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Diálogo entre Paulo Freire e Walter Benjamin: inquietudes sobre a escola e a sociedade

DIÁLOGO ENTRE PAULO FREIRE E WALTER


BENJAMIN: INQUIETUDES SOBRE A ESCOLA
E A SOCIEDADE

Lidnei Ventura 
Universidade do Estado de Santa Catarina

Vitor Malaggi 
Universidade do Estado de Santa Catarina

resumo O artigo tem como objetivo colocar em diálogo ideias de Paulo Freire
e Walter Benjamin, autores inquietos e críticos de seu tempo, a partir
de rememorações de infância ressignificadas pelo olhar dos adultos,
em duas obras exemplares: Cartas a Cristina e Infância em Berlim
por volta de 1900. Foi usada a metodologia de Benjamin, cujo proce-
dimento consiste em extrair, na forma de mônadas, o objeto literário
do contínuo da história, a fim de analisar as relações dos fragmentos
monadais com a totalidade histórico-cultural problematizada pelos
autores. O artigo focaliza o olhar dos dois pensadores sobre a educa-
ção escolar do seu tempo, dirigindo a ela duras críticas e desvelando
o seu caráter conservador e autoritário.
Palavras-chave: Paulo Freire. Walter Benjamin. Dialogismo entre au-
tores. Educação escolar. Mônadas.

abstract DIALOGUE BETWEEN PAULO FREIRE AND WALTER


BENJAMIN: CONCERNS ABOUT SCHOOL AND SOCIETY
The article aims to put into dialogue ideas of Paulo Freire and Walter
Benjamin, restless and critical authors of his time, from childhood
recollections re-signified by the adults’ look at two exemplary works:
Letters to Christina and Childhood in Berlin around 1900. It was used
the methodology of Benjamin, whose procedure consists in extract-
ing, in the form of monads, the literary object of the continuum of
history, in order to analyze the relations of monadic fragments to
the historical-cultural totality problematized by the authors. The ar-
ticle focuses on the two thinkers’ views on school education of their
time, addressing harsh criticism and revealing its conservative and
authoritarian character.
Keywords: Paulo Freire. Walter Benjamin. Dialogism among authors.
Schooling. Monads.

284 Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, Salvador, v. 04, n. 10, p. 284-298, jan./abr. 2019
Lidnei Ventura; Vitor Malaggi

resumen DIÁLOGO ENTRE PAULO FREIRE Y WALTER BENJAMIN:


INQUIETUDES SOBRE LA ESCUELA Y LA SOCIEDAD
El artículo tiene como objetivo poner en diálogo ideas de Paulo Frei-
re y Walter Benjamin, autores inquietos y críticos de su tiempo, a
partir de rememoraciones de infancia resignificadas por la mirada de
los adultos en dos obras ejemplares: Cartas a Cristina e Infancia en
Berlín alrededor de 1900. Se utilizó la metodología de Benjamín, cuyo
procedimiento consiste en extraer, en forma de mónadas, el objeto
literario del continuo de la historia, a fin de analizar las relaciones
de los fragmentos monaderos con la totalidad histórico-cultural pro-
blematizada por los autores. El artículo se centra en la mirada de los
dos pensadores sobre la educación escolar de su tiempo, dirigiendo
a ella duras críticas y desvelando su carácter conservador y autori-
tario.
Palabras clave: Paulo Freire. Walter Benjamin. Dialogismo entre auto-
res. Educación escolar. Mónadas.

Introdução
Neste artigo, pretendemos colocar em diálogo burguesa e suas marcas distintivas de opres-
dois pensadores inquietos e resolutos na críti- são.
ca que fazem ao seu tempo e, em boa medida, Muitas outras encruzilhadas no caminho po-
à educação escolar que experimentaram. deriam interseccionar as ideias e pensamentos
Walter Benjamin e Paulo Freire são pensa- destes dois autores, sobretudo pelo olhar pris-
dores inquietos e que inquietam. Não se pode mático que busca o real em suas múltiplas di-
passar pela obra dos dois sem ser envolvido mensões. Podemos tão somente aqui apontar
em suas provocações e desassossegos. Isso limiares possíveis de uma longa prosa, seja à
porque evocam uma visão oblíqua do mun- sombra de uma mangueira, num café em Paris,
do, colocando em perspectiva as certezas das numa viagem ao Chile ou a Capri, ou, então, no
ciências e a perenidade das instituições. exílio, esse não lugar de pertencimento, mas que
Embora não possamos confundir a perso- permite ao mesmo tempo um olhar desviante
nalidade esperançosa de Freire e a do melan- da terra natal e suas fantasmagorias. Pois é jus-
cólico Benjamin, cujos traços marcam a produ- tamente o desvio do olhar que em Benjamin se
ção teórica dos dois autores, parece-nos que converte em método (“Methode is Umweg”) e
a conversa entre eles sugere muitos pontos de que, em Freire, surge como princípio gnosioló-
contato, tais como a centralidade da lingua- gico de desvelamento do mundo. Por aproxima-
gem enquanto signo de distinção de humani- ção, podemos ver que tanto “um-weg” quanto
dade [a linguagem em geral em Benjamin e o “des-velamento” são palavras compostas por
dialogismo em Freire], a escovação da histó- prefixos que guardam uma dupla negação: ne-
ria a contrapelo – que dá voz aos oprimidos e gação de um olhar engessado e aurático para as
esquecidos da historiografia oficial ou a mili- coisas do mundo e negação da alienação (FREI-
tância crítica contra o status quo da sociedade RE, 1987) enquanto modo de ver o mundo.

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Diálogo entre Paulo Freire e Walter Benjamin: inquietudes sobre a escola e a sociedade

Embora seja vasto o horizonte de limiares jamin sobre o impulso alegórico destruidor/
de encontros entre Freire e Benjamin, que pre- conservador em Baudelaire:
tendemos minimamente enunciar, um deles
Aquilo que é atingido pela intenção alegórica
pode parecer à primeira mão inusitado: a in- é arrancado aos contextos orgânicos da vida:
fância. Não a infância idílica e pura dos dois é destruído e conservado ao mesmo tempo. A
autores, mas, sim, a infância revisitada pela alegoria agarra-se às ruínas. É a imagem do de-
visão poiética do adulto, cujas reminiscências sassossego petrificado. O impulso destrutivo de
Baudelaire não está nunca interessado na eli-
evocam imagens que são postas em relação
minação daquilo que lhe cai nas mãos. (BENJA-
com o tempo e com os acontecimentos futu- MIN, 2006, p. 161)
ros. Para tanto, visitaremos duas obras auto-
biográficas dos autores: A infância em Berlim A reboque da citação acima, apresentamos
por volta de 1900 (2012b), de Benjamin, e Car- também o método que guiará nossa exposição,
tas a Cristina, de Freire (2013). procedimento epistemológico que consiste em
Estas são obras que não podem ser tão fa- arrancar imagens do universo infantil dos con-
cilmente classificadas no gênero autobiográ- textos orgânicos da vida dos autores a fim de
fico, pois ambas são obras de rotura, alegó- imobilizar, em pequenas mônadas, “ilumina-
ricas, que no seu desassossego transcendem ções profanas” desassossegadas que olham o
as autobiografias dos autores na medida em passado para ressignificar ações no presente,
que são colocadas a serviço da expressão de ou, como a dupla face de Janos, reconfigurar
imagens de pensamento que pretendem cons- presente e passado.
truir para e com os leitores, sempre abertas [e
abrindo] novas significações. A esse respeito, O exílio e a origem das cartas
Benjamin fala que essa mesma disposição es- Em uma das suas teses sobre o conceito de his-
tava em Proust, pois o autor de Em busca do tória, Benjamin, numa complexa formulação,
tempo perdido nunca é somente um excelente orienta o historiador [o pensador em geral, o
autobiógrafo: é alguém que põe as rememo- crítico literário ou o filósofo] que a produção
rações a serviço da arte para a construção de de uma dada obra está intrinsecamente vin-
uma grande imagem de um mundo e de um culada a uma vida vivida por seu autor. O que
tempo. Já dizia ele, em A imagem de Proust: significa dizer que uma obra em geral apresen-
“Sabemos que Proust não descreveu em sua ta e representa um modo genérico do proces-
obra uma vida como ela de fato foi, e sim uma so histórico de se viver. Diz ele na Tese XVII:
vida rememorada por quem a viveu” (BENJA- “O resultado desse procedimento é que assim
MIN, 2012a, p. 38). se preserva e transcende (aufheben) na obra o
E assim fazem Freire e Benjamin, nas suas conjunto da obra, no conjunto da obra a época
incursões ao mundo da memória, para extrair e na época a totalidade do processo histórico
de lá, no lusco-fusco das reminiscências, um (BENJAMIN, 2012a, p. 251, grifos do tradutor).
certo “despertar” de “fantasmagorias”, deixan- Ao que parece, então, para se entender de-
do a criança falar pelo adulto a fim de redi- terminado pensador, há que se pesquisar não
mir o passado e imobilizá-lo em imagens de a sua vida particular, mas situá-lo no conjunto
desassossego [Unruhen], eivadas de esforços da sua obra para transcender nela uma época
alegóricos, porque sempre imprecisos e su- e o contexto histórico em que sua obra está
jeitos às benesses de Mnemosine, uma deusa inserida. É assim que ele encontra o motivo da
quase sempre temperamental. Assim fala Ben- morte da tradição em Kafka e os motivos mo-

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dernos na obra de Baudelaire e demais auto- Angicos/RN, que alfabetizou 300 adultos em 45
res, sobre os quais se dedicou a estudar. dias, dando origem a uma proposta de alfabe-
Evidentemente, só podemos aqui seguir tização revolucionária. Somadas aos 5 anos de
outra pista de Benjamin e indicar alguns limia- trabalhos no Instituto Chileno para a Reforma
res das vidas, das obras e da totalidade histó- Agrária (ICIRA), tais experiências foram siste-
rica, contentando-nos em indicar observações matizadas n’A pedagogia do oprimido [1968],
acerca de rudimentos de vidas e obras tão em que explicita a necessidade da construção
amplas e complexas, renunciando a quaisquer de uma pedagogia não para o oprimido, mas
perspectivas ilusórias de esgotamento, já que que parta dele, assim como apresenta a me-
“[...] teremos, aliás, de falar sempre de porme- todologia de trabalho ancorada em temas ge-
nores, quando a observação mergulha na obra radores que brotam do contexto de vida dos
e na forma da arte para avaliar o seu conteúdo educandos.
substancial (Gehalt)” (BENJAMIN, 2016, p. 33). Assim, é o exílio que lhe permite olhar para
Para efeito deste artigo, o texto de Benja- trás, para a terra-pátria e reconstruir dialeti-
min que escolhemos para dialogar com as Car- camente teoria e prática da educação como
tas a Cristina de Freire, Infância em Berlim por conscientização e prática da liberdade/liber-
volta de 1900, será concebido também como tação, duas locuções que seriam fundamen-
uma longa missiva, posto que ambos escrevem tais nas obras de Freire. A diáspora freireana
cartas. Freire responde à sobrinha Cristina, já continuaria por mais tempo, voltando ao Brasil
do retorno do exílio, depois de ter matutado somente em 1980, depois de 16 anos de pere-
longamente sobre a resposta a um conjunto de grinação pelo mundo. Do Chile, lecionou em
indagações acerca da sua constituição como Harvard em 1969 e, depois, seguiu a Genebra
educador. Benjamin escreve de um passado para trabalhar no Conselho Mundial das Igre-
distante, da sua infância em Berlim, para o jas (CMI), prestando consultoria educacional
filho Stefan [a quem dedica a obra], contan- a diversos países, sobretudo africanos. Foi no
do suas peripécias de criança e imortalizando período suíço que foram gestadas as Cartas a
para o filho e à posteridade imagens de uma Cristina, em resposta às provocações de uma
cidade cujos monumentos, paisagens e modos indagadora sobrinha com quem se correspon-
de vida foram em parte destruídos por guer- dia desde os anos de 1970, mas que agora que-
ras e pelas constantes tempestades “vindas do ria mais: “‘Gostaria’, dizia ela, ‘de que você me
paraíso” do progresso moderno – como ele diz fosse escrevendo cartas falando algo de sua
na metáfora do seu Anjo da História, inspirado vida mesma, de sua infância e, aos poucos,
no Angelus Novus [1920], de Paul Klee. dizendo das idas e vindas em que você foi se
Os dois autores têm muita coisa em comum, tornando o educador que está sendo’” (FREIRE,
sendo marcante em suas obras a condição de 2013, p. 36).
exilados e mesmo de apátridas, pois ambos Assim, graças à menina Cristina, temos hoje
têm o passaporte retido pelas autoridades. essa joia prismática que são as cartas freirea-
Freire foi acusado de subversão e passou 72 nas em resposta às suas curiosidades pueris,
dias preso, em 1964, após o Golpe Civil-Militar no sentido erasmiano.
que derrubou o governo de João Goulart. Na Se Freire voltou do exílio, Benjamin jamais
condição de exilado é que ele iniciou um pro- retornaria: nem vivo, nem morto. Após as per-
cesso de reflexão e teorização das experiên- seguições aos judeus com a ascensão no na-
cias de alfabetização popular, sobretudo a de cional-socialismo em 1932, em março de 1933

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Benjamin imigra voluntariamente para Ibiza, p. 47) da memória involuntária, ambos não re-
com uma rápida passagem por Paris, para não memoram tão somente uma infância idílica ou
voltar mais. onírica, mas, colocam as memórias à serviço
Tal como em Freire, as memórias de Infân- do combate contra a exploração e a alienação
cia em Berlim por volta de 1900 têm origem no generalizada do fantasmagórico e opressor
exílio. Depois de uma estadia em Ibiza, onde mundo burguês. Essa é uma parte do mundo
poderia viver mais tranquilamente com 70 ou que se propõem a “despertar”, como na metá-
80 marcos por mês, conforme conta numa car- fora usada por Benjamin no estudo de Paris do
ta a Scholem, retornou à França para, num ho- século XVIII. De modo que Cartas a Cristina e
tel, em Nice, colocar em prática o plano antes Infância em Berlim parecem conter um furtivo
cogitado de dar cabo da própria vida. O por- objetivo de acordar a infância de seus sonhos
quê de não ter executado esse plano ninguém pueris pela sineta despertadora do olhar adul-
sabe. Só se sabe que Benjamin estava próximo to sobre seus condicionantes histórico-sociais,
do seu aniversário de 40 anos e que o balanço a fim de emancipar no passado e no presente
geral era de que as coisas até ali foram muito os párias da história.
mal (SCHOLEM, 1989). Algumas das imagens despertadas dos so-
Mas é possível que o balanço tenha retroa- nhos infantis dos autores serão evocadas a
gido até à infância, momento em que o adulto partir de um esforço metodológico de trans-
Benjamin se encontra com a criança que foi, formar tais imagens em mônadas, unidades
em flashes de felicidade, proteção, carinho e infinitesimais de pensamento que imobilizam
despreocupação. Talvez o cheiro da maçã no e refletem uma luz momentânea do aconte-
café da manhã antes da escola, da fumaça do cimento. Segundo o método benjaminiano, a
fogão à lenha ou o despertar de outros senti- apropriação alegórica significa a cristalização
dos tenham provocado intensas memórias in- imagética do mundo, arrancando-o do seu
voluntárias, tal qual a madeleine com chá de contexto vital para permitir outras significa-
Proust, autor no qual se inspira. A Crônica ber- ções. É como uma fotografia do objeto, que
linense, texto seminal da Infância em Berlim, ao mesmo tempo o destrói e conserva na sua
foi uma obra encomendada pela revista Litera- essência. Eis aí a imagem benjaminiana como
rische Welt, o que possivelmente ativou o ba- “dialética da imobilidade” (BENJAMIN, 2007, p.
lanço geral, dada a penúria financeira geral em 505), cuja função metodológica é de destrui-
que vivia, levando-o a acatar um pensamento ção-salvação do fenômeno ou sua petrificação
próprio que havia formulado um ano antes em sempre tributária de novas interpretações.
O caráter destrutivo: “O caráter destrutivo não Em Benjamin, as mônadas são imagens da
vive do sentimento de que a vida vale a pena história imobilizadas, sacadas do tempo vazio
ser vivida, e sim de que o suicídio não com- e homogêneo e do pensamento, para repre-
pensa” (BENJAMIN, 1986, p. 189). sentar uma ideia acerca do universo, unindo a
De qualquer modo e por razões diversas, um só termo, no fenômeno, sua ideia e repre-
Freire e Benjamin colocam as suas cartas a fa- sentação [exposição] por meio de uma imagem
vor da luta política e põem suas autobiografias exemplar, “[...] que retêm a extensão do tempo
no jogo de marcação de lugares na luta de clas- na intensidade de uma vibração, de um relâm-
ses. Misturando ficção e realidade, como Freire pago, do Kairos” (GAGNEBIN, 2013, p. 80, grifo
diz ter ouvido de Piaget na TV sobre a memória no original). Segundo sua própria definição: “A
ou a “força rejuvenescedora” (BENJAMIN, 2012a, ideia é uma mônada – isso significa, em suma,

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que cada ideia contém a imagem do mundo. tidas, visto que estão sob a dupla dimensão
A tarefa imposta à sua representação é nada do lembrar e do esquecer. De modo que, nos
mais nada menos que a do esboço dessa ima- dois autores, a rememoração tem a função de
gem abreviada do mundo” (BENJAMIN, 2016, p. preservar o passado, não como ele de fato foi,
36-37). mas como é alargado pela reminiscência, a fim
Passamos, então, a comentar algumas das de reinventar o presente. Parece ser isso que
imagens da infância cristalizadas nas memó- Freire (2013, p. 41) quer dizer quando se lembra
rias de seus autores e o que elas revelam ao de que “[...] em tenra idade já pensava que o
presente. mundo teria de ser mudado”; muito próximo
das preocupações benjaminianas com o “ in-
ferno” dos vencidos expressos por “troncos
Em busca do tempo perdido: o
sanguinolentos” (BENJAMIN, 2012b, p. 79) da
tempo reencontrado Coluna da Vitória.
O título do item é proposital e homônimo ao Exercitando uma velha capacidade humana,
sétimo volume da grande obra de Proust, Em que Benjamin diz ter entrado em decadência na
busca do tempo perdido, livro inspirador da modernidade, a de perceber semelhanças, es-
Crônica berlinense, que Benjamin transforma- colhemos três mônadas que entendemos como
ria na Infância berlinense (WITTE, 2017). similares em Benjamin e em Freire, embora os
Nas rememorações da infância, seja em contextos históricos e culturais de ambos fos-
Berlim de 1900 ou do Recife da metade do sé- sem muito diferentes. De qualquer forma, o es-
culo XX, Benjamin e Freire recuperam fios de forço é buscar nos autores “imagens que lam-
memória que dialogam não somente com suas pejam” e façam brilhar no “pequeno momento
biografias, mas que se relacionam ao aconteci- individual o cristal do acontecimento total”,
mento total, à vida coletiva. E nisso se distan- interrompendo o contínuo da história dos au-
ciam de Proust, que representa a solitude do tores para imobilizar uma imagem exemplar.
romancista moderno. Mas não como puro deleite teórico ou eivado
Na medida em que trazem para o presente de curiosidade biográfica, mas como prope-
imagens do passado, os autores lançam não dêutica de como o passado pode servir de luz
somente uma nova luz sobre ele, iluminando ao presente. Chamaremos essas mônadas de:
-o profanamente com o olhar do adulto, mas “1. O anjo de natal, mendigos e prostitutas e o
também reivindicam a mudança do presente, piano e a gravata de meu pai”; “2. ‘Seu’ Armada
pois do passado vem a força messiânica de e Sr. Knoche”; 3. Maçãs, mamões, memórias in-
uma reparação necessária, de algo inacabado voluntárias e razões de radicalidade.
que precisa ser redimido. Nesse processo, é A ideia consiste em aplicar o método benja-
reconfigurado o olhar que rememora, na medi- miniano de monadalisar os fragmentos narra-
da em que problematizam o que foi visto pelas tivos dos autores, procurando captar imagens
crianças, distanciando-se delas e falando por que retenham micromundos de significados
elas. Sobre isso, Freire (2013, p. 22, grifos do au- histórico-culturais.
tor) diz que “Os ‘olhos’ com que revejo já não “O anjo de natal, mendigos e prostitutas e
são os olhos com que ‘vi’. Ninguém fala do que o piano e a gravata de meu pai” é uma môna-
passou a não ser na e da perspectiva do que da construída em dois tempos: ao passo que
passa”. No mesmo tom, Benjamin (2012a) diria evoca excertos de duas narrativas da Infância
que as memórias que nos chegam não são ní- em Berlim: “Um conto de natal” e “Mendigos e

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prostitutas”, entrecruza esses fragmentos com memoração, desenterrando dos escombros do


dois objetos simbólicos presentes na segunda passado o mundo dos que não comiam, “[...] o
Carta a Cristina: “A gravata de meu pai e o pia- mundo dos meninos e das meninas dos córre-
no alemão da tia Lourdes”, que expressam e gos, dos mocambos, dos morros” (FREIRE, 2013,
denunciam condições de classe. p. 53). De modo que nossa fragmentária mô-
Já a mônada “‘Seu’ Armada e Sr. Knoche” nada freire-benjaminiana procura “imobilizar”
põe em relação retalhos de histórias que pro- algum brilho de instantes tão intensos, como
põem uma crítica direta da escola tradicional, os descritos a seguir:
autoritária e instrumental, personificada no Tudo começava com os pinheiros. Ao sairmos
“Seu” Armada, duro mestre-escola de Freire; para a escola, certa manhã, surgiam grudados
símile do Sr. Knoche, que encarna o modelo de nas esquinas os lacres verdes que pareciam fixar
escola enfadonho e destituído de significado, a cidade em centenas de pontos, como se fos-
se um enorme presente de Natal. Não obstante,
cujos aborrecimentos são rememorados por
um belo dia a cidade rompia esse invólucro, e
Benjamin. de suas entranhas brotavam brinquedos, nozes,
Por fim, em “Maçãs, mamões, memórias in- palha e adorno para a árvore: o mercado do Na-
voluntárias e razões de radicalidade”, busca- tal. Mas com ele surgia também outra coisa: a
mos articular a crítica efetivada por Benjamin pobreza. [...] Porém, como aquela constelação
por vezes agraciava uma das janelas abando-
e Freire nas mônadas anteriores, sobretudo
nadas, enquanto muitas permaneciam escuras,
pelo viés de uma reflexão profunda sobre a es- e outras, ainda mais tristonhas, se atrofiavam à
cola e as condições de classe, que brotam de luz de gás da noite emergente, parecia-me que
lampejos mnemônicos renascidos pela via do essas janelas natalinas continham em si a soli-
“recobrar com/pelos sentidos”. dão, a velhice e a indigência - tudo aquilo que
os pobres calam. (BENJAMIN, 2012b, p. 122-123)
O anjo de natal, mendigos e prostitutas e o
Em minha infância fui prisioneiro do antigo e
piano e a gravata de meu pai novo Oeste [...] Nesse bairro de proprietários,
Como disse Jeane Marie Gagnebin (2013, p. permaneci encerrado sem saber da existência
73), a Infância em Berlim por volta de 1900 é de outros. Os pobres – para as crianças ricas
de minha idade – só existiam como mendigos.
uma “pequena obra prima”. E essa condição
E foi um grande avanço do conhecimento quan-
exemplar é reafirmada em cada estilhaço de do comecei a entender a origem da pobreza na
imagens de um passado que dá fôlego ao Anjo ignomínia do trabalho mal remunerado [...] Mas
da História, que lhe permite respirar para “[...] naquela época eu não podia conceber outra
acordar os mortos e juntar os fragmentos” forma de revolta que não fosse à sabotagem, e
esta obviamente por experiência própria. [...] De
(BENJAMIN, 2012a, p. 245) de um mundo em ruí-
todo modo, não havia dúvida que o sentimento
nas. Esse anjo visita o Benjamin criança numa
– infelizmente, ilusório – de abjurar minha mãe,
noite de natal, travestido de anjo natalino, sua classe a minha, era o responsável pela atra-
para “salvar” os esquecidos da história; assim ção sem igual de me dirigir a uma prostituta em
como o ajuda na construção de um front de plena rua. (BENJAMIN, 2012b, p. 127-128)
batalha contra o esquecimento e a invisibili- Nascidos, assim, numa família de classe média
dade dos “outros”: pobres, mendigos e pros- que sofrera o impacto da crise econômica de
titutas, liberando-se da prisão no novo Oeste, 1929, éramos ‘meninos conectivos’ [...]. (FREIRE,
em cujo feudo se via encarcerado pelo clã fa- 2013, p. 52)
miliar. Analogamente, Freire não somente ade- No esforço constante de rever-me recordo
re, mas reitera a função despertadora da re- como, apesar da fome que nos solidarizava

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com os meninos e meninas dos córregos, não pretensa posição de classe. Como bem ressal-
obstante o companheirismo que nos unia, nos ta Freire, “[...] fronteiras de classe que o ho-
brinquedos, como na busca de sobrevivência,
mem de hoje percebe claramente, ao voltar-se
éramos para eles, porém, muitas vezes, meni-
sobre o seu passado, e que o menino de ontem
nos de outro mundo, acidentalmente o seu. Es-
tas fronteiras de classe que o homem de hoje não entendia [...]” (FREIRE, 2013, p. 51-52).
percebe claramente, ao voltar-se sobre o seu Em Benjamin, contudo, encontramos na
passado, e que o menino de ontem não enten- “descoberta” da miséria no mundo um senti-
dia, eram expressadas, de forma ainda mais cla- mento inicial de “repulsa” aos valores e com-
ra, por alguns dos pais de nossos companheiros
portamentos de classe expressos no seu nú-
de então. [...]. (FREIRE, 2013, p. 52)
cleo familiar. O que, no limiar, o conduz a uma
Em nossa casa havia um piano alemão em que aproximação com aqueles que, na socieda-
Lourdes, uma de nossas tias, tocava Chopin,
de de classes, são vistos como “párias” – por
Beethoven, Mozart. Bastava o piano para nos
exemplo, as prostitutas. A poética benjaminia-
distinguir, como classe, de Dourado, de Regi-
naldo, de Baixa, de Toinho Morango, de Gerson na, ao comparar imageticamente o pretenso
Macaco, alguns amigos daquela época. O piano, “belo” da cidade enfeitada para o Natal, con-
em nossa casa, era como a gravata no pescoço trastada com as janelas onde residem os “es-
de meu pai. [...]. (FREIRE, 2013, p. 53) quecidos” pela sociedade, o conduzem ao mo-
O piano de Lourdes e a gravata de meu pai fa- vimento de, por um lado, descobrir a “feiura”
ziam o mesmo jogo que os jacarandás e as lou- no mundo e, por outro, rebelar-se contra ela
ças de alto requinte fazem ainda hoje no Nor- de forma ainda romântica, buscando conectar-
deste brasileiro entre os aristocratas decaden-
se com este outro lado da sociedade ao passo
tes. (FREIRE, 2013, p. 54)
em que, também, nega aquilo que constitui o
É interessante observar que, nas Cartas a seu núcleo familiar burguês.
Cristina, Freire inicia seu périplo rememorativo Obviamente, tal constatação não mitiga o
enfatizando justamente as questões de classe fato de que, no pequeno Freire, táticas menos
que perpassaram a sua infância e que, pelos explícitas acabam por conduzi-lo a uma apro-
olhares desviantes do adulto, são distintivas ximação existencial e de classe com seus pares
para marcar a sua “tomada de consciência” populares, por assim dizer. Constitutivo desta
acerca de como tal condição constitui a radi- visão de “menino conectivo”, que percebemos
calidade de sua proposta político-pedagógica. também em Benjamin, rebela-se por assim di-
As táticas simbólicas utilizadas por sua família, zer contra o status quo pelo simples fato de
enquanto momentos estratégicos de sobrevi- transitar por entre dois mundos, não os cin-
vência no interior de uma sociedade classista, dindo tal como a gravata de seu pai fazia, em
pode-se dizer que reforçavam na criança jus- nível ideológico. Por mais que tal atitude não
tamente a construção da ideia de que “[...] o apague as distinções de classe e suas artima-
mundo teria de ser mudado” (FREIRE, 2013, p. nhas para demarcá-las, Freire, já em sua infân-
42). Tais questões de classe explicam, também, cia, andarilhava pelas fronteiras, pelas bordas
o fato de que em Freire tal tomada de cons- móveis que constituem o tecido social, ao ter,
ciência, inicialmente, não vem adensada por em seus mais diletos amigos, filhos da classe
uma repulsa explícita a tais táticas simbólicas. trabalhadora expropriada pela sociedade – os
Isto porque, de fato, eram necessárias para meninos dos mocambos e córregos. Através
que a sobrevivência da família fosse possível deles, podemos assim entender, o Freire adulto
em níveis minimamente condizentes com sua revisitando sua infância ao mesmo tempo que

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Diálogo entre Paulo Freire e Walter Benjamin: inquietudes sobre a escola e a sociedade

“redescobre” e “reafirma” uma dimensão es- rias – às vezes, de pura sobrevivência, como
sencial da sua práxis político-pedagógica: a de em Freire –, muitas vezes tenta-se escamo-
que, em um mundo social cindido em classes teá-la, encobri-la. Freire e Benjamin demons-
antagônicas, colocar-se ao lado dos oprimidos tram, portanto, o papel dialético que o sim-
significa com eles construir uma pedagogia de bólico possui neste processo de reprodução
sua libertação. Ou seja, não uma visão idealista do metabolismo social – ou seja, a construção
de liberdade individual, de cunho meramente e a manutenção dos valores, formas de ser e
psicológico, mas liberdade enquanto processo ideias das classes sociais.
contínuo de libertação – luta para transformar
os impeditivos concretos ao “ser mais” dos ho- ‘Seu’ Armada e Sr. Knoche
mens e mulheres, dos quais a questão de clas- A presente mônada rememora nos autores os
se é, sem dúvida, um dos principais elementos. tempos de escola, fazendo ressurgir do cená-
Assim, vemos que a dimensão de classe rio educacional dois personagens exemplares
na realidade social é percebida inicialmente de quanto o espaço escolar pode ser opres-
por Freire e Benjamin por intermédio de sua sor, sobretudo quando flagram as crianças
dimensão simbólica, portanto ideológica. Con- que foram em situações humilhantes ou sob
frontando-as com aspectos de sua condição aborrecimentos constantes. Longe de falar ao
concreta, conseguem realizar um processo passado, esses lampejos memoriais iluminam
inicial de ad-miração que os guia ao reconhe- não só o presente, mas o futuro, reivindicando
cimento das origens deste estado de coisas. a realização de uma educação emancipatória,
Algo que, no Freire e no Benjamin adultos, se- prometida desde o Iluminismo. Esta mônada
que compusemos tem por base algumas ilumi-
rão marcas distintivas da práxis emancipatória
nuras da sexta Carta a Cristina e duas narra-
que advogam. No natal em Berlim, Benjamin
tivas da constelação benjaminiana: Duas ima-
parece constatar duas cidades distintas, cin-
gens enigmáticas e A biblioteca do colégio.
didas pelo lugar que os sujeitos ocupam na
(re)produção do social. A gravata e o piano em ‘Seu’ Armada era um homem alto, um homem
Freire são, em Benjamin, a cidade enfeitada do povo, de poucas letras, gordo como Adeli-
no, bem mais moço que ele e sem, certamente,
para o Natal. De ambos, contudo, emergem seu
jamais os momentos de ternura de que Adeli-
contrário dialético: em Freire, a crua realidade no pontilhava seus instantes ásperos. (FREIRE,
que os obriga a se distinguirem simbolicamen- 2013, p. 101)
te no tocante à questão de classe como pura
Só em saber das estórias em torno do professor
estratégia de sobrevivência; em Benjamin, ir-
eu reagia duramente contra ele. Enquanto es-
rompe da suposta harmonia e beleza citadina cutava, por exemplo, as estórias que nosso ami-
do Natal imagens de janelas escuras, que abri- go nos contava na beira do rio, eu sonhava com
gam tristezas tantas – a solidão, a indigência e vê-lo proibido de ter escola e posto de joelhos
“tudo aquilo que os pobres calam”. sobre grãos de milho, tal qual ele fazia com os
meninos. (FREIRE, p. 101)
Em suma, as reminiscências dos adultos
Benjamin e Freire sobre a infância acabam por [...] ‘Seu’ Armada, contado, não era uma exceção
apontar para algo de essencial na totalidade, nem uma extravagância cultural. Havia outros
tantos Armadas, cuja disciplina férrea imposta
a partir do fragmentário-particular: que uma
aos alunos era inclusive requerida pelos pais
realidade permeada de “malvadeza” existe a e pelos mais convencidos de que o tratamen-
partir da condição de classe dos sujeitos nela to duro é que faria de seus filhos gente séria.
presentes, apesar de que, por artimanhas vá- (FREIRE, 2013, p. 102)

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Lidnei Ventura; Vitor Malaggi

[...] A tradição autoritária brasileira, a memó- escola, sua relação com a cultura e os contex-
ria escravocrata, a experiência de exacerba- tos socioeconômicos em que se situa. E, neste
ção do poder que corta, entre nós, as clas-
sentido, em como tais relações espelham-se
ses sociais, tudo isso explicada ‘seu’ Armada.
‘Seu’ Armada não poderia, na verdade, existir
nas atitudes daqueles sujeitos que compõem
só, como se fosse incômoda exceção. (FREIRE, tais espaços institucionais de ensino-aprendi-
2013, p. 102) zagem. Sem pretendermos explorar, contudo,
toda a miríade relacional acima anunciada,
‘Seu’ Armada não contestava; pelo contrário,
confirmava nossas tradições autoritárias. (FREI- intencionamos compreender como a escola,
RE, 2013, p. 02) enquanto microcosmo social, muitas vezes in-
trojeta em suas práticas a “cultura do silêncio”,
O senhor Knoche tomou o lugar da senhorita
Pufahl. A essa altura, eu já frequentava a esco- denunciada por Freire e, também, por Benja-
la. Tudo o que sucedia na sala de aula, de modo min. Enquanto marca distintiva da sociedade
geral, me repugnava. Contudo, não é por uma capitalista, patriarcal e escravocrata brasilei-
de suas punições que o senhor Knoche me vem ra, historicamente construída sob o jugo co-
à lembrança, mas pelo ofício de vidente, que
lonizador português (posterior e, atualmente,
prevê o futuro, e que não lhe caía mal. (BENJA-
MIN, 2012b, p. 93) diríamos, do Império sintetizado no mercado
financeiro global), tal cultura desenvolve-se
[...] E do nome que outrora havíamos memoriza-
mirando possibilidades de anulação da auto-
do não sabia mais que o que o verso da Canção
nomia, do posicionar-se criticamente frente
dos Cavaleiros, agora que eu a compreendia,
continha o significado que o senhor Knoche nos à realidade. Marca que Benjamin encontrará,
havia prognosticado na aula de canto. A tumba também, no tradicional sistema educacional
vazia e o coração disposto - dois enigmas de de inspiração prussiana.
cuja solução a vida há de continuar a me ser A “cultura do silêncio” presente no Nor-
devedora. (BENJAMIN, 2012b, p. 93)
deste brasileiro de Freire significava a trans-
Era no intervalo da aula que a coisa era feita: formação dos seres humanos, compreendidos
juntavam-se os livros que, em seguida, eram como “seres ontologicamente e historicamen-
de novo repartidos entre os pretendentes. Nem
te vocacionados a ser mais”, em meros “ob-
sempre conseguia ser bastante ágil. Muitas
vezes vi livros por mim almejados caírem em jetos” passivos e manipuláveis pelas classes
mãos de quem não saberia apreciá-los. Quanta dominantes desta sociedade. Ou seja, seres
diferença entre o seu mundo e o dos compên- sem processo de busca contínua, sem ponto
dios escolares [...] Pior eram as casamatas dos de decisão em si mesmos, sem radicalidade
poemas pátrios, onde cada verso equivaleria a
e, assim, sem criticidade. Para Freire (2010b),
uma cela [...] Porém, fossem esses livros agra-
dáveis ou medonhos, aborrecidos ou excitantes
a cultura do silêncio, enraizada na formação
- nada podia diminuir-lhes o encanto. Pois este histórica da sociedade brasileira, conforma-se
não dependia do conteúdo, mas sim do fato de na sua dimensão comunicacional por meio de
me garantirem um quarto de hora que tornasse ações em que um sujeito transmite informa-
mais tolerável toda a miséria da monotonia das ções, ordens, comunicados a outros sujeitos.
aulas. (BENJAMIN, 2012b, p. 115-117)
Logo, os receptores das informações não ope-
Ao que parece, a mônada acima apresen- ram nenhuma transformação sobre os signifi-
ta-se em pares historicamente isonômicos da cados contidos nas palavras que compõem a
escola: miséria-monotonia; repugnância-casti- mensagem, posto que são passivos neste pro-
go. Ao mesmo tempo, sintetiza possibilidades cesso. Assemelham-se, de fato, mais a um “ob-
diversas de reflexões pedagógicas em torno da jeto” receptor do que propriamente a um su-

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jeito comunicante (FREIRE, 1977). Desta forma, uma negação do papel da cultura na formação
Freire (2010a, p. 74) expõe que, na “[...] cultura dos sujeitos. Em última instância, ao papel que
do silêncio, existir é apenas viver”; ou seja, o o currículo escolar pode e deve ter nos pro-
sujeito é transformado em uma mera “presen- cessos educativos. Se Freire implicitamente
ça” no mundo. Não existe em todo o potencial postula uma crítica à noção de alfabetização
humano que lhe é intrínseco, que é o de ser enquanto memorização do código escrito, ao
sujeito da ação e da reflexão com os demais denunciar o “ba be bi bo bu” da didática “ar-
seres humanos, em uma relação de igualdade madista”, nem por isso desconsidera o papel
e reciprocidade em que se busca compreender que a escola e seus(uas) educadores(as) pos-
e transformar o mundo, ou seja, humanizá-lo. sam ter na apropriação crítica da língua escri-
Tal dimensão cultural, arraigada fortemen- ta. Basta lembrar como, nas demais Cartas a
te nas estruturas sociais autoritárias, parecem Cristina, Freire recorda-se de professoras(es)
ser percebidas por Freire e Benjamin como in- que lhe colocaram a língua portuguesa não
fluências decisivas nos processos educativos enquanto objeto “dado” de conhecimento,
escolares. Para Benjamin, o exercício docente mas objeto a ser curiosamente apropriado
do senhor Knoche aproxima-se mais ao do vi- pelo educando, com a intervenção pedagógi-
dente do que de um educador que, por inter- ca do educador. Benjamin também não parece
médio de sua intervenção pedagógica decisi- ver nos livros uma expressão unívoca de uma
va, deveria convidar os educandos com suas cultura escolar livresca; parece, isto sim, per-
curiosidades para a alegria e o desafio de des- ceber que, quando a cultura sintetizada num
velamento da realidade. Benjamin, em um tom livro, se é posta como desafio prazeroso de
irônico, critica a educação ausente de conexão aprendizagem, estamos superando justamen-
com a vida “vivida” pelas crianças, aquela que te a concepção epistemológica equivocada
sempre parece se remeter ao: “no futuro vocês da “educação bancária”, denunciada por Frei-
saberão para que isso serve”. Enxerga, assim re enquanto “concepção digestiva do saber”
tal como Freire, um traço do autoritarismo – (FREIRE, 2010b).
sintetizado neste caso nas figuras docentes Neste sentido, poderíamos também acres-
– desprendendo-se da totalidade social mais centar que a crítica ao autoritarismo presente
ampla, que busca (de)formar os sujeitos para na escola verbalista, enfadonha, desconec-
se tornarem apáticos frente à realidade e aos tada da realidade dos educandos, feita tanto
outros. É por isso que, para Benjamin, a es- por Benjamin quanto por Freire, não postula
cola em seus momentos mais “escolares” lhe validade pedagógica a processos educativos
parece “repugnante”, “monótona”. Entretanto, sem qualquer diretividade. Como bem ressalta
é instigante e inusitado pensar que a imagem Freire, se trata de, ao negar o autoritarismo e a
benjaminiana reivindicaria muito mais a visão licenciosidade, afirmar “[...] uma prática demo-
profética do professor do que ele imaginaria. crática em que nem a autoridade se exacerbe,
Revisitando o passado, o adulto Benjamin ja- afogando a liberdade, nem esta, hipertrofiada,
mais saberia que a vida lhe seria devedora so- anule a autoridade, mas em que, limitando a
bretudo de uma “tumba vazia” na distante e liberdade, a autoridade igualmente se limite”
fronteiriça Portbou. (FREIRE, 2013, p. 102). Tanto pela experiência
É importante perceber, entretanto, que vivencial de Freire quanto de Benjamin, perce-
nem Benjamin, nem Freire, associam a tradi- bemos que a presença de “Armadas” e “Kno-
ção verbalista e memorizadora da escola com ches” nos remete a (re)pensar a escola como

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um verdadeiro espaço de conhecimento, que involuntárias e razões de radicalidade. Nela,


não se dá alijado da curiosidade, da busca in- são imobilizadas imagens nas quais os adultos
cessante, do prazer de aprender, do perguntar recordam as crianças que foram para inventa-
que move e nos direciona “de corpo todo” ao riar sua história e problematizar o presente.
conhecimento. Processos que, em última me-
Quando a estufa já estava abastecida, ela punha
dida, são contra-hegemônicos à relação desta uma maçã para assar na estufa. Daí a pouco, a
instituição com o que dela se espera pela so- grade da portinhola da lareira se desenhava no
ciedade opressora – o mero “treinamento” de chão como um rubro bruxulear. E era como se,
pessoas para, no futuro, desempenharem seu para o meu cansaço, aquela imagem lhe tives-
se dado o suficiente para o dia. Isso sempre se
papel na reprodução da engrenagem social.
dava àquela hora; apenas a voz da babá per-
turbava a prática por meio da qual a manhã de
Maçãs, mamões, memórias involuntárias e
inverno costuma me unir aos objetos em meu
razões de radicalidade
quarto. A persiana ainda não fora erguida quan-
Da teoria da memória proustiana, Benjamin do já pela primeira vez eu afastava a tranca da
enfatizou o papel das memórias involuntárias, portinhola da estufa a fim de seguir o rastro da
aquelas que nos chegam de assalto, que trazem maça no duto. Por vezes, ainda mal alterara seu
aroma. [...] Lá estava a fruta escurecida e quen-
consigo a integralidade do ser, pois suas reme-
te [...] Sentia que o fugaz conhecimento que me
morações vêm a lume pela integralidade dos aportava em seu aroma podia me escapar com
sentidos, ampliando e mesmo ressignificando toda a facilidade ao passar por minha língua.
a concepção racionalista da memória que fica Conhecimento que, às vezes, me instilava tanta
presa ao intelecto. Para Benjamin, ao contrá- coragem que, no caminho da escola, me servia
ainda de consolo. Quando lá chegava, porém,
rio, pelas armadilhas da memória, quanto mais
no contato com meu banco, toda aquela fadiga,
tentamos nos lembrar, mais nos esquecemos.
que parecia ter se dissipado, voltava decupli-
E antes de lembrar o passado, o processo de cada. E com ela o desejo de poder dormir até
rememoração trata de presentificá-lo, pois “[...] dizer basta. Devo tê-lo experimentado milhares
a maioria das recordações que buscamos apa- de vezes, e, mais tarde, de fato, ele se cumpriu.
recem à nossa frente sob a forma de imagens Custou-me, porém, muito tempo para nisto re-
conhecer que fora sempre vã a esperança que
visuais” (BENJAMIN, 2012a, p. 50).
eu nutria de ter colocação e sustento garanti-
A mônada que apresentamos adiante tem a dos. (BENJAMIN, 2012b, p. 85)
intenção de reiterar o papel da diversidade dos
Jaboatão ia se dando a nós como um novo mun-
sentidos, cujas impressões funcionam como
do, bem mais vasto do que o que nós experi-
ativadoras de recordações: texturas, aromas,
mentávamos até então, o do quintal de nossa
odores... Aliás, é o odor da madeleine mergu- casa do Recife. Um mundo cheio do verde da
lhada no chá que ativa em Proust as reminis- cana-de-açúcar, do cheiro de seu caldo, do
cências do Caminho de Swann, o primeiro dos cheiro do melado dos engenhos. [...] Mas um
sete livros que compõem sua grande obra: Em mundo também em que a exploração e a misé-
ria dos camponeses iam se revelando a nós em
busca do tempo perdido. O cheiro da maçã na
seu dramático realismo. É aí que se encontram
mônada “Manhã de inverno”, da Infância em as mais remotas razões de minha radicalidade.
Berlim, será conjugado a fragmentos de epi- (FREIRE, 2013, p. 115)
sódios de Jaboatão, contados por Freire na 7ª
[...] em pouco tempo éramos os ‘meninos co-
Carta a Cristina, hibridizando as narrativas para nectivos’ a que antes me referi, com amigos en-
originar uma nova imagem de pensamento, tre os que comiam e entre os que quase nada
que chamamos de Maçãs, mamões, memórias comiam.

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Com um deles, Dino, menino de classe média, supor que cada maçã se converteu frequente-
como eu, já várias vezes referido nestas cartas, mente em um brilhante texto que “[...] instilava
costumava conversar, na beira do rio, à sombra
tanta coragem que, no caminho da escola [da
dos ingazeiros, enquanto pescávamos, sobre as
nossas dificuldades. Foi ele que me ensinou, um vida], me servia ainda de consolo” (BENJAMIN,
dia, um prato gostoso, mas sobretudo acessível 2012b, p. 85). Pelo lado freireano, nos parece
as nossas possibilidades, e que se tornou uma que os mamões compartilham também expe-
constante em nossa dieta: fritada de mamão. ‘É riências de resistência e consolação, acabando
preciso’, dizia ele com segurança, ‘que o mamão
por revelar o mundo da fadiga dos explorados
esteja em vez. Nem maduro nem verde, em vez’,
repetia para que eu não errasse.
e cansados camponeses. Enquanto mediador
da experiência dos que comiam ou quase nada
Os mamoeiros dos vizinhos estavam a nosso al-
comiam, os mamões informam acerca de “ca-
cance e os ovos de galinhas andarilhas, pondo
ças não autorizadas”, como dizia Certeau (2014,
aqui e ali, não faltavam. (FREIRE, 2013, p. 115-116)
p. 38), enquanto tática de subsistir em terra
Em um dos seus mais belos textos, “O narra- alheia. Diante de uma imagem potente como
dor”, Benjamin diz que narrar é partilhar expe- essa, Freire não regateia em atualizá-la como
riências; neste sentido, Freire e Benjamin são razão de radicalidade. Percebe-se também, ao
exímios narradores, pois as memórias acima longo da obra benjaminiana, que muitas das
compartilhadas conosco mais do que contar razões da acentuada radicalidade do seu pen-
lindas histórias, retratam como as “retretas” da samento estão presentes nas memórias da In-
infância participam do jogo de forja da subjeti- fância em Berlim, que são despertadas pelos
vidade adulta. De modo que as rememorações cheiros e imagens de pensamento que enxa-
da maçã trazem consigo não somente o cheiro meiam o pensamento do adulto e acabam por
e o sabor da fruta cozida, mas sim todo um con- salvar o passado do esquecimento para ressig-
junto de significados, assim como os mamões nificar o presente.
fritos. A maçã surge como um alento à fadiga
proporcionada pelo banco escolar, que reitera
em voltar. Esse passo está por demais ligado às
Não querendo acabar...
narrativas antecedentes do quanto a escola é Escrever é correr riscos. Mas repetindo um
um lugar enfadonho, a ponto de decuplicar a adágio atribuído a Sêneca, a coragem é jamais
fadiga experimentada pela criança berlinense fora de propósito. Parece corajoso e ao mes-
que tinha que acordar cedo numa manhã de mo tempo arriscado tentar colocar em diálogo
inverno. Certamente isso nos lembra também pensadores tão diferentes, como tentamos ao
as manhãs difíceis que crianças de todos os lu- longo desta discussão. Todavia, mais do que
gares experimentaram para se dirigir à escola; qualquer outro impulso, procuramos reivin-
mas nem todas guardam, nem deveriam guar- dicar uma faculdade humana em decadência,
dar, essa sensação de fadiga decuplicada. como disse Benjamin, a faculdade de perceber
Ao que parece, esse sentimento de criança semelhanças, cuja percepção está ligada a um
cansada acaba se revelando também no adul- relampejar, a uma iluminação súbita, que pu-
to fadigado por não encontrar neste mundo desse de alguma forma entrelaçar similitudes
um lugar definido e sustento próprio. Como desses poderosos autores.
se sabe, a vida econômica de Benjamin foi de Em função disso, não queremos acabar...
apertos constantes, vivendo no limite e, muitas Esperamos ter apontado alguns limiares de
vezes, em condições precárias; mas se pode entrecruzamentos teóricos de Walter Benja-

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min e Paulo Freire. Embora tais aproximações ______. Passagens. Org. ed. alemã Rolf Tiedemann;
possam escandalizar “puristas” de um ou ou- Org. ed. brasileira Willi Bolle. Belo Horizonte: Edito-
tro autor, a iniciativa teve por objetivo a busca ra da UFMG, 2007.

de semelhanças entre preocupações que vi- ______. Obras Escolhidas I, Magia e técnica, arte e
nham desde a infância e se tornaram centrais política: ensaios sobre literatura e história da cul-
nas suas elaborações teóricas de adulto. Como tura. Tradução de Sérgio P. Rouanet. São Paulo: Bra-
a obra de Benjamin chegou tardiamente ao siliense, 2012a.
Brasil, justamente quando Freire já estava no
______. Obras escolhidas II, Rua de mão única. Tra-
exílio, e contingências históricas não tenham dução de Rubens J. T. Filho; José Carlos M. Barbosa.
permitido o diálogo direto dos dois autores, São Paulo: Brasiliense, 2012b.
ousamos neste breve trabalho apontar inquie-
______. Origem do drama trágico alemão. Tradução
tudes comuns a esses pensadores.
de João Barrento. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
Cabe reiterar, finalmente, o movimento
2016.
desviante do método que orientou o artigo: o
processo de produção de mônadas a partir das CERTEAU, M. de. A invenção do cotidiano: artes de
narrativas de infância presentes em A infância fazer. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

em Berlim por volta de 1900 e em Cartas a Cris- FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e
tina, em função do caráter fragmentário tanto outros escritos. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
de recorte quanto da análise de narrativas de 2010a.
ambos os autores. Diante disso, o esforço me-
________. Educação como prática da liberdade. 33.
todológico foi o de arrancar algumas narrati- ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010b.
vas infantis do contínuo das histórias vividas
pelos autores, transformá-las em mônadas e ________. Extensão ou comunicação? São Paulo:
Paz e Terra, 1977.
analisar como essas imagens micrológicas de
pensamento reivindicam no seu interior es- ________. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro:
pectros de um tempo e de uma totalidade his- Paz e Terra, 1987.
tórica que supera a vivência individual.
________. Cartas a Cristina: reflexões sobre minha
Longe de quaisquer pretensões de acaba- vida e minha práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.
mento ou conclusões estanques, coube ao ar-
tigo apenas sinalizar as possíveis relações de GAGNEBIN, J-M. História e narração em Walter Ben-
jamin. São Paulo: Perspectiva, 2013.
aproximação entre dois dos maiores pensado-
res do século XX. KOTHE, F. R. A alegoria. São Paulo: Ática, 1986.

SCHOLEM, G. Walter Benjamin: a história de uma


Referências grande amizade. São Paulo: Perspectiva, 1989.

BENJAMIN, W. Documentos de cultura, documentos WITTE, B. Walter Benjamin: uma biografia. Belo Ho-
de barbárie: escritos escolhidos. São Paulo: Cultrix; rizonte: Autêntica, 2017.
Edusp, 1986.

______. Parque central; a modernidade. Tradução Recebido em: 04.10.2018


de João Barrento. Lisboa: Assírio & Alvim, 2006. Aprovado em: 20.03.2019

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Diálogo entre Paulo Freire e Walter Benjamin: inquietudes sobre a escola e a sociedade

Lidnei Ventura é Mestre em Educação e Cultura pela UDESC e Doutor em Educação pela UFSC. Professor adjunto do Cen-
tro de Educação a Distância da UDESC, atuando na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado de Ensino e outras
disciplinas da base curricular da Pedagogia. e-mail: llrventura@gmail.com

Departamento de Pedagogia a Distância, CEAD/UDESC.


Rua Antônio Heill, 388, apt. 201. Canasvieiras. Florianópolis, SC. Cep: 88054-160. Fone: (48) 99117 4017

Vitor Malaggi é Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEDU/UPF). Professor assisten-
te do Centro de Educação a Distância da Universidade do Estado de Santa Catarina (CEAD/UDESC). e-mail: malaggi@
gmail.com

Departamento de Pedagogia a Distância, CEAD/UDESC.


Rua Salvatina Feliciana dos Santos, 155, apto 308A. Itacorubi. Florianópolis, SC. Cep: 88034-600. Fone: (48) 99954 6095

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