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O PROCESSO DE LUTO NO ENVELHECIMENTO: Uma visão psicanalítica sobre

as perdas sofridas na velhice

THE GRIEF PROCESS IN AGING: A psychoanalytic view on the losses suffered


in old age

Mariana Santos Pedrosa¹; Jacques Akerman²

Resumo

O envelhecimento é um processo natural, sequencial, individual, acumulativo e


universal, que pode ou não, concomitantemente, incluir adoecimentos. O processo de
envelhecimento culmina em perdas, assim, gerando lutos. O presente trabalho tem
como objetivo discutir a multiplicidade de valores e visões acerca do envelhecimento
a partir da visão psicanalítica, mostrando que a doença e o envelhecimento são perdas
significativas, com ênfase para que tais lutos sejam verdadeiramente reconhecidos e
acolhidos pelos profissionais da saúde e pela sociedade.
Palavras-chave: Luto patológico; Psicanálise; Envelhecimento; Idoso.
Abstract

Aging is a natural, sequential, individual, cumulative, universal process that may or


may not concurrently include illness. The aging process culminates in losses, thus
generating grief. The aim of this study is to discuss the multiplicity of values and visions
about aging based on the psychoanalytic view, showing that disease and aging are
significant losses, with emphasis on the fact that such grievances are truly
acknowledged and welcomed by health professionals and society.
Key word: Pathological mourning; Psychoanalysis; Aging; Elderly.

1 Introdução
Segundo uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2010, a população idosa tem
aumentado significativamente a partir dos anos 1960, observando-se que, dessa
década em diante, o desenvolvimento da medicina e da tecnologia, tem proporcionado
cada vez mais condições favoráveis que contribuem para o envelhecimento da
população. A velhice é um processo que envolve a maneira como o idoso se vê e se
percebe, assim como a maneira em que é visto e percebido pelo olhar do outro. Para
Mucida (2005), na velhice muitas perdas corporais se apresentam de maneira
acentuada ou pequenas mudanças vão se mostrando aos poucos fazendo com que o
sujeito se conscientize que seu corpo não é mais o mesmo. O envelhecimento tem a
marca de perdas sucessivas que se acumulam ao longo da vida, perdas essas que se
caracterizam como mortes simbólicas que necessitam ser elaboradas, para que
aconteça a resolução do luto.
Segundo Freud, (1914/2010) o luto se caracteriza não só por uma reação à
perda, de um ente querido, mas também de algo equivalente, se caracterizando como
um fenômeno natural e inerente do desenvolvimento humano. Freud caracteriza o luto

¹Faculdade de Ciências Humanas, Sociais e da Saúde, Universidade FUMEC, Belo Horizonte, MG,
Brasil. Autor correspondente: Mariana Santos Pedrosa Universidade FUMEC. R. Cobre, 200, Bairro
Cruzeiro, Belo Horizonte, Minas Gerais. CEP 30310-190. Email: marianapedrosa2@gmail.com
como um processo marcado por uma grande tristeza, além de um afastamento de
toda e qualquer ação que não seja relacionada ao objeto perdido. Para o autor, o
enlutado perde momentaneamente a capacidade de adotar um novo objeto de amor.
Estes aspectos podem estar presentes no trabalho de luto no envelhecimento.
Segundo Altman (2008 apud PY, 2004.p.122),

O luto no envelhecimento se constitui no penoso processo psíquico


que o idoso percorre, implicando a necessidade de elaboração do
vínculo afetivo com aquilo que se sente perdido e que o social
soberanamente glorifica: o corpo jovem e a beleza; o poder e o status
do trabalho e, ainda, pessoas do seu convívio que começam a morrer.

Para Mucida (2005), a medida em que o processo de envelhecimento avança,


mais as perdas se mostram evidentes ao sujeito. Seja através da morte de pessoas
próximas ou através de perdas corporais e sociais, a finitude está sempre em
destaque nessa etapa da vida, levando o sujeito a vivenciar lutos sucessivos, os quais
podem causar respostas como a depressão. Ainda segundo a autora:

A saída para essa questão se encontra no trabalho de luto, e nele,


implica-se o mínimo da presença do outro e de recursos simbólicos
pelos quais o idoso possa simbolizar as perdas, pois além dos lutos
de objetos perdidos, existem os lutos que cada um deve fazer de si
mesmo. (MUCIDA, 2005, p.146)

Freud em “Luto e Melancolia” (1917) caracteriza o luto em termos psíquicos


como uma intensa e dolorosa apatia, o mundo externo perde importância e o sujeito
se volta para a dor pelo causada pela perda, desfazendo-se assim de sua capacidade
de amar. No luto está presente, além desses sentimentos, a perda da capacidade de
adquirir um novo objeto de amor e substituí-lo por outro. Permanece uma verdadeira
adoração ao que foi perdido tendo como resultado um estado de grande sofrimento.
Como destaca Mucida (2005) vivenciar a velhice de maneira saudável, é aceitar
que as coisas não se apresentam mais como antes e que a morte está presente no
cotidiano de cada dia. É através do processo de luto que pode-se elaborar essa
questão para uma velhice psiquicamente saudável.
Em vista da crescente população de idosos e das vicissitudes que o processo
de envelhecimento acarreta, o presente trabalho tem como objetivo investigar as
questões relacionadas ao processo de luto na velhice a partir de uma ótica
psicanalítica. O luto é um evento constante no desenvolvimento humano que implica
diretamente no trabalho de profissionais da saúde, tornando-se um conhecimento
necessário para o acolhimento adequado àqueles que sofrem a perda

2 Metodologia
Trata-se de uma revisão de literatura que analisou textos da literatura
psicanalítica e artigos contemporâneos no campo geral da psicanálise, voltados ao
tema processo de luto e envelhecimento. Para a busca de publicações, utilizou-se as
bases SCIELO e PEPSIC com os descritores “luto patológico”, “envelhecimento” e
“psicanálise”. Foram buscados livros online e artigos completos. De 20 artigos, 7 foram
selecionados baseados nos critérios de inclusão, de serem artigos disponíveis e com
temas relacionados ao processo de luto no envelhecimento escritos em língua

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portuguesa e de exclusão, artigos em outra língua que não seja a portuguesa, não
disponíveis e não relacionados ao tema.

3 Aspectos do envelhecimento

Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2005, p 10), “o número de


pessoas com 60 anos ou mais vem aumentando de modo acelerado se comparado
com as demais faixas etárias ao redor do mundo. ” O Brasil, até 2025, será o sexto
país em número de idosos.
Na concepção de Vieira (1996) e Lopes (2000), os processos de
envelhecimento se iniciam desde a concepção, sendo então a velhice definida como
um processo dinâmico e progressivo no qual ocorrem modificações, tanto
morfológicas, funcionais e bioquímicas, como psicológicas, assim, cada vez mais, a
capacidade de se adaptar ao meio ambiente diminui, fato que ocasiona maior
vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos. Sociólogos e psicólogos
chamam a atenção para o fato de que, além das alterações biológicas, podem ser
observados processos de desenvolvimento social e psicológicos alterados em
algumas das suas funções, como também problemas de integração e adaptação
social do indivíduo.
Okuma (1998), propõe que a velhice não se define apenas por uma idade
cronológica, as condições físicas, mentais e funcionais do indivíduo, o que demonstra
que o envelhecer é um processo específico e diferente para cada ser humano. Nessa
perspectiva, a autora considera que o envelhecimento humano constitui um padrão
de modificações e não um processo unilateral, mas sim, a soma de vários processos
entre si, os quais envolvem aspectos biopsicossociais.
Na concepção de Papalia, Olds & Feldman (2006) pode-se subdividir em três
grupos a faixa etária considerada idosa: os idosos jovens são aqueles considerados
ativos geralmente possuem entre 65 a 74 anos; os idosos velhos são aqueles em que
as dificuldades trazidas pela velhice já se mostram presentes, ainda que de maneira
moderada, geralmente possuem entre 75 a 84 anos. Por fim, os idosos mais velhos,
com faixa etária superior a 85 anos que tem por característica uma maior tendência
para a fraqueza e para doenças, e podem apresentar dificuldades para desempenhar
algumas atividades da vida diária. Portanto, na velhice como em qualquer outra idade,
há pessoas saudáveis e pessoas doentes. Muitas das enfermidades, supostamente
próprias da velhice, já existiam antes da chegada desta fase, mas se manifestavam
com menor intensidade, porém, com a chegada do envelhecimento, aceleram o seu
curso.
De acordo com Netto (2004), as alterações anatômicas são as primeiras a se
manifestarem e as mais visíveis. A pele do corpo se resseca, tornando-se mais
quebradiça e pálida, perdendo o brilho natural da jovialidade. Os cabelos perdem a
coloração original e caem com maior frequência. O tônus se enfraquece, assim como
os ossos, causando problemas de postura, curvatura acentuada e demais
enfermidades. As articulações tornam-se mais endurecidas, reduzindo os
movimentos, alterando o equilíbrio e consequentemente, prejudicando a marcha. Nas
vísceras, produz-se uma alteração causada pelos elementos glandulares do tecido
conjuntivo e certa atrofia secundária, como a perda de peso. Na fase mais adiantada
da velhice, problemas cardíacos se tornam mais frequentes e destaca-se um aumento
da pressão arterial.

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4 Imagens da velhice

Mesmo nos dias atuais, o envelhecimento aparece associado a doenças e


perdas, e é na maioria das vezes entendido como apenas um problema médico. Para
Neri e Freire (2000), o envelhecimento ainda está ligado à deterioração do corpo, ao
declínio e à incapacidade. Ainda para os autores, “ na base da rejeição ou da
exaltação acrítica da velhice, existe uma forte associação entre esse evento do ciclo
vital com a morte, a doença, o afastamento e a dependência. ’’ (NERI & FREIRE,
2000, p. 8).
Para Debert (1999), durante a segunda metade do século XX, a velhice passou
a ser considerado como uma etapa marcada pela inutilidade do indivíduo devido à
grande decadência física e social característica do processo de envelhecimento.Com
o avanço da idade, se instaura um processo contínuo de perdas e de dependência,
trazendo ao idoso e a velhice uma imagem pejorativa. As associações negativas
relacionadas à velhice atravessaram os séculos e, ainda hoje, mesmo com tantos
recursos para prevenir doenças e retardá-la, é temida por muitas pessoas e vista como
uma etapa abominável
A concepção de velhice tem como base a construção social de valores e ideais
definidos pela própria sociedade. Veículos de comunicação como televisão, cinema
ao demonstrarem uma imagem negativa da velhice, ajudam a estabelecer e validar
esse padrão de comportamento o qual o envelhecimento é visto como uma fase
abominável. O status reduzido das pessoas idosas é também se deve ao enfoque na
juventude, beleza, autonomia, independência e na habilidade de ser produtivo ou
reprodutivo, valores esses que são amplamente cultivados pela sociedade
contemporânea. Desse modo, “ser velho” assume uma conotação negativa, e remete
à perda de atributos tão valorizados pelo meio social e, também, pelo próprio idoso.
Para Schneider e Irigaray (2008, apud Jones 2006), o significado social relacionado
às pessoas mais velhas é bastante pejorativo, embora não seja exclusivamente assim.
Os estereótipos negativos são atribuídos principalmente pelos próprios idosos, que
não se reconhecem como tal e não se identificam com a categoria “idoso”.
Segundo Bromberg (2000), para a cultura ocidental a velhice não se constrói
como uma etapa de destaque social, em consequência, os idosos vivenciam mais
intensamente perdas relacionadas ao envelhecer do que ganhos provenientes da
maturidade, assim, o luto acontece através de diferentes âmbitos.

5 Considerações acerca do luto

Como afirmado anteriormente, ao explicar o conceito de luto, Freud


(1917/2010) o entende como uma reação à perda, não necessariamente de um ente
querido, mas também, algo que seja equivalente. Para o autor, no luto, a reação à
perda faz parte de um processo consciente, o sujeito sabe exatamente o que perdeu.
Além disso, o luto é um processo natural instalado para a elaboração da perda, que
pode ser superado após algum tempo e, por mais que tenha um caráter patológico,
não é considerada doença, sendo assim, interferir nesse processo pode ser
prejudicial.

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Ainda em Luto e Melancolia, Freud, (1917/2010) propõe que o luto é um
processo doloroso no qual há uma intensa inibição e restrição do Eu, dando lugar a
uma exclusiva dedicação ao luto, eximindo-se assim, de qualquer outro intuito que
não seja viver a dor pelo o que foi perdido. Em 1926, o autor apresenta que a dor, na
dimensão mental, também é uma reação real à perda do objeto. Segundo Freud
(1926/1996), quando existe uma dor física, ocorre um alto grau do que pode ser
denominado de catexia narcísica da parte do corpo que se sente a dor. Na dimensão
mental, diante de uma situação dolorosa, essa catexia está concentrada no objeto do
qual se sente falta ou que está perdido. Segundo Freud, O homem enfermo retira suas
catexias libidinais de volta para o seu próprio ego, e as põe para fora novamente
quando se recupera. “Concentrada está sua alma, diz Wilhelm Busch a respeito do
poeta que sofre dor de dentes, no estreito orifício do molar”. (FREUD, 1914, p. 98)
No tocante aos desdobramentos do luto, há também sua versão patológica,
Freud (1917/2010) traz no conceito de melancolia, que a mesma, além dos sintomas
já citados do luto, produz um evidente rebaixamento na autoestima. O melancólico se
vê como indigno, incapaz e desprezível e pode apresentar quadros de insônia e
recusa de alimentação. Freud também cita que na melancolia se mostra presente um
rebaixamento do instinto, o qual faz com o que o sujeito tenha apreço a vida. Na
melancolia, segundo o autor, não se sabe o que foi perdido, sendo que o objeto não
precisa necessariamente estar morto, e sim perdido enquanto objeto de amor.
Para Klein (1940), o luto anormal ou patológico consiste em um
enclausuramento na posição depressiva, impedindo assim que haja a possibilidade
de adoção de novos objetos de amor. Nesse tipo de luto, o sujeito mantém uma
ligação infindável com o objeto perdido, como também uma indiferença pela perda,
causando assim, um abafamento de sentimentos.

6 Mortes e perdas

Mucida em “ O sujeito não envelhece” (2005), cita que ao chegar a velhice, o


corpo se mostra cada vez mais presente na vida do sujeito, escancarando as
modificações físicas decorrentes do processo de envelhecimento. O corpo que uma
vez se encontrava como algo familiar, passa a se tornar algo estranho, não
pertencente ao sujeito que o carrega, torna-se ameaçador e constante motivo de
queixa.
Em "O estranho" Freud (1919/1996) explora o significado da
palavra Unheimliche que pode ter o significado familiar e ao mesmo tempo, de
estranho. Freud descreve através desta palavra, uma certa inquietação que sentimos
quando algo que um dia foi familiar, retorna como algo estranho depois de ter sido
recalcado. Ao atravessar essa experiência, é comum que o sujeito se sinta horrorizado
diante desse algo que se tornou desconhecido. Mucida (2005) faz uma comparação
entre essa experiência denominada Unheimlich por Freud (1919/1996) e as emoções
que provem mudanças do corpo na passagem para a velhice, o momento em que o
corpo ao mesmo tempo familiar, passa a ser visto com estranheza.

A velhice e a perda de funcionalidade do corpo são esperadas, porém


quando surgem, quando se concretizam no âmbito do real, quando se
tornam evidências irrefutáveis, são sentidas como algo estranho, que
vem de fora e surpreende o sujeito de forma repentina e assustadora.
(CHERIX, 2015, p.43)

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Para Mucida (2005) essa baixa funcionalidade do corpo marca o sujeito
psiquicamente, acarretando uma reativação do complexo de castração De acordo com
a autora, a maneira que o sujeito lidará com essa fase depende diretamente da
maneira com que o mesmo lidou com a castração durante a fase do complexo de
édipo na infância e também durante a vida adulta. Alguns conseguem ter aceitação
do momento vivido e encontrar assim, uma fonte de prazer na passividade. Alguns
sujeitos com predominantes características narcísicas, demonstram certa dificuldade
em aceitar as várias mudanças corporais trazidas pela velhice. Estes, parecem não
querer abrir mão do que foram ou gostariam de se tornar.
Segundo Heimann & Isaacs (1952) pode-se fazer um vínculo entre a angustia
de castração e o processo de envelhecimento. Para o autor, a menopausa marca de
maneira incisiva a vida da mulher, pois é através dela, que envelhecimento se mostra
de maneira irrefutável para o sujeito. Com a chegada da menopausa, a mulher precisa
lidar além do desequilíbrio hormonal, a reação do outro frente as mudanças de humor
as mudanças físicas, e a fragilidade trazida pela velhice.
Segundo Mucida, (2005, p.144)

A velhice se caracteriza por um momento em que o fantasma da


finitude se mostra através de diferentes perdas e alterações corporais
encontrando, ainda, uma certa fragilização dos recursos simbólicos.
Tudo isso impõe o trabalho de luto. O medo da morte associa-se à
perda do investimento libidinal, isso pode ser associado às impressões
que ocorrem na melancolia, quando as pulsões de vida e morte se
afastam muito umas das outras. Amedronta na velhice a morte do
desejo.

Ainda para Mucida, (2005) o temor à morte se relaciona com a perda do


investimento libidinal de maneira similar como ocorre na melancolia, dessa maneira,
o sujeito na fase do envelhecimento, retira sua libido do mundo externo. Para Freud
(1923/2007), o temor a morte se localiza entre as instâncias do ego e superego. Esse
temor se mostra diante de um perigo externo ou interno que causa angústia. Segundo
Mucida, (2005, apud LACAN 1962 p 144) “ a angústia, surge quando a falta, falta.
Neste ponto o sujeito encontra o real sem máscaras.”

7 O trabalho de luto

Em “O sujeito não envelhece’’ Mucida (2005) traz que o processo de luto é


instalado para que se elabore uma perda. Para que esse processo aconteça, é
necessário que o sujeito faça um desligamento da libido a cada uma das recordações
e expectativas relacionadas ao que foi perdido, fazendo com que o processo seja lento
e doloroso. Segundo Klein (1940), quando ocorre uma perda real, o sujeito em sua
concepção, acredita que todo seu mundo interno foi destruído. O processo de luto
então, consiste em reestruturar o mundo interno, reintrojetando objetos para que
assim, o sujeito seja capaz de reconstruir seu mundo interno.
Para Mucida (2005), uma das etapas mais dolorosas em uma situação de perda
é a constatação real que a mesma existiu. A percepção da perda é uma parte
fundamental do caminho até sua elaboração, consistindo-se em um trabalho de teste
de realidade. Segundo Klein (1935) É através do teste de realidade que se mostra a
necessidade de se reinvestir a libido no mundo externo, revivendo repetidamente a

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perda. Desse modo, o sujeito lentamente reconstrói o mundo interno, que em sua
fantasia, se encontra destruído ou em risco de desabar.
Essa relação com o mundo externo tão necessária para o trabalho de luto tem
como eixo o simbolismo. Para Lacan (1960/2008) a elaboração do luto requer rituais
que ajudem elaborar o objeto perdido. Com a perda, um grande vazio é deixado para
o sujeito. Para que se possa aplacar esse vazio, é necessário para o sujeito o conjunto
de significantes provenientes de sua cultura e história, dessa maneira o vazio deixado
pela morte pode ser aplacado.
Durante a velhice, esse processo ocorre de maneira mais dura. As perdas
características do envelhecimento exigem a todo momento que seja feito um trabalho
de luto. A velhice é um momento no qual muitos dos rearranjos que o sujeito teceu
para enfrentar o real desmoronam e com eles muitos ideais. Não se pode negar que
as perdas vividas na velhice são de longe mais frequentes, e estas demandam
elaboração para a construção de outros projetos e ideais.

Morte e luto, fracasso e perda fazem parte do ciclo da vida e


acompanham o sujeito. Por mais paradoxal que seja, porque há morte
é que sabemos que há vida, é porque existe há perda que buscamos
o objeto, é porque algo falha, não se escreve que tentamos escrever.
É pelo desamparo que transita a vida. (MUCIDA, 2005, p.120)

Como já abordado acima a velhice para a sociedade ocidental tem


características muito mais pejorativas do que enaltecidas, sendo assim, a identificação
com novos objetos socialmente valorizados se torna bastante restrita para o idoso.
Segundo Mucida (2005) os objetos provenientes da ciência têm como característica
uma incansável substituição pelo “novo”, dessa forma, a identificação do idoso com o
um valor simbólico e não material torna-se árduo. O trabalho de luto nem sempre é
satisfatório para produzir novos investimentos libidinais e diante disso, novos sintomas
podem surgir na tentativa de lidar com o tão doloroso real. Uma das respostas mais
comuns para essa situação é a depressão e deve ser tomada sempre como particular
a cada sujeito. Em virtude dessa dificuldade de se produzir novos rearranjos, se faz
necessário buscar novas formas de inscrever o desejo, e para isso, são necessários
recursos provenientes também do outro, através do olhar, da voz, e de outras
demandas, mas muitos idosos são deixados em situação de abandono e completa
solidão, tornando impossível o alcance dos recursos necessários, fato que
desencadeia uma série de sintomas. Para Mucida, (2005, p 155) “a cultura,
promovendo, muitas vezes, uma morte social para o idoso, provoca assim, um
encontro com a outra morte, bem mais cruel que a morte real, da qual nada sabemos”.

8 Considerações finais

A velhice é um processo biopsicossocial e tem sua concepção moldada pelos


valores da sociedade em que se vive. A chegada da velhice traz consigo perdas em
diferentes âmbitos, o status social se torna reduzido, as doenças se tornam cada vez
mais frequentes e a morte de pessoas próximas cada vez mais rotineira. As mudanças
corporais se instauram de maneira implacável trazendo um desamparo ao sujeito, que
não se reconhece mais em seu próprio corpo.
As constantes perdas vivenciadas na velhice demandam um incessante
trabalho de luto lento e doloroso, mas, essencial para que o sujeito não entre em um
estado de melancolia e possa passar por essa etapa da vida de maneira
psiquicamente saudável.

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Envelhecer é um processo particular e individual que demanda uma continua
elaboração de perdas, processo que dependerá da história do sujeito e dos recursos
simbólicos que o mesmo adquiriu ao longo da vida para que se possa se apropriar
das inegáveis mudanças trazidas pelo envelhecimento.

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