da salinidade e recuperação
de áreas afetadas por sais
Drenagem agrícola no manejo
20 dos solos afetados por sais
Vera L. A. de Lima1, Maria S. S. de Farias1 & João C. F. Borges Júnior2
Introdução
Drenagem agrícola e salinidade
Diagnóstico de problemas de drenagem
Profundidade do lençol freático
Poços de observação
Condutividade hidráulica do solo
Porosidade
Critérios de drenagem
Envoltórios
Aplicação de modelos na drenagem agrícola
Modelagem com base no balanço hídrico e de sais na zona radicular
Modelagem com base na equação de Richards (ER) e na equação de convecção-
dispersão (ECD)
Critérios de dimensionamento implementados na modelagem
Exemplo de aplicação
Referências
Fortaleza - CE
2010
370 Vera L.A. de L. et al.
m3 de água nas zonas áridas são necessários de 1.5–2.5 A destinação adequada da água de drenagem inclue
m 3 . O elevado consumo de água nesta atividade a redução dos volumes de água drenada, o uso de bacias
contribui para elevar a concentração de sais no solo e de evaporação, o reuso da água de forma direta ou pela
nas fontes de água. mistura com água de boa qualidade para a irrigação e o
A acumulação de sais, na rizosfera, prejudica o emprego da biodrenagem. Este sistema consiste em
crescimento e desenvolvimento das culturas, provocando remover, por meio do uso de vegetação, da água perdida
um decréscimo de produtividade e, em casos mais por percolação, nos sistemas de irrigação. Thiyagarajan
severos, pode levar a um colapso da produção agrícola. & Umadevi (2006) confirmam que o uso da vegetação,
Isto ocorre em razão da elevação do potencial osmótico ou biodrenagem pode ser combinado a drenagem
da solução do solo, por efeitos tóxicos dos íons específicos convencional promovendo a disposição dos efluentes com
e alteração das condições físicas e químicas do solo. menor custo e de forma ambientalmente adequada.
Desta percepção, elucida-se que diante da Na concepção de um projeto de irrigação, quando da
problemática econômica e ambiental da salinização na etapa de diagnóstico da área, deve ser incluído na
agricultura, é essencial a indicação de medidas que avaliação estudos de drenagem, com objetivo de elaborar
apontem soluções concretas para o problema um projeto considerando as necessidades de implantação
apresentado. Diversos pesquisadores afirmam que um dos da drenagem na área. O plano de monitoramento do
meios mais efetivos para controlar o problema da sistema, deve fazer parte do projeto, só assim é possível
salinidade consiste na lixiviação dos sais e no fazer uma retroalimentação de ações estratégicas que
rebaixamento do lençol freático, o que pode ser viabilizado possam ser implantadas no projeto.
aplicando-se uma lâmina de irrigação extra e construindo Manter uma produtividade satisfatória das culturas
sistemas de drenagem subterrânea, que possibilitem em áreas intensamente irrigadas, depende de uma
coletar e conduzir a água salina de drenagem para fora drenagem adequada. Em longo prazo, a sustentabilidade
da área irrigada. da atividade agrícola sem a drenagem é questionável, em
Sales et al. (2004) analisando o desempenho de um termos de se manter não só a integridade ambiental e o
sistema de drenagem subterrânea em área cultivada com lençol freático baixo mas, também, a própria
a cultura da videira no Ceará, constataram que embora o produtividade das culturas, devido aos riscos acelerados
sistema de drenagem reduziu os níveis de salinidade do de encharcamento e salinidade na zona radicular efetiva
solo, que antes da instalação da drenagem alcançava das culturas (Manguerra & Garcia, 1997). Esses riscos
valores de até 10 ds m-1 , para uma faixa de salinidade podem ser prevenidos por um controle melhor da água,
que não apresenta riscos para a cultura. assegurando-se que todo projeto de irrigação tenha uma
A fração da água de irrigação, que percola, drenagem adequada (Garcia et al., 1992; Datta et al.,
normalmente arrasta consigo sais solúveis, fertilizantes, 2000).
resíduos de defensivos e de herbicidas, nutrientes e outros
produtos químicos de modo que, o efluente da drenagem DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS
subterrânea constitui uma fonte de contaminação das DE DRENAGEM
águas, a jusante do perímetro irrigado Lima (1998).
Frota Júnior et al. (2007) investigando a influência O conhecimento e diagnóstico dos problemas de
antrópica na adição de sais no trecho perenizado da bacia drenagem agrícola têm como principal finalidade
hidrográfica do Rio Curu, Ceará concluíram que as maiores determinar a extensão da área com problemas de
alterações foram registradas quando as águas cruzavam drenagem, identificar as causas dos excessos de água,
perímetros irrigados e áreas urbanas, expressando a ação quantificar as entradas e saídas de água, a freqüência e
antrópica sobre a qualidade das águas superficiais na bacia duração das recargas, determinar a profundidade do
do Curu, sendo que o íon que apresentou maior incremento nível freático e sua relação com a precipitação e os
na sua concentração foi o sódio; níveis das águas superficiais da área de entorno.
Os impactos da irrigação na elevação da salinidade O diagnóstico compreende o estudo básico sobre o
das águas dos rios é destacada por Smedema & Shiati solo, precipitação, águas superficiais e subterrâneas, para
(2002) como um problema que ocorre quase sempre nas tanto é necessário o levantamento de dados da área por
áreas semi-áridas ou áridas e que está diretamente meio de fotografias aéreas, mapas topográficos e de
relacionada com a retirada da água, de boa qualidade, do solos, e dados de clima, cultivos,
rio para atender a irrigação e o retorno da água de O levantamento topográfico deverá fornecer
drenagem salina para o rio, ocasionando a degradação da informações sobre a localização de pontos de descarga
qualidade da água a juzante da área irrigada. do sistema de drenagem subterrâneo. A partir desta
372 Vera L.A. de L. et al.
4 4
área de recarga ou descarga e o valor relativo da Figura 1. (A) Mapa de Isobatas; (B) Mapa de Isoypsas
condutividade hidráulica.
Poços de observação
São poços perfurados com trado manual, revestidos
ou não com tubos de 1 a 2 polegadas, perfurados ou
ranhurados de modo a permitir a entrada da água do
lençol freático, devem ser envelopados com tela de
material sintético. Recomenda-se deixar uma sobra no
tubo a partir da superfície do terreno de 0,50 m e usar um
tampão na extremidade superior.
Entretanto, devido à sua simplicidade podem sofrer
obstruções e outros efeitos destrutivos que os inutilizam
especialmente se o solo for instável. Assim convém tomar
certos cuidados a fim de preservar a sua funcionalidade
por um tempo prolongado. A Figura 2 mostra o esquema Figura 2. Esquema de um poço de observação
de um poço de observação.
Para se conhecer a situação do lençol freático em a seguinte densidade de pontos de observação em função
uma área são necessárias informações de vários pontos da área (Tabela 1), segunda Ridder (1974).
motivo pelo qual se deve instalar uma rede de poços na As medições da profundidade do lençol freático
área em estudo. Recomenda-se que sejam instalados em podem ser realizadas: semanais, quinzenais ou mensais,
locais de fácil acesso em qualquer tempo e sua posição dependem do objetivo do estudo, pode ser utilizada uma
deve ser imediatamente identificada a fim de não sonda que emita um som ao entrar em contato com a
prejudicar a coleta sistemática de dados. Recomenda-se água ou uma sonda elétrica, entre outros.
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 373
Tabela 1. Número de poços de observação por área constante de proporcionalidade entre o gradiente e o
Área (ha) Número de Pontos de Observação fluxo de um meio poroso.
100 20 A determinação de K 0 pode ser feita através de
1.000 40 métodos de laboratório e de campo, em que os de
10.000 100 laboratório mais usuais, são: permeâmetro de carga
100.000 300 constante e carga variável. Os métodos de campo, são
mais precisos, tendo em vista o maior volume de solo
Os níveis de água de superfície em contato com a considerado sem alteração da sua estrutura. No campo,
água subterrânea não podem ser esquecidos nesse tipo destacam-se os métodos que usam o princípio do fluxo
de levantamento. A água de um curso natural é contínuo, como o furo de trado (poço), os de fluxo
alimentada basicamente pelo lençol freático. Quando isso constante, sendo que o princípio do fluxo contínuo é mais
ocorre continuamente, o curso é perene ou efluente. utilizado; os mais aplicados são o do furo de trado (não
Quando o nível freático é rebaixado durante certo tempo, aconselhado para solos arenosos) e o método de Porchet,
o curso passa a ser intermitente ou afluente. A também conhecido como método inverso, uma vez que
verificação do nível de um curso d’água ou lago que mede a K0 na ausência do lençol freático (Barreto et al.,
estejam em contato com o lençol freático é de grande 2004).
utilidade. Os métodos de laboratório apresentam o
Farias (1999) avaliando a profundidade do lençol inconveniente de usarem amostras de tamanho reduzido,
freático no Perímetro irrigado de São Gonçalo-PB, e, portanto, representativas de pequeno volume de solo.
verificou que aproximadamente 80% da área avaliada, Os métodos de campo, são mais precisos, tendo em vista
encontrava-se com o lençol freático próximo a superfície, o maior volume de solo considerado sem alteração da
indicando a necessidade de implantação de um sistema sua estrutura.
de drenagem na área. Não sendo possível, medir a condutividade hidráulica,
Com base no diagnóstico, deverão ser identificadas e valores de referencia podem ser encontrados em livros
apresentadas as áreas de solo que necessitam a de drenagem em função do tipo de solo (Tabela 2).
implantação de sistema de drenagem subterrânea,
imediata, ou seja, juntamente com a implantação do Tabela 2. Valores de condutividade hidráulica para solos de
projeto de irrigação; áreas que poderão necessitar diferentes texturas
drenagem subterrânea após o início da irrigação da área Tipo de Solo Condutividade Hidráulica (m dia-1)
e áreas que não necessitarão de drenagem subterrânea, Textura fina < 0,036
Textura media 0,036 - 1,560
mesmo após a introdução de irrigação.
Textura grossa 1,560 - 3,000
Turfa 3,000 - 6,000
Condutividade hidráulica do solo Fonte: Silveira (1992)
Back et al. (1990) afirmam, que para a aplicação das
equações de drenagem, deve-se conhecer a No Perímetro irrigado de São Gonçalo-PB (Barreto
condutividade hidráulica do solo saturado, a et al., 2004) constataram grandes variações espaciais,
macroporosidade, a estratigrafia do perfil, os parâmetros horizontal e vertical, nos valores da condutividade
geométricos do sistema, o critério de drenagem e a hidráulica saturada, no solo aluvial estudado atribuídas,
recarga do lençol freático; entretanto, essas variações em parte, à gênese e à evolução do solo local, devido aos
processos de sedimentação aluvial. O autor sugere, um
podem, também, estar associadas a efeitos de outros
estudo mais detalhado em campo, utilizando-se um
parâmetros físicos de solo. A condutividade hidráulica
método mais abrangente como o da descarga dos
depende da textura, do arranjo das partículas (estrutura),
drenos, agregando-se a condutividade hidráulica a outros
da dispersão das partículas finas e da sua densidade, e
parâmetros físicos de solo, estudados para fins de
da massa sólida. drenagem.
Entre os parâmetros físicos de solo para fins de
drenagem, a condutividade hidráulica do solo saturado K0, Porosidade
medida no campo, tem a maior importância no A Porosidade total (P) é o nome dado à porção do solo
dimensionamento e planejamento da drenagem interna, não ocupada por sólidos. Essa porção varia de 30 a 60%
particularmente importante quando se busca a eficácia do (0,3 a 0,6). Em geral solos arenosos são menos porosos,
domínio hidrológico para uma decisão correta dos embora seus poros sejam maiores. A porosidade total
critérios de drenagem, em termos de espaçamento entre exerce influência sobre a retenção de água no solo,
drenos, uma vez que o valor de K 0 representa a aeração e enraizamento das plantas.
374 Vera L.A. de L. et al.
A porosidade drenável ou macroporosidade (), salinização dos solos. Nas regiões semi-áridas a definição
representa a proporção de macroporos responsáveis pela dos critérios de drenagem deve conjugar a manutenção
drenagem e aeração do solo Pizarro (1978) e Beltran de uma profundidade que permita condições adequadas
(1986) definem a porosidade drenável como uma fração de aeração na zona radicular dos cultivos, o atendimento
da porosidade total na qual a água se move livremente, a necessidade de lixiviação e minimizar a capilaridade
cujo valor equivale ao conteúdo de ar presente no solo das águas salinas Sarwar et al. (2000).
na capacidade de campo. Em condições de regime
variável a porosidade drenável é utilizada, juntamente ENVOLTÓRIOS
com a condutividade hidráulica do solo saturado (K), para
cálculo do espaçamento entre linhas de dreno. A operação dos sistemas de drenagem requer o
A determinação da porosidade drenável em campos controle do carreamento de partículas do solo, pela água
experimentais de drenagem ou em modelos reduzidos de para o interior do tubo drenante, este transporte de solo
laboratório pode ser feita através de medições pode reduzir significativamente a eficiência do sistema de
simultâneas de descarga de drenos (q) e cargas drenagem. Para o controle deste problema recomenda-
hidráulicas (h). Os resultados obtidos por este se o emprego de envoltório apropriado ao tipo de solo e
procedimento são mais representativos das condições tubo utilizado (Dierickx & Yuncuoglu, 1982).
reais estudadas, por envolver um volume maior de solo Stuyt & Dierickx (2004) enfatizam que o envoltório
nas determinações, o que contribui para a redução da deve ser usado não apenas para proteger o sistema de
variabilidade espacial dos dados (Queiroz, 1997). drenagem da entrada de partículas de solo, mas também
para facilitar a entrada da água nos drenos em razão da
CRITÉRIOS DE DRENAGEM maior permeabilidade que esses materiais criam em torno
da tubulação.
Segundo Oosterbaan (1988) os critérios de drenagem O envoltório pode ser constituído de material mineral,
devem ser definidos para períodos longos, levando-se em sintético ou orgânico (Batista et al., 1998). Materiais
conta a produção da cultura, o solo, o período crítico, e, orgânicos, inclusive resíduos como palhas de arroz, fibras
se possível, obter dados em campos pilotos vizinhos; de coco e folhas podem ser usados como envoltórios,
definir a profundidade do lençol freático mais elevada muitos desses produtos tem apresentado segundo Stuyt
durante o período crítico; fazer um balanço d’água para & Dierickx (2004) desempenho hidráulico superior aos
estes locais e determinar a taxa de descarga nos drenos, materiais utilizados comercialmente.
a cada mês, calculando-se também a descarga média no Almeida (2005) avaliando os envoltórios em manta
período crítico. bidim OP-20, brita zero e espuma encontrou um
Se o regime de fluxo da água para os drenos é desempenho hidráulico satisfatório, Os envoltórios de sisal
constante, o primeiro critério consiste em adotar uma e raspas de borracha provenientes de sandálias inibiram,
descarga específica, s, de forma que o nível freático visualmente, a entrada de partículas do material poroso
permaneça estacionário. O segundo critério estabelece para o interior dos tubos Drenoflex, PVC liso e Kananet
que a profundidade mínima do lençol freático no ponto sendo o envoltório em brita zero superior, seguido do
médio entre dois drenos consecutivos. Se a recarga é material espuma. O autor salienta que a espuma, produto
variável a adoção de critérios de regime permanente sintético à base de poliuretano, pode ser utilizada como
levaria a adoção de sistemas muito densos de custo opção para material envoltório na drenagem,
elevado. Neste caso assevera Beltrán (1986) pode-se apresentando, inclusive, desempenho hidráulico superior
armazenar a água no espaço poroso drenável do solo ao envoltório em manta bidim OP-20.
acima do nível de drenagem, para reter parte da água
que percola. Sarwar et al. (2000) avaliando parâmetros APLICAÇÃO DE MODELOS
hidráulicos em projetos de drenagem no Paquistão NA DRENAGEM AGRÍCOLA
identificaram como principal causa da baixa eficiência
dos sistemas o estabelecimento de critérios baseados Um modelo pode ser considerado como uma
em regime permanente deixando de considerar as representação simplificada da realidade, auxiliando no
condições hidrológicas de campo que eram de regime entendimento dos processos que envolvem esta
variável. realidade. Os modelos estão sendo cada vez mais
A posição ótima do lençol freático depende da relação utilizados em estudos ambientais, pois ajudam a entender
entre o nível freático e a produção dos cultivos, a o impacto das mudanças no uso da terra e prever
trafegabilidade de máquinas agrícolas e os riscos de alterações futuras nos ecossistemas.
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 375
Arm - lâmina armazenada na zona radicular, m; K(h) - condutividade hidráulica do meio não-
cI - concentração de sais na água de irrigação, saturado, m dia-1.
-3
kg m ;
I - lâmina de irrigação, m; Dividindo-se o perfil do solo em incrementos z, a
cFA - concentração de sais na água freática, Eq. 2 pode ser escrita na forma de diferenças finitas,
kg m-3; como
FA - fluxo ascendente oriundo do lençol freático
(ascensão capilar), m; h i 1 h i
q K(h i ) K(h i ) (3)
c TR - concentração média de sais na solução Δz
absorvida pelas plantas, kg m-3;
Tr - transpiração real, m;
Explicitando-se a equação acima para hi+1, obtém-se
cPP - concentração de sais na solução percolada,
kg m-3;
Δz
PP - percolação profunda ou lâmina percolada h i 1 h i Δz q (4)
K(h i )
para abaixo da zona radicular, m.
É usual considerar que a retirada de sais pelas plantas Nas Eqs. 3 e 4, os valores de h são negativos, assim
é desprezível, ou seja, que cTR é igual a zero. Porém, esta como os valores de q, visto que o eixo de coordenadas
componente pode ser significativa, já que reflete a vertical é orientado para baixo.
absorção de nutrientes, como o potássio, pelo sistema O procedimento para obtenção de valores de
radicular. Vale também notar a capacidade de algumas profundidade do lençol freático correspondentes a
espécies, por exemplo, as do gênero Atriplex (erva sal), determinados valores de fluxo ascendente máximo (qmax)
com notável capacidade de desenvolvimento em consiste das seguintes etapas:
ambientes salinos, bem como de dessalinização de solos.
i. Obter as funções K() e (h) para o solo em
O balanço hídrico em áreas de lençol freático raso
questão, em que é o teor de água em base volumétrica
requer a estimativa do fluxo ascendente proveniente do
(m3 m-3).
lençol freático (escoamento na região não saturada do
ii. Estabelecer valores de q = qmax, para os quais serão
perfil do solo), que chega à base da zona radicular. Esta
estimativa pode ser baseada na curva característica do calculadas as respectivas posições do lençol freático.
solo, evapotranspiração real da cultura e profundidade do iii. Considerar, como condição de contorno, que o teor
lençol freático. Procedimentos numéricos similares aos de água do solo, junto ao plano que passa pela base da
descritos por Skaggs (1981), Duarte (1997) e Borges zona radicular, é baixo em relação à capacidade de
Júnior (2004), possibilitam a determinação de valores campo. Sugere-se que este valor seja -5 mca (-50 kPa).
máximos do fluxo ascendente, para cada profundidade do A consideração de um baixo valor de potencial matricial
lençol freático em relação à base da zona radicular. Estes na base da zona radicular é empregada visando calcular
procedimentos são relativos à condição de regime o fluxo ascendente máximo, já que quanto menor o valor,
permanente. maior será o fluxo.
A equação para o fluxo ascendente, em qualquer iv. Calcular h2 pela Eq. 4, utilizando o valor de K(-5)
ponto abaixo da zona radicular, pode ser obtida a partir e um dos valores de qmax já estabelecidos.
da Darcy-Buckingham, dada por v. Calcular h3, utilizando o valor de K(h2) na Eq. 4 e,
assim, sucessivamente.
q K h K h
dh
(2)
dz A posição do lençol freático, correspondente ao valor
de qmax utilizado e tendo como referência a base da zona
em que: radicular, é aquela para a qual o valor de h = 0.
q - fluxo ascendente oriundo do lençol freático, A aplicação da técnica acima descrita requer o
-1
m dia ; conhecimento da relação funcional entre condutividade
z - coordenada vertical, positiva para baixo, m; hidráulica e potencial matricial, que pode ser obtida a
h - carga de pressão, m (somatório das partir da curva característica. Considerando que a carga
componentes de pressão e matricial do potencial total da de pressão, h, é igual ao potencial matricial, m, pode-se
água no solo; para meio não saturado, portanto, equivale utilizar o modelo de Genutchen (1980) e Mualem (1976)
ao potencial matricial); para estas funções.
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 377
A função (m), conforme descrita pelo modelo de Hydrus1-D (Simunek et al., 2005), com base apenas em
Genuchten (1980), é expressa por: classes texturais.
2
K θ Kvo S ej 1 1 S1/m
m 25
e (6)
dia ) dia )
-1
20
-1
máximo (mm(mm
em que:
Fluxo ascendente máximo
15
10
O teor de água efetivo, Se, é dado por Figura 4. Fluxo ascendente máximo para diferentes
profundidades do lençol freático
θΨ m θr 1
Se
1 αΨ
(7)
θ S θr n m Modelagem com base na equação de Richards (ER)
m
e na equação de convecção-dispersão (ECD)
Lorenzo Adolph Richards (1904–1993) formulou, em
O parâmetro j foi estimado em 0,5, representando 1931, uma equação que governa a dinâmica da água em
uma média obtida para muitos solos (Mualem, 1976; solos não saturados. Trata-se de uma equação diferencial
Simunek et al., 2005). não linear, não tendo, de modo geral, solução analítica.
A aplicação dos procedimentos acima descritos Portanto, requer-se o uso de métodos numéricos para
possibilita verificar, para diferentes solos, o fluxo obtenção de soluções.
ascendente máximo. Para fins de ilustração, estes Em uma dimensão, a equação de Richards (ER) pode
procedimentos foram executados para três tipos de solo, ser expressa por:
cujas características apresentadas na Tabela 3 foram
obtidas por meio do modelo computacional de θ h h
C(h) K(h) K(h) S(h) (8)
pedotransferência Rosetta, implementado no programa t t z z
378 Vera L.A. de L. et al.
em que C(h) é a capacidade hídrica específica em função A modelagem em duas ou três dimensões, embora
da carga de pressão, z e t são, respectivamente, as tenha maior requerimento computacional, aplica-se
variáveis de posição e tempo, K(h) é a relação funcional prontamente às zonas saturadas e não saturadas do solo.
entre condutividade hidráulica e carga de pressão e S(h) Permite a consideração adequada da heterogeneidade do
é o termo fonte ou sumidouro de água, que pode ser solo e fluxo preferencial, bem como uma representação
usado para representar a retirada de água pelas raízes de mais realística de estruturas, como drenos e linhas
plantas. subsuperficiais de irrigação, implantadas no sistema a ser
Generalizando para três dimensões, a ER é descrita estudado.
como: Segundo McWhorter & Marinelli (1999), alguns
autores tem empregado simplificações do modelo físico-
θ K z (h)
.K (h)h
matemático considerando separadamente o fluxo nas
S(h) div q S(h) (9)
t z zonas não saturada e saturada. Um exemplo é o
programa CSUID (Garcia et al., 1995; Mangerra e
em que K é o tensor condutividade hidráulica, Kz(h) é a Garcia, 1995), em que o fluxo é calculado na zona não
condutividade hidráulica na direção z em função de h, div saturada aplicando-se a equação de Richards na forma
é o operador divergente e q é o vetor fluxo. unidimensional, vinculado à zona saturada em que o a
A equação de convecção-dispersão (ECD), para dinâmica de água é modelada bidimensionalmente pela
transporte de solutos, pode ser escrita como: aplicação da equação de Boussinesq. Em ambas as
zonas, a dinâmica de solutos é modelada pela equação de
θc convecção-dispersão.
.cq θD.c c' (10) O SWATRE é um modelo para escoamento transiente
t
vertical no solo. O modelo inclui um termo sumidouro
para extração de água pelas raízes e duas funções para
em que escoamento em direção aos drenos. Uma versão mais
c - concentração de soluto, kg m-3; avançada incorpora o transporte de soluto. A vantagem
q - vetor fluxo, m h-1;
desta aproximação é que ela é baseada numa teoria
D - tensor do coeficiente de dispersão, cm2 h-1; e
robusta para movimento vertical de água na zona não-
c’ - termo fonte ou sumidouro, kg m-3 h-1.
saturada. Como a maior parte do movimento de água em
meio não-saturado tende a ocorrer em direção vertical,
Como exemplos de modelos baseados em soluções
mesmo com drenos no solo, esta aproximação pode
numéricas da equação de Richards e da equação de
fornecer estimativas realistas das condições de solo
convecção-dispersão (ECD), fora do País, cita-se:
acima do lençol freático. Outra vantagem do modelo é a
SWATRE (Belmans et al., 1983), CSUID (Garcia et al.,
1995) e Hydrus (Rassam et al., 2003; Hassam et al., possibilidade de sua aplicação para solos sem lençol
2005; Simunek et al., 2005; Simunek et al., 2008), este freático. Devido o SWATRE combinar conceitos de
último talvez o mais difundido atualmente no âmbito escoamento de água no solo, salinidade do solo e
global. drenagem, ele pode ser usado para analisar problemas de
Abordagens em uma, duas ou três dimensões são excesso de água e salinidade em agricultura irrigada
verificadas em modelos desta categoria. A modelagem (Skaggs, 1999; Tarjuelo & Juan, 1999).
em uma dimensão tem como vantagem o menor O modelo computacional Hydrus-1D (Simunek et al.,
requerimento computacional, em termos de memória e 2005) simula o movimento de água com base na
capacidade de processamento, e menor requerimento de equação de Richards, o transporte de calor e de solutos,
dados. O fluxo na zona saturada na base do perfil em uma dimensão, em regime variável. No modelo
(condição de contorno de base) pode ser calculado por Hydrus-2D (Rassam et al., 2003; Hassam et al., 2005)
meio de relações entre fluxo de drenagem e nível o movimento de água, calor e transporte de solutos são
freático. Outras vantagens como robustez nos tratados em duas dimensões. Recentemente foi
procedimentos numéricos e disponibilidade de dados disponibilizada a versão Hydrus-2D/3D, para modelagem
hidrodinâmicos do solo são citadas por Dam et al. tridimensional.
(2004). Como desvantagens, estes autores citam a O pacote Hydrus-2D é constituído pelo programa
validade apenas para a região não saturada do solo e a computacional Hydrus2 e pela interface gráfica
necessidade na utilização de parâmetros médios para Hydrus2D, que facilita sua utilização. Resolve,
tratamento da heterogeneidade do solo e do fluxo numericamente, a equação de Richards para escoamento
preferencial. em meio saturado e não saturado, e a equação de
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 379
calculado de modo similar ao implementado para o avaliados. A profundidade de drenos considerada foi de
DRAINMOD-S (Borges Júnior et al., 2008). 1,2 m.
Comumente, modelos computacionais mecanísticos, O programa converte valores de condutividade
baseados nas equações de Richards e da convecção- elétrica, dS m-1, para concentração, mg L-1, usando uma
dispersão, não abrangem, dentre as variáveis de saída, relação de 700 (mg L -1) por dS m -1. Esta relação é
estimativas da produtividade. Contudo, estes modelos têm aproximada, dependendo da composição de íons
algoritmos implementados que visam a estimar o impacto verificada (Rhoades et al., 1992).
de condições no ambiente da zona radicular sobre a Na Figura 5 apresenta-se a variação da salinidade na
evapotranspiração. Assim, por meio de relações como zona radicular ao longo do primeiro ano da modelagem,
aquela apresentada na Eq. 12, estimativas de simulada para os espaçamentos de 30 e 50 m.
produtividade podem também ser feitas. Em algumas Observam-se maiores concentrações para o
versões do Hydrus e no SWATRE, a extração de água espaçamento de 50 m, conforme esperado, já que
pelas raízes é feita empregando a metodologia proposta maiores espaçamentos proporcionam menores
por Feddes et al. (1978, apud Simunek et al., 1999; profundidades do lençol freático e, consequentemente,
Skaggs, 1999). Nesta metodologia, a extração é maiores fluxos ascendentes que levarão sais presente na
dependente da carga de pressão h. zona saturada para a zona radicular.
A adoção de critérios financeiros tem sido também
7
uma opção para projeto de sistemas de drenagem. A
6
análise financeira abrange o cálculo de produtividade,
Salinidade (kg m -3)
5
com base em dados climáticos, solos e de cultura. Além 4
disso, permite identificar, por meio do fluxo de caixa ao 3
longo da vida útil do projeto, combinações de 2
espaçamento e profundidade de drenos que otimizem o 1
retorno financeiro. Critérios de avaliação de projeto, 0
como o valor presente líquido, podem ser empregados. 0 50 100 150 200 250 300 350 400
Dia do ano
L = 30 m L = 50 m
Exemplo de aplicação
Figura 5. Variação da salinidade na zona radicular para o ano
Será apresentada, a fim de ilustração, a aplicação do
de 1978 e espaçamentos entre drenos iguais a 30 e 50 m
modelo MCID para determinação do espaçamento entre
drenos, considerando dados de clima e solo obtidos por
Andrade et al. (2008) no perímetro de irrigação do De todos os espaçamentos avaliados, aquele indicado
Gorutuba, no Norte de Minas Gerais. Neste perímetro para o projeto foi o de 30 m, que proporcionou maior
são observados processos de salinização em algumas retorno financeiro, com base no critério do valor presente
áreas com lençol freático pouco profundo. líquido. Neste exemplo, este espaçamento também
Considerou-se o cultivo de milho, plantado em 15 de proporcionou a máxima produtividade relativa total, YR.
fevereiro. Foram utilizadas séries históricas de dados A variação de YRW, YRD, YRS e YR é apresentada na
Figura 6. Observa-se, como esperado, decréscimo em
diários de precipitação e evapotranspiração de referência
YRW e YRS e acréscimo em YRD com aumento no
de 1978 a 2003. Empregou-se dados de cultura obtidos
espaçamento entre drenos. YR, obtido pelo produto de
de Allen et al. (1998), inclusive para estimativa do
impacto na evapotranspiração real decorrentes de 100
50
redução na produtividade por acréscimo em CElimiar igual 40
YRW, YRD e YRS, tem um máximo para o Duarte, S. N.; Ferreira, P. A.; Pruski, F. F.; Martinez, M. A.
espaçamento igual a 30 m. Modelo para avaliação de desempenho de sistemas de
drenagem subterrânea e cálculo de espaçamento de
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Dimensionamento de sistemas
21 de drenagem
Hermínio H. Suguino1 & José C. Barros2
Introdução
Drenagem superficial
Escoamento superficial
Tempo de concentração (Tc)
Duração das chuvas
Tempo de recorrência
Intensidade máxima de chuva (I)
Coeficiente de escoamento (c)
Seleção de chuvas
Fórmula Cypress-Creek
Fórmula de McMath
Cálculo da vazão de escoamento superficial pelo método das curvas-número
Cálculo para duração maior que o tempo de concentração
Dimensionamento de sistemas de drenagem
Seção mais eficiente de um dreno
Dreno parcelar
Obras complementares
Drenagem de áreas com altos teores de matéria orgânica
Escavação de drenos
Nomenclatura dos drenos
Conservação e manutenção de drenos
Cálculos de espaçamento entre drenos e dimensionamento de drenos subterrâneos
Cálculo de espaçamento entre drenos
Dimensionamento
Estudo de caso: Projeto irrigado Brígida
Referências
Anexo 1. Terminologia e simbologia em drenagem agrícola
Anexo 2. Quadro de quantitativos e custos
Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados
ISBN 978-85-7563-489-9
Fortaleza - CE
2010
384 Hermínio H. Suguino & José C. Barros
Dimensionamento de sistemas
de drenagem
DRENAGEM SUPERFICIAL
Escoamento superficial
É a parte da precipitação total, em uma área, que onde:
escoa sobre a superfície do terreno. Existem muitas Q - vazão (m3 s-1);
fórmulas que permitem fazer estimativas das descargas C - coeficiente de escoamento que é a razão entre
máximas de escoamento superficial em função das o volume de água escoado superficialmente e o volume
características da bacia, do seu uso e da intensidade de água precipitado (adimensional);
máxima de precipitação para a duração e recorrência I - intensidade máxima de chuva (mm h-1);
desejados. Como base deste trabalho foi escolhida a A - área da bacia (ha).
fórmula racional por ser de uso simples e prático. Esta
fórmula, por outro lado, superestima os resultados para Tempo de concentração (Tc)
bacias maiores que 50 ha. O motivo principal da É o tempo de deslocamento de uma partícula de água
obtenção de vazões altas é o fato da fórmula admitir do ponto mais distante de uma bacia até o ponto de saída
em seus princípios que a chuva é uniformemente desta. Neste momento toda bacia estará contribuindo
distribuída em toda a área da bacia, o que geralmente simultaneamente na formação da descarga máxima de
não acontece quando a chuva é do tipo convectiva, que escoamento.
comumente é bastante localizada, de alta intensidade Supõe-se, para efeito de cálculo, que a precipitação
e baixa duração. é uniforme em intensidade, em toda a bacia considerada
Dimensionamento de sistemas de drenagem 385
onde:
I - intensidade máxima de chuvas (mm h-1); Tempo de duração (h)
p - precipitação máxima diária (mm); Figura 2. Alturas de chuvas versus tempo de duração em
Tc - tempo de concentração (min). horas
Dimensionamento de sistemas de drenagem 387
Esta fórmula, recomendada por Pizarro para as Várias outras fórmulas poderão ser usadas para o
condições da Espanha, vem, de acordo com Pires (1982), cálculo do escoamento superficial sendo que a escolha
dando bons resultados na drenagem de várzeas do Estado desta ou daquela vai depender das informações
de Minas Gerais. O autor, no entanto, não apresenta uma hidrológicas existentes, da dimensão e forma fisiográfica
análise dos resultados obtidos, considerando as da área e do grau de precisão desejado.
recorrências utilizadas nos dimensionamentos dos drenos,
áreas das bacias drenadas e períodos decorridos após a Seleção de chuvas
implantação e cada sistema de drenagem. Não é indicado Os dados de chuvas podem ser apresentados em
também para que condições da Espanha em que a fórmula tabelas, onde as intensidades máximas de precipitação
foi desenvolvida. de cada ano e para cada duração escolhidas, são
Tendo-se calculado o tempo de concentração (Tc) e colocados em colunas decrescentes.
tendo-se escolhido o tempo de recorrência desejado (5, Na Tabela 3 são apresentados a título de exemplo,
10, 15, 20, 25 anos etc.) que é uma função do risco Luthin (1973), valores tabulados de um posto dos E.U.A.
assumido para a estrutura projetada, calcula-se com base para precipitações máximas de 31 anos, ocorridas no
nos registros de precipitações da região a intensidade período de 1904 a 1934 inclusive. Não são apresentados
máxima de chuva em mm h-1. os dados em ordem decrescente até ao 31º pelo fato de
que o décimo número da coluna já representa o valor
Coeficiente de escoamento (c) correspondente a uma recorrência igual a 1:2,3 ou
Este coeficiente depende de vários fatores como solo, aproximadamente 1:3 anos. Usando esta tabela a seleção
cobertura vegetal, grau de saturação do solo e declividade da chuva seria feita da seguinte maneira:
geral da bacia.
O ideal é que fosse obtido através de dados N=fn
experimentais, colhidos na própria bacia ou então que
fosse proveniente de bacias próximas, mas que onde:
apresentem condições similares. N - número de anos de registro de chuvas;
É comumente obtido em função de fatores como f - frequência ou recorrência desejada;
textura predominante da área, declividade geral da bacia n - número de ordem, na coluna, de valores anuais
e tipo de cobertura vegetal, utilizando- se para isso tabelas decrescentes de chuvas.
existentes, como a Tabela 2.
Exemplo:
Tabela 2. Valores do coeficiente de escoamento superficial
(c)
a) Registro de chuvas para período de 31 anos: N =
31;
b) No caso de querermos uma recorrência de 10
anos: f = 10;
c) N = fn n = N/f = 31/10 = 3,1 ~ 3.
Tabela 4. Intensidade de precipitação em mm h -1 para o posto “x” em função do tempo de concentração e período de
retorno
Tempo de
Concentração 2 5 10 15 20 25 50 75 100
(anos) (min)
5 123,6 159,0 182,4 195,4 202,8 221,8 233,4 246,0 255,0
10 102,0 127,8 144,6 154,2 160,2 167,4 182,4 191,4 198,6
15 85,8 110,4 126,6 136,2 141,6 147,6 162,6 171,6 177,6
20 76,2 98,4 112,8 121,8 126,0 131,4 144,6 153,0 158,6
25 67,2 86,4 99,0 106,2 110,4 114,6 126,6 133,8 138,6
30 61,2 78,0 89,4 96,0 99,6 103,8 114,6 120,6 124,8
40 51,6 66,6 76,2 81,6 85,2 88,8 97,8 103,2 106,8
50 45,0 58,2 67,2 72,6 75,0 78,6 87,0 91,8 95,4
60 39,6 52,8 61,2 66,0 69,0 72,6 80,4 85,2 88,8
75 32,4 43,2 50,4 54,6 57,0 60,0 66,6 70,8 73,2
90 27,6 37,2 43,2 46,8 48,6 51,0 57,0 60,0 62,4
105 24,0 31,8 37,2 40,2 42,0 43,8 48,6 51,6 54,0
120 21,6 28,2 33,0 35,4 37,2 39,0 43,2 45,6 47,4
onde:
Q - vazão (m3 seg-1);
C - coeficiente de escoamento de McMath;
i - intensidade de chuvas (mm h-1);
A - área da bacia (ha);
- declividade no talvegue principal (m m-1).
Altura (mm)
existência de cada estrutura e após obter-se informações, Cálculo da vazão de escoamento superficial pelo
na área, sobre o funcionamento de cada estrutura método das curvas-número
considerada, se já houve transbordamento, quantas vezes É um método prático que aparentemente tem
e quando, pode-se então determinar o valor do resultado na obtenção de valores confiáveis de
coeficiente “C” com razoável segurança. escoamento superficial. É o método mais utilizado pela
O valor “C” é empregado para obter-se a descarga CODEVASF para bacias de contribuição maiores que
máxima para determinada recorrência. Só pode ser 50 ha.
extrapolado para áreas que apresentem condições de O fluxograma da Figura 4 indica como proceder no
solo, topografia e clima semelhantes. uso do método, enquanto que as Tabelas 6, 7 e 8 orientam
O Serviço de Conservação de Solos dos Estados como obter os dados necessários para os cálculos de que
Unidos (USDA, 1971) apresenta uma série de tabelas e trata o fluxograma.
curvas que visam a obtenção do coeficiente desejado. Valores de curva-número para as condições
Para fazer uso das curvas precisa-se, no entanto, de uma anteriores de precipitação podem ser obtidos utilizando-
série de informações que geralmente não existem em se os fatores constantes da Tabela 8.
nossas condições, o que limita entre nós o uso da fórmula.
Esta fórmula foi utilizada no cálculo de vazões do Precipitações dos 5 dias anteriores a chuva considerada
sistema de drenagem superficial do projeto Senador Nilo
Coelho - Petrolina - Pe, com área de 25.000 ha. Condição (mm)
A partir de estimativas de vazões máximas ocorridas em I 0 - 35
bueiros de estradas que cortam a área, observando marcas II 35 - 52
de nível de água deixados, foi possível obter um valor “C” III Mais de 52
razoavelmente confiável, que no caso foi igual a 35.
Exemplo de cálculo de escoamento superficial Bacia
Fórmula de McMath de 400 ha.
a) Método - curvas-número
- Grupo hidrológico - B
Tabela 5. Valores representativos de média ponderada de características de bacias, necessários para o cálculo do coeficiente
de McMath
Condições de Tipo de Condições Topográficas
Tipo de Solo
Escoamento Cobertura Vegetal da Bacia
Baixa Área coberta de gramíneas - 0,08 Areia - 0,08 Área plana - 0,04
Moderada Cobertura vegetal iCtensa - 0,12 Textura leve - 0,12 Ligeiramente ondulada 0,06
Média Cobertura razoável a rala - 0,16 Textura média - 0,16 Ondulada a montanhosa 0,08
Alta Cobertura rala a esparsa - 0,22 Textura pesada (argilosa) - 0,22 Montanhosa a escarpada 0,11
Muito alta Cobertura esparsa e solo Textura pesada a área Escarpada 0,15
descoberto - 0,30 rochosa - 0,30
390 Hermínio H. Suguino & José C. Barros
Tc = 0,0195 K 0,77
sendo,
Tabela 7. Curvas-número (cn) representando escoamento superficial para as condições de solo, cobertura vegetal e umidade
abaixo apresentadas (condições de umidade ii e ia = 0,2 S)*
Grupos de Solo
Cobertura Uso
Tratamento ou Prática Condição Hidrológica A B C D
da Terra
Número da Curva
Cultura em fileiras (milho, Fileiras retas Ruim 72 81 88 91
algodão, tomate, etc.) Fileiras retas Boa 67 78 85 89
Fileiras em contorno Ruim 70 79 84 88
Fileiras em contorno Boa 65 75 82 86
Anterior + terraças Ruim 66 74 80 82
Anterior + terraças Boa 62 71 78 81
Culturas em fileiras Fileiras retas Ruim 65 76 84 88
estreitas (trigo, arroz) Fileiras retas Boa 63 75 83 87
Fileiras em contorno Ruim 63 74 82 85
Fileiras em contorno Boa 61 73 81 84
Anterior + terraças Ruim 61 72 79 82
Anterior + terraças Boa 59 70 78 81
Leguminosas em Fileiras retas Ruim 66 77 85 89
fileiras estreitas ou Fileiras retas Boa 58 72 81 85
forrageiras em rotação Fileiras em contorno Ruim 64 75 83 85
(também hortaliças) Fileiras em contorno Boa 55 69 78 83
Anterior + terraças Ruim 63 73 80 83
Anterior + terraças Boa 51 67 76 80
Pastagens Ruim 68 79 86 89
(pastoreio) Regular 49 69 79 84
Boa 39 61 74 80
Fileiras em contorno Ruim 47 67 81 88
Fileiras em contorno Regular 25 59 75 83
Fileiras em contorno Boa 6 35 70 79
Pastagens (feno) Boa 30 58 71 78
Floresta Ruim 45 66 77 83
Regular 36 60 73 79
ou Bosque Boa 25 55 70 77
* Boa - Cobertura em mais de 75% da área; Regular - entre 50 e 75%; Ruim - menor de 50% da área; Ia = água inicial retida (plantas, empoçamento e água que se infiltra antes do início do
escoamento superficial. (*) Segundo Shwab et al. Soil and water conservation engeneering - pag. 104
onde:
S - declividade em m m-1 (S = 6,5 m/4.770 m).
- Coeficiente de escoamento
- A vazão neste caso pode também ser estimada da
seguinte forma
- Vazão do dreno
Neste caso o método racional pode ser usado para
áreas maiores que 50 ha, desde que haja segurança
quanto ao cálculo estimativo da lâmina de chuvas do
período considerado, mesmo ocorrendo chuvas
- Fórmula Cypress-Creek convectivas que geralmente cobrem áreas pequenas.
Em função das condições especificas de dedução de
cada fórmula ou método de determinação da vazão de
escoamento superficial e suas limitações e não existindo
uma fórmula especifica ou adaptada para as condições
da área a ser estudada, recomenda-se:
1. Áreas de até 50 ha - usar o método ou fórmula
racional.
Cálculo para duração maior que o tempo de concentração 2. Para áreas de 50 ha até cerca de 400 ha, utilizar
Área de várzea argilosa contendo 120 ha de arroz valores médios obtidos entre a fórmula de McMath e o
irrigado. Assume-se: método das curvas-número, tomando valores nunca
Dimensionamento de sistemas de drenagem 393
Tabela 10. Velocidades máximas de fluxo d’água recomendadas Drenagem de áreas com altos teores de matéria
em função do tipo de solo orgânica
Velocidade Nestas áreas é comum o fenômeno da subsidência,
Textura do SoloTextura do Solo
(m s-1) podendo haver, em casos especiais, rebaixamento de até
Argiloso (argila 1:1 fortemente 50 cm. Frequentemente as valas são abertas e após o
1,8
cimentada, tipo argilito) rebaixamento do material, devido à oxidação são, então,
Argilosa (argila 1:1) 1,2
aprofundadas. A oxidação da matéria orgânica se dá
Argilosa (argila dispersiva) 0,4*
Franco argilosa 0,8 após a drenagem e ocupação pelo ar dos poros do solo,
Franca 0,9 devido a ação de bactérias aeróbicas, que convertem a
Franco arenosa e areia fina 0,7 matéria orgânica em dióxido de carbono. A subsidência
Cascalho fino 1,5 é também devida a perda de suporte do solo com a
Cascalho grosso 1,8 eliminação de água. Observações feitas em solos
Velocidade mínima para evitar orgânicos da Europa e Estados Unidos indicam que há
0,3
deposição de silte ou areia fina em média um rebaixamento de ordem de 2,5 cm/ano e
Mínima para evitar a germinação de que a subsidência é uma função da espessura da camada
0,5
ervas daninhas drenada ou profundidade do lençol freático. Nos
Mínima para inibir o crescimento de
0,8 primeiros anos após a drenagem a subsidência é maior
ervas daninhas
* Sugerido em função de problemas encontrados. Não existem valores experimentais.
devido a compactação inicial sofrida pelo solo drenado.
Onde não existam dados referentes a subsidência, pode-
Tabela 11. Taludes de drenos recomendados em função do se assumir que haverá, com o tempo, um rebaixamento
tipo de solo da ordem de 25 a 35% em relação a profundidade inicial
Tipo de Solo Taludes (V - H) dos drenos.
Solo turfoso 1:0 a 1:0,25
Argiloso pesado 1:0,5 a 1:1 Escavação de drenos
Argiloso e franco siltoso 1:1 a 1:1,5 É feita com emprego de dragas, para drenos de
Franco arenoso 1:1,5 a 1:2 grandes dimensões ou retroescavadeira, para drenos
Areia 1:2 a 1:3 menores. É conveniente, sempre que os drenos forem de
* Para argilas dispersivas não existem dados. Supõe-se que o melhor é implantar o dreno e vegetar
artificialmente as suas paredes para protegê-las da erosão principalmente pelo impacto das águas dimensões pequenas confeccionar e utilizar na
da chuva.
retroescavadeira uma concha de forma trapezoidal. A
Tem em geral a forma de “V” com talude que de um lado implantação de drenos pode ser também manual, o que
torna o serviço em geral muito caro e demorado, só se
pode ser, por exemplo, de 1:1. Do outro, o talude deve ser
justificando para trabalhos de pequena monta e quando
suave, podendo ser de 1:10 ou mais. De início a sua
não existe máquina na proximidade da área a ser
construção pode fazer parte das obras de preparo do lote
drenada. Para pequeno volume de trabalho, o transporte
para a irrigação. É um dreno que pode ser destruído e
de uma máquina situada a grande distância pode tornar
refeito após cada cultivo, principalmente quando se trata
o seu emprego economicamente inviável, devido
de irrigação por gravidade, em sulcos. Pode ter
principalmente a componente relativa a custo de
profundidade ligeiramente superior à dos sulcos, devendo
transporte. Deve-se ter sempre em mente que os
ser reconstruído pelos ocupantes do lote, após cada
trabalhos de escavação de drenos jamais devem ser
cultivo, empregando sulcadores apropriados, enxada,
feitos sem acompanhamento topográfico, com checagem
motoniveladora etc.
de cotas de fundo, para que a sua escavação seja feita
De uma maneira geral, as atribuições de um de acordo com a declividade do projeto.
engenheiro de drenagem terminam quando começa o
dreno parcelar, sendo que a drenagem de projeto vai Nomenclatura dos drenos
obrigatoriamente até esse nível. As denominações de cursos d’água existentes, de
fluxo temporário ou permanente, devem ser mantidas.
Obras complementares A nomenclatura, sempre que se tratar de rede de
Bueiros, quedas, pontes, pontilhões são as obras drenagem de grande porte, deve ser codificada conforme
complementares mais comuns. São projetadas segue de acordo com a norma da ABNT, NBR 14143:
geralmente em escala 1:50, devendo a topografia do local 1º Espaço - Letra D (maiúscula)
de cada obra ser feita a nível de detalhe. Na parte 2º Espaço - Letras P,S,T ou Q, identificando
referente a anexos são apresentadas plantas-tipo para respectivamente, o dreno principal, secundário, terciário
diferentes obras. ou quaternário.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 395
Figura 7. Desenho mostrando os parâmetros da fórmula do Figura 8. Desenho ilustrativo da dedução da formula de
Donnan Hooghoutt para o calculo do espaçamento entre drenos
subterrâneos
Se a vala ou tubos de drenagem estiverem sobre o
impermeável a fórmula fica reduzida a: Observa-se que um plano vertical, que passe pelo
centro, entre dois drenos consecutivos, divide a figura
acima em duas partes iguais com dois sentidos de fluxo.
Toda água que penetre no solo pelo lado esquerdo do
plano flue para o dreno situado deste lado, o mesmo
ocorrendo para o lado oposto.
Esta fórmula é mais recomendada para solos rasos a
Ao considera-se uma seção situada entre o dreno e o
serem drenados por valas abertas com bases inferiores
situadas próximo da barreira. plano divisor de fluxo, tem-se que o volume de água que
passa por essa seção ou plano vertical, tendo como limites
Fórmula de Hooghoudt: Foi desenvolvida por as superfície do lençol e a barreira,considerando-se uma
Hooghoudt, na Holanda, para fluxo horizontal e radial. largura unitária, é igual a recarga (R) multiplicada pela
Utiliza as mesmas suposições que a fórmula de Donnan, distância entre essa seção e o plano situado entre os
tendo após sua dedução sido incluído o fluxoradial. drenos ou:
A dedução da fórmula baseia-se nos seguintes
princípios:
- Fluxo de água contínua, com drenos paralelos e
equidistantantes.
- Gradiente hidráulico em qualquer ponto do terreno
igual à inclinação do lençol freático sobre o ponto Aplicando-se a lei de Darcy, pode-se obter uma
considerado - dy/dx. segunda equação para o fluxo de água, ou seja: qx = K i.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 397
A equação pode ser integrada entre os limites: A formula de Hooghoudt, a principio, não considerava
X = 0 e Y= D (para fins práticos despreza-se o valor o fluxo radial que ocorre abaixo da linha dos drenos, no
“b” por ser muito pequeno). que o seu emprego resultava em grandes distorções para
X = L/2 e Y = B = D + h. os espaçamentos maiores quando a barreira se encontrava
mais profunda.
Para barreira situada a 2,0 m abaixo das linhas de
dreno o erro já era significativo.
Para resolver o problema foi introduzido, pelo autor,
o concerto de profundidade equivalente da barreira (d)
onde os valores das distancias entre o fundo dos drenos
e a barreira (D) são substituídos, na formula, por valores
menores obtidos através de tabela ou cálculos.
É recomendada para solos homogêneos, ou seja, com
uma única camada ou horizonte até a barreira, ou para
solos com dois horizontes onde os drenos ficariam
situados na transição destes, conforme ilustrado na Figura
9, sendo:
Para
L = 34 m
L = 16,14
Q = 10 D 8/3 S 1/2
q = 0,120 m³/dia x m
Pântano
Canal de irrigação
Regadeira
Córrego
Adutora
Rio
Tubulação de pressão
Limite de propriedade
Curvas de nível
Isóbata-Isoprofundidade do lençol
Cerca
- 0-50 cm - Vermelho
Lago ou lagoa periódica - 50-100 cm - Azul
- 100-150 cm - Laranja
- 150-200 cm - Verde
- 200 - + cm - Sem cor
Mangue
Observação: as dimensões dos símbolos podem variar
em função da escala adotada em cada projeto.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 407
ANEXO 2
Quadro de quantitativos e custos
Item Discriminação Un. Quant. Pr. Unit. Pr. Total
1.0 Instalação, mobilização e desmobilização conforme
especificações técnicas vb 1,00 54.175,06 54.175,06
2.0 Locação de veiculo básico para 5 passageiros, com
ar condicionado, ano não inferior a 2006, com até
10.000 km rodados dia 310,00 108,47 33.627,18
3.0 Serviços topográficos: locação, nivelamento e
contra-nivelamento, fornecimento de caderneta de
campo calculadas e digitadas km 124,30 588,10 73.101,25
4.0 Sondagem geotécnica - Tradagem manual até 1,5m,
a cada 20m, ao lado da estaca topográfica un 149,34 16,42 2.452,81
5.0 SERVIÇOS PRELIMINARES
5.1 Desmatamento e limpeza da faixa, p/exec. de drenos
coletores abertos conf. Especificações técnicas m2 157.600,00 0,22 35.156,65
5.2 Limpeza da faixa de construção p/exec. De drenos
colet. entubados e drenos subterrâneos, conforme
especificações técnicas m2 418.160,00 0,16 66.074,12
6.0 ESCAVAÇÃO DE DRENOS COLETORES ABERTOS
6.1 Escavação em material de 1a. Categoria m3 100.312,40 2,19 219.483,51
6.2 Escavação em material de 2a. Categoria m3 4.868,42 2,92 14.202,80
6.3 Escavação em material de 3a. Categoria m3 411,18 51,05 20.989,48
7.0 DESTINAÇÃO DO MATERIAL ESCAVADO
7.1 Espalhamento ao longo das faixas de execução dos
drenos - material de 1a. Categoria m3 63.355,20 1,09 69.310,58
7.2 Transporte para locais de bota-fora, incluindo carga e
descarga - materiais de 2a. e 3a. Categoria m3 42.236,80 5,90 248.988,96
8.0 IMPLANTAÇÃO DE DRENOS SUBTERRANEOS
PARCELARES COM TUBOS CORRUGADOS
PERFURADOS DN65 E DN100 DE PVC OU PEAD,
de acordo com ABNT NBR 15073.2004, envelopados
com manta geotextil, conforme especificações técnicas
8.1 Escavação de valas p/ instalação de drenos subterrâneos
8.1.1 Escavação mecânica de valas m3 49.680,00 2,19 108.699,83
8.1.2 Escavação manual de valas m3 993,60 13,69 13.599,37
8.2 Aquisição, fornecimento e instalação de tubos corrugados
perfurados DN65 m 103.000,00 8,12 836.574,22
8.3 Aquisição, fornecimento e instalação de tubos corrugados
perfurados DN100 m 500,00 11,70 5.849,98
8.4 Reaterro de valas
8.4.1 Reaterro mecânico de vala m3 30.404,16 1,09 33.262,15
8.4.2 Reaterro manual de vala m3 20.269,44 5,47 110.970,83
9.0 FORNECIMENTO E INSTALAÇÃO DE CAIXAS DE
INSPEÇÃO E INSPEÇÃO/JUNÇÃO
Conforme especificações técnicas um 173,00 66,62 11.525,72
10.0 ESTRUTURAS
10.1 Em alvenaria de pedra argamassada 1:3 m3 370,00 189,44 70.091,03
11.0 FORNECIMENTO E INSTALAÇÃO DE TUBOS DE
CONCRETO TIPO CA II PARA CONSTRUÇÃO DE
BUEIROS, conforme especificações técnicas
11.1 Bueiro - d=800mm m 145,00 179,35 26.005,70
11.2 Bueiro - d=1000mm m 10,00 267,77 2.677,67
11.3 Bueiro - d=1200mm m - 363,24 -
12.0 IMPLANTAÇÃO DE DRENOS COLETORES ENTUBADOS,
conforme especificações técnicas
12.1 Escavação mecânica de valas
12.1.1 Escavação em material de 1a. categoria m3 898,56 2,92 2.621,40
12.1.2 Escavação em material de 2a. categoria m3 99,84 4,38 436,90
12.2 Reaterro manual compactado de valas m3 332,80 8,03 2.671,43
12.3 Reaterro mecânico de vala m3 665,60 1,09 728,17
12.4 Aquisição, fornecimento e instalação de tubos de PVC
rígido, classe leve - DN 150, conforme especificação
técnica m 1.040,00 16,64 17.301,65
TOTAL GERAL 2.080.578,45
22 Biodrenagem
1
Instituto Nacional do Semi-Árido
2 Universidade Federal de Campina Grande
3 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Introdução
Princípios da biodrenagem
Principais culturas utilizadas na biodrenagem
Vantagens e limitações da biodrenagem
Biodrenagem e controle da salinidade do solo
Cenários para implantação do sistema de biodrenagem
Sistema de cultivo em sequeiro
Interceptação dos fluxos de águas subterrâneas
Controle das vazões de descarga
Sistema de cultivo irrigado
Interceptação do fluxo de água
Complementação ao sistema de drenagem convencional
Planejamento de sistemas de biodrenagem
Dimensionamento do sistema de biodrenagem
Estudos de casos e experiências
Índia
Israel
Considerações finais
Referências
Fortaleza - CE
2010
410 Salomão de S. Medeiros et al.
Biodrenagem
Parâmetros Convencional
Biodrenagem
Horizontal Vertical
Vantagens / limitações - Apresenta maior controle do - Proporciona controle do nível - Permite incorporação de áreas
nível do lençol freático do lençol freático e do alagadas ao processo produtivo
- Permite incorporação de áreas escoamento superficial - Proporciona controle do nível
alagadas ao processo produtivo - Permite incorporação de áreas do lençol freático
- Oferece maior controle da alagadas ao processo produtivo - Oferece segurança a cultura
salinidade do solo e a - Oferece maior controle da explorada quanto as ações de
possibilidade da retirada do salinidade do solo e a ventos fortes
excesso de sais da área. possibilidade da retirada de sais - Possibilita uma renda extra ao
da área. produtor, devido a extração de
madeira, óleos vegetais e
produtos florestais
- Incrementa a biodiversidade
local
- Ocupa uma área considerável
quando comparado ao sistema
de drenagem superficial
- Proporciona controle limitado
da salinidade do solo.
Área ocupada - Somente para os drenos - O sistema ocupa uma área - Ocupa áreas relativamente
abertos e lagoas de evaporação. muito pequena. grande; em sistemas
implantados na Índia o sistema
chega a ocupar 10% da área
irrigada.
Exigência de água de boa - Não se aplica. - Não se aplica. - Somente durante a fase de
qualidade estabelecimento das árvores.
Impacto ambiental causado no - Adverso; devido à água de - Adverso; devido à água de - Positivo; pelo fato do sistema
entorno drenagem apresentar altas drenagem apresentar altas não produzir afluentes.
concentrações de sais, produtos concentrações de sais, produtos - Em face da possibilidade de
químicos e nutrientes químicos e nutrientes. acúmulo de sais na área do
- Lagoas de evaporação quando sistema, haverá necessidade de
não bem manejadas podem implantação de uma área de
causar impactos ambientais disposição final dos sais.
significativos.
Adaptado de Heuperman et al. (2002).
Biodrenagem 413
Estudos desenvolvidos por Akram et al. (2009), e semiáridas é o equilíbrio do balanço de sais e a sua
demonstram que em sistemas de biodrenagem, a acumulação na região dos biodrenos; para estes autores
salinidade do solo na região das linhas de plantio, a sustentabilidade do sistema é questionável, exceto
denominado biodrenos, eleva-se nos primeiros dois anos quando a qualidade da água de irrigação é boa ou, o
e, mantendo-se estáveis nos anos subsequentes. No sistema está implantado em um local onde a precipitação
entanto, a salinidade do solo é proporcional à média anual é elevada.
concentração de sais da água de irrigação; porém, Em zonas áridas e semiáridas, a viabilidade desse
quando se utiliza águas com baixas concentrações, sistema só pode ser alcançada se algum tipo de
pequenas frações de lixiviação são suficientes para mecanismo de remoção sal for incluído o sistema; estes
manter os níveis de sais baixos na zona radicular dos mecanismos podem ser a colheita da folhagem,
biodrenos. Contudo, à medida que a concentração de sais raspagem de sais acumulados na superfície do solo onde
na água de irrigação aumenta, há um incremento estão os biodrenos e consórcio utilizando culturas que
significativo da salinidade na zona radicular dos possuem a capacidade de extrair sais do solo, como a
biodrenos, interferindo de forma negativa na absorção de atriplex. Nesses casos alguns autores como Heuperman
água. et al. (2002) sugerem combinar a técnica da biodrenagem
Em contrapartida, nas áreas onde a camada com as tecnologias de engenharia de drenagem
impermeável esta localizada em maiores profundidades, convencionalmente utilizadas.
menor será a concentração de sais na zona radicular dos Obviamente que os estudos relativos à utilização da
biodrenos, devido o deslocamento vertical dos sais para biodrenagem como alternativa para a prevenção e
as camadas mais profundas. controle da salinidade em regiões áridas e semiáridas
De acordo com Akram et al. (2009), a principal necessita de estudos mais aprofundados, no entanto,
restrição da utilização da biodrenagem em regiões áridas Akram et al. (2009), apontam que a salinidade máxima
414 Salomão de S. Medeiros et al.
inicial da água do solo passível de controle através da quando o sistema de biodrenagem é superdimensionado
técnica da biodrenagem num período de 5 a 10 anos é de – onde se cria uma zona (área localizada no topo da
cerca de 5 dS m-1. Em muitos casos, até mesmo uma encosta) de elevada demanda de água
salinidade do solo inicial de 3 dS m -1 não pode ser (evapotranspiração), que ocasiona uma brusca redução
tolerada durante um longo período de tempo, por exemplo, do nível do lençol freático no trecho de jusante (Figura
20 anos. 2), reduzindo a disponibilidade de água no solo para as
Nessas condições, assumindo que a salinidade da culturas de sistema radicular pouco profundo, além da
água do solo é quase 1,5 vezes a salinidade da água de diminuição do fluxo de água para o leito dos rios e
irrigação (Ayres & Westcot, 1999), pode-se concluir que abastecimento dos poços explorados na área.
o sistema de biodrenagem pode não funcionar
corretamente quando a salinidade da água de irrigação
excede 3,3 dS m -1 . Isso é verdade, claro, onde a
precipitação anual é de 250 mm, como foi o caso da área
onde estes estudos foram realizados. Considerando que
a chuva dilui a salinidade da água do solo, pode-se
esperar que o risco de salinização do solo seja menor em
áreas úmidas.
A B
Figura 4. Plantio de árvore em área de várzea objetivando
controle das vazões de descargas. (Adaptado de
Heuperman et al., 2002)
Figura 9. Área de várzea em que as limitações topográficas restringem o escoamento de água por meio gravitacional
que seu valor seja compatível com a taxa de recarga - declividade da curva de pressão de vapor, kPa
líquida. °C-1;
Para fins de planejamento consideram-se que as Rn - radiação líquida na superfície de cultivo,
plantas que irão constituir os biodrenos estão livres de MJ m-2 dia-1;
pragas e doenças, sem restrições nutricionais, em G - fluxo de calor do solo, MJ m2 dia-1;
excelentes condições de umidade no solo, baixo níveis de - constante psicrométrica, kPa °C-1;
salinidade e, alcançando elevados índices de Tméd - temperatura média do ar medida a 2 m de
produtividade; nestas condições a evapotranspiração altura, °C;
processa-se em condições padrão, podendo ser estimada e s - pressão média de saturação de vapor, kPa;
pelo produto da evapotranspiração do cultivo de ea - pressão real de vapor, kPa;
referência e o coeficiente de cultivo (Eq. 1). u2 - velocidade do vento medida a 2 m de altura,
m s-1.
ETc ETo * K c (1)
Por outro lado, a capacidade de absorção de água pela
em que: plantas é bastante influenciada pelas concentrações de
sais no solo, no entanto, as plantas que irão constituir os
ETc - evapotranspiração do cultivo em condições
biodrenos deverão apresentar tolerância (Tabela 3) a fim
padrão, mm dia-1;
de minimizar esse efeito.
ETo - evapotranspiração do cultivo de referência,
mm dia-1;
DIMENSIONAMETO DO SISTEMA
Kc - coeficiente de cultivo, admensional.
DE BIODRENAGEM
O conceito de evapotranspiração do cultivo de Do ponto de vista hidrológico, o dimensionamento dos
referência foi introduzido para estudar a demanda de sistemas de drenagem consiste em determinar a relação
evapotranspiração da atmosfera, independente do tipo e entre o espaçamento e a profundidade dos drenos
estádio de desenvolvimentos das culturas, e das práticas laterais, de modo que, o sistema satisfaça um
de manejo; porém, em face da não restrição de água na determinado critério de drenagem. Todavia, os modelos
superfície de evapotranspiração de referência, as utilizados no cálculo dos espaçamentos dos drenos são
características do solo não influenciam o seu valor, sendo, agrupados de acordo com o regime de escoamento:
as variáveis meteorológicas (temperatura do ar, umidade permanente e variável.
relativa, velocidade do vento e radiação solar) as únicas A aplicação dos modelos de regime permanente
a influenciá-la, onde, o modelo FAO Penman-Monteith pressupõe que o lençol freático encontra-se estabilizado no
tem sido proposto como padrão para sua estimativa tempo e no espaço, isto é, a quantidade de água que entra
(Allen et al., 2006). no sistema (carga) é igual à quantidade eliminada pelos
drenos (descarga). Esta situação geralmente ocorre em
regiões, onde as chuvas têm baixa intensidade e longa
0,408 * R n G u 2 e s e a
900
duração. Neste caso, Heuperman et al. (2002), indicam o
Tmed 273
ETo (2) modelo desenvolvido por Hooghoudt (Eq. 3) como o mais
1 0,34u 2
indicado na estimativa do espaçamento entre biodrenos.
Tabela 3. Relação de algumas espécies arbóreas que podem Considerando o cenário apresentado na Figura 10,
ser utilizadas em biodrenagem, classificadas segundo a uma R = 0,0005 m dia -1; Yo = 10 m e h = 10 m; as
tolerância ou sensibilidade à salinidade distâncias entre biodrenos (L) serão de 1.500, 500 e 150
Classificação Espécies m para valores de K de 1, 0,1 e 0,01 m dia -1 ,
Tolerante Tamarise troupii, Tamarise
respectivamente.
(CEes 25 - 35 dS m-1) artiaulata, Prosopis juliflora,
Pithecollobium dulce, Sob condições de regime variável a principal proposta
Parkinsonia aculeata, para espaçamento de drenos foi feito por Glover-Dumm
Acacia farnesiana (Eq. 4), pressupondo que: em consequência do evento de
Moderadamente tolerante Callistemon lanceolatus, chuva ou de irrigação, o lençol freático eleva-se a certa
(CEes 15 - 25 dS m-1) Acacia nilotica, Acacia altura, em relação a seu nível inicial e, cessada o evento,
pennatula, Acacia tortilis, ele começa a descer; esta situação corresponde ao caso
Casuarina glauca, Casuarina de regiões com precipitação irregular, de intensidade
obessa, Casuarina variável e de curta duração. No Brasil, especialmente no
equisetifolia, Eucalyptus
semiárido, os regimes pluviométricos têm esta
camaldulensis, Leucaena
leucocephala, Erescentia
característica, sendo este modelo uma boa aproximação.
alata
Moderadamente sensível Casuarina cunninghamiana, 2 K d h t
(CEes 10 - 15 dS m-1) Eucalyptus tereticornis, L2 (4)
h
Acacia auriculiformis, ln1,16 o
Guazuma ulmifolia, ht
Leucanea shannonii,
Samanea saman, Albizzia
caribea, Senna atomeria, em que:
Terminalia arjuna, Pongamia L - distância entre os biodrenos (m);
pinnata K - condutividade hidráulica do extrato saturado
Sensível Syzigium cumimi, Syzigium (m dia-1);
(CEes 7 - 10 dS m-1) fruticosum, Tamarindus d - estrato do solo (m);
indica, Salix spp., Acacia t - tempo transcorrido a partir do momento que o
deanei, Albizia quachepela,
lençol freático começou a descer (dias);
Alelia herbertsmithi,
Ceaselpimia eriostachya,
h - raiz quadrada do produto entre h0 e ht;
Caesalpinia velutina, μ - espaço poroso drenável que se considera
Halmatoxylon brasiletto constante;
Adaptado de Heuperman et al., 2002. h0 - carga hidráulica inicial no ponto médio entre os
biodrenos (m).
onde: ht - carga hidráulica inicial no ponto médio entre os
L - Distância entre biodrenos (m) biodrenos no tempo (t).
R - Taxa de recarga (m dia-1)
Yo - Distância entre o rebaixamento do nível do ESTUDOS DE CASOS E EXPERIÊNCIAS
lençol freático e a camada de impedimento (m)
K - Condutividade hidráulica do extrato saturado Índia
(m dia-1) O estudo ora apresentado foi desenvolvido na
h - depressão do lençol freático (m) Unidade de Pesquisa de Puthi, distrito de Hissar no
Figura 10. Rebaixamento do lençol freático em razão da distância entre linhas de plantio. (Adaptado de Heuperman et al., 2002)
Biodrenagem 419
estado de Haryana, e consistiu em avaliar a configuração foi de 60 m e entre poços de 33 m (Figura 11 B). No
de um sistema de biodrenagem, em uma área com sentido Norte/Sul da área foram construídos quatro
problemas de alagamento devido à deficiência de camalhões no formato trapezoidal (base maior 2,60 m,
drenagem natural e a ocorrência de vazamentos em base menor 2,00 m e altura de 0,50 m), espaçados a cada
canais de irrigação (Figura 11 A). Anteriormente, ao 66 m. Em cada camalhão foram plantadas duas fileiras
agravamento dos problemas de drenagem na área era de árvores (Eucalyptus tereticornis) no espaçamento
possível a exploração de milheto, feijão, mostarda, 1,0 x 1,0 m, resultando em uma densidade de 300 plantas
algodão e trigo, todavia, à medida que o problema foi se por hectare. Em razão desta densidade de plantio, o
intensificando a exploração resumiu-se ao cultivo de trigo sistema de biodrenagem ocupou apenas 4% da área
e arroz. O clima da região é semiárido monsonico, com total, permitindo que 96% da área fossem exploradas
verão quente, inverno frio e precipitação média de 212 com trigo.
mm. O solo da área experimental apresentava textura Por meio da Figura 12, constata-se que a configuração
arenosa, sodicidade e condutividade elétrica (CE) da do sistema de biodrenagem apresentou eficácia no
pasta saturada do solo variando de 0,53 a 2,67 dS m-1. controle do nível do lençol freático da área. Segundo
Para monitorar o nível do lençol freático da área Ram, et al. (2008), dois anos e três meses após a
experimental foram instaladas duas fileiras de poços de implantação do sistema, a redução média do lençol
observação, uma mais ao Norte e outra mais ao Sul; o freático na área experimental foi em torno de 18 cm;
espaçamento entre as fileiras dos poços de observação enquanto, durante o período compreendido entre abril de
2005 a abril de 2008 o rebaixamento médio foi de 85 cm
A (Figura 12).
Profundidade (m)
Distância (m)
Figura 12. Comportamento do lençol freático antes e após
B implantação do sistema de biodrenagem. (Adaptado de
Ram et al., 2008)
Israel
O Vale de Yizre’el é uma extensa planície circundada
de montanhas localizada na porção Norte do Estado de
Israel (Figura 13 A); caracteriza-se por apresentar clima
semiárido, e preponderância de Vertissolos crômicos
com predomínio de argila montmorilonita, e não
isotrópicos. Em meados dos anos 1960, quando o
algodão tornou-se a cultura dominante no Vale, a
irrigação foi amplamente difundida e diversos
reservatórios foram construídos visando regularizar a
oferta de água no período de escassez (verão). Ao longo B
dos anos, essas ações associadas às condições climáticas
e ao uso indiscriminado de águas de qualidade inferior
(águas residuárias tratadas) associado à falta de manejo
de irrigação em solos com deficiência de drenagem
resultou na elevação do nível do lençol freático,
provocando a salinização e o início do processo de
sodificação de extensas áreas agrícolas (Gafni & Zohar,
2001 e Heuperman et al., 2002). Gafni & Zohar (2007),
relatam que os efeitos da salinidade foram mais
pronunciados em meados da década de 1980, quando,
estudos identificaram que em todo o Vale de Yizre’el
mais de 1.500 ha apresentavam indícios de salinização, Figura 13. Mapa de situação do Vale Yizre’el no Estado de
dos quais, 800 ha já se encontravam em processo Israel (A) e localização das cinco áreas piloto de
avançado de salinização e sodificação. biodrenagem (B)
Estudos apontaram que a primeira ação para inibir os
avanços da salinização e sodificação, e a incorporação área de 0,625 ha utilizando-se de onze clones diferentes
das áreas já afetadas ao processo produtivo, passava no espaçamento de 3 x 3 m, alcançando uma densidade
inicialmente, pelo rebaixamento do nível do lençol de plantio de 1.100 árvores por hectare. As variáveis
freático; então, vários tipos de sistemas de drenagem monitoradas foram nível do lençol freático; salinidade do
convencional foram concebidos, testado e amplamente solo, expressa pela concentração de cloreto (Cl -) e
utilizados em todo o Vale, provando-se ser um sucesso. condutividade elétrica do extrato da pasta saturação do
No entanto, com o declínio da rentabilidade das culturas solo (CE), e a sodicidade pela relação de adsorção de
exploradas, e agravada pela falta de subsídio do governo, sódio (RAS).
a drenagem convencional tornou-se economicamente No entanto, sendo as áreas experimentais de Nahalal
inviável, abrindo discussões entre os especialistas, acerca e Genigar (Figura 13 B) representativas dos dois
da viabilidade da biodrenagem (Gafni & Zohar, 2007). extremos em termos de clima, hidrologia, salinidade,
Os estudos de biodrenagem foram realizados com sodicidade e associada à taxa de crescimento das
duração de dez anos (1993 a 2003), em cinco áreas espécies de eucalipto plantadas, foram objeto de estudo
experimentais (Figura 13 B), representativas da mais detalhado por Gafni & Zohar (2007). De acordo
variabilidade climática, regime hidráulico e do grau de com relatos desses autores, a precipitação média anual
salinização e sodificação que o Vale Yizre’el apresentava. em Nahalal é de 650 mm, e a área também recebe o
Na implantação do sistema de biodrenagem foram excesso de água a partir de várias outras fontes locais;
plantadas mudas de Eucalyptus camaldulensis em um já em Genigar, a precipitação média anual é de 450 mm
Biodrenagem 421
e não recebe contribuição de nenhuma fonte externa de Já na área experimental de Genigar (Figura 14 B), o
água. A evaporação máxima registrada durante a sistema de biodrenagem mostrou-se mais efetivo no
execução do experimento foi de 6,9 mm dia-1 em agosto controle do nível do lençol freático, mantendo-se
de 2003. aproximadamente a 2,0 m de profundidade, na maior
Na Figura 14, são registradas as flutuações sazonais parte do tempo. Segundo Gafni & Zohar (2007), a
dos níveis dos lençóis freáticos nas áreas experimentais efetividade do sistema deve-se a maior extração de água
de Nahalal (A) e Genigar (B), e em áreas nas suas
pelas plantas (evapotranspiração) quando comparadas
adjacências. Observa-se que nas áreas experimentais o
com o volume precipitado e a baixa influência de fontes
sistema de biodrenagem influenciou o nível do lençol
de águas externas (irrigação).
freático em relação às áreas sem o sistema; no entanto,
Na Figura 15 e na Tabela 4, apresenta-se o
na área experimental de Nahalal apesar do sistema de
biodrenagem extrair aproximadamente 1.350 mm por ano, comportamento da salinidade do solo, expressa pela CE
as flutuações do nível do lençol freático foi semelhante e a concentração de Cl- no perfil do solo (por ser o íon
a da área em sua adjacência, em virtude das presente em maior concentração em relação aos demais
contribuições dos volumes de entrada de água íons na solução do solo) durante os dez anos de
(precipitação e fontes externas) se aproximar dos monitoramento nas áreas experimentais de Nahalal e
extraídos (evapotranspiração das árvores) pelo sistema Genigar. Constata-se que na área experimental de
de biodrenagem, em grande parte do tempo, exceto no Nahalal o comportamento da salinidade no perfil do solo
período de estiagem. (Figura 15 A e Tabela 4) até 4,0 m de profundidade foi
A A
Condutividade elétrica (dS m-1)
Profundidade (m)
Profundidade (m)
B B
Condutividade elétrica (dS m-1)
Profundidade (m)
Profundidade (m)
Figura 14. Comportamento do nível do lençol freático nas Figura 15. Comportamento da condutividade elétrica do
áreas experimentais de Nahalal (A) e Genigar (B) e em extrato saturado do solo nas unidades experimentais de
áreas nas suas adjacências no Vale Yizre’el, Israel. Nahalal (A) e Genigar (B) no Vale Yizre’el, Israel.
(Adaptado de Gafni & Zohar, 2007) (Adaptado de Gafni & Zohar, 2007)
422 Salomão de S. Medeiros et al.
Tabela 4. Concentrações de Cl- no perfil do solo nas áreas experimentais de Nahalal e Genigar localizadas no Vale Yizre’el,
Israel. (Adaptado de Gafni & Zohar, 2007)
Concentração de Cloreto (mg L-1)
Prof.
(m) Nahalal Genigar
1993 1999 2001 2002 2003 1993 1999 2001 2002 2003
0,00 - 0,30 232 1498 1558 1007 1052 3607 705 293 226 484
0,30 - 0,60 612 1370 2245 632 816 1072 1390 524 852 744
0,60 - 0,90 682 1216 673 422 482 725 1513 974 1471 1194
0,90 - 1,20 533 676 675 388 472 489 1446 1567 1644 1651
1,20 - 1,50 610 600 706 415 275 730 1267 1484 1766 1999
1,50 - 1,80 476 320 547 389 293 559 1260 1500 1753 2028
1,80 - 2,10 414 277 801 412 186 450 1267 1402 1619 2147
2,10 - 2,50 - 233 618 516 171 - 1493 1321 1678 2027
2,50 - 300 - 531 256 251 192 - 1589 1409 2228 2356
3,00 - 350 - 405 248 260 233 - 1376 1787 1596 2105
3,50 - 400 - - 266 271 248 - - 2054 467 820
4,00 - 4,50 - - 337 282 181 - - 1729 459 207
4,50 - 5,00 - - 334 245 187 - - 307 293 179
5,00 - 5,50 - - 280 280 203 - - 421 221 213
5,50 - 6,00 - - - 280 211 - - 424 212 193
altamente variável; influenciada pela limitada capacidade (Figura 15 B), a camada superficial (0 – 0,60 m)
de drenagem do solo, que manteve o nível do lençol apresentava altos valores de CE (> 10 dS m -1 ), e
freático elevado na maior parte do tempo (Figura 14 A), posteriormente, observa-se uma redução significativa; em
restringindo a lixiviação dos sais para as camadas uma análise mais cuidadosa do comportamento da CE no
inferiores. Gafni & Zohar (2007), ressaltam que, além das perfil do solo ao longo do tempo, observa-se aumento da
condições ambientais locais (condutividade hidráulica do CE com aumento da profundidade; revelando uma
solo, regime pluviométrico, balanço hídrico, qualidade da migração gradual dos sais para as camadas mais
água local e o volume extraído pelo sistema de profundas (Tabela 4).
biodrenagem), o uso excessivo de insumos agrícolas A implantação do sistema de biodrenagem não
(adubos) e o manejo de irrigação inadequado nas áreas demonstrou efetividade na redução dos níveis de
adjacentes pode ter influenciado esse comportamento. sodicidade do solo nas áreas experimentais (Tabela 5).
Quanto à área experimental de Genigar, observa-se Na área experimental de Nahalal observa-se um ligeiro
que antes da implantação do sistema de biodrenagem aumento da RAS na camada de 0 – 0,60 m, atingido um
Tabela 5. Valores da razão de absorção de sódio (RAS) no perfil do solo nas áreas experimentais de Nahalal e Genigar
localizadas no Vale Yizre’el, Israel. (Adaptado de Gafni & Zohar, 2007)
RAS L-1)1/2
RAS (mmol
Prof.
(m) Nahalal Genigar
1993 1999 2001 2002 2003 1993 1999 2001 2002 2003
0 - 0,30 4,79 4,70 7,21 5,53 6,31 7,63 4,37 6,31 6,76 9,50
0,30 - 0,60 5,10 4,03 6,34 4,95 7,36 7,93 6,5 7,11 9,62 9,80
0,60 - 0,90 5,12 3,84 3,85 4,58 4,44 7,35 6,83 8,00 8,37 9,46
0,90 - 1,20 4,97 2,97 3,67 3,61 4,20 8,11 7,17 8,54 8,27 10,74
1,20 - 1,50 5,09 2,79 3,74 3,54 3,57 8,18 7,40 8,73 8,14 10,67
1,50 - 1,80 4,25 2,56 3,20 3,90 3,03 8,48 7,30 9,06 8,82 11,18
1,80 - 2,10 3,96 2,50 3,36 2,92 2,93 7,92 7,27 8,55 9,67 11,22
2,10 - 2,50 - 2,36 3,03 2,69 3,08 - 8,83 9,24 10,29 11,78
2,50 - 300 - 2,58 2,52 2,43 3,09 - 10,08 10,15 11,16 11,23
3,00 - 350 - 2,77 2,51 2,38 3,20 - 8,84 11,44 8,56 14,46
3,50 - 400 - - 2,66 2,31 3,19 - - 12,09 6,36 10,01
4,00 - 4,50 - - 2,66 2,30 3,07 - - 10,73 6,22 6,06
4,50 - 5,00 - - 2,63 2,28 2,82 - - 6,78 4,90 6,17
5,00 - 5,50 - - 2,67 2,34 3,05 - - 6,83 4,32 5,78
5,50 - 6,00 - - - 2,25 3,06 - - 7,92 4,16 5,45
Biodrenagem 423
valor máximo de 7,36 em 2003, posteriormente, foi Densidade de plantio é outro ponto que deve ser
observado uma pequena redução nas demais camadas. considerado, visto que, o sistema deve promover a
Na área experimental de Genigar o efeito da máxima taxa de evapotranspiração por unidade de área
sodicidade no solo foi mais pronunciado que em Hahalal, ocupada.
muito embora, tenha ocorrido redução do nível do lençol 2. Tolerância das espécies florestais a salinidade do
freático ao longo dos anos (Figura 16 B), a migração de solo: geralmente, as áreas com problemas de drenagem,
sódio no perfil do solo foi incipiente, quando comparados especialmente, aquelas localizadas em regiões áridas e
aos de Ca2+, Mg2+ e Cl- resultando em aumentos nos semiáridas, apresentam concentrações significativas de
valores de RAS, mas, sem afetar de forma significativa sais na solução do solo; em princípio, os sais tendem
a condutividade hidráulica do solo. afetar negativamente o desenvolvimento das plantas,
devido o efeito osmótico restringir a disponibilidade de
CONSIDERAÇÕES FINAIS água e, reduzindo a taxa de evapotranspiração da
cultura. Pode haver também o efeito tóxico de íons
Atualmente no Brasil, não existem relatos na literatura específicos, como sódio, cloreto e boro, dentre outros,
especializada acerca do uso da biodrenagem, apesar do que causam sintomas característicos de injúria,
sistema apresentar inúmeras potencialidades, em associados à acumulação do íon específico na planta.
especial em áreas irrigadas no semiárido. Entretanto, estudos direcionados na definição de espécies
A bacia do São Francisco atualmente apresenta uma florestais tolerantes a salinidade, constitui-se fator
superfície irrigada de 514 mil hectares (ANA, 2009), preponderante para a eficiência do sistema de
onde, uma porção significativa tem apresentado biodrenagem.
problemas de drenagem. Nessa bacia, atualmente, 3. Balanço de sais: a rigor, todas as águas naturais,
encontram-se implantados vários Perímetros Públicos de quer sejam elas de origem pluvial, superficial ou
Irrigação, onde é possível verificar áreas com problemas subterrânea, contêm sais dissolvidos em quantidades
de alagamento, nível do lençol freático elevado e com variadas, porém, a prática de irrigação, mesmo quando se
problemas de salinização. Nessas condições, a utiliza água de boa qualidade aporta significativas
implantação de sistemas de biodrenagem pode constituir quantidades de sais ao solo, em razão dos elevados
em uma alternativa viável, frentes a resolução dos volumes de água aplicados. Pesquisas em várias regiões
problemas de drenagem e os elevados custos dos demonstram que a absorção do sais pelas plantas é
sistemas convencionais; todavia, estudos norteadores insignificante em comparação com as aportas via
deverão ser realizados objetivando a definição de irrigação. Hoffman (1990) menciona que na maioria das
critérios técnicos adequados as condições locais. condições agrícolas onde a salinidade é uma
Dentre as prioridades de pesquisas destacamos: preocupação, as remoções dos sais pelas colheitas podem
1. Extração de água pelo sistema de biodrenagem: as ser ignoradas na equação do balanço de sais. Então,
plantações florestais de eucalipto têm estado no meio de estudo direcionado a espécies florestais que, além de
grandes controvérsias e continuam a despertar promover a extração máxima de água, incorpore em sua
acalorados debates quanto a seus impactos no meio biomassa, significativa quantidade de sais, visando à
ambiente. De modo geral, criticam-se os efeitos sobre o manutenção do equilíbrio de sais no solo.
solo (empobrecimento e erosão) e a água (impacto sobre 4. Manejo do sistema de biodrenagem: estudos
a umidade do solo, os aquíferos e lençóis freáticos) (Vital, também devem orientar os critérios técnicos quanto aos
2007); neste contexto, estudos comparativos entre o tratos culturais, desbaste, modelo de exploração do
consumo de água em plantações de eucaliptos potencial madeireiro sem o comprometimento da
(Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden) e de florestas eficiência do sistema e a relação custo beneficio do
nativas (Mata Atlântica) desenvolvidos por Almeida & sistema.
Soares (2003), constataram que os consumos se
equivalem. Sendo a evapotranspiração da cultura o meio REFERÊNCIAS
de extração de água pelo sistema de biodrenagem,
Akram, S.; Kashkouli, A, H.; Pazira, E. Sensitive variables
pesquisas quanto ao consumo de espécies florestais mais
controlling salinity and water table in a bio-drainage
adaptadas as condições do semiárido brasileiro precisam system. Berlin: Springer Science, 2009, p.271-285.
ser realizadas, demonstrando que o balanço entre as Allen, R. G.; Pereira, L. S.; Raes, D.; Smith, M.
entradas (precipitação, irrigação e/ou contribuição Evapotranspiración del cultivo - Guías para la
externas) e saídas (evapotranspiração) de água na área determinación de los requerimientos de agua de los
seja negativo, comprovando a eficácia do sistema. cultivos. Rome: FAO, 2006. 298p. Riego y Drenaje Paper 56
424 Salomão de S. Medeiros et al.
Almeida, A. C.; Soares, J. V. Comparação entre uso de água em Holmes, J. W.; Wronski, E. B. The influence of plant
plantações de Eucalytus grandis e floresta ombrófila densa communities upon the hydrology of catchments.
(Mata Atlântica) na costa leste do Brasil. Revista Árvore, Agricultural Water Management, v.4, p.19-34, 1981.
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Practice, No. 71. 1990. Sustentável, v.14, n.28, p.235-276, 2007.
Recuperação de solos afetados
23 por sais
Lourival F. Cavalcante1, Rivaldo V. dos Santos2, Fernando F. Ferreyra H.3,
Hans R. Gheyi4 & Thiago J. Dias1
1
Universidade Federal da Paraíba
2Universidade Federal de Campina Grande
3 Universidade Federal do Ceará
4 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Introdução
Técnicas de recuperação de solos afetados por sais
Técnicas fundamentais
Técnicas auxiliares
Recuperação de solos salinos
Fundamentos da lavagem
Necessidade de lavagem
Lavagem de manutenção
Lavagem de recuperação
Métodos de lavagem
Lavagem por inundação contínua
Lavagem por inundação intermitente
Lavagem superficial
Recuperação dos solos sódicos e salino-sódicos
Tipos de corretivos usados na recuperação de solos afetados por sódio
Calculo da necessidade de corretivos e recomendações práticas
Referências
Fortaleza - CE
2010
426 Lourival F. Cavalcante et al.
Recuperação de solos
afetados por sais
através do perfil do solo, determinado volume de água homogêneo, mais poroso para a dinâmica de ar, água e
que, por sua vez, carreia os sais solúveis para além do nutrientes.
ambiente radicular. Esta técnica pode ser realizada com Subsolagem: É uma operação que tem basicamente os
duas finalidades: a) minimizar a alta salinidade inicial do mesmos objetivos da aração profunda só que em menor
solo para níveis toleráveis pela maioria das culturas, profundidade, mas é recomendada para profundidades
denominada lavagem de recuperação; b) prevenir contra além de 30 cm. Tem ainda como objetivo, romper as
a salinização dos solos irrigados não afetados, camadas compactadas do perfil de baixa permeabilidade
denominada lavagem de manutenção e se caracteriza aumentando o espaço poroso, sem inverter as camadas,
como técnica de prevenção contra a expansão acelerada melhorando a permeabilidade do solo. A subsolagem
dos sais nas áreas irrigadas. reduz os efeitos prejudiciais de camadas compactadas
Melhoramento químico: Nos solos salinos, a lavagem que estão a mais de 30 cm de profundidade, porém seu
é suficiente para sua recuperação, devido os sais já efeito é de duração temporária, variando de um a dois
estarem dissolvidos na solução do solo, sendo facilmente anos.
arrastados pela lâmina de lavagem; entretanto, em solos Mistura com areia: A adição e mistura de areia em
sódicos o uso de melhoradores ou corretivos químicos se camadas de solos de textura fina têm a finalidade de
faz necessário para deslocar o sódio que está adsorvido aumentar a macroporosidade e a permeabilidade para
na micela, mediante a adição de substâncias que crescimento mais eficiente das raízes no solo. Esta
contenham, preferencialmente, cálcio. Deste modo, os técnica aumenta as propriedades transmissoras de água
corretivos têm a finalidade de fornecer elementos como no solo, como infiltração, percolação profunda, facilitando
o cálcio, ou liberá-lo, quando presente no solo, para a lixiviação dos sais. A adição de areia é feita pela
substituir o sódio trocável, pois o cálcio desloca o sódio incorporação na superfície do solo e, em seguida, uma
do complexo de troca para a solução que será lixiviado cultura de sistema radicular pouco profundo é cultivada.
após a lavagem. Após vários cultivos e práticas culturais, haverá a
Deve-se ressaltar que, o cálcio por ter maior mistura e a inversão da areia para as demais camadas,
seletividade, ou seja, maior força de atração pelas favorecendo a permeabilidade em todo o perfil (Pizzarro,
partículas de argila, mesmo estando presente em menor 1978). Uma das inconveniências dessa prática é a grande
proporção em relação ao sódio, consegue substituí - ló quantidade de areia exigida em geral, de 700 a 1.000
como indicado no esquema seguinte: t ha-1.
Inversão de perfis geológicos: Consiste em deslocar
Micela Na
Na Ca
Micela Ca 2 Na o horizonte superficial de um solo de características
indesejáveis e substituí-lo por materiais provenientes de
horizontes mais profundos para melhorias nos atributos
Porém se o sódio substituído não for removido mediante físico-químicos. A aração profunda também pode ser
o processo de lavagem seguido de drenagem, o solo pode aplicada nos solos com excesso de sódio na camada
tornar-se sódico; isto evidencia a importância da superficial e contendo, em profundidades maiores,
drenagem no processo de recuperação dos solos salinos camada de solo rica em gesso; neste caso, a inversão
– sódicos e sódicos. de perfil remove o gesso para a superfície e desloca o
solo com excesso de sódio para as camadas mais
Técnicas auxiliares profundas. Quando se tem uma camada de solo muito
Técnicas mecânicas: espessa, com impedimento à água, ar e crescimento
Aração profunda: Consiste em arar o solo até a das raízes, de modo que não se permita a inversão do
profundidade de 60 e 70 cm, com o objetivo de promover perfil, recomenda-se o uso da técnica de drenos
a ruptura do solo e a formação de torrões. Essa prática verticais no horizonte de baixa permeabilidade. Esta
contribui para a melhoria da estrutura do solo, técnica viabiliza a drenagem da água, de um horizonte
favorecendo a infiltração e percolação da água durante de boas condições hídricas para outro, sem passar
uma ou duas irrigações, resultando em menor acúmulo de fisicamente pelo horizonte intermediário de baixa
permeabilidade, não ocorrendo à acumulação de sais na
sais solúveis na zona de semeadura. Esta técnica é
camada superficial (horizonte A), conforme ilustrado na
recomendada quando o solo possui camadas de baixa
Figura 1.
permeabilidade entre outras mais permeáveis, devido o
Técnicas biológicas:
arado reverter e misturar o solo, tornando-o mais Aplicação de adubos orgânicos: A adição de matéria
428 Lourival F. Cavalcante et al.
LEa LSa L A (1) ser aplicada aumenta de 164,6 para 210 mm, mas a
redução da lâmina de água percolada ou drenada de 31,5
ou para 25,1 mm resulta num balanço de água positivo, isto
é, DLA > 0, com valor de 6,4 mm. Esta situação expressa
Lap Lai Lag Laet Lad L A que foram adicionados mais sais ao solo do que lixiviados
e ao longo do período de uso da área, caso não se faça
uma drenagem, o solo tenderia a se tornar salino.
em que: O balanço de sais no solo deve ser deduzido do
LEa - Fluxo de entrada de água, mm balanço da água, multiplicando-se cada componente por
LSa - Fluxo de saída de água, mm sua respectiva concentração salina, assumindo que a
Lap - Lâmina de precipitação, subtraída do única fonte de sais seja a lâmina de água aplicada no solo
escoamento superficial, mm durante o evento de irrigação. Devido os sais serem
Lai - Lâmina de irrigação, mm altamente solúveis e não se precipitam e que são
Lag - Lâmina de água capilar como contribuição desprezíveis as adições de sais pelas águas de chuvas e
do lençol freático, mm fertilizantes como, também, as extrações pelas culturas;
Laet - Lâmina de evapotranspiração, mm o balanço de sais na zona radicular pode ser expresso
Lad - Lâmina de percolação profunda, mm pela Eq. (2):
LA - Variação da lâmina de água armazenada
na zona radicular, mm. (2)
Tabela 1. Valores da necessidade de lavagem (NL), lâmina de água de irrigação (Lai), lâmina de água de drenagem (Lad) e
eficiência de lavagem (EL) em função da salinidade da água de irrigação (CEai) e da água de drenagem (CEal) do solo
LEs = Fluxo de entrada de sais; LSs = Fluxo de saída de sais; DS = Balanço de sais
Recuperação de solos afetados por sais 431
em que: Exercício 5
FL - Fração de lixiviação. Uma cultura deve ser irrigada com água de 1,2 dS m-1,
em que o padrão de extração (ETC = Laet) está indicado
Exercício 4 na Figura 2. A evapotranspiração de 1.200 mm conforme
A concentração salina da água que percola abaixo do o modelo padrão indica que 40% da água são extraídos
ambiente radicular das plantas, expressa pela pelas raízes do primeiro quarto superior, 30% do segundo,
condutividade elétrica da água de drenagem (CEad), deve 20% do terceiro e 10% pelas raízes do último quarto
ser calculada em função da concentração da água de inferior. A fração de lixiviação (FL) adotada deve ser
irrigação (CEai), adotando uma fração de lixiviação (FL) 0,15. Isto indica que 15% da água de irrigação percolam
ou necessidade de lavagem (NL) de 0,15 (Ayres & abaixo da zona radicular e que os restantes 85% são
Westcot, 1999). Esta situação convenciona que 85% da absorvidos pelas plantas.
água fornecida referem-se à evapotranspiração da cultura.
Ao empregar a Eq. (4) contata-se que a
concentração de sais da água que ultrapassa a área
radicular das plantas (CEad) irrigada com cada tipo de
água do exercício 3 é 4, 6, 8 e 10 dS m -1 ,
respectivamente, e a lamina de evapotranspiração das
plantas (Laet) corresponde a 51 mm. Entretanto, as
planas não absorvem igualmente a água contida em toda
a faixa onde se situam as raízes. A proporção absorvida
em relação à evapotranspiração diminui com o aumento
da profundidade do sistema radicular.
Para se estimar aCEad a partir da CEai e FL, deve-
se considerar que a planta não absorve água
uniformemente, de toda a zona radicular. Ayers &
Westcot (1999) consideram que a planta absorve do solo,
para suas necessidades hídricas, um padrão de extração
de 40, 30, 20 e 10% da água consumida pelas culturas,
respectivamente, da quarta parte superior à inferior da
zona radicular. Portanto, a estimativa da condutividade
elétrica média da água de drenagem (CEad) da zona
radicular deverá ser ponderada de acordo com a Figura 2. Esquema representativo da absorção de água ao
proporção de água retida em cada respectiva faixa da longo do sistema radicular das plantas
zona radicular. A Tabela 2 apresenta o fator de
concentração de sais no solo (CEes/CEai) com base nas Esse modelo ou procedimento considera que o
considerações do padrão de extração normal, aliado à consumo da água pelas plantas aumenta a concentração
relação CEes = 2 x CEad. de sais da água de drenagem, ao longo das faixas, onde
se localizam as raízes como apresentado na Figura 2. O
Tabela 2. Fatores de concentração (Fc) para se estimar a modelo também considera que a salinidade deve ser
salinidade do extrato de saturação do solo (CEes) a partir avaliada da seguinte forma:
da salinidade da água (CEai) e da fração de lixiviação (FL) a) na superfície do solo - CEadZr0 (Z0); b) final do
(Ayers & Westcot, 1999)
primeiro quarto superior - CEadZr 1 (Z1); c) final do
segundo quarto - CEadZr 2 (Z2); d) final do terceiro
quarto - CEadZr 3 (Z 3); e) final do quarto inferior -
CEadZr4 (Z4).
Esse tipo de prática obedece às seguintes etapas:
1) Cálculo da lâmina de irrigação (Lai) de modo a
atender a evapotranspiração (ETC = Laet) da cultura
para uma fração de lixiviação (FL = NL) de 0,15.
432 Lourival F. Cavalcante et al.
Lavagem de manutenção
Para se estimar a necessidade de lavagem de
manutenção de um solo irrigado, necessita-se conhecer
b) Segundo quarto, tanto a salinidade da água de irrigação como a salinidade
tolerada pela cultura. A salinidade da água de irrigação
FL2 = (931 - 0,3 x 1.200)/1411 = 573/1.411 = 0,40 pode ser medida diretamente, em termos de condutividade
elétrica (CEa). A salinidade tolerada pela cultura é a
salinidade média da água contida na zona radicular,
representada pela salinidade do extrato de saturação
resultante (CEes) e pode ser estimada utilizando-se
dados da literatura, com base na Tabela 2.
c) Terceiro quarto, Desta forma, para culturas específicas a aproximação
mais exata da necessidade de lixiviação de manutenção
FL3 = (573 - 0,2 x 1200)/1.411 = 333/1.411 = 0,24 (NL) pode ser obtida utilizando-se a seguinte equação
(Rhoades, 1974; Rhoades & Merril, 1976; Ayers &
Westcot, 1999):
(5)
d) Último quarto ou fim da zona radicular,
CEai - Salinidade da água de irrigação, dS m-1 lençol freático próximo à superfície; portanto, antes de se
CEes - Salinidade média do extrato de saturação iniciar o processo de lavagem deve-se avaliar a
do solo, que representa a salinidade tolerada por drenabilidade da área e, caso seja necessário, instalar um
determinada cultura, dS m-1 sistema de drenagem.
Existem diversos modelos matemáticos para simular o
Considerando-se que toda a água aplicada durante o movimento e as reações de sais no solo, durante a
evento de irrigação se infiltra uniformemente no solo e lixiviação, mas nenhum deles disponível é capaz de superar
que não existem perdas por escoamento superficial, a adequadamente as grandes variações que ocorrem com o
lâmina anual de irrigação que se deve aplicar para fluxo de água em condições de campo. Por isto, esses
satisfazer tanto a demanda da cultura como a modelos teóricos não são quase utilizados e, normalmente,
necessidade de lavagem de manutenção, pode ser as estimativas da necessidade de lavagem de recuperação
estimada pela equação abaixo: de solos salinos se baseiam principalmente em
experiências de campo in loco. Desta forma, antes de se
(6)
proceder à lavagem de recuperação, deve-se realizar um
pré-teste em condições de campo, para verificar a
capacidade de infiltração e drenagem para avaliar a
eficiência de lavagem, determinando a lâmina de água
em que: ideal e o tempo necessário de recuperação. O pré-teste
Lai - Lâmina anual de irrigação, mm ano-1 mostra as dificuldades reais a serem encontradas no
ETc - Laet - Evapotranspiração da cultura, mm ano-1 processo de recuperação em larga escala e deve ser
NL - Necessidade de lixiviação ou fração de realizado em áreas representativas de solos e grau de
lixiviação. salinização, pois qualquer pré-teste na área mais afetada
irá recuperar em grau, pelo menos igual ou maior que nas
Lavagem de recuperação áreas menos afetadas.
Na prática, não é possível se estimar, com exatidão, a
lâmina de lavagem de recuperação necessária, pois ela é MÉTODOS DE LAVAGEM
influenciada por diversos fatores que ocorrem
simultaneamente, como o fluxo de água, a presença de Lavagem por inundação contínua
fendas no solo, diferenças na solubilidade dos sais, O método de aplicação de água e a textura do solo
restrições na difusão dos sais e a dispersão hidrodinâmica. são as principais variáveis que define o volume ou lâmina
Neste caso, nem toda a água aplicada contribui, no de água requerida para lixiviar os sais. Dependendo da
processo de dessalinização, para a lavagem dos sais. textura do solo, pode-se ter diferentes graus de
Muitas vezes, parte da lâmina de lavagem passa recuperação para uma mesma lâmina aplicada.
diretamente através das fendas e macroporos do solo e O método de lavagem por inundação contínua possui
sai da zona radicular com a mesma concentração salina vantagens e desvantagens em relação aos outros
inicial, enquanto outra parte se mistura com a solução do métodos de lavagem, assim relacionadas:
solo e sai da zona radicular com uma concentração salina Vantagens:
que depende da proporção da mistura, realizando a a) Lixivia os sais das camadas mais profundidades;
lavagem dos sais. Enfim, a eficiência da lavagem varia b) É adequado para o solo com lençol freático
com os diferentes métodos utilizados na aplicação da elevado e salino, devido a lâmina para lavagem por
lâmina de lavagem. inundação contínua impedir o fluxo capilar para a
Antes de se iniciar a lavagem, deve-se nivelar e superfície, reduzindo a acumulação de sais.
gradear o terreno e, em seguida, adicionar uma lâmina de Desvantagens:
água adequada após a construção dos diques. Não a) O tempo de recuperação é maior que em
havendo possibilidade de se nivelar o terreno, qualquer outro método de recuperação;
recomenda-se a construção dos diques que separam as b) Uma elevada proporção de água de lixiviação se
parcelas em curvas de nível. desloca rapidamente pelos poros maiores necessitando,
A medida que a lâmina de águas se infiltra, lâminas desta forma, de um volume maior de água para deslocar
adicionais poderão ser aplicadas até completar a lâmina uma unidade de sais, ocorrendo grande desperdício de
total preestabelecida. Se a drenagem do solo não for água e, em áreas com drenagem deficiente, poderá
adequada, a lavagem poderá agravar ainda mais o causar elevação do lençol freático e possível acumulação
problema, com a saturação do solo e a formação do de sais (Pizarro, 1978).
434 Lourival F. Cavalcante et al.
c) Exige nivelamento do terreno, em curvas de nível formam quando há perdas de água na evaporação ou
e a água deve ser aplicada em parcelas; drenagem e pelos poros finos dos agregados, quando
d) A eficiência de lavagem depende da textura do úmidos.
solo.
Para a lixiviação por inundação contínua, pode-se
considerar que 70 a 80% dos sais solúveis inicialmente
contidos no solo, poderão ser lavados com lâmina igual
MicelaNa
Na CaSO 4 Micela Ca Na 2 SO 4
salino-sódico. Estes resultados indicam também que a
recuperação física do solo degradado por sódio (PST) é
mais lenta do que a recuperação química (CEes).
A reação é reversível, por isso torna-se necessário
aplicar-se uma lâmina de lavagem para lixiviar o sulfato Exercício 10
de sódio, que é produto final da reação, para que a A matéria orgânica oriunda do esterco bovino,
recuperação paulatinamente ocorra e seja satisfatória. associada à drenagem também exerce eficiência na
Para isso, uma rede de drenagem se constitui em prática recuperação de solos afetados pela sodicidade. Um solo
obrigatória para lixiviação dos sais e do excesso de água. salino-sódico de Sumé - PB, abandonado há mais de 10
Tal reação é mais fortemente limitada pela reduzida anos pelo excesso de sais solúveis (CEes = 13,4 dS m-1)
solubilidade do gesso, que na temperatura de 25 ºC é e sódio trocável (PST = 18,4%), um ano após ser tratado
aproximadamente igual a 2,1 g L-1. com esterco bovino e drenagem subterrânea produziu
tomate em nível econômico.
Exercício 9
Pelos resultados a lavagem nos tratamentos sem Tabela 5. Produtividade de tomate Santa Clara em um solo
drenagem, independentemente da dose do gesso salino-sódico submetido à drenagem e esterco bovino.
aplicada, compromete ainda mais o nível salino (CEes)
e sódico (PST) em relação ao solo antes da aplicação
do corretivo químico. Nestas situações, ocorre a
solubilização do gesso através das irrigações, mas sem
a lavagem seguida de drenagem os sais solubilizados
que não são lixiviados voltam a ser adsorvidos pelo
complexo argílico do solo. Ao considerar que a reação
do cálcio pelo sódio é reversível, o sódio volta a
dispersar as argilas, depauperado ainda mais as
propriedades físicas do solo. Extraído e adaptado de Araújo (1990); SD = Sem drenagem; CD = Com drenagem; A 0 = Sem
NPK; A1 = com NPK; M0 = sem matéria orgânica: M 1 = 7 t ha-1; M2 = 14 t ha-1 de esterco de
Verifica-se também que apesar da lavagem reduzir a curral
Tabela 4. Dados do extrato de saturação antes e depois da incorporação de doses de gesso em um solo salino-sódico sem
e com drenagem
Extraído e adaptado de Agra & Cavalcante (1992); NG = Necessidade de Gesso do solo; SD = Solo sem drenagem; CD = Solo com drenagem
438 Lourival F. Cavalcante et al.
diminuição da microporosidade do solo (Cavalcante & propiciou maior dinâmica de água e lixiviação mais
Silveira, 1985; Silveira, 1997). rápida do sódio transferido dos locais de troca para a
Um solo salino-sódico foi incorporado com gesso e solução do solo e para ser lixiviado juntamente com
acondicionado em colunas de PVC de 75 mm de outros cátions dissolvidos com as lavagens subsequentes.
diâmetro e 50 cm de altura. Aos 70 dias de incubação, Quanto ao gesso aplicado na superfície do solo os
o solo apresentava os resultados químicos e físicos resultados da literatura são conflitantes. Khosla & Abrol
indicados na Tabela 6. (1972) e De Jong (1982) constataram maior eficiência
A eficiência de aplicação do gesso depende da quando aplicado na superfície em relação ao incorporado
granulometria de suas partículas sendo que, de acordo ao solo. Para Barros et al. (2004), apesar da eficiência
com Abrol (1982) conseguem-se resultados promissores do gesso em reduzir a condutividade elétrica e a relação
com partículas de gesso menores que 2 mm de diâmetro, de adsorção de sódio, em solos salino-sódicos de distintas
devido aumentar a sua dissolução e reduzir a classes texturais, não obtiveram diferenças entre o gesso
precipitação do cálcio. na superfície e incorporado. Por outro lado, Gobran et al.
O gesso pode ser aplicado diretamente no solo (1982) e Cavalcante & Silveira (1985) obtiveram maiores
incorporando na superfície ou adicionando a água de reduções das variáveis químicas e físicas para o gesso
irrigação. No primeiro caso, adotam-se dois incorporado ao solo.
procedimentos: o corretivo é distribuído a lanço e Para maior eficiência na substituição do sódio
incorporado através de gradagem até a profundidade que trocável, é conveniente lavar quase todos os sais solúveis
se deseja recuperar, ou pode também ser fornecida antes de se aplicar os corretivos, para que uma
diretamente na superfície do solo; em ambas as proporção maior de cálcio contido no corretivo seja
situações, recomenda-se a lavagem após a adição do adsorvida pelo complexo; no entanto, a lavagem dos sais
corretivo para promover a distribuição mais homogênea solúveis em excesso poderá causar a dispersão das
no perfil. No segundo caso, o gesso é misturado com a partículas de argila, diminuindo a permeabilidade do solo;
água de irrigação (Silveira, 2000). por isto, as lavagens prévias não devem ser aplicadas
para solos pouco permeáveis.
Exercício 11
Os valores antes e aos 70 dias depois da Exercício 12
incorporação do corretivo químico, evidenciam reduções Após avaliar a efetividade agronômica do gesso na
expressivas de natureza química pela diminuição da recuperação de solos salino-sódicos e sódicos indicada
salinidade (CEes), da sodicidade (PST) e de natureza na Tabela 7, Magalhães (1995), concluiu que o aumento
física pelo aumento da macroporosidade, condutividade das doses de gesso na superfície de dois solos
hidráulica, redução do espaço microporoso e melhoria da comprometidos por sódio, do estado de Pernambuco,
estruturação do solo (Oster & Frenkel, 1980; Gheyi et al., reduziu expressivamente a sodicidade. A redução da
1997; Barros et al., 2006). PST em função do gesso aplicado em relação aos
Os dados expressam a ação positiva do gesso quando valores iniciais dos respectivos solos aumentou de 62,8
associado à drenagem na recuperação de solos para 83,9% no perímetro irrigado de Ibimirim e de 30,9
degradados pela sodicidade, ao nível de proporcionar a 75,7% em Custódia respectivamente. Em ambos os
condições para a germinação das sementes e solos, a PST foi reduzida para níveis abaixo de 10% e,
crescimento das plantas. O aumento da macroporosidade portanto, com condições de cultivo em ambos os solos.
Tabela 6. Condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes), percentagem de sódio trocável (PST), macro, microporosidade
e condutividade hidráulica do solo saturado, após incorporação do gesso.
Extraído e adaptado de Morais (1990); A = Antes da aplicação do gesso; M = Macroporosidade; m = Microporosidade; M e m = Respectivamente incrementos da macro e microporosidade; Ks =
Condutividade hidráulica do solo saturado
Recuperação de solos afetados por sais 439
Tabela 7. Valores referentes à percentagem de sódio trocável foram mantidas sob regime de saturação com água
inicial (PSTi), percentagem de sódio trocável final (PSTf) sintética (NaHCO 3 , Na 2 SO 4 , NaCl, KCl, MgCl 2 e
e redução da percentagem de sódio trocável (PST) em
função do gesso aplicado na superfície de dois solos
CaCl2) de condutividade elétrica 1,01 d Sm-1 sem e com
degradados por sais. saturação de gesso, ao nível de 2,5 g L -1. A cada 24
Gesso PSTi PSTf PST horas eram avaliados, do volume lixiviado, as variáveis
Perímetro de
Aplicado contidas na Tabela 8.
Irrigação/Local %
cmolc kg-1 A lavagem do solo com qualquer tipo de água reduziu
5,9 18,7 62,8 significativamente a condutividade elétrica, a
Ibimirin-01, PE 11,8 50,3 13,0 74,2
percentagem de sódio trocável e aumentou a dinâmica da
17,7 8,1 83,9
água em relação ao solo antes da aplicação dos
3,5 24,8 30,9
Custódia-07, PE 7,0 16,9 52,9 tratamentos. Observa-se também que a superioridade foi
35,9 mais expressiva nas amostras tratadas com água
10,5 8,7 75,7
Extraído e adaptado de Magalhães (1995); PSTi e PSTf = Respectivamente percentagem de só- sintética mais gesso. Estas melhorias nos aspectos
dio trocável dos solos antes e depois da aplicação superficial do gesso
químicos e físicos constatados também por Shainberg et
Quanto ao gesso fornecido juntamente com a água de al. (1988) evidenciam efeitos positivos do cálcio, oriundo
irrigação, em geral, as dosagens aplicadas são menores gesso ou de outro composto químico que o contenha, na
do que quando incorporadas ou aplicadas na superfície do redução da salnidade, sodicidade, concentração de sódio
solo. Este modo de aplicação apesar de fornecer o gesso trocável e aumento da capacidade de drenagem expressa
com boa parte já solubilizada e proporcionar distribuição pela condutividade hidráulica do solo.
mais homogênea na profundidade requerida, não tem sido
recomendado para sistema de irrigação pressurizado de
Cloreto de cálcio: A alta solubilidade do cloreto de
alta frequência como microaspersores, gotejamento e
outros afins. cálcio (CaCl2 2H2O) aproximadamente igual a 427 g L-1
A baixa solubilidade do corretivo químico em doses à 20 oC, torna o um corretivo químico mais eficiente e
comparadas às aplicadas diretamente no solo pode rápido que o gesso na recuperação de solos afetados por
promover a obstrução dos emissores e comprometer todo sódio, porém seu emprego é limitado, por ser
o sistema de irrigação. Por isso, juntamente com a água rapidamente lixiviado do perfil do solo e, principalmente,
o gesso é mais frequentemente fornecido na irrigação por seu elevado custo. A substituição do sódio trocável
por inundação ou infiltração em sulco. no solo, quando se aplica o cloreto de cálcio, é descrita
pela seguinte reação:
Exercício 13
Amostras de solos com CEes entre 1,15 e 8,76 d Sm-1
e PST de 4,62 a 33,77%, foram avaliadas em tubos de
MicelaNa
Na CaCl 2 Micela Ca 2 NaCl
Tabela 8. Valores médios da condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes), percentagem de sódio trocável (PST),
teores trocáveis de cálcio e sódio, condutividade hidráulica do solo saturado (Ks) e condutividade elétrica do lixiviado
(CEl)
CEs PST Ca2+ Na+ Ks CEl
Tratamentos
dS m-1 % cmolc kg-1 cm h-1 dS m-1
Antes 4,97 a 15,28 a 5,89 c 2,22 a - -
Água sem gesso 2,35 b 11,18 ab 6,75 b 1,59 ab 0,37 b 10,84 a
Água com gesso 2,35 b 8,30 b 7,24 a 1,19 b 0,61 a 11,77 a
Z1 0-20 cm 3,00 a 8,92 b 6,77 a 1,23 b 0,47 a 8,82 b
Z2 20-50 cm 3,45 a 14,25 a 6,48 a 2,11 a 0,51 a 15,79 a
CV (%) 70,00 57,45 10,27 63,17 90,70 101,03
dms águas 1,60 4,61 0,47 0,73 0,8 4,63
dms Z - 3,13 - 0,49 0,18 4,63
Extraído de Silveira (2000); Z= Tamanho da amostra
440 Lourival F. Cavalcante et al.
Enxofre: O enxofre é um corretivo químico bastante solos com calcário dolomítico, o ácido sulfúrico forma
utilizado, tendo em vista seu baixo custo. Antes de agir gesso, como explicita a reação abaixo:
como corretivo, o enxofre elementar passa por uma fase
de oxidação microbiana para produzir o H 2SO4. Este H 2SO 4 CaCO 3 CaSO 4 CO 2 H 2 O
processo de oxidação do enxofre no solo é resultante da Micela Na
Na CaSO 4 Micela Ca Na 2 SO 4
ação de bactérias do gênero Thiobacillus, tal como
descritas pelas reações seguintes:
A reação do ácido sulfúrico com o calcário produz o
2S 3O 2 Irrigação 2SO 3 (oxidação microbiana) gesso. A dissolução do gesso fornece cálcio para a troca
SO 3 H 2 O H 2SO 4 com o sódio, que substituirá o sódio adsorvido ao solo
através da reação de simples troca. Nos solos sem os
H 2SO 4 Micela Na
Na Micela H Na 2 SO 4
H
carbonatos alcalinos terrosos esse corretivo causa
Micela Na
Na CaSO 4 Micela Ca Na 2 SO 4 excessiva acidez, o que justifica seu emprego nos solos
ricos em carbonatos alcalinos terrosos.
matéria orgânica.
Exercício 15
A adição de matéria orgânica oriunda do esterco de
C curral a um solo salino-sódico contribuiu para redução do
caráter salinidade (CEes) e sodicidade (PST). Verifica-
se que apesar da redução crescente da PST,
numericamente a diminuição dos efeitos deletérios da
sodicidade é mais lenta do que o da salinidade. Dentre
pH
Tabela 9. Valores da condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes) e da percentagem de sódio trocável (PST) em
resposta à aplicação de matéria orgânica
Extraído e adaptado de Neves (1997); PST = Percentagem de sódio trocável; SS = Solo salino-sódico; S = Solo salino; Valor entre parêntese corresponde à redução percentual em relação ao valor
original (A)
442 Lourival F. Cavalcante et al.
Tabela 10. Valores de condutividade elétrica dos lixiviados (CEl) e condutividade hidráulica (Ks) de um solo salino-sódico
cultivado com plantas leguminosas antes e depois da aplicação de matéria orgânica
Umidade (g kg-1)
a condutividade hidráulica do solo saturado.
Imediatamente após a lavagem do solo, sementes de
feijão guandu (Cajanus cajan L.) e de Mucuna preta
(Stylozobium atterrinum Pit. Et. Tmacc) foram semeadas
e 60 dias após foi realizada outra lavagem e obtidos os
valores da condutividade elétrica das suspensões
drenadas e a condutividade hidráulica do solo saturado.
A adição de matéria orgânica e a lavagem Potencial matricial (MPa)
Figura 8. Curva de retenção de água de um solo salino-
promoveram a lixiviação dos sais e aumento da
sódico sem corretivo químico (—), com aplicação de
hidrodinâmica do solo. Do ponto de vista químico a vinhaça (———), com gesso e lixo urbano (—’”’”—).
condutividade elétrica foi expressivamente reduzida e Extraído de Santos (2002)
fisicamente à matéria orgânica elevou consideravelmente
a velocidade da água no perfil de lenta, variando de 1,27 Pela referida figura, se verifica que no solo com
a 5,08 mm h-1 para lenta a moderada que se situa entre vinhaça a disponibilidade de água às plantas supera a do
5,08 a 20,32 mm h -1 no período de 60 dias após a solo com gesso + lixo urbano e do solo sem nenhum tipo
incorporação do esterco de bovino. Apesar da marcante de acondicionador. A superioridade na armazenagem de
redução dos índices da salinidade e do aumento da água do solo com vinhaça é atribuída à ação da matéria
dinâmica da água no solo não foram detectadas orgânica coloidal nela contida, que aumenta o estado de
diferenças estatísticas entre as doses do esterco bovino agregação e aeração do solo, resultando em aumento do
sobre a melhoria química e física do solo e nem sobre a espaço macroporoso como indicado na Figura 9.
germinação das sementes, matéria seca total e das raízes
de ambos os tipos de plantas (Cavalcante et al., 2002). Exercício 18
Resultados da literatura indicam que a vinhaça Um solo salino-sódico de condutividade elétrica do
também exerce ação positiva na correção de solos extrato de saturação 42,5 dS m-1, percentagem de sódio
afetados por sódio trocável (Ruiz et al., 1997). Em geral,
tem se verificado diminuição da elevada força de
retenção de água, da condutividade elétrica do extrato de
saturação no caso dos solos salino-sódicos e aumento da
Macroporos (%)
Exercício 17
Após avaliar os efeitos da vinhaça e lixo urbano sobre
a retenção de água em um solo salino – sódico, Santos
(2002), verificou que a ordem de retenção de água nos Doses de vinhaça (%)
diferentes tratamentos foi: solo com vinhaça < solo com Figura 9. Valores médios de macroporos do solo, em
gesso + lixo urbano < solo sem nenhum dos insumos função das doses de vinhaça aplicadas. Extraído de
(Figura 8). Silva (2004)
Recuperação de solos afetados por sais 443
Tabela 11. Valores da condutividade elétrica, pH, sódio, total de sais lixiviados e condutividade hidráulica de um solo
salino-sódico saturado
Extraído e adaptado de Silveira (1997); CEl e TSL = Respectivamente condutividade elétrica e total de sais medidos no lixiviado; Ks = Condutividade elétrica do solo saturado. Médias seguidas de
mesmas letras nas colunas não diferem entre si por Tukey para p < 0,05
Tabela 12. Produção de quatro cultivares de arroz e massa fresca de capim-camerom referente a oito cortes em um solo
salino-sódico do perímetro irrigado de Sumé, PB, submetido aos distintos métodos de recuperação
Extraído e adaptado de Gheyi et al. (1995); 1-BR IRRGA 409; 2= POKALI; 3=IR 2058; 4=IR2053. Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas não diferem pelo
teste de Tukey para p < 0,05
de vinhaça, 40 t ha -1 de esterco de curral e um em todas as variáveis estudadas. Indica também que das
tratamento controle ou testemunha, isto é, solo tratado oito variáveis a sequência esterco de curral > gesso foi
apenas com água. O solo foi lixiviado continuamente registrada em sete, inclusive na produtividade. Pelos
durante 40 dias mantendo uma lâmina de 8 cm de carga resultados a correção de solos com o uso de
hidráulica nas parcelas e em seguida foi cultivado com condicionadores orgânicos apresenta viabilidade como
arroz e avaliadas as variáveis indicadas na Tabela 13. observado também por Gheyi et al. (1995), Neves (1997),
Ruiz et al. (1997), Cavalcante et al. (2002).
Exercício 20
No período de 1996 a 1997, Gomes et al. (2000) Tabela 14. Ordem de sequência dos diferentes métodos de
verificaram que dentre os métodos de recuperação o recuperação de um solo salino-sódico do Perímetro
gesso foi o que mais reduziu a percentagem de sódio Irrigado de São Gonçalo, Sousa, Paraíba
trocável e a vinhaça foi a que mais contribuiu para a
diminuição da condutividade elétrica do extrato de
saturação do solo. No tocante as variáveis relativas à
cultura, exceção feita ao número de panícula, massa da
panícula e produtividade do arroz, todos os métodos de
recuperação superaram a testemunha nas demais
variáveis avaliadas. Especificamente no rendimento da
cultura, a ordem crescente da produtividade foi: Esterco
de curral (8,81 t ha-1) > Gesso (6,78 t ha-1) > Casca de EC = Esterco de curral; G = Gesso; CA = Casca de arroz; V = Vinhaça; T = Testemunha
arroz (6,28 t ha-1) > Vinhaça (5,66 t ha-1) > Testemunha
(3,38 t ha-1). Resíduos industriais: Alguns subprodutos de indústria
A ordem das sequências crescentes dos efeitos dos poderão atuar como corretivos, em virtude de serem
distintos condicionadores do solo, como indicado na acidificadores e possuírem cálcio. Dentre esses
Tabela 14, evidencia a superioridade do esterco de curral subprodutos, o mais utilizado é o resíduo dos engenhos de
Tabela 13. Valores médios e incrementos, em relação à testemunha do comprimento (CP) e número de panícula (NP),
número de ramificações (NR) e massa de panícula (MP), número de grãos (NG), e densidade da panícula (DP), massa
de 100 grãos (MG) e rendimento de arroz sob inundação de um solo salino-sódico do perímetro irrigado de São Gonçalo,
Souza, PB, submetido a diferentes métodos de recuperação
Extraído e adaptado de Gomes et al. (2000); T=testemunha; Valores seguidos de mesmas letras minúsculas nas linhas não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey para p < 0,05; Números entre
parêntese expressa a superioridade percentual em relação à testemunha
Recuperação de solos afetados por sais 445
*=Extraído Leite et al. (2007); **=Extraído de Pereira et al. (1982); Na+x = Sódio trocável; CTC
= Capacidade de troca catiônica; h = profundidade do solo que se deseja recuperar; Ds = Den-
sidade do solo
a dosagem de 100% para 25,50 e 75% e selecionar a De Jong, E. Reclamation of soils contaminated by sodium
mais eficiente como recomendam Khosla & Abrol chloride. Canadian Journal Soil Science, v.62, p.351-364,
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Indicadores de rentabilidade
24 da recuperação de solos sódicos
Raimundo N. T. Costa1, Claudivan F. de Lacerda1,
Luiz A. C. da Silva1 & Ana P. B. de Araújo1
Introdução
Análise de investimento
Atualização de fluxos monetários
Taxa interna de retorno (TIR = r*)
Cálculo da TIR (r*)
Relação benefício-custo (Rb/c)
Cálculo e análise do fator de recuperação de capital
Estudos de caso na bacia hidrográfica do Rio Curu-CE
Características do solo e processo técnico da recuperação (Caso I)
Indicadores de rentabilidade e payback da recuperação (Caso I)
Características do solo e processo técnico da recuperação (Caso II)
Indicadores de rentabilidade e payback da recuperação (Caso II)
Considerações finais
Referências
Fortaleza - CE
2010
450 Raimundo N. T. Costa et al.
Indicadores de rentabilidade
da recuperação de solos sódicos
(1 r)
Ii
ocorrerão durante vários anos. Para isto faz-se (Ia) i
i 1
necessário do conhecimento do conceito de valor
presente de um fluxo monetário.
Segundo Lapponi (2000), para atualizarmos um fluxo - Valor atual das receitas
monetário ou de renda, necessitamos definir a princípio
uma taxa de desconto real r, que normalmente considera- n
(1 r)
Ri
se a taxa média de juros de mercado. Assim, dado um (Ra) i
fluxo de renda V 1 , V 2 , ..., V n , proveniente de um i 1
(1 r)
Ci
da seguinte expressão: (Ca) i
i 1
1
Vi0 Vi
(1 r ) i
- Valor atual líquido
(1 r) (1 r) (1 r)
Ri Ci Ii
(VAL) Ra Ca Ia i
i
i
i 1 i 1 i 1
Considere a Tabela 1.
O valor final apresentado na tabela (345) denomina-
se benefício líquido atual (BLA) ou valor atual líquido ou,
(VAL). Sempre que este valor (VAL), estimado a uma
taxa de desconto correspondente ao custo de oportunidade n n
Ri Ci
(1 r) (1 r)
Ii
do capital, for superior a zero, o investimento será viável. VAL i
i
Ao compararmos dois investimentos seleciona-se aquele I 1 i 1
Tabela 1. Fluxos monetários em valores correntes (nominais ou de mercado) e atualizados (reais ou constantes)
Valores Correntes F.D. Valores Atualizados
Anos
(r = 5%)
Invest. Receita Custos RL Invest. Receita Custos RL
0 400 - - (400) 1 400 - - (400)
1 400 - - (400) 0,9524 381 - - (381)
2 200 300 150 (50) 0,9070 181 272 136 (45)
3 - 350 150 200 0,8638 - 302 130 172
4 - 400 200 200 0,8227 - 329 165 164
5 - 400 200 200 0,7835 - 313 157 156
6 - 400 200 200 0,7462 - 298 149 149
7 - 400 200 200 0,7107 - 284 142 142
8 - 400 200 200 0,6768 - 271 135 136
9 - 400 200 200 0,6446 - 258 129 129
10 - 400 200 200 0,6139 - 246 123 123
Total 1.000 3.450 1.700 750 - 962 2.573 1.266 345
Benefício Líquido Atualizado (Valor Líquido Atualizado) 345
RL: Renda Líquida; FD: Fator de desconto
452 Raimundo N. T. Costa et al.
r1 r2 r
Taxa interna de retorno (TIR = r*)
Uma maneira de se fugir das dificuldades de se
Figura 1. Relação entre receita líquida atualizada e taxa de
determinar a taxa de desconto correspondente ao custo desconto
de oportunidade do capital, na determinação da
viabilidade de investimentos, é o emprego da taxa interna L1 L 2 L
de retorno que tem a característica de ser calculada * 1 1
r2 r1 r r
somente através dos dados próprios (internos) do
investimento.
Sabe-se que a taxa de juros que se paga por um L 1 (r2 r1 )
r* r1
financiamento pode ser considerada como o “preço do L1 L 2
dinheiro”, é o que se paga pelo uso de capitais
monetários de terceiros. Portanto, uma elevação na taxa
de juros provoca, simultaneamente, um aumento nos Exemplo: considerando a Tabela 2:
custos do investimento e queda da receita líquida. Assim,
existe uma relação inversa entre a taxa de desconto (r) 1
F.D. (fator de desconto)
e a receita líquida atualizada (L), conforme Figura 1. (1 r ) i
Nota-se que dentre as inúmeras taxas de desconto
possíveis apenas uma (r*) anula a receita líquida
109(18 10)
atualizada. Esta taxa específica recebe a denominação r* 10 15,2%
de taxa interna de retorno. De modo mais formal; 109 ( 59)
podemos definir taxa interna de retorno como a taxa de
desconto que anula a receita líquida atualizada. Ou seja: Observações: uma taxa interna de retorno de 10%
pode ser facilmente comparada com opções de
n n
Ri Ci investimento no mercado financeiro; tais como uma
(1 r ) (1 r
Ii
0
* i * i
) rentabilidade de 10% em títulos, rentabilidade de 6% em
i 1 i 1
poupança, etc.
Cálculo da TIR (r*)
A partir do gráfico acima, pode-se deduzir através do Relação benefício-custo (Rb/c)
teorema de semelhança de triângulo que a seguinte A relação benefício-custo (Rb/c) é definida como a
relação é verdadeira: relação entre o somatório das receitas atualizadas (Ra)
e o somatório dos custos atualizados (Ca), a uma taxa
Tabela 2. Transformação de valores nominais em valores reais
Valores Nominais F.D. Valores Atualizados F.D. Valores Atualizados
Anos
(r1=10%) (r2=18%)
R C Ra Ca Ra Ca
0 - 1.000 1 - 1.000 1 - 1.000
1 450 100 0,9091 409 91 0,8475 381 85
2 450 100 0,8264 372 83 0,7182 323 72
3 450 100 0,7513 338 75 0,6086 274 61
4 450 100 0,6830 307 68 0,5158 232 51
Total 1.800 1.400 - 1.426 1.317 - 1.210 1.269
Receita líquida atualizada L1 = $109 L2 = -$59
R: Receita; C: Custo; Ra: Receita atualizada; Ca: Custo atualizado
Indicadores de rentabilidade da recuperação de solos sódicos 453
RN
Ro
1 r n
e
n
Ci Substituindo-se Rn obtido anteriormente nesta expressão,
i 1
Ca
(1 r ) i
teremos:
R
1 r n 1
teremos: r
Ro
1 r n
n
Ri
Ra (1 r) i
Rb / c i 1 ou
Ca n
Ci
i 1 (1 r ) i
Ro R
1 r n 1
r 1 r n
Tabela 5. Fluxos monetários em valores correntes e atualizados para uma safra de arroz (1o semestre) e uma safra de melão
(2o semestre) em área de 1,0 ha - março 2000
Investimento/ Valores Atualizados
Custo Receita F.D.*
Ano Reinvestimento
(R$) (R$) (r=12%) Custo/Investimento (R$) Receitas (R$)
(R$)
0 - 3.019,54 - 1,0000 3.019,54 -
1 990,90 - 102,11 0,8929 884,77 91,17
2 2.513,66 - 4.004,33 0,7972 2.003,89 3.192,25
3 2.513,66 2.820,00 4.004,33 0,7117 3.795,97 2.850,28
4 2.513,66 - 4.004,33 0,6355 1.597,43 2.544,75
5 2.513,66 - 4.004,33 0,5674 1.426,25 2.272,06
6 2.513,66 - 4.004,33 0,5066 1.273,42 2.028,59
7 2.513,66 - 4.004,33 0,4523 1.136,93 1.811,16
8 2.513,66 - 4.004,33 0,4039 1.015,27 1.617,35
9 2.513,66 - 4.004,33 0,3606 906,43 1.443,96
10 2.513,66 - 4.004,33 0,3220 809,40 1.289,39
Somas 23.613,84 5.839,54 36.141,08 17.869,50 19.140,96
* FD = fator de desconto
laterais, aplicação de gesso, tratamentos mecânicos e em estudo. A TIR, estimada em 17,7%, por ser maior do
custo de produção e de incorporação de adubação verde que o custo de oportunidade do capital (12% a.a),
(feijão-de-porco), num total de R$ 3.019,54 (março de também demonstra viabilidade do referido processo.
2000). Os benefícios iniciaram-se apenas a partir do ano Tendo em vista a implantação de um novo sistema de
“1”. drenagem, considerou-se que o mesmo seria capaz de
No ano “1” as despesas se compuseram do custo de incrementar os benefícios do plano de recuperação em
produção da cultura do arroz, custo da irrigação 10%. Dessa forma, analisaram-se os indicadores de
(aquisição de sifões, tarifa de água e aplicação) e rentabilidade através de uma análise de sensibilidade
manutenção do sistema de drenagem. Já os benefícios considerando-se tal incremento das receitas e dos custos,
ou receitas foram compostos pelo incremento da inalterados.
produtividade de arroz em relação à produtividade obtida Conforme Hillier & Lieberman (1988), a análise de
antes do processo de recuperação do solo por Ferreyra sensibilidade tem como objetivo testar a estabilidade do
& Coelho (1986), cujo incremento foi de 392,75 kg ha-1. projeto em termos de sua rentabilidade e, assim, avaliar
No ano “2”, as despesas se compuseram dos custos a influência de variações em determinados parâmetros
de produção das culturas do arroz e do melão, do custo sobre os resultados básicos do projeto. Nessa análise,
da irrigação e da manutenção do sistema de drenagem. considerando-se os custos inalterados e um incremento
Já os benefícios foram compostos pelo incremento da de 10% nas receitas, obtêm-se os indicadores Rb/c =
produtividade do arroz acrescida da produção física do 1,18; VPL = R$ 3.185,46 e TIR = 25,49%.
melão. Justifica-se a utilização de toda a produção física A análise do fluxo de caixa apresentada na Tabela 5
do melão, tendo em vista que o solo da área do demonstra que somente ao final do oitavo ano, período
experimento se prestava unicamente ao cultivo de arroz “payback”, as receitas começariam a superar os custos,
antes da sua recuperação. com uma margem de R$ 253,61. Esta condição limita
Os custos e receitas dos anos subsequentes foram consideravelmente investimentos por nossos agricultores
considerados iguais ao ano “2”, tendo sido considerado irrigantes no processo de recuperação dos solos.
um reinvestimento em um novo sistema de drenagem Há que se considerar a carência de informações de
subterrânea no ano “3”, considerando que o sistema indicadores econômicos da recuperação de solos
instalado inicialmente constituído de manilhas de barro se afetados por sais. Finalmente, há de se convir que se
apresentava vulnerável a avarias. deva estabelecer sempre um manejo adequado da
Os indicadores de rentabilidade do processo de irrigação a fim de minimizar os riscos de salinidade do
recuperação em que consta um plano anual constituído solo.
por uma safra de melão e uma de arroz foram de: Rb/c
= 1,07; VPL = R$ 1.271,34, considerando-se uma taxa de Características do solo e processo técnico da
desconto r de 12% ao ano e TIR = 17,7%. Estes recuperação (Caso II)
resultados demonstram, com base nos critérios de Araújo (2009) desenvolveu pesquisa no núcleo D do
decisão, viabilidade do processo de recuperação do solo Perímetro Irrigado Curu Pentecoste–CE em solo de
456 Raimundo N. T. Costa et al.
textura franco-argilosa, classificado como Neossolo e/ou investimentos na recuperação do solo sódico e
flúvico com percentagem de sódio trocável em torno de instalação de um sistema de drenagem subterrânea.
50% e transmissão de água no perfil de solo praticamente Quanto aos benefícios foram constituídos pelos valores
nula. brutos da produção associados às culturas do feijão-de-
A área da pesquisa, cultivada com coqueiro e feijão- corda consorciado com a cultura do coqueiro até o
de-corda, recebeu o seguinte preparo mecânico: aração, terceiro ano.
gradagem, sistematização do terreno, subsolagem (Figura A amortização dos investimentos da recuperação do
5), nova gradagem e sulcamento. Em seguida a aplicação solo sódico e instalação do sistema de drenagem
de 40 t ha-1 de matéria orgânica (Figura 6A) e 20 t ha-1 subterrânea foram realizadas em três anos com período
de gesso (Figura 6B).
de carência de dois anos.
O valor inicial da PST da ordem de 50% foi reduzido
Na Tabela 6 são apresentados os elementos
após o período chuvoso, ou seja; um ano após a aplicação
econômicos para cálculo dos indicadores de
dos tratamentos mecânicos e químicos para o nível de
4%. De acordo com Gheyi et al. (1995), a aplicação de rentabilidade, considerando-se um horizonte de 10 anos.
gesso em solos salino-sódicos resulta em uma expressiva As receitas dos dois primeiros anos foram compostas
diminuição da PST logo no primeiro ano de sua pelo valor bruto da produção (VBP) da cultura do feijão-
aplicação. de-corda. No terceiro ano, pelo VBP das culturas do
feijão-de-corda e do coqueiro e, nos demais anos, pelo
Indicadores de rentabilidade e payback da VBP da cultura do coqueiro.
recuperação (Caso II) Quanto aos custos do processo de recuperação
A análise dos indicadores de rentabilidade foi realizada compuseram-se no primeiro ano do custo de produção da
de forma ex-ante e ex-post. Consideraram-se os custos cultura do feijão-de-corda e custo de instalação e
produção da cultura do coqueiro. No segundo ano, do
custo de produção da cultura do feijão-de-corda e
manutenção da cultura do coqueiro. No terceiro ano, do
custo de produção e manutenção das culturas do
coqueiro e feijão-de-corda, além da primeira parcela da
amortização dos investimentos. No quarto e quinto anos,
do custo de manutenção da cultura do coqueiro e
respectivas amortizações e, do sexto ao décimo anos, do
custo de manutenção da cultura do coqueiro.
Os indicadores de rentabilidade, considerando-se uma
taxa de desconto de 12% ao ano, do processo de
recuperação foram de: relação benefício/custo (Rb/C)
de 1,14; valor presente líquido (VPL) de R$ 2.391,90 e
Figura 5. Subsolagem do terreno taxa interna de retorno (TIR) igual a 20,86 %. Os
A B
referidos indicadores demonstram, com base nos critérios impacto social associado à geração de empregos
de decisão, boa viabilidade do processo de recuperação diretos e indiretos em razão da incorporação destas
(Rb/c > 1,0 e VPL > 0). áreas ao processo produtivo, há a necessidade do
Quanto à taxa interna de retorno (20,86%), principal governo criar uma linha de crédito específica para
indicador de rentabilidade de um projeto, por ser maior investimentos e custeio destinado à recuperação de
do que o custo de oportunidade do capital considerado na solos degradados por sais, a uma taxa de juros, prazo
presente análise (12%) mostra a viabilidade do referido de carência e tempo de amortização dos investimentos
processo. Em outras palavras, a TIR igual a 20,86 % compatíveis com as condições atuais dos agricultores
significa que o capital alocado no projeto suporta uma familiares destes perímetros irrigados.
elevação da taxa de desconto de até 20,86 ao ano para
cada ano do horizonte de análise do projeto. Ou seja, o REFERÊNCIAS
referido investimento só será inviável se a taxa média de
juros de mercado atingir valores superiores à referida Araújo, A. P. B. Análise técnico-econômica da recuperação de
taxa interna de retorno (20,86 %). um solo sódico no Perímetro Irrigado Curu Pentecoste, CE.
Na análise de rentabilidade para uma taxa de juros Fortaleza: UFC, 2009, 61p. Dissertação Mestrado
de 6% ao ano, a relação benefício/custo (Rb/c) é de Azevedo Filho, A. J. B. V. Elementos de matemática financeira
e análise de projetos de investimento. Piracicaba: DESR/
1,28; o valor presente líquido (VPL) é de R$ 5.328,85
ESALQ, 1996. (Série Didática,109). Disponível em: <http:/
e a taxa interna de retorno (TIR) igual a 20,86,
am.esalq.usp.br/desr/dum/dum.html>. Acesso em 1996.
demonstrando alta viabilidade do processo de Costa, R. N. T.; Saunders, L. C.U.; Oliveira Jr., N. M.; Biserra,
recuperação; pois, a esta taxa todo o investimento J. V. Indicadores econômicos da recuperação de um solo
realizado será recuperado e remunerado à taxa de 6%, sódico em condições de drenagem subterrânea no Vale do
e ainda provocará um lucro extra igual a R$ 5.328,85. Curu, CE. Irriga. v.10, n.3, p.272-278, 2005.
Somente ao final do nono ano, período payback, as Ferreyra H., F. F.; Coelho, M. A. Efeito de doses de gesso e
receitas começariam a superar os custos, com uma subsolagem na produtividade de arroz em solo sódico.
margem de R$ 1.151,40. Revista Brasileira de Ciências do Solo, v.10, n.3, p.157-161,
1986.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Gheyi, H. R.; Azevedo, N. C.; Batista, M. A. F.; Santos, J. G. R.
Comparação de métodos na recuperação de solo salino-
sódico, Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.19, p.173-
Considerando os elevados investimentos realizados
178, 1995.
pela União na construção e manutenção dos Perímetros
Hillier, F. S.; Lieberman, G. J. Introdução à pesquisa operacional.
Públicos Irrigados, a significativa área de solos 3 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
degradada por sais e, fora do processo produtivo, à 806 p.
redução de renda do irrigante comprometendo a Lapponi, J. C. Projetos de investimento: construção e avaliação
qualidade de vida da família, o propósito pelo qual estes do fluxo de caixa. 1. ed. São Paulo: Lapponi Treinamento e
perímetros irrigados foram criados e, sobretudo o Editora, 2000. 376p.
458 Raimundo N. T. Costa et al.
Leite, M. E.; Cavalcante, F. L.; Diniz, A. H. I.; Santos dos V. R.; Richards, L. A. Diagnóstico y hehabilitacion de suelos salinos
Alves, S. da G.; Cavalcante, L. H. I. Correção da sodicidade y sódicos. Washington, DC: Departamento de Agricultura
de dois solos irrigados em resposta a aplicação de gesso de Los Estados Unidos da América, 1954, 172p. Manual de
agrícola. Irriga, v.12, n.2, p.168-176, 2007. agricultura, 60
Mantovani, E.C.; Bernardo, S.; Palaretti, L.F. Irrigação Walker, W. R.; Skogerboe, G. V. Surface irrigation: Theory and
princípios e métodos. 1. ed. Viçosa: UFV, 2006. 318p. practice. New Jersey: Prentice-Hall, 1987. 386p.
Fitorremediação de solos afetados
25 por sais
Maria B. G. dos S. Freire1, Edivan R. de Souza1 & Fernando J. Freire1
Introdução
Definição de fitorremediação
Histórico da fitorremediação em solos afetados por sais
Período de recuperação
Espécies de plantas para fitorremediação
Gênero Atriplex
Uso da biomassa produzida na alimentação animal
Mecanismos e processos envolvidos na fitorremediação
Manejo da fitorremediação
Considerações finais
Referências
Fortaleza - CE
2010
460 Maria B.G. dos S. Freire et al.
Fitorremediação de solos
afetados por sais
disponíveis, mas com grande chance de sucesso, devido cultivadas com algodão (Gossypium hirsutum L.), a
a sua viabilidade econômica e benefícios ambientais. primeira cultura pós fitorremediação. As produtividades de
É importante destacar que a fitorremediação envolve, algodão foram de 1,82 Mg ha-1 para o tratamento com
por ação direta da planta ou indireta pelo estímulo gesso e 2,10 Mg ha -1 para o tratamento com
desta sobre a microbiota rizosférica, a descontaminação, fitorremediação. A PST na camada de 0,3 m do solo
por meio da extração ou degradação por diversos decresceu de 70 para 5% no tratamento com gesso e 65
processos: fitoextração, fitodegradação, fitovolatilização, para 6% no tratamento com fitorremediação (Tabela 1).
fitoestimulação e fitoestabilização (Accioly & Siqueira ,
Tabela 1. Percentagem de sódio trocável (PST) de um solo
2000).
de Fresno (Califórnia) em função da aplicação de gesso
O processo aplicável à técnica de remediação pelos (recuperação convencional de solos sódicos) e
vegetais de solos afetados por sais é a fitoextração, em fitorremediação (cultivo de plantas). Baseado em dados
que as plantas extraem e translocam os íons para a parte de Kelley & Brown (1934) e Kelley (1937)
aérea, que pode ser colhida e destinada a um manejo
apropriado, dependendo do tipo de cultura adotada. O
objetivo nesse caso é a redução das concentrações de
sais e depende, principalmente, da habilidade das plantas
em extrair tais elementos, considerando as condições de
clima e solo.
HISTÓRICO DA FITORREMEDIAÇÃO
EM SOLOS AFETADOS POR SAIS
b
Aplicação de gesso: 37 Mg ha-1 (22 Mg em 1920 e 15 Mg em 1921);
Cultivo de cevada por dois anos, trevo por dois anos, e alfafa por cinco anos;
afetados por sais são encontrados na literatura desde os c
Cultivo de grama bermuda por dois anos, cevada por um ano, alfafa por quatro anos e aveia
por um ano.
anos de 1920 e 1930, em que Kelley e associados Fonte: Radir et al. (2007)
Fitorremediação Química
outros fins, encarecendo o produto para a agricultura, e 18
a redução de subsídios ao setor agrícola. 17
16
15
PERÍODO DE RECUPERAÇÃO 14
13
12
Experimentos
De acordo com Nascimento et al. (2009), um dos 11
gargalos à implementação da fitoextração em escala 10
9
comercial é o prazo relativamente longo requerido para 8
a diminuição dos teores de sais no solo a níveis 7
requeridos. Este problema torna-se menos preocupante 6
5
diante das inúmeras vantagens verificadas com o uso de 4
vegetação em área inóspita para o crescimento de 3
2
culturas alimentares, pastagens convencionais, etc. Tais 1
benefícios são citados por Qadir et al. (2007):
0 20 40 60 80 100
a) Elimina o custo com corretivos químicos; Percentagem de decréscimo da PST ou RAS
Fonte: Radir et al. (2007)
b) Possibilita o uso de produtos fornecidos pela Figura 1. Sumário de 17 experimentos comparando o
espécie cultivada; decréscimo da percentagem de sódio trocável – PST e
c) Melhora a estabilidade dos agregados do solo e relação de adsorção de sódio – RAS por meio da
criação de macroporos, o que otimiza as propriedades fitorremediação e recuperação química. As barras indicam
a percentagem de decréscimo em relação aos níveis
hidráulicas do solo e proliferação das raízes;
iniciais de RAS e PST. Fontes: 1 (Robbins, 1986a), 2 e 3
d) Promove maior disponibilidade de nutrientes; (Kausar & Muhammed, 1972), 4 (Qadir et al., 1996), 5
e) Possibilita a recuperação do solo em profundidades e 6 (Rao & Burns, 1991), 7 (Ahmad et al., 2006), 8 (Singh
maiores; e & Singh, 1989), 9 (Ahmad et al., 1990), 10 (Ilyas et al.,
f) Após a fitorremediação e no próprio processo, o 1997), 11 (Kelley & Brown, 1934), 12 (Batra et al., 1997),
solo pode aumentar o sequestro de carbono, tendo 13 e 14 (Muhammed et al., 1990), 15 (Qadir et al.,
implicações ambientais positivas. Além de ser uma 2002), 16 (Ghaly, 2002), 17 (Helalia et al., 1992) e 18
(média dos 17 experimentos). Os experimentos de 1 a 7
solução viável para pequenos agricultores que, foram conduzidos em lisímetros e os demais em
normalmente, dispõem de poucos recursos financeiros. condições de campo
Diversas espécies de plantas podem ser adotadas, no
entanto, quando o objetivo é a retirada do cloro e sódio Entretanto, no Brasil, experimentos conduzidos com
do solo, as halófitas apresentam-se como a alternativa halófitas com objetivo de fitorremediar o solo ainda são
mais indicada, pela capacidade de sobreviver em solos escassos. Dentre as pesquisas que vem sendo
com teores de sódio mais elevados. desenvolvidas nesse sentido, a Atriplex nummularia L.
Em uma avaliação de 17 experimentos conduzidos é a espécie com maior destaque, tendo em vista as
em diferentes partes do mundo, Qadir et al. (2007) características de crescimento vegetativo e a alta
realizaram uma comparação entre corretivos químicos concentração de sais encontrada nos tecidos. Trabalhos
e fitoextração, com resultados bem interessantes desenvolvidos por pesquisadores do Centro de Pesquisa
(Figura 1). Os tratamentos químicos (aplicação de Agropecuária do Trópico Semi-Árido da EMBRAPA e
do grupo de Ciência do Solo da Universidade Federal
gesso em todos os experimentos) resultaram em um
Rural de Pernambuco vem adotando a Atriplex
decréscimo de 60% dos níveis de sodicidade inicial
nummularia L. como forma de minimizar os efeitos dos
(PST e RAS) enquanto um decréscimo de 48% foi
sais no solo. Na Tabela 2 são apresentados dados já
calculado para os tratamentos que adotaram a publicados de experimentos desenvolvidos por
fitorremediaçãoo. Em alguns experimentos, a pesquisadores nessas instituições.
fitorremediação foi menos eficiente que, segundo os Considerando-se um solo salino-sódico com CEes de
autores, pode-se atribuir a: 1) não foi usada uma cultura 30 dS m-1; sódio trocável de 3,31 cmolc kg-1; CTC de
tolerante à salinidade e sodicidade; 2) o período de 4,68 cmolc kg-1 e PST de 70,58 % na camada de 0-30 cm;
cultivo não foi o suficiente ou o mais adequado. Em e CEes de 16,00 dS m-1; sódio trocável de 4,8 cmolc kg-
média (últimas barras-18), a correção química reduziu 1
; CTC de 6,5 cmolc kg-1 e PST de 73,85 % na camada
a PST ou a RAS em cerca de 60% e a fitorremediação de 30-60 cm. Estimando-se a concentração de sais
em aproximadamente 50%. solúveis (CS), em mg L-1, pela equação: CS = 800 CE
Fitorremediação de solos afetados por sais 463
Tabela 2. Produção de matéria seca e extração de sais pela Atriplex nummularia L. em condição de campo e casa-de-vegetação
Finalidade Tempo (dias) Condição MS1 (kg ha-1) Extração (kg) Referência
2
Fitorremediação 135 Casa veg. 7.283 966 (Na, K, Cl) Souza (2010)
Fitorremediação3 130 Casa veg. 3.000 300 de Na Leal et al. (2008)
Fitorremediação 480 Campo 8.040 560,50 (Na, K, Cl) Souza (2010)
IRD4 375 Campo 13.819,8 2.222 (cinzas) Porto et al. (2006)
IRD5 380 Campo 9.436 1.053 (cinzas) Porto et al. (2001)
1
Matéria seca;
2
Estimativa baseada na produção em vaso de 12 kg, planta mantida a 75% da umidade na capacidade de campo (caule + folha);
3
Estimativa baseada na produção em vaso de 8 kg, planta mantida na capacidade de campo (caule + folha);
4
Irrigação com rejeito de dessalinizador, planta irrigada com 300 L semana -1 (caule grosso + caule fino + folha);
5
Irrigação com rejeito de dessalinizador, planta irrigada com 75 L semana -1 (caule grosso + caule fino + folha).
(Rhoades et al., 1992) e calculando-se o Na adsorvido suprir suas demandas inorgânicas, as halófitas
eletrostaticamente, chega-se aos valores de sais de apresentam-se como alternativas economicamente
26.040 kg ha-1 e 14.952 kg ha-1 contidos na primeira e viáveis.
segunda camada, respectivamente. Sendo assim, o
aporte de sais até 60 cm de profundidade é de 40.902 ESPÉCIES DE PLANTAS PARA
kg ha-1. FITORREMEDIAÇÃO
Tomando-se como referência dados de produção de
A seleção de espécies a serem utilizadas na
matéria seca e conteúdos de Na+, K+ e Cl- extraídos pela
fitorremediação deve ser baseada não só na habilidade
Atriplex nummularia L. (Souza, 2010), de 966 kg ha-1 em
de suportar elevados níveis de salinidade e sodicidade,
quatro meses e meio de cultivo em casa de vegetação
mas também na capacidade de fornecer um produto útil
(2.608,2 kg ha-1 ano-1), seriam necessários em torno de na propriedade rural. Outro pré requisito para uso na
oito anos para reduzir em cinquenta por cento os teores fitorremediação em solos afetados por sais é a
de sais até 60 cm de profundidade. Essas estimativas capacidade de suportar ambientes com deficiência de
apontam para uma eficiência de extração de sais pela oxigênio, problema que frequentemente ocorre em solos
Atriplex, mas para conclusões mais detalhadas e dessa natureza, quer pela necessidade de irrigações
direcionadas para as diversas condições de solo e clima intensivas na lixiviação de sais, ou pela dificuldade natural
faz-se necessária a realização de experimentos em de infiltração de água nas épocas chuvosas, mantendo o
condição de campo com um tempo maior de avaliações solo inundado por períodos relativamente longos. Assim,
das propriedades do solo e da planta, para que se possa genótipos que apresentem estas condições conjuntamente
adequar um programa de manejo eficiente de devem ser preferidos para uso na fitorremediação de
fitoextração no semi-árido do Brasil. solos salinos e sódicos.
Além da Atriplex nummularia L., outras espécies Existem inúmeras espécies halófitas que concentram
halófitas podem ser adotadas para biorremediar solos sais e tem boa produção de biomassa vegetal, além de
afetados por sais. Ravindran et al. (2007) encontraram servir como bom alimento forrageiro, com teores de fibra
resultados promissores para as seguintes espécies: e proteína bruta dentro dos padrões exigidos para
Suaueda maritima, Sesuvium portulacastrum, produção de animais. Embora muitas dessas halófitas não
sejam difundidas no Brasil, podem ser objeto de
Excoecaria agallocha, Clerodendron inerme,
pesquisas futuras, pois são encontrados resultados
Ipomoea pes-caprae e Heliotropium curassavicum
promissores, já que produzem boas quantidades de massa
extraindo do solo, num período de quatro meses: 504,00;
seca em curto período de tempo e, mesmo as que são
473,93; 396,34; 359,50; 325,18 e 301,46 kg ha -1 de
perenes, podem sofrer corte ao longo do ano, fornecendo
NaCl, respectivamente; nos solos sob estes cultivos a forragem para alimentação animal.
relação de adsorção de sódio foi reduzida em 82, 75, 71, Como exemplo dessas halófitas com bom
67, 58 e 50%, respectivamente. desempenho para serem cultivadas em ambientes com
Durante ou após o processo de fitoextração ainda é altas concentrações de sais no solo e água, podendo
bastante questionado o destino final da biomassa vegetal revegetar as áreas salinas e ao mesmo tempo
com altos teores de sais nos tecidos. No caso dos proporcionar o uso como forragem para os animais
elementos contaminantes serem sais que, normalmente, caprinos, ovinos e bovinos, encontram-se: Kochia
os animais requerem na alimentação, principalmente para scoparia (Kafi et al., 2010); Aster trifolium L. (Geissler
464 Maria B.G. dos S. Freire et al.
CE - dS m-1
da CE medida em extrato de tecidos vegetais (Figuras 2
e 3). Das seis espécies, a Suaeda marítima e a Sesuvium
portulacastrum exibiram maior acumulação de sais em
seus tecidos, coincidindo com os menores valores de RAS
no solo cultivado com as mesmas. Vale ressaltar o curto
período de cultivo das espécies, de apenas 120 dias, sendo
possível a obtenção de resultados mais expressivos em
intervalos mais prolongados.
Fonte: Ravindran et al. (2007)
Espécies:
dias 1. Suaeda marítima
2. Sesuvium portulacastrum
3. Excoecaria agallocha
4. Clerodendron inerme
5. Ipomoea pes-caprae
6. Heliotropium curassavicum
Figura 3. Condutividade elétrica (CE) de amostras de solos
salinos naturais cultivados com seis espécies de
RAS
especializados de acumulação de sais no interior das A estrutura de tricomas vesiculares e dos elementos
células, ou de eliminação através de vesículas especiais de condução do xilema em folhas jovens e adultas de
existentes na superfície das folhas. Quando cheias, essas Atriplex nummularia Lindl produzidas sob diferentes
vesículas se rompem e liberam os sais em finas camadas níveis de salinidade em experimentos sob condições de
de cristais que se aderem à superfície da folha. Estes campo e casa de vegetação foi estudado por Pimentel-
cristais de sais contribuem na economia de água pela Galindo (2001). Verificou-se que a extensibilidade da
planta, pela reflexão dos raios solares, minimizando as parede das vesículas promoveu aumento nas dimensões
perdas de água, reduzindo a temperatura da folha e da célula vesicular, em resposta à elevação da salinidade,
mantendo a turgidez das células (Glenn et al., 1998). Na compensando a redução na área foliar e na densidade dos
Atriplex nummularia os dois mecanismos acontecem tricomas, tanto em folhas jovens quanto em folhas adultas,
juntamente, mas o de acumulação no interior dos tecidos resultando numa significativa capacidade acumuladora de
da planta é de maior importância e ocorre principalmente sais no interior dessas células.
nas folhas, que apresentam aspecto brilhoso de coloração Avaliando o potencial da Atriplex nummularia na
verde-acinzentada (Figura 4). fitorremediação de solo salino-sódico sob irrigação com
águas salinas (175, 500 e 1.500 S cm-1), Leal et al. (2008)
A B verificaram o potencial do gesso como potencializador da
fitoextração de sódio (ausência e aplicação de 50% da
dose recomendada pela necessidade de gesso), em
experimento de casa de vegetação. As avaliações se
deram até 130 dias após o transplantio. Os autores
afirmam que a Atriplex nummularia comportou-se como
planta hiperacumuladora de sódio, possuindo potencial de
uso na fitoextração deste elemento no solo. No entanto
Figura 4. (A) Folha de Atriplex nummularia aos 10 meses de
só puderam detectar reduções significativas de sódio no
idade cultivada em campo (foto própria); (B) Detalhe de
vesículas de acúmulo de sais em folha de Atriplex solo a partir de 100 dias após o transplantio. Observa-se
nummularia (Porto et al., 2001) a necessidade de estudos a longo prazo, seja em casa-
de-vegetação ou no campo, para a obtenção de resultados
Cabral (1998) avaliou a influência das halófitas do mais consistentes da atuação desta planta na redução dos
gênero Atriplex na salinidade e sodicidade do solo no teores de sais em solos.
município de São Bento do Una – PE em três subáreas Outro aspecto que deve ser considerado em um
(sem cultivo de Atriplex, cultivo de Atriplex nummularia, programa de fitorremediação é o tempo gasto para
cultivo de Atriplex undulata) com espaçamento de 5 x 5 recuperar a área. Barrett-Lennard (2002) estimou que
m. As amostragens iniciaram-se aos dois anos de idade sob condições de não irrigação, espécies halófitas com
para a Atriplex nummularia e 3 meses para a Atriplex uma produtividade de 10 t ha-1 e 25% de concentração
undulata em profundidades variando de 0 a 120 cm em de sal na biomassa seca (250 g kg -1) seria necessário
pontos localizados a 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0 m do caule da planta. em torno de vinte anos consecutivos para remover
Verificou-se que a Atriplex nummularia foi mais eficiente metade do conteúdo inicial de sais (86 Mg ha-1) presente
no processo de ciclagem do sódio e contribuiu para maior em dois metros de profundidade de um solo afetado por
retenção de umidade no solo. sais. Tomando-se como referência dados de produção
Krishnapillai & Ranjan (2005), usando um solo salino- da massa seca de Atriplex nummularia (Porto et al.,
sódico abandonado de um parque da província de 2006) e teores de Na + nas diferentes partes da planta
Manitoba (Canadá), aplicaram a técnica de fitoextração (Leal et al., 2008), estima-se que a Atriplex extraia em
com a Atriplex patula e avaliaram o potencial de
torno de 500 kg ha-1 ano-1 de sódio nas condições do
remoção de sais durante um período de 150 dias de cultivo
Nordeste Brasileiro. Nesse contexto, considerando um
em laboratório com potes em camada de 20 cm de
profundidade. As plantas foram colhidas aos 150 dias, solo com percentagem de sódio trocável média de 51%,
atingindo altura de 45 cm; após a análise da massa concentração de sódio trocável de 5,7 cmol c kg -1 ,
seca estimou-se que o potencial de remoção foi de 0,25 densidade do solo de 1,3 g cm-3 e condutividade elétrica
kg m-3 de cloreto e 0,06 kg m-3 de sódio. Com esses do extrato de saturação média do solo de 26 dS m -1,
resultados, estimou-se que as plantas chegariam a valores seriam contabilizados algo em torno de 3.600 e 14.600
de extração de 2.500 kg ha-1 de cloreto e 600 kg ha-1 de kg ha -1 de sódio presentes em 20 e 80 cm de
sódio, ao considerar uma profundidade do sistema profundidade do solo, respectivamente. Sendo assim,
radicular de 20 cm. seriam necessários dezessete anos de cultivos sucessivos
466 Maria B.G. dos S. Freire et al.
para extrair metade do conteúdo de sódio, quando se da espécie, ou como feno ou silagem quando cultivada,
considera uma extração de 500 kg ha -1 ano-1 de sódio. mas a forma de feno é a mais utilizada (Araújo, 2009).
Vale salientar que os dados dos teores de sódio extraídos A disponibilidade de ovinos a serem abatidos no
de Leal et al. (2008) foram obtidos de plantas com 130 Nordeste Brasileiro não supre a demanda interna por este
dias após o transplantio, em virtude da ausência de dados produto. Assim, a superação dos problemas que
com idades superiores. interferem no fornecimento de carne ovina, dentro das
Pesquisas futuras ainda são necessárias para a exigências de qualidade, regularidade e quantidade
definição do manejo mais adequado da cultura, como requerida pelos demais segmentos da cadeia produtiva,
espaçamento, podas, irrigação e adubação. Contudo pode representar perspectiva concreta de aumento de
existem alguns trabalhos em andamento comparando a renda para os agricultores do Nordeste (Souto et al.,
Atriplex nummularia com outras técnicas de recuperação 2005).
de solos salino sódicos (gesso, estercos, polímero O termo “Agricultura Biossalina” é bem amplo e tem
sintético), verificando a efetividade da poda no sido utilizado para descrever agricultura em escala que
desenvolvimento da cultura e na retirada de sais do solo aborda a salinidade nos níveis água e solo, ou ambas
e avaliando a influência da umidade do solo na extração (Masters et al., 2007). As halófitas crescem sob
de sais pela planta (Souza, 2010). condições salinas e, historicamente, têm sido usadas
Fato curioso é observado em relação a sua capacidade como forragem para ruminantes ou como componentes
de produção de biomassa com alto teor de proteína sem de rações mistas para substituir volumoso, podendo
uso de fertilização nitrogenada, apesar do N ser ajudar na conversão, pelo animal, em carne, lã e outros
componente dos aminoácidos formadores das proteínas. subprodutos [Araújo (2009); Mattos (2009); Norman et
Em estudo da microbiota associada às plantas de Atriplex al. (2008); Masters et al. (2007); Ghaly (2002)].
nummularia em condições de campo no Agreste de O Brasil possui um grande potencial para a exploração
Pernambuco, já foi possível determinar a presença de de pequenos ruminantes domésticos frente às condições
inúmeras bactérias, algumas delas fixadoras de N que, favoráveis para a produção de carne e seus derivados,
possivelmente, explicam esta observação (Santos, 2010). além de calçados e vestuários oriundos do abate desses
animais. As condições ambientais propícias, aliadas à
USO DA BIOMASSA PRODUZIDA ampla disponibilidade de terras, principalmente nas
NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL fronteiras em expansão do semiárido nordestino,
propiciam custo de produção relativamente baixos,
Historicamente têm-se buscado alternativas para favorecendo esse mercado. Entretanto, os sistemas de
convivência com os longos períodos de estiagens e a produção vigentes representam um retrato de baixos
baixa oferta de biomassa em regiões da caatinga, e isso níveis de organização da cadeia produtiva, com reflexos
vem se intensificando nos últimos anos, como tentativa de nos índices de produtividade, na qualidade dos produtos e
fixar o homem no campo. A concentração de chuvas em na falta de regularidade na oferta (Leite, 2005).
um período curto do ano tem levado a busca de A ovinocaprinocultura no Nordeste tem elevada
forrageiras que consigam suportar estas longas estiagens. importância por constituir fonte alternativa de renda para
Em contrapartida, tentativas de acúmulo de água e a agricultura familiar, tradicionalmente adotada em áreas
manejo errôneo em cultivos irrigados têm possibilitado o secas. Contudo, não atingiu todo seu potencial pela
aparecimento de reservatórios salinos e áreas escassez de alimento nas épocas de estiagem, assim, o
salinizadas, dificultando a produção racional da carne conhecimento e aprimoramento de dietas alternativas para
ovina (Araújo, 2009). A caatinga, vegetação natural e esses rebanhos, ressaltando a função das forrageiras
base da alimentação dos ruminantes na região Nordeste halófitas, notadamente a Atriplex nummularia L., seria
do Brasil, encontra-se submetida a um processo de fundamental para o incremento da produtividade dos
degradação que diminui a produção de fitomassa, rebanhos e, consequentemente, para a melhoria das
reduzindo ainda mais o alimento disponível para os condições de vida da população rural.
animais nos meses secos do ano. As halófitas têm a capacidade de fornecer alimento
A erva-sal (Atriplex nummularia Lind.) é uma planta verde, muitas vezes durante a estação seca, quando
halófita, que pode ser considerada como alimento ocorre escassez de alimento (Masters et al., 2007).
volumoso de digestibilidade aparente variando de 39% a Quando se trabalha com produção intensiva, a integração
70% (Souto et al., 2005). Sua oferta tem sido feita na de rações formuladas com forragens halófitas também se
forma de pastejo direto em área de geração espontânea apresenta com uma estratégia promissora.
Fitorremediação de solos afetados por sais 467
Os pastos de erva-sal podem produzir alimento ovinos se alimentando de uma mistura 1:1 de feno
suficiente e de boa qualidade para justificar os custos de (digestibilidade da massa seca de 0,57) e atriplex (1,5 kg
estabelecimento dos sistemas de produção. Além disso, de massa seca dia-1) foi significativamente maior que na
suplementos com alto teor de fibras, como palha ou ingestão somente de feno (0,9 kg massa seca dia-1) ou
restolhos de culturas, podem complementar a dieta dos somente atriplex (0,7 kg de massa seca dia -1). Com a
animais e melhorar seu desempenho (Norman et al., mistura, o ovino apresentou um ganho de peso de 70 g
2008). O corte de forrageiras halófitas estimula o dia-1.
crescimento de ramos mais tenros, possibilitando assim Outros resultados interessantes foram observados por
o pastejo e a melhor digestibilidade pelos ruminantes, Thomas et al. (2007) oferecendo vários tipos de dietas,
devendo-se, sobretudo, escolher uma altura e idade em que os ovinos preferiram aquelas com alto teor de
adequada para esse corte, evitando assim a morte do sais e alta energia; assim, os autores concluíram que
vegetal cultivado (Souza, 2010). suplementos com alta energia são mais fáceis de serem
Norman et al. (2008) comentam que a Atriplex consumidos junto com atriplex. Sugerem, ainda, que
nummularia apresenta bons valores de proteína bruta suplementos volumosos devem ter digestibilidade entre
(140 g kg-1 de massa seca) e digestibilidade da celulase 0,52 e 0,60 para complementar com uma dieta com alto
pepsina (0-52 g kg-1 de massa seca). Contudo, apresenta teor salino.
altas concentrações de sais solúveis nas folhas (220 Mattos (2009), avaliando o desempenho de dietas a
g kg -1 de massa seca), enxofre (4-6 g kg -1 de massa base de palma forrageira e feno de atriplex para
seca) e nitrato (173 g kg -1 de massa seca). Estas cordeiros da raça Santa Inês em confinamento no semi-
concentrações são maiores que as recomendadas árido Nordestino (Petrolina – PE), concluíram que o nível
para os ruminantes e poderiam conduzir à redução da de 35% de palma forrageira e 20% de feno de atriplex
ingestão da biomassa da planta (Masters et al., 2007). (complementadas com grão de milho moído, farelo de
A acumulação de sais resulta em concentração de cinzas soja e uréia) na dieta, resultou em maior taxa de
nas folhas de 150-270 g kg-1 de massa seca, podendo crescimento; todavia, do ponto de vista econômico, a
diminuir a digestibilidade. No entanto, há escassez de inclusão de 67,9% de palma e 8,3% de feno de atriplex
estudos que avaliem a produção de biomassa e valor promoveu melhor retorno financeiro, com rentabilidade de
nutritivo, em particular sob condições de campo, em que 69%. Os resultados indicam que a utilização de palma
as características espaciais e morfológicas da planta forrageira (Opuntia fícus-indica Mill) em dietas
diferem das observadas em sistemas controlados completas à base de feno de erva-sal (Atriplex
(Norman et al., 2008). nummularia L.) apresenta-se como alternativa viável
Norman et al. (2008), comparando a performance de para a produção de cordeiros em confinamento.
ovelhas alimentadas com Atriplex nummularia e Observou-se, ainda, que tais dietas possibilitam uma
Atriplex amnicola atribuem a preferência pela primeira produção de carne que não compromete os aspectos de
às seguintes características: as plantas de Atriplex qualidade relacionados à composição centesimal, fração
nummularia são eretas, de forma cônica e podem lipídica e características sensoriais.
alcançar dois metros de altura, com folhas largas de 2- A substituição total da palma forrageira por farelo de
5 cm de diâmetro com formato oblongo. Muitas das milho e feno de atriplex (48% de feno de atriplex)
folhas são encontradas próximas aos galhos mais tenros. possibilitou um ganho de peso médio diário de 233 g dia-1
Já as plantas de Atriplex amnicola são prostradas, (Araújo, 2009). A associação do feno de atriplex com o
chegando a diâmetros que variam de 1 a 4 m com média farelo de milho e farelo de soja promoveu ganho de peso
de altura menor que 1 m. As folhas são menores (0,5 de acima dos relatados por Souto et al. (2005), que
diâmetro e 1-2 cm de altura) e estão em galhos mais encontraram ganhos de 190 g dia -1 em ovinos
lenhosos. Embora não testado, especula-se que a consumindo dieta com 38% de feno de Atriplex, 7% de
arquitetura da planta promova a facilidade da mordida ao melancia forrageira e 55% de raspa de mandioca.
animal alimentando-se da Atriplex nummularia. Os Souto et al. (2004) avaliaram o consumo e a
autores observaram maior ganho de peso e crescimento digestibilidade aparente de nutrientes em cinco dietas
de lã para alimentação a base de Atriplex nummularia. para carneiros contendo diferentes níveis de feno de
A complementação entre atriplex e a utilização de erva-sal (Atriplex nummularia L.): 38,30; 52,55; 64,57;
outro volumoso com baixa qualidade tem sido 74,85 e 83,72%, associadas à melancia forrageira
demonstrada em vários experimentos de nutrição animal. (Citrulus lanatus cv. citroides) e à raspa de mandioca
Warren et al. (1990) observaram que o ganho de peso de (Manihot esculenta Crantz) enriquecida com 5% de
468 Maria B.G. dos S. Freire et al.
ureia, em formulação. Os resultados obtidos para algumas espécies como Distichlis spicata e Sporobolus
consumo e digestibilidade aparente, da maioria dos virginicus irrigadas com água subterrânea de 30 dS m-
1
nutrientes, revelaram um bom potencial para combinação produziram acima de 45 t ha-1 ano-1 de massa seca de
entre o feno da erva-sal com a melancia forrageira e a feno. Estes resultados demonstram o potencial de
raspa de mandioca, em dietas para ovinos no semi-árido fornecimento de forragem de plantas utilizadas na
nordestino. fitorremediação de solos afetados por sais, material esse
Souto et al. (2005), nas mesmas condições passível de ser utilizado no incremento de produção de
experimentais, observaram que as médias diárias de animais em condições de estresse hídrico e salino.
ganho de peso vivo obtido pelos carneiros, ao longo do Araújo et al. (2002) estimaram a relação benefício/
período de engorda, revelaram um bom potencial custo de dietas para engorda de ovinos em confinamento
forrageiro do feno de erva-sal combinado em quaisquer contendo diferentes percentuais de feno de erva sal,
das proporções estudadas com melancia forrageira e com encontrando que a dieta contendo 64,57% de feno
raspa de mandioca. permitiu ganho de peso intermediário, mas foi a que
A utilização do feno de erva-sal, como fonte volumosa apresentou melhor relação benefício/custo, evidenciando
em dietas para ovinos, garantiu um aporte de nutrientes a viabilidade econômica e ambiental de uso da atriplex na
e ganhos de peso vivo de até 145 g dia-1 (Souto et al., alimentação de ovinos em confinamento.
2005). A elevação dos níveis de feno de erva sal nas
MECANISMOS E PROCESSOS ENVOLVIDOS
dietas, não alterou o consumo da massa seca e proteína
NA FITORREMEDIAÇÃO
bruta, demonstrando que os ovinos podem apresentar boa
tolerância à participação de plantas halófitas em suas
O processo da fitorremediação envolve não apenas a
dietas (Souto et al., 2004). O nível médio de consumo de extração de sais pela cultura utilizada, mas é a junção dos
massa seca das dietas com o feno de erva sal foi de efeitos de alguns mecanismos que atuam em conjunto
1.033 g dia-1. para a melhoria do solo inicialmente degradado (Figura
Santos et al. (2009) avaliaram a composição de macro 5). Qadir et al. (2007) citam como mecanismos:
e microminerais de silagens e os teores de ácidos a) O incremento na pressão parcial de CO2 na zona
orgânicos (lático, acético e butírico) em dietas compostas radicular pela respiração das raízes e aumento da
de erva sal (Atriplex nummularia Lindl.) e capim elefante atividade biológica com o cultivo das plantas elevaria a
(Pennisetum purpureum Schum.) nas proporções de dissolução de calcita em solos calcáreos, promovendo a
100:0, 80:20, 60:40, 40:60, 20:80 e 0:100 e concluíram que
em todas as proporções os teores de macrominerais e
microminerais foram considerados adequados, além da
melhoria no perfil de ácidos orgânicos.
As informações obtidas permitem sugerir o uso
combinado da erva sal, da melancia forrageira e da
raspa de mandioca, como fontes de nutrientes em dietas
para acabamento de ovinos no semiárido. Resultados
promissores misturando a Atriplex com concentrados
também foram encontrados por Abu-Zanat &Tabbaa
(2006).
Quanto à oferta de forragem, a Atriplex spp irrigada
com água salina de drenagem apresentou rendimentos de
2,2-5,3 t ha-1 ano-1 de massa seca (Watson & O’Leary,
1993). Gêneros como Atriplex, Salicornia, Distichlis,
Cressa e Batis apresentaram bons rendimentos com
água de condutividade elétrica de até 70 dS m-1 (Masters
et al., 2007). Embora algumas dessas plantas necessitem
Adaptada: Qadir et al. (2007)
de cuidados especiais quanto à propagação, Atriplex
Figura 5. Ilustração dos processos atuantes na
lentiformis, Batis maritima, Atriplex canescens, fitorremediação de solos afetados por sais: aumento na
Salicornia bigelovii e Distichlis Palmeri produziram pressão parcial de CO2 na zona radicular, liberação de
mais de 10 t ha-1 ano-1 (Glenn & O’Leary, 1985). De prótons (H+), efeitos físicos das raízes, aumento no teor
acordo com o Centro Internacional de Agricultura Salina de matéria orgânica e remoção de sais pela colheita da
(Internacional Center for Biosaline Agriculture, 2004), parte aérea das plantas
Fitorremediação de solos afetados por sais 469
liberação de Ca2+, HCO3- e CO32- na solução do solo; em permenaneçam na área afetada e que se procure
solos não calcáreos, o aumento na pressão parcial de conciliar um manejo das mesmas com culturas agrícolas,
CO2 resultaria na liberação de H+ e redução do pH do preferencialmente em forma de consórcio. Trabalhos
solo; em que o Ca 2+ na primeira situação e o H + na nesse sentido vêm sendo desenvolvidos em sistemas
segunda, atuariam na substituição do Na+ do complexo de agrosilvipastoris, que associam a planta fitorremediadora
troca do solo, minimizando seus efeitos sobre as com culturas agrícolas e animais.
propriedades físicas do solo e sobre as plantas; Quando a salinidade e, ou, sodicidade é oriunda de
b) A liberação de prótons pelas raízes no processo de causas antrópicas, se o processo de acúmulo for contido,
absorção de elementos do solo contribui para a redução após a fitorremediação, a medida que o solo possibilitar
do pH nas proximidades das raízes. É reconhecido o o crescimento de outras plantas podem ser adotadas
processo de extrusão de H+, associada à atividade de uma culturas agrícolas inicialmente tolerantes aos sais, sendo
H+-ATPase da membrana plasmática das células, e esse substituídas gradativamente por outros cultivos, desde
atuaria no pH e substituiria o Na + liberando-o para a que o manejo adotado após a recuperação não implique
solução do solo, facilitando sua absorção pela planta; em nova exposição do problema.
c) O efeito físico das raízes está relacionado a sua Outro ponto que deve ser observado quanto ao tempo
importância na formação de macroporos e manutenção de recuperação são as propriedades do solo, ou seja, se
da estrutura do solo, facilitando a infiltração de água no o problema predominante for a sodicidade, com elevados
perfil juntamente com o Na+ liberado do complexo de teores de sódio trocável comparado a um solo salino-
troca, bem como as trocas gasosas, principalmente em sódico, com acúmulo de sais solúveis além do sódio
camadas mais profundas, difíceis de serem atingidas por trocável, provavelmente esse último será recuperado em
menor tempo. Mas tudo depende dos níveis destes sais
outras técnicas de recuperação de solos salinos e
solúveis e trocáveis. Nesse sentido, o tipo de salinização
sódicos;
é um fator que fornecerá subsídios para indicar o tempo
d) O aumento nos teores de matéria orgânica com o
do processo de recuperação e o manejo das possíveis
cultivo de plantas atuaria na agregação das partículas do
práticas agropecuárias que poderão ser implementadas.
solo, possibilitando maior estabilidade de agregados;
e) Extração de sais pela parte aérea das plantas, na
CONSIDERAÇÕES FINAIS
dependência da produção de biomassa aérea e da
concentração de sais no tecido vegetal retirado do
A necessidade de recuperação dos solos afetados por
sistema (folhas, ramos, galhos, caules). Todos os
sais, assim como aqueles que apresentam problemas de
mecanismos associados à fitorremediação dependem da
acidez e contaminação por metais pesados é
espécie de planta envolvida e das condições ambientais
fundamental, já que o recurso solo tem se tornado cada
reinantes no meio. Assim, plantas que tenham a
vez mais importante quando se pretende manejar
capacidade de aumentar a pressão parcial de CO 2 no adequadamente os diversos sistemas produtivos
solo, de liberar mais prótons para o meio externo, de mantendo a sustentabilidade do ambiente.
adicionar mais matéria orgânica ao sistema e, finalmente, O uso de plantas para fitorremediar o solo está se
de extrair maiores quantidades de sais, seriam as mais tornando cada vez mais presente devido aos benefícios
indicadas para uso na fitorremediação de solos afetados que propiciam às propriedades químicas e físicas do solo,
por sais. Adicionalmente, é preciso que as mesmas além da possibilidade de um manejo sustentável e
tenham a capacidade de sobreviver e produzir aproveitamento dos produtos advindos dos vegetais, quer
satisfatoriamente em regiões de clima árido e semiárido, seja diretamente para o agricultor e, ou, para os animais
onde normalmente são mais frequentes os solos salinos explorados na pecuária regional.
e sódicos. Pesquisas na área de fitorremediação de solos
afetados por sais, embora escassas no Brasil, evidenciam
MANEJO DA FITORREMEDIAÇÃO a possibilidade de recuperação de solos degradados pela
salinidade e sodicidade por agricultores, especialmente
O conhecimento dos processos de acúmulo de sais aqueles com reduzidos recursos financeiros e técnicos,
nos solos é importante para que o manejo da haja vista o preço para implementação dessas
fitorremediação seja efetivo. Por exemplo, ao se “tecnologias verdes”. Nesse sentido, os resultados das
considerar um solo salino em que a fonte dessa pesquisas e os próprios ensaios experimentais devem ser
acumulação de sais é de origem primária, o processo da repassados e inseridos nessas comunidades rurais para
fitorremediação deverá ser contínuo, ou seja, é que as mesmas observem os benefícios através das
interessante que as espécies fitorremediadoras experiências in situ.
470 Maria B.G. dos S. Freire et al.
As espécies adotadas para fitorremediação são as Cabral, C. D. G. Dinâmica da salinidade no sistema solo-planta
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solo-animal-homem”, precisando acontecer uma Geissler, N.; Hussin, S.; Koyro, H. W. Interactive effects of
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agricultores também se conscientizem sobre a sua
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