Marcelo Sabbatini2
Universidade Federal de Pernambuco – Recife-PE
Resumo
A partir das ideias de Henry Jenkins sobre a convergência digital, marcadas pelas
narrativas transmídia, pela inteligência coletiva e por uma “cultura participatória”,
traçamos um paralelo entre a realidade dos meios de comunicação de massa e a
educação a distância (EaD), na tentativa de compreender quais elementos presentes na
atual indústria do entretenimento poderiam subsidiar a participação mais efetiva dos
educandos no processo de ensino-aprendizagem mediado pelas redes informáticas. A
autonomia do receptor/usuário, a “brecha de participação”, o letramento para as novas
mídias, as habilidades sociais e o acesso e o uso crítico da tecnologia, entendida como
ferramenta para consecução de objetivos significativos de determinada comunidade,
surgem como os aspectos mais relevantes na convergência entre comunicação-
educação.
Palavras-chave
Introdução
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Trabalho apresentado no GT – Comunicação Educativa do XI Congresso Lusocom, realizado de 4 a 6 de agosto de
2011 em São Paulo, Brasil.
2
Doutor em Teoria e História da Educação, Universidad de Salamanca (Espanha). Professor Adjunto do
Departamento de Fundamentos Sócio-Filosóficos da Educação – UFPE e professor-pesquisador da Universidade
Aberta do Brasil – UAB; email: marcelo.sabbatini@gmail.com
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Lusocom – Federação Lusófona de Ciências da Comunicação
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O mesmo poderia ser dito em relação aos espaços mais formais da educação
mediada tecnologicamente. As primeiras versões digitais das salas de aula revelam-se
limitadoras, o reproduzir as mesmas circunscrições, as mesmas barreiras que isolam
estudantes específicos, de cursos específicos, em um mesmo espaço. O debate mais
atual sobre os ambientes de aprendizagem5 virtuais leva em conta apontam para o
benefício de espaços mais abertos. Restrições das ações possíveis, interações
ritualizadas e o contato nulo ou limitado com o espaço exterior (mesmo que
ciberespaço) têm sido a norma na educação a distância, pese o discurso que situa esta
modalidade como um processo mais aberto.
Como observação subjetiva, nos foros de discussão acadêmica dedicados à
educação a distância,parece haver um consenso, e um certo descontentamento, em
relação à barreira cultural que os projetos devem vencer, no sentido de superar o ensino
centrado no professor e a passividade dos aprendentes. Mas como bem nota Carmen
Maia (2008), uma autora “militante” em prol da educação a distância mediada pelas
redes informáticas, os altos níveis de interação praticados através das redes sociais pela
juventude dos “nativos digitais” não teria reflexo nos ambientes virtuais de
aprendizagem, espelhos da educação tradicional quanto à apatia e à falta de motivação.
O título do artigo onde expôs seu balanço, pessimista, do estado da educação online no
Brasil é indicativo deste paradoxo: “ Na rede sim, na educação não”.
Já para Oliveira (2002 apud PRETI, 2001), existe uma contradição entre as
propostas e a implementação dos projetos de educação a distância. No nível discursivo,
os processos dialógicos e a perspectiva construtivista, com o aprendente como centro.
Na prática, as ações se enquadrariam em um modelo fordista, burocratizado, sem
identidade regional, com a marginalização da dimensão humanizadora da educação.
A partir de um posicionamento crítico, também cabe aos pesquisadores da
educomunicação refletir sobre os pressupostos ideológicos e políticos destes ambientes
de aprendizagem ampliados. Principalmente, no que cerne à uma revisitação do
tecnicismo ou “neo-tecnicismo”, podemos observar a formação de um discursos que
privilegia os elementos tecnológicos e as dimensões econômicas-organizacionais das
instituições como focos da mediação pedagógica. É neste sentido que os recursos
educativos multimídia são vistos como alternativas para se “competir no ambiente pós-
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O termo ambiente de aprendizagem engloba recursos e tecnologias de aprendizagem, modos de ensinar, modos de
aprender e conexões com os contextos sociais e globais. O termo também inclui as dimensões comportamentais e
culturais do ser humano, a ampliação dos espaços de aprendizagem mais além do hardware,do software e da rede
(WARGER & DOBBIN, 2009).
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livro texto”, com um “melhor controle dos custos”, a escolher “qual é melhor –
impresso ou digital” em termos de eficiência de custos e de viabilidade legal (CENTER
FOR DIGITAL EDUCATION, 2010, p. 4), em um claro viés tecnicista.
Diante deste cenário, que em certa medida contraria as expectativas otimistas
que se criaram ao redor do binômio educação-comunicação alavancado pela potência
interativa-comunicativa proporcionada pelas tecnologias de informação e comunicação,
indagamos-nos: como recuperar o potencial dialógico e emancipador destas mesmas
tecnologias? Como tornar o sujeito do processo educativo efetivamente autônomo,
participativo, criador de seu próprio conhecimento, mais além da passividade da sala de
aula tradicional que agora se reproduz nos ambientes virtuais de ensino? Buscaremos
algumas vias de análise na emergente cultura da convergência, amparados na evidência
de que nas narrativas transmídia, sim, o receptor tem se transformado em um elemento
ativo, capaz de reconfigurar o processo comunicacional através de sua participação.
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A “brecha de participação”
Presente tanto no discurso acadêmico como nas ações públicas que visam o
desenvolvimento, a exclusão digital (também chamada de “brecha digital”) aparece
como uma séria preocupação e impedimento para a realização do potencial emancipador
da Internet. Especificamente em relação à cultura de participação, Jenkins aborda o
tema da desigualdade a partir de uma perspectiva mais ampla, denominando-a “brecha
de participação”, que inclui o capital social e cultural. Neste sentido, o eixo de análise
não seria tanto o acesso aos dispositivos técnicos, mas “às habilidades e aos
conhecimentos necessários para participar significativamente dessa cultura emergente”
(NAVARRO, 2010, p. 16).
De forma relacionada, a brecha poderia ser inter-geracional, com a emergência
dos já mencionados “nativos digitais”. Por outro lado, é preciso notar que o acesso às
tecnologias por parte das novas gerações é desigual, com diferentes graus de habilidade
distribuídos entre os indivíduos; para Jenkins, a premissa de que os estudantes são
“nativos” e os professores “imigrantes” é ilusória, pois todos se encontram em uma fase
de transição, na tentativa de aprender como usar as tecnologias emergentes
(GUALTIERI, 2011).
Finalmente, Jenkins nota as “práticas básicas da era digital”, para grande parte
da população, somente são acessíveis a partir do sistema de ensino formal, mas que
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Em termos objetivos, o letramento nas mídias digitais deveria ser algo orgânico,
apreendido através de tarefas que inerentemente utilizem a tecnologia para se conseguir
um objetivo. Nesta linha de pensamento, utilizar a tecnologia pela própria tecnologia,
sem que esta acrescentasse algo ao processo de ensino-aprendizagem seria um contra-
senso; pelo contrário, mesmo em ambientes dotados de baixa tecnologia as habilidades
e atitudes de participação e de colaboração poderiam ser desenvolvidas de forma
construtiva em uma nova mentalidade, de acordo com estruturas multidisciplinares, em
uma mudança de postura intelectual:
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deveríamos nos perguntar qual o seu valor, o que ele nos permite fazer
que não poderíamos realizar na aprendizagem tradicional face-a-face.
Penso que estas pessoas que encontram a tecnologia enquanto adultos
irão aprender como usá-la quando tiver sentido para ela, quando
estiver encrustada em uma prática comunitária que permita que elas
usem a tecnologia com fins significativos. Elas não irão aprender a
usar a tecnologia quando forem solicitadas a utilizar a tecnologia, no
abstrato (GUALTIERI, 2011).
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