesado viria excluída a
indemnização. Estes são os três aspetos mais importantes: 1) fundamento em culpa; 2) universo dos danos
indemnizáveis; 3) art. 505º e art. 570º.
O primeiro é mais rigoroso, porque depende de culpa, mas uma vez demonstrado esses
pressupostos, há mais vantagens. O regime da RC Objetiva beneficia o lesado na medida em que facilita o
regime da prova, mas depois há limitação quanto ao universo dos danos indemnizáveis e quanto ao regime
do art. 505º.

Seguro Obrigatório:
Desde 1979, foram instituídos o seguro e o fundo de garantia automóvel. A lei obriga o seguro
perante veículos terrestres a motor (não abrangendo bicicletas), sem o qual o veículo não pode circular.
Características principais: (1) seguro pessoal e não real (seguro cobre a Responsabilidade Civil da pessoa que
possa ser obrigada a indemnizar por veículos causados a terceiros – não é objeto o dano, mas a obrigação de
indemnizar); (2) sujeitos garantidos pelo contrato de seguro: o tomador do seguro, ou seja, o proprietário, o
comodatário, o usufrutuário, todos os legítimos detentores do veiculo e os ladroes; 3) este é independente
do fundamento da Responsabilidade Civil; (3) o evento cobrado/segurado é a obrigação de indemnização
(ex.: A que conduz o sue automóvel, despista-se e morre – aqui a seguradora cobre a obrigação de
indemnizar não o dano); (4) âmbito material da obrigação da seguradora: corresponde à obrigação de
indemnizar compreendida na lei civil, segundo os limites mínimos do DL referido – o valor da obrigação da
seguradora coincide com a medida de obrigação de indemnizar que o responsável esteja obrigado (há
algumas exclusões- art. 14º do DL 291/2007, aqui a seguradora não cobre danos corporais e materiais
sofridos pelo condutor); (5) terá direito a seguradora ao direito de regresso? Ou seja, ela responde perante o
lesado. Terá direito de regresso perante o responsável. Em princípio não, a seguradora suporta
definitivamente. Há exceções que vêm definidas no art. 27º: causador doloso do acidente (aqui não entra a
mera culpa); autores e cúmplices dos autores de furto do veículo; se o condutor conduzir com uma taxa de
alcoolémia superior à legalmente permitida e sob estupefacientes – função preventiva; não cumpra, o
proprietário do veiculo, a inspeção exigida; se o condutor abandona o sinistrado – mecanismo de prevenção;
Contra quem é proposta a Responsabilidade Civil? Só contra a seguradora, em regra. Não perante o
civilmente responsável, só se verifica tal situação quando se ultrapassa o limite. Se não houver seguro
obrigatório, o lesado não ficará sem indemnização, respondendo, aqui, o Fundo de Garantia Automóvel.
O artigo 496º/4º - para se fixar uma indemnização por danos não patrimoniais, o CC faz referência à
equidade. Contudo, num processo dirigido às seguradoras, elaborou-se uma Portaria, que estabelece o valor
razoável mediante a verificação de determinados lesados, que procurou estabelecer um procedimento que
visa acelerar o processo de indemnização e evitar os litígios em tribunal. Se arbitrarem uma indemnização
inferior, serão condenadas pelo tribunal no dobro da taxa sobre a diferença entre a proposta apresentada e
a que fixada na decisão judicial.

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 Danos causados por instalações de energia elétrica ou gás (artigo 509.º e 510.º):

Este caso de responsabilidade pelo risco é contemplado nos artigos 509º e 510º do C.C.
Nos termos do artigo 509º, ‘’ 1. Aquele que tiver a direção efetiva de instalação destinada à
condução ou entrega da energia elétrica ou do gás, e utilizar essa instalação no seu interesse, responde
tanto pelo prejuízo que derive da condução ou entrega da eletricidade ou do gás, como pelos danos
resultantes da própria instalação, exceto se ao tempo do acidente esta estiver de acordo com as regras
técnicas em vigor e em perfeito estado de conservação.’’.
Abrangem-se, pois, os danos provocados por transporte ou distribuição de energia elétrica e de gás,
bem como, mercê de flagrante identidade, argumento não pacifico, os que decorram da sua produção ou
armazenagem. Ponto fulcral a salientar é que, à semelhança do preceituado a respeito dos acidentes de
viação (artigo 503/1), a responsabilidade que emerge de tais danos cabe a quem tenha a direção efetiva
dessas fontes de energia e as utilize no interesse próprio, quer dizer, às empresas que as explorem como
proprietárias, concessionárias ou a outro título.
A responsabilidade das empresas existe, não só pelos danos que provenham de culpa dos seus
órgãos, agentes, representantes ou comissários, mas também pelos ligados a deficiências do sistema em si.
Contudo, nesta segunda alternativa, exclui-se responsabilidade se ao tempo do acidente a instalação
correspondia às normas técnicas vigentes e se encontrava em perfeito estado de conservação (artigo
509º/1). Ressalva inexistente no âmbito dos acidentes ocasionados por veículos de circulação terrestre
(artº.503/1).
Do mesmo modo, não obrigam a reparação os danos atribuídos a força maior, que se considera
‘’toda a causa exterior independente do funcionamento e utilização da coisa’’ – por exemplo, a queda de um
poste de alta tensão em consequência de ciclone (artº 509º/2). Outro tanto sucede com os danos devidos a
facto do próprio lesado ou de terceiro, que, dado não oferecerem dúvidas, o legislador entendeu
desnecessário mencionar expressamente.
Além disto, afastam-se do regime desta responsabilidade objetiva os danos motivados por utensílios
de uso da energia (artº509º/3). Será a hipótese dos fogões, frigoríficos, aparelhos de televisão, instalações
de ar condicionado, etc.
Ao circunscrever a amplitude da indemnização, o artigo 510º acentua que a sua disciplina só vigora
‘’quando não haja culpa do responsável’’ e fixa, ‘’para cada acidente, como limite máximo o estabelecido no
nº1 do artigo 508º, salvo se, havendo seguro obrigatário, diploma especial estabelecer um capital mínimo de
seguro, caso em que a indemnização tem como limite máximo esse capital’’.
Indicou-se a disciplina vigente no nº1 do artigo 508º. O legislador repete a remissão da versão
precedente do artigo 510º. Todavia, o montante assim determinado é substituído pelo capital mínimo do
seguro obrigatório exigido nas situações consideradas. Repare-se, ainda, que os quantitativos mencionados
se reportam a cada lesado, sem que se assinalem igualmente limites em função do número deles.

Os artigos 509.º e 510.º definem a disciplina geral sobre danos resultantes de instalações de energia
elétrica e de gás. Contudo, são naturalmente suscetíveis de extensão ou adaptação a casos especiais. Tal
sucede, por exemplo, com o disposto para prevenir as condições de segurança das unidades de alojamento e
de quaisquer das suas partes integrantes, ainda que não afetas à exploração turística nem locadas.

Prescrição
A lei ocupa-se da prescrição da obrigação de indemnização no art. 498º/1. Esta norma consagra dois
prazos prescricionais:
1. Três anos a contar da data em que o lesado tenha conhecimento do seu direito, embora mesmo
que com o desconhecimento da pessoa do responsável e de extensão integral dos danos.
2. Vinte anos (art. 309º) a contar do facto danoso.

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Prescreve igualmente no prazo de três anos, a partir do cumprimento, o direito de regresso entre
responsáveis (art. 498º/2).
Se o facto ilícito constituir um crime para que a lei penal consagre um prazo mais logo, será este o
aplicável (art. 498º/3). De referir que atropelar outrem causando-lhe morte terá o prazo prescricional de
cinco anos.
Ainda assim, a prescrição do direito de indemnização não importa a prescrição das ações de
reivindicação ou de restituição resultante do enriquecimento sem causa que, porventura, tenham lugar (art.
498º/4).

Obrigação de indemnização
A obrigação de indemnização é uma das obrigações consagradas no CC. A constituição desta
obrigação teve como propósito reunir num único instituto os princípios relativos aos efeitos da
responsabilidade civil, que são comuns a todas as suas modalidades.
A obrigação de indemnizar, reparar ou compensar um dano pode ter várias fontes. Resultará do não
cumprimento definitivo (art. 798º), da mora (art. 804º/1) ou cumprimento defeituoso de uma obrigação em
sentido técnico (ex.: arts. 913º e ss. e 1218º e ss.), ou impossibilidade da prestação por causa imputável ao
devedor (art. 801º/1). Ao lado de ilícito contratual, há também ilícitos extracontratuais ou extra
obrigacionais, que deriva da prática de um facto culposo, ou seja, que ofenda um direito subjetivo alheio ou
um interesse de outrem juridicamente protegido (art. 483º). Poderá também resultar de situações de
responsabilidade objetiva ou pelo risco, ou seja, que não dependem de culpa (arts. 500º e ss.) ou mesmo de
comportamentos lícitos danosos (ex.: arts. 339º/2, 1322º/1, 1347º/3, 1552º e 1561º/1). Refere-se ainda
como fonte de obrigação de indemnizar a responsabilidade pré-contratual e a responsabilidade pós-
contratual.
Todavia, é necessário recordar que, ao conceito de indemnização em sentido rigoroso jurídico-
técnico, ligar-se-á tão-só a uma ideia reparatória estrita, ficando de foram a realização coativa do próprio
direito.
A questão dos sujeitos da obrigação de indemnizar já foi referida anteriormente. Contudo é
importante relembrar que o sujeito passivo é a pessoa a quem se imputa o facto constitutivo de
responsabilidade; e o sujeito ativo será o titular do direito ou interesse violado, embora se admitam algumas
exceções, no caso de morte ou lesão corporal da vítima (art. 495º e 496º).
Vamos agora ocuparmo-nos dos danos compreendidos na indemnização e das fórmulas de cálculo
desta, que serão as questões levantadas pelo art. 562º.

Danos compreendidos na indemnização


Teremos então de delimitar os danos reparáveis, ou seja, a medida da indemnização.
A lei impõem que a reparação dos prejuízos resultantes para o lesado do facto constitutivo da
responsabilidade. Pelo que não se abrangem nessa obrigação todos os prejuízos verificados em seguida ao
facto danoso, mas apenas os que se mostrem por ele produzidos.
Em muitos casos, a determinação do nexo de causalidade não levanta dúvidas. Porém, por vezes,
surgem graves dificuldades, sobretudo quando entre o facto e os danos se interpõem outras ações humanas
ou simples acontecimentos naturais. Daí a necessidade de um critério que defina o exigível nexo de ligação
do facto ao dano.
Remete-se para as doutrinas apresentadas a propósito do nexo de causalidade.
Contudo, o art. 563º do CC faz referência à doutrina da causalidade adequada. Este regime é o
mesmo para todas as obrigações de indemnização, o que não impede, porém, que possam vigorar preceitos
especiais em certos casos. Na formulação da causalidade adequada encontramos presente a probabilidade
do dano, ou seja, a indemnização confina-se aos danos que o lesado provavelmente não teria sofrido se não
fosse a lesão do seu direito ou interesse protegido.

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