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EXPOSIÇÃO

PATRIMÔNIO
IMATERIAL
MATO-GROSSENSE
Museu de Arte e de Cultura Popular
Centro Cultural - UFMT

Av. Fernando Correa da Costa, 2367 - Boa Esperança


Cuiabá, Mato Grosso
Período da Exposição: 17 de março a 16 de abril de 2011
APRESENTAÇÃO

A
exposição intitulada “Patrimônio Imaterial de Mato Grosso” se constitui na segunda etapa do projeto
de pesquisa “Inventário do Patrimônio Imaterial Mato-Grossense” realizado pelo Museu Rondon /
Departamento de Antropologia da UFMT, em parceria com a Fundação UNISELVA e o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Para se chegar aos resultados expostos nesta exposição, a UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
equipe de pesquisa inventariou, em nove acervos mato-grossenses (situados em Cuiabá), os bens culturais
que, estando inscritos em documentos, se constituem atualmente em patrimônio imaterial do Estado de Maria Lúcia Cavalli Neder
Mato Grosso. Reitora
Foram pesquisados documentos como manuscritos dos séculos XVIII, XIX, XX, XXI, jornais e periódicos do
Francisco José Dutra Souto
século XIX e XX, monografias, dissertações e teses, livros, documentários em Fita K-7 e DVD, fotografias e artes Vice-Reitor
plásticas (óleo sobre tela).
Após três meses de capacitação e oito meses de pesquisa em acervos, a equipe analisou os dados, Luís Fabrício Cirilo de Carvalho
disponibilizando-os em um DVD, que abriga todas as informações referentes aos documentos inventariados Pró-reitor de Cultura, Extensão e Vivência
(estado de conservação e conteúdo), aos acervos pesquisados (dados gerais, infraestrutura e condições
de acondicionamento), e as 536 referências culturais, que foram inventariadas como patrimônio imaterial Maria Helena Coradini
mato-grossense. Além disso, o DVD disponibiliza os contatos dos profissionais responsáveis pelos acervos e Coordenadora de Cultura
dos pesquisadores envolvidos em diversas etapas da pesquisa.
José Serafim Bertoloto
Os acervos pesquisados, grandes parceiros desta pesquisa foram: Arquivo Público de Mato-Grosso,
Supervisor do MACP
Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, Academia Mato-grossense de Letras, Operação Amazônia
Nativa (OPAN), Missão Anchieta (MIA), e os seguintes acervos abrigados na UFMT: Núcleo de Documenta- Heloisa Afonso Ariano
ção e Informação Histórica Regional (NDIHR), Museu Rondon (ICHS), Museu de Arte e Cultura Popular e Bibli- Supervisora do Museu Rondon
oteca Central (Coleção Amidicis Tocantins e Hemeroteca).
A exposição é fruto desse trabalho acima descrito. Assim, uma vez inventariados 404 documentos, sele-
Patrimônio Imaterial Mato-grossense
cionamos aqueles que consideramos mais paradigmáticos do patrimônio regional. Nesse sentido, vários Museu de Arte e de Cultura Popular
foram os critérios para a seleção: a associação entre ancianidade do documento e riqueza do relato; a 17 de março a 16 de abril de 2011
associação entre raridade de relatos sobre aquele bem cultural e potencial patrimonial do mesmo; a impor- Curadoria:
tância histórica do documento, assim como do bem cultural nele inscrito, dentre outros. Heloisa Afonso Ariano
Acreditamos que uma das contribuições desse projeto de pesquisa é a indicação de novas leituras e Izabela Tamaso
interpretações dos documentos e dos fundos aos quais eles estão vinculados, por parte de outros pesquisa- José Serafim Bertoloto
dores, além da divulgação desses documentos para a comunidade de maneira geral. A possibilidade de Thereza Martha Borges Presotti
compartilhar com mato-grossenses, de diversas faixas-etárias e graus de escolaridade, as informações ins-
Universidade Federal de Mato Grosso
critas em documentos que são verdadeiros patrimônios nacionais, é um dos objetivos dessa exposição.
Av. Fernando Correa da Costa, nº 2367
Em caso de documentos muito antigos, visamos revelar ao público a importância de algumas referênci-
Boa Esperança
as culturais, que já foram observadas e descritas por viajantes e permanecem sendo praticadas com gran- 78060-900 - Cuiabá-MT
de participação popular, como é o caso da Viola-de-Cocho, do Siriri e do Cururu e da Festança de Vila Bela Tel: (65) 3615-8301 - Fax: (65) 3628-1219
e tantas outras festividades de santos nas comunidades ribeirinhas como a de São Gonçalo, a celebração a www.ufmt.br - ufmt@ufmt.br

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São Benedito e ao Divino Espírito Santo. Estritamente vinculadas a essas festas, estão as não menos impor-
tantes iguarias da cultura alimentar, com destaque para a ventretcha de pacu, modjica de pintado, bolo
de arroz e de queijo. Salientem-se também os diversos artefatos indígenas associados aos inumeráveis rituais
como o complexo Funeral Bororo, os trançados em seus mais usos, configurando uma riqueza incomensurá-
vel de saberes e práticas culturais construídas em diálogo com a diversidade da paisagem natural – Panta-
nal, Cerrado e Amazônia mato-grossense – o que nos permite reconhecer a expressão viva de uma sociobi-
odiversidade de grande beleza.
Para que pudessem ser cedidos os documentos para essa exposição, contamos com a valiosa e impres-
cindível colaboração tanto dos responsáveis pelos acervos, quanto dos pesquisadores dessas instituições
de salvaguarda que nos auxiliaram sobremaneira em todas as etapas: pré-seleção dos fundos a serem pes-
quisados, leitura e preenchimentos das fichas, revisão e seleção dos documentos para essa exposição.
Além dos documentos, contamos com outra valiosa parceria com dois fotógrafos, que têm importantes
acervos imagéticos sobre o Estado de Mato Grosso. A partir do Banco de Imagens de Mario Friedlander e
Laercio Miranda selecionamos aquelas que trazem retratados os bens culturais inventariados em nossa pes-
quisa, sendo estes patrimônios considerados como importantes referências culturais para a identidade
INSTITUIÇÕES E ACERVOS INVENTARIADOS mato-grossense. As fotos são outros verdadeiros documentos que revelam tanto a sensibilidade e qualida-
de artísticas de Mário Friedlander e Laércio Miranda, quanto a grandeza do patrimônio do qual Mato Grosso
é guardião.
UFMT Selecionamos também alguns artefatos culturais, como a rede cuiabana, a viola-de-cocho, a cerâmi-
Museu Rondon ca de S. Gonçalo, a rede Bakairi, abanico, gravata Xavante e outros que colaboram para comunicar ao
Biblioteca Central - Hemeroteca e Coleção Amidicis Tocantins público alguns dos mais importantes patrimônios do Estado. Nesse sentido, os objetos servem para materiali-
MACP- Museu de Arte e Cultura Popular zar aquilo que é apenas uma etapa do processo cultural em que se constituem os referidos patrimônios. Os
NDIHR- Nucleo de Documentação e Informação Histórica Regional objetos são resultados de técnicas elaboradas, trabalho coletivo, rituais, tempo despendido, memória ges-
tual. O objeto é então a prova material dos ofícios e modos de fazer, de celebrações e de formas de expres-
são que são patrimônios incontestáveis deste Estado, muitos deles necessitando de projetos de salvaguarda
APMT para que continuem a existir.
Arquivo Público de Mato Grosso Objetivamos igualmente sensibilizar os visitantes a observarem com mais acuro os bens culturais à sua
volta, refletirem sobre eles, sobre sua importância para os grupos envolvidos e para a identidade dos cida-
Casa Barão de Melgaço dãos mato-grossenses. Além dos objetos, música e filmes também colaboram para com o projeto expográ-
Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e Academia Mato-grossense de Letras fico.elaboradas, trabalho coletivo, rituais, tempo despendido, memória gestual. O objeto é então a prova
material dos ofícios e modos de fazer, de celebrações e de formas de expressão que são patrimônios incon-
testáveis deste Estado, muitos deles necessitando de projetos de salvaguarda para que continuem a existir.
OPAN Objetivamos igualmente sensibilizar os visitantes a observarem com mais acuro os bens culturais à sua
Operação Amazônia Nativa volta, refletirem sobre eles, sobre sua importância para os grupos envolvidos e para a identidade dos cida-
dãos mato-grossenses. Além dos objetos, música e filmes também colaboram para com o projeto expo-
gráfico.
MIA
Missão Anchieta
CBFJ- Centro Burnier, Fé e Justiça Heloisa Afonso Ariano, Izabela Tamaso e Thereza Martha Borges Presotti

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REFERÊNCIAS CULTURAIS RESULTADOS DO INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO IMATERIAL
Gráficos do Banco de Dados (DVD)
Laércio Miranda Mario Friedlander

CATEGORIAS: Das referências culturais inventariadas, percebe-se grande


presença das Formas de Expressão e Saberes e Modos de Fazer. E, incluin-
do as Celebrações, dentre as mais referidas estão: Cururu, Siriri, Viola-de-
Cocho, Festa de São Benedito, Falar Cuiabano, Festa do Divino, Funeral
Bororo, Festas do Milho (Bakairi e Xavante e outras etnias), Rede Cuiabana
e Bakairi, Cerâmicas de São Gonçalo, Cestarias, Arte Plumária Indígena,
Rasqueado, Dança de São Gonçalo, Congadas/Dança do Congo, Car-
naval Cuiabano. Os Lugares de práticas sociais mais citados são: o rio
Cuiabá, o Bairro do Porto em Cuiabá, Pantanal de Mimoso, Praça Alen-
castro, Chafariz do Mundéu, Ponte de Pedra (Paresi), Praça da Matriz de
Cáceres, entre outros.

FORMAS DE EXPRESSÃO: Manifestações literárias, CONDIÇÃO ATUAL


CELEBRAÇÕES: Rituais e festas
que marcam a vivência musicais, plásticas, cênicas e lúdicas.
coletiva do trabalho, da
religiosidade, do
Mario Friedlander
entretenimento e de outras
práticas da vida social.

Gervane- Acervo MACP

LUGARES E
EDIFICAÇÕES:
Mercados, feiras,
santuários, ÉPOCA
praças e demais
espaços onde se A informação da época em que a referência cultural acontece, se realiza ou é praticada indicou
concentram e se OFÍCIOS E MODOS DE FAZER: maior número de referências que acontecem continuamente, seguida pela ocorrência sazonal. Há tam-
reproduzem Conhecimentos e modos de bém coerência entre a grande presença de referências culturais indígenas e a época sazonal, uma vez que
práticas culturais fazer enraizados no cotidiano grande parte das Formas de Expressão, dos Saberes e Modos de Fazer têm nessas sociedades relação estre-
coletivas das comunidades. ita com as estações do ano.

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OS FOTÓGRAFOS
CELEBRAÇÕES
MARIO FRIEDLANDER
FESTA DE SÃO BENEDITO
Mario Friedlander, fotógrafo que ilustra com belas e expressivas imagens esta Exposição “Patrimônio
Imaterial Mato-Grossense”, vive em Mato Grosso desde o início da década de 1980. Tornou-se fotógrafo É uma das celebrações mais antigas em Cuiabá, realizada pelos
sensibilizado pelas paisagens que viu e pelas pessoas que conheceu por aqui. Dedicou-se a conhecer e devotos de São Benedito na Igreja de Nossa Senhora do Rosário e
documentar a natureza e seus elementos, as populações e seus costumes, e assim reuniu um acervo precio- São Benedito. Começa com a escolha dos festeiros, e segue-se com
so com muitas imagens dos modos de vida da gente mato-grossense, patrimônio material e imaterial em a peregrinação da imagem, chamada de Bandeira de São Benedi-
diversos tons. Através desta exposição quer compartilhar alguns destes fragmentos do patrimônio cultural to. Por fim, o levantamento do mastro demarca o início da festa que
imaterial de Mato Grosso, sua gente e suas crenças, as manifestações culturais e artes de fazer diversas em em tempos antigos contava com a realização de touradas e conga-
Cuiabá, Poconé, Livramento, Chapada dos Guimarães, Vila Bela e tantos outros lugares de Mato Grosso das. Durante esta festa há o consumo de iguarias da alimentação
como o Parque do Xingu e aldeias do povo Bororo. Realizou o primeiro trabalho sobre o Patrimônio Imaterial tradicional cuiabana como os bolos de arroz e de queijo, - o popular
em Mato Grosso para o IPHAN (2001) descrevendo a Celebração da Festança de Vila Bela da Santíssima “tchá com bolo”. Ocorre também em por quase toda região panta-
Trindade. Pode-se dizer que Mario Friedlander é especializado em documentações de Natureza, Arte neira de ocupação mais antiga como Livramento, Poconé e tam-
Rupestre, Arqueologia, Espeleologia e Povos Tradicionais. Mario Friedlander é fotógrafo profissional autôno- bém em Vila Bela, Diamantino e outras cidades do Estado.
mo e vive de sua arte desde 1985, realiza produções e fornece fotos através de seu Banco de Imagens "Ma-
rio Friedlander Imagens". Contato: mariofriedlander@gmail.com
Festa de São Benedito – Cuiabá MT
Foto: Mario Friedlander
LAERCIO MIRANDA
FESTANÇA DE VILA BELA
Laercio Santos Miranda, fotógrafo que participa com suas belas imagens nesta Exposição Patrimônio
Imaterial Mato-Grossense nasceu em São Paulo há 60 anos. Em São Paulo, trabalhou para a imprensa dos Esta Festança, união de várias festas de santos, que
grandes sindicatos e em vários jornais e revistas: Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Revista Visão e anteriormente ocorriam em datas próprias, é a maior cele-
Gazeta Mercantil. Viveu em Londres e trabalhou para o semanário londrino The Journal. Já teve muitas fotos bração religiosa da cidade de Vila Bela da Santíssima Trin-
suas publicadas na Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Peru e México. dade, às margens do rio Guaporé, noroeste de MT. De
Vive em Cuiabá desde 1990 e tem fotografado Mato Grosso, onde fez fotos de natureza para campa- fortes simbologias católicas marcadas por heranças cultu-
nhas de divulgação do turismo no estado. Nos últimos 10 anos tem se dedicado principalmente a projetos rais africanas e ameríndias, tem a expressiva participação
ambientais e de desenvolvimento social, fazendo além de fotografia, roteiros e direção de vídeos docu- dos moradores da cidade e comunidades quilombolas
mentários. Trabalhou para programas do PNUD e da Petrobras Ambiental no noroeste de Mato Grosso. Fez nos rituais e na produção das roupas, indumentárias, ali-
vídeos e fotografias para a campanha de recuperação das cabeceiras do rio Xingu. Atualmente trabalha mentos e bebidas (biscoitos de vários formatos, canjinjin e
registrando em imagens o projeto "Poço de Carbono Juruena" com patrocínio da Petrobras Ambiental. É outros.) Consiste em celebrações da Festa do Divino Espíri-
autor de um livro de fotografia sobre a cidade de Cuiabá e se prepara para lançar, no começo de 2011, to Santo, a Peregrinação da Esmola do Divino, a Festa do
uma publicação de fotografia sobre Mato Grosso. Tem participação como fotógrafo em vários livros de Glorioso São Benedito, o Congo, o Chorado e a Festa das Festança de Vila Bela – Foto: Mario Friedlander
geografia de Mato Grosso e de culinária tradicional. Participou de várias exposições coletivas e individuais. Três Pessoas da Santíssima Trindade. São marcantes carac-
É um apaixonado por Mato Grosso, por seus grandes rios e sua população tradicional. terísticas da Festança: fervor religioso e a devoção aos santos, obediência e sujeição as regras das irmanda-
Contato: laerciomira@gmail.com des, solidariedade a alegria e a oportunidade de reconciliação entre os membros das comunidades.

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CAVALHADA DE POCONÉ
O espetáculo da Cavalhada ocorre desde a
época colonial por influência dos portugueses.
Sua ocorrência esta registrada nas festas de São
Benedito e Divino Espírito Santo quando envolve
toda a comunidade de Poconé. Há registros da
presença da festa também em Porto Esperidião e EQUIPE TÉCNICA
Cáceres. Trata-se de uma representação do
conflito entre mouros e cristãos, divididos pelas
cores azul e vermelho. Formam 12 pares de cava- CURADORES
leiros com papéis distintos: o mantenedor, o
embaixador e dez soldados. Ao final da batalha HELOISA AFONSO ARIANO
os vencedores são sempre os cristãos. Associa-
das a esta festividade, pode-se ver a Dança dos Mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR-2000) . Professora do
Mascarados, homens ornamentados com colori- Departamento de Antropologia na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Atual Diretora do Museu
das chitas e máscaras. Também ornamentam Rondon e Coordenadora do Projeto Inventário do Patrimônio Imaterial Mato-Grossense na UFMT/Propeq.
estas festividades os suportes construídos de
Cavalhada em Poconé – Foto: Mario Friedlander
taquara, ( que se vê na foto), que sustentam as IZABELA TAMASO
velas e garantem maior beleza visual.
Doutorado em Antropologia pela Universidade de Brasília (2007). Coordenadora do Projeto Inventário
do Patrimônio Imaterial Mato-Grossense (IPHAN/UFMT/UNISELVA). Atualmente é Professora da Universidade
FESTA DE SANT´ANA Federal de Goiás (UFG), coordenadora da Área de Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais e Coor-
CHAPADA DOS GUIMARÃES denadora do GT de Patrimônios e Museus da ABA (Associação Brasileira de Antropologia).

Sant´Ana está presente desde a fundação JOSÉ SERAFIM BERTOLOTO


da Missão de Santana pelos jesuítas em 1752,
passando a padroeira da cidade de Chapada Doutorado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP (2003). Diretor do MACP - Museu de Arte e de
dos Guimarães. Sua festa ocorre em 26 de julho, Cultura Popular da UFMT. Professor-Orientador no Programa de Mestrado em Estudo de Cultura Contempo-
no espaço da Igreja no centro da cidade. A ima- rânea ECCO/UFMT. Professor na Universidade de Cuiabá (UNIC). Da equipe do Projeto Inventário do Patri-
gem sacra encontra-se na Igreja colonial, primei- mônio Imaterial Mato-Grossense.
ro bem patrimonial tombado pelo IPHAN no esta-
do. A festa é precedida pela bandeira que sai THEREZA MARTHA BORGES PRESOTTI
três meses antes, com a função de arrecadar
donativos. Depois da missa, segue-se uma procis- Doutorado em História Social pela Universidade de Brasília (2008). Professora de História de Mato Grosso
são iluminada por velas, levantamento de mas- no Departamento de História da UFMT. Da equipe do Projeto Inventário do Patrimônio Imaterial Mato-
tros coloridos de fitas pelos festeiros e duas ou três Grossense e dos Grupos de Pesquisa "História Ambiental: territórios e fronteiras" (UFMT) e "Dinâmica e Dimen-
Festa de Sant`Ana – Chapada dos Guimarães/MT - Foto: Mario Friedlander rodas de São Gonçalo. são de uma região fronteira-mineira: Mato Grosso, 1719-1822" (UFGD/MS).

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inúmeras lendas sobre esses lugares, tal como a do Minhocão. Na Baía de Chacororé, por exemplo, rela- FUNERAL BORORO
tam-se casos de barcos que viraram com as ondas das águas por causa das pessoas que estavam no barco
não faziam silêncio.
O Funeral Bororo começa com o procedimento de enfeitar o
doente agonizante, quando os parentes se lastimam e se autoflage-
lam cortando o corpo com conchas ou dentes de piranha. São reci-
SAKURIUWINÃ OU PONTE DE PEDRA tados cânticos. No dia seguinte, com o nascer do sol, o corpo é depo-
sitado em cova rasa, coberto com folhas de palmeira e diariamente
Sakuriuwinã ou Ponte de Pedra é irrigado ritualmente com água para facilitar a decomposição. Ação
lugar de um conjunto de formações que é acompanhada de danças. Segue-se uma caçada em benefí-
naturais na Chapada dos Paresi, com cio dos parentes do morto. Os Bororo acreditam que a morte é causa-
fortes elementos associados à cosmo- da por um mau espírito que deve reparar os parentes do morto entre-
logia dos Halíti, conhecidos hoje gene- gando-lhes uma fera. Todos os objetos do morto são queimados.
ricamente como os índios Paresi. Por- Após cerca de noventa dias, retira-se o corpo da cova para a segun-
tanto, uma paisagem identificada da fase do sepultamento, quando os ossos são lavados, pintados,
como uma área de grande valor cul- adornados e acomodados em uma cesta e depositados no fundo de
tural, pois é aí que estes indígenas um rio ou lagoa.
localizam suas origens ancestrais.
Segundo o mito, foi de um buraco de Funeral Bororo - Foto: Mario Friedlander
pedra que o criador Enorê (herói mito-
lógico) fez surgir o primeiro casal.
Deste casal nasceram dois casais CORRIDA DE TORA DE BURITI - XAVANTE
gêmeos. A este mito estão associadas
narrativas de aspectos que caracteri-
Os homens da aldeia formam dois grupos
zam as diferenças entre o mundo dos
etários e na véspera da corrida, saem para
índios e não-índios. Também deste
Salto da Ponte de Pedra - Álbum Gráfico de Mato Grosso. Acervo NDIHR/UFMT cortar duas toras de buriti de 70 a 90 quilos
lugar o herói fundador Wazáre distribu-
cada uma. O tronco é carregado no ombro do
iu os grupos Halíti pelas nascentes dos
atleta por um percurso de mais ou menos oito
tributários dos rios Juruena, Arinos, Sepotuba e Guaporé. De acordo com os estudos antropológicos é possí-
quilômetros. Vence o grupo que chegar prime-
vel reconhecer que territorialidade e consciência de origem mítica comum são fundamentais no modo de
iro. As mulheres também realizam sua própria
ser Halíti. Além da relevância para a memória.
corrida com toras menores com cerca de 40 a
50 quilos. Ao final, as toras são colocadas à
frente das casas como troféus e bancos impro-
visados. Esta celebração promove grande
animação e sociabilidade, valorizando a força
e resistência dos jovens guerreiros Xavante.

Corrida de Tora de Buriti


Foto: Mario Friedlander

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MORRO DE SANTO ANTONIO
FORMAS DE EXPRESSÃO
O Morro de Santo Antônio encontra-se elevado na
SIRIRI E CURURU região de Santo Antonio do Leverger entre os pantanais
remanescentes. O Morro é lendário, muitos dizem que ele
O SIRIRI é um dos folguedos mais populares do gira em torno do seu próprio eixo. Os habitantes de suas
estado de Mato Grosso, praticado geralmente na vizinhanças afirmam ouvir urros e sussurros entre suas
Baixada Cuiabana, fazendo parte da maioria das cavernas. Outros afirmam que monstros vivem em sua
festas tradicionais realizadas em louvor aos santos. base. O mito de origem dos índios Bororo remete a recor-
Não se sabe ao certo a origem do Siriri. Alguns docu- dação de uma inundação geral, da qual sobreviveu um
mentos informam que foi introduzido pelos bandei- único índio, “Meriri-Poro”. Este sobrevivente ficou ilhado
rantes paulistas e portugueses, nos princípios da no cume de um morro. Ali acende um fogo, aquecendo
conquista colonial. Outros indicam traços da cultura pedras que passa a jogar nas águas. O calor das pedras
africana da região Banto e ainda de indígenas da provoca a evaporação e faz com que as águas retornem
região. A origem da palavra “Siriri” é imprecisa. Para ao seu nível normal. Meriri-Poro então encontra um “gua-
uns, vem da palavra “otiriri” que significa extremes çuetê” fêmea (cerva) e com ela procria. Os primeiros
do século XVIII em Portugal e, para outros, significa filhos nascem com as características da mãe e são sacrifi-
um tipo de formigão com asas (um cupim de asas (PINTURA do Gervane- Acervo MACP) cados. Os que passam a nascer semelhantes ao pai
que se movimenta coreograficamente lembrando sobrevivem e dão nova origem ao povo Bororo. Este lugar
o folguedo). É um folguedo do qual participam é o morro de Santo Antônio localizado próximo a Cuiabá e está inscrito no Brasão da capital. É um monu-
Siriri - Festival em Cuiabá
Foto: Mario Friedlander homens, mulheres e crianças em roda ou fileiras, mento do patrimônio natural tombado pelo poder municipal.
formadas por pares que se movimentam ao som da
viola de cocho, ganzá, mocho, viola de pinho, san- Foto: Mario Friedlander
fona, tamboril. O siriri é composto de cantos em ver- BAÍAS DE CHACORORÉ
sos simples que falam do dia-a-dia e de suas cren- E DE SIÁ MARIANA
ças, muitas vezes improvisados pelos tiradores que
se aproveitam dos fatos da atualidade para criticar,
exaltar ou até mesmo para saudar alguém. É tam- As Baías de Chacororé e Sinhá ou Siá
bém conhecido como dança mensagem, pois é Mariana formadas pelo rio Cuiabá no conhe-
pura expressão corporal e coreografia, que procura cido Pantanal de Mimoso, município de
transmitir respeito e culto à amizade. Barão de Melgaço, destacam-se como luga-
res de práticas sociais de comunidades ribei-
O CURURU ou Função, quase sempre associado rinhas pantaneiras. Além das festividades
ao Siriri é um divertimento típico e popular dos mais religiosas, destacam-se as práticas e saberes
antigos de Cuiabá e de algumas outras cidades de dos modos curar pela medicina das ervas, de
Mato Grosso. Como uma roda de cantoria e dança, construir suas moradas e do manejo do gado
Cururu - Festival em Cuiabá é realizada tanto em festas religiosas como profa- associadas ao movimento das águas com as
Foto: Mario Friedlander nas. A origem correta não pode ser confirmada, mas cheias e vazantes do ambiente natural. Há

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ou riacho das estrelas) deságua no rio Cuiabá, era o Ikuia-pá, - lugar de pesca com flecha arpão. Serviu por especula-se que pode ser originada na dança do “Bacururu” dos índios Bororos, com influências da dança
longo tempo como único meio de comunicação com o resto do país. De seu Porto em Cuiabá as embar- “Catira”, manifestando ritmos africanos e espanhóis. Consiste de no mínimo dois cantadores, sempre do
cações partiam seguindo os rios Paraguai e Prata até Buenos Aires. Importante eixo de transporte para sexo masculino: um tocando viola de cocho e outro ganzá, ou os dois tocando viola. Pode ser praticado
importação e exportação de produtos. Suas margens foram cenário das primeiras roças e várias usinas de também em forma de “porfia” (desafio), sendo que um cantador faz pergunta a outro companheiro, desa-
açúcar. Local de festividades, pescarias, fornecendo o sustento para grande parte da população ribeiri- fiando seus conhecimentos em algum tema. A temática dos cururueiros é sobre casos do dia-a-dia da vida
nha. Inspira e povoa o imaginário mato-grossense. Pode ser considerado um símbolo identitário e iconográ- popular, sátiras, louvação a santos ou declaração. Os cururueiros dançam rodando no sentido horário, a
fico dos cuiabanos e várzea-grandenses e de outras cidades onde passa: Rosário Oeste, Santo Antonio do passos simples mudando e encostando o pé esquerdo ao direito, que fica atrás, e assim sucessivamente.
Leverger e Barão de Melgaço. Muito referenciado na arte e cultura através da literatura, pinturas e outras Atravessam a noite com sapateios e, acompanhado da cachaça e uma outra bebida sob nome de “aluá”,
manifestações artísticas como os cantos do cururu e musicas regionais. Este rio é um elemento chave do feita de arroz ou de milho em fermentação. Alguns cururueiros são os próprios artesãos dos instrumentos
patrimônio imaterial Mato Grosso. utilizados no cururu. Possuem sabedoria acerca das melhores madeiras para a viola. Nem todo cururueiro é
artesão da viola de cocho, mas todo artesão da viola de cocho é exímio cururueiro. Ambas as manifesta-
ções musicais, o Cururu e o Siriri chegaram a ser proibidas por estarem associados aos negros e aos pobres,
PRAÇA DA MATRIZ EM CÁCERES sendo praticada em Cuiabá principalmente após a abolição da escravatura em fisn do séc. XIX.

Desde o perío- DANÇA DO CONGO


do colonial, quando
era a Vila Maria do De origem africana, a Dança do Congo
Paraguai, hoje cida- representa a luta simbólica entre os reinados
de de Cáceres, a Congo e Bamba. O rei de Bamba exige que
Praça da Matriz seja cumprida a promessa de casamento
tinha um papel com a princesa do Congo, que, descontente
importante, pois ali com a reivindicação do rei de Bamba, pren-
aconteciam as Fes- de-o e ordena a guerra. Esta dança compõe-
tas da Cavalhada e se de oitenta personagens formados em dois
as Procissões no grupos: dos Fidalgos da Casa Imperial e dos
Largo da Matriz. Em Congos, cujo chefe recebe título de embaixa-
frente a esta Praça, dor. Os componentes da Casa Imperial apre-
uma baía do rio Para- sentam-se com belíssimas fantasias; enquanto
guai constava como os fidalgos de calças brancas, casacos cetim
porto, e movimentou São Luiz de Cáceres, Praça da Matriz - Álbum Gráfico de Mato Grosso. Acervo NDIHR/UFMT vermelho, chapéus de feltro quebrados a Congo na Festa de São Benedito – Livramento/MT - Foto: Mario Friedlander
a cidade pelas frente com laços de fitas vermelhas e espada
embarcações e pelos apitos dos vapores que ali chegavam e partiam com passageiros e mercadorias no na cintura. Os congos se vestem de penas enfeitadas de pequenos espelhos e machadinhos. A luta é trava-
século XIX e primeira metade do XX. Atualmente, a Praça da Matriz ainda exerce importância para a socie- da com a invasão do reinado pelos Congos quando entram em ação os dois grupos armados de espada e
dade local de Cáceres, onde está instalado o Marco do Jauru, um dos marcos de demarcação do Tratado machadinha terminando com a morte do embaixador. Tudo isso é realizado durante a luta, finalizando com
de Madrid de 1750 entre as coroas de Espanha e Portugal. Na Praça de Igreja Matriz ainda se mantém rema- os Congos balançando os corpos, dançando e cantando. Em Mato Grosso, essa manifestação ocorre nas
nescentes do casario antigo no seu entorno, bares e restaurantes, o cais do porto e as formosas praias. Um cidades de Vila Bela da Santíssima Trindade (julho) e de Nossa Senhora do Livramento, (maio) na época das
ponto de referência de práticas sociais e culturais das pessoas que habitam e visitam a cidade, como o Festas de São Benedito e da Festa do Senhor Divino Espírito Santo. São usados instrumentos como marimba,
Festival Internacional de Pesca que acontece anualmente. tamborete e ganzá, e predomina a figura masculina.

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DANÇA DOS MASCARADOS am o fio, além de plantarem e colherem o algodão. Para a
confecção são utilizados teares verticais onde as artesãs
EM POCONÉ fazem as redes com motivos de rosas ou brasão bordado
nas laterais. Sentada no chão ou em um banquinho, a arte-
A Dança dos Mascarados é uma manifesta- sã começa a urdir de baixo para cima, seguindo a tradição
ção cultural que ocorre durante as Festas de São indígena. A cada fio recém tramado, a artesã usa a bate-
Benedito, do Divino Espírito Santo e de Nossa deira (espécie de régua grossa feita de buriti), cuja finalida-
Senhora do Rosário no município de Poconé de é dar mais resistência ao tecido. Quando já teceu uns
desde o século XVIII. Atualmente apresentam cinco centímetros, ela prende a espichadeira, que é feita
também em eventos culturais. Somente homens de taquara e serve para manter a rede bem estendida.
participam desta dança, mas parte deles se Para tecer uma rede, com uma média de cinco horas por
veste de mulheres “dama” e a outra parte de dia, pode-se demorar até um mês. As artesãs redeiras mais
homens “galã”. Utilizam máscaras e roupas de tradicionais são de famílias das comunidades ribeirinhas de
chita. A dança compreende doze pares assim Bom Sucesso, Limpo Grande, Capão Grande e Souza Lima
denominados: entradas ou cavalinhos, primeira, no atual município de Várzea Grande.
segunda, carango, lundu, vilão e retirada. Há
também a figura do baliza que fica ao centro e
carrega um mastro. Associadas a esta festivida- Redeiras do Limpo Grande- Várzea Grande/MT - Foto: Mario Friedlander
de estão a Cavalhada de Poconé e os suportes
de taquara, algo como grandes castiçais, rica-
mente iluminados com velas.
Dança dos Mascarado na Festa de São Benedito – Livramento/MT
Foto: Mario Friedlander
LUGARES Rio Cuiabá – Foto Laércio Miranda

Minhocão – Foto: Mario Friedlander

MITO DO MINHOCÃO RIO CUIABÁ


O Minhocão é considerado um mito ou O Rio Cuiabá tem grande importân-
uma lenda, parte do imaginário de pescadores cia histórica para Mato Grosso, dando
ribeirinhos dos Pantanal mato-grossense que o nome à sua capital. Nos Anais do Senado
descrevem como um monstro em forma de ser- da Câmara da Vila Real do Senhor Bom
pente. Dizem ser gigantesco, com aproximada- Jesus de Cuiabá (APMT), o cronista Barbo-
mente três metros e meio de largura e de trezen- sa de Sá [1775] diz ser a origem de seu
tos a quinhentos metros de comprimento. É um nome alusivo às plantações de cabaças
ser encantado que vive no fundo dos rios, princi- ou cuias em suas margens. O sertanista
palmente no Cuiabá e nas baías de Chacororé e Pires de Campos (1718) informou habitar
siá Mariana. Surge geralmente na época da em suas cabeceiras os índios cuiabases.
vazante, provocando ondas enormes, naufraga Para os mais antigos moradores Bororo o
embarcações, amedronta os pescadores, ou local onde o córrego do Prainha (Ikuiêbo

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um pouquinho de água e mexe-se até formar uma pasta, adiciona-se mais um pouquinho de água até até mesmo mata estes pescadores. O Minhocão é um ser d`água, de cor preta, que possui um odor forte. É
encher o copinho. É apreciado em pequenos goles. Essa bebida é servida antes do trabalho matinal e após o muito temido pelos pescadores de Mato Grosso que, quando pressentem sua presença, fogem aterroriza-
descanso do almoço, e também quando se recebe visitas em casa. Esse ritual ultrapassou gerações e está dos. Alguns ribeirinhos mato-grossenses relatam a existência de Minhocões com 20 metros de comprimento.
presente até hoje no cotidiano do mato-grossense tradicional. Como disseram tê-lo visto na região ribeirinha do Ribeirão do Pari, muitos o conhecem também por Minho-
cão do Pari.

ARTE PLUMÁRIA RIKBATSA


FUTEBOL DE CABEÇA PARESI
A Arte Plumária na sociedade indígena Rikbatsa é uma (COM BOLA DE SERINGA)
atividade masculina. Os homens caçam as aves, coletam as
penas e as guardam separadas por tipo, tamanho e cor. Esta Trata-se de um jogo no qual só se toca a
arte está ligada á formação do Rikbatsa, e é através dela que bola com a cabeça. Roosevelt em sua viagem
se expressa a sua identidade de guerreiro, caçador e artesão. com Rondon no ano de 1913, o denominou head
Produzem elaborados cocares como o Myhara (cocar de ball. A bola empregada neste jogo é feita pelos
guerra), que implica na coleta de milhares de penas e no próprios índios paresi, feita com a queima da
conhecimento e poderes ligado a sua confecção. Essa é uma película de borracha ( seringa) e cheia de ar.
tarefa para homens maduros, casados e com filhos, conhece- Patrimônio imaterial dos mais representativos do
dores da tradição. Ao fazer o Myhara não se pode demorar modo de fazer indígena Paresi, expressão de
demais, nem restar penas. O que sobrar deve ser utilizado em sociabilidade durante os jogos nas comunidades.
outros cocares. Crêem que se não respeitarem essas regras, o
Myhara começa a produzir malefícios ao indivíduo e sua famí-
lia. Os Rikbatsa têm suas terras no norte de MT, próximos do rio Pintura Corporal Xavante Futebol de Cabeça Paresi ( bola de Seringa)
Juruena, e vivem em aldeias nas fronteiras dos municípios de Foto: Laércio Miranda Foto: Laércio Miranda
Juara, Brasnorte e Cotriguaçu.

REDE CUIABANA PINTURA CORPORAL XAVANTE

A Rede Cuiabana tem como diferencial das outras redes A pintura corporal Xavante separa o cotidi-
do país a beleza do tecido bordado, além de sua durabilida- ano da vida pública e cerimonial. A ornamenta-
de. Os bordados são feitos em pequenas proporções, com ção corporal permite distinguir indivíduos ou
suas respectivas cores, sendo usadas mais tarde como amos- grupos, sendo utilizada em rituais para expressar
tras, que são passadas de geração em geração, conservan- a categorização social dos indivíduos. Seus signi-
Rikbatsa com Cocar Myhara - Foto: Laércio Miranda ficados estão vinculados a cosmologia Xavante.
do em família os padrões característicos. A Rede Cuiabana
(também chamada de rede lavrada) é encontrada em duas Os desenhos são feitos no tronco, braços, meta-
tipologias: trepadeira (com bordados florais, com desenhos que vão de um lado a outro) e a meeiro (os de das coxas e pernas. As cores que mais utilizam
desenhos são formados no centro do leito da rede). A habilidade no manuseio do tear parece ter sido her- são o preto e o vermelho com tinturas do urucum
dada das índias Guanás, que desde muito tempo atrás, assim como as mais antigas tecelãs, fiavam e tingi- e jenipapo.

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MODOS DE FAZER decoração. Há registros de que desde o século XIX trocavam o excedente da produção com outras
comunidades pantaneiras. A tradição do modo de fazer a cerâmica de São Gonçalo mantém-se onde
hoje se localiza o bairro de São Gonçalo Beira Rio, - local de incidência da argila apropriada; e é passado
Viola de Cocho - Foto: Mario Friedlander de mãe para filha, conforme registro do relato da moradora do bairro São Gonçalo Beira Rio, Sra. Dalvete:
VIOLA DE COCHO “(...) o barro vem do rio, após seco, é quebrado, e peneirado, assim o barro é misturado com outro barro
queimado, obtendo-se a massa a ser trabalhada. Este barro queimado vem de pedaços das próprias
peças prontas que quebram e são reaproveitadas. Depois soca a massa até esfarinhar, assim com essa
A Viola de Cocho é um instrumento musi-
massa já maleável pode ser moldada conforme desenho desejado. As peças depois de secas recebem o
cal já reconhecido como patrimônio imateri-
brilho e aguardam mais um tempo de secagem, após irem ao forno por doze horas”. Atualmente com
al, típico do Pantanal Mato-Grossense nos
abertura do mercado turístico atende a demanda dos consumidores locais e externos, com uma produ-
estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul,
ção maior vasilhas e enfeites variados que retratam animais (a galinha, o peixe pacu, etc), frutas (o caju) e
e intrinsecamente associado ao Cururu e Siriri.
até mesmo costumes, como o pescador em sua canoa e o tocadores de cururu com suas violas de cocho.
Fabricado artesanalmente a partir da madei-
Há artistas locais que recriaram a forma de desenhar o barro, e se dedicam na criação de peças de
ra de diferentes espécies da flora regional
cunho religioso com imagens de santos ( ex: São Gonçalo) e presépios, mas tentam manter os valores da
como sarã de leite, sarã d`água, pau de abó-
cerâmica da região.
bora, embiriçu, urucuana e algumas outras. O
artesão, em geral o seu mesmo tocador, o
cururueiro, utiliza um molde para riscar a
madeira. O tronco é escavado como um
GUARANÁ RALADO
cocho até as paredes ficarem lisas e finas. O
braço é curto, possui uma paleta inclinada, Com os índios mawês (do Pará) os mato-grossenses, -
com ângulo acentuado. É composta de dife- principalmente o cuiabano e outros pantaneiros da região de
rentes partes: cavalete, pestana, cravelhas, Cerâmica de São Gonçalo - Foto: Mario Friedlander Cáceres e Poconé, aprenderam o uso do Guaraná Ralado
cordas e os pontos de barbante encerado. A que adoçavam com mel. O pantaneiro desenvolveu sua
maioria das violas possui cinco cordas, mas maneira própria de prepará-lo. Primeiramente é colhido, torra-
pode variar de acordo com o artesão. O orifí- do e moído e forma-se um Pau de Guaraná juntamente com o
cio no tampão também é um aspecto variá- cacau e farinha de mandioca. Aprecia-se tomá-lo logo ao
vel. As cordas eram produzidas de vísceras de despertar na madrugada, em jejum; e o som característico do
animais, mas hoje incorporam as linhas de ralar, faz parte do processo de despertar, como também o
nylon e até de metal. som da colherinha mexendo o pó no copo, como um badalo
de sininho, também compõe este ritual da manhã do panta-
neiro. Os amazonenses utilizam a língua do peixe pirarucu para
CERÂMICA DE SÃO GONÇALO ralar o Guaraná, mas como no Pantanal não se encontra este
peixe, os pantaneiros utilizam uma grosa de aço, para o con-
Eespecialistas na arte de moldar o barro, sumo. Usa-se também um couro de animal para aparar o pó
os ceramistas de São Gonçalo começaram a durante o processo de ralar. O pantaneiro coloca de três a
modelar utensílios domésticos para o consu- quatro colherinhas de açúcar e duas colherinhas do pó de
mo próprio como potes, jarras, panelas de Guaraná dentro de um copinho de cristal; e antes de adicio-
barro, castiçais e outros utensílios para casa e nar a água gelada, o pó é misturado ao açúcar, coloca-se Guaranazinho Pantaneiro - Foto: Mario Friedlander

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