5.1. Introdução
Muitas vezes, a instalação frigorífica deve servir a aplicações diversas, que exigem
distintas temperaturas de operação. Por exemplo, uma fábrica de alimentos congelados pode
requerer dois evaporadores a temperaturas diferentes, um a -30°C para o congelamento do
alimento e outro a 7°C para o armazenamento do alimento ou para resfriamento de ambientes,
como por exemplo, uma sala de corte.
Uma alternativa simples seria a utilização de dois sistemas independentes, cada um
atendendo uma temperatura de evaporação. Essa alternativa não é economicamente interessante
em função dos elevados custos iniciais dos dois sistemas. Uma alternativa mais simples seria
utilizar um sistema de refrigeração utilizando um compressor e dois evaporadores, ambos
operando na temperatura mais baixa (-30°C, nesse caso), tal com representado na Fig. 5.1 (a e b).
(a) (b)
Figura 5.1. Sistema de refrigeração com um compressor e dois evaporadores: (a) esquema de
operação e (b) representação em um diagrama pxh.
5.2. Sistemas com múltiplos evaporadores e um único compressor, com válvula de redução
de pressão
m&
m& 2
m& 1
(a) (b)
Figura 5.2. Sistema de múltiplos evaporadores e um compressor: (a) esquema de operação e (b)
representação do ciclo em um diagrama pxh.
Comparando-se esse sistema com o anterior, pode-se notar que há uma grande vantagem
principalmente em função do incremento do efeito de refrigeração (h6-h4) contra (h7-h5), que
seria o efeito similar ao ciclo da Fig. 5.1. Essa vantagem, no entanto, é contrabalançada pelo
elevado trabalho de compressão necessário para operar o compressor desde a região de
superaquecimento (estado 1). Apesar de não haver uma melhora da eficiência em relação ao ciclo
anterior, esse último é ainda vantajoso pois permite uma melhor operação do evaporador de
temperatura mais elevada.
Considerando então o ciclo da Fig. 5.2, chega-se nas seguintes relações:
As vazões mássicas no evaporador I (baixa) e II (alta), em kg/s, são dadas pelas Eq. 5.1(a-
b)
Pf 1
m& 1 = (5.1a)
Q E1
Pf 2
m& 2 = (5.1b)
QE 2
†
VRP é a válvula de redução de pressão.
Refrigeração Capítulo 5 Pág. 3
QE1 = h7 − h5 (5.2a)
QE 2 = h6 − h4 (5.2b)
Consequentemente, a vazão mássica no compressor será a soma das duas anteriores, isso
é:
& = υ m&
∀ (5.4)
1
m& 1 h7 + m& 2 h8
h1 = (5.6)
m&
Considerando que a expansão através da VRP é isoentálpica, a entalpia h8 será igual a h6.
O trabalho mecânico é calculado pela Eq. (5.7):
Wm = h2 − h1 (5.7)
COP =
(Pf1 + Pf 2 ) (5.10)
Pmt
Refrigeração Capítulo 5 Pág. 4
5.3. Sistemas com múltiplos evaporadores e um único compressor, com válvula de redução
de pressão e separação do vapor de flash
O ciclo pode ser aprimorado um pouco, separando-se o vapor de flash formado durante a
expansão entre a pressão do condensador e a pressão do evaporador a temperatura mais elevada
(estado 4). Dessa forma consegue-se aumentar o efeito de refrigeração de evaporador de
temperatura mais baixa. Na Fig. 5.3. apresenta-se o esquema operacional do sistema e sua
representação em um diagrama pxh.
m&
m& 2
m& 1
(a) (b)
Pf 1
m& 1 = (5.11a)
Q E1
Pf 2
m& 2 = (5.11b)
QE 2
QE1 = h8 − h6 (5.12a)
QE 2 = h7 − h4 (5.12b)
Consequentemente, a vazão mássica no compressor será a soma das duas anteriores, isso
é:
& = υ m&
∀ (5.14)
1
m& 1 h8 + m& 2 h9
h1 = (5.16)
m&
Considerando que a expansão através da VRP é isoentálpica, a entalpia h9 será igual a h7.
O trabalho mecânico é calculado pela Eq. (5.17):
Wm = h2 − h1 (5.17)
COP =
(Pf1 + Pf 2 ) (5.20)
Pmt
5.4. Sistemas com múltiplos evaporadores, múltiplos estágios, remoção do vapor de flash e
resfriamento intermediário
m& 1
m&
m& 0
Evap. 2
Evap. 1 m& 1
m& 2
Esse ciclo, com os estados mostrados em um diagrama pxh, é apresentado na Fig. 5.5.
9
●
(h6 − h7 )
x6 = (5.21)
(h3 − h7 )
e
(h8 − h9 )
x8 = (5.22)
(h1 − h9 )
Refrigeração Capítulo 5 Pág. 7
As vazões mássicas nos dois evaporadores (Evap.1 – baixa temperatura e Evap. 2 – alta
temperatura são dadas pelas Eq. (5.23) e (5.24):
Pf 1
m& 1 = (5.23)
(h1 − h9 )
Pf 2
m& 2 = (5.24)
(h3 − h7 )
Para desuperaquecer o vapor que sai do compressor de baixa e é injetado no tanque
resfriador intermediário, uma pequena fração ( m& o ) do refrigerante líquido existente no tanque
vaporiza, em função do calor recebido do vapor. Essa taxa de massa pode ser calculada como:
e então:
(h2 − h3 )
m& o = m& 1 (5.26)
(h3 − h7 )
Realizando um balanço de massa e energia no tanque separador/resfriador de líquido,
conforme mostrado na Fig. 5.6, obtêm-se a vazão mássica no compressor de alta:
m&
m& x6
m& 2
m& 1
Figura 5.6. Volume de controle, representado pelos fluxos de massa e energia entrando e saindo
do tanque separador/resfriador intermediário.
e resolvendo, obtém-se:
& = v m&
∀ (5.29)
A 3
e
& = v m&
∀ (5.30)
B 1 1
COP =
(Pf1 + Pf 2 ) (5.34)
(PmtA + PmtB )
Para sistemas operando com amônia, conforme visto no Capítulo 4 é freqüente a
utilização de um trocador de calor a água para auxiliar no resfriamento do vapor que sai do
compressor de baixa antes de sua entrada no tanque resfriador intermediário. As alterações nas
equações em função desse trocador são fáceis de implementar, não necessitando repeti-las.
Uma observação importante que deve ser feita nesse momento é que a condição de saída
da mistura líquido-vapor dos evaporadores (estados 1 e 3) está associada com o “número de
circulação”, o qual indica o fluxo de massa de refrigerante que circula no evaporador em relação
ao fluxo de massa que evapora. Por exemplo, um número de circulação igual a 1 (um) indica que
todo fluxo de refrigerante evapora na passagem do evaporador, saindo na condição de vapor
saturado. Quando o número de circulação é > 1, somente uma parte do líquido fornecido ao
evaporador irá vaporizar. Nesse caso, o título na saída do evaporador será < 1, implicando na
alteração do efeito de refrigeração. Essa condição será analisada posteriormente quando forem
estudados os evaporadores inundados.
Os sistemas de múltiplos estágios estudados possuem algumas limitações importantes que
devem ser consideradas. Elas são:
5.5. Sistemas com múltiplos evaporadores, múltiplos estágios, remoção do vapor de flash e
resfriamento intermediário em tanque fechado
m&1 m&
m& 0
m&
m&1
Figura 5.7. Esquema de operação de um ciclo de refrigeração com dois estágios, dois
evaporadores, tanque separador/resfriamento intermediário em sistema fechado.
T7 = TE 2 + ∆T + (2a5 o C ) (5.35)
Os títulos do refrigerante nos estados 6 e 8 são dados pelas Eq. (5.36) e (5.37):
Refrigeração Capítulo 5 Pág. 10
(h6 − h9 )
x6 = (5.36)
(h3 − h9 )
e
(h8 − h10 )
x8 = (5.37)
(h1 − h10 )
P
h
Figura 5.8. Representação em um diagrama pxh do ciclo de refrigeração com dois estágios, dois
evaporadores, tanque separador/resfriamento intermediário em sistema fechado.
As vazões mássicas nos dois evaporadores (Evap.1 – baixa temperatura e Evap. 2 – alta
temperatura são dadas pelas Eq. (5.38) e (5.39):
Pf1
m& 1 = (5.38)
(h1 − h10 )
Pf 2
m& 2 = (5.39)
(h3 − h9 )
Para desuperaquecer o vapor que sai do compressor de baixa e é injetado no tanque
resfriador intermediário e subresfriar o líquido desde o estado 5 até o estado 7, uma pequena
fração ( m& o ) do refrigerante líquido existente no tanque vaporiza, em função do calor recebido do
vapor. Essa taxa de massa pode ser calculada como:
e então:
m&
m& x6
m& 2
m& 1
Figura 5.9. Volume de controle, representado pelos fluxos de massa e energia entrando e saindo
do tanque separador/resfriador intermediário.
e resolvendo, obtém-se:
& = v m&
∀ (5.44)
A 3
e
& = v m&
∀ (5.45)
B 1 1
COP =
(Pf1 + Pf 2 ) (5.49)
(PmtA + PmtB )
Nos sistemas em que o mesmo refrigerante passa pelos estágios de baixa e alta pressão,
valores extremos de pressão e volume específico podem causar alguns problemas. Por exemplo,
quando a diferença das temperaturas limites do ciclo atinge valores elevados (TC-TE>100°C),
verifica-se que:
a) Se a escolha for de um fluido com alto ponto de ebulição (à pressão atmosférica, 101,325
kPa), ao trabalhar em temperaturas muito baixas, sua pressão ficará muito abaixo da atmosférica
no evaporador, podendo promover a admissão de ar e umidade através de aberturas na tubulação
de. Por exemplo:
b) Se a escolha for de um fluido com baixo ponto de ebulição, a pressão no evaporador será
adequada, mas a pressão no condensador será muito alta, a ponto de exigir vasos e tubulação de
paredes reforçadas, acarretando problemas de segurança, além do custo do equipamento. Por
exemplo:
(a) (b)
Figura 5.10. Sistema tipo cascata: (a) esquema de operação e (b) representação do ciclo em um
diagrama pxh.
Na prática, o ajuste das cargas no condensador cascata é difícil, de tal forma que
geralmente são super dimensionados. Nos sistemas reais, deve-se prever uma diferença de
temperaturas entre os refrigerantes na condensação e evaporação (no condensador cascata) o que
conduz a uma perda de eficiência. Para uso a baixas temperaturas, o superaquecimento (útil ou
inútil) é extremamente prejudicial, em função do efeito volumétrico de refrigeração o que conduz
a necessidade de ajustar-se esse valor a um mínimo necessário, para evitar a entrada de líquido
no compressor.