RESUMO
A presente pesquisa buscou analisar as manifestações homofóbicas dentre masculinos no ambiente carcerário
brasileiro, contando com a estada de alguns valores próprios, edi cados e reproduzidos pela população prisional
e que operam especi camente sob e a favor do con namento. À vista disto, realizou-se um estudo bibliográ co
exploratório, com abordagem qualitativa, traçado a partir da análise de artigos com publicação em meio
eletrônico, a respeito de homofobia e homossexualidade na prisão. Os resultados indicam um universo prisional
preponderantemente homofóbico, presumivelmente à roda das mesmas relações de poder desiguais historicamente
presentes entre homens e mulheres, conduzido à luz da rigidez de códigos internos de conduta estribados em
ideologias conservadoras, em indubitável inobservância ao ordenamento jurídico pátrio. Logo, à margem do
poder interventivo do Estado, macula, segrega e assujeita os homossexuais ao juízo autocrático de indivíduos
ou organizações dominantes, ecoado, oportuno sublinhar, em inéditas proporções na máquina-prisão, à medida
que abriga, na delimitação proposta, masculinos compelidos a coexistir por arrastados períodos de tempo.
Considerou-se, em desfecho, a vigência de uma cultura da homofobia, que atravanca o acesso as demandas de
educação e geração de renda na prisão, estruturada por representações sociais arbitrárias e preconceituosas sobre a
homossexualidade, historicamente constituídas e abertamente reproduzidas a partir da percepção de inferioridade
rudemente conferida ao feminino e de virilidade positivada ao masculino, bem como por aquelas forjadas na
avidez de legitimização do poder dominante característico daquele meio, signo de assalto à dignidade humana,
repulsa e desestima à homossexualidade em suas múltiplas dimensões.
ABSTRACT
The present research sought to analyze the homophobic manifestations among men in the Brazilian prison
environment, counting on the stay of some values of their own, built and reproduced by the prison population and
that operate speci cally under and in favor of con nement. In view of this, an exploratory bibliographical study
was carried out, with a qualitative approach, based on the analysis of articles with electronic publication, regarding
homophobia and homosexuality in prison. The results indicate a predominantly homophobic prison universe,
presumably rooted in the same unequal power relations historically present between men and women, conducted
in the light of the rigidity of internal codes of conduct based on conservative ideologies, in undoubted disregard for
the legal order of the country. Thus, on the margin of the interventionist power of the state, it maculates, segregates,
and subjects homosexuals to the autocratic judgment of dominant individuals or organizations, echoed, opportune
to emphasize, in unprecedented proportions in the prison machine, as it houses, in the proposed delimitation, to
coexist for long periods of time. The validity of a culture of homophobia, which blocks access to the demands
of education and income generation in prison, structured by arbitrary and prejudiced social representations on
homosexuality, historically constituted and openly reproduced from the perception of inferiority rudely conferred
on the feminine, and of virility positived to masculine, as well as those forged in the avid legitimacy of the dominant
power characteristic of that milieu, a sign of assault on human dignity, repulses and dismisses homosexuality in
its multiple dimensions.
1
Projeto Acadêmico desenvolvido na disciplina de Antropologia - UNIDAVI.
2
Acadêmico do curso de Psicologia do Centro Universitário do Alto Vale do Itajaí - UNIDAVI
3
Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário do Alto Vale do Itajaí - UNIDAVI
4
Doutora em Sociologia Política / UFSC e professora Universitária no Centro Universitário do Alto Vale do Itajaí
– UNIDAVI.
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1 INTRODUÇÃO
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jurídico pátrio deixa expresso em seu arcabouço normativo, sua reprovação a qualquer forma
de discriminação, conforme artigo 3º, IV:
Não obstante, alertam Lira e Ferreira (2017), a força normativa constitucional não se
traduz somente em uma adaptação a realidade, ela precisa direcionar seus esforços para que a
sociedade oriente sua conduta segundo a norma, uma vez que sem a vontade humana a ordem
em si não obtém êxito.
Nesse sentido, colocando a homofobia em tela, em 2004, foi instituído o programa
nacional de combate à violência e à discriminação contra GLTB5 e promoção da cidadania
homossexual, com o objetivo central de educar e mudar o comportamento dos gestores públicos,
na “promoção de um contexto de aceitação e respeito à diversidade, de combate à homofobia e de
mudança de comportamento da sociedade brasileira em relação aos gays, lésbicas, transgêneros
e bissexuais” (CONSELHO, 2004, p.27).
Seguindo a linha normativa, importante considerar as lutas promovidas pelo movimento
homossexual brasileiro, organizado sob a premissa de “criar e fortalecer sua identidade sexual,
bem como lutar por seus direitos e contra atos homofóbicos” (MORAES; SOARES, 2013, p.36),
responsável por uma série de conquistas, dentre elas, a constitucionalidade de interpretação
extensiva do art. 226, §3º da Constituição, para incluir as uniões entre pessoas do mesmo sexo”
(FREIRE; CARDINALI, 2012).
Ainda assim, não são raros os discursos de ódio na atualidade, proferidos em desfavor
das diversidades de gênero, decerto por conta de que “ao nascermos somos classi cados
socialmente pela forma da genitália e pela cor da pele, marcadores de diferença que geram
hierarquias e nos posicionam no mundo” (SANTOS, 2013, p.66), em uma realidade onde “a
cultura nos convida para atuarmos de determinadas maneiras que serão recompensadas, e não
de outras” (MAYA, 2008, p.13), fato que, inevitavelmente, ecoa, em inéditas dimensões, na
máquina-prisão, instituída e mediada pelo Estado, a m de “extrair da culpa a tão pretendida
adequação às normas sociais” (SANTOS, 2013, p.51).
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Gays, Lésbicas, Transgêneros e Bissexuais.
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conscientes que este ensaio é insu ciente para abordar toda a amplitude do fenômeno
homofóbico talhado no sistema prisional brasileiro, buscou-se argumentar, através de alguns
recortes contextuais, o formato com que essas violências se manifestam e se multiplicam,
percorrendo desde práticas sexuais abusivas, comportamentos discriminatórios, segregação,
repulsa, até a privação de acesso aos benefícios auxiliares concedidos para ressocialização dos
apenados.
Nessa linha de raciocínio, considerando que o estudo foi traçado em prisões que abrigam
masculinos compelidos a coexistir por longos períodos de tempo, percebe-se uma cultura
da homofobia estruturada por valores sociais discriminatórios, historicamente constituídas
e abertamente reproduzidas a partir da percepção de inferioridade rudemente conferida ao
feminino e de virilidade positivada ao masculino, bem como por aquelas forjadas na avidez
de legitimação do poder dominante característico daquele meio, signo de assalto à dignidade
humana, repulsa e desestima à homossexualidade em suas múltiplas dimensões.
Diante do que foi apresentado, propõe-se a realização de novos estudos, mais
aprofundados e, possivelmente, com uma amostra ampliada, que fomentem re exões diversas
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