Resumo
1 Introdução
Segundo uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2010, a população idosa tem
aumentado significativamente a partir dos anos 1960, observando-se que, dessa
década em diante, o desenvolvimento da medicina e da tecnologia, tem proporcionado
cada vez mais condições favoráveis que contribuem para o envelhecimento da
população. A velhice é um processo que envolve a maneira como o idoso se vê e se
percebe, assim como a maneira em que é visto e percebido pelo olhar do outro. Para
Mucida (2005), na velhice muitas perdas corporais se apresentam de maneira
acentuada ou pequenas mudanças vão se mostrando aos poucos fazendo com que o
sujeito se conscientize que seu corpo não é mais o mesmo. O envelhecimento tem a
marca de perdas sucessivas que se acumulam ao longo da vida, perdas essas que se
caracterizam como mortes simbólicas que necessitam ser elaboradas, para que
aconteça a resolução do luto.
Segundo Freud, (1914/2010) o luto se caracteriza não só por uma reação à
perda, de um ente querido, mas também de algo equivalente, se caracterizando como
um fenômeno natural e inerente do desenvolvimento humano. Freud caracteriza o luto
¹Faculdade de Ciências Humanas, Sociais e da Saúde, Universidade FUMEC, Belo Horizonte, MG,
Brasil. Autor correspondente: Mariana Santos Pedrosa Universidade FUMEC. R. Cobre, 200, Bairro
Cruzeiro, Belo Horizonte, Minas Gerais. CEP 30310-190. Email: marianapedrosa2@gmail.com
como um processo marcado por uma grande tristeza, além de um afastamento de
toda e qualquer ação que não seja relacionada ao objeto perdido. Para o autor, o
enlutado perde momentaneamente a capacidade de adotar um novo objeto de amor.
Estes aspectos podem estar presentes no trabalho de luto no envelhecimento.
Segundo Altman (2008 apud PY, 2004.p.122),
2 Metodologia
Trata-se de uma revisão de literatura que analisou textos da literatura
psicanalítica e artigos contemporâneos no campo geral da psicanálise, voltados ao
tema processo de luto e envelhecimento. Para a busca de publicações, utilizou-se as
bases SCIELO e PEPSIC com os descritores “luto patológico”, “envelhecimento” e
“psicanálise”. Foram buscados livros online e artigos completos. De 20 artigos, 7 foram
selecionados baseados nos critérios de inclusão, de serem artigos disponíveis e com
temas relacionados ao processo de luto no envelhecimento escritos em língua
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portuguesa e de exclusão, artigos em outra língua que não seja a portuguesa, não
disponíveis e não relacionados ao tema.
3 Aspectos do envelhecimento
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4 Imagens da velhice
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Ainda em Luto e Melancolia, Freud, (1917/2010) propõe que o luto é um
processo doloroso no qual há uma intensa inibição e restrição do Eu, dando lugar a
uma exclusiva dedicação ao luto, eximindo-se assim, de qualquer outro intuito que
não seja viver a dor pelo o que foi perdido. Em 1926, o autor apresenta que a dor, na
dimensão mental, também é uma reação real à perda do objeto. Segundo Freud
(1926/1996), quando existe uma dor física, ocorre um alto grau do que pode ser
denominado de catexia narcísica da parte do corpo que se sente a dor. Na dimensão
mental, diante de uma situação dolorosa, essa catexia está concentrada no objeto do
qual se sente falta ou que está perdido. Segundo Freud, O homem enfermo retira suas
catexias libidinais de volta para o seu próprio ego, e as põe para fora novamente
quando se recupera. “Concentrada está sua alma, diz Wilhelm Busch a respeito do
poeta que sofre dor de dentes, no estreito orifício do molar”. (FREUD, 1914, p. 98)
No tocante aos desdobramentos do luto, há também sua versão patológica,
Freud (1917/2010) traz no conceito de melancolia, que a mesma, além dos sintomas
já citados do luto, produz um evidente rebaixamento na autoestima. O melancólico se
vê como indigno, incapaz e desprezível e pode apresentar quadros de insônia e
recusa de alimentação. Freud também cita que na melancolia se mostra presente um
rebaixamento do instinto, o qual faz com o que o sujeito tenha apreço a vida. Na
melancolia, segundo o autor, não se sabe o que foi perdido, sendo que o objeto não
precisa necessariamente estar morto, e sim perdido enquanto objeto de amor.
Para Klein (1940), o luto anormal ou patológico consiste em um
enclausuramento na posição depressiva, impedindo assim que haja a possibilidade
de adoção de novos objetos de amor. Nesse tipo de luto, o sujeito mantém uma
ligação infindável com o objeto perdido, como também uma indiferença pela perda,
causando assim, um abafamento de sentimentos.
6 Mortes e perdas
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Para Mucida (2005) essa baixa funcionalidade do corpo marca o sujeito
psiquicamente, acarretando uma reativação do complexo de castração De acordo com
a autora, a maneira que o sujeito lidará com essa fase depende diretamente da
maneira com que o mesmo lidou com a castração durante a fase do complexo de
édipo na infância e também durante a vida adulta. Alguns conseguem ter aceitação
do momento vivido e encontrar assim, uma fonte de prazer na passividade. Alguns
sujeitos com predominantes características narcísicas, demonstram certa dificuldade
em aceitar as várias mudanças corporais trazidas pela velhice. Estes, parecem não
querer abrir mão do que foram ou gostariam de se tornar.
Segundo Heimann & Isaacs (1952) pode-se fazer um vínculo entre a angustia
de castração e o processo de envelhecimento. Para o autor, a menopausa marca de
maneira incisiva a vida da mulher, pois é através dela, que envelhecimento se mostra
de maneira irrefutável para o sujeito. Com a chegada da menopausa, a mulher precisa
lidar além do desequilíbrio hormonal, a reação do outro frente as mudanças de humor
as mudanças físicas, e a fragilidade trazida pela velhice.
Segundo Mucida, (2005, p.144)
7 O trabalho de luto
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perda. Desse modo, o sujeito lentamente reconstrói o mundo interno, que em sua
fantasia, se encontra destruído ou em risco de desabar.
Essa relação com o mundo externo tão necessária para o trabalho de luto tem
como eixo o simbolismo. Para Lacan (1960/2008) a elaboração do luto requer rituais
que ajudem elaborar o objeto perdido. Com a perda, um grande vazio é deixado para
o sujeito. Para que se possa aplacar esse vazio, é necessário para o sujeito o conjunto
de significantes provenientes de sua cultura e história, dessa maneira o vazio deixado
pela morte pode ser aplacado.
Durante a velhice, esse processo ocorre de maneira mais dura. As perdas
características do envelhecimento exigem a todo momento que seja feito um trabalho
de luto. A velhice é um momento no qual muitos dos rearranjos que o sujeito teceu
para enfrentar o real desmoronam e com eles muitos ideais. Não se pode negar que
as perdas vividas na velhice são de longe mais frequentes, e estas demandam
elaboração para a construção de outros projetos e ideais.
8 Considerações finais
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Envelhecer é um processo particular e individual que demanda uma continua
elaboração de perdas, processo que dependerá da história do sujeito e dos recursos
simbólicos que o mesmo adquiriu ao longo da vida para que se possa se apropriar
das inegáveis mudanças trazidas pelo envelhecimento.
REFERÊNCIAS
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