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O incomum1

Resumo

Esse artigo tem por objetivo abordar a problemática que cerca a questão
epistemológica na comunicação. Partindo das ciências sociais, a qual a comunicação
estaria supostamente subordinada, investigaremos como a sociologia, e portanto a
própria ciência do social, se estrutura, para obtermos um ponto de referência. Em
seguida, procuraremos investigar a etimologia da palavra comunicação não para
delinearmos uma solução absoluta, mas para poder revitalizar seus inúmeros sentidos.
Assim, o pensador Jacques Rancière será um grande aliado na articulação do que
denomina partilha do sensível, noção esta que é fundamental para o trabalho por seus
desdobramentos sociais, culturais e políticos.

Palavras-chave

Comunicação; epistemologia; Rancière; fotografia

Prólogo

Caminhar por um mundo hermo e sombrio. Conhecer cada trecho dessa


arquitetura que é composta de vãos, câmaras, passagens secretas e inúmeros
corredores. Permanecer na solidão, espreitando as notícias do mundo e,
eventualmente negociando com aqueles que podem circular livremente à luz do dia.
Esse é o itinerário daquele que se tornou mais comumente conhecido pelo alcunha de
"O fantasma da ópera". O fantasma em questão chama-se Erik e o cenário para seu
drama é a Ópera de Paris. Melhor dizendo, a parte subterrânea deste colossal edifício.
No romance original de Gaston Leroux, publicado em 1910, Eric é um homem
atormentado por uma deformidade na face a qual busca esconder com a máscara que
lhe cobre parcialmente o rosto. Vivendo no subsolo, ele procura chamar a atenção de
sua amada Christine, uma jovem cantora e bailarina, no intuito de conquistar-lhe o

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Trabalho apresentado no GT 1 (Arte, imagem, estéticas e tecnologias da comunicação) do VII
Congresso de Estudantes de Pós-Graduação em Comunicação, na categoria pós-graduação. UFRJ, Rio
de Janeiro, 15 a 17 de outubro de 2014.

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coração. Lamentavelmente, as coisas vão mal e sua aparência causa um profundo
choque na moça que não consegue esconder sua repulsa.
O enredo ilustra de forma notável as agruras de um homem que precisa
esconder-se justamente no local apelidado de "cidade luz". Que acaba comportando-
se como um rato numa era e, sobretudo num lugar em que o luxo e a opulência eram
traços distintivos da elite. Mas, em termos gerais, como a história em questão está
relacionada à pesquisa subsequente? Caso desejemos abranger um espectro muito
amplo para as características desse ofício, talvez não seja possível endossar a
afirmação a seguir. Mas, no campo da comunicação, podemos dizer que o
epistemólogo é uma espécie de fantasma da ópera. Sua dupla postura não lhe confere
uma dupla identidade, mas duas facetas de uma mesma atividade. Se por um lado
temos os traços de um pesquisador sério, comprometido e que busca contribuir da
melhor maneira possível com o campo, de outro, há uma dimensão terrível, quase
inconfessável. Esse aspecto monstruoso e distorcido, que necessita permanecer por
trás das feições plácidas, polidas do cotidiano, é justamente o elemento de
indiscernibilidade que cerca as pesquisas na área. É assaz intrigante testemunhar
mestres, alunos, colaboradores, todos um tanto perplexos a respeito de um campo do
conhecimento tão importante, mas que custa em estabelecer suas bases e estipular
claramente seus liames e objetos.
O cenário para o nosso protagonista é um pouco diferente dos labirintos
subterrâneos já citados. O epistemólogo da comunicação é um ser que caminha por
um castelo em ruínas. Castelo, por conta do protagonismo das mídias, sobretudo a
partir do século XX. Ruínas, porque os fragmentos restantes de nossos principais
aportes teóricos parecem cada vez mais fragmentar-se, apontando para a quebra (com
o paradigma científico moderno, o humanismo, a noção de centro narrativo), a
diluição (das grandes ordens teleológicas e fronteiras entre nações, da história, da
geografia) e a morte (do narrador, do sujeito, do homem, de Deus). Eventualmente, o
pesquisador passeia por dentre os escombros e acaba encontrando uma coluna. Nela
está escrito "dogmatismo". Ao circunda-la, ele nota mais alguns escritos que versam
sobre o que seria, na verdade, a comunicação. Está bastante claro que, ao confina-la a
um número restrito de práticas, este texto pode livrar-nos da desmedida amplitude do
campo, mas não nos livrará da fantasmagórica presença da lógica.

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Nada é sustentado pela coluna. O teto que esta segurava desabara, espalhando
pedaços de reboco em todas as direções. Desolado, o epistemólogo contempla seu
horizonte esfacelado e pensa: Deus, o que fazer? Porém, imediatamente se recorda de
um filósofo, aquele mesmo que proferira a morte de Deus e, dando-se conta que o
número de perspectivas é da mesma ordem do número de seres, recua.
Parecera-lhe, de súbito, que tudo já havia sido tentado. Abordagens históricas,
arqueológicas, teoria matemática, cibernética, crítica da transdisciplinaridade,
aceitação da transdiciplinaridade, destaque para a tecnologia, foco na
instrumentalização, Communication Research, teoria orquestral, Media Studies,
processos hermenêuticos, estudos das materialidades. Tantos autores, teorias,
pesquisas e, no fim das contas, a impossibilidade de alcançar um estatuto científico
próprio. Fazer parte do quadro das ciências sociais era o mesmo que assumir a crise
identitária e o que é pior, pela via da subordinação. O que será que estava faltando?
Qual peça no quebra-cabeças? Será que tudo fora tentado?

O fantasma da lógica

Digamos que, no intuito de avançarmos, seja necessário compreender o que


faz de uma ciência humana uma ciência humana. Ao aventarmos certas características
epistemológicas ligadas à sociologia, percebemos que a "comparação", dentre outros
métodos, surge como a grande organizadora dos primeiros estudos promovidos pelo
campo e também como um fio condutor de idéias que deixou marcas até os dias
atuais. Para o criador do termo "sociologia" e pensador daquilo que considerara uma
Física Social, Augusto Comte, adequar sua disciplina ao método das outras ciências
experimentais e dar-lhe especificidade significava afastar-se das causalidades
(principio fundamental do pensamento de Durkheim) e partir do geral ao particular
(como na biologia), do grupo ao indivíduo, utilizando a comparação enquanto
procedimento. Através desta e segundo o pensador, leis gerais e invariáveis poderiam
ser descobertas na sociologia, e nisto consiste a visão positiva dos fatos.

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Diferentemente de Comte, Spencer e Stuart Mill, que apresentam os chamados
fatos sociais como fatos da natureza, Durkheim os trata como coisas e, portanto,
objetos do método positivo. Ele formula sua estratégia comparativa afastando-se das
leis gerais e calcando-se em tipos sociais que, comparados a animais de diferentes
espécies, pertenceriam a uma mesma classe. Um exemplo disso são os mamíferos. A
sociedade, tal como a concebida por Comte, era vista como um organismo vivo e seu
objetivo, do ponto de vista científico, era conseguir estabelecer explicações
generalizáveis e relações de causalidade a partir da observação empírica. Já Max
Weber trabalha com a noção de ação social, tendo esta origem no indivídio. Avesso
ao que chamava de hipóstase dos conceitos, buscava na empiria o entendimento dos
juízos de valor do indivíduo considerando sua subjetividade, sem apelar para noções
fortes de causalidade ou propondo uma revolução.
Atualmente os cientistas da TAR (teoria ator-rede), através do princípio de
associação livre não aplicam um esquema ou protocolo analítico pré-estabelecido. Na
verdade, são os atores e actantes aqueles que fornecem o material para a composição
do relato. Assim, seja com Bruno Latour ou Michel Callon, temos uma prática ligada
às associações e o que transcorre depois e não antes destas. O enfoque da TAR é
bastante diverso da sociologia clássica e, mesmo que ambas procurem enfatizar de
modo recorrente o aspecto empírico, não podemos esquecer que um recorte
epistemológico é sempre uma lógica.
As diferenças entre as referidas formas de pensar ficaram nítidas por conta de
uma abordagem teórica que se articula entre o conceito e a prática. Pensar é tarefa
ampla e múltipla, que deve procurar abrigar vastas possibilidades. Por isso mesmo,
devemos questionar tanto em uma quanto em outra o que está literalmente ausente.
Na chamada sociologia do social parece não haver espaço para o enquadramento da
indiscernibilidade e da hesitação. Do que consideramos abandonado, esquecido,
estranho e até mesmo abjeto. Na TAR, "os agenciamentos sociotécnicos são pró-
ativos e implicam positividades e a criação de laços consistentes. Como analisar,
neste quadro epistemológico e metodológico, os defazamentos, os espaços e os
tempos vazios, o quebrar de laços, o afastamento lento e penoso da vida ruidosa e da
obrigatoriedade de ter um projeto de vida?" (MENDES, 452).

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Essa falta de espaço para o descartável é averiguada, a princípio, na sociologia
mas, se pararmos para pensar, talvez seja uma propriedade do logos um caráter
apolíneo na estruturação do pensamento. Esse cunho organizador próprio ao conceito,
traço da filosofia em todas as disciplinas que o utilizam, é a marca de uma limpeza da
razão. Não teria também o conceito, nessa grandiosa esfera do pensamento, vocação
para os restos?

O incomum

Nesse instante, nosso fantasmagórico epistemólogo encontra seu dicionário


etimológico próximo a uma pilha de outros livros. Fazia algum tempo que deixara de
acreditar que o sentido originário das palavras poderia ser uma real chave para a
compreensão. No entanto, não custava nada dar uma olhada. Soprou uma camada de
poeira que o envolvia e decidiu procurar o verbete comunicação. Tanto esta quanto a
palavra comum derivam da raíz latina communis. Communis e um desdobramento,
comunicationis, indicam a idéia de tornar comum. "Tornar comum o que, afinal?",
indagamo-nos todos. O que, tornado comum, caracterizaria a comunicação?
Poderíamos elencar toda uma gama de termos e idéias que ilustrariam, até muito bem,
esse processo. Porém todos seriam parciais com excessão de "incomum". Apenas
este, num sentido lógico muito elementar, pode ser tornado comum. Na verdade, a
idéia de evocar o incomum jaz não na intenção de produzir mais binarismos, mas
como coloca Deleuze referindo-se a Bergson : "O dualismo, portanto, é apenas um
momento que deve terminar na re-formação de um monismo" (DELEUZE, 1966, pg.
20). Sabemos que é fundamental abarcar a verdadeira amplitude da comunicação, mas
para isso é preciso fazer falar sua metade silenciosa. Sua faceta escondida.
Outro sentido da palavra communis é "pertencente a todos ou a muitos".
"Comum" carrega este sentido de coletividade, partilha. Por outro lado, comum
significa o normal, o ordinário. Assim, estipulando essas duas linhas de sentido,
"incomum" invariavelmente deverá significar "não partilhado" e "extraordinário".

O não partilhado

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"A partilha do sensível" é um livro fundamental para compreendermos alguns
processos comunicacionais. Nele, Jacques Rancière assinala dois sentidos para a
noção de partilha. Primeiramente, a participação em um conjunto comum, aquele em
que se toma parte, e outro, que o precede e que versa sobre a divisão de partes
exclusivas e determina os que tomam parte.
Na primeira acepção, o autor evoca o comum enquanto elemento que pode
denotar ampla participação como no pólo cultural ou no sistema de direitos. Não
obstante, em seu segundo sentido

"A partilha do sensível faz ver quem pode tomar parte do comum em função daquilo.
que faz, do tempo e do espaço em que essa atividade se exerce. Assim, ter esta ou
aquela "ocupação" define competências ou incompetências para o comum. Define o
fato de ser ou não visível num espaço comum, dotado de uma palavra comum, etc."
(RANCIÈRE, 2005, pg 16)

Assim, coloca o pensador, apesar do ser humano, animal falante e político na


visão de Aristóteles, compreender a linguagem, se for um escravo não a irá "possuir".
Os artesãos, argumenta Platão, não têm tempo de participar das coisas comuns posto
que precisam dedicar-se exclusivamente ao seu trabalho. Não é possível para eles
estar em outro lugar, porque o trabalho não espera. Dessa forma, partilhar não é tão
somente um virtual ou algo de direito. Partilhar deve ser algo de fato e isso demanda
tempo, espaço e posicionamento.
Passamos, então, a adentrar na divisão, nos quinhões da partilha. No
entendimento de que muitas vezes o "não partilhado" não é tão somente
contingencial, mas necessário, o que envolve dimensões sociais e políticas. Para
Ranciére, a política tem em sua base uma estética que não coaduna-se com a
estetização das políticas na era das massas, como apresentou Benjamin. Essa estética
"primeira" que está na base da política é uma espécie de a priori responsável pela
partilha da experiência sensível comum, e responsável pela produção de regimes de
visibilidade. Não confundamos, aqui nesse caso, estética com arte ou teoria da arte. A
estética estipula um comum partilhado e partes exclusivas. Com relação a arte
propriamente dita, o pensador estipula três regimes. O regime ético das imagens, que

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"concerne ao ethos, à maneira de ser dos indivíduos e das coletividades"
(RANCIÉRE, 2005, pg. 29). Pertence a esse regime, por exemplo, a polêmica de
Platão contra os simulacros da pintura, do poema e do teatro. O regime poético ou
representativo das artes, posto que é a idéia de representação ou mímesis que organiza
maneiras de fazer, ver e julgar. Mímesis, aqui, é entendida como um regime de
visibilidade e não um fazer artístico. A especificidade do regime representativo é a
separação da idéia de ficção da idéia de mentira. É como se Aristóteles dissesse a
Platão que a imagem não está querendo ser alguma coisa que ela não é. Ela é alguma
coisa em si; ficção. E essa ficção é distribuída em gêneros e hierarquias como a
tragédia para a aristocracia e a comédia para a plebe.
Ao regime representativo, Ranciére opõe o regime estético. Neste, observamos
o entendimento da arte no singular e da quebra com regras específicas, hierarquias das
artes, gêneros e temas. Portanto, o direcionamento do público para determinados fins,
sejam esses de fruição ou engajamento, é exatamente o que não caracteriza sua
politicidade. Cabe aqui a percepção de uma descontinuidade ou suspensão de supostas
relações de causa e efeito, logo, das intenções que cercam uma produção artística e os
efeitos gerados no espectador. Tentar passar uma mensagem política, desse modo, é o
mesmo que querer infantilizá-lo. As implicações desse processo giram em torno de
um embaralhamento nas regras do jogo em que pathos e logos, saber e não saber se
misturam. O pensamento se torna estranho a si mesmo, implodindo barreiras
miméticas e a falsa dicotomia moderno/pós-moderno.

O extraordinário

Estranhando-se a si mesmo, o pensamento produz desvios. Entrementes, se o


sono da razão produz monstros, não serão apenas os monstros aqueles que irão
compor o extraordinário. Coisas ordinárias, bem sabemos, podem não ser
compartilhadas, como um segredo banal ou a fotografia de um capuccino. Porém o
extraordinário nunca é banal. Pode nem sempre ser óbvio, mas nunca é banal. A
banalidade do mal, termo anunciado por Hanna Arendt diante das atrocidades da

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segunda guerra mundial, se justificaria pelas articulações de uma máquina estatal
alemã fria e burocrática. Todavia, resta a pergunta: banalidade para quem?

Diante das fotografias de Diane Arbus, nos questionamos acerca do que, na


verdade, seriam seus elementos estranhos. Sabemos que a estranheza é algo relativo,
porém diante da norma, de valores, práticas, enfim, de estéticas que vigoram há
muito, pelo menos no ocidente, algumas de suas imagens impactam de cara. O que
dizer da imagem do menino com uma granada de brinquedo na mão, tirada no Central
Park? Filho do tenista Sidney Wood, o menino, Colin Wood está apenas impaciente
com sua demora para fazer a imagem. Não obstante, o caráter espástico das mãos e do
rosto contorcidos, a granada (enfim, uma granada!), a magreza extrema e a roupa um
tanto desajeitada imprimem muito mais do que uma ligeira irritação. Em outra
imagem, um senhor mascarado posiciona-se na direção da câmera com um olhar e
uma expressão facial ambígua, um tanto lânguida talvez, mas que a máscara
certamente ajuda a tornar mais misteriosa.
Tanto nas imagens intrigantes do cotidiano quanto nos "tipos diferentes"
fotografados por Arbus como anões, gigantes, gêmeas, deficientes, o que chama a
atenção é menos a forma do que é capturado, e mais algo na forma. Ela humaniza e
distancia ao mesmo tempo. Parece captar o que existe de mais íntimo e mais
desconhecido na mesma "tacada". E talvez seja esse o fator de estranheza. Não um
gosto pelo exótico ou o fetiche com a aberração, mas a partilha de uma realidade
perigosamente próxima com O outro. Uma identificação com o que nos acostumamos
a encarar como separado de nosso mundo ordinário. Também Roger Ballen, Joel-
Peter Witkin e, mais recentemente, Asger Carlsen, promovem mecanismos de
desnaturalização do mundo que não são, pura e simplesmente, uma exploração do
aberrante. O que interessa em seus trabalhos é justamente aquilo que não se esgota. A
capacidade contínua de uma provocação que não é bazófia, galhofaria, mas um
constante convite ao pensamento.
Nessa esfera, Sophie Riestelheber, com a fotografia da série WB (West Bank)
em que um agrupamento de pedras aparece distribuído numa planície verde, promove
o extraordinário. Como foi dito, essa dimensão nem sempre é óbvia e, pelo menos a

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princípio, este parece ser o caso. A planície verde, quase idílica, com as pedras, é uma
barreira israelense numa estrada palestina:

"Assim, ao não fotografar o grande muro da separação entre israelenses e


. palestinos, a artista opta por não mostrar o "ícone midiático" do "problema do
Oriente Médio", mas trabalhar as feridas e cicatrizes que o conflito marca sobre
o território” (RAMOS, 2012, pg. 102)

Além do caráter político nessa, digamos, "partilha do sensível", temos uma fuga do
ordinário pelo deslocamento de um eixo semântico, e por uma operação no corpo da
imagem que a revitaliza. Sophie faz pensar, mistura studium e punctum e nos convoca
a passear pelo terreno do não-visível e do indizível, no qual a imagem não está
reduzida a sua visualidade. O extraordinário é uma configuração entre o visível, o
dizível e o pensável, capaz de produzir profundas cesuras no senso comum.

Epílogo

Cansado de procurar e caminhar pelos escombros, o epistemólogo surpreende-


se com uma velha poltrona. Está puída e torta, pensou, mas possivelmente macia. E
sentou. Num ímpeto, quase chegou a conclusão de que não possuia nada. De que seu
tempo fora gasto em vão com falsas esperanças e considerações inúteis. Contudo,
olhou ao redor e, contemplando as imagens, soube que de certa forma as tinha. E mais
do que as imagens, tinha os corpos das imagens, os corpos dos detritos, dos objetos,
seu próprio corpo. Esses e tantos outros corpos seriam seu Corpus nesse vasto
processo de partilha que é a comunicação. Também os corpos incomuns, invisíveis,
indizíveis fariam parte de uma teoria verdadeiramente ampla, capaz de articular as
inúmeras dimensões de um campo tão próprio à investigação.

Levantou-se, então. Retirou a máscara que lhe cobria parcialmente o rosto,


depositou-a por sobre a poltrona e continuou caminhando.

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Referências bibliográficas

LOPES, Maria Immacolata (org). Epistemologias da Comunicação. São Paulo:


Edições Loyola, 2003.

RAMOS, Pedro Hussak. Rancière: a política das imagens. Extr. Princípios - Revista
de filosofia. 2012.

RANCIÉRE, J. A partilha do sensível. São Paulo: Ed. 34, 2005.

____________. O destino das imagens. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.

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