de
Informação
Legislativa
Brasília • ano 45 • nº 180
Outubro/dezembro – 2008
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José Levi Mello do Amaral Júnior Análise do fundamento jurídico do emprego das Forças
Armadas na garantia da lei e da ordem 7
Vladimir da Rocha França Limites constitucionais do decreto regulamentar na
criação e extinção de órgãos e cargos públicos no
âmbito do Estado do Rio Grande do Norte 17
Túlio Lima Vianna Crítica da razão comunicativa. O direito entre o
consenso e o conflito 31
Eduardo Biacchi Gomes Direitos Fundamentais. A questão dos pneumáticos no
Mercosul 47
Cleber Francisco Alves A influência do pensamento liberal de Benjamin
Constant na formação do Estado Imperial Brasileiro 65
Aziz Tuffi Saliba Nacionalidade brasileira e Direito Internacional. Um
breve comentário sobre a Emenda Constitucional no
54/2007 77
Dilvanir José da Costa Filiação jurídica, biológica e socioafetiva 83
Mônica Sette Lopes Juristas e jornalistas. Impressões e julgamentos 101
Paulo José Leite Farias A dimensão econômica do meio ambiente. A riqueza
dos recursos naturais como direito do homem presente e
futuro 115
Weliton Carvalho Direito Comparado. Método ou ciência? 139
José Pedro Luchi Democracia, exigências normativas e possibilidades
empíricas 147
Cláudio Araújo Reis e Luiz Eduardo Administrando conflitos de interesses. Esforços recentes
Abreu no Brasil 161
Aroldo Plínio Gonçalves e Ricardo Cerceamento de defesa no indeferimento de prova
Adriano Massara Brasileiro pericial. Violação de direito fundamental da parte e
lesão da ordem jurídica constituída 175
Lilia Maia de Morais Sales e Tráfico de seres humanos. Algumas diferenciações 179
Emanuela Cardoso Onofre de Alencar
Jorge Barrientos-Parra e Elaine O direito à intimidade na sociedade técnica. Rumo a
Cristina Vilela Borges Melo uma política pública em matéria de tratamento de dados
pessoais 197
João Baptista Herkenhoff e Garantias processuais dos direitos humanos no sistema
Antonio Côrtes da Paixão jurídico brasileiro 215
Marco Aurélio Gumieri Valério Biodiesel. Combustível para o desenvolvimento social
243
Maria Inês Gandolfo Conceição e A relação adolescente–drogas e as perspectivas da nova
Maria Cláudia Santos de Oliveira legislação sobre drogas 253
Alexandre Marques da Silva Os valores em Miguel Reale 263
Martins
Ricarlos Almagro Vitoriano Cunha Hermenêutica jurídica em Kelsen. Apontamentos
críticos 279
Ana Carolina Brochado Teixeira e Autoridade parental, incapacidade e melhor interesse da
Luciana Dadalto Penalva criança. Uma reflexão sobre o caso Ashely 293
Fabrício Bertini Pasquot Polido O desenvolvimento do novo regionalismo asiático no
direito de integração. Notas sobre a ASEAN e APEC
305
Maria Cláudia Bucchianeri Liberdade religiosa, separação Estado–Igreja e o limite
Pinheiro da influência dos movimentos religiosos na adoção de
políticas públicas. Aborto, contraceptivos, células-tronco
e casamento homossexual 347
Paulo Sávio Peixoto Maia O Supremo Tribunal Federal como “tribunal político”.
Observações acerca de um lugar comum do direito
constitucional 375
Sumário
Explicação preliminar; 1. Destinação cons-
titucional das Forças Armadas; 2. Emprego das
Forças Armadas na garantia da lei e da ordem;
3. Papel subsidiário das Forças Armadas na
garantia da lei e da ordem; 4. Gradação do
princípio da subsidiariedade; 5. Procedimento
de emprego das Forças Armadas na garantia da
lei e da ordem; 6. Abate de aeronaves hostis; 7.
Conclusão: papel atual das Forças Armadas.
Explicação preliminar
O objetivo do presente estudo é analisar
o fundamento jurídico do emprego das For-
ças Armadas na garantia da lei e da ordem,
tal como previsto pela Constituição e res-
pectiva legislação regulamentar. Sintetiza
estudos que o autor levou a efeito para cola-
borar com a Assessoria Militar do Gabinete
de Segurança Institucional da Presidência
da República entre 2000 e 2003.
O trabalho busca demonstrar que o
emprego das Forças Armadas na garantia
da lei e da ordem não é extraordinário,
mas, sim, ordinário, conquanto orientado
pelo princípio da subsidiariedade. Disso
decorrem importantes conseqüências para
José Levi Mello do Amaral Júnior é professor a compreensão jurídica da matéria, o que
de Direito Constitucional na Faculdade de Direi-
será objeto desta exposição.
to do Largo de São Francisco, da Universidade
de São Paulo. Doutor em Direito do Estado pela Por outro lado, não se deseja, aqui, fazer
mesma Universidade. Procurador da Fazenda a apologia do emprego ou não das Forças
Nacional, cedido à Casa Civil do Governo do Armadas na garantia da lei e da ordem.
Estado de São Paulo. O que se pretende nesta sede é – insista-
Sumário
1. Introdução. 2. Previsão da competência
regulamentar na Constituição Federal de 1988
e na Constituição do Estado do Rio Grande do
Norte de 1989. 3. Criação e extinção de órgãos
públicos. 4. A criação e a extinção de cargo pú-
blico. 5. Conclusão.
1. Introdução
Na implantação ou mudança de modelos
para a gestão pública estadual, é freqüente
a demanda pela criação e extinção de ór-
gãos e cargos de provimento em comissão
no âmbito da Administração. Por diversas
razões, os compromissos partidários e as
reivindicações legítimas dos grupos que
partilham o poder político esbarram nos
limites jurídicos impostos pelo sistema do
direito positivo.
Como nem sempre o regime constitu-
cional do processo legislativo é compatível
com a celeridade que se deseja impor nesse
escopo organizacional, o Governador do
Estado pode-se sentir tentado a dispor
sobre a matéria mediante a expedição de
decretos. No caso do Estado do Rio Gran-
de do Norte, isso não encontraria maiores
Vladimir da Rocha França é mestre em
obstáculos em razão do disposto no art. 11
Direito Público pela Universidade Federal de
Pernambuco. Doutor em Direito Administrativo
da Lei Complementar Norte-rio-grandense
pela Pontifícia Universidade Católica de São no 163, de 5.2.1999.
Paulo. Professor Adjunto do Departamento de Nesse dispositivo, reconhece-se a com-
Direito Público pela Universidade Federal do petência do Governador do Estado para re-
Rio Grande do Norte. gulamentar a estrutura e o funcionamento
Sumário
1. Razão. 2. Crise da razão. 3. Giro lingüísti-
co. 4. Ação comunicativa. 5. Dominação comu-
nicativa. 6. Direito. 7. À guisa de conclusão.
1. Razão
A razão humana como elemento dis-
tintivo entre o ser humano e os demais
animais é certamente um dos pressupostos
mais importantes da filosofia. É a razão que
orienta adequadamente as ações humanas
e possibilita ao ser humano a aquisição de
conhecimento.
Por vários séculos, a razão filosófica
foi concebida a partir de um paradigma
representacionalista, no qual um sujeito
do conhecimento criava representações
mentais de seu objeto de estudo.
A filosofia antiga e medieval tinha como
objetos primordiais a busca da essência das
coisas e a descrição de relações de causa
e efeito. A razão era um instrumento de
descrição da realidade.
Descartes (1996) foi o primeiro filósofo
moderno a questionar os limites da razão
humana.
“Assim, porque os nossos sentidos às
vezes nos enganam, quis supor que
Túlio Lima Vianna é Professor Adjunto da
PUC Minas. Doutor em Direito pela Universi- não havia coisa alguma que fosse tal
dade Federal do Paraná (UFPR) e Mestre em como eles nos levam a imaginar. E
Direito pela Universidade Federal de Minas porque há homens que se enganam
Gerais (UFMG). ao raciocinar, mesmo sobre os mais
Sumário
1. Introdução. 2. Proteção ao meio ambiente
enquanto direito fundamental nos Estados-par-
tes do Mercosul. 3. A questão dos pneumáticos
na OMC. 4. Considerações finais. Anexo.
1. Introdução
Na década de 90, principalmente com
a criação da Organização Mundial do
Comércio (OMC), em 1995, com o final da
Rodada Uruguai, o comércio internacional
se intensificou em grandes proporções,
notadamente em virtude da queda das
fronteiras e do avanço tecnológico.
O novo marco jurídico internacional,
criado por meio da OMC, tem por finali-
dade regulamentar as relações comerciais
no plano internacional (multilateralismo
econômico), no qual todos os países-mem-
bros negociam com todos em condições de
igualdade.
Trata-se do princípio basilar do comér-
cio internacional (a Cláusula da Nação
Mais Favorecida)1, no qual toda e qualquer
1
ARTIGO I GATT/94: Trato general de la nación
Eduardo Biacchi Gomes é Pós-Doutorado más favorecida
em Cultura Contemporânea pela Universi- 1. Con respecto a los derechos de aduana y cargas
dade Federal do Rio de Janeiro. Doutor em de cualquier clase impuestos a las importaciones o a las
exportaciones, o en relación con ellas, o que graven las
Direito pela Universidade Federal do Paraná.
transferencias internacionales de fondos efectuadas en
Professor de Direito Internacional e Direito concepto de pago de importaciones o exportaciones, con
de Integração da UniBrasil (Graduação e Pós- respecto a los métodos de exacción de tales derechos y
Graduação, Especialização e Mestrado), PUC/ cargas, con respecto a todos los reglamentos y formali-
PR e FACINTER. dades relativos a las importaciones y exportaciones, y
Sumário
1. Introdução. 2. As conquistas do pensa-
mento político liberal. 3. Retrospectiva histórica
da formação do Estado Imperial Brasileiro. 4.
Influência do pensamento de Benjamin Constant
no constitucionalismo do Brasil Império. 4.1. A
criação do poder moderador. 4.2. Outras ques-
tões constitucionais que revelam influência das
idéias de Benjamin Constant. 5. Conclusão.
1. Introdução
Os acontecimentos que marcaram a his-
tória da França, e de toda a humanidade, no
final do século XVIII suscitaram inúmeras
reflexões e debates acerca dos caminhos
concretos em que se deveriam lançar as
políticas para contornar os antagonismos e
mazelas que atemorizavam a sociedade da
época. As vicissitudes do Antigo Regime,
ainda não completamente exorcizadas, e o
ímpeto dos revolucionários, que, invocan-
do uma investidura e representatividade de
soberania popular ilimitada, cometeram as
mais abomináveis atrocidades e violências,
assustavam os espíritos mais equilibra-
Cleber Francisco Alves é Doutor em Direito dos que aspiravam a construção de uma
Constitucional pela Pontifícia Universidade sociedade política harmônica e pacífica,
Católica – RJ. Graduado em Direito pela Univer-
em que se pudesse realmente alcançar o
sidade Católica de Petrópolis. Professor do Pro-
grama de Pós-Graduação em Direito (Mestrado
bem-comum.
e Doutorado) da Universidade Gama Filho e da Nesse contexto, destaca-se o pensamento
graduação em Direito na Universidade Católica de Benjamin Constant, célebre autor liberal
de Petrópolis. Defensor Público do Estado do suíço-francês que pretendeu conciliar o an-
Rio de Janeiro. seio de expansão das esferas de liberdades
Brasília a. 45 n. 180 out./dez. 2008 65
individuais sem perder de vista os valores ção jurídica da organização estatal do Brasil
provenientes da tradição cultural e política recém-emancipado de Portugal.
que assegurariam a necessária estabilidade
do Estado e do Poder Político. Exatamente
2. As conquistas do pensamento
por isso, foi muito incompreendido pelos
que estudaram sua obra1. político liberal
Neste trabalho, pretendemos desen- As idéias liberais modernas têm suas
volver algumas reflexões, sem pretensão raízes nas guerras religiosas ocorridas na
de ineditismo, com o objetivo de resgatar Europa do século XVII, em que se procla-
a influência exercida pelo pensamento de mava o direito de liberdade religiosa, tendo
Benjamin Constant na formação do Estado sido acolhidas especialmente na Inglaterra,
Imperial Brasileiro, no início do século XIX. para fundamentar as pretensões de maior
Após tecer considerações visando recordar liberdade econômica, e limitação do Poder
as conquistas do pensamento político libe- Real, sobretudo no que se refere aos direitos
ral, seguiremos contextualizando historica- de propriedade e à tributação, bandeiras es-
mente os acontecimentos desse período na sas empunhadas pela burguesia mercantil
realidade brasileira e, por fim, traçaremos e industrial ascendente.
um paralelo entre as instituições políticas A contribuição teórica do inglês John Lo-
implantadas pela Constituição do Império cke, em especial no seu “Segundo Tratado
do Brasil e sua correlação com as propostas sobre o Governo” (1690), e, posteriormente,
teorizadas por Benjamin Constant. do Barão de Montesquieu, com seu célebre
Em suma, ainda que de forma perfunc- “Do Espírito das Leis”, fizeram solidificar
tória, poderemos perceber a significativa na Inglaterra essa ideologia política, com
contribuição haurida pelo Direito Consti- reflexos para toda a Europa, abalando os
tucional Brasileiro proveniente da obra de regimes monárquicos absolutistas que
Constant, que tornou o Estatuto Político do vigoravam na maioria dos países do Velho
Brasil Imperial como verdadeira referência Mundo. Locke inspirou-se no pensamento
no concerto geral das Constituições da pri- de Thomas Hobbes, ao fundamentar seu
meira metade do século XIX. A instituição pensamento político, partindo da distinção
do Poder Moderador, o caráter híbrido de do estágio primitivo de natureza, pré-
rigidez e flexibilidade, a questão da respon- estatal, quando os homens essencialmente
sabilidade dos ministros, entre outras, são iguais e livres resolvem firmar um pacto
características peculiares da Constituição social, constituindo o Estado, no intuito de
de 1824, que refletem toda essa contribuição melhor resguardarem seus interesses e sua
teórica de Benjamin Constant na positiva- segurança. Porém, entendia, diversamente
de Hobbes, que esse poder estatal soberano
1
A respeito dessa incompreensão do pensamento não era ilimitado, mas estava submetido
político benjaminiano, o Prof. José Ribas Vieira (1989,
p. 49) procura resgatar seu verdadeiro posicionamen- aos postulados do direito natural, que
to, quando ensina que: “ao contrário de imaginar um poderia ser racionalmente conhecido pelo
autor muito vinculado aos interesses políticos do homem.
momento, há um outro quadro mais nítido de pen- O liberalismo lockeano tem um cunho
samento de Constant. Apesar de suas insconstâncias
de posição política, esse estudioso francês esteve eminentemente individualista, sendo que a
intimamente ligado à crítica a todas as formas de ma- propriedade é o instrumento fundamental
tizes de despotismo, desde o denominado período do de defesa das liberdades individuais. O
terror revolucionário francês (1793/94), passando pelo Poder Político, assim, ficava concentrado
militarismo napoleônico e ao retrocesso conservador
da Restauração. Para ele, era fundamental diante dos nas mãos dos proprietários, mantendo-se,
governos despóticos preservar o que era mais caro ao destarte, uma dimensão aristocrática na
indivíduo: a liberdade.” estrutura orgânico-política da sociedade.
Sumário
1. A Nacionalidade em Direito Internacional.
2. Nacionalidade no Brasil. 3. Considerações
finais.
1. A nacionalidade em
Direito Internacional
Em célebre voto na Suprema Corte
Americana, o ministro Earl Warren afirmou
1
A Emenda Constitucional no 54, de 20 de setembro
de 2007, promoveu a alteração da alínea “c” do inciso
I do art. 12 da Constituição Federal e acrescentou o art.
95 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT). A nova redação do art. 12, I, “c”, assevera
serem brasileiros natos: “os nascidos no estrangeiro
de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham
a residir na República Federativa do Brasil e optem,
em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira;” (grifo nosso). Já o artigo 95 do
ADCT estabelece: “Os nascidos no estrangeiro entre 7 de
junho de 1994 e a data da promulgação desta Emenda
Aziz Tuffi Saliba é Doutor em Direito pela
Constitucional, filhos de pai brasileiro ou mãe brasileira,
UFMG. Mestre em Direito pela University of poderão ser registrados em repartição diplomática ou
Arizona, Estados Unidos. Professor da Univer- consular brasileira competente ou em ofício de registro,
sidade de Itaúna, MG. se vierem a residir na República Federativa do Brasil”.
Sumário
1. O Supremo Tribunal Federal. 2. Os tri-
bunais estaduais. 3. O Superior Tribunal de
Justiça na primeira década de sua existência.
4. Evolução do STJ e suas influências. 5. O
respeito ao direito adquirido e ao ato jurídico
perfeito. 6. A nova era da socioafetividade: A)
Introdução; B) Doutrina; C) Jurisprudência:
I – Tribunais estaduais; II – Consagração pelo
STJ. 7. Conclusões: A) Filiação jurídica e filiação
biológica; B) Filiação socioafetiva.
Sumário
1. As dimensões (gerações) dos direitos
fundamentais e o fenômeno econômico. 1.1.
Dimensões dos direitos fundamentais. 1.2.
Direitos fundamentais de terceira dimensão.
2. Correlação entre os sistemas econômicos
e as dimensões de direitos fundamentais.
2.1. O liberalismo e os direitos de primeira
geração. 2.2. O intervencionismo e os direitos
de segunda geração. 2.3. O neoliberalismo, a
globalização e os direitos de terceira geração.
3. O meio ambiente e sua vinculação jurídica
aos sistemas econômicos. 3.1. O princípio da
defesa do meio ambiente como mecanismo
conformador da ordem econômica. 3.2. O
desenvolvimen to sustentável como ética de
desenvolvimento com a harmonização do
econômico e do ecológico. 4. Economia do
meio ambiente: busca da incorporação das
externalidades ambientais. 4.1. Crescimento
econômico e degradação ambiental: propostas
de conciliação. 4.2. Economia ambiental. 5. Uso
de instrumentos econômicos nas políticas am-
bientais: integração do jurídico e do econômico.
5.1. Instrumentos econômicos: introdução. 5.2.
Instrumentos econômicos na forma de incenti-
vos estatais. 5.3. Instrumentos econômicos na
forma de onerações estatais.
Weliton Carvalho
Sumário.
1. Caráter científico do Direito. 2. Caracteri-
zação científica do Direito Comparado. 3. Meto-
dologia em Direito Comparado. 4. Conclusões.
Sumário
1. Introdução. 2. O desenvolvimento das
teorias da democracia e seu contexto. 3. A dupla
revisão da teoria política da escolha racional. 4.
Uma revisão da teoria sistêmica. 4.1. O Estado
Supervisor e sua crítica. 4.1.1. O controverso
ultrapassamento da auto-referência. 4.1.2. Ame-
aça neocorporativista ao Estado Constitucional
de Direito. 4.1.3. Carência de representatividade
democrática. 5. A circulação do Poder no Estado
de Direito. 5.1. A distinção núcleo–periferia. 5.2.
O sistema de Comportas. 5.3. Dois modos de
elaboração de problemas: normal e conflitual. 6.
Confronto conclusivo: Peters e a mitigação das
exigências normativas da deliberação. 6.1. O con-
ceito de legitimidade e seus desdobramentos. 6.2.
A efetiva função de discursos públicos. 6.3. Igual-
dade versus estratificação do espaço público.
1. Introdução
Este artigo reconstrói, num primeiro
momento, na esteira de J. Habermas1, a se-
quência de teorias da democracia surgidas
após a Segunda Guerra Mundial, buscando
a lógica do desenvolvimento das novas
teorias. Da teoria do pluralismo passa-se
àquela das elites e, diante da falsificação
de suas premissas, ocorre a bifurcação em
Teoria Econômica da Democracia e Teoria
dos Sistemas. São analisadas revisões de
José Pedro Luchi é Professor do Mestrado cada uma dessas bifurcações feitas, res-
em Direito da Unversidade Federal do Espírito
Santo (UFES), Doutor em Filosofia pela Pontifi- 1
(HABERMAS, 1994, 1997). Sobretudo o Cap.
cia Università Gregoriana – Vaticano. VIII.
Sumário
Introdução; 1. Que tráfico é esse? 2. O con-
ceito de tráfico de seres humanos. Exploração
da prostituição de outrem ou outras formas
de exploração sexual. Trabalhos ou serviços
forçados. Escravatura ou práticas similares à
escravatura e servidão. Remoção de órgãos. 3.
Diferenciações entre tráfico de seres humanos e
outros fenômenos. Migração e tráfico de seres
humanos. Contrabando de migrantes e tráfico
de seres humanos. Prostituição e tráfico de se-
res humanos. Turismo sexual e tráfico de seres
humanos. Considerações finais.
Introdução
O tráfico de seres humanos está na
agenda de discussões internacionais con-
temporânea de governos, ONGs e pes-
Lilia Maia de Morais Sales é Doutora em
quisadores. Nesse debate, o problema do
Direito/UFPE; Coordenadora do Programa de
Pós-graduação em Direito/Mestrado e Douto- tráfico perpassa temas que a ele se ligam,
rado da Universidade de Fortaleza – UNIFOR; como, por exemplo, os fluxos migratórios
Professora Adjunta da Faculdade de Direito da atuais, que são abordados sob diferentes
Universidade Federal do Ceará – UFC; Con- perspectivas, como a necessidade de pro-
sultora do Escritório das Nações Unidas contra teção das fronteiras, o enrijecimento da le-
Drogas e Crimes – UNODC para o Programa gislação migratória e o combate à imigração
Nacional de Prevenção e Combate ao Tráfico ilegal, a proteção das pessoas traficadas e a
de Seres Humanos da Secretaria Nacional de efetivação dos direitos humanos.
Justiça – MJ, em 2005.
Nesse embate de idéias e interesses polí-
Emanuela Cardoso Onofre de Alencar é
Mestre em Direito Constitucional/UNIFOR, ticos, percebe-se que muitas vezes ocorrem
Professora do Curso de Direito da Faculdade confusões, propositadas ou não, no enten-
Católica Rainha do Sertão, Pesquisadora do dimento do tráfico com vários fenômenos
Escritório de Prevenção ao Tráfico de Seres que a ele se ligam, mas são diversos. Desta
Humanos e Assistência à Vítima no Ceará. feita, são recorrentes, por exemplo, relatos
KAPUR, Ratna. Travel plans: border crossings e the ______ . Périplos tropicais: a inserção de Fortaleza nas
rights of transnational migrants. Harvard Human Rights rotas mundiais de turismo sexual. In: COSTA, Alberti-
Journal, Cambridge, v. 8, 2005. na. Homem, homens. São Paulo: 34, [200-a]. No prelo.
Jorge Barrientos-Parra
Elaine Cristina Vilela Borges Melo
Sumário
1. Introdução. 2. A técnica como fator de-
terminante da nossa sociedade. 3. O direito à
intimidade e seus riscos na sociedade técnica.
3.1. Definição. 3.2. O devassamento do direito à
intimidade na sociedade técnica. 4. O prontuário
médico eletrônico. 4.1. O prontuário médico:
conceito. 4.2 O prontuário médico eletrônico:
um produto da telemedicina. 4.3. O prontuá-
rio médico eletrônico e a violação do direito à
intimidade. 4.3.1. Os bancos de dados e a sua
vulnerabilidade. 4.3.2 De lege ferenda: questões
de política pública e princípios aplicáveis ao
tratamento de dados pessoais. 5. Conclusões.
Sumário
1. Introdução. 2. Conceito de direitos huma-
nos. 3. Breve história dos direitos humanos. 4. Os
direitos humanos no pensamento jurídico con-
temporâneo. 5. Os direitos humanos e a tradição
constitucional brasileira. 5.1. Direitos humanos e
preceitos constitucionais historicamente solidifi-
cados. 5.2. Os direitos humanos e a Constituição
Imperial. 5.3. A primeira Constituição Repu-
blicana e os direitos humanos. 5.4. Os direitos
humanos e a primeira fase da Revolução de 30.
5.5. A Constituição de 34 e os direitos humanos.
5.6. Os direitos humanos no Estado Novo. 5.7.
1946 e a volta do estado de direito. 5.8. Os direitos
humanos na primeira fase da ditadura. 5.9. Os di-
reitos humanos e a Constituição de 1967. 5.10. Os
direitos humanos sob o Ato Institucional no 5. 6.
A vinculação histórica dos direitos humanos com
o Poder Judiciário. 7. Dos meios de proteção aos
direitos. 7.1. Garantias de regulação. 7.2. Garan-
tias de controle e fiscalização. 7.3. Garantias de
interpretação. 7.4. Garantias internas ao direito.
7.5. Garantias judiciais. 8. Conclusão.
1. Introdução
Este artigo é um trabalho produzido em
conjunto, tendo como autor um professor
do Mestrado em Direito da Universidade
Federal do Espírito Santo e como co-autor
um mestrando, orientando do professor.
João Baptista Herkenhoff é Juiz de Direito
Co-autor, como ensina o dicionarista
aposentado, Professor do mestrado da UFES, Antônio Houaiss, é “o que faz ou produz,
mestre pela PUC/RJ, Livre Docente da UFES, pós- com outro, determinado trabalho ou obra”.
doutor em Havard (EUA) e Rauen (França). Não há assim uma gradação de valor entre
Antonio Côrtes da Paixão é Juiz de Direito no autor e co-autor, ressalva que o autor faz
Estado do Espírito Santo, mestrando pela UFES. questão de inserir nesta introdução.
Brasília a. 45 n. 180 out./dez. 2008 215
A produção de trabalhos, em parceria, fundamentais”, são aqueles direitos que o
por professores e mestrandos está dentro homem possui pelo fato de ser homem, por
do espírito com o qual foi concebido o sua própria natureza humana e pela digni-
Mestrado em Direito da UFES. dade que a ela é inerente (HERKENHOFF,
Com este texto, pretende o autor, com a 2002, p. 19). Tais direitos não resultam de
colaboração do co-autor, resgatar, atualizar concessão da sociedade política, mas esta
e ampliar um ensaio publicado no número tem o dever de reconhecê-los, consagrá-los
7 da revista “Encontros com a Civilização e garanti-los porquanto nenhuma socieda-
Brasileira”, que veio à luz em janeiro de de se justifica se não zela pelo bem-estar
1979, com o título “Os Direitos Humanos dos indivíduos.
e sua Proteção Jurisdicional”.
Nesse ensaio defendeu o autor a tese da 3. Breve história dos direitos humanos
diferença entre “preceitos constitucionais
meramente formais” e “preceitos constitu- A evolução do pensamento filosófico,
cionais históricos ou solidificados”. jurídico e político da humanidade, por-
No momento da vida brasileira em que tanto, da própria humanidade, resultou
o ensaio apareceu, a defesa dessas idéias não só no reconhecimento e consolidação
era particularmente importante porque de diversos direitos humanos, como no
“preceitos constitucionais históricos ou so- próprio conceito deste.
lidificados”, como o ensaio defendeu, eram Um “sobrevôo” pela história permi-
as garantias constitucionais conquistadas te visualizar direitos atribuídos a seres
ao longo da vida política do país, pela luta, humanos – direitos humanos em sentido
pela resistência, pelo martírio. Por sua vez, amplo – desde a Antigüidade, no Código
os “preceitos constitucionais meramente de Hamurabi (Babilônia), na filosofia de
formais” (gerados pelos atos institucionais) Mêncio (China), na República de Platão e
eram aqueles que, sem radicação na história no direito Romano, embora precários, haja
brasileira, eram simplesmente determina- vista a ausência de limitação de poder do
dos pelos que detinham o poder. Estado em relação ao indivíduo.
Os “preceitos constitucionais históricos Embora Aristóteles haja definido “cons-
ou solidificados”, segundo a tese que o tituição”, o constitucionalismo, em razão
texto original defendeu, apontavam para da mencionada limitação, só teve início
o Brasil o caminho da Democracia. na Inglaterra, tendo como marco a Carta
A revista Encontros com a Civilização Magna de 1215, imposta ao rei João Sem
Brasileira, fundada e dirigida pelo saudoso Terra pelos bispos e barões. Nela foram
Ênio Silveira, foi um símbolo da resistência consignados limites ao poder do Rei, entre
democrática num período em que nosso eles, o “habeas corpus”.
país estava submetido à ditadura. Publi- Eventuais direitos antes reconhecidos
cando este ensaio naquela revista, o autor, em documentos ingleses a homens comuns
que era na oportunidade magistrado da – vassalos – não passavam de direitos de
ativa, no Espírito Santo, juntava sua voz estamentos reconhecidos pelo rei – suse-
à voz de todos aqueles que lutavam pela rano – que se comprometia a respeitá-los
supressão do arbítrio, pela anistia e pela em contratos feudais. Porém, deve ser re-
constitucionalização do país. conhecida a importância de tais contratos
pela influência que irradiou para outros
grupos dominantes e outras categorias de
2. Conceito de direitos humanos súditos1. Os direitos assim reconhecidos
“Direitos humanos” ou “direitos do 1
Cf. Magna Carta, art. 20 e 39 in O direito de ser ho-
homem”, também denominados “direitos mem, Seleção de textos organizada por Jeanne Hersch,
Sumário
1. Introdução. 2. Programa Nacional de For-
talecimento da Agricultura Familiar – Pronaf.
3. Programa Nacional do Biodiesel – PNB. 4.
Conclusão.
1. Introdução
No dia 1 de janeiro de 2008, entrou em vi-
o
1
BRASIL. Lei no 11.097, de 13 de janeiro de 2005.
Dispõe sobre a introdução do biodiesel na matriz energética
brasileira; altera as Leis nos 9.478, de 6 de agosto de 1997,
9.847, de 26 de outubro de 1999, e 10.636, de 30 de dezembro
de 2002; e dá outras providências. Disponível em: <http://
Marco Aurélio Gumieri Valério é advogado; www.planalto.gov.br>. Acesso em: 20 mar. 2008.
Bacharel e Mestre em Direito pela Universi- 2
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei
dade Estadual Paulista, campus de Franca/ do Deputado Leonardo Vilela. Dá nova redação ao art.
SP (FHDSS/Unesp); Doutorando em Ciências 2o da Lei no 11.097, de 13 de janeiro de 2005 e dá outras pro-
Sociais e Políticas pela Universidade Estadual vidências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
Paulista, campus de Araraquara/SP(FCL/ br>. Acesso em: 20 mar. 2008. Art. 2o: Fica introduzido
o biodiesel na matriz energética brasileira, sendo que o
Unesp); Professor da Faculdade de Economia, percentual mínimo obrigatório de adição de biodiesel
Administração e Contabilidade da Universida- ao óleo diesel comercializado ao consumidor final, a
de de São Paulo, campus de Ribeirão Preto/SP partir de 2008, obedecerá a seguinte tabela progressi-
(FEA/USP). va: [...] III – 2010, fixado em 5% [...].
Sumário
1. Compreendendo as drogas e o adolescente
em uma perspectiva sistêmica e relacional. 2.
Drogas, adolescentes e violência. 3. Onda jovem
no Brasil. 4. O papel das redes sociais na prote-
ção. 5. Políticas e legislação atual sobre drogas.
Sumário
1. Introdução. 2. O valor na teoria dos ob-
jetos. 3. Características do valor. 4. Historicis-
mo axiológico. 5. Personalismo axiológico. 6.
Tridimensionalismo jurídico. 7. Nomogênese
jurídica. 8. Conclusões.
1. Introdução
O escopo do presente trabalho é o de
perscrutar os valores em Miguel Reale. O
falecido mestre desenvolveu a sua própria
teoria dos valores, que culminou por ser a
base de seu entendimento do direito, bem
como – de certa maneira – de sua visão de
mundo. Inicialmente, pretende-se situar os
valores na teoria dos objetos e apresentar as
suas principais características. Em seguida,
investigar-se-á o denominado historicismo
axiológico de Reale, que expõe o modo
como esse jusfilósofo entendia as relações
entre valores, história e cultura. Após, será
analisado o personalismo axiológico, que
legitima, em último plano, a teoria dos va-
lores realeana, que considera a pessoa como
valor fonte de todos os demais valores.
Compreendido como o valor se expressava
em Reale, será abordado o seu tridimen-
Alexandre Marques da Silva Martins é Pro-
sionalismo jurídico, que expõe como fato,
curador da Fazenda Nacional lotado em Bauru/ valor e norma se correlacionam. Ato con-
SP. Especialista em Direito Empresarial pela tínuo, discorrer-se-á sobre a nomogênese
PUC/SP e em Integração Econômica e Direito jurídica, que é o instituto que demonstra o
Internacional, Fiscal pela FGV/RJ. nascedouro de uma norma. Por fim, serão
Referências
GARCÍA, Angeles Mateos. A teoria dos valores de Miguel
Reale: fundamento de seu tridimensionalismo jurídico.
São Paulo: Saraiva, 1999.
Sumário
1. Introdução. 2. Direito e Ciência do Direito.
3. Norma e proposição normativa. 4. Causali-
dade e imputação. 5. A norma fundamental e o
Direito como um sistema dinâmico de normas.
6. Do processo de determinação do Direito. 7.
A interpretação jurídica em Kelsen. 8. Alguns
pontos críticos no modelo interpretativo da Te-
oria Pura. 8.1. A interpretação como mecanismo
subsidiário da aplicação. 9. Conclusão.
1. Introdução
José Florentino Duarte, em sua tra-
dução à “Teoria Geral das Normas”, de
Kelsen (1986), alertava o leitor desejoso de
aprofundar-se na obra do mestre de Viena
que se portasse como um verdadeiro dis-
cípulo, desarmado, por mais ilustrado que
fosse, pois somente assim, inspirado pela
modéstia, poderia captar o pensamento
do mestre. Entretanto, a advertência soa
mais grave quando o propósito é a crítica.
Confira (KELSEN, 1986, p. V):
“Se, porém, o leitor pretende criticar
a Kelsen, então o problema assume
outra projeção: arme-se, primeiro, de
amplíssimos conhecimentos jusfilo-
sóficos e, mesmo com uma bagagem
científica imensa, o árduo labor será
Ricarlos Almagro Vitoriano Cunha é Juiz difícil, quiçá improfícuo, como acon-
Federal, Doutorando em Direito Público (PUC- teceu com aqueles que se arrojaram,
MG), Mestre em Direito (UGF-RJ) e especialista se aventuraram, se arriscaram a tal
em Direito Processual Público (UFF-RJ). cometimento”.
Sumário
1. O caso. 1.1. Encefalopatia estática: sin-
tomas e prognósticos. 1.2. O que foi feito com
Ashley? 1.3. Os pais de Ashley e suas razões. 2.
Abrangência da autoridade parental. 3. Direitos
de personalidade: seriam eles renunciáveis? 3.1.
O direito à procriação. 3.2. O direito ao desen-
volvimento físico. 4. Conclusão.
1. O caso
Ashley é uma garota americana de
nove anos portadora de uma doença rara
chamada “encefalopatia estática”. Em 2004,
foi submetida a um procedimento cirúrgico
para retirar seu útero e suas glândulas ma-
márias e, desde então, está tomando altas
doses de hormônio para interromper seu
crescimento, tudo com o consentimento
de seus pais.
Tal fato só foi divulgado pela mídia no
início do ano de 2007, pois o médico que
realizou as cirurgias apresentou o caso à
comunidade científica norte-americana,
narrando a situação. A repercussão dessas
interferências médicas tomou uma propor-
ção mundial, gerando debates acalorados
sobre a eticidade dessas medidas, que só
Ana Carolina Brochado Teixeira é Douto-
foram feitas porque os pais da criança
randa em Direito Civil pela UERJ. Mestre em
Direito Privado pela PUC/MG. Professora de
entenderam serem esses os meios mais
Direito Civil. Advogada. Diretora do Instituto adequados de garantir a qualidade de vida
Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM. de sua filha.
Luciana Dadalto Penalva é Mestranda em Diante disso, este artigo propõe al-
Direito Privado pela PUC/MG. gumas reflexões sobre o que seria, nesse
Brasília a. 45 n. 180 out./dez. 2008 293
caso, o melhor interesse dessa criança, que Sua sintomatologia é a mais variada
está totalmente entregue aos cuidados dos possível, embora seja comum em todos os
pais, por total impossibilidade de fazê-lo tipos de encefalopatias o desenvolvimento
sozinha. A discussão passa, inevitavel- motor retardado. Os portadores de paralisia
mente, pelo estudo sobre titularidade e cerebral leve têm alterações finais de movi-
exercício de direitos de personalidade, mento; os de paralisia cerebral moderada
bem como sobre cessão e renúncia dos sofrem dificuldades variáveis em relação
mesmos. Tais questionamentos teóricos à fala e movimentos e, por sua vez, os de
serão feitos à luz do caso concreto de Ash- paralisia cerebral grave têm incapacidade
ley, de modo a verificar-se se as “verdades para andar, usar as mãos e falar.2
dogmáticas” aplicam-se indistintamente A síndrome da qual Ashley é portado-
a todas as situações, ou se podem sofrer ra é um tipo grave de paralisia cerebral,
variações de acordo com as nuances do denominado encefalopatia estática pelo
caso concreto. seu caráter persistente, ou seja, por sua
irreversibilidade. Enfim, em que pese os
1.1. Encefalopatia estática: avanços da neuropediatria nas pesquisas
sintomas e prognósticos de encefalopatias, não há, no momento,
Primeiramente, é preciso ressaltar que tratamento capaz de reverter o quadro
o objetivo deste estudo não é aprofundar de Ashley, cujo desenvolvimento mental
na análise da síndrome da qual Ashley é cessou aos três meses de vida e, hoje, com
portadora, até pelo cunho jurídico deste. nove anos, não fala, não anda, não senta e
Contudo, para o melhor entendimento do se alimenta exclusivamente por sondas.
caso, é de suma importância uma compre-
1.2. O que foi feito com Ashley?
ensão, ainda que superficial, da doença
encefelopatia estática, que se constitui em Em 2004, Ashley foi submetida, no Hos-
uma síndrome neonatal. pital de Criança de Seattle, com o aval do
Na literatura médica, poucos são os diretor do Centro Treuman Kartz para Bio-
autores que tratam especificamente dessa ética Pediátrica, Dr. Douglas Diekema, e de
síndrome, por ser extremamente rara. A seus pais, a dois procedimentos cirúrgicos:
Encefalopatia, mais conhecida como para- retirada das glândulas mamárias e remoção
lisia cerebral, é gênero do qual fazem parte, do útero. Desde então, está tomando altas
segundo a classificação mais aceita pelos doses de estrogênio a fim de manter-se
neurologistas, 7 (sete) categorias maio- pequena e retardar seu desenvolvimento
res, 34 (trinta e quatro) menores e várias sexual. Tal medida foi tomada porque a
subcategorias.1 A paralisia cerebral pode criança, aos seis anos, já estava apresentan-
ser relacionada com vários fatores, entre do sinais de puberdade precoce.
eles: hereditariedade, infecções congênitas, 2
“... apesar de caracterizada pela disfunção motora,
malformações congênitas, complicações a PC é sempre acompanhada por outras desordens da
obstétricas, uso de drogas e medicamentos função cerebral. Entre elas as anormalidades de cogni-
pela gestante, exposição a radiações, fatores ção, visão, audição, fala, sensações táteis, atenção e com-
portamento. A epilepsia geralmente está presente, bem
perinatais (prematuridade e baixo peso, por
como defeitos na função gastrintestinal e crescimento. As
exemplo) e fatores pós-natais (infecções e desordens de funções corticais mais altas têm impacto
traumas cranianos, entre outros). importante nas atividades da vida diária e afetam tarefas
como vestir-se ou apertar botões em uma criança que
1
Sobre esse assunto, ver: Paralisia Cerebral: aparentemente é levemente afetada.” (CÂNDIDO, Ana
abordagem para o pediatra em geral e manejo mul- Maria Duarte Monteiro. Paralisia Cerebral: abordagem
tidisciplinar. Disponível em: <www.paulomargotto. para a pediatria geral e manejo multidisciplinar. Dispo-
com.br/documentos/paralisiacerebra.doc>. Acesso nível em: <www.paulomargotto.com.br/documentos/
em: 23 mar. 2007.. paralisiacerebra.doc>. Acesso em: 23 mar. 2007).
Sumário
1. Considerações iniciais. 2. Associação das
Nações do Sudeste Asiático – ASEAN. 2.1. Os
fundamentos para a criação da ASEAN como
bloco regional no Sudeste Asiático. 2.2. O status
da ASEAN nas negociações multilaterais do
GATT/OMC. 2.3. Os acordos preferenciais de
comércio da ASEAN de 1977 e os percalços da
integração regional. 2.4. Rumo à consolidação da
Área de Livre Comércio da ASEAN (AFTA). 2.5.
A Zona Asiática de Investimentos (ZAI), progra-
mas coordenados de investimentos e o Regime
de Cooperação Industrial (AICO). 2.6. Estratégias
de ampliação do regionalismo no âmbito da
ASEAN e impactos sobre o comércio multilate-
ral: a inclusão regional da China. 3. Organização
de Cooperação Econômica do Pacífico Asiático
(APEC). 3.1. Algumas premissas da criação da
APEC e o desenvolvimento do regionalismo no
Pacífico-Asiático. 3.2. Caracterização da APEC e
problemas de determinação de sua personalidade
no Direito Internacional Público. 3.3. Princípios
básicos da cooperação econômica pragmática
implicada no regionalismo moldado pela APEC e
percalços da institucionalização. 4. O novo regio-
nalismo asiático e noções de regionalismo aberto.
Fabrício Bertini Pasquot Polido é Advogado 4.1. Fundamentos do regionalismo aberto. 4.2.
e Consultor em São Paulo. Doutorando em Di- Regionalismo concorrencial. 4.3. Liberalização
reito Internacional pela Faculdade de Direito da competitiva. 4.4. Identidade asiática. 5. Perspec-
Universidade de São Paulo. Realizou estudos de tiva geral do regionalismo no Pacífico Asiático e
Graduação em Direito pela Faculdade de Direito as novas tendências. Conclusões.
da Universidade de São Paulo e Universidade
de Tübingen, Alemanha, e “Master of Laws”
(LL.M.) pela Università degli studi di Torino,
Itália, e Organização Mundial da Propriedade 1. Considerações iniciais
Intelectual (OMPI). É Professor de Direito Inter-
nacional Privado e Direito do Comércio Interna- Uma realidade singular no contexto de
cional da Faculdade de Direito da FAAP. integração regional hoje arquitetado pelas
Objetivos político-militares,
Guerra Fria; Direito
manutenção da paz e
Internacional da
Velho regionalismo SEATO, ASEAN estabilidade regionais, criação
Coexistência; abordagem
(1954 – década 70) (estrutura original) de coalizões e alianças entre
realista nas Relações
Estados Unidos, ONU e os
Internacionais
Estados da região
Princípio da abertura,
cooperação industrial e
Consenso de
coordenação de investimentos,
Washington; integração
Novo Regionalismo criação de redes de
PECC, APEC, ARF, de mercados; Direito
(década de 80 até organizações (OI’s ONG’s e
ASEAN (alargamento) Internacional da
hoje) governos), acordos regionais de
Cooperação Econômica
livre-comércio e trans-regionais;
e do Desenvolvimento
regionalismo concorrencial e
liberalização competitiva,
Fonte: Adaptado de Liu e Regnier (2003), p. 224/ Asia Pacific Development Journal, v. 1, Jun. 2004, p. 8.
LEONG Ho Khai; KU, Samuel C.Y. (Ed.). China PORTO DE OLIVEIRA, Amaury. Formação de uma
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Paulo: Aduaneiras: 2004. MATSUSHITA, Mitsuo; AHN, Dukgeun (Ed.). WTO
Siglas
ACFTA Acordo de Livre Comércio ASEAN-China
AFTA Área de Livre Comércio da ASEAN – AFTA
AICO Acordo relativo ao Regime de Cooperação Industrial da ASEAN de 1996
ANZCERTA Acordo de Relações Econômicas e Comerciais entre Austrália e Nova Zelândia
APEC Organização de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico
ASEAN Associação das Nações do Sudeste Asiático
AUSFTA Acordo de Livre Comércio entre Austrália e Estados Unidos de 2004
CEPT Regime Comum Efetivo Tarifário Preferencial da AFTA (Esquema CEPT)
GATT 47 Acordo Geral de Tarifas e Comércio de 1947
SAARC Associação da Ásia Meridional para Cooperação Regional
SUSFTA Acordo de Livre Comércio entre Cingapura e Estados Unidos de 2003
TUFTA Acordo de Livre Comércio entre Tailândia e Estados Unidos de 2004
USTR United States Trade Representative
ZAI/AIA Zona Asiática de Investimentos de 1998 (Asian Investiment Área)
APTAs Acordos Preferenciais de Comércio da ASEAN
APT ASEAN Plus Three (ASEAN Mais Três)
PECC Conselho para Cooperação Econômica do Pacífico
Sumário
1. Natureza jurídica e elementos integrantes
do conceito de separação Estado–Igreja. 2. A
religião do Estado e a religião do povo num re-
gime de separação. 3. Os grupos religiosos como
verdadeiros grupos de interesse e sua legítima
participação no processo político – a necessida-
de de proteção ao pluralismo. 4. A separação
Estado–Igreja e os limites da influência exercida
por grupos religiosos no comportamento estatal.
A obrigatoriedade da utilização, pelo Estado, de
uma razão pública.
Sumário
Introdução. 1. Modernidade e diferenciação
funcional de sistemas na proposta de Niklas
Luhmann. 2. A diferenciação funcional dos sis-
temas do direito e da política. 3. Constituição: fe-
chamento operacional do direito e da política. 4.
A positividade do direito moderno: a separação
entre jurisdição e legislação. 5. Considerações
finais: problematizando a assim chamada “di-
mensão política” da jurisdição constitucional.
Introdução
Existe uma concepção bem difundida no
debate constitucional brasileiro – um lugar
comum – que descreve o Supremo Tribunal
Federal (STF) como um “tribunal político”.
Uma afirmação que atualmente reveste
colorações de verdade inabalável, ante a
intensidade com que é repetida por alguns
“doutrinadores”. Como se isso não fosse
suficiente, o próprio STF, nesse caso, não
se afasta da doutrina. Ao contrário, ele se
descreve como um “tribunal político”, uma
vez que a jurisdição constitucional possuiria
uma “dimensão política” que seria fruto de
uma revisão do “vetusto dogma da separa-
ção dos poderes”. Mas não tiramos isso da
nossa cabeça: essas são palavras utilizadas
em uma decisão não muito distante do STF,
Paulo Sávio Peixoto Maia é Mestre em Di- proferida na Argüição de Descumprimento
reito, Estado e Constituição pela pela Faculdade de Preceito Fundamental (ADPF) no 451.
de Direito da Universidade de Brasília (UnB) e 1
Supremo Tribunal Federal. ADPF no 45 (DF).
Professor de Direito Constitucional na Univer- Relator: Min. Celso de Mello. Decisão: 29/4/2004. Pu-
sidade de Fortaleza (UNIFOR). blicação: DJ no 84 de 4/5/2004. Também publicada
______. Política, sistema jurídico e decisão judicial. São KANTOROWICZ, Ernst H. Os dois corpos do rei: um
Paulo: Martins Fontes, 2002. estudo sobre teologia política medieval. Tradução