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R EPÚBLICA F EDERATIV

EDERATIV A
TIVA DO B RASIL
Presidente: Fernando Henrique Cardoso
Vice-Presidente: Marco Antonio de Oliveira Maciel

M INISTÉRIO DO M EIO A MBIENTE


Ministro: José Sarney Filho
Secretário-Executivo: José Carlos Carvalho
Secretário de Biodiversidade e Florestas: José Pedro de Oliveira Costa
Diretor do Plano Nacional de FLorestas: Raimundo Deusdará Filho
Gerente do Projeto de Uso Sustentável dos Recursos Florestais: Newton Jordão Zerbini

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO -


FAO
Subdiretor Geral do Departamento de Florestas: Hosny El-Lakane
Chefe de Políticas e Instituições Florestais: Manuel Paveri Anziani
Subdiretor Geral para América Latina e Caribe: Gustavo Gordillo de Anda
Chefe de Operações: Roberto Samanez Mercado
Representante no Brasil: Richard W. Fuller
Comércio de Madeiras Tropicais:
Subsídios para a Sustentabilidade das
Florestas Tropicais
M INISTÉRIO DO M EIO A MBIENTE
P ROJET
ROJETOO T CP/BRA/047 (A POIO À A GEND
TCP/BRA/047 GENDAA F LOREST AL
ORESTAL NO B RASIL )
Diretor Nacional: Raimundo Deusdará Filho
Coordenador: Newton Jordão Zerbini

Consultor
Humberto Angelo

Editoração
Patrícia da Gama
Capa
Eduardo da Gama
Humberto Angelo

Comércio de Madeiras Tropicais:


Subsídios para a Sustentabilidade das
Florestas Tropicais

M INISTÉRIO DO M EIO A MBIENTE


B RASÍLIA
1999
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

RESUMO
O presente trabalho estuda o comércio de madeiras tropicais com o objetivo de for-
necer subsídios para o estabelecimento de políticas, programas, normas e ações neces-
sárias ao desenvolvimento da comercialização de produtos florestais madeireiros origi-
nários da floresta tropical. O trabalho trata não somente das condicionantes do comér-
cio de madeiras tropicais mas também realiza uma análise econômica do papel do Brasil
no mercado internacional de madeiras tropicais. O estudo oferece, ainda, estimativas
das funções de exportação de madeiras tropicais brasileiras, no período de 1972 a 1994,
tendo a região Amazônica como base produtora. As variáveis relacionadas com as ex-
portações são os preços relativos, a malha viária, os subsídios à exportação, a capacida-
de instalada, o consumo doméstico, a expansão da renda internacional e o papel das
coníferas como substitutas das madeiras tropicais brasileiras. As elasticidades dessas
variáveis juntamente com as demais informações contidas neste ensaio são de suma
importância para responder a uma série de questionamentos, tais como a definição de
políticas comerciais, florestais, ambientais, e, para assegurar a sustentabilidade da flo-
resta tropical brasileira via os instrumentos de mercado.

PROJETO UTF/BRA/047 - “AGENDA POSITIVA PARA O SETOR FLORESTAL DO BRASIL”


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PROJETO TCP/BRA/6712 - “APOIO À AGENDA FLORESTAL DO BRASIL”
AGENDA POSITIVA PARA O SETOR FLORESTAL DO BRASIL
PROGRAMA NACIONAL DE FLORESTAS

1 . INTRODUÇÃO
O comércio de madeiras tropicais pode, sem dúvida, influenciar o modo como a flo-
resta é explorada, porém há que se diferenciar o comércio doméstico do internacional.
O comércio internacional não é um dos principais componentes para o desmatamento
das floresta tropicais, visto que somente seis por cento de toras tropicais destinam-se a
esse mercado. A conversão isolada de florestas para outros usos, como a agricultura e
pecuária, aliada ao aumento do consumo doméstico são fatores significativos no pro-
cesso de desmatamento. Logo, a pressão exercida pelo mercado internacional não é uma
componente expressiva do desmatamento nas regiões tropicais.
As distorções do mercado interno e as políticas falhas têm sido as principais respon-
sáveis pela conversão de áreas de florestas em áreas para agricultura ou para outros
usos.
O fator chave para reduzir o aumento das áreas desmatadas nas regiões tropicais,
relacionadas com a extração de madeira, é assegurar incentivos econômicos devida-
mente direcionados para se obter um manejo sustentável das florestas. As políticas rela-
cionadas ao manejo florestal nos países produtores promovem e regulam tais incenti-
vos, propiciando a maximização do potencial gerador de divisas advindas da extração de
madeiras nos trópicos.
O ponto de partida, portanto, é a criação de uma política florestal adequada por parte
dos países produtores, que contemplem o manejo adequado das florestas produtoras de
madeira de forma a sustentar a produção ao longo do tempo dos recursos florestais,
para o comércio dos produtos.
As várias opções de políticas comerciais existentes, e pertinentes ao comércio de ma-
deiras tropicais, contribuem para que se tenha um mecanismo adequado do ponto de
vista econômico e ambiental, desde que exista vontade política e condições de
aplicabilidade por parte dos governos. O Brasil não é exceção a essas observações.
Sabe-se que o desmatamento aumentou nos últimos anos, principalmente na Região
Amazônica. Porém, não é o comércio internacional o responsável e, sim, as distorções
existentes no comércio interno e na política adotada de uso do solo na região. Isto expli-
ca o fato de o País em 1980 ter suspendido a exportação de toras e, mesmo assim, a
extração de madeira continuar sendo executada de forma acelerada, sem medidas ade-
quadas de manejo e sem que as indústrias de transformação atingissem níveis adequa-
dos de beneficiamento.
Soma-se a isso a inexistência de incentivos econômicos que promovam a extração
sustentada das florestas produtivas, fazendo com que outros usos dos solos sejam mais
interessantes do que a produção madeireira.
Apesar da pouca participação das madeiras tropicais no comércio internacional, ob-
serva-se um aumento da exploração dos recursos tropicais. Assegurar a produtividade
da floresta tropical de forma sustentada é o caminho capaz de garantir a utilização dos
recursos florestais causando os menores danos possíveis ao ambiente, sem interferir de

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Comércio de Madeiras Tropicais: Subsídios para a Sustentabilidade das Florestas do Brasil
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

forma autoritária no fluxo comercial entre as nações e sem prejudicar o comércio do-
méstico.
O presente trabalho estuda o comércio de madeiras tropicais com o objetivo de for-
necer subsídios para o estabelecimento de políticas, programas, normas e ações neces-
sárias ao desenvolvimento da comercialização de produtos florestais madeireiros de
origem na floresta tropical. O trabalho trata não somente das condicionantes do comér-
cio de madeiras tropicais mas também realiza uma análise econômica do papel do Brasil
no mercado internacional de madeiras tropicais.

2 . PRODUÇÃO E COMÉRCIO MUNDIAL


Nos últimos anos, tanto a produção quanto o comércio de madeiras tropicais tiveram
expansão. Entretanto, os países membros da International Tropical Timber Organization
(ITTO) apresentaram quedas de produção e exportação no período 1995-97.
Do total mundial da produção de toras tropicais, somente 17% têm fins industriais; o
restante tem sido usado principalmente como fonte de energia. Do volume usado na
indústria, 275 milhões de m3, cerca de 31% são exportados, ou seja, 86 milhões m3.
Assim, somente 6% do volume total de toras tropicais atingem o mercado internacional.
Os países em desenvolvimento contabilizam em suas exportações a modesta cifra de
US$ 11 bilhões, dos US$ 97,5 bilhões gerados por esse mercado, contribuindo assim em
cerca de 11% no volume total das exportações. A América do Sul tem a menor participação
no mercado internacional de produtos florestais. Enquanto a produção de toras apresen-
tou um crescimento estável nas duas últimas décadas, a demanda por madeira nos países
produtores aumentou muito, reduzindo as exportações e aumentando as importações.

97
ano

96

95

170 171 172 173 174 175


metros cúbicos (milhões)
Fonte: FAO (1998)

Figura 1
1. Produção de madeiras tropicais na forma de toras por região.

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PROJETO TCP/BRA/6712 - “APOIO À AGENDA FLORESTAL DO BRASIL”
AGENDA POSITIVA PARA O SETOR FLORESTAL DO BRASIL
PROGRAMA NACIONAL DE FLORESTAS

As figuras de 1 a 5 mostram os principais aspectos do comércio de toras tropicais


como produção, exportação e consumo por região

Ásia-Pacífico
1997
América Latina
1996
África 1995

0 20000 40000 60000 80000 100000 120000

metros cúbicos (milhões)


Fonte: ITTO (1998)
Figura 2
2. Produção de Toras Tropicais por Região.

América Latina

Ásia-Pacífico 1997
1996
África 1995

0 2000 4000 6000 8000 10000 12000

Fonte: ITTO (1998) metros cúbicos (milhões)

Figura 3
3. Exportação de Toras Tropicais por Região.

América Latina

Ásia-Pacífico 1997
1996
África 1995

0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 40000


Fonte: ITTO (1998) metros cúbicos (milhões)

Figura 4
4. Exportação de Produtos Processados por Região.

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Comércio de Madeiras Tropicais: Subsídios para a Sustentabilidade das Florestas do Brasil
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Am. Lat

Ásia-Pacif 1997
1996
África 1995

0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 40000 45000 50000

metros cúbicos (milhões)


Figura 5
5. Total de Exportações por Região.

Somente a África continua a exportar um alto volume de toras, se comparado aos pro-
dutos processados, com cerca de 35% da produção da região destinando-se à exportação.

Os países do Sudeste Asiático estão rapidamente mudando a pauta de exportações de


toras para produtos processados, principalmente painéis de madeira. A Indonésia e a
Malásia lideram as exportações de madeira serrada, laminados e compensados, enquan-
to a América Latina responde por apenas uma pequena parte, tanto da produção, quanto
da exportação de toras tropicais.
O total equivalente em toras das exportações, como uma porcentagem da produção
de toras, caiu em todas as regiões: de 11% para 10% na América Latina no período 1995
a 1997; de 72% para 71% na África; e de 46% para 45% na Ásia. O total das exportações
dos países membros da ITTO caiu em quase 4%, de 61,6 para 59,3 milhões de m3 entre
os anos de 95 a 97, devido ao declínio das exportações, tanto de toras quanto de madeira
serrada de todas as regiões.

Figura 6
6. Maiores Produtores de Toras Tropicais.

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Malásia

Indonésia

Brasil
1996
Índia 1995
1994
Papua Nova Guiné

0 5 10 15 20 25 30 35 40

metros cúbicos (milhões)


Fonte: ITTO (1997)

São membros da ITTO: Austrália, Áustria, Bélgica/Luxemburgo, Bolívia, Brasil, Cama-


rões, Canadá, República da África Central, China, Colômbia, Congo, Costa do Marfim,
República Democrática do Congo, Dinamarca, Equador, Egito, União Européia, Ilhas Fidji,
Finlândia, França, Gabão, Alemanha, Gana, Grécia, Guiana, Honduras, Índia, Indonésia,
Irlanda, Itália, Japão, Libéria, Malásia, Mianmar, Nepal, Holanda, Nova Zelândia, Norue-
ga, Panamá, Papua Nova Guiné, Peru, Filipinas, Portugal, República da Coréia, Espanha,
Suécia, Suíça, Tailândia, Togo, Trinidad & Tobago, Reino Unido, Estados Unidos da Améri-
ca e Venezuela.
Os preços correntes e os deflacionados1 para painéis e madeira serrada e toras benefi-
ciadas estão apresentados, respectivamente, nas figuras 7a, 7b e 7c. Para compensado e
toras beneficiadas, nota-se uma elevação nos preços até 1980, quando então apresenta-
ram uma queda até meados daquela década, provavelmente provocada pela depressão
mundial no início dos anos 80. Após 1985, os preços apresentam uma ligeira tendência de
crescimento e posterior estabilização. Os preços para a madeira serrada apresentaram
Figura 7
7. Maiores Consumidores de Toras Tropicais.
sempre um crescimento nítido e constante, exceto no período de depressão na economia

1
Os preços foram deflacionados pelo índice de preços no atacado dos EUA, publicado em Conjuntura Econômica, Fundação Getúlio Vargas.

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Comércio de Madeiras Tropicais: Subsídios para a Sustentabilidade das Florestas do Brasil
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

mundial.

600
500
400
300
200
100
0
69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95

Fonte: FAO (1980- 90- 95) preço corrente preço deflacionado

Figura 7a. Preços Correntes e Deflacionados para Painéis de Madeira no Mercado Internacional.

450
400
350
300
250
US$

200
150
100
50
0
69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95

ano
Fonte: FAO (1980- 90- 95) preço corrente preço deflacionado

Figura 7b. Preços Correntes e Preços Deflacionados para Madeira Serrada no Mercado Internacional.
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140
120
100
80
US$

60
40
20
0
69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
ano

preço corrente preço deflacionado


Fonte: FAO (1980- 90- 95)

Figura 7c
7c. Preços Correntes e Deflacionados para Toras Beneficiadas no Mercado Internacional.

Indonésia

Malásia

Brasil 1996
Índia 1995
1994
Japão

0 5 10 15 20 25 30 35

metros cúbicos (milhões)

Apesar de somente 6% das toras extraídas das florestas tropicais destinaram-se ao


comércio internacional, a importância desse setor para os países produtores pode ser
enumerada como:
1. O setor de base florestal contribui diretamente para a economia desses países.
2. As indústrias diretamente relacionadas com o setor madeireiro são importantes
fontes de emprego.
3. As exportações de produtos florestais geram divisas.
4. Melhoramento nas condições sociais (infra-estrutura rural das comunidades en-
volvidas no atividade madeireira).

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3 . FUTURO DO MERCADO DE MADEIRAS TROPICAIS


Barbier et al. (1994) fazem algumas observações com relação ao mercado futuro de
madeiras tropicais, a saber:
R As nações desenvolvidas continuarão a dominar o mercado apesar de os países em
desenvolvimento conquistarem uma parte maior do mercado. Nos próximos
15 anos, espera-se um crescimento entre 15 a 40% na demanda de madeiras para
a indústria.
R As novas tecnologias e as mudanças nas preferências dos consumidores favorece-
rão o consumo de materiais reciclados e reconstituídos, em oposição aos produtos
oriundos diretamente de toras e madeiras serradas.
R O consumo das madeiras ditas hardwoods será maior que o de softwoods.
R Os recursos tropicais diminuirão, mas as florestas das regiões temperadas supri-
rão o mercado, estabilizando os preços.
R Os plantios atenderão ao crescimento da demanda.
R Haverá tendência de substituição do uso de produtos de matas primárias pelos de
plantios e pelos de matas secundárias, bem como haverá mudança das áreas pro-
dutoras do noroeste do Pacífico e das zonas tropicais para as regiões no sul e nor-
deste dos EUA e também para os recentes plantios no sul das regiões temperadas.
R O Japão e a Europa serão auto-suficientes, enquanto parte dos países em desenvol-
vimento aumentarão suas importações.

Segundo Arnold (1991), espera-se uma diminuição da participação de países tropicais


no comércio mundial de madeiras tropicais.
Devido ao pequeno e decrescente volume de madeira tropical que chega ao mercado
internacional, há pouca justificativa em usar esse mecanismo como um meio de
encorajamento ao manejo sustentado das florestas tropicais. No Brasil, a forte pressão
sobre as florestas tropicais é devido ao aumento da demanda interna causada pelo au-
mento populacional e crescimento da economia doméstica.
Com relação ao mercado para produtos de madeiras tropicais, o Japão continuará
sendo o maior mercado para as madeiras tropicais, seguido da Europa e América do
Norte, e continuará a importar toras, enquanto a Europa e a América do Norte importa-
rão produtos semi-industrializados ou industrializados (Barbier et al., 1994).
Houve uma redução de importação de toras pelos mercados consumidores e aumen-
to de demanda por produtos processados.
O crescimento do consumo pelos países em desenvolvimento será maior do que os
dos países desenvolvidos. Mas, em termos absolutos, os países desenvolvidos continua-
rão a ser os maiores mercados (Barbier et al., 1994).
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Um aumento no consumo de produtos florestais em países tropicais produtores exce-


derá a capacidade interna de produção, o que fará com que certos países se tornem
importadores de produtos processados.
São poucos os estudos sobre a substituição de produtos oriundos de madeira tropical
pelas de clima temperado. Evidências limitadas sugerem competição entre ambas e es-
tão aumentando os incentivos para que ocorra tal mudança.
Outras evidências sugerem que produtos de madeiras estão substituindo produtos
feitos a partir de outras matéria-primas. Um exemplo é o painel de madeira substituindo
painéis sintéticos, com o preço influenciando a escolha no mercado europeu. Exemplos
similares estão em estudo, mostrando que a elasticidade da substituição entre diferentes
fontes de madeira tropical é muito alta. Isto sugere que os países importadores podem
optar por diferentes fontes com facilidade, mas também os países tropicais produtores
podem ganhar mercado na competição via preços.
As estimativas de elasticidade-preços indicam que os países tropicais produtores, como
um grupo, têm um significativo poder no mercado. Aumento coordenado nos preços
por esses produtores não levará a um acentuado declínio da demanda total.

4 . COMÉRCIO DE MADEIRA E DESMATAMENT


DESMATAMENTOO
Ao considerar o desmatamento um problema econômico, admite-se a hipótese de
que grandes somas financeiras são perdidas com essa intervenção. Essa avaliação é da
competência do Governo, que a usa em decisões para o incremento do desenvolvimen-
to do País. É nesse ponto que reside o problema principal do desmatamento de floresta
tropicais. Comumente, a política pública adotada para o manejo e uso de tais florestas é
equivocada, quando não inadequada. Nacionalmente, as políticas econômicas e a forma
de avaliação dos países com florestas tropicais distorcem os custos de desmatamento.
Existem perdas comerciais quando não se incorporam sobre os produtos oriundos da
floresta os valores que os outros usos desta propiciam, ou seja, não são levadas em
conta as divisas geradas em atividades como o ecoturismo e outras.
O custo total de depreciação do estoque florestal incluiria não somente os custos de
conversão, mas também os custos da extração de madeira e o custo de degradação da
floresta (Barbier et al., 1994).
Com relação à decisão econômica do uso da terra pela floresta, Vincent (1990) enfatiza
que “a floresta deve ser usada para que ela seja salva, ou seja, as florestas tropicais não
devem competir com outro uso do solo para permaneceram com seu estoque de madei-
ra. Uma proibição reduziria a demanda e abaixaria os preços dos produtos florestais.
Isso reduziria os ganhos e faria o manejo sustentado, que é um pré-requisito para manu-
tenção das áreas florestais dos trópicos, menos viável.”
A produção de madeira sempre causa um impacto sobre o ambiente. Entretanto, cabe
diferenciar as práticas danosas ao ambiente daquelas que, apesar de atuarem sobre ele,
não causam danos que venham a comprometer a existência nem a produtividade futura

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de uma área, ou a comprometer o seu equilíbrio ecológico. Os impactos sobre o ambi-


ente podem ser:
R Diretos: via remoção das árvores e outros danos causados sobre as áreas adjacen-
tes devido à exploração.
R Indiretos: via abertura e aumento da acessibilidade às florestas, ou seja, o
incremento da malha viária, os quais resultam em impactos negativos
com reflexos sócio-econômicos que degradem o ambiente.

A complexidade existente entre as ligações do comércio de madeira com o


desmatamento não permitem uma abordagem direta, o que torna a análise difícil. A falta
de dados seguros, as informações insuficientes sobre os tipos de benefícios às florestas
pelos usos alternativos do solo e a dificuldade em se isolar o impacto causado sobre as
florestas exploradas para o comércio de madeira fazem com que a análise seja dificulta-
da. Entretanto, existem algumas implicações políticas que podem ser descritas (Babier et
al.,1994):
R O desmatamento de florestas tropicais é considerado um problema econômico e
as taxas atuais são tidas como excessivas.
R Para que se obtenha o manejo sustentado na produção de madeira é preciso que
os ganhos com tal procedimento sejam maiores do que qualquer outro tipo de uso
daquele solos.
R Apesar de ser possível manejar a extração de madeira nos trópicos de forma sus-
tentada, com o mínimo de dano ambiental, essa prática é pouco comum. A produ-
ção de madeira pode degradar as florestas tropicais, se o manejo da área não for
adequado
R Os dados atuais permitem somente a observação limitada das ligações entre o co-
mércio de madeira e o desmatamento de florestas tropicais. Assim, há que se ter
cautela ao se fazer qualquer afirmação sobre essa ligação. Como somente uma
pequena porção do volume de toras produzidas chega ao mercado internacional,
intervenções nesse mercado, a fim de encorajar o manejo sustentado das florestas
por meio da redução do volume produzido, serão ineficazes devido à pequena
participação desse produto no comércio quando comparado ao total de madeira
produzidas.

Assim, tem-se de um lado o comércio de madeira gerando grandes retornos aos in-
vestimentos feitos no setor e o manejo sustentado um pré-requisito para a estabilização
de áreas florestais nos trópicos, principalmente a longo prazo. Por outro lado, tem-se um
manejo inadequado promovendo uma extração excessiva de madeira que, por sua vez,
promove a degradação da floresta direta ou indiretamente.

5 . POLÍTICAS PÚBLICAS PARA FL


PARA OREST
FLOREST AS TROPICAIS
ORESTAS

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PROGRAMA NACIONAL DE FLORESTAS

Há um aumento na compreensão de que o impacto comercial das políticas ambientais


que afetam o setor e as indústrias de base florestal podem promover o aumento da ine-
ficiência e a redução da competitividade. Mais do que isso, os impactos comerciais
advindos de uma política ambiental doméstica afetam indústrias em outros países e con-
tribuem para uma distorção substancial no comércio internacional de madeira. A busca
do lucro fácil e a ineficiência das indústrias do setor levam às certas práticas de manejo
muito diferentes daquelas que objetivam a sustentabilidade. A compreensão e a análise
cuidadosas dos mercados doméstico e internacional são necessárias para determinar os
efeitos completos das políticas adotadas para a economia e o meio ambiente.
A proteção de florestas e das indústrias do setor madeireiro, se explícita ou não, pro-
movem de forma ineficiente a expansão das indústrias domésticas. Países produtores
que são incapazes de adentrar no protegido mercado internacional podem-se sentir
desencorajados a desenvolver processos e mecanismos que aumentem o valor agrega-
do de seus produtos ou, alternativamente, mudarem para políticas que subsidiem o
processamento dos produtos a fim de driblarem as barreiras de importação. É sabido
que a perda em valor agregado leva a taxas maiores de extração de madeira, a fim de
aumentar os ganhos advindos do comércio com toras e madeiras semi-processadas. Por
outro lado, uma expansão acentuada da capacidade de processamento e procedimentos
ineficientes resulta em maiores desmatamentos.
A proteção ambiental e a devastação florestal podem ser agrupadas em quatro pensa-
mentos políticos, a saber:
R Os efeitos ambientais do mercado doméstico e as falhas das políticas adotadas por
meio de seus impactos sobre o manejo de florestas tropicais.
R Os efeitos ambientais das políticas comerciais atuais para o setor madeireiro segui-
das pelos países produtores e consumidores.
R Os impactos potenciais das leis ambientais domésticas seguidas pelos países pro-
dutores e consumidores que afetam o comércio de madeiras.
R O limite para novas políticas unilaterais e multilaterais de intervenção no comércio
de madeiras tropicais para ajudar na promoção de manejo cada vez mais sustenta-
dos das florestas tropicais produtoras.

6 . MERCADO INTERNO E POLÍTICA PÚBLICAS


A política pública influencia o manejo florestal por meio dos incentivos por ela ofere-
cidos em dois aspectos:
R Eficiência na exploração.
R Eficiência social pela contabilidade daqueles valores advindos dos produtos não-
madeireiros.

No primeiro caso, a exploração se dá visando à maximização do valor futuro da pro-


dução de madeira. Entretanto, muitos concessionários da extração de madeira falham

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Comércio de Madeiras Tropicais: Subsídios para a Sustentabilidade das Florestas do Brasil
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nesse processo e buscam o lucro rápido, negligenciando as atividades que maximizariam


o valor futuro. O resultado é a perda, por parte do país, do seu potencial econômico
baseado nos recursos madeireiros, devida à ineficiência da forma de exploração. Porém,
isso acontece quando políticas impróprias são aplicadas, prejudicando todo o mercado.
Por outro lado, a eficiência econômica é entendida de uma forma mais abrangente
quando se consideram os recursos florestais que não sejam somente a madeira. Atribu-
indo-se valores a esses outros “produtos” (proteção do solo, reserva de água, conserva-
ção da fauna, manutenção do microclima, etc.), pode-se auferir outros ganhos que con-
correrão para a “eficiência social” da floresta.
Uma avaliação econômica dos impactos causados pela política atual do manejo flo-
restal é essencial para a elaboração de políticas apropriadas ao setor. Porém, o que nor-
malmente ocorre é a pouca informação existente sobre a estimativa de custos advindos
do mercado doméstico e das políticas falhas, o que compromete a formulação de políti-
cas futuras, muito embora, em muitos casos, essas estimativas de custos sejam “sufici-
entes” para uma análise política.
Quando políticas de concessão e sistemas de “pricing” nos países produtores promo-
vem substanciais incentivos aos concessionários, o método utilizado para se atingir a
sustentabilidade é agir diretamente sobre o problema, promovendo o incremento da
política de manejo florestal.
A influência maior da conversão de florestas em área agrícolas e outros usos, vem das
falhas políticas adotadas no mercado interno.
Políticas macroeconômicas não diretamente relacionadas com o setor de comércio,
têm uma atuação indireta importante, gerando incentivos que sejam positivos ou negati-
vos ao manejo sustentado. Somente com o aprofundamento dos estudos sobre econo-
mia-ligações ambientais será possível um monitoramento melhor dos reflexos dessas
políticas de incentivos.

7 . RESTRIÇÕES COMERCIAIS AO MERCADO DE


MADEIRAS TROPICAIS
No passado, a taxação aplicada sobre a exportação de madeira bruta era usada basi-
camente como um meio de aumentar a arrecadação fiscal. Entretanto, com o passar do
tempo, essas taxações e certas proibições na comercialização, tornaram-se medidas es-
tratégicas na prática comercial.
Para compensar as indústrias domésticas das perdas advindas das barreiras impostas
pelos importadores, os países exportadores têm utilizado da taxação sobre as exporta-
ções, ou mesmo proíbem o comércio de toras e produtos semi-manufaturados. No intui-
to de se manter competitivo no mercado de madeiras tropicais, o países produtores
continuam com a política discriminatória contra a exportação de toras, a fim de subsidi-
ar o preço das mesmas para o mercado doméstico e aumentar a eficiência nos proces-
sos de transformação tora/produto e na capacidade operacional das fábricas.

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A Indonésia usou tais recursos, porém ficou claro que tanto a taxação, quanto a restri-
ção utilizadas com o intuito de aumentar e melhorar as atividades de processamento
causaram um aumento da ineficiência na transformação das toras, com sérias conseqü-
ências para o manejo florestal.
Essas distorções nas políticas de comércio servem somente para ampliar os impactos
ambientais negativos causados pelo mercado doméstico e pelas políticas falhas adotadas.

7.1. RESTRIÇÕES ÀS EXPOR


EXPORTTAÇÕES
Tomando-se por referência o manejo florestal, sete pontos devem ser observados ao
se examinar a restrição às exportações nos países produtores e suas implicações para o
mercado:
1. As restrições às exportações, principalmente de toras, estimularam o crescimento
e o nível de emprego nas indústrias de processamento dos países exportadores. Os
grandes exportadores foram capazes de participar ainda mais do mercado interna-
cional.
2. O custo econômico de tais restrições é alto e gerou problemas de excesso de maté-
ria prima, com as indústrias não sendo capazes de processar todo o material exis-
tente, além de aumentar a ineficiência desse processamento.
3. As restrições não foram adotadas diretamente como mecanismos de proteção con-
tra o desmatamento provocado pela extração de madeira. As pressões sobre os
recursos básicos continuaram a existir após breve pausa, apesar do estímulo à di-
versificação de produtos no setor de processamento. Mais do que isso, essas pres-
sões tende em aumentar a médio e longo prazos, devido à falta de capacidade de
processamento dos produtos ofertados.
4. As restrições irão essencialmente ampliar as falhas da política de manejo florestal
existente.
5. Na exportação de produtos madeireiros, a oferta e a demanda no mercado interna-
cional sobrepujam os efeitos das restrições no corte de toras.
6. A adoção em conjunto com políticas de manejo florestal é benéfica para todos os
países produtores.
7. Os riscos, a curto prazo, de se adotarem tais políticas unilateralmente são grandes
se os competidores continuarem a explorar suas reservas mais pesadamente.

As principais implicações políticas vistas aqui reforçam a opinião de que medidas que
promovam o manejo florestal sustentado, com mecanismos reguladores adequados, são
mais apropriados, promovendo um desmatamento menor nos países exportadores. As
restrições sobre as exportações são mais danosas do que benéficas ao setor, principal-
mente a longo prazo.

7.2. RESTRIÇÕES ÀS IMPOR


IMPORTTAÇÕES

20
Comércio de Madeiras Tropicais: Subsídios para a Sustentabilidade das Florestas do Brasil
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As barreiras sobre as importações visam basicamente à proteção da indústria domés-


tica dos competidores internacionais. Além disso, são fontes de recursos para o gover-
no, especialmente nos países em desenvolvimento.
São divididas em duas categorias:
1. Barreiras tarifárias
2. Barreiras não-tarifárias

As barreiras tarifárias incluem todo tipo de taxações oficiais sobre os produtos produ-
zidos no exterior. As cargas tarifárias são calculadas como uma proporção fixa do valor
do produto importado e a taxa aplicada varia de acordo com o produto.
As barreiras não-tarifárias assumem diversas formas, agindo de várias maneiras, com
o intuito de limitar a quantidade do produto estrangeiro no mercado doméstico. Restri-
ções quantitativas, como as cotas fixas, é um exemplo. Outras menos óbvias incluem
exigências sanitárias, técnicas e de segurança, investigações antidumping e outras que
visam aumentar efetivamente o preço dos produtos importados. Alguns tipos de subsídi-
os adotados pelo governo assume uma forma de barreira não-tarifária quando promo-
vem a competitividade das empresas domésticas junto às empresas estrangeiras.
Tanto as barreiras tarifárias, quanto as não-tarifárias têm impacto significativo sobre a
economia. Agem direta ou indiretamente, promovendo o aumento do preço dos produ-
tos importados.
É difícil a observação dos efeitos ambientais causados pelas barreiras de importação
sobre as florestas tropicais. Porém, esses efeitos influenciam o suprimento de toras, a
distribuição do valor agregado, o emprego e a eficiência do processamento. Tais fatores
irão, a seu turno, influenciar a qualidade do produto final, bem como a alocação da
floresta entre a indústria madeireira e as opções de uso do solo florestal.
As restrições sobre as importações de produtos de madeira tropical aplicadas pelos
maiores mercados consumidores promovem um impacto no manejo florestal nos trópi-
cos. Entretanto, esta ligação é complexa. Enquanto as restrições às importações redu-
zem a demanda pelos produtos tropicais de alguma forma, isto não implica numa menor
extração de madeira, e nem um menor desmatamento nos países produtores. Além dis-
so, o uso generalizado de restrições às exportações pelos países produtores cria distorções
adicionais no padrão do comércio e no manejo de suas florestas. Esses efeitos sobrepos-
tos contribuem para dificultar o isolamento dos efeitos causados pelo impacto específi-
co das barreiras de importação no fluxo do comércio de madeiras e na degradação das
florestas tropicais.
A liberalização das importações estimularia a demanda de produtos florestais, sendo
os produtos processados os mais beneficiados. Em tese, os maiores ganhos seriam os
incentivos ao manejo sustentado. Porém, devido às falhas na política interna dos países
produtores e às peculiaridades do mercado doméstico nesses países, tais ganhos não
proporcionam investimentos no manejo sustentado e, sim, aumentam a pressão sobre
as florestas, com uma degradação excessiva das mesmas. É questionável se essa

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liberalização levaria realmente a um uso mais eficiente das florestas via manejo susten-
tado.

7.3. BARREIRAS TARIFÁRIAS


Os mecanismos tarifários praticados pelas nações desenvolvidas diferenciam os paí-
ses entre membros da OMC (Organização Mundial do Comércio), em desenvolvimento
e outros exportadores. As taxas básicas são geralmente aquelas previamente estabelecidas
entre as nações e aplicadas naqueles países listados como Países mais Favorecidos (MFN-
Most Favoured Nation), que incluem todos os membros da OMC e alguns países em
desenvolvimento.
Normalmente, os principais mercados importadores não impõem taxações sobre a
madeira não processada, porém aplicam um escalonamento de tarifas para produtos
processados.
Nos países em desenvolvimento, as tarifas sobre as importações são geralmente mais
altas, por meio também de escalonamento dos produtos, a fim de discriminá-los e, as-
sim, proteger o mercado interno. São mercados pequenos, se comparados aos países
desenvolvidos, mas vêm crescendo em importância.
O grau de escalonamento entre tora bruta e produtos processados tem implicações
consideráveis sobre os países em desenvolvimento que sejam exportadores desses pro-
dutos. As tarifas altas para produtos processados desencorajam nesses países o desen-
volvimento de setores que venham a agregar maior valor aos seus produtos. Isso ocorre
com a Indonésia e o Japão. O primeiro tem um custo de produção menor que o segundo
para compensado (plywood); entretanto, quando este material chega ao Japão, é taxado
em 20%, o que faz desaparecer aquela vantagem, chegando mesmo a valores negativos,
e sendo, portanto, desinteressante fabricar contraplacado para a exportação. Além dis-
so, o processo de industrialização nos países exportadores é mais lento, reduzindo recei-
tas e empregos, perpetuando a dependência de exportações de grandes volumes de
madeira não processada e de baixo valor agregado.
Uma das razões que levou os países em desenvolvimento a adotarem restrições à
exportação de toras foi o fato de que, assim agindo, estariam compensando a indústria
local dos efeitos causados pelas barreiras tarifárias do mercado de exportação.
Bourke (1992) afirma que as tarifas sobre importações de produtos de floresta tropi-
cal não são barreiras significativas nos principais mercados importadores e que a ten-
dência é de diminuírem. As barreiras tarifárias nos países desenvolvidos são baixas; em
contrapartida, nos países em desenvolvimento, continuam altas. Essas barreiras tornam-
se ainda mais significativas nesses países na medida em que o comércio continuar a
crescer.

2
No anexo 1 estão listados os produtos por código, bem como as síglas usadas na tabela.

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Comércio de Madeiras Tropicais: Subsídios para a Sustentabilidade das Florestas do Brasil
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AUSTRÁLIA UNIÃO EUROPÉIA JAPÃO E.U.A.

H.S. Pré Pré Pré Pré


Code Uruguai P ós Uruguai P ós Uruguai P ós Uruguai P ós
Uruguai Uruguai Uruguai Uruguai
MFN GSP MFN GSP MFN GSP MFN GSP

44030 0 0 0 0 0 0 0 0

4407 5,1 5 2,5 2,5 0 0 7,4 0 3

4409 10 5 5 2,5 0 0 7,4

4412 15 10 5 10 0 6,5 12,5 4

4418 Ñ Ñ 5 4,5 0 1,5 2 0 2,5 6,3 0 2,4

4801 0 0 4,9 0 0 0 0 0 0

9403 15 10 18,5 5,6 0 0 0 0 0 4,6 0 0

NOVA ZELÂNDIA CANADÁ INDONÉSIA BRASIL

H.S. Pré Pré Pré Pré


Code Uruguai P ós Uruguai P ós Uruguai P ós Uruguai P ós
Uruguai Uruguai Uruguai Uruguai
MFN GSP MFN GSP MFN MFN

44030 0 0 0 0 0 40 0 12

4407 4 0 16,25

4409 10,8 5 10 0 0 20 40 10 20

4412 9,2 6

4418 14,5 10 12 12,5 8 12 30 40 10 38,3

4801 7,5 0 0 0 0 5 40 0 17,5

9403 17 13,5 170 15 10 17 50 40 32,5 35

MALÁSIA CHINA ÍNDIA CORÉIA TAILÂNDIA

H.S. Pré Pré Pré Pré


Code Uruguai P ós Uruguai P ós Uruguai Pós Uruguai P ós Pré P ós
Uruguai Uruguai Uruguai Uruguai Uruguai Uruguai
MFN GSP MFN MFN MFN

44030 22,5

4407 21,3

4409 25 20 3 35 15 40 9 13 40 20

4412 25 30 20 35 30 40 15 30 60 20

4418 25 20 50 40 Ñ Ñ 9 13 40 20

4801 5 Ñ 20 20 15 25 9 0 15 30

9403 40 30 70 40 35 Ñ 9 2,2 80 20

Tabela 1. Tarifas praticadas antes a após a rodada do Uruguai


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A Tabela 1 mostra as tarifas antes e depois da Rodada do Uruguai, selecionadas para


os membros da ITTO2.

7.4. BARREIRAS NÃO


NÃO--TARIFÁRIAS
Além das barreiras tarifárias, os países em desenvolvimento sofrem com um outro
tipo de barreira que vem reforçar e causar um impacto significativo no mercado. Bourke
(1988) identificou um grande número de barreiras não-tarifárias que incluem:
R Restrições quantitativas: como o sistema tarifa/cota que envolve a aplicação de
altas taxas sobre o produtos além da cota.
R Medidas que influenciam o preço.
R Padrões técnicos e de saúde.
R Procedimentos administrativos.
R Acordos comerciais.
R Transporte oceânico: a exigência de que os produtos importados cheguem via em-
barcações domésticas.
R Outras medidas que incluem todas as maneiras com que o governo direta ou indire-
tamente subsidia um setor, a fim de que a indústria doméstica tenha alguma vanta-
gem em competitividade sobre produtos de madeira oriundos de outros países, des-
de incentivos fiscais para o plantio até assistência em pesquisa e desenvolvimento do
processo industrial.

É sempre difícil saber se as barreiras não-tarifária são meios de se restringirem as


importações de uma forma direta ou indireta e, ainda, se elas formam um meio legítimo
com uma importância maior em função do que no controle de importação. Dessa for-

3
GOODLAND, R. 1990. Tropical moist deforestation: ethics and solutions. World Bank Pontificia Academia Scientiarum, Vatican
City. (Unpublished manuscript).

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Comércio de Madeiras Tropicais: Subsídios para a Sustentabilidade das Florestas do Brasil
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ma, a dificuldade em se analisar o impacto dessas barreiras sobre o comércio de madei-


ra tropical é grande, pois elas tomam formas diferentes e são em grande número, afetan-
do os preços normalmente de uma forma direta.
O sistema tarifa/cota é uma das maiores barreiras no comércio de madeira tropical.
Outras barreiras não-tarifária importantes são os mecanismos de controle técnicos e
sanitários existentes nos países desenvolvidos, que são difíceis de serem executados pe-
los países em Rdesenvolvimento.
ESTRIÇÃO DE IMPORTAÇÃO
TENDÊNCIA DO PERÍODO
1960-79 1979-85 1985 -
Quando se fala emTarmarketing
ifas de madeiras
declínio tropicais,
declíniocostuma-sedeclassociar
ínio essa estra-
tégia às tentativas de Tariembargos
fa/Cota às importações
ascensão e exportações.
estável Geralmente,
estável tais práticas
são lideradas por governos
Proibição totale organizações
ascensãnão-governamentais
o estável eque,
stável/ana
scenstentativa
ão de pre-
servar as florestas tropicais, movimentam-se para efetuar o embargo e impor restrições
Proibição condicional ascensão estável estável/ascensão
Cota ascensão estável estável/ascensão
ao livre comércio de madeiras tropicais.
Licença de Importação ascensão estável/ascensão estável/ascensão

De acordo PcomrocedimeHamilton
ntos de Importa(1991)
ção e Barbier
- et al. (1994),
- esses movimentos
- têm-se
Taxas variáveis - - -
equivocado quanto ao alvo que
Antidumping/countervailing duties
pretendem
ascensão
atingir, pois uma
ascensão
parte considerável
estável
da des-
truição das florestas
Restrições votropicais
luntárias à expodeve-se
rtação à sua- conversão em - novas fronteiras
- agropecuárias,
como ocorre na Amazônia
Controle de preçobrasileira.
s - - -
Standards ascensão estável/caindo ascensão
Goodland3, citado por Halmiton (1991),
Government procurement
relata os
ascensão
principais embargos
estável/caindo estável/ascensão
e restrições ao
comércio de madeiras tropicais.
Marking and packing São eles:
ascensão estável/caindo estável/ascensão
Restrições às Exportações 1960-79 1979-85 1985 -
1987 Reino Unido “Amigos da Terra” clamam para um boicote das madeiras
Controle de preços, taxas, etc. ascensão ascensão ascensão
Cotas/ proibições
tropicais; ascensão ascensão ascensão
Fonte: Barbier et al., 1994
1988 Alemanha
Alemanha 200 cidades (City Councils) decidem não mais usar madeiras
Tabela 2. Tendências das Barreiras Comerciais que afetam os Produtos Florestais
tropicais;
1988 Parlamento Europeu anuncia decisão de todos os membros de banir as
importações de madeiras de Sarawak, Malásia (mais tarde,
rejeitada pela Comissão Européia);
1989 Alemanha O Ministério da Habitação anuncia decisão do governo de
suspender o uso de madeiras tropicais;
1989 Alemanha A Federação dos Importadores de Madeiras Tropicais introduz
um código de conduta para os importadores desta matéria-prima;
1989 European FFederation
ederation of TTropical
ropical TTimber
imber TTrade
rade Association propõe uma taxa
sobre as importações de madeiras tropicais pela Comunidade Européia.

8 . TENDÊNCIAS NAS RESTRIÇÕES AO COMÉRCIO DE MA-


DEIRAS TROPICAIS
Há uma tendência geral em se obterem maiores liberalizações no comércio mundial.
A Tabela 2 mostra que desde 1985 as maiores mudanças estão justamente no aumento
das barreiras não-tarifária, normalmente tendo como motivo causas ambientais.

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As indústrias madeireiras são diretamente afetadas pelo crescente número de regula-


mentações, mudanças na política do setor e oscilações dos principais mercados consu-
midores. São propostas e atos visando à restrição no comércio de madeiras tropicais,
produtos derivados de florestas com manejo sustentado, ou mesmo proibição do co-
mércio. A diferença está no fato de que, em muitas dessas propostas, as razões são de
cunho ambientalista e não de proteção ou fomento da indústria madeireira doméstica.
Em muitos casos, as propostas vêm mais de organizações não-governamentais (ONG´s),
do que de grupos industriais ou mesmo do governo.
As propostas são basicamente de três tipos:
a) Boicote comercial: proposta vinda geralmente de consumidores, associações
comerciais e, em alguns casos de governos regionais, que visam ao
desencorajamento ou à limitação do uso de madeira tropical, pela elaboração de
códigos específicos.
b) Controle direto ou banimento: são propostas feitas aos governos, a fim de
implantarem tarifas, cotas ou outros tipos de controle comercial limitando o co-
mércio para países em conformidade com os planos de manejo florestal.
c) Ações geradoras de divisas: são propostas que os países importadores ou fede-
rações comerciais privadas promovem, a fim de ajudar os países produtores de
madeira tropical que estejam em fase de transição para o manejo sustentado. In-
cluem sobretaxas voluntárias e compulsórias sobre produtos madeireiros importa-
dos (de origem tropical ou não), como também contribuições das mais variadas
formas.
Em resumo, as barreiras tarifárias sobre produtos de madeira tropical na maioria dos
mercados consumidores são relativamente baixas e estão caindo, refletindo os acordos
comerciais de liberalização do comércio mundial, sob os auspícios do OMC, ou de acor-
dos bilaterais. Essas barreiras nos mercados em desenvolvimento, entretanto, são eleva-
das, embora demonstrem estar também em queda. As barreiras não-tarifária estão au-
mentando significativamente. Estas concorrem para a proteção, até certo ponto, da in-
dústria doméstica, compensando os acordos de redução tarifária. Nos países desenvol-
vidos, entretanto, tais tendências refletem a crescente pressão da mídia e de grupos in-
dependentes que visam à redução do consumo de madeira tropical, e de uma forma
correta ou não, caracterizam esses produtos como “danosos” ao ambiente.
Além das políticas direcionadas especialmente para o comércio de madeira e de seus
produtos, outras medidas domésticas são adotadas pelos países importadores com im-
portantes implicações para o comércio internacional de madeira tropical.
Um bom exemplo é a adoção de três medidas restritivas de corte na costa noroeste
dos EUA que, após uma análise, mostra como tais restrições afetam o mercado interno e
externo. Essas restrições são:
1) Suspensão da exportação de toras.
2) Replanejamento do corte nas Florestas Nacionais.
3) Criação de Reservas Ambientais nas áreas de habitat da spotted owl (coruja)

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Esta última restrição é um claro exemplo de restrição ambiental sobre as operações de


extração de madeira. Os resultados indicam significativos impactos globais advindos des-
sas restrições ambientais, tanto isoladamente, como em conjunto com as restrições co-
merciais.
Algumas considerações são feitas diante do que foi exposto:
1. As tarifas de importação sobre produtos de florestas tropicais são geralmente bai-
xas e estão caindo nos principais mercados. Não existem barreiras tarifárias para a
madeira não processada, ou seja, para toras, ao passo que essas tarifas são baixas
para alguns produtos processados. São barreiras altas para todos os produtos pro-
cessados na maioria dos países em desenvolvimento, que não importam quantida-
des significativas de produtos tropicais.
2. As tarifas consistiam barreira ao comércio e estão deixando cada vez mais de o ser.
Muitos dos países exportadores beneficiam-se de taxas baixas ou mesmo de isen-
ções destas, quando fazem parte de sistemas de preferência. Uma liberalização do
comércio teria pouco efeito sobre o comércio de um modo geral.
3. As barreiras não-tarifária também fazem discriminação quanto ao tipo de produto
de madeira. Tais barreiras são diversificadas e têm provavelmente um impacto mais
significativo do que as barreiras tarifárias formais. As barreiras não-tarifária estão
aumentando nos diversos mercados, e muitas por motivos ambientais.
4. O efeito combinado das barreiras tarifárias e não-tarifária sobre as importações,
nos principais mercados consumidores de madeira tropical, impedem ou
inviabilizam a conquista de maior valor agregado pelas indústrias nos países pro-
dutores.
5. O impacto negativo das barreiras sobre as indústrias de base florestal nos países
em desenvolvimento é menos claro, devido às muitas restrições de exportações de
toras impostas pela maioria das nações exportadoras.
6. Embora as barreiras de importação nos mercados desenvolvidos estejam diminuin-
do o fluxo comercial dos países em desenvolvimento, as implicações ambientais de
tais medidas são difíceis de serem determinadas. A curto prazo, a remoção de tais
barreiras levaria a um aumento da demanda e dos preços ao produtor, estimulando
todo o setor florestal do país exportador. Devido às falhas no mercado e também às
políticas de tais países, que desencorajam o manejo sustentado das florestas, um
aquecimento desse setor levariam ao aumento do desmatamento e da degradação
do solo.
7. A longo prazo, o aumento na demanda elevaria o preço dos produtos de madeira,
o que aumentaria os incentivos rumo a uma eficiência cada vez maior no
processamento da madeira e um manejo melhor das florestas produtivas.
8. Propostas recentes de se restringir o comércio de madeiras tropicais têm sido dis-
cutidas nos mercados consumidores. Num primeiro momento, haveria uma dimi-
nuição no desmatamento, mas, a longo prazo, os produtores sentir-se-iam
desmotivados e os investimentos em manejo sustentado seriam reduzidos

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9. Outras medidas domésticas adotadas pelos países importadores de madeira teri-


am importantes implicações no comércio internacional de madeira. Em particular,
medidas que gerem um aumento nos custos para as indústrias na zona de florestas
temperadas. A fim de reduzirem seus estoques, levariam a um aumento global nos
preços, estimulando a entrada de outras áreas no processo produtivo. Pelas carac-
terísticas do mercado e políticas falhas reinantes na maioria dos países tropicais,
isto significaria que uma política mais restritiva nas zonas temperadas levaria, indi-
retamente, a uma aceleração do desmatamento nos trópicos.

9 . SUSTENTABILID
SUSTENTABILID ADE D
ABILIDADE AS FL
DAS OREST
FLOREST AS VIA MERCADO
ORESTAS
O objetivo dessa seção é identificar algumas opções relacionadas à política comercial
que têm sido propostas como um meio de se encorajar o uso de sistemas de manejo
sustentado nas florestas tropicais produtoras de madeira. Algumas dessas políticas in-
cluem intervenções no comércio de madeira tropical, com efeitos variados e por vezes
distorcidos. Como tais intervenções advêm de decisões unilaterais ou multilaterais, dis-
cute-se a possibilidade de ocorrência de ambas.
Existe uma enorme amplitude nas opções de política comercial de madeiras tropicais,
desde a não-intervenção, até a proibição completa do comércio. E é claro que existem
entre esses dois extremos variadas políticas comerciais. Serão consideradas aqui, apesar
das suas diversidades, todas como “opções de políticas comerciais”. Algumas, entretan-
to, não estão estritamente relacionadas com a política comercial, mas afetam a produ-
ção de madeira e indiretamente o seu comércio, por meio da influência sobre os incen-
tivos para o manejo florestal sustentado.

· MANUTENÇÃO DA POLÍTICA DE NÃO INTERVENÇÃO


Este conceito implica a manutenção da atual política relacionada ao comércio de ma-
deira, sem nenhuma intervenção que venha a modificar os padrões atuais de comércio
ou dos incentivos dirigidos ao manejo.
A opção de “nada a fazer” não é considerada uma opção política adequada, diante das
tendências correntes no comércio de madeira e no desmatamento tropical e, sobretudo,
porque as práticas de manejo das florestas não estão amplamente difundidas nos países
produtores de madeira tropical. Em suma, a opção de manutenção da política de não inter-
venção não é uma opção adequada no momento presente. Em particular, não promove
grandes incentivos relacionados ao comércio e ao manejo sustentado de florestas tropi-
cais.

· LIBERALIZAÇÃO DO COMÉRCIO
É a remoção de todas as intervenções internacionais existentes promovida pelos paí-
ses importadores, exportadores ou por ambos.

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Comércio de Madeiras Tropicais: Subsídios para a Sustentabilidade das Florestas do Brasil
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Nota-se que as recentes restrições adotadas para as exportações realizadas pelos pa-
íses produtores não tiveram como premissa a redução das áreas desmatadas relaciona-
das com a extração de madeira. Essas reduções não foram significativas a curto prazo. A
expansão da capacidade de processamento e os problemas da ineficiência, oriundos dos
desequilíbrios entre produção e beneficiamento, têm contribuído para o aumento do
desmatamento a médio e a longo prazos. Entretanto, isto não implica que uma redução
das restrições sobre as exportações irá automaticamente proporcionar um aumento dos
incentivos ao manejo sustentado, As evidências mostram que, na verdade, a liberalização
do comércio aumentaria a pressão sobre a base florestal, a menos que medidas e políti-
cas bem direcionadas de manejo sustentado fossem adotadas.
Existem, também, aspectos relacionados às barreiras de importação para produtos de
madeira tropical nos mercados mais desenvolvidos que deprimem a demanda de algu-
ma forma. O problema principal está no escalonamento tarifário, que é o modo pelo
qual as tarifas de importação aumentam, conforme aumenta o beneficiamento do pro-
duto.
A redução das tarifas por parte de países com mercados desenvolvidos levaria mais à
criação de um novo comércio de produtos, do que a uma diversificação comercial, com
quase todas as novas rotas comerciais sendo criadas para os países em desenvolvimen-
to e estas convergindo para os mercados da comunidade européia, para o Japão e para
os EUA. Não está claro, porém, se os países em desenvolvimento seriam os maiores
beneficiários dessas novas rotas comerciais.
As barreiras não-tarifária também exercem certa influência no fluxo comercial. São
mais significativas nos mercados mais desenvolvidos do que as barreiras tarifárias, po-
rém é mais difícil determinar seus efeitos e impactos sobre o comércio. Embora o Siste-
ma Geral de Preferência (GSP) possa reduzir as tarifas para os países em desenvolvimen-
to, o sistema de tarifas e cotas, adotado pela Comunidade Européia e pelo Japão, impõe
restrições a certos produtos de origem tropical, especialmente o compensado. A remo-
ção desse sistema de tarifas e cotas teria um maior impacto sobre o comércio de produ-
tos tropicais, do que a liberalização total do comércio pela redução de tarifas.
Normalmente, as barreiras tarifárias e as barreiras de importação nos países em de-
senvolvimento são maiores do que nos países desenvolvidos.
O maior obstáculo, entretanto, ao se recomendar a liberalização geral do comércio
para produtos de madeira tropical como uma opção de política comercial, é que essa
medida não está politicamente de acordo com o atual estágio e comportamento do co-
mércio mundial. Fazer com que países exportadores e importadores aceitem tal sistema é
difícil.
Dessa forma, não é ambientalmente desejável, a adoção da liberalização geral do co-
mércio de madeiras tropicais, a menos que venha acompanhada de medidas de política
florestal específicas. Considerando que a extensão das barreiras não-tarifária e seu im-
pacto sobre o comércio não são ainda bem compreendidas, tanto os países produtores
quanto os exportadores tendem a preferir restrições comerciais como parte de sua es-
tratégia para a industrialização dos produtos de base florestal e para a proteção das

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indústrias domésticas. Assim, a vontade política de liberalizar o comércio simplesmente


não existe.

· PROIBIÇÃO DO COMÉRCIO DE MADEIRA TROPICAL


É um instrumento regulamentar e de controle. Pode ser completo ou seletivo. O que
se sabe até agora é que, apesar do apelo popular existente na maioria dos casos para se
proibir o comércio de produtos de madeiras tropicais, tal medida não seria apropriada
para se conseguir o manejo sustentado das florestas tropicais nos países exportadores. A
proibição seletiva ou completa sobre as importações de produtos tropicais, causa um
encorajamento à conversão da floresta em outros usos.

· RESTRIÇÕES QUANTITATIVAS
São essencialmente restrições ou cotas aplicadas ao volume comercializado interna-
cionalmente de produtos de madeiras tropicais. O contingenciamento das exportações
brasileiras de mogno (Swietenia macrophylla) é um exemplo dessa prática

· TAXAS COMERCIAIS
São mecanismos de aumento de preço e custos dos produtos de madeira
comercializados, promovendo o desencorajamento por parte tanto de produtores, quanto
de consumidores. Para serem efetivas na redução da quantidade comercializada, as ta-
xas devem fazer com que produtores e consumidores mudem seus padrões de uso dos
recursos. Desta forma, a taxa é um “instrumento econômico” que afeta os incentivos ao
comércio internacional de madeira tropical, sendo aplicada tanto nas importações, quanto
nas exportações.

· SUBSÍDIOS COMERCIAIS
É também um instrumento econômico que estimula produtores e consumidores a
mudarem seus padrões de uso de recursos. Entretanto, ao contrário das taxas, neste
caso os subsídios diminuem os custos associados ao comércio e encorajam altos níveis
de comercialização dos produtos de madeira.
A redistribuição de divisas advindas do comércio pode ser usada para implantar o
manejo sustentado de florestas em países tropicais. Existem meios que são utilizados
para aumentar a entrada de recursos, tais como:

· REDIRECIONAMENTO DOS RECURSOS ORIUNDOS DO COMÉRCIO


É o uso direto dos recursos para o encorajamento da adoção do manejo sustentado.

· APROPRIAÇÃO DE DIVISAS ADICIONAIS ORIUNDAS DO COMÉRCIO

30
Comércio de Madeiras Tropicais: Subsídios para a Sustentabilidade das Florestas do Brasil
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

Mais do que redirecionar divisas geradas pelo comércio da madeira, aplica-se uma
sobretaxa a ser implantada na forma de imposto sobre o comércio de produtos de ma-
deiras tropicais, a fim de aumentar a arrecadação por países exportadores e importado-
res.

· FUNDO EXTERNO ADICIONAL PARA O COMÉRCIO


O desenvolvimento de um novo fundo assistencial seria viável para países com flores-
tas tropicais. Os recursos para esse fundo viriam de aportes de ajuda bilateral ou multi-
lateral já existentes ou a serem criados. Se necessário, recursos adicionais seriam obti-
dos de um amplo mecanismo de arrecadação, não necessariamente ligado ao comércio
de madeira tropical, para o manejo sustentado das florestas tropicais.

10. CERTIFICAÇÃO FL OREST


FLOREST AL
ORESTAL
É um meio de se prover informações sobre os produtos de madeira que são
comercializados, e não é estritamente um mecanismo público. Entre outros, um objetivo
da certificação é informar o consumidor se a madeira vem de florestas sob manejo susten-
tado. Entretanto, a certificação pode ser um pré-requisito para a implementação de muitas
opções de políticas descritas anteriormente. Por exemplo, para que a diferenciação de
taxação ou de subsídio de um produto seja implantada com sucesso, é preciso a identifica-
ção e a certificação de que o produto saiu de uma floresta manejada de acordo com os
princípios da sustentabilidade. A certificação é também requerida se a política for de proi-
bição do comércio de produtos oriundos de áreas que não estejam sob manejo sustenta-
do.
Existem muitos meios de estabelecer um sistema de certificação, em todo o setor de
produção, na concessão da floresta e no próprio produto.

10.1. CERTIFICAÇÃO DE PRODUTO


É o mais difícil modo de certificação a ser conseguido, devido às dificuldades de pro-
cedimentos e de verificação. Devido ao vasto campo de produtos tropicais
comercializados e os vários níveis de processamento utilizados até se chegar ao produto
final, torna-se extremamente difícil a adoção de regras que sejam internacionalmente
aceitas. É mais problemático ainda o fato de que o uso final de certos produtos de madei-
ra não é isolado e, sim, componente de outros produtos. O perigo é de tal classificação
atuar como uma barreira não-tarifária, discriminando um produto dos demais produtos
de madeira tropical. Isso certamente ocorrerá se a certificação for adotada unilateral-
mente ou em fases, isto é, por países isoladamente ou por blocos comerciais. As restri-
ções futuras ao comércio de produtos tropicais tendem a não serem eficientes na dimi-
nuição da velocidade de desmatamento nos trópicos.

1.2. CERTIFICAÇÃO DE CONCESSÃO

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31
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A certificação de concessão inclui essencialmente:


a) avaliação da concessão da floresta, de acordo com as linhas gerais de manejo sus-
tentado;
b) monitoramento das práticas florestais atuais na concessão, incluindo o volume de
vendas e sua destinação até o varejo;
c) certeza de que cada produto produzido de madeira da concessão tenha a
certificação que comprove sua origem.
A certificação da concessão mostra ser o melhor meio de garantir que o comércio de
madeira tropical esteja comprometido com a aquisição de manufaturados produzidos
de forma sustentada, pois promove uma atração sobre os comerciantes e companhias
envolvidas no processo de obtenção do brand recognition, ou marca de qualidade, por
adquirirem produtos de concessões manejadas de forma sustentada. Uma promoção
sobre este detalhe seria importante para os produtos atingirem o mercado consumidor,
da mesma forma de que as campanhas de “produto sem agrotóxico” e “produto amigo
do meio ambiente”. Esses aspectos positivos da certificação da concessão (ou da com-
panhia) mostram que um programa de classificação voluntário pode ser adotado em
conjunto. Um grupo de países poderia implantar tal plano voluntário de certificação tam-
bém. São idéias boas para marketing e promoção dos produtos, entretanto seria muito
difícil mostrar um plano de certificação de concessão que fosse internacionalmente aceito,
visto que é um ato imposto de forma autoritária sobre todos os concessionários do país
produtor, de uma maneira efetiva e prática.
Além disso, os custos para o monitoramento, fiscalização e verificação do processo
de produção e comercialização seriam altos. Tal plano de certificação necessitaria, sem
dúvida, de fundos internacionais, o que aumentaria os custos de implantação do sistema
de manejo sustentado. Dessa forma, não é fácil definir quem pagaria os custos adicio-
nais. Uma vez os recursos arrecadados, é difícil determinar quem implementaria tal me-
canismo de certificação, especialmente porque nem todos os concessionários nos paí-
ses produtores aceitariam um sistema como este.
Os países produtores impõem objeções com respeito ao monitoramento detalhado
da cadeia produtiva, desde a colheita até a comercialização. É pouco provável que inspe-
tores internacionais tivessem acesso a essa cadeia em todos os países produtores e, se
tivessem mesmo certa liberdade, surgiriam conflitos entre eles e os fiscais do próprio
país.
A certificação da concessão, ou da companhia, por si só não envolve programas de
suporte para a administração do manejo florestal e de seus serviços nos países produtores.
Um plano autoritário como este impõe custos adicionais ao departamento florestal. A
menos que uma compensação adequada seja providenciada, os planos de suporte e
fiscalização não existirão.
O monitoramento sobre a concessão também requer um monitoramento mais deta-
lhado dos produtos que chegam ao comércio varejista. Se o produto for feito com um só
tipo de madeira, esse monitoramento será facilitado, porém, quando se tem produtos
com várias peças, o processo de monitoramento é mais difícil. Os custos adicionais in-
32
Comércio de Madeiras Tropicais: Subsídios para a Sustentabilidade das Florestas do Brasil
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corporados ao produto quando da sua aquisição, com a devida certificação,


desencorajaram o uso do produto quando este for comparado com materiais alternati-
vos existentes no mercado. Novamente, é possível que a certificação promova compor-
tamentos não desejáveis, como:
• restrição no comércio e no uso de madeiras tropicais para vários fins e
• aumento dos meios para se encontrar saídas ou driblar o plano de certificação,
como a obtenção de madeira de áreas não monitoradas no país, de companhias
que revendem madeira de outras fontes ou forjar a certificação.

10.3. CERTIFICAÇÃO DE ÂMBITO NACIONAL


Dadas as dificuldades para certificar os produtos ou as concessões, o meio mais apro-
priado seria a adoção de uma certificação nacional atrelada a algum acordo internacio-
nal entre países produtores e consumidores, que adotariam medidas voltadas às práti-
cas de manejo sustentado dos recursos florestais. O ponto principal para tal plano de
certificação seria assegurar que um país produtor implementasse políticas e planos de
manejo que promovessem cada vez mais a estratégia de produção sustentada. Como
retorno, os produtos de madeira de origem tropical daquele país seria certificado como
“Target 2000”, preconizado pela ITTO, que lhe daria acesso mais fácil aos mercados
importadores dos países desenvolvidos.
Existem algumas razões pelas quais a certificação nacional seria mais eficaz:
» Mais barata e fácil de implantar se comparada aos outros dois planos de certificação.
A inspeção periódica por missões internacionais reconhecidas fazendo incursões
nos portos, revisões de políticas e planos de manejo seriam suficientes para a
certificação nacional ser eficaz.
» Politicamente mais aceitável. Com o apoio internacional, os países produtores acom-
panhariam o processo de certificação ou qualquer outro processo inerente a ele.
» Os certificados de origem seriam expedidos pelo país exportador ou por empresas
autorizadas para tal.
» Como a certificação é de caráter internacional, todos os produtos de madeira de
diferentes tipos de florestas do país seriam certificados.
» O desenvolvimento de políticas nacionais de produção sustentada e os planos de
uso do solo dariam suporte aos esforços das concessionárias e/ou companhias,
para atingirem práticas de manejo eficientes.
» O cumprimento do manejo florestal seria da competência do país produtor.
» Em se adotando o plano de certificação nacional, o país exportador teria acesso
facilitado a mecanismos financeiros assistenciais para implantar o seu plano de
manejo com sucesso, bem como assegurar que seus produtos fossem aceitos pe-
los mercados dos países desenvolvidos.
» Mais facilmente executável.

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Os países consumidores também perceberiam na certificação nacional um meio mais


prático de se adotar um esquema de certificação, como:
» Sob a orientação de organismos internacionais, como a ITTO, os países consumi-
dores desenvolveriam processos e planos de certificação.
» Produtos individuais oriundos de madeira não precisariam de certificação, já que o
país exportador adotaria um plano de certificação nacional.
» Os países consumidores teriam a garantia de que os países produtores adotariam o ma-
nejo sustentado como regra, segunda as diretrizes da ITTO TARGET 2000, além de
viabilizarem a implantação do plano. Teriam ainda a certeza de que seriam adotados
mecanismos para corrigir o mercado doméstico e seus desequilíbrios, bem como as
falhas políticas que promovem o desmatamento relacionado com a extração de madei-
ra.
» Seria mais fácil conseguir assistência financeira para o manejo sustentado com
acordos bilaterais ou multilaterais.
Como desvantagem a certificação nacional não deixaria satisfeitos nem os ambientalistas,
nem aqueles consumidores que querem garantias de que cada madeira comercializada
venha somente de florestas manejadas de forma sustentada, conforme acordos internaci-
onais.

1 1. OPÇÕES DE POLÍTICA COMERCIAL


A escolha de qual política deva ser adotada é amplamente governada por alguns critéri-
os:
· CRITÉRIO DA CONFORMIDADE
Baseia-se no fato de serem consistentes entre si os objetivos e os meios de cada polí-
tica a ser adotada e, também, de serem consistentes as políticas comerciais existentes e
o comércio.

· CRITÉRIO DA OTIMIZAÇÃO
Neste caso, o objetivo é observar se o ponto ótimo de cada política contempla ques-
tões que tenham objetivos econômicos, ambientais e sociais.

O critério ótimo básico para definir as opções de política comercial mencionadas inclui:
a) Eficiência Ambiental
Refere-se à habilidade do instrumento político de reduzir os efeitos do desmatamento
relacionados à extração de madeira ou, ao menos, a capacidade de promover incentivos
aos países produtores, para assegurar que seus produtos saiam de florestas manejadas
de forma sustentada.

34
Comércio de Madeiras Tropicais: Subsídios para a Sustentabilidade das Florestas do Brasil
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b) Eficiência Econômica
Depende do relativo benefício ou custo econômico das opções de instrumentos e
políticas. Aqui, levam-se em conta as implicações econômicas de qualquer criação ou
destruição de produtos de madeira, do seu comércio e os recursos financeiros aportados
à implementação da política adotada

c) Implicações Distributivas
Leva em consideração os efeitos de quem ganha e quem perde nas intervenções polí-
ticas. Essas intervenções redistribuiriam as finanças (recursos) entre países produtores,
consumidores e o resto do mundo, ao longo da cadeia produtiva.
A adoção de uma medida política depende fortemente de sua aceitação dentro do
país e pela comunidade internacional. Esta adoção só será legal como ferramenta políti-
ca se estiver em harmonia com as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A capacidade institucional e administrativa é também muito importante para a implanta-
ção de uma determinada política, como a adoção de medidadas de certificação,
monitoramento e fiscalização.
As condições adequadas referem-se a até que ponto apenas o instrumento político é
suficiente para se alcançarem os objetivos do manejo sustentado das florestas e, se não
o for, quais seriam as condições requeridas para tal.
Numa situação ideal, todos os critérios listados acima seriam examinados com caute-
la, para determinar qual é a melhor política a ser adotada.

12. MEDID AS UNILA


MEDIDAS TERAIS
UNILATERAIS
As medidas comercias já discutidas seriam simplesmente adotadas de forma unilateral.
Na verdade, existem fortes pressões dentro de alguns países importadores de produtos
tropicais que objetivam a tomada de medidas unilateralmente. Proibições de governos
locais referentes ao uso de madeiras tropicais foram adotadas por alguns países, como a
Alemanha e a Holanda. A classificação de produtos foi implantada na Áustria e a Alemanha
também pretende adotá-la. A Holanda adota a política de importação de produtos somen-
te de florestas manejadas de forma sustentada desde 1995 e está considerando a adoção
de medidas de classificação e restrições quantitativas como um meio de se atingir tal obje-
tivo. O Reino Unido vem sofrendo pressões por grupos ambientalistas para fazer o mes-
mo. Na maioria das nações do Oriente, o boicote ao uso de madeiras tropicais vem sendo
exigido pelos consumidores locais que, embora não seja estritamente uma intervenção na
política comercial, influenciariam a adoção de uma medida oficial nesse sentido.
A adoção de medidas unilaterais corre o risco de violar acordos internacionais previ-
amente estabelecidos. No entanto, alguns artigos do acordo internacional de comércio
permitem certa intervenção isolada, desde que tenha como argumento questões
ambientais.
Recentemente, a OMC vem sendo questionada quanto à possibilidade de ampliar suas

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atribuições, a fim de englobar também assuntos pertinentes às intervenções comerciais


tendo como justificativa o meio ambiente. Se assim for, tal procedimento abrirá as por-
tas para a adoção de medidas unilaterais ao comércio de madeiras por todo o globo.
Mesmo não sendo uma atribuição atual da OMC, alguns países ou blocos comerciais
estão admitindo a possibilidade de adotar medidas restritivas ao comércio de madeira
tropical no caso de serem os produtos originários de áreas sem manejo adequado.
Porém, tais medidas virão a ser discriminatórias. Primeiro, porque somente os produ-
tos tropicais seriam afetados, enquanto os produtos de regiões temperadas seriam nego-
ciados sem problemas. Além disso, há poucas evidências de que a produção nas regiões
temperadas seja executada de forma sustentada, daí a discriminação. Em segundo lugar,
a imposição de medidas intervencionistas sobre as importações de produtos tropicais
em regiões de “manejo sustentado” provariam ser arbitrárias e impraticáveis, devido às
várias interpretações do conceito de “manejo sustentado”, de acordo com os interesses
que estiverem em questão. Terceiro, a intervenção unilateral no comércio seria ineficiente
para reduzir o desmatamento nos trópicos e incrementar o comércio de madeira oriun-
da de áreas manejadas. Finalmente, uma ação unilateral tem um pequeno impacto sobre
os incentivos econômicos para o manejo sustentado.
BARBIER e RAUSCHER (1994), num modelo teórico, dizem que, se um grande país
exportador puder aumentar seu peso no mercado internacional e influenciar o preço dos
produtos, ele terá condições financeiras de manter maiores áreas de produção sob ma-
nejo sustentado a longo prazo. E se esse país, ou um cartel, receber assistência financei-
ra internacional para o manejo, então mais áreas serão somadas às já existentes. Entre-
tanto, existem problemas óbvios para a formação de um cartel de países produtores que
pudesse ter um peso significativo no mercado internacional a ponto de definir os preços.
A participação das madeiras tropicais no comércio atual é pequena, não podendo, por-
tanto, ditar os preços de mercado. Além disso, os principais exportadores, Malásia e
Indonésia, que têm expressividade no mercado internacional, não manterão essa lide-
rança por muito tempo. A cartelização também apresenta problemas de caráter político
e práticos devido às inúmeras espécies comercializadas.
Em suma, as pressões dos países importadores, para adoção de medidas unilaterais
sobre o comércio de madeiras, estão crescendo. Alguns governos já estão tomando me-
didas nesse sentido. Entretanto, são medidas discriminatórias, arbitrárias e impraticá-
veis. São também ineficazes para reduzir o desmatamento e o comércio de madeira

36
Comércio de Madeiras Tropicais: Subsídios para a Sustentabilidade das Florestas do Brasil
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tropicais oriundas de florestas não manejadas.

13. MEDID AS MUL


MEDIDAS TILA
MULTILA TERAIS
TILATERAIS
As ações multilaterais são medidas que têm como premissa uma percepção maior
das florestas tropicais, bem como as práticas de manejo que envolvem acordos e ações
internacionais.
Os estudos atuais comprovam a importância das florestas tropicais na regulação do
clima global. Além disso, tem-se a questão dos recursos genéticos dessas regiões, que
são pouco conhecidos. Essa biodiversidade tem valor econômico, não somente em ter-
mos de usos potenciais na agricultura, na indústria e na medicina, mas também pelo
valor colocado sobre a continuidade de sua existência em favor da sociedade, que é
tratado como “valor existencial”.
Esse aspecto alertou para o importante valor econômico global que as florestas pos-
suem, valor esse que não é capturado pelos produtores de madeira e que, por conseqü-
ência,200000
não está refletido nos preços de mercado desses produtos e seus derivados. Qual-
quer desmatamento
180000 relacionado à extração de madeira inevitavelmente reduz esse “va-
metros cúbicos(1000)

lor global”. Essa externalização foi identificada como uma possível justificativa de novas
transferências
160000 financeiras, ou do aumento das já existentes, em favor das nações deten-
toras 140000
de florestas tropicais. A idéia é que todas as nações se beneficiariam do esforço de
preservar os remanescentes das maiores áreas de florestas tropicais. Todas as nações,
segundo esta argumentação, deveriam contribuir para compensar as nações detentoras
120000
de florestas das perdas potenciais de divisas que sofreriam ao abdicarem da extração de
100000
madeira ou da conversão das florestas em outros usos.
69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
ano
O objetivo principal de cada opção não é penalizar o comércio nem a produção de
pr odução cons umo (pr oduçao-expor tação)
madeira, e, sim, assegurar que os mecanismos de mercado trabalhem para reforçar os
Fincentivos
igura 8 positivos
8. Evolução ao manejo
da Produção florestal.
e Consumo O melhor
de Toras Tropicaismeio de se conseguir isso é fazendo
no Brasil.
com que o comércio de madeiras tropicais promova ganhos maiores e que parte desses
ganhos possa ser aplicada no estabelecimento do manejo sustentado. As opções de po-
lítica comercial por si só não são substitutas de políticas públicas referentes à produção
e ao comércio de madeira. A comunidade internacional deve, então, olhar as opções de
política comercial como uma forma que países produtores acharam de melhor atingi-
rem os compromissos inerentes à exploração dos recursos naturais de forma sustenta-
da, em vez de usarem outras opções que não estejam de acordo com este princípio.

14. CENÁRIO BRASILEIRO


A produção e consumo de toras tropicais do Brasil ao longo dos anos está representa-

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140000

120000

100000
metros cúbicos (1000)

80000

60000

40000

20000

0
69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
ano
tor a us o ind polpa outr os us os ind combus tível

Figura 9
9. Diferentes Usos de Toras Tropicais no Brasil.

97

96
ano

95

94

24200 24400 24600 24800 25000 25200 25400 25600 25800 26000 26200

Fonte: ITTO (1998) Pr odução Consumo

Figura 10
10. Produção e Consumo de Toras Tropicais no Brasil.

do na figura 8. O País produz 26 milhões de metros cúbicos de toras de madeiras tropi-


cais beneficiadas para processamento, como mostram as figuras 9 e 10, colocando-se,
portanto, entre os maiores produtores e consumidores no setor (ITTO, 1996). O Brasil
250000
metros cúbicos (milhões)

200000
150000
100000
50000
0
80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95

Fonte: FAO (1980-90-95) ano


p ro d u ç ã o d e to ra s p ro d u to s b en efic ia d o s o u tro s u so s

Figura 11
11. Produção e Uso de Toras no Brasil.

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100

90
%

80

70
69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
Fonte: FAO (1980-90-95) ano

Figura 12
12. Percentual de Toras Produzidas não Beneficiadas.

não participa do comércio internacional de toras tropicais desde 1980, quando as expor-
tações desse tipo de produto foram proibidas pela Resolução no 128, de 5.08.1980, do
Conselho de Comércio Exterior (CONCEX).
Observa-se na figura 9 que as toras tropicais produzidas e consumidas no Brasil são
usadas principalmente como fonte de energia. Quando este volume é comparado com o
volume de produtos beneficiados, e, portanto, com um valor agregado maior, observa-
se que a produção de produtos mais nobres de madeira tropical é baixo. Logo, o consu-
mo de toras tropicais no Brasil tem como finalidade principal suprir a demanda de ener-
gia.

2000
1800
1600
metros cúbicos (milhões)

1400
1200
1000
800
600
400
200
0
69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
ano
Fonte: FAO (1980-90-95)

Figura 13
13. Evolução das Exportações dos Produtos Beneficiados pelo Brasil.

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Restrições desse tipo ao comércio de toras não trouxeram benefícios nem


econômicos,nem ambientais. No Brasil, parece estar acontecendo fato semelhante.
A proibição do comércio de toras tropicais não foi, por si só, mecanismo eficaz para
reduzir a extração sem critério, nem para aumentar a eficiência do beneficiamento de
toras produzidas, que sempre foi baixa, como mostra a figura 12. O período anterior a
1980 apresentava um percentual de beneficiamento de toras de 10% do total produzido.
Desde a suspensão da exportação de toras em 1980, observa-se uma tendência no au-
mento da quantidade de toras beneficiadas. Apesar de esse percentual subir para 20%, a
eficiência envolvida no processo de beneficiamento ainda é questionável.

Na figura 11, está uma comparação da produção de toras produzidas, beneficiadas e

30000
25000
metros cúbicos (milhões)

20000
15000
10000
5000
0
69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
ano
Fonte: FAO (1980-90-95) B r as il M alás ia

Figura 14
14. Exportações do Brasil e da Malásia dos Produtos Beneficiados4.

12000

10000
mtros cúbicos (mulhões)

8000

6000

4000

2000

0
69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
ano
Fonte: FAO (1980-90-95) madeir a s er r ada laminado compens ado

Figura 15
15. Evolução da Produção dos Produtos Beneficiados no Brasil.

4
Produtos beneficiados referem-se a soma de madeira serrada, compensados e laminados.

40
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450
400
350
300
250
US$

200
150
100
50
0
69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
ano

Fonte: FAO (1980-90-95) pr eço cor r ente pr eço def lacionado

Figura 16 . Preços Correntes e Deflacionados para Toras Beneficiadas no Brasil.

com outros usos.

14.1. RESTRIÇÃO ÀS EXPOR


EXPORTTAÇÕES DE TORAS
Quando se implementa uma restrição às exportações, a hipótese é de que haverá
estímulo ao crescimento das indústrias de processamento e a oferta de emprego. No
Brasil, esse comportamento, no que se refere ao aumento do número de serrarias na
Amazônia, praticamente dobrou a partir da Resolução que proibiu as exportações de
toras. No entanto, o País não foi capaz de entrar no mercado internacional, tendo uma
participação discreta nas exportações da maioria dos manufaturados de madeira. Na
figura 13, nota-se o aumento do volume exportado no período 1970-80, mantendo-se
estável até 1991. Daí em diante, o crescimento foi acelerado.

600

500

400
US$

300

200

100

0
69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95

Fonte: FAO (1980-90-95) ano


p r eç os c o r r en tes p r eç o s d ef la c io n a d o s

Figura 17 . Preços Correntes e Deflacionados para o Compensado Produzido no Brasil.

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500
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300
US$

200
100
0
69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95
ano
Fonte: FAO (1980-90-95 ) pr eços cor r entes pr eços defacionados

Figura 18
18. Preços Correntes e Deflacionados para Madeira Serrada no Brasil.

Uma conseqüência dessa política de restrição é que a produção de toras continua


compensando, as perdas ocorridas pelo processo de transformação ineficiente e o au-
mento do consumo doméstico. Isso provoca pressão maior sobre as reservas existentes
e não assegura o manejo adequado das florestas a longo prazo.

Ao comparar o volume de exportação dos produtos processados do Brasil com os da


Malásia, tem-se a idéia da pequena participação do Brasil no mercado internacional,
conforme ilustra a figura 14.
Outro impacto causado pela restrição da exportação de toras tem sido o excesso de
matéria prima gerado, realimentada pela incapacidade operacional de seu
beneficiamento. Nas figuras 9 e 11observam o destino das toras produzidas. Vale salien-
tar que o manejo sustentado das florestas não é adotado de forma sustentável em larga
escala.
A restrição não teve como premissa o estabelecimento de mecanismo direto de prote-
ção contra o desmatamento provocado pela extração de madeira. As pressões sobre os
recursos continuaram, ocorrendo aumento na oferta de toras para o mercado interno e
um aumento modesto na diversificação dos produtos processados, como ilustra a figura
15.
A madeira serrada foi o produto que apresentou o maior incremento em produção,
enquanto o laminado e o compensado apresentaram crescimento menos significativo
do que a madeira serrada. A influência do mercado internacional sobre tais produtos
teve uma força maior do que a medida de restrição de exportação de toras para promo-
ver suas respectivas produções e exportações, ainda que de maneira modesta. Isso está
claro nas figuras 11 e 14, onde o impulso maior das exportações brasileiras se dá no
início da década de 90, justamente no momento em que os países exportadores da Ásia,
principalmente a Malásia, começam a demonstrar uma queda na produção de madeiras
tropicais pela exautão de suas reservas.
Devido à grande extensão territorial e à precária fiscalização, a restrição das exporta-
ções de toras não resultou nem no manejo sustentado, nem na modernização do parque
industrial madeireiro até os dias atuais.

Economicamente, a liberação das exportações brasileiras de toras brutas provocaria

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uma queda no preço internacional da madeira, em virtude da grande quantidade de ma-


deira que atingiria o mercado externo, favorecendo o consumidor internacional via pre-
ços mais baixos e maior oferta de toras. O consumidor nacional perderia excedente com
as expectativas de aumento de preço, o que é socialmente negativo. Além disso, o País
perderia divisas pela não agregação de valor aos produtos

15 . O BRASIL NO MERCADO INTERNACIONAL DE MADEI-


RAS TROPICAIS
O Brasil possui quase um terço das florestas tropicais úmidas da Terra, o equivalente
a 300 milhões de hectares, correspondendo a um potencial exportável estimado em pelo
menos 15 bilhões de metros cúbicos de madeira. O País produz 11,2 milhões e consome
10,5 milhões de metros cúbicos de madeiras serradas tropicais, colocando-se, portanto,
na liderança mundial de produção e consumo no setor (FAO, 1996).
Com base nos dados publicados pela FAO (1996), em 1985, o Brasil, exportava ape-
nas 1,5% do total comercializado mundialmente. Em 1992, colocava-se em quinto lugar,
e, a partir de 1994, ocupou o segundo lugar, com um volume de 1,045 milhões de m3 e
um faturamento de US$291,833 milhões. Esse valor representa 14,8% do quantum do
comércio mundial de madeiras serradas tropicais. Segundo a ITTO (1996), Brasil, Malásia,
Indonésia, Costa do Marfim e Gabão compõem o grupo dos principais países exportado-
res, com participação de 83% deste comércio.
Considerando a redução das exportações e a queda na produção de madeiras tropi-
cais dos países do Sudeste Asiático, justifica-se conhecer o comportamento das exporta-
ções brasileiras, seus efeitos na Floresta Amazônica e no setor madeireiro, pois tudo
indica, num futuro próximo, a liderança do Brasil neste comércio.
Esta parte do trabalho especifica e estima as funções de exportação de madeiras tropi-
cais para o Brasil, no período de 1972 a 1994, tendo a Região Amazônica como base
produtora. As variáveis relacionadas com as exportações são os preços relativos, a ma-
lha viária, os subsídios à exportação, a capacidade instalada, o consumo doméstico, a
expansão da renda internacional e o papel das coníferas como substitutas das madeiras
tropicais brasileiras.
A elasticidade dessas variáveis é de suma importância para responder a uma série de
questionamentos, tais como a definição de políticas comerciais, florestais e ambientais
para assegurar a conservação da Floresta Amazônica.

1 6 . OFERTA E DEMAND
OFERTA DEMANDA A DE EXPORT AÇÃO D
EXPORTAÇÃO DAA MADEIRA
TROPICAL BRASILEIRA
16.1. MODEL
MODELOO ECONOMÉTRICO
A oferta de madeiras tropicais brasileiras pode ser especificada da seguinte maneira,

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adotando a forma log-linear:


lnX tS = a 0
+ a 1ln[PX t.E t.S t/PD t] + a 2lnU t + a 3 lnKM t + a 4lnYT t + e 1
[1]
em que
XS = o quantum de madeiras tropicais oferecidas para exportação;
PX = preço FOB das exportações;
E = taxa nominal de câmbio, em moeda nacional por dólares;
S = taxa de subsídios às exportações;
PD = índice de preço doméstico;
U = demanda interna;
KM = malha viária da Região Amazônica;
YT = variável tendência (capacidade instalada); e
e1 = termo estocástico.
A hipótese representada pela equação [1] é de que a elevação no preço (em moeda
nacional) recebido pelos exportadores vis-à-vis preços internos aumenta a remuneração
relativa das exportações. Como conseqüência, os exportadores tendem a aumentar suas
vendas externas. Portanto, a oferta de exportação depende positivamente do preço relati-
vo [PX.E.S/PD].
De acordo com Zini Jr. (1988), o índice de preço doméstico tem um papel dual na
função de oferta. Em primeiro lugar, dado um nível de preço de exportação, a rentabili-
dade de produzir visando à exportação cai quando os custos domésticos sobem. A vari-
ável PD serve como uma proxy para estes custos. Em segundo, quando PD sobe relativa-
mente, a rentabilidade de vender no exterior cai, reduzindo a oferta. Estes dois efeitos
estão resumidos em PD, pois os diferentes índices de preços domésticos são
correlacionados.
Os subsídios, na forma de incentivos fiscais e creditícios, permitem melhorar as contas
nacionais e o desempenho das exportações, sem sacrificar o nível de atividade econômica.
A demanda interna U procura captar a influência do comportamento sobre a decisão
de exportar: quanto menor esta demanda, refletida num baixo nível de atividade domés-
tica, maior seria o estímulo ao redirecionamento das vendas para o mercado externo
(Braga e Markwald, 1983). O efeito recessão/crescimento é responsável pela redução da
oferta de exportações em fases de expansão da demanda doméstica e por sua elevação
em períodos caracterizados pela diminuição do nível de atividade.
A variável malha viária KM busca captar uma correlação com os custos da exploração
florestal e de produção. Por sua relação com as exportações, é de se esperar uma associ-
ação direta, pois, à medida que se amplia a malha viária na Amazônia, maior é a disponi-
bilidade de matéria-prima para a indústria madeireira.
A expansão da oferta madeireira na Região Amazônica pode estar associada à expan-
são da malha viária, com exceção da floresta de várzea, onde a extração madeireira uti-

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liza o fluxo dos rios, Cruz (1991). A exploração na terra-firme depende de rodovias e a
evolução da malha viária pavimentada e não-pavimentada na Região Norte passou de
27.684 km, em 1972, para 95.642 km, em 1994, um aumento da ordem de 245,5%.
Este fato tem contribuído para uma maior oferta de madeira e, em alguns casos, a preços
menores.
A variável YT foi incluída na equação de oferta de exportação como um fator de escala
ou tendência, para representar os deslocamentos da curva de oferta. A inclusão desta
variável foi particularmente conveniente, já que contribui para remover da regressão o
efeito tendência e identificar a natureza da capacidade de produção sobre as exporta-
ções.
Sob padrões normais de comércio, o sinal esperado de YT é positivo. De acordo com
Zini (1988), o valor do coeficiente desta variável indica um viés pró ou anticomércio, se
sua magnitude for superior ou inferior à unidade, respectivamente. Um valor maior que
a unidade indica um viés pró-comércio; unitário, indica um efeito neutro; menor que 1,
indica um viés anticomercial; e, negativo, indica um viés anticomercial forte.
Em virtude da especificação logarítmica, as elasticidades com respeito ao preço e às
demais variáveis são dadas diretamente por ai.
A expectativa é de que a1, a3 e a4 > 0; a2 < 0.
A função de demanda pode ser especificada como:
lnX tD = b 0 - b 1lnPX t + b 2lnPS t + b 3lnYW t + b 4lnQ tR + b 5lnT + b 6D t + e 2
[2]
em que
XD = o quantum de madeiras tropicais demandadas pela exportação;
PX= preço FOB das exportações;
PS = preço do substituto;
YW = renda dos países importadores;
QR = produção do resto do mundo em relação à produção mundial;
T = variável tendência;
D = variável auxiliar e
e2 = termo estocástico.
De acordo com LEAMER e STERN (1970) e KREININ (1971), os fatores que determi-
nam a demanda por exportação de um dado produto de um certo país são: preços do
produto; preços dos substitutos; renda dos países importadores e exportadores; quanti-
dade produzida do resto do mundo; e um conjunto de fatores que refletem ações de
políticas comerciais, tais como câmbio, tarifas, subsídios, embargos, estoques e outros.
No modelo proposto, a demanda por exportação depende negativamente dos preços
do produto (PX) e da quantidade produzida do resto do mundo QR; positivamente, sob
condições normais, da renda real do resto do mundo YW.

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Quanto ao preço do substituto (PS), a priori ainda não se pode prever se as madeiras
tropicais brasileiras são substitutas ou complementares às coníferas no mercado inter-
nacional, portanto a relação de PS com o quantum de madeiras tropicais demandadas
pode ser negativa ou positiva. Mas a expectativa é de que a elasticidade-cruzada seja
positiva, o que indica que as madeiras tropicais brasileiras estão substituindo as coníferas
nos principais países importadores.
A variável tendência (T) busca captar os deslocamentos da curva de demanda, os
efeitos de fatores diversos sobre a demanda, tais como mudança na distribuição de ren-
da, gostos e preferência dos compradores. Torna-se difícil a priori prever o sinal do coe-
ficiente desta variável. O sinal do coeficiente da variável auxiliar D, na equação de de-
manda, é outra incógnita, uma vez que o objetivo da presença desta variável é contornar
os efeitos cíclicos da série estudada. Os valores de D foram atribuídos em relação à
média da série: quando a procura por exportação é menor que 400 mil m3, o valor de D
é igual a -1; acima de 500 mil m3, D é igual a 1, e no intervalo de 400 a 500 mil m3, D é
igual a zero. A expectativa é de que os ciclos da demanda por exportação se relacionem
significativamente com esta variável, portanto torna-se difícil a priori prever o sinal espe-
rado para b6.
A hipótese representada pela equação [2] é de que os importadores da madeira naci-
onal tendem a manter uma relação inversa entre o preço (PX) e o quantum (XD).
A equação [2] pode ser normalizada para o preço das exportações, fazendo com que
as variáveis endógenas do sistema fiquem como dependentes no modelo.
As equações [1] e [2] compõem o modelo de equilíbrio. Estas equações formam um
sistema superidentificado que pode ser estimado simultaneamente, supondo-se que as
quantidades demandadas e exportadas se igualem (logXD = logXS = logX) e haja indepen-
dência dos termos estocásticos.
Esse sistema pode ser estimado pelo método de Mínimos Quadrados de Dois Estágios
(MQ2E), Máxima Verossimilhança de Informações Limitada (LIML) ou por métodos
sistêmicos tais como o de Mínimos Quadrados de Três Estágios (MQ3E) e Máxima Verossi-
milhança de Informações Plena (FIML). O problema é: qual ou quais destas técnicas em-
pregar?
Se for assumida a hipótese de o Brasil ser um “país pequeno”, um price taker no senti-
do de sua pequena participação no mercado internacional de madeiras tropicais, todas
as variáveis do lado direito das equações [1] e [2] seriam exógenas. Daí, poderiam ser
estimadas as equações por Mínimos Quadrados Ordinários (OLS), Braga e Markwald
(1983)
Não assumindo essa hipótese, os métodos de Mínimos Quadrados de Dois Estágios
(MQ2E) e Máxima Verossimilhança de Informações Limitada (LIML) são estimadores efi-
cientes assintoticamente. Usam a mesma quantidade de informações, ou seja, ambos
usam todas as variáveis predeterminadas do modelo e ambos têm o mesmo grau de
eficiência, Pindyck e Rubinfeld (1981).
Mínimos Quadrados de Três Estágios (MQ3E) e Máxima Verossimilhança de Informa-

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ções Plena (FIML) usam mais informações que os métodos anteriores, além de admiti-
rem a possibilidade de correlação contemporânea entre os erros das equações contidas
no modelo, o que lhes assegura maior eficiência assintótica. São estimadores eficientes,
se o sistema estiver especificado corretamente. Mas sua aplicação com modelos mal
especificados aumenta o desvio ou a inconsistência dos resultados, porque os proble-
mas com uma equação são carreados para o sistema inteiro, Pindyck e Rubinfeld (1986).
O modelo de equilíbrio [1] admitiu a hipótese de que o ajustamento entre a demanda
e a oferta ocorre instantaneamente. Contudo, ele não capta a dinâmica de ajustamento
das exportações.
Os custos do ajustamento sugerem que a oferta reage defasadamente às mudanças nas
condições de demanda. Para investigar esta questão, o modelo de desequilíbrio ou modelo
de retardamentos distribuídos, como são chamados na literatura, têm sido empregados.
A teoria estática pressupõe que o ajustamento entre a oferta e a demanda ocorre
instantaneamente. No entanto, as variáveis econômicas que afetam a procura de um
bem exercem sua influência também por meio de retardamentos distribuídos, diante de
grupos de fatores psicológicos, tecnológicos e institucionais, que podem influir nas deci-
sões do consumidor. Desse modo, o hábito, a incerteza do futuro, o conhecimento im-
perfeito de bens substitutos e os gastos obrigatórios para satisfazer compromissos, en-
tre outros fatores, causam certa rigidez no comportamento humano e influenciaram o
consumo.
Um modo simples, sugerido por Houthakker e Magee (1969), de introduzir dinâmica
no sistema é assumir um modelo de ajustamento parcial. Isso corresponde a introduzir
uma variável dependente defasada do lado direito das equações [1] e [2]. Deixando a
oferta e a demanda se ajustarem com uma defasagem, pode-se interpretar a equação [3]
como o valor desejado de exportações, lnXt*, e postular-se um processo de ajuste defasa-
do. Esta hipótese de ajustamento é descrita como:
lnX t - LnX t-1 = l (lnX t* - lnX t-1) [3]
com 0 < l £ 1; l é chamado de elasticidade ou coeficiente de ajuste. Este coeficiente
determina a relação entre as elasticidades a curto e longo prazos, e seu cálculo é feito
subtraindo-se o coeficiente da variável Xt-1 da unidade. Dividindo-se os coeficientes das
demais variáveis pela estimativa de l, obtém-se a elasticidade das demais variáveis
Substituindo, por sua vez, as equações [1] e [2] em [3], têm-se as equações do modelo
de desequilíbrio. Note-se que, com a utilização deste esquema, é possível distinguir en-
tre elasticidade a curto e a longo prazo.
Função de oferta
lnX St = a 0 + a 1ln[PX t.E t.S t/PD t] - a 2lnU t + a 3lnKM t + a 4lnYT t + (1-l)lnX t-1 + n 1
[4]
Função de demanda
lnX D t = b 0 - b 1lnPX t + b 2lnPS t+ b 3lnYW t+ b 4lnQ t R+ b 5lnT+ b 6D t + (1-l)lnX t-1
+n 2 [5]

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A elasticidade a curto prazo é o parâmetro estimado na regressão. A elasticidade a lon-


go prazo é este parâmetro dividido pelo coeficiente de ajustamento l. Isso porque, a longo
prazo lnXt = lnXt-1 e l=1. O tempo médio de ajustamento, para que 50% do ajuste se veri-
fique, foi calculado pela fórmula (1- l)/l; e n1 e n2 são termos estocásticos das equações.
As equações [1], [2], [4] e [5] foram estimadas pelo Método dos Mínimos Quadrados
de Três Estágios (MQ3E), pela rotina PROC SISLYN do programa SAS 5.

16 .2.
16.2. AVALIAÇÃO DOS MODEL
AVALIAÇÃO OS
MODELOS
Quanto à avaliação dos modelos, Thursby e Thursby (1984) alertam para a presença
de autocorrelação dos resíduos estatisticamente significativos em estudos empíricos de
funções de exportação. A existência de autocorrelação nos resíduos foi avaliada pelo
teste d de Durbin e Watson para o modelo de equilíbrio e o teste h de Durbin, para o
modelo de desequilíbrio. A autocorrelação nos resíduos pode ser um caso de modelos
mal especificados. Neste caso, as estimativas dos parâmetros, em si, são inconsistentes.
Por esta razão, torna-se necessário testar as especificações propostas.
Um teste para a especificação da regressão (RESET), proposto por RAMSEY (1969),
inspeciona a hipótese de que a média condicional dos distúrbios é zero, contra a alterna-
tiva de que um erro de especificação tenha ocorrido. Uma estatística RESET significativa
indica que o modelo está mal especificado.

16 .3.
16.3. DADOS UTILIZADOS
Os dados deste estudo foram séries anuais, para o período 1972-94, do principal pro-
duto florestal brasileiro comercializado internacionalmente ¾ a madeira serrada de não-
conífera ¾ sendo a série construída como indicado a seguir:
A quantidade de madeira serrada exportada (X) foi medida pelo quantum das exporta-
ções de madeira serrada de não-coníferas, calculado pela FAO.
O preço de exportação de madeiras tropicais (PX) foi medido pelo valor unitário das

Modelo Int. ln[PX.E.S/PD] lnU lnKM lnYT lnX_1 R2 MSE DW h µ R E SE T


Eq. -12,31 0,54 -13,38 -0,08 1,13 0,96 0,81 0,23 0,332
(-5,81) (6,41) (-11,56) (-0,21) (3,54)
Deseq. - 9,53 0,45 -12,96 -0,48 1,27 0,28 0,97 0,81 1,53I -0,012 -0,02 0,242
(-4,70) (5,73) (-14,24) (-1,60) (5,12) (3,74)

Valores de t estão entre parênteses; MSE = quadrado médio do resíduo; I inconclusivo a 5% de probabilidade; 2 não-significativo a
1% de probabilidade; µµ= autocorrelação de 1a ordem dos resíduos.

Tabela 3. Oferta de exportação, com dados anuais, no período 1972-94

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exportações brasileiras de madeira serrada de não-coníferas, calculado pela FAO.


Para o preço mundial das exportações de madeira serrada de não-coníferas (PW), foi
utilizado o índice de valor unitário mundial das exportações, calculado pela FAO.
O efeito substituição foi mensurado pelo preço das madeiras de coníferas. O valor
unitário das exportações mundiais de madeira serrada de coníferas (PS) foi utilizado, e a
série construída foi a elaborada pela FAO.
O volume mundial de importação de madeira serrada de não-coníferas foi utilizado
como proxy da renda mundial (YW), e a série utilizada corresponde a elaborada pela
FAO.
A quantidade produzida pelo resto do mundo (QRW) foi medida pela produção mundi-
al de madeira serrada de não-coníferas (QW), menos a produção de madeira serrada
brasileira (QBR), ambos calculados pela FAO.
A produção do resto do mundo em relação a produção mundial (QR) utilizada na fun-
ção de demanda foi calculada pela seguinte expressão: QR = QRW/QW.
A taxa de câmbio nominal (E) foi utilizada, na equação de oferta, para transformar em
moeda nacional o preço em dólares de exportação. A série utilizada foi a da Fundação
Getúlio Vargas - FGV, média aritmética - preço de venda, publicada em Conjuntura Econô-
mica.
O índice de preço doméstico (PD) está representado pelo índice de preço por atacado
- IPA, calculado pela FGV, publicado em Conjuntura Econômica.
Os subsídios à exportação (S) foram construídos a partir das séries estimadas por
MUSALEM (1981), para o período 1972-79, e por PINHEIRO et al. (1993), para o período
1980-91. Para 1992 a 1994 os valores foram estimados pelos autores.
A extensão da malha viária pavimentada e não-pavimentada (KM) foi utilizada, na
equação de oferta, como uma proxy dos custos de produção e exploração florestal; a
série utilizada
Modefoi lo a do Anuário dos Transportes
C urto Prazpublicado
o pela Empresa
L ongBrasileira
o Prazo de Pla-
nejamentoEqdeuilíbTransportes
rio (GEIPOT) do Ministério
0,54 dos Transportes.
A capacidade
Desequilíbrinstalada
io (YT) foi calculada,
0,45 usando os dados anuais da0produção,62 brasi-
leira de madeira serrada de folhosas (Q ), a partir da linha de tendência de ln(QBR). Os
BR
Tabela 4
dados4.deElasticidade-preço da oferta de exportação de madeiras tropicais, no período 1972-94
produção são os provenientes da série elaborada pela FAO.
A demanda interna brasileira (U) foi calculada a partir da consumo doméstico de ma-
deira serrada nacional de não-coníferas (QI), em relação à produção brasileira de madei-
ra serrada de folhosas (QBR), da série publicada pela FAO.

17. ESTIMATIV
ESTIMATIVAS D
TIVAS DAA OFERTA DE EXPORT
OFERTA AÇÃO
EXPORTAÇÃO
A Tabela 3 mostra as regressões ajustadas para oferta de exportação. Todas as equa-
ções apresentam bom ajuste aos dados e erro-padrão pequeno para o termo residual em
torno de 0,81. Os valores do coeficiente de determinação (R2) são superiores a 0,96. Os

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diferentes parâmetros têm o sinal esperado. O modelo dinâmico da oferta teve bom
desempenho e não mostra problemas de autocorrelação nos resíduos. O procedimento
RESET, utilizado para testar a hipótese de má especificação das equações de oferta, não
rejeita a hipótese de especificação correta a 1% de probabilidade. Este resultado contri-
bui para certificar que os modelos de oferta foram especificados adequadamente.
Quanto ao problema de autocorrelação dos resíduos, o teste d de Durbin - Watson,
aplicado à equação de oferta do modelo de equilíbrio, foi inconclusivo a 5% de probabi-
lidade. O teste h de Durbin, adequado ao modelo de desequilíbrio, não foi significativo a
1%, ou seja, o teste não detectou problemas de autocorrelação dos resíduos na
especificação com a variável dependente defasada.
Na estimação do modelo de equilíbrio e de desequilíbrio, da função de oferta, pelo
método de Mínimos Quadrados de Três Estágios, os coeficientes apresentaram os sinais
esperadosVearforam
iável estatisticamente significativos,
C urto Prazo exceto o relacionado Longào variável
Prazo malha
viária (KM). ParaU as demais, os valores da -13estatística
,38 t foram maior que-17dois,
,87 indicando
que o erro-padrão
KM do parâmetro estimado-0é,08pelo menos duas vez inferior -0,à
66sua magnitu-
de. As estimativas
YT dos parâmetros dos 1modelos,13 de equilíbrio e desequilíbrio
1,75 foram
satisfatórias, como também os valores assumidos pelo coeficiente de determinação (R2)
Tabela 5
acima 5.de
Elasticidades a curto e longo
0,96 e quadrado médioprazos
dospara as demais
resíduos devariáveis que afetam
0,81, para todo oa oferta de exportação, no
sistema.
período 1972-94
Ambos os modelos constituem especificações bastante representativas do comporta-
mento da oferta de exportações de madeiras tropicais do Brasil. A estatística significativa
da variável defasada, no modelo de desequilíbrio, sugere o ajustamento dinâmico dos pre-
ços e, principalmente, das quantidades. O valor do coeficiente da variável dependente
defasada foi de 0,28, o que indica defasagem das exportações. A defasagem média das
exportações [(1-l) / l] foi de aproximadamente 2,6 anos, para que 50% do ajuste se proceda.
Com base nos testes econométricos, pode-se certificar que a oferta de madeiras tro-
picais brasileiras está de acordo com a especificação teórica. Deve-se particularmente
observar que as exportações de madeiras tropicais dependem significativamente da re-
muneração relativa das exportações versus vendas domésticas, da demanda interna, da
capacidade instalada e da variável dependente defasada em 1 ano.

Mod. Int. lnPX lnPS lnYW lnQR T D lnX_1 R2 MSE DW h µ R E SE T


Eq. -7,90 -1,05 0,97 1,35 -30,48 -0,07 0,20 0,96 0,81 2,09
1 2
0,05 0,573
(-2,02) (-3,56) (2,97) (3,10) (-4,58) (-3,48) (3,54)
Des. -9,60 -0,97 0,76 1,58 -27,54 -0,07 0,19 0,05 0,97 0,801 0,752 -0,02 0,033
(-2,03) (-3,28) (1,66) (3,44) (-3,51) (-2,62) (3,06) (0,23)

Nota: valores de t estão entre parênteses; 1MSE = quadrado médio do resíduo; 2 teste h de Durbin - indica ausência de autocorrelação
dos resíduos a 1% de probabilidade; 3 não-significativo a 1% de probabilidade; µ = autocorrelação de 1a ordem dos resíduos.

Tabela 6
6. Demanda de exportação, com dados anuais, no período 1972-94

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As elasticidades-preço da oferta das exportações foram estimadas a curto e longo


prazos (Tabela 4).

Esses valores de elasticidade-preço da oferta de exportação de madeiras tropicais,


embora significativos, são baixos, caracterizando uma oferta inelástica de exportação.
Estes valores mostram também que a oferta das madeiras tropicais brasileiras é pouco
sensível aos preços internacionais.
Os efeitos cíclicos da demanda doméstica influenciam nitidamente o quantum expor-
tado. A ordem de grandeza é: se a demanda interna aumenta em 1%, o quantum das
exportações reduz-se entre 13,38 e 17,87 pontos de percentagem, respectivamente, a
curto e a longo prazos.
A malha viária (km) não influencia estatisticamente o quantum das exportações. A
hipótese postulada, de que o aumento da extensão das estradas pavimentadas e não-
pavimentadas da Região Amazônica contribuiu para o aumento do quantum das expor-
tações de madeiras tropicais serradas da região, não se confirmou.
O aumento de um ponto percentual na produção potencial, ou seja, na variável capa-
cidade instalada (variável tendência) resulta em variação de mesma ordem entre 1,13 e
1,75 pontos de percentagem no quantum exportado. Este valor mostra que a oferta de
exportação segue um viés pró-comércio forte a curto e a longo prazo. No entanto, TYLER
(1982) encontrou, para o setor madeireiro, um forte viés anti-exportação em seu estudo
sobre as exportações
Variável de manufaturados
Modelobrasileiros,
de Equilíbripara
o diferentes
Modelo dsetores
e Deseqda
uilíecono-
brio
mia.
Preço - PX -1,049 -0,971
As elasticidades
C ruzada - Pdas
S variáveis relevantes0para
,968 explicar a oferta de exportação,
0,763 a curto
e a longo prazos, foram
Renda - YW
estimadas e os valores
1,349
são reportados na Tabela 5.
1,582
Produção do resto do mundo - QR -30,478 -27,543

Tabela 7
7. Elasticidades da demanda de exportações de madeiras tropicais do Brasil

O preço relativo (PX.E.S/PD) reflete naturalmente tanto as políticas de exportações para


o setor, quanto a política de incentivos às exportações. As demais variáveis: a intensidade
da demanda doméstica (U) e a capacidade instalada (YT) complementam as informações
estatísticas, ajudando a explicar o crescimento da oferta de exportações de madeiras tropi-

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cais.

18. ESTIMATIV
ESTIMATIVA D
TIVA DAA DEMAND
DEMANDAA DE EXPORTAÇÃO
EXPORTAÇÃO
Com relação à demanda de exportação das madeiras tropicais brasileiras, os princi-
pais resultados dos modelos de equilíbrio e de desequilíbrio, com dados anuais para o
período 1972-94, resumem-se na Tabela 6.
Na estimativa de ambos os modelos, de equilíbrio e de desequilíbrio, pelo método
MQ3E, os coeficientes apresentaram os sinais esperados e foram assintoticamente esti-
mados, o que confirma a especificação teórica. Os valores estimados, para o coeficiente
de determinação (R2) maior que 0,96 e para o quadrado médio do resíduo (MSE) de 0,80,
indicam que os modelos de demanda foram ajustados satisfatoriamente.
Os modelos de demanda estimados pelo método MQ3E constituem especificações
bastante representativas do comportamento da demanda de exportação das madeiras
tropicais brasileiras. O teste RESET rejeitou a hipótese de má especificação das funções
de demanda propostas. Os testes d de Durbin-Watson e h de Durbin rejeitaram a hipóte-
se de autocorrelação serial dos resíduos, a 1% de probabilidade.
Em detalhes, observa-se que a demanda de exportação de madeiras tropicais depen-
de significativamente do preço, do preço do substituto, do volume de madeira serrada
tropical importada como proxy da renda dos países importadores, do quantum produzi-
do pelo resto do mundo e da tendência da procura por exportações.
A não-significância da variável defasada (X-1) no modelo de desequilíbrio sugere que o
ajustamento dinâmico dos preços e, principalmente, das quantidades, não ocorreu na
demanda como na oferta. Os ajustes dos compradores ocorrem dentro do prazo de
observação de um ano.
As elasticidades-preço-direta, cruzada, renda e produção pelo resto do mundo da de-
manda de exportações foram estimadas para os modelos de equilíbrio e desequilíbrio
(Tabela 7). Como a variável defasada não foi significativa, os resultados para a demanda
foram discutidos a partir do modelo de equilíbrio.
A elasticidade-preço encontrada para a demanda de madeiras tropicais, perto da uni-
dade, indica que a expansão da quantidade exportada se fará à custa de um declínio de
preços tal, que a receita de divisas permanecerá praticamente inalterada.

A elasticidade-preço-cruzada da demanda, no valor de 0,97, permite inferir que as

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madeiras serradas tropicais brasileiras estão substituindo o consumo das coníferas ser-
radas nos principais países importadores. Esta hipótese de substituição de coníferas por
folhosas, globalmente, foi levantada por VICENT (1991). No entanto, o autor não encon-
trou valores expressivos de elasticidades-preço-cruzadas, mas chamou a atenção para
considerar a hipótese de substituição em futuros estudos e modelos a serem elaborados
no mercado de madeiras tropicais. Este efeito substituição significativo leva ao
questionamento: a) os países importadores de folhosas tropicais e detentores de flores-
tas de coníferas não estariam poupando suas florestas, em detrimento das florestas tro-
picais brasileiras, e assegurando um melhor bem-estar social e ambiental à sua popula-
ção? b) as madeiras brasileiras não estariam sofrendo perdas no valor de troca, quando
comparadas com as de coníferas?
O efeito renda mundial (YW) influencia nitidamente o quantum demandado. A ordem
de grandeza é a seguinte: se o volume importado mundialmente aumenta em um ponto
de percentagem, a demanda das exportações de madeiras tropicais brasileiras aumenta
em 1,35 ponto de percentagem. Não é um mau resultado, mas seria desejável uma elas-
ticidade-renda um pouco maior. No entanto, esta é uma variável sobre a qual a autorida-
de doméstica não detém o controle na política de promoção das exportações.
O quantum produzido pelo resto do mundo, como esperado, relacionou-se negativa-
mente com as exportações brasileiras. A magnitude deste efeito é da ordem de grandeza
de –30,48 e implica que um aumento de um ponto percentual na produção pelo resto do
mundo reduziria as quantidades das exportações brasileiras de folhosas em 30,48 pontos
de percentagem. Esse resultado traz consigo algumas preocupações, dado que a produção
dos principais países produtores de madeira serrada tropical vem declinando. Também
explica, em parte, o expressivo aumento da demanda por exportação de madeira serrada
brasileira a partir de 1993, quando as exportações brasileiras saltam de um patamar histó-
rico de 456 mil metros cúbicos para um volume exportado de mais de 1,0 milhão de m3.
A tendência da demanda por exportações foi negativa, contrariando a hipótese postu-
lada. A taxa de redução da demanda foi da ordem de 0,94. Fatores exógenos estariam
contribuindo com esta redução, tais como os embargos, os movimentos em defesa das
florestas tropicais e outros.
E, por fim, o preço das madeiras tropicais, o preço das coníferas como substituto, a
renda dos países importadores e a quantidade produzida pelo resto do mundo refletem
naturalmente a demanda por exportação das madeiras tropicais. As demais variáveis,
como a variável tendência (T) e a variável artificial (D) complementam as informações
estatísticas, ajudando a explicar a demanda de exportações de madeiras tropicais brasi-
leiras.

19. IMPLICAÇÕES DESTE ESTUDO AO MERCADO DE


MADEIRAS TROPICAIS
A oferta brasileira de exportação de madeiras tropicais responde às variações no preço,
ainda que em uma ordem de grandeza pequena. Com maiores investimentos e madeirei-

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ras de maior porte e mais eficientes na Região Amazônica, onde vêm atuando empresas
madeireiras asiáticas e transnacionais, o Brasil tende a responder por uma parcela cada
vez maior das exportações mundiais. Com isso, a elasticidade da oferta tende a aumentar.
Como ainda se vivencia um momento em que a floresta apresenta abundância do recurso
madeireiro, isto explica a baixa elasticidade-preço da oferta e confirma a hipótese postula-
da de oferta inelástica, caracterizada pelo grande potencial madeireiro da região no perío-
do estudado.
A oferta de exportação também mostra uma resposta negativa em relação à demanda
interna. Quando o crescimento doméstico, é resultado principalmente do consumo in-
terno. A oferta de exportação se reduz, caracterizando uma indústria madeireira basica-
mente orientada para o suprimento do mercado doméstico. No entanto, este resultado
também significa que o crescimento dinâmico das exportações requer uma orientação
estrutural da indústria madeireira, fazendo com que ela possa competir nos mercados
internacionais. Outra inferência com relação à oferta é que, para aumentar a demanda
interna e expandir a oferta de exportação, a capacidade produtiva tem de crescer.
A demanda de exportação de madeiras tropicais brasileiras apresenta baixa elasticida-
de-preço e moderada elasticidade-renda. Estas características impõem alguns obstácu-
los ao crescimento da receita com exportações. A elasticidade-preço da demanda baixa
significa que um aumento da oferta leva a uma redução do preço de exportação ¾ perda
nos termos de troca ¾ e pode causar apenas uma pequena resposta na receita de expor-
tação. Estas são características que regem o comércio de produtos primários e sugerem
que o setor deva incrementar de imediato a modernização da indústria madeireira e a
adoção de novas tecnologias, para um melhor uso dos produtos da floresta.
A demanda de exportação também mostra uma resposta negativa em relação à produção
do resto do mundo. A ordem de grandeza da elasticidade relacionada a esta variável é
preocupante, pois os principais exportadores de madeiras do Sudeste Asiático estão reduzin-
do drasticamente sua participação no mercado internacional. Isto resultará num forte con-
sumo sobre as madeiras da Amazônica, numa escala muito superior à praticada até 1993.
A elasticidade-preço-cruzada da demanda indica que as madeiras tropicais brasileiras
estão substituindo o consumo de coníferas serradas no mercado mundial. Este resultado
permite ao Brasil adotar uma nova postura no cenário internacional com relação à utili-
zação dos recursos florestais, e estabelecer com os países importadores de madeiras
tropicais acordos para a conservação da Floresta Amazônica.
Estes resultados sugerem algumas implicações de política econômica e florestal. Um
aumento nos preços, por meio de tributação, financiaria o déficit de pesquisa e de
tecnologia do setor, reduziria a oferta e manteria a receita de exportações nos níveis
atuais, com margem de tempo para encontrar meios para um uso mais racional da flo-
resta tropical.
A necessidade de políticas para aumentar a elasticidade da demanda por exportação fica
evidenciada. Entre estas, estão uma política comercial mais agressiva no sentido de abrir e
expandir novos mercados. Isto se justifica, porque na análise de competitividade, o efeito
destino das exportações é negativo. Consolidar marcas, introduzir novas espécies, agregar

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valores aos produtos, modernizar o parque industrial madeireiro, diferenciar os produtos no


sentido de promover um consumo mais sofisticado da madeira tropical, certificar os produ-
tos florestais sob sistemas de manejo, são políticas a serem implementadas de imediato.
A consideração geral deste estudo é de que as funções de oferta e demanda de expor-
tação apresentaram baixa sensibilidade às variações de preço. As elasticidades com rela-
ção ao consumo doméstico e a produção do resto do mundo são fortemente elásticas.
Se políticas no sentido de elevar o preço dos produtos exportados e consumidos domes-
ticamente não forem adotadas, o custo social pela perda da base florestal tende a consu-
mir os ganhos com as exportações.

20
20.. CONCLUSÕES
A participação brasileira no mercado mundial de madeira é pequena. Praticamente
todo o volume de toras e produtos aqui beneficiados é consumido internamente.
Cabe aos órgão oficiais reguladores a implantação de medidas que visem incentivar
os meios de produção e transformação de toras tropicais, promovendo a adoção cada
vez maior de sistemas de manejo sustentado, de qualificação pessoal, de modernização
industrial, de mecanismos comerciais menos burocráticos e/ou onerosos, evitando as-
sim um atrazo no desenvolvimento econômico e social das regiões produtoras e perdas
de divisas pelo País.
Há que se aumentar os incentivos econômicos e a capacidade de fiscalização dos
Governos federal, estadual e municipal, sem o que não é possível assegurar que as nor-
mas de manejo sejam implementadas e cumpridas.
A manutenção da atual restrição às exportações de toras sem beneficiamento indica
ser o mecanismo mais apropriado ao quadro brasileiro atual. Não se pode, entretanto,
continuar com tal procedimento indefinidamente. A adoção de novas políticas que vi-
sem à proteção e ao desenvolvimento do setor florestal devem ser implementadas.
No âmbito internacional, uma ação em conjunto dos países produtores é o meio mais
eficaz de se conseguir adentrar no restrito, e cada vez mais exigente, mercado internaci-
onal, visto que ações multilaterais são preferíveis e comumente mais eficazes do que
decisões unilaterais, principalmente nos mecanismos de certificação.
Consolidar marcas, introduzir novas espécies, agregar valores aos produtos, moder-
nizar o parque industrial madeireiro, diferenciar os produtos no sentido de promover
um consumo mais sofisticado da madeira tropical, certificar os produtos florestais sob
sistemas de manejo, são políticas a serem implementadas e desafios a serem soluciona-
dos pelo serviço florestal brasileiro.
Quanto a participação do Brasil no mercado internacional conclui-se que:
¤ Os modelos estruturais propostos, referentes à oferta e demanda de exportação pos-
suem bom poder de explicação. As variáveis explicativas dos modelos de equilíbrio e
de desequilíbrio, ajustados simultaneamente pelo método de Mínimos Quadrados

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de Três Estágios, conseguem responder por mais de 96% da variação observada.


¤ A hipótese de má especificação das equações de oferta e demanda de exportação
que compõem o modelo foi rejeitada a 1% de probabilidade, pelo teste RESET
(Regression Especification Error Test).
¤ A oferta de exportação é inelástica, e a mesma é explicada pela remuneração das
exportações (o preço FOB ajustado para os subsídios e para a taxa de câmbio real),
pela demanda interna caracterizando os efeitos cíclicos da economia doméstica,
pela capacidade instalada (variável tendência) e pela variável dependente defasa-
da.
¤ A oferta de exportação mostra uma resposta positiva em relação à capacidade ins-
talada e um efeito adverso à expansão da demanda interna.
¤ Uma defasagem no ajuste da oferta foi detectada e o tempo de ajustamento foi de 2,6
anos. Os valores das elasticidades-preço a curto e longo prazos foram de 0,45 e 0,62,
revelando baixa sensibilidade das madeiras tropicais brasileiras às variações de pre-
ço.
¤ A tendência da oferta de exportação mostra um viés pró-comércio no comporta-
mento das exportações de madeiras tropicais brasileiras.
¤ A demanda por exportação de madeira tropical do Brasil pode ser explicada pelo
preço FOB, pelo preço das madeiras de coníferas como substitutas, pela renda dos
países importadores, pela quantidade produzida pelo resto do mundo, por uma
variável tendência e uma auxiliar.
¤ A demanda por exportação apresentou baixa elasticidade-preço e elasticidade-ren-
da moderadamente baixa. Os valores das elasticidades-preço e renda foram de –
1,05 e 1,35, respectivamente. Esta baixa elasticidade da demanda tem uma vanta-
gem para a floresta: os produtores poderão praticar preços maiores com uma re-
dução nas quantidades exportadas, mantendo suas receitas. Isto daria margem de
tempo para que medidas fossem implementadas para adoção de práticas de mane-
jo sustentável na floresta tropical.
¤ As madeiras serradas de coníferas vêm sendo substituídas pelas de folhosas serra-
das brasileiras no mercado internacional.
¤ As exportações brasileiras de madeira serrada são altamente sensíveis ao desem-
penho da produção no resto do mundo.
¤ A tendência de uma maior participação do Brasil no mercado internacional de ma-
deiras tropicais deverá elevar a elasticidade-preço da procura. Isto tornará as ex-
portações mais sensíveis ao preço e, consequentemente, ficarão mais difíceis a
preservação e a conservação da base florestal.
¤ As elasticidades-preço da oferta e demanda por exportação estão em consonância
com outros estudos sobre mercado internacional de madeiras tropicais, muito em-
bora tais estudos tenham sido elaborados em outros países e em épocas diferen-
tes.

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¤ Por último, mas não menos importante, como alternativa de política para viabilizar
a exploração sustentável e aumentar a receita de exportação sugere-se: implementar
políticas fiscais e tributárias com o objetivo de elevar o preço da madeira tropical;
organizar um sistema de estatística econômicas por espécie e produto para o mer-
cado interno; estimular as exportações de produtos da floresta tropical de maior
valor agregado, por exemplo, painéis, laminas e outros.
¤ Finalmente, é interessante levantar sugestões para novas pesquisas. Recomenda-
se, nas futuras investigações, questionar a atual intensificação de capital na indús-
tria madeireira amazônica e estudar a expansão das exportações de madeiras tro-
picais, e seus respectivos impactos na floresta tropical; rever a política de
contigenciamento das espécies valiosas da floresta tropical por outras que penali-
zem as exportações de produtos de baixo valor agregado e limitado grau de indus-
trialização.
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Centre, 1993. (LEEC, Discussion Paper -93-03)
PROJETO UTF/BRA/047 “AGENDA POSITIVA PARA O SETOR FLORESTAL DO BRASIL”
59
Poore, D., Burgess, P., Palmer, J., Rietberger,
PROJETO TCP/BRA/6712 -S., Synnot,
“APOIO À AGENDA T. No timber
FLORESTAL DO BRASIL” without trees
trees: sustainability
in the tropical forest. London: Earthscan Publication, 1989.
Pringle, S., Tropical moist forests in world demand, supply and trade. Unasylva
Unasylva, Rome, v.28,
Sumário
RESUMO .............................................................................................................................................. 7
1.INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 8
2.PRODUÇÃO E COMÉRCIO MUNDIAL ....................................................................................... 9
3.FUTURO DO MERCADO DE MADEIRAS TROPICAIS ............................................................ 1 4
4.COMÉRCIO DE MADEIRA E DESMA
DESMATTAMENT
AMENTOO ...................................................................... 1 5
5.POLÍTICAS PÚBLICAS PARA FL
PARA OREST
FLOREST AS TROPICAIS ............................................................ 1 7
ORESTAS
6.MERCADO INTERNO E POLÍTICA PÚBLICAS ......................................................................... 1 8
7.RESTRIÇÕES COMERCIAIS AO MERCADO DE MADEIRAS TROPICAIS ............................ 1 8
7.1.RESTRIÇÕES ÀS EXPORTAÇÕES ................................................................................................ 19
7.2.RESTRIÇÕES ÀS IMPORTAÇÕES ............................................................................................... 20
7.3.BARREIRAS TARIFÁRIAS .............................................................................................................. 21
7.4.BARREIRAS NÃO-TARIFÁRIAS ..................................................................................................... 22
8.TENDÊNCIAS NAS RESTRIÇÕES AO COMÉRCIO DE MADEIRAS TROPICAIS ................. 2 5
9.SUSTENT ABILID
9.SUSTENTABILID ADE D
ABILIDADE AS FL
DAS OREST
FLOREST AS VIA MERCADO ......................................................... 2 7
ORESTAS
10.CERTIFICAÇÃO FL OREST
FLOREST AL ..................................................................................................... 3 0
ORESTAL
11.OPÇÕES DE POLÍTICA COMERCIAL ..................................................................................... 3 3
12. MEDID AS UNILA
MEDIDAS TERAIS .......................................................................................................... 3 4
UNILATERAIS
13.MEDID AS MUL
13.MEDIDAS TILA
MULTILA TERAIS ....................................................................................................... 3 6
TILATERAIS
14. CENÁRIO BRASILEIRO ............................................................................................................. 3 7
14.1.RESTRIÇÃO ÀS EXPORTAÇÕES DE TORAS .............................................................................. 39
15.O BRASIL NO MERCADO INTERNACIONAL DE MADEIRAS TROPICAIS ........................ 4 2
16.OFERT
16.OFERTAA E DEMAND
DEMANDAA DE EXPORT AÇÃO D
EXPORTAÇÃO DAA MADEIRA TROPICAL BRASILEIRA ............ 4 3
16.1.MODELO ECONOMÉTRICO ................................................................................................... 43
16.2.AVALIAÇÃO DOS MODELOS .................................................................................................. 47
16.3. DADOS UTILIZADOS ............................................................................................................. 47
17.ESTIMA TIV
17.ESTIMATIV AS D
TIVAS DAA OFERT
OFERTAA DE EXPORT AÇÃO ....................................................................... 4 8
EXPORTAÇÃO
18. ESTIMA TIV
ESTIMATIV
TIVAA D
DAA DEMAND
DEMANDAA DE EXPORT AÇÃO .................................................................. 5 0
EXPORTAÇÃO
19. IMPLICAÇÕES DESTE ESTUDO AO MERCADO DE MADEIRAS TROPICAIS ................ 5 2
20. CONCLUSÕES .......................................................................................................................... 5 4
21. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................ 5 6
22.LITERA TURA RECOMEND
22.LITERATURA AD
RECOMENDAD
ADAA ................................................................................................. 5 7
ANEXO 1. CÓDIGOS E SIGLAS UTILIZADOS NA TABELA 1 ..................................................... 5 9

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