2. A maior parte do Antigo Testamento foi escrita em hebraico, sendo uma pequena parte
escrita em Aramaico (Ed 4,8-6.18; 7,12-26; Dn 2,4b – 7,28; Jr 10,11). O hebraico, vale lembrar, é
um dialeto cananeu, ou seja, só surgiu a partir da ocupação da Palestina pelas tribos pré-
israelitas, por volta do século XIII a.C. A escrita só surgiu em Israel na segunda metade do
século VIII a.C.
4. A primeira tradução das escrituras hebraicas para outro idioma foi o Targum. Tal obra
consiste numa versão da TANAK em aramaico (algumas vezes parafraseada), feita após o
exílio babilônico. O grau de liberdade interpretativa varia de acordo com o autor do Targum.
Os quatro Targuns mais importantes são1:
1
Cf. TEIXEIA, Paulo; ZIMMER, Rudi. Manual do Seminário de Ciências Bíblicas, 2008.
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2
6. No segundo século a.C., em Alexandria (Egito), a Torá foi traduzida para o grego (= LXX,
Setenta ou Septuaginta), sendo os demais livros concluídos mais tarde. Os dois códex mais
antigos da LXX são o Vaticano e o Sinaítico (séc. IV), ambos disponíveis online2. Esses dois
manuscritos omitem trechos dos evangelhos só encontrados em textos escritos alguns anos
mais tarde.
7. Em 405, atendendo ao pedido do Papa Damaso, Jerônimo produziu uma versão da Bíblia
hebraica (e do NT) em latim vulgar (A Vulgata Latina):
“In principio creavit Deus caelum et terram. Terra autem erat inanis et vacua et
tenebrae super faciem abyssi et spiritus Dei ferebatur super aquas” (Gn 1,1-2).
8. Nos primeiros séculos, na tentativa de fazer frente às críticas ao AT vindas das camadas
cultas (como as de Celso) e de ver o AT como anúncio profético (sem que o autor do texto
estivesse consciente disso) a respeito do Messias, os Pais da Igreja recorreram à alegoria
como método de interpretação. Orígenes, por exemplo, empregava a alegoria para eliminar
o constrangimento causado por algumas passagens:
9. Com a Reforma e a adoção do sensus literalis, a alegoria foi caindo em desuso. Lutero
criticou o método alegórico e propôs uma hermenêutica focada na intenção do autor do
texto:
2
Disponíveis em: <http://www.codex-sinaiticus.net/en/manuscript.aspx> e
<http://digi.vatlib.it/view/MSS_Vat.gr.1209>. Acesso em 24/02/2015.
3
De principius, IV, 16 apud LEEUW, J. J. Van Der. A dramática história da fé cristã: desde seu início até a morte
de Santo Agostinho, p. 74.
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3
“É uma ousadia que beira o sacrilégio usar as Escrituras em função do nosso capricho
e jogar com elas como se fossem uma bola de tênis tal como muitos antes faziam... O
primeiro labor de um intérprete é permitir ao autor que diga o que disse, em vez de
atribuir a ele o que nós pensamos o que havia de dizer”4.
9. O judeu holandês Baruch Espinoza (ao lado de Thomas Hobbes), no século XVII,
inaugurou o método histórico-crítico fazendo diversas observações críticas acerca da autoria
do Pentateuco (Tratado político-teológico, 1670). Espinoza criticou as leituras místicas,
alegóricas e midráshicas, classificando-as como fantasias. O filósofo vai além de Lutero, ao
defender que o método hermenêutico para se ler a Bíblia deve seguir os mesmos princípios
do método usado para o estudo da natureza: para interpretar a Bíblia é necessário se ter um
conhecimento histórico exato dela para então se descobrir o pensamento de seus autores.
Com Espinosa surge a valorização da gênese do texto (análise diacrônica). Uma exposição
clássica dos princípios que regem o método histórico-crítico foi apresentada por Troeltsch
[Sobre o método histórico e dogmático da teologia, 1898], que estabeleceu três critérios
básicos5:
10. Tais princípios, vale dizer, não são adotados na íntegra por todos os exegetas que
empregam o método (mas são levados às últimas consequências por estudiosos como John
Dominic Crossan). A Igreja católica, por exemplo, aceita o método histórico-crítico com
ressalvas, tal como expresso no documento “A interpretação da Bíblia na Igreja”6, da
Pontifícia Comissão Bíblica.
11. Como alternativa ao método histórico-crítico, visto por alguns como incapaz de superar a
distância entre texto e leitor, abrindo a possibilidade de atualizar o texto para a comunidade
4
Assertio omnium articolorum, 1520. WA 7, p.96ss. apud SHÜLER, Arnaldo. Dicionário Enciclopédico de
Teologia, p. 416.
5
NAVARRO, Luis Sánchez; GRANADOS, Carlos (Edit.). Escritura e interpretación: los fundamentos de la
interpretación bíblica, p. 135.
6
Disponível em: <
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_doc_19930415_interpr
etazione_po.html>. Acesso em 25/02/2015.
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4
11. O texto canônico do AT só ganhou a forma atual após um longo e contínuo processo
redacional. Há quem negue a existência dessa redação continuada e tome o texto tal como
ele se encontra hoje (exegese fundamentalista e/ou confessional). Há os que se debruçam
sobre a história de constituição do texto, na tentativa de resgatar a intenção original do
primeiro autor e daqueles que fizeram os retoques redacionais (método histórico-crítico). Há
ainda outros que mesmo reconhecendo que o texto passou por muitas mãos até que a
redação final ficasse pronta, optam ou dão preferência ao resultado final (métodos
estruturalistas).
12. O Pentateuco passou por um longo processo redacional com vistas a um programa
teológico bem definido. O final de cada bloco do TANAK contém um epílogo exortando o
povo ao cumprimento da aliança feita com Moisés. Dt 34,10-12 é texto final para toda a Torá:
7
YOFRE-Simian, Metodologia do Antigo Testamento, 2000, p. 76
8
CROATTO, Severino. Hermenêutica bíblica, 1986, p. 24.
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5
A terceira parte do cânon, os Escritos, encerra o Tanak como um todo convidando o povo a
subir para Jerusalém em 2 Cr 36,23:
“Assim fala Ciro, rei da Pérsia: Iahweh, o Deus do céu, entregou-me todos os
reinos da terra; ele me encarregou de construir para ele um Templo em
Jerusalém, na terra de Judá. Todo aquele que, dentre vós, pertence a todo o
seu povo, que seu Deus esteja com ele e que se dirija (‘alah) pára lá!”.
13. O verbo ‘alah “caminhar para cima”, é mesmo com o qual se descreve o Êxodo do Egito
(Ex 1,10; 3,8.17; 12,38; 13,18, etc.). O fato de Crônicas ter sido inserido no final do Tanak revela
que havia intenção de um final programático. O livro é síntese da história de Israel, e encerra
uma mensagem de esperança aos judeus da diáspora, desolados após a destruição do
templo pelos romanos em 70 d.C.
14. Os três blocos (Lei, Profetas, Escritos) foram ligados por um nexo temático:
Sê firme e corajoso, porque farás este povo herdar a terra que a seus
pais jurei dar-lhes. Tão somente sê de fato firme e corajoso, para teres
o cuidado de agir segundo toda a Lei que te ordenou Moisés, meu
Início dos servo. Não te apartes dela, nem para a direita nem para a esquerda,
Profetas para que triunfes em todas as tuas realizações. Que o livro desta Lei
esteja sempre nos teus lábios: medita nele dia e noite, para que
tenhas o cuidado de agir de acordo com tudo que está escrito nele.
Assim serás bem sucedido nas tuas realizações e alcançarás êxito (Js
1,6-8).
Fim dos
Lembrai-vos da Torá de Moisés, a quem dei leis... (Ml 3,22).
Profetas
Feliz o homem que não anda... mas se compraz na Torá
Início dos de Iahweh e recita sua Torá dia e noite... e tem êxito em
Escritos tudo o que faz. Sim Iahweh conhece o caminho dos
justos, ao passo que o caminho dos maus se perde (Sl 1,1-
3.6).
15. Além do nexo teológico e temático unindo a Lei, os Profetas e os Escritos, também é
possível perceber que em alguns casos os textos de determinados livros foram ordenados
numa sequência planejada por um compilador. Este é o caso de livro de Salmos e de
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Provérbios. O livro de Salmos é dividido em cinco partes, divisão esta que é provavelmente
inspirada na divisão da Torá, também em cinco partes. Ao final de cada bloco há uma
doxologia (1,41; 42-42; 43-89; 90-106 e 106-150). O Salmo 150 é, todo ele, uma doxologia final:
Quem toma nas mãos o livro de provérbios surpreende-se com o fato do livro começar com
o título “Provérbios de Salomão” (que, aliás, é repetido em 10,1) e se deparar com um novo
título em 22,17: “sentenças dos sábios” (repetida em 24,23). Em 30,1 e em 31,1 surgem novos
títulos: “palavras de Agur” e “palavras de Lamuel (que sequer são israelitas!). Fica claro que
tais provérbios foram sendo colecionados até ganharem a forma atual. O Salmo 72,
aparentemente atribuído a Salomão no v. 1, parece indicar uma autoria diferente em no v.
20: “Fim das orações de Davi, filho de Jessé”.
16. A Bíblia cristã também segue uma sequência planejada de acordo com a intenção da
comunidade que a canonizou. A Bíblia cristã, por exemplo, optou por colocar Malaquias
como livro que encerra o Antigo Testamento, refletindo uma preocupação messiânica, pois
este livro termina com a promessa de enviar o profeta Elias antes da vinda do dia do Senhor
(Ml 3,23), ligando-se a Mateus, que interpreta a passagem como sendo uma referência a
João Batista (Mt 11,14);
17. Há quem defenda a tese de que os judeus fixaram suas Escrituras Sagradas nos 39 livros
que integravam o antigo cânon da Palestina (Cânon palestinense), em 90 d.C. na cidade de
Jâmnia9. Mas há algumas questões a considerar:
Num diálogo registrado por Lucas, Jesus instrui seus discípulos “começando por
Moisés e por todos os profetas [...] o que dele se achava em todas as Escrituras”
(Lc 24,27). A expressão “todas as Escrituras” sugere que na época da redação de
Lucas (80/85?) uma lista de livros canônicos já estava fixada.
Flávio Josefo, em Contra Apion, limita o número das Escrituras judaicas a 39
livros. Mas não é possível precisar se seu testemunho é anterior ou posterior a
Jâmnia. Josefo fixa o cânon no tempo de Esdras: “porque [depois de Esdras] não
houve uma sucessão precisa de profetas”. O prólogo da tradução grega do
Eclesiástico (130 a.C.) parece contradizê-lo: “Pela Lei, pelos profetas e por outros
escritores que os sucederam”.
9
Segundo J. P. Lewis a expressão “Concílio de Jâmnia” é anacrônica, uma vez que dá à reunião um caráter
oficial, cf. J. P. Lewis, “What Do We Mean By Jabneh?”, JBR 32 (1964) 128 apud OVERMAN, J. Andrew. O
Evangelho de Mateus e o judaísmo formativo, p. 52.
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7
18. Quanto aos Dêuterocanônicos é um erro dizer que foram rejeitados pelo fato de terem
sido escritos em grego. Hoje sabemos que somente 2º Macabeus e Sabedoria foram redigidos
nesse idioma.
19. A primeira relação oficial de livros do Antigo Testamento considerados canônicos pelos
cristãos foi promulgada no Concílio regional de Hipona (África do Norte), em 39310. Nela
constavam 46 livros veterotestamentários, 39 do cânon judaico acrescidos de mais sete: 1
Macabeus, 2 Macabeus, Tobias, Baruc, Judite, Eclesiástico e Sabedoria11. No dia 8 de abril de
1546, através do decreto De Canonicis Scripturis, o cânon das Escrituras foi definitivamente
fixado em 46 livros: 39 protocanônicos e 07 deuterocanônicos (chamados de apócrifos pelos
protestantes).
HEXATEUCO = Gn + Ex + Lv + Nm + Dt + Js
22. Outros (M. Noth) situam o Deuteronômio como início de uma grande obra literária que
vai de Dt-2Rs. Com a saída do Deuteronômio, o número de livros do primeiro bloco fica
reduzido a quatro, daí “Tetrateuco”.
10
KONINGS, Johan. A palavra se fez livro, p. 67.
11
Também devem ser incluídos os acréscimos ao livro de Daniel (Cântico dos três jovens, a história de Suzana e
os episódios de Bel e do Dragão) e Ester.
12
SCHOLZ, Vilson. Princípios de interpretação bíblica, p. 22.
13
V.8, 28-33; cf. Bíblia de Lutero, edição de 1545, in loco apud Lutero, o escritor, volume III, p. 125, 126.
14
DEL RIO, Javier Quezada. Los hechos de Dios: que es la Bíblia, p. 38.
15
LIMA, Alessandro Ricardo. O cânon bíblico: a origem da lista dos livros sagrados, p. 91.
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TETRATEUCO = Gn + Ex + Lv + Nm
23. Também se tem utilizado a expressão “Eneateuco” para indicar a grande unidade
literária que vai da criação do mundo e acaba com o exílio babilônico, Gn-2Rs (D. N.
Freedman).
ENEATEUCO = Gn + Ex + Lv + Nm + Dt + Js + Jz + 1 e 2 Sm + 1 e 2 Rs
Hexateuco
Ao lerem com atenção a obra atentando para os temas teológicos mais importantes, alguns
investigadores concluíram que o final do Deuteronômio permanece sem tratar
satisfatoriamente algumas questões:
O livro de Números (27,18-23) relata a nomeação de Josué como Sucessor de Moisés. Não
parece ilógico suprimir suas conquistas e a partilha da terra entre as tribos?
Isto levou alguns autores a concluir que os cinco primeiros livros da Bíblia não podem ser
adequadamente compreendidos sem levar em conta o sexto, o de Josué. Assim foi
apresentada a proposta de um hexateuco.
Este "credo" (que não fala sobre as tradições do Sinai!) termina com a menção do dom da
terra. Assim concluiu von Rad: “não cabe falar em Pentateuco, senão em Hexateuco, porque
a tradição da origem de Israel, tal como expressa no "credo" acima, deve incluir um relato da
conquista, relato que se encontra agora no livro de Josué, o sexto livro da Bíblia hebraica”.
O “CREDO HISTÓRICO”
(Dt 26,5b-9)
"Meu pai era um arameu errante: ele desceu ao Egito e ali residiu com poucas pessoas; depois
tornou-se uma nação grande, forte e numerosa. Os egípcios, porém, nos maltrataram e nos
humilharam, impondo-nos uma dura escravidão. Gritamos então a Iahweh, Deus dos nossos
pais, e Iahweh ouviu a nossa voz: viu nossa miséria, nosso sofrimento e nossa opressão. E Iahweh
nos fez sair do Egito com mão forte e braço estendido, em meio a grande terror, com sinais e
prodígios, e nos trouxe a este lugar, dando-nos esta terra, uma terra onde mana leite e mel”.
Mas caso se leia os textos com cuidado, nota-se também outro fato quase impossível de
refutar: o Deuteronômio, por sua linguagem e teologia, é muito mais relacionada com os
livros seguintes (Josué-Juizes-Samuel-Reis), do que com o anterior (Gênesis-Êxodo-Levítico-
Números). Portanto, alguns exegetas, ao invés de propor a ampliação do Pentateuco,
tornando Hexa- Hepta- ou Enneateuco, tendiam cada vez mais, em vez de enfatizar as
diferenças importantes entre Deuteronômio e os quatro livros anteriores, que
contemplados em conjunto, daí a proposta de um “Tetrateuco”.
Tetrateuco
Martin Noth, discípulo de von Rad, em sua famosa obra sobre a história "das
tradições do Pentateuco" questionou a hipótese de seu grande mestre. Neste trabalho, em
que pretendia excluir do Pentateuco o Deuteronômio, apresentou sua proposta para um
"Tetrateuco".
(1) Não há textos "deuteronomistas" nos quatro primeiros livros da Bíblia, exceto
uma adição de nenhuma grande importância. Portanto, não há nenhum nexo
literário estreito entre a Gen-Num e Deut.
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Por exemplo, Josué pode conquistar a terra, porque é fiel a "lei de Moisés"
(Js 1,7-8; 23,6). Os incrédulos são punidos pelo seu Senhor, com a perda de sua
terra (2 Reis 17,7-23, especialmente 17,13.19).
Eneateuco
Alguns exegetas acreditam que o conjunto Gênesis-2Reis foi projetado como uma unidade
literária, começando com a criação do mundo e terminando com o exílio babilônico.
Os juízes a defendem.
Sob Davi e Salomão torna-se um reino, inicialmente unido, depois dividido (norte-sul).
Finalmente, Israel perde esta terra no tempo do exílio babilônico.
De acordo com D. N. Freedmann, este conto longo seria a "história principal" ou a "primeira
história" de Israel, que necessita ser separada da "história secundária", ou seja, da "História
Cronista" (1-2 Crônicas - Esdras - Neemias). A história principal termina com a destruição do
Templo e o exílio. A "História Cronista" culmina na reconstrução do Templo e da comunidade
pós-exílica. Eis algumas evidências para esta tese:
Para alguns exegetas, "a história de Israel" não termina com a conquista da terra. Se
destacam, por exemplo, o nexo literário entre Jz 2,8.10 e Ex 1,6-8:
Ex 1,6 Tendo pois José falecido, e todos os seus irmãos, e toda aquela
geração. Os filhos de Israel frutificaram, e aumentaram muito, e
multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a
terra se encheu deles. Depois levantou-se um novo rei sobre o Egito,
que não conhecera a José;
Estes nexos literários criam laços entre vários blocos narrativos e assinalam ainda a
passagem de um período para outro na história de Israel:
O PENTATEUCO: TEORIAS
Em sua obra Leviatã (1651) o filósofo deísta inglês Thomas Hobbes colocou em dúvida
a autoria de Moisés na maior parte do Pentateuco:
Em 1670 o judeu Baruch Spinoza defendeu que o Pentateuco que temos diante de
nós é tão complexo e heterogêneo que poderia ser apenas a compilação de muitas
coletâneas e tradições organizadas por Esdras.
"Por todas estas observações, surge mais claro que o dia que o
Pentateuco não foi escrito por Moisés, mas por um outro que viveu
muitos séculos depois de Moisés".
Quase meio século depois, partindo da variação do nome de Deus, Jean Astruc dividiu
o Gênesis em três fontes principais, A (Elohim), B (Javé) e C (textos independentes
das outras duas).
O número de fontes cresceu com Carl David Ilgen, por meio de uma pesquisa
apresentada em 1798. Ilgen subdividiu o Gênesis em três obras originalmente
completas e homogêneas (que por sua vez buscaram material em 19 fontes). Ilgen
também achava que o Deuteronômio surgiu como obra independente. Tal hipótese
marcou o nascimento da “teoria das quatro fontes”.
Em meados do século XIX Hermann Hupfeld e seu aluno Eduard Riehm apresentaram
um modelo de quatro fontes (“hipótese mais recente das fontes originárias”):
O início da monarquia: surgimento das fontes javista (J), escrita no sul, século
IX; e eloísta (E), escrita mais ou menos um século depois, no reino do Norte e
influenciada pelos primeiros profetas (sec. VIII).
A reforma deuteronômica: fonte deuteronomista (D), remonta à reforma de
Josias, em 622 a.C.,
O período pós-exílico: fonte sacerdotal (P), século VI.
Como já afirmara Spinoza no século XVII, para Wellhausen todas as fontes acima teriam sido
compiladas na época do segundo templo, sob a influência do sacerdote Esdras.
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14
Legenda:
Cerca de 622 no
reino do Sul. Dt - - - Elemento
dominante da redação.
___ Elemento secundário
JED Por RD após 586 da redação.
Cerca de 550 P
na Babilônia.
Por Rp cerca de
JEDP 400 em
Jerusalém.