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PROJUDI - Recurso: 0004791-71.2018.8.16.0030 - Ref. mov. 59.

1 - Assinado digitalmente por Carlos Mansur Arida:11206, Renato Braga Bettega:33


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17/07/2019: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Renato Braga Bettega - 5ª Câmara Cível)

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
5ª CÂMARA CÍVEL - PROJUDI
RUA MAUÁ, 920 - ALTO DA GLORIA - Curitiba/PR - CEP: 80.030-901

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Autos nº. 0004791-71.2018.8.16.0030

Apelação Cível n° 0004791-71.2018.8.16.0030


2ª Vara da Fazenda Pública de Foz do Iguaçu
Apelante(s): ANICE NAGIB GAZZAOUI
Apelado(s): Município de Foz do Iguaçu/PR
Relator: Desembargador Renato Braga Bettega

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO ANULATÓRIA COM PEDIDO LIMINAR –


CASSAÇÃO DO MANDATO DA VEREADORA POR QUEBRA DE
DECORO PARLAMENTAR – PRAZO PARA ENCERRAMENTO DO
PROCESSO ADMINISTRATIVO – APLICAÇÃO DAS RESOLUÇÕES Nº
123/2016 E Nº 124/2016 DO MUNICÍPIO, EM DETRIMENTO DO
DECRETO-LEI Nº 201/1967 – DIPLOMA LEGISLATIVO MUNICIPAL
QUE PREVÊ O PRAZO DE 90 (NOVENTA) DIAS ÚTEIS EM
CONTRAPOSIÇÃO AOS 90 (NOVENTA) DIAS CORRIDOS
ESTABELECIDOS PELO DECRETO FEDERAL – ADVENTO DA
SÚMULA 722 DO STF, CONVERTIDA NA SÚMULA VINCULANTE Nº 46
DO STF – COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO PARA LEGISLAR
SOBRE CRIME DE RESPONSABILIDADE, AINDA QUE SOB A
RUBRICA DE INFRAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA – APLICAÇÃO
AOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS INTERPOSTOS CONTRA
PARLAMENTAR – DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL – NATUREZA
DO ATO DE QUEBRA DE DECORO – ADOÇÃO DO ENTENDIMENTO
DE SER INFRAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA – INCIDÊNCIA DA
SÚMULA VINCULANTE Nº 46 DO STF – IMPOSSIBILIDADE DE O
MUNICÍPIO LEGISLAR SOBRE O ASSUNTO – COMPETÊNCIA
PRIVATIVA DA UNIÃO – INCIDÊNCIA DO ART. 5º, INC. VII, DO
DECRETO-LEI Nº 201/1967 –INOBSERVÂNCIA DO PRAZO DE 90
(NOVENTA) DIAS CORRIDOS PARA CONCLUSÃO DO PAD QUE
ACARRETA O ARQUIVAMENTO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO –
PREVISÃO EXPRESSA DO DISPOSITIVO – NULIDADE DO PAD
PROJUDI - Recurso: 0004791-71.2018.8.16.0030 - Ref. mov. 59.1 - Assinado digitalmente por Carlos Mansur Arida:11206, Renato Braga Bettega:33
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RECONHECIDA – RETORNO DA APELANTE AO CARGO DE

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VEREADORA – SENTENÇA REFORMADA – RECURSO PROVIDO.

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Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0004791-71.2018.8.16.0030, da 2ª Vara da
Fazenda Pública da Comarca de Foz do Iguaçu, em que é apelante ANACI NAGIB GAZZAOUI e
apelado MUNICÍPIO DE FOZ DO IGUAÇU.

I – RELATÓRIO

Trata-se de Recurso de Apelação Cível interposto em face da sentença proferida pelo MM. Juiz de Direito
da 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Foz do Iguaçu, nos autos de Ação Anulatória com Pedido
Liminar proposta por Anice Nagib Gazzaoui em face do Município de Foz do Iguaçu, que julgou
improcedentes os pedidos formulados na inicial, condenando a parte autora ao pagamento das custas e
despesas processuais, bem como dos honorários de sucumbência, estes fixados em R$ 2.000,00 (dois mil
reais), de acordo com o artigo 85, §§ 2º e 8º, do Código de Processo Civil.

Do processo

A autora propôs Ação Anulatória com Pedido Liminar em face do Município de Foz do Iguaçu,
sustentando que foi eleita vereadora no Município ora requerido para a legislatura dos anos de 2017 a
2020.

Afirmou que, entre a expedição do diploma pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná e a posse da
autora como vereadora, foi decretada sua prisão preventiva, a qual foi revogada em 06.02.2017 pelo
Superior Tribunal de Justiça.

Entretanto, como meio de denegrir a sua imagem, aduziu que o Presidente da Câmara incitou a mídia e os
cidadãos daquele Município a realizarem manifestações para impedir a sua posse. Tal situação culminou
na instauração do processo administrativo nº 001/2017, com o objetivo de apurar eventual quebra do
decoro parlamentar cometida pela recorrente e demais vereadores em situação semelhantes e cassar os
respectivos mandatos.
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Explicou que o processo administrativo foi julgado apenas em 03.06.2017, ou seja, 99 (noventa e nove)
dias após a notificação da autora, concluindo a Comissão Julgadora pela cassação do seu mandado de
vereadora.

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Asseverou que a Câmara de Vereadores do Município de Foz do Iguaçu não observou o prazo de 90
(noventa) dias corridos, previsto no Decreto-Lei nº 201/1967, para a conclusão do processo de cassação
de mandato, sendo, portanto, nula a decisão tomada pelo legislativo municipal.

Salientou que o Conselho de Ética e de Decoro Parlamentar da Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu,
na instrução e no julgamento do processo administrativo, fundamentou-se em Resoluções daquela Casa
Legislativa, as quais preveem o prazo de 90 (noventa) dias úteis para o julgamento das infrações éticas.

Entretanto, “após a exegese da Súmula Vinculante n° 46, não é mais admitida legislação municipal ou
estadual subsidiária com relação a procedimentos ou regras na instrução dos feitos relativos à apuração de
infrações ético-administrativas por serem equiparadas aos crimes de responsabilidade (mov. 1.1)”.

Defendeu a impossibilidade de a Câmara dos Vereadores legislar sobre o término do prazo do processo
administrativo, haja vista a competência privativa da União para legislar sobre a matéria, consoante a
Súmula Vinculante nº 46 do STF.

Frisou que o julgamento das infrações definidas como quebra do decoro parlamentar ou infrações
ético-administrativas, praticadas por vereadores municipais, seguem as mesmas regras aplicadas no
julgamento dos crimes de responsabilidade, conforme dispõe o artigo 7º, § 1º, do Decreto-Lei nº
201/1967.

Colacionou precedentes de casos análogos.

Diante desses fatos, requereu a concessão da tutela antecipada para o fim de suspender os efeitos da
Resolução nº 137/2017 que cassou o mandato eletivo da autora e, ao final, a decretação da nulidade da
decisão proferida no PAD nº 001/2017, por ser extemporânea, com a determinação de sua reintegração no
cargo de vereadora do Município de Foz do Iguaçu.
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O Magistrado Singular proferiu decisão interlocutória (mov. 16.1) indeferindo o pedido de antecipação da
tutela.

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Do Agravo de Instrumento

Interposto Agravo de Instrumento, autuado neste Tribunal sob nº 0006735-04.2018.8.16.0000, o então


eminente Desembargador Adalberto Jorge Xisto Pereira concedeu a tutela antecipada para suspender os
efeitos da Resolução nº 137/2017 da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu, até o julgamento do agravo de
instrumento pelo colegiado. Por consequência, determinou o restabelecimento do mandato eletivo da
agravante.

Esclareceu que esta 5ª Câmara Cível, no exame da Apelação Cível nº 1.727.709-7 interposta pelo
Vereador Luiz Augusto Pinho de Queiroga, cujo mandato foi cassado no mesmo procedimento
administrativo proposto contra a ora agravante (PAD nº 01/2017), deu provimento ao recurso, sob o
entendimento de serem inaplicáveis as Resoluções editadas pelo Município, diante da competência
privativa da União para legislar sobre o assunto, nos termos da Súmula Vinculante nº 46 do Supremo
Tribunal Federal.

Outrossim, acrescentou que o artigo 23 da Lei Federal nº 9.784/1999 – segundo o qual os atos do processo
administrativo devem ser realizados em dias úteis – é legislação geral em relação ao Decreto-Lei nº
201/1967, razão pela qual esta última é que deve ser observada.

Assim, considerando presente a plausibilidade do direito alegado e a existência de periculum in mora, por
estar a agravante afastada de seu mandato eletivo, concedeu a tutela requerida (mov. 5.1).

Nos autos da Ação Anulatória, o Município de Foz do Iguaçu foi citado, oportunidade em que apresentou
contestação (mov. 26.1) pugnando pela improcedência dos pedidos.

Da sentença recorrida

O Magistrado Singular anunciou o julgamento antecipado da lide, em razão de a matéria em discussão ser
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exclusivamente de direito (mov. 38.1).

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Afirmou ser despicienda a discussão de possível invasão de competência legislativa exclusiva da União, e
consequente violação da Súmula Vinculante nº 46 da Corte Suprema, por se tratar o presente caso de

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situação diversa da disposta na referida Súmula.

Esclareceu que a discussão dos autos diz respeito ao processo administrativo de cassação de mandato em
virtude de quebra do decoro parlamentar, consistente em ato político, cuja matéria é interna corporis.
Logo, seria de competência exclusiva da própria Casa Legislativa legislar sobre o assunto.

Ressaltou que o Decreto-lei nº 201/1967 é aplicável nos casos de crime de responsabilidade e, apenas
subsidiariamente, quando não houver legislação específica no Estado respectivo. No caso, observou que a
Câmara de Vereadores editou as Resoluções nº 123/2016 e nº 124/2016, dispondo sobre o procedimento a
ser observado nos processos administrativos disciplinares submetidos ao exame daquela Casa.

Concluiu inexistir qualquer nulidade no processo administrativo, porquanto não extrapolado o prazo de 90
(noventa) dias úteis para o seu encerramento, nos termos dispostos no artigo 7º da Resolução nº 123/2016.

Ainda, consignou que caso fosse possível a aplicação do Decreto-Lei nº 201/1967, contando-se o prazo
para o encerramento do processo administrativo em dias corridos, não seria a hipótese de anular todo o
procedimento e determinar a reintegração da autora, haja vista a ausência de prejuízo, aplicando o
princípio do pas de nullité sans grief.

Dessa forma, julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial, extinguindo o processo, nos termos
do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, condenando a autora ao pagamento dos ônus
sucumbenciais.

Opostos embargos de declaração (mov. 43.1), foram acolhidos parcialmente, sem efeitos infringentes,
apenas “para o fim de sanar a contradição e determinar a exclusão da argumentação constante da sentença
que faça referência a ‘condenação da autora em processo criminal acerca dos fatos ou a prova produzida
em processo criminal’ (mov. 45.1).”
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Das razões recursais

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Inconformada, a autora interpôs recurso de apelação (mov. 52.1), pleiteando, inicialmente, a concessão do
efeito suspensivo ao recurso, a fim de ser mantida a liminar concedida no Agravo de Instrumento nº

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0006735-04.2018.16.0000, que não persistiu em razão do julgamento do mérito da ação principal pelo
Juízo a quo.

Afirma estarem preenchidos os requisitos dispostos no artigo 300 do Código de Processo Civil para a
concessão da medida, dizendo não ter ocorrido qualquer alteração da situação fática desde a concessão da
liminar nos autos de Agravo de Instrumento.

Consigna ser patente o periculum in mora, pois está a recorrente afastada da vereança, transcorrendo o
prazo do seu mandato sem que esteja exercendo a função para a qual foi democraticamente eleita.

No mérito, reitera os mesmos argumentos despendidos na peça vestibular, defendendo a nulidade da


decisão proferida no processo administrativo contra ela movido, por inobservância do prazo nonagesimal
previsto no Decreto-Lei nº 201/1967.

Esclarece que, notificada da existência do processo administrativo disciplinar no dia 24.02.2017, a sua
conclusão só se deu em 03.06.2017, ou seja, 99 (noventa e nove) dias após a notificação da apelante,
havendo, portanto, violação ao disposto no artigo 5

º e 7º do Decreto-Lei nº 201/1967.

Enfatiza ter o legislativo municipal adentrado em assunto de competência privativa da União, ao inovar
em matéria processual e prever nas Resoluções nº 123/2016 e nº 124/2016 prazo diferente do estabelecido
no Decreto-Lei nº 201/1967, para a conclusão dos processos administrativos. Lembrou, entretanto, que a
redação contida no artigo 66, inciso XIV, da Lei Orgânica do Município de Foz do Iguaçu, está em
consonância com o Decreto-Lei nº 201/1967.

Ressalta o entendimento do Supremo Tribunal Federal, segundo o qual nos crimes de responsabilidade
previstos no artigo 4º do Decreto-Lei nº 201/1967, estão inseridas as infrações ético-administrativas,
dentre as quais, a infração por quebra de decoro parlamentar.
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Salienta a aplicabilidade da Súmula Vinculante nº

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46 do Supremo Tribunal Federal ao caso, pois trata-se de processo administrativo instaurado para a
apuração de quebra do decoro parlamentar, sendo este ato infração político-administrativa.

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Menciona a necessidade de observância ao princípio da isonomia, haja vista este Tribunal Estadual já ter
julgado situações idênticas a da apelante, oportunidade em que foram providos os recursos de apelações
para reconhecer haver violação a Súmula Vinculante nº 46 do STF e, consequentemente, a necessidade de
aplicação do Decreto-Lei nº 201/1967.

Por fim, requer o provimento do recurso, com a suspensão dos efeitos da Resolução nº 137/2017, que
cassou o mandato eletivo da apelante; a decretação da nulidade do PAD 001/2017; e o seu retorno ao
cargo de Vereadora.

Intimado o apelado, deixou transcorrer o prazo sem apresentação de contrarrazões (mov. 60.0).

A Câmara Municipal de Foz do Iguaçu peticionou nos autos, apresentando razões de impugnação ao
recurso de apelação (mov. 59.1), as quais foram ratificadas pelo Município de Foz do Iguaçu (mov. 61.1).

Aberto vista à douta Procuradoria-Geral de Justiça, pronunciou-se pela ausência de interesse no feito
(mov. 9.1).

Em razão da prolação de sentença de improcedência, o Agravo de Instrumento nº


0006735-04.2018.8.16.000 foi julgado prejudicado, na forma do artigo 932, inciso III, do Código de
Processo Civil.

Convertido o feito em diligência, a fim de que a recorrente apresentasse documento comprovando a data
da sua notificação do PAD, foi juntada cópia integral do referido procedimento administrativo (mov.
22.2).

Intimado o Município para se pronunciar a respeito, decorreu o prazo sem manifestação (mov. 27).

É o relatório.
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II - VOTO E FUNDAMENTAÇÃO

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O recurso foi tempestivamente ofertado, preenchendo os demais requisitos de admissibilidade, pelo que
deve ser conhecido.

Pois bem, inicialmente, cumpre dizer ser possível ao Poder Judiciário rever os atos administrativos
emanados do Poder Legislativo, no tocante à legalidade, sendo vedado apenas o reexame do mérito da
decisão sob o aspecto da justiça, oportunidade e conveniência.

A propósito, relevante as ponderações contidas na doutrina de Tito Costa:

“As deliberações da Câmara em matéria de cassação de mandato de Prefeito,


como de Vereadores, constituem decisões interna corporis, porque ligadas
diretamente com assuntos de sua privativa competência e de interesse de sua
economia interna. Por isso, são insuscetíveis de apreciação pelo Judiciário,
naquilo que diz respeito ao seu mérito. Todavia, no que tange à observância de
preceitos e formalidades legais e regimentais, podem elas ser alvo de exame pela
Justiça, pois que, em se tratando de verdadeiros atos administrativos, quanto a
sua forma, não podem escapar do controle judicial, sob esse aspecto. O
Judiciário – sabe-se – não pode substituir por uma decisão sua deliberação da
Câmara em matéria de seu exclusivo e interno interesse. Mas pode dizer se a
decisão desta foi procedida de formalidades essenciais a sua validade,
segundo os preceitos legais e regimentais aplicáveis. Se não foram
observadas tais formalidades, a decisão poderá ser declarada sem valor e,
portanto, nula. E, como o que é nulo não pode produzir efeitos válidos,
segue-se que a deliberação será inoperante para os fins por ela colimados.”
(Responsabilidade de Prefeitos e Vereadores – 4ª edição. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2002, p. 26/27) (Destaquei).

Dito isso, a controvérsia apresentada diz respeito ao prazo a ser observado no procedimento administrativo
disciplinar que resultou na cassação do mandato eletivo da apelante por quebra de decoro parlamentar,
defendendo esta ser aplicável ao caso o disposto no Decreto-Lei nº 201/1967, e não nas Resoluções nº
123/2016 e nº 124/2016, haja vista o contido na Súmula Vinculante nº 46 do Supremo Tribunal Federal.

Colhe-se dos autos que a recorrente, eleita vereadora pelo Município apelado para a legislatura de
2017/2020, sofreu processo administrativo disciplinar (PAD nº 001/2017) por quebra de decoro
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parlamentar, sendo notificada em 24.02.2017 da existência do PAD e da necessidade de apresentação de

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defesa.

Após a instrução do feito pela Câmara dos Vereadores, o processo administrativo foi concluído (mov. 1.9),

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com a prolação da decisão de cassação em 03.06.2017, ou seja, 99 (noventa e nove) dias após a notificação
da recorrente. Segundo alega a impugnante, tal ato foi ilegal, pois proferido aquém do prazo de 90
(noventa) dias previsto no Decreto-Lei nº 201/1967 para a conclusão do procedimento.

Pois bem, de início, impede observar que a vigência do Decreto-Lei nº 201/1967, à luz da Constituição
Federal de 1988, foi tema submetido à análise do Supremo Tribunal Federal. E após amplos debates,
concluiu a Corte Suprema pela sua recepção frente à nova ordem constitucional, editando, assim, a Súmula
nº 496, nos seguintes termos:

“Súmula 496. São válidos, porque salvaguardados pelas Disposições


Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1967, os decretos-leis
expedidos entre 24 de janeiro e 15 de março de 1967”.

Referido diploma legal dispôs sobre as hipóteses de responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores, bem
como sobre o procedimento a ser observado nos processos de cassação do mandato, prevendo em seu
artigo 5º, inciso VII, que:

“Art. 5º O processo de cassação do mandato do Prefeito pela Câmara, por


infrações definidas no artigo anterior, obedecerá ao seguinte rito, se outro não
for estabelecido pela legislação do Estado respectivo:
(...)
VII - O processo, a que se refere este artigo, deverá estar concluído dentro em
noventa dias, contados da data em que se efetivar a notificação do acusado.
Transcorrido o prazo sem o julgamento, o processo será arquivado, sem prejuízo
de nova denúncia ainda que sobre os mesmos fatos.” (Destaquei).

Tal regramento foi repetido na Lei Orgânica do Município de Foz do Iguaçu, nos seguintes termos:

“Art. 66. O processo de cassação do mandato do Prefeito pela Câmara, por


infrações definidas nos incisos do artigo anterior, obedecerá ao seguinte rito:
(...)
XIV - o processo, a que se refere este artigo, deverá estar concluído dentro de
noventa dias, contados da data em que se efetivar a notificação do acusado,
sendo o processo arquivado, se esgotado o prazo, sem prejuízo de nova denúncia
ainda que sobre os mesmos fatos.” (Destaquei).
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Entretanto, o Decreto-Lei nº 201/1967, impede lembrar, editado antes da Constituição Federal, dispôs em
seu artigo 7º que, nas hipóteses de cassação de mandato de vereador, o procedimento administrativo
previsto no artigo 5º, seria aplicável apenas de forma excepcional, de modo que os Estados e Municípios

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poderiam estabelecer regramentos próprios para regular a matéria.

Vejamos o contido no citado artigo 7º:

“Art. 7º. A Câmara poderá cassar o mandato de Vereador, quando:


§ 1º. O processo de cassação de mandato de Vereador é, no que couber, o
estabelecido no art. 5º deste decreto-lei.” (Destaquei).

Diante desta previsão, diversos Estados e Municípios passaram a estabelecer regramentos próprios para a
apuração dos crimes de responsabilidade e infrações políticos-administrativas praticados pelos
Governadores, Prefeitos e Vereadores.

Dito isso, antes de examinar a situação ora discutida nos autos, e delimitar o alcance e aplicabilidade da
Súmula vinculante nº 46 do STF, para fins didáticos e esclarecedores, é relevante traçar um apanhado
histórico sobre a previsão contida no Decreto-lei nº 201/1967, o qual possibilitou aos Municípios e aos
Estados legislarem sobre crimes de responsabilidades e infrações políticos-administrativas, bem como
dispor sobre o processo de cassação.

Pois bem, durante muitos anos, após a vigência da Constituição Federal de 1988, a doutrina vetusta sobre o
assunto posicionou-se, em sua maioria, no sentido de que os regramentos municipais, que tratassem dos
crimes de responsabilidade e infrações político-administrativas, prevaleceriam sobre qualquer outra
legislação.

Sobre o assunto, relevante as lições contidas na doutrina de Tito Costa, em sua obra de 2001:

“As leis orgânicas municipais, promulgadas como verdadeiras ‘constituições’


locais, têm estampado eu seus textos, acertadamente (quase todos eles, bem ou
mal formulados), regras sobre infrações político-administrativas, processo de
sua apuração com a consequência da cassação do mandato do Prefeito,
assim como a extinção do seu mandato. O mesmo no que respeita a
Vereadores quanto à cassação e extinção de seus mandatos, na esteira dos
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arts. 54 e 55 da Constituição relativamente aos mandatos de Deputados e

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Senadores. Eis aqui a manifestação clara do paralelismo, ou da similaridade que
deve haver entre normas que regulamentam o exercício de mandatos políticos
nos planos federal, estaduais e municipais.
(...)
Não pode pairar mais dúvida, após o advento da Constituição do Brasil de 1988,
que a matéria de cassação e extinção de mandatos municipais deve ser

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regulada pelo próprio Município, em sua lei orgânica, ou em lei especial. O
Dec-lei 201/67 incluiu no § 2º do seu art. 7º que o Presidente da Câmara
poderia afastar de suas funções o Vereador acusado, desde que a denúncia
contra ele fosse recebida pela ‘maioria absoluta’ dos membros da Casa.
Esse preceito não vigora mais. Pode ele ser adotado pela lei orgânica local,
ou por lei especial do Município que regulamente todo o processo de
cassação e de extinção, nos moldes do art. 5º do referido Decreto-lei. Ou
pode ser adotado esse mesmo procedimento, desde que expressamente o
faça uma lei municipal. Nem mesmo o Regimento Interno da Câmara poderá
cuidar da matéria, mas lei votada regularmente pelo seu plenário.” (Op. Cit. p.
34; 224) (Destaquei).

Relevante anotar que a possibilidade de os Municípios legislarem sobre o assunto foi abalizada por
renomados doutrinadores, dentre os quais o Professor José Afonso da Silva, o Advogado Tito Costa, já
mencionado neste voto, e o Professor Diógenes Gasparini, segundo os quais – resguardados os devidos
posicionamentos quanto à revogação parcial ou não do Decreto-lei nº 201/1967 – a Constituição Federal de
1988 teria derrogado a possibilidade de a União legislar sobre crimes de responsabilidade e infrações
político-administrativas, passando tal incumbência a competência exclusiva do Município, em razão do
disposto no artigo 29 da Carta Magna.

Nesse caminho, vejamos os fundamentos adotados pelos citados doutrinadores:

Para o Professor José Afonso da Silva, a Constituição Federal de 1988 teria liquidado a discussão existente
quanto à validade dos artigos 4º e 5º do Decreto-lei nº 201/1967, os quais dispõem sobre as infrações
político-administrativas e o procedimento de cassação, haja vista a autonomia concedida aos Municípios,
por força do artigo 29 do Diploma Maior. Assim, nem mesmo os Estados teriam mais competência para
legislar sobre as infrações político-administrativas, por estarem estas inseridas na capacidade de
auto-organização do Município.

Vejamos os argumentos despendidos pelo renomado doutrinador:

“Na defesa desse ponto de vista encontramos o Professor José Afonso da Silva,
observando que ‘ a constitucionalidade das normas sobre cassação de mandatos
de prefeitos e vereadores, constantes do Dec-lei 201/67, foi várias vezes
objetada. O argumento da contestação se fundava na falta de competência da
União para legislar sobre a matéria (...). Hoje a situação constitucional é ainda
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mais favorável à autonomia municipal, já que, pelo art. 29 da CF de 1988,

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os Municípios adquiriram até aquele ‘poder institucional’ que lhes faltava
nos regimes constitucionais anteriores, de modo que nem o legislador
estadual poderá mais legislar sobre o assunto, que passou inteiramente para
a competência das leis orgânicas dos Municípios, por força do art. 29 da CF
de 1988, de modo que as infrações políticos-administrativas de prefeitos e
vereadores hão de constar delas, de sorte que a promulgação da

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Constituição de 1988 teve o efeito de liquidar de uma vez por todas com a
discutível validade dos dispositivos em causa do referido decreto-lei, que
ficaram definitivamente revogados por contrastar com suas normas. Disso
tudo se infere que a capacidade de auto-organização do Município,
decorrente do art. 29 da CF, inclui a competência para definir as infrações
político-administrativas de seus agentes políticos e o respectivo processo
perante a Câmara Municipal. Nunca houve dúvidas, nem mesmo no regime
do famigerado Dec.-lei 201/67, sobre a competência municipal para dispor
sobre o processo político de apuração daquelas infrações, tanto que aí o
decreto-lei era puramente supletivo (e nem isso poderá ser mais já que não
cabia e menos cabe agora à União legislar supletivamente sobre o assunto
de competência municipal), nem dúvida houve jamais sobre a competência
da Câmara do Municipal para o processos e julgamento de tais infrações
(...) É certo que o Dec.-lei 201/67 dispôs sobre matéria de quatro naturezas:
crime de responsabilidade (art. 1º) e o respectivo processo penal (art. 2º),
infrações político-administrativas (art. 4º) e o processo de cassação de
mandato delas decorrentes (art. 5º). Os crimes de responsabilidade do prefeito
são espécies de delitos penais, pelo que a competência legislativa para sua
definição pertence exclusivamente à União, nos termos do art. 21, I, da CF,
mediante lei especial, tal como também se prevê em relação aos crimes de
responsabilidade do Presidente da República (art. 85, parágrafo único). O
processo de sua apuração e de seu julgamento, do mesmo modo também
depende de previsão em lei federal, por se tratar de processo penal ex vi daquele
mesmo dispositivo constitucional. (...) Ao contrário, as infrações
político-administrativas, como o próprio nome indica, não são delitos ou
infrações-penais. Não definem condutas delitivas, cujo tipo e
antijuridicidade importem na cominação de uma pena das que a CF prevê
no seu art. 5º, XLVI. Se a infração não atrai a aplicação de uma dessas penas é
porque não se caracteriza de natureza penal e, pois, não tem natureza de crime.
Referem-se elas à conduta ético-governamental do prefeito, cuja apuração e
julgamento se realizam, não por processo penal, mas por um procedimento
político-administrativo, que não conduz à aplicação de pena criminal, mas de
simples sanção política consistente na cassação do mandato do infrator. Esse
procedimento não leva, pois, a um juízo criminal, mas a juízo político, que,
por ser tal, não pode ser atribuído, como não o foi, a qualquer órgão
jurisdicional, mas conferido à competência do órgão composto de
representantes do povo, o que é da tradição constitucional brasileira. De fato,
se se trata apenas de decidir sobre a conduta ético-governamental de um
governante eleito pelo povo, como é o prefeito, tal função somente pode
caber ao órgão que representa esse mesmo povo, no caso a Câmara
Municipal. (...) A Constituição Federal sempre disciplina a questão apenas em
relação às autoridades governamentais federais. As Constituições Estaduais
sempre o fizeram no tocante às autoridades governamentais estaduais e as leis
orgânicas dos Municípios (salvo omissões), em relação aos prefeitos e
vereadores. Só o Dec.-lei 201/67, fundado em ordenamento jurídico autoritário
excepcional, é que, ilegitimamente, abriu uma brecha nesses princípios em
relação aos agentes políticos municipais, nos termos de seus arts. 4 e 5º, agora
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definitiva e inapelavelmente revogados por inconstitucionalidade.” (Prefeitos e

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Vereadores – Crimes e Infrações de Responsabilidade. Altamiro de Araújo Lima
Filho, p. 387/389) (Destaquei).

Seguindo o mesmo raciocínio, quanto à outorga pela nova ordem constitucional de autonomia aos

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Municípios para legislarem sobre as infrações político-administrativas e o processo de apuração de
cassação dos mandatos de prefeitos e vereadores, foram os posicionamentos adotados por Tito Costa e
Diógenes Gasparini:

“Outra linha defende a ideia de que o Decreto-Lei em referência teria sido


recepcionado, pela nova Constituição, exclusivamente em seus artigos 1º, 2º e
3º, ao tratar dos crimes especiais cometidos pelos Prefeitos dos Municípios (...).
O brilhante Advogado Tito Costa, nessa trincheira, insculpe que ‘A partir da
Constituição de 1988 algumas alterações fundamentais foram introduzidas
para apuração de crimes de prefeitos e infrações político-administrativas
tanto de prefeitos quanto de vereadores (...) É importante destacar que as
disposições desse Dec.-lei 201/67 relativas à cassação ou à extinção de
mandatos municipais (prefeitos e vereadores) não mais vigoram, a partir da
promulgação da Carta de 1988. Pois, a competência par dispor a respeito da
matéria passou para os Municípios, em decorrência da ampla autonomia que
lhes foi dada pela mesma Constituição (...) Com o advento da nova Carta de
1988 parece não comportar nenhuma dúvida que tal competência ficou
delegada aos Municípios, por via de suas leis orgânicas, ou outro diploma
especial devidamente votado e aprovado pelas edilidades locais. Tanto a
definição de infrações, como o processo de sua apuração, com as sanções
respectivas, hão de ser fixados por lei municipal. (...) Podemos afirmar,
portanto, que os arts. 4º, 5º, 6º, 7º e 8º do Dec.-lei 201/67 não recepcionados pela
nova ordem constitucional, ficando automaticamente derrogados, já que cuidam,
respectivamente, da cassação e da extinção de mandatos de prefeitos e
vereadores. (...) A definição de infrações político-administrativas, assim
como os casos de extinção de mandatos de prefeitos e vereadores, há de ser
feita por lei municipal. Caso as leis orgânicas não agasalhem, em seus
textos, as hipóteses respectivas, caberá às Câmaras a elaboração de leis
especiais disciplinando a matéria, já que essa competência, a partir da
Constituição de 1988, pertence exclusivamente ao Município.
(...)
Na mesma trilha caminha o ilustrado Diógenes Gasparini, citado por Wolgran
Junqueira Ferreira, que afirma, verbis: ‘No que concerne a essas matérias, o
Decreto-Lei nº 201/67 está perempto. Restou ineficaz pela nova Constituição
que não permite mais ao legislador da União editar normas sobre infrações
político-administrativas, processo de julgamento pela Câmara de
Vereadores, extinção de mandato de Prefeito e Vereadores e cassação de
mandato de Vereadores.” (Op. Cit. p. 389/390) (Destaquei).

A despeito de estes fundamentos terem sido abraçados pela maior parte da doutrina e da jurisprudência,
que por longos anos entendeu ser aplicável as legislações municipais em detrimento do Decreto-Lei nº

201/1967, foi criada uma outra corrente doutrinária, a qual afastou o fundamento de ser a autonomia
concedida pela Constituição Federal de 1988 aos Municípios capaz de autorizá-los a legislar sobre a
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definição das infrações político-administrativas, bem como a respeito do processo e procedimento de

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cassação dos agentes políticos.

Para os adeptos deste entendimento, a Constituição Federal não autorizou o Município a legislar sobre

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procedimento em matéria processual, haja vista o artigo 24, inciso XI, da Carta Federal ter outorgado tal
competência de forma concorrente a União, aos Estados e ao Distrito Federal.

De acordo os defensores desta segunda corrente, a autonomia conferida pela Constituição Cidadã aos
Municípios para se auto-organizarem não pode ser interpretada como a possibilidade de as Câmaras
legislativas legislarem sobre as infrações político-administrativas e o processo de cassação dos Prefeitos e
Vereadores, não podendo, pois, a matéria ser interpretada como assunto de interesse local.

Ainda, frisam a necessidade de observância do princípio da simetria, porquanto a autonomia do Município


deve ser gerida em concordância com as normas da Constituição Estadual e Federal, além do que, a
cassação do mandato, apesar de deter caráter político, tem tipificação legal, previsto no artigo 55 da Carta
Maior.

Nesse caminho, foram os magistérios do Advogado José Nilo de Castro e do eminente Desembargador do
Tribunal de Minas Gerais Sérgio Lellis Santiago:

“É este o pensar do nobre Desembargador Sérgio Lellis Santiago, do tribunal


de Justiça do Estado de Minas Gerais, ao pronunciar-se na ADIn nº 22.344-6,
em seu lúcido e brilhante voto condutor-vencedor, in verbis: ‘(...) na verdade
não tem o Município competência para dispor sobre procedimentos em
matéria processual, eis que o art. 24, XI, da Carta Federal só outorgou
competência concorrente, para isso, ao Estado e ao Distrito Federal (...) não
poderá a Lei Orgânica Municipal dispor sobre matéria que aquelas Cartas
(Federal e Estadual) não lhe reservam competência, como ocorre com
regras procedimentais em matéria processual, eis que tal, evidentemente,
não se enquadrará em assunto de interesse local (...) Não aderimos, com a
devida vênia, ao entendimento corrente de que a definição, processamento e
julgamento das infrações político-administrativas praticadas pelos Prefeitos seja
tão simplesmente matéria de peculiar interesse do Município e que, por isto, se
insira em seu poder de auto organizar-se. Tais infrações implicam, também,
com os princípios da legalidade e moralidade, que são requisitos
indispensáveis a Administração Pública em geral e não somente do limitado
horizonte municipal. Por isso é que sua regência é de ser feita em âmbito
maior, não só estadual, mas até mesmo nacional, eis que os Municípios são
células da organização nacional, precisam ser regidos por normas comuns
procedimentais. Infrações político-administrativas no Município de
Ipanema não hão de ser consideradas diferentemente daquelas praticas em
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Manga, Douradoquara ou em qualquer Município distante da Amazônia,

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eis que a Administração Pública deve ter regras de procedimentos
uniformes. O que há de ser de peculiar interesse local com isso não se
confunde, devendo ater-se ao que lhes for exclusivo, individual. Ou, na
dicção do saudoso Hely Lopes Meirelles, invocado pela douta Procuradoria
Geral de Justiça, em seu parecer, ‘o que define e caracteriza o peculiar interesse,
inscrito como dogma constitucional, é a predominância do interesse do

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Município sobre o Estado ou a União’ (p. 93). Por outro lado, a autonomia
municipal não fica atingida pelo regramento do Decreto-Lei nº 201, pois é
ela, por disposições constitucionais expressas, condicionada ao acatamento
das normas condicionadoras das Constituições Federal e Estadual. O
próprio Estado, com maior autonomia e poderes constitucionais, fica contido
não só pelas regras da Lei Magna Federal, como também de leis federais.
(...)
Por igual é o sentir do eminente Advogado José Nilo de Castro, ao insculpir
que ‘O Decreto-Lei nº 201/67 foi recepcionado pela nova ordem constitucional
não só pelos arts. 1º, 2
º e 3º, que definem crimes de responsabilidade do Prefeito. (...) A infração
político-administrativa consiste na conduta que se amolda a uma figura
descrita, definida e plasmada como tal em lei especial. E lei municipal não é
hábil para definir condutas típicas punitivas a agentes políticos municipais.
É julgamento político, mas punitivo, a cassação de mandatos pelo
Legislativo Municipal. Vê-se que nos planos estaduais e federal, os chamados
crimes de responsabilidade, não sendo infrações penais, mas infrações
político-administrativas, são julgados pelo Legislativo, segundo regras
estabelecidas em lei federal especial. A cassação de mandato, punição
autônoma e definitiva, tem tipificação legal, o que lhe retira o caráter de
medida punitiva estritamente política. Mesmo política, como punição, sua
definição escapa à competência municipal. O argumento esposado de que
esta matéria (definição das infrações político-administrativas e disposição
de regras do processo de julgamento) compreende-se no poder de
auto-organização municipal é de fragilidade extrema, data vênia. É que os
Estados-Membros possuem também o poder de auto-organização, em dimensão
mais ampla até do que os municípios (art. 25, da CR). No entanto, no
exercitamento desta competência organizatória, ás Assembleias Legislativas não
se reservou a atribuição de definirem os crimes de responsabilidade dos
Governadores (que não são infrações penais, mas infrações
político-administrativas) e tampouco de regularem o processo de julgamento dos
Governadores.” (Op. Cit. p. 394/396) (Destaquei).

Inobstante os dissensos doutrinários que sempre nortearam o assunto, conforme já explanado no início
deste voto, o Supremo Tribunal Federal declarou a recepção integral do Decreto-Lei nº 201/1967 pela
Constituição Federal de 1988, editando, inclusive, a Súmula nº 496.

Contudo, tal entendimento não pôs fim as divergências a respeito da possibilidade de o Município poder ou
não legislar sobre crimes de responsabilidade/ infrações político-administrativas e o processo de cassação
dos Prefeitos e Vereadores, inclusive por meio de Regimentos Internos e Resoluções.
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Aliás, observe-se que este Tribunal de Justiça, em diversas oportunidades, deliberou no sentido de ser

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aplicável a lei orgânica do Município no julgamento dos crimes de responsabilidade e infrações
político-administrativas, só incidindo o Decreto-Lei nº 201/1967 de forma subsidiária, conforme in verbis:

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“REEXAME NECESSÁRIO - MANDADO DE SEGURANÇA - PEDIDO
CASSAÇÃO DE VEREADOR - REPRESENTAÇÃO FORMULADA POR
CIDADÃ - ILEGITIMIDADE ATIVA - RECONHECIMENTO -
PROCEDIMENTO PARA APURAÇÃO E CASSAÇÃO DE VEREADOR -
PREVISÃO EM LEI ORGÂNICA MUNICIPAL - SENTENÇA MANTIDA
EM SEDE DE REEXAME NECESSÁRIO. A Lei Orgânica do Município de
Jaguariaíva, define, no artigo 20 e parágrafo único, as condições em que o
Vereador perderá o mandato, não sendo omissa, portanto, quanto ao
procedimento a ser adotado para sua apuração e cassação. Desta forma,
inaplicável, no caso em espécie, o Decreto-Lei 201/67, pois, o procedimento
para apuração de infrações e cassação de vereador está expressamente
previsto na Lei Orgânica do Município de Jaguariaíva/PR.” (TJPR - 4ª
Câmara Cível - RN - 1505671-0 - Jaguariaíva - Rel.: Regina Afonso Portes -
Unânime - J. 02.05.2017) (Destaquei).

“MANDADO DE SEGURANÇA. INSTAURAÇÃO DE PROCESSO DE


CASSAÇÃO DE MANDATO DO VEREADOR PERANTE A CÂMARA
MUNICIPAL.INICIATIVA DE OUTRO VEREADOR. ACUSAÇÃO DE
SUPOSTA PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
(VIOLAÇÃO A PRINCÍPIOS E ENRIQUECIMENTO ILÍCITO).
IMPOSSIBILIDADE. PREVISÃO DO REGIMENTO INTERNO DA
CÂMARA MUNICIPAL NO SENTIDO DE QUE, EM TAL HIPÓTESE
(ATOS DE IMPROBIDADE), A INSTAURAÇÃO DO PROCEDIMENTO
PODE OCORRER APENAS SE A DENÚNCIA FOR REALIZADA PELA
MESA DIRETIVA OU POR PARTIDO POLÍTICO COM REPRESENTAÇÃO
NA CÂMARA. PRECEDENTES DESTA CORTE QUE RECONHECEM A
APLICAÇÃO TÃO SOMENTE SUBSIDIÁRIA DO DECRETO-LEI
201/1967 ÀS NORMAS DA LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO OU
REGIMENTO INTERNO DA CÂMARA MUNICIPAL, OU SEJA,
APENAS EM CASO DE OMISSÃO NORMATIVA, NÃO HAVENDO SE
FALAR EM INFRAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SIMETRIA. APELAÇÃO
CÍVEL DESPROVIDA. SENTENÇA MANTIDA EM SEDE DE REEXAME
NECESSÁRIO”. (TJPR - 5ª Câmara Cível - ACR - 1481067-2 - Prudentópolis -
Rel.: Rogério Ribas - Unânime - J. 17.05.2016) (Destaquei).

A par de todas as divergências assinaladas e dos fundamentos defendidos por cada doutrinador, tem-se que
por longos anos prevaleceu o entendimento de ser possível aos Municípios legislarem sobre crimes de
responsabilidade/infrações político-administrativas praticadas por Prefeitos e Vereadores, sendo, portanto,
afastadas as disposições contidas no Decreto-Lei nº 201/1967.

Todo esse imbróglio, como visto, desenvolveu-se pela interpretação dada as normas contidas no
Decreto-Lei nº 201/1967 frente às instituídas pela nova ordem de 1988. Mas não apenas por isso.
Observa-se também que sempre existiu discordância entre doutrinadores a respeito do próprio conceito de
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crime de responsabilidade e de infrações político-administrativas.

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Neste ponto, embora à questão também não esteja pacífica, tem-se que para boa parte da doutrina os crimes
de responsabilidade são, na verdade, as próprias infrações político-administrativas, as quais são julgadas

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pela Casa legislativa e cuja sanção é a cassação do mandato.

Logo, as infrações político-administrativas descritas no artigo 4º do Decreto-lei nº 201/1967[1] são os


próprios crimes de responsabilidade, enquanto que as infrações descritas no artigo 1º do referido
Decreto-Lei, a despeito da utilização da nomenclatura de “crimes de responsabilidade”, configuram, em
verdade, os crimes comuns praticados por Prefeitos, os quais são julgados pelos Tribunais.

Sobre o assunto, impede citar decisão do Pretório Excelso, da lavra do Ministro Carlos Velloso:

“PENAL. PROCESSUAL PENAL. PREFEITO: CRIME DE


RESPONSABILIDADE. D.L. 201, de 1967, artigo 1.: CRIMES COMUNS. I. -
Os crimes denominados de responsabilidade, tipificados no art. 1. do D.L. 201,
de 1967, são crimes comuns, que deverão ser julgados pelo Poder Judiciario,
independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores (art. 1.), são
de ação pública e punidos com pena de reclusão e de detenção (art. 1., par. 1.) e
o processo e o comum, do C.P.P., com pequenas modificações (art.2.). No art.
4., o D.L. 201, de 1967, cuida das infrações político-administrativas dos
prefeitos, sujeitos ao julgamento pela Câmara dos Vereadores e
sancionadas com a cassação do mandato. Essas infrações e que podem, na
tradição do direito brasileiro, ser denominadas de crimes de
responsabilidade. II. - A ação penal contra prefeito municipal, por crime
tipificado no art. 1. do D.L. 201, de 1967, pode ser instaurada mesmo após a
extinção do mandato. III. - Revisão da jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal. IV. - H.C. indeferido”. (STF, HC 70671, Relator(a): Min. CARLOS
VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 13/04/1994, DJ 19-05-1995 PP-13993
EMENT VOL-01787-03 PP-00536 RTJ VOL-00159-01 PP-00152) (Destaquei).

Explanada a situação em torno da definição do crime de responsabilidade, diga-se, infrações


político-administrativas, bem como delineados os estudos e questionamentos que sempre nortearam a
questão do alcance da incidência do Decreto-Lei nº 201/1967, tem-se que o Supremo Tribunal Federal, em
26.11.2013, ao examinar a natureza do crime de responsabilidade, se política ou de ilícito penal, consagrou
o entendimento de possuírem tais infrações natureza penal.

E sob essa premissa, em razão do contido no artigo 22, inciso I da Constituição – competência privativa da
União para legislar sobre direito penal – editou a Súmula nº 722, dispondo:
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“Súmula 722: São da competência legislativa da União a definição dos crimes
de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e
julgamento.”

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Por essa súmula restou assentado o entendimento de que a definição das condutas configuradas como
crime de responsabilidade, ainda que sob a rubrica de infração político-administrativa, bem como as
regras concernente ao processo e julgamento dos agentes políticos pela prática dessas infrações, são de
competência privativa da União.

Observa-se que, no Recurso Extraordinário nº 367297/SP, que resultou na edição da Súmula nº 722 da
Corte Suprema, o Excelentíssimo Ministro Celso de Mello bem ressaltou a divergência quanto à natureza
do crime de responsabilidade, consignando:

“(...) o crime comum e o crime de responsabilidade são figuras jurídicas que


exprimem conceitos inconfundíveis. O crime comum é um aspecto da
ilicitude penal. O crime de responsabilidade refere-se à ilicitude
político-administrativa. O legislador constituinte utilizou a expressão crime
comum, significando ilícito penal, em oposição a crime de responsabilidade,
significando infração político-administrativa.
(...) fica claro que o crime de responsabilidade não é infração penal, mas
infração político-administrativa.
(...) não obstante essa minha pessoal convicção sobre o tema, devo ressaltar
que diverso é o entendimento consagrado na jurisprudência constitucional
do Supremo Tribunal Federal.
(...)
A orientação consolidada na Súmula 722/STF, hoje prevalecente na
jurisprudência desta Suprema Corte, conduz ao reconhecimento de que não
assiste, ao Estado-membro e ao Município, mediante regramento normativo
próprio, competência para definir tanto os crimes de responsabilidade
(ainda que sob a denominação de infrações administrativas ou
político-administrativas) quanto o respectivo procedimento ritual: (...) Cabe
assinalar que têm sido reiteradas as decisões proferidas por esta Suprema
Corte, cujo magistério jurisprudencial se orienta - considerados os
precedentes mencionados - no sentido da impossibilidade de outros entes
políticos, que não a União, editarem normas definidoras de crimes de
responsabilidade, ainda que sob a designação formal de infrações
político-administrativas ou infrações administrativas: ‘AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE – AUTONOMIA DO ESTADO-MEMBRO –
A CONSTITUIÇÃO DO ESTADO-MEMBRO COMO EXPRESSÃO DE UMA
ORDEM NORMATIVA AUTÔNOMA – LIMITAÇÕES AO PODER
CONSTITUINTE DECORRENTE (...) – PRESCRIÇÃO NORMATIVA
EMANADA DO LEGISLADOR CONSTITUINTE ESTADUAL – FALTA DE
COMPETÊNCIA DO ESTADO-MEMBRO PARA LEGISLAR SOBRE
CRIMES DE RESPONSABILIDADE (...). .......................................................
INFRAÇÕES POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS: INCOMPETÊNCIA
LEGISLATIVA DO ESTADO-MEMBRO. - O Estado-membro não dispõe de
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competência para instituir, mesmo em sua própria Constituição, cláusulas

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tipificadoras de ilícitos político-administrativos (...)’. (RTJ 198/452-454, 452,
Rel. Min. CELSO DE MELLO) (...) Essa diretriz jurisprudencial apoia-se no
magistério de autores - como PONTES DE MIRANDA (“Comentários à
Constituição de 1967, com a Emenda n. 1, de 1969”, tomo III/355, 3ª ed., 1987,
Forense), MARCELO CAETANO (“Direito Constitucional”, vol. II/547-552,
item n. 179, 2ª ed., revista e atualizada por Flávio Bauer Novelli, 1987, Forense)

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e OSWALDO TRIGUEIRO (“Direito Constitucional Estadual”, p. 191, item n.
101, 1980, Forense) - que reconhecem, unicamente, na matéria ora em
análise, a competência legislativa da União Federal, advertindo que a
regulação do tema, pelo Estado-membro ou Município, traduz usurpação
das atribuições que a Constituição da República outorgou, com
exclusividade, à própria União Federal. O que me parece incontroverso, no
entanto, a partir da edição da Súmula 722/STF, é que resultou superada,
agora, prestigiosa corrente doutrinária (PAULO BROSSARD DE SOUZA
PINTO, “O Impeachment”, p. 88/112, 2ª ed., 1992, Saraiva; JOSÉ
AFONSO DA SILVA, “Curso de Direito Constitucional Positivo”, p. 629/630,
32ª ed., 2009, Malheiros; HELY LOPES MEIRELLES, “Direito Municipal
Brasileiro”, p. 805, 16ª ed., item n. 4.2.1, 2008, Malheiros), que admite a
possibilidade de os Estados-membros ou os Municípios definirem, eles
próprios, os modelos tipificadores dos impropriamente denominados crimes
de responsabilidade. O Estado-membro e o Município, portanto,
considerada a jurisprudência predominante nesta Suprema Corte, não
dispõem de competência para estabelecer normas definidoras de crimes de
responsabilidade (ainda que sob a designação de infrações administrativas
ou político-administrativas), bem assim para disciplinar o respectivo
procedimento ritual”. (STF, RE 367297/SP, rel. Min. Celso de Mello, DJe
11.12.2009) (Destaquei).

Nessa ordem de ideias, observa-se que, embora a Corte Suprema tenha editado a Súmula 722, firmando
entendimento de não possuírem os Estados e os Municípios competência para legislarem sobre crimes de
responsabilidade, ainda que sob a rubrica de infrações político-administrativas, os Municípios
continuaram a aprovar legislação tratando do tema. Tal fato culminou na conversão da indigitada súmula
em vinculante, qual seja, a nº 46 do Supremo Tribunal Federal, publicada em 09 de abril de 2015, cuja
redação foi a seguinte:

“Súmula Vinculante 46. A definição dos crimes de responsabilidade e o


estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são de
competência legislativa privativa da União”.

Com o advento da Súmula vinculante nº 46 da Corte Suprema, a discussão doutrinária e jurisprudencial a


respeito da competência para tratar de crimes de responsabilidades/infrações político-administrativas
parecia ter se dado por encerrada.

No entanto, ao me debruçar na análise do presente caso, examinando os entendimentos jurisprudenciais


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firmados após a edição da Súmula vinculante nº 46 do STF, observo que a questão está longe de ser

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pacificada.

A discussão que ora se depara, e com relação a qual ainda persiste divergência jurisprudencial, é quanto ao

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alcance da Súmula Vinculante nº 46 do Supremo Tribunal Federal, ou seja, estaria a abranger a conduta de
quebra de decoro cometida por parlamentar, no caso, vereador.

Pois bem, essa questão tem se mostrado divergente não apenas no âmbito deste Tribunal de Justiça, mas de
outros Tribunais Estaduais do país.

Esta 5ª Câmara Cível, no julgamento do Mandado de Segurança, em sede de Reexame Necessário, nº


0000343-17.2018.8.16.0075, de Relatoria do Desembargador Adalberto Jorge Xisto Pereira, bem como, no
julgamento da Apelação Cível nº 1.727.709-7, de relatoria do Juiz Substituto em Segundo Grau, Rogério
Ribas, cuja situação é análoga a presente, decidiu pela aplicabilidade da Súmula Vinculante nº 46 do
STF.

Nesses julgados esta Colenda Câmara concluiu que a quebra de decoro parlamentar configura crime de
responsabilidade/infração político-administrativa.

Vejamos como restaram ementados os acórdãos:

“REEXAME NECESSÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. DENÚNCIA


CONTRA VEREADOR POR QUEBRA DE DECORO PARLAMENTAR.
APURAÇÃO DE INFRAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA.
LEGISLAÇÃO MUNICIPAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
VINCULANTE N.º 46. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA
DA UNIÃO. ART. 5.º, INCISO I DO DECRETO-LEI N.º 201/1967.
DENÚNCIA QUE DEVE SER ESCRITA E APRESENTADA POR ELEITOR.
DENUNCIANTE QUE ESTAVA COM SUA INSCRIÇÃO ELEITORAL
CANCELADA POR OCASIÃO DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA.
VÍCIO QUE CONTAMINA TODO O PROCESSO DE CASSAÇÃO. DIREITO
LÍQUIDO E CERTO QUE RESTOU MACULADO. ERRO MATERIAL NA
PARTE DISPOSITIVA DA SENTENÇA. CORREÇÃO. DECISÃO DE
CONCESSÃO DA ORDEM, DETERMINANDO O ARQUIVAMENTO DA
DENÚNCIA, COM FUNDAMENTO EM LEGISLAÇÃO MUNICIPAL.
CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA RECORRIDA POR FUNDAMENTO
DIVERSO.” (TJPR - 5ª Câmara Cível - 0000343-17.2018.8.16.0075 - Cornélio
Procópio - Rel: Adalberto Jorge Xisto Pereira – acompanharam o Relator o
Des. Nilson Mizuta e Carlos Mansur Arida - J. 11.12.2018). (Destaquei)
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“APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. CÂMARA DE
VEREADORES. PROCESSO PARA CASSAÇÃO DE PARLAMENTAR.
ALEGADA EXTRAPOLAÇÃO DO PRAZO PARA SUA CONCLUSÃO.
PRAZO DECADENCIAL DE 90 DIAS CORRIDOS, A CONTAR DA
NOTIFICAÇÃO DO ACUSADO. ART. 5.º, INCISO VII, DO

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DECRETO-LEI N.º 201/1967 QUE PREVÊ O ARQUIVAMENTO DO
PROCESSO ADMINISTRATIVO EM RAZÃO DO
EXTRAPOLAMENTO, SEM PREJUÍZO DE NOVA DENÚNCIA AINDA
QUE SOBRE OS MESMOS FATOS. EXORDIAL QUE RESTOU
INDEFERIDA LIMINARMENTE NO JUÍZO A QUO AO ENTENDIMENTO
DE QUE O PRAZO NÃO HAVIA SIDO EXTRAPOLADO. CONTAGEM
REALIZADA PELO JUÍZO SENTENCIANTE QUE CONSIDEROU QUE
O PRAZO SE DÁ EM 90 DIAS ÚTEIS, COM FUNDAMENTO EM
RESOLUÇÃO DA CASA LEGISLATIVA MUNICIPAL. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO INTERPOSTOS PELO IMPETRANTE SUSTENTANDO
OMISSÃO E OBSCURIDADE EM RELAÇÃO À SÚMULA VINCULANTE
46. REJEIÇÃO COM IMPOSIÇÃO DE MULTA. MATÉRIA DE
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO PARA
APURAÇÃO DE CRIME DE RESPONSABILIDADE COMETIDO POR
VEREADOR, CONFORME SE EXTRAI DO ENUNCIADO DA SÚMULA
VINCULANTE 46 E DA RECLAMAÇÃO 22.443/BH DO STF.EFEITO
VINCULANTE QUE SE DÁ AOS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO E
À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA, NAS ESFERAS
FEDERAL, ESTADUAL, DISTRITAL E MUNICIPAL (ART. 2.º, DA LEI
FEDERAL N.º 11.417/2006). PROCESSO QUE NÃO SE ENCONTRA
MADURO PARA JULGAMENTO POR ESTA CORTE DE JUSTIÇA, UMA
VEZ QUE SEQUER AS AUTORIDADES IMPETRADAS FORAM
NOTIFICADAS PARA APRESENTAÇÃO DE INFORMAÇÕES E NÃO
HOUVE CIÊNCIA AO ÓRGÃO DE REPRESENTAÇÃO JUDICIAL DA
PESSOA JURÍDICA INTERESSADA.1)
Súmula Vinculante 46: "A definição dos crimes de responsabilidade e o
estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são da
competência legislativa privativa da União" (aprovação em plenária do STF em
09.05.2015). "A Súmula Vinculante 46 (resultante da conversão da Súmula 722)
foi editada por esta Corte após reiterados precedentes que, com base no art. 22,
I, da CRFB/1988, afirmaram a inconstitucionalidade de normas estaduais e
municipais que previam crimes de responsabilidade ou dispunham sobre
seu processo e julgamento. Concluiu-se que, independentemente da esfera a
qual vinculado o agente político, estará ele submetido ao regramento
federal: Lei nº 1.079/50 ou Decreto-Lei nº 201/67. Assim, haverá afronta à
competência privativa da União, quando Assembleia Legislativa ou Câmara
de Vereadores aplicar lei estadual ou municipal, relativamente a definição
das infrações, processo e julgamento de crimes de responsabilidade, que
divirja do determinado em lei federal" (STF, Ministro Luís Roberto Barroso,
Reclamação 22.443/BH, publicada em 14.12.2015) APELAÇÃO PROVIDA.
SENTENÇA REFORMADA. RETORNO DOS AUTOS AO JUÍZO A QUO
PARA PROCESSAMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA.” (TJPR - 5ª
Câmara Cível - AC - 1727709-7 - Foz do Iguaçu - Rel.: Rogério Ribas –
acompanharam o Relator o Des. Carlos Mansur Arida e o Juiz Substituto
em Segundo Grau Edison Macedo - Unânime - J. 05.12.2017). (Destaquei)

No mesmo sentido, já decidiu a 4ª Câmara Cível desta Corte Estadual de Justiça:


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“APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO DE
CASSAÇÃO DE MANDATO DE VEREADOR POR QUEBRA DO
DECORO PARLAMENTAR. PRAZO PARA APRESENTAR DEFESA
PRÉVIA PREVISTO NO REGIMENTO INTERNO DA CÂMARA
MUNICIPAL DE QUINTA DO SOL NÃO OBSERVADO, CERCEAMENTO
DE DEFESA. INOCORRENCIA. APLICABILIDADE DO DECRETO-LEI

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Nº 201/67 (ART. 5º, DECRETO-LEI Nº 201/67), SUMULA 722 DO S.T.F E
SUMULA VINCULANTE 46 S.T.F. REFORMA DA SENTENÇA.
SEGURANÇA DENEGADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO”. (TJPR
- 4ª Câmara Cível - AC - 1531234-0 - Engenheiro Beltrão - Rel.: Lélia Samardã
Giacomet - Unânime - J. 16.08.2016) (Destaquei).

Ainda, na mesma linha de entendimento, há decisões dos Tribunais de Justiça de Minas Gerais e de São
Paulo:

“REEXAME NECESSÁRIO - MANDADO DE SEGURANÇA - CÂMARA


MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES INSTAURAÇÃO DE
PROCESSO ADMINISTRATIVO PARA APURAÇÃO DE SUPOSTA
QUEBRA DE DECORO PARLAMENTAR POR VEREADOR -
INOBSERVÂNCIA DO RITO ESTABELECIDO NO DECRETO-LEI
FEDERAL 201/67 - NULIDADE - CONCESSÃO DA SEGURANÇA -
MANUTENÇÃO.

Nos termos da Súmula Vinculante 46 do Supremo Tribunal Federal, as


normas de processo e julgamento de infrações político-administrativas
praticadas por agentes políticos se inserem no âmbito da competência
legislativa privativa da União. Nestes termos, os processos administrativos
instaurados para fins de apuração de mencionadas infrações, dentre as
quais a quebra de decoro parlamentar, devem seguir as regras
estabelecidas no Decreto-Lei Federal 201/67, sob pena de nulidade.
Sentença confirmada, no reexame necessário.” (TJMG - Remessa
Necessária-Cv 1.0000.16.086518-4/002, Relator(a): Des.(a) Judimar Biber , 3ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 02/08/2018, publicação da súmula em
03/08/2018) (Destaquei).

“MANDADO DE SEGURANÇA – Vereador que busca arquivamento do


processo de cassação de seu mandato parlamentar, sob fundamento da
ocorrência de irregularidade no procedimento administrativo –
Inaplicabilidade da Lei Orgânica do Município e do Regimento Interno da
Câmara dos Vereadores de Santa Gertrudes-SP, em razão da edição da
Súmula Vinculante nº 46, do Supremo Tribunal Federal – Aplicável o
procedimento previsto no artigo 5º do Decreto-Lei no 201/67, conforme
artigo 7º, §1º, do mesmo diploma legal – Voto nominal, em observância ao
princípio constitucional da publicidade – Sentença reformada – Recurso e
reexame necessário providos.” (TJ-SP Apelação/Remessa Necessária
1001224-22.2016.8.26.0510; Relator (a): Luiz Sergio Fernandes de Souza;
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Órgão Julgador: 7ª Câmara de Direito Público; Foro de Rio Claro - Vara da

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Fazenda Pública; Data do Julgamento: 09/10/2017; Data de Registro:
10/10/2017). (Destaquei).

“ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE – §2º, DO ARTIGO 61, §2º


DO REGIMENTO INTERNO DA CÂMARA MUNICIPAL DE ITAÍ –
NORMA QUE DISPÕE SOBRE RITO DO PROCESSO DE CASSAÇÃO

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DE VEREADOR, EM RAZÃO DE INFRAÇÃO
POLÍTICO-ADMINISTRATIVA – COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADA À UNIÃO (ARTIGO 22,
INCISO I, DA CR) – ENTENDIMENTO CONSOLIDADO NA SÚMULA
VINCULANTE Nº 46, DO C. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL –
MÁCULA AO PACTO FEDERATIVO (ARTIGO 1º DA CR) – OFENSA AO
ARTIGO 144 DA CARTA ESTADUAL – PRECEDENTES – INCIDENTE
ACOLHIDO. (TJ/SP. Incidente De Arguição de Inconstitucionalidade Cível
0073865-37.2015.8.26.0000; Relator (a): Francisco Casconi; Órgão Julgador:
Órgão Especial; Foro de Itaí - Vara Única; Data do Julgamento: 16/03/2016;
Data de Registro: 21/03/2016)

Pertinente mencionar a ponderação feita pelo eminente Relator do processo nº 1.0000.16.086518-4/002, do


Tribunal de Justiça de Minas Gerais, sobre a conduta de falta de quebra de decoro parlamentar configurar
uma infração de caráter político-administrativo: “certo é que, todas as condutas ilícitas de caráter
político-administrativas imputadas aos agentes políticos, dentre as quais, repita-se, a falta de decoro
parlamentar, tal como estabelecida no art. 7º, III, do Decreto-lei 201/67, devem ser apuradas por meio
de competente processo administrativo que deverá seguir o rito estabelecido na mesma legislação, não
sendo mais para tanto admitida a utilização de ritos procedimentais estabelecidos em normas estaduais ou
municipais, respectivamente para o julgamento de Governadores e Deputados Estaduais ou Prefeitos e
Vereadores, por violarem a competência privativa da União sobre a matéria”. (TJ-MG Reexame
Necessário MS nº 1.0000.16.08518-4/002, 3ª Câmara Cível, Rel. Judimar Biber). (Destaquei),

De acordo com esses precedentes, tem-se entendido ser a quebra do decoro parlamentar uma infração
político-administrativa (crime de responsabilidade propriamente dito), por ser uma conduta ilícita praticada
por agente político.

Por igual, mostra-se importante citar os ensinamentos do renomado Promotor e Professor Rogério Sanches
Cunha, quanto à natureza das infrações atingidas pela Súmula Vinculante nº 46 do STF:

“O crime de responsabilidade pode ser próprio ou impróprio. O crime de


responsabilidade próprio é uma infração penal comum cometida por
determinados agentes, julgada pelo Poder Judiciário, ao passo que o impróprio
revela uma infração político-administrativa, em que a apreciação e a
punição, ambas de ordem política (impeachment), são atribuídas ao Poder
Legislativo.
(...)
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O crime de responsabilidade de que trata esta súmula é o impróprio, ou

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seja, aquele que versa sobre punições de ordem política.
A edição desta súmula vinculante decorreu, na verdade, da conversão da súmula
722, editada em 2003, que já pacificara a questão a respeito da competência
privativa da União sobre a lei disciplinando os crimes de responsabilidade
impróprios. A conversão ocorreu porque, a despeito da súmula então
vigente, estados e municípios insistiam em aprovar leis locais tratando do

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tema, o que culminava na provocação do Supremo, que reiterava sua
jurisprudência. Decidiu-se, então, pela súmula vinculante para obstar
definitivamente a usurpação de competência.” (Disponível em:
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/04/08/sumula-vinculante-46-competenc
). (Destaquei).

Por outro lado, não desconheço a existência de entendimento diverso ao exposto alhures, inclusive já
manifestado neste Tribunal de Justiça.

Aliás, verifica-se que algumas reclamações estão sendo propostas no Supremo Tribunal Federal suscitando
a violação da Súmula Vinculante nº 46 pelas Câmaras Municipais, em razão da aplicação de suas
legislações no processo de cassação de Vereador em detrimento do Decreto-Lei nº 201/1967.

Todavia, não obstante tais reclamações não estejam sendo admitidas, em alguns casos, os Excelentíssimos
Ministros da Corte Suprema, sem adentrar no mérito das discussões que rodeiam a questão, apenas
afirmam, em sucintos parágrafos, não ser a quebra do decoro parlamentar crime de responsabilidade.

Observa-se que tais afirmações acabam sendo utilizadas para embasar o entendimento daqueles que
defendem a inaplicabilidade da Súmula Vinculante nº 46 aos casos de cassação de mandato de vereadores.

A título de exemplo, vejamos como constou a afirmação do Excelentíssimo Ministro Marco Aurélio, no
julgamento da Reclamação 29264/MT:

“O reclamante, ex-vereador em Sorriso/MT, foi alvo de processo administrativo


em razão de apontada quebra do decoro parlamentar. Articula com o desrespeito
ao verbete vinculante nº 46 da Súmula do Supremo, frisando que o rito
observado pela Câmara Municipal para a apuração da infração cometida, tendo
em conta o voto secreto, discrepa do que versado no Decreto-Lei nº 201/1967,
considerado o disposto na legislação local. Este é o teor do enunciado dito
olvidado: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das
respectivas normas de processo e julgamento são da competência legislativa
privativa da União. É imprópria a irresignação. A par da discussão atinente à
possibilidade de prática de crime de responsabilidade por membro do
Legislativo, não se faz em jogo o processamento de vereador em
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Legislativo, não se faz em jogo o processamento de vereador em


decorrência de ilícito dessa natureza, mas sim em virtude de suposto ato a

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revelar quebra de decoro parlamentar. Mostra-se ausente a identidade
material entre a situação retratada e o paradigma. Atentem para a
excepcionalidade da reclamação” (STF, Rcl. 29264/MT, DJ 19/09/2018)
(Destaquei).

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Na mesma toada, o Excelentíssimo Ministro Alexandre de Moraes afirmou:

“Na mesma linha de apuração de conduta contrária ao decoro parlamentar, é


processada a representação 3/2017: encontra - se em trâmite por suposta
violação ao artigo 9º, incisos I e II, da Res. 53/2003 (I - abusar das prerrogativas
que lhes são asseguradas pela Constituição Federal, pela Lei Orgânica e pelo
Regimento Interno; II - perceber, a qualquer título, em proveito próprio ou
outrem, no exercício da atividade parlamentar, vantagens indevidas), ante a
acusação de recebimento de vantagens indevidas pelo parlamentar, por “ suposta
campanha arrecadatória para pagamento de multa eleitoral no valor de R$
8.000,00” (doc. 27, fl. 21). Nessas circunstâncias, em que não se tipifica
crime de responsabilidade, mas sim infrações éticas em relação ao decoro
parlamentar, não há estrita aderência entre os atos impugnado e ato paradigma
invocado.” (STF, Rcl. 27064/PR, DJ 16.06.2017) (Destaquei).

Pois bem, após a exposição de todas as divergências doutrinárias e jurisprudenciais que ainda circundam o
tema, constata-se que a questão ainda é nebulosa, necessitando de um melhor esclarecimento, direto e
objetivo.

Portanto, depois de examinar todo o contexto histórico e os fundamentos desenvolvidos por cada corrente
doutrinária ao longo dos anos, bem como as decisões jurisprudenciais proferidas a respeito do tema, até
que haja um pronunciamento pacificado e claro, inclino-me, no momento, em adotar o entendimento de
que a quebra do decoro praticada por parlamentar é uma infração política-administrativa e,
consequentemente, incide no caso o teor da Súmula Vinculante nº 46.

É relevante salutar que a doutrina remota que sempre tratou do assunto não traçou uma distinção para
afastar a natureza de infração político-administrativas às condutas praticas pelos vereadores, dentre as
quais, a quebra do decoro.

Pelo contrário, conforme se denota da compilação doutrinária alhures apresentada, a discussão quanto à
autonomia Municipal, e possível inaplicabilidade do Decreto-Lei nº 201/1967, sempre esteve relacionada
aos processos administrativos de apuração de prática de infrações político-administrativas cujas
penalidades eram de cassação dos mandatos de Prefeitos e de Vereadores.
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Como ponderado na obra de Altamiro de Araújo Lima Filho, ao citar o posicionamento doutrinário do
Desembargador Sérgio Lellis Santiago, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, e do Advogado José Nilo
de Castro, não é razoável que as infrações praticadas por agentes políticos fiquem sob o crivo autônomo de

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disciplina pelo órgão que profere o próprio julgamento de seus pares.

Outrossim, observa-se que o artigo 4º do Decreto-Lei nº 201/1967, ao elencar as infrações


político-administrativas praticadas pelo Prefeito, previu, em seu inciso X, a conduta de quebra do decoro
do cargo, in verbis:

“X – Proceder de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo”.

E neste sentido foi a decisão proferida pelo Excelentíssimo Senhor Ministro da Corte Suprema, Alexandre
de Moraes, na Reclamação nº 29657/PA, onde reconheceu a aplicação da Súmula Vinculante nº 46 com
relação a conduta de quebra de decoro praticado por Prefeito.

Vejamos:

“(...) a Câmara Municipal editou o Decreto Legislativo 2/2017, afastando o ora


reclamante do cargo de Prefeito ao argumento de que procedera de modo
incompatível com a dignidade e o decoro do cargo (...) É fundamental,
portanto, ter presente que o processo e julgamento das infrações
político-administrativas definidas no art. 4º, do DL 201/1967 não prevê o
afastamento liminar do prefeito denunciado, conforme demonstra o art. 5º do
referido Decreto (...) Dessa forma a manutenção da medida não prevista no
DL 201/1967, norma federal aplicável ao caso, configura, por decorrência
lógica, contrariedade ao enunciado da Súmula Vinculante nº 46. Diante do
exposto, presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora, DEFIRO O
PEDIDO LIMINAR para suspender o andamento do Mandado de Segurança
0016675-92.2017.8.14.0061, em curso perante a 1ª Vara Cível e Empresarial de
Tucuruí-PA, até posterior pronunciamento desta CORTE, bem como suspender
o afastamento cautelar determinado pelo Decreto Legislativo 2/2017 da Câmara
Municipal de Tucuruí-PA; assegurando, por consequência, a recondução
imediata do reclamante ao cargo de Prefeito Municipal, enquanto não finalizado
o processo e julgamento das respectivas infrações político-administrativas, que
devem prosseguir normalmente nos termos do DL 201/67”. (Rcl 29657 MC/PA,
rel. Alexandre de Moraes, DJ 20.02.2018).

Nessa linha de pensamento, válido registrar que a conduta de quebra de decoro praticada por parlamentar
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também está prevista no Decreto-Lei nº 201/1967, no artigo 7º, inciso III, in vebis:

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
“Art. 7º A Câmara poderá cassar o mandato de Vereador, quando:
(...)
III - Proceder de modo incompatível com a dignidade, da Câmara ou faltar com

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o decoro na sua conduta pública”.

Registre-se, ainda, as conclusões adotadas pelo Juiz Substituto em Segundo Grau, Rogério Ribas, em seu
voto proferido no Agravo de Instrumento nº 0038679-58.2017.8.16.000:

“A ‘quebra de decoro’ é uma das modalidades de crime de responsabilidade


praticadas pelos integrantes do Legislativo. Está tipificada/descrita
genericamente no art. 7º, III, do DL 201/67.
(...) temos que a incidência da Súmula Vinculante nº 46 às infrações
político-administrativas praticadas por vereadores corrobora a previsão do art.
22, inc. I da CF/88, pois o rito de cassação é norma de natureza processual que
deve respeitar a competência privativa da União.” (Agravo de Instrumento nº
0038679-58.2017.8.16.0000)

De outro passo, impende asseverar que esse é o entendimento que adotou esta 5ª Câmara em julgado
mais recente, já citado neste voto – Mandado de Segurança nº 0000343-17.2018.8.16.0075, julgado em
11.12.2018 – e que se coaduna com a jurisprudência de outros Tribunais.

Ainda que não fossem suficientes os fundamentos acima expostos, a Constituição Federal de 1988, em seu
artigo 22, inciso I, outorgou à União a competência privativa para legislar sobre norma processual. E no
artigo 24, inciso XI, estabeleceu a competência concorrente da União, do Estado e do Distrito Federal para
legislar sobre procedimento.

Oportuno enfatizar, a despeito de a doutrina unânime considerar que a competência contida no artigo 24,
inciso XI, da Carta Magna é extensível também aos Municípios, importante observar que essa competência
é suplementar em assuntos que sejam de interesse local.

E não obstante os entes federados tenham autonomia de editarem suas leis, possuindo cada um dos poderes
possibilidade de formularem seus regimentos internos e resoluções, deve ser respeitado o princípio da
simetria.
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Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Sobre o assunto, relevante mencionar os ensinamentos da Professora Natália Masson:

“(...) os Municípios não foram listados como entes dotados de competência


legislativa concorrente. Isso não os impede, todavia, de legislar sobre os

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temas relacionados nos incisos constantes do artigo, haja vista a
competência suplementar que detêm como decorrência da previsão do art.
30, II, CF/88. (...) ao contrário das competências materiais comuns do art.
23, CF/88, que são cumulativas – pois não havia determinação de limites
para a atuação de cada ente –, a competência legislativa concorrente, é não
cumulativa, afinal existe determinação expressa de limites à atuação dos
entes, ou seja, as tarefas de cada um estão definidas de antemão.
Nesse contexto, pode-se afirmar que a competência da União se resume à edição
da normatização geral (art. 24, § 2º, CF/88). Por seu torno, os Estados-membros
e o Distrito Federal serão competentes para fixar as normas específicas,
complementando a norma geral elaborada pela União (competência
suplementar-complementar, prevista no art. 24, § 2º, CF/88).” (Manual de
Direito Constitucional, 6ª edição. Salvador: Juspodvim – 2018, p. 651/652)
(Destaquei).

Logo, entendo por adotar o entendimento de ser aplicável ao caso o disposto na Súmula Vinculante nº 46
do STF, por estar a conduta de quebra de decoro parlamentar inserida no conceito de crime de
responsabilidade/infração político-administrativa, matéria de competência privativa da União.

Com efeito, no caso em exame, o Município não poderia ter disciplinado pela Resolução de nº 123/2016,
sobre o processo de cassação do mandato de vereador, devendo ser aplicado ao caso o disposto no artigo
5º, inciso VII, do Decreto-Lei nº 201/1967, o qual, conforme já delineado, estabeleceu o prazo de 90
(noventa) dias, contados de forma corrida, para a conclusão do processo.

Destarte, reconhecida a aplicação do prazo estabelecido no artigo 5º, inciso VII, do Decreto-Lei nº
201/1967, tem-se que a sua contagem se inicia com a notificação do acusado.

No caso em apreço, o processo administrativo (PAD nº 01/2017) teve início no dia 17 de fevereiro de 2017
(mov. 1.8, p. 71), tendo a recorrente sido notificada da sua existência no dia 24.02.2017 (mov.22.2, p. 21).
Assim, o prazo fatal para a conclusão do julgamento seria 30.05.2017.

Entretanto, o relatório final da Comissão Parlamentar do Município de Foz do Iguaçu, que culminou na
cassação do mandato da recorrente, só foi apresentado em 03.06.2017 (mov. 1.8, p. 73; 76), e publicado no
dia 01/07/2017 (mov. 1.10, p. 135), através da Resolução nº 139/2017. Logo, foi ultrapassado o prazo
decadencial de 90 (noventa) dias previsto no artigo 5º, inciso VII, do Decreto-Lei nº 201/1967.
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Válido observar que referido prazo é decadencial. Com efeito, ultrapassados os 90 (noventa) dias corridos
para o encerramento do processo administrativo disciplinar, obrigatoriamente, conforme dispõe o próprio
artigo 5º, inciso VII, do Decreto-Lei nº 201/1967, o procedimento deverá ser arquivado, sem prejuízo da

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possibilidade de apresentação de nova denúncia.

Nesse sentido, pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

“ADMINISTRATIVO. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.


PROCESSO DE CASSAÇÃO DE PREFEITA MUNICIPAL. DECRETO-LEI
N. 201/67. PRAZO DECADENCIAL. NOVENTA DIAS. APRESENTAÇÃO
ESPONTÂNEA. TERMO INICIAL. POSSIBILIDADE. EXTRAPOLAÇÃO
DO LAPSO NONAGESIMAL. ILEGALIDADE DA PERDA DO MANDATO.
EXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO À REINTEGRAÇÃO NO
CARGO.
(...)
2. O processo de cassação de Prefeito Municipal deve transcorrer em até 90
(noventa) dias, contados da data da notificação do acusado, nos termos do
art. 5º, VII, do Decreto-Lei n. 201/67. Esse prazo, por ser decadencial, não
pode ser suspenso ou prorrogado. Precedente: REsp 893.931/SP, Rel. Ministro
CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, DJ 4/10/2007.
3. Entender de modo contrário seria o mesmo que dar à norma protetora de
direitos dos agentes políticos municipais sujeitos a processo de cassação uma
interpretação prejudicial àquelas pessoas, o que seria absurdo.
4. É ilegal a perda do mandato da Prefeita do Município de Carmo do Rio
Claro/MG, porquanto extrapolado o lapso nonagesimal previsto no art. 5º, VII,
do Decreto-Lei n. 201/67 para a conclusão do processo de cassação.
5. Isto porque a contagem do referido prazo teve início na data da apresentação
espontânea da ora recorrente (10/9/2012), por meio de advogado, e não na data
de sua notificação, feita em 8/4/2013. O termo final, por sua vez, ocorreu em
15/6/2013, com a publicação do ato de perda do mandato.
6. Recurso em mandado de segurança a que se dá provimento para declarar a
ilegalidade do Decreto-Legislativo n. 6, de 15/6/2013 e, por conseguinte,
determinar o retorno da impetrante ao cargo de Prefeita do Município de Carmo
do Rio Claro”. (STJ, RMS 45.955/MG, Rel. Ministro OG FERNANDES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 07/04/2015, DJe 15/04/2015)

Portanto, reconheço a nulidade do processo administrativo (PAD nº 01/2017) e da Resolução nº 139/2017,


com relação a ora recorrente, por inobservância do prazo previsto no artigo 5º, inciso VII, do Decreto-Lei
nº 201/1967.

Por consequência, deve a impugnante retornar ao cargo de vereadora do Município de Foz do Iguaçu.
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Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Por fim, a título complementar e à guisa de evitar futuras digressões, ainda que reconhecida a
inaplicabilidade do artigo 7º, § 2º, da Resolução nº 123/2006, não é o caso de remeter os autos para
julgamento perante o Órgão Especial – diante da cláusula de reserva de plenário, prevista no artigo 97 da
Constituição Federal –, por incidir no caso o disposto no artigo 949, parágrafo único, do Código de
Processo Civil.

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Nesse sentido, já deliberou esta Corte:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SERVIDOR MUNICIPAL


DE PATO BRANCO (ODONTÓLOGO). ADICIONAL DE
INSALUBRIDADE. RECONHECIMENTO PELA PRÓPRIA
ADMINISTRAÇÃO DE 20% COMO ADICIONAL. INDEXAÇÃO DO
BENEFÍCIO AO SALÁRIO MÍNIMO. INCONSTITUCIONALIDADE DO
ART. 2º DA LEI MUNICIPAL Nº 2.708/2006 QUE ALTEROU O ART. 68,
DA LEI Nº 1.245/93 (ESTATUTO DOS SERVIDORES MUNICIPAIS).
VEDAÇÃO EXPRESSA NO ART. 7º, IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E
SÚMULA VINCULANTE Nº 4. REPRISTINAÇÃO DO ART. 68, DA LEI
1.245/93 PARA O CÁLCULO DO ADICIONAL. JUROS E CORREÇÃO
MONETÁRIA. READEQUAÇÃO. ALTERAÇÃO EM REEXAME
NECESSÁRIO.
(...)
2. Sendo assim, deve ser declarada a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei
Municipal nº 2.708/2006 que alterou o art. 68, da Lei nº 1.245/93 (Estatuto dos
Servidores Municipais), por expressa afronta ao art. 7º, inciso IV, da
Constituição Federal.
3. Neste contexto, ocorre a repristinação do art. 68, da Lei Municipal nº
1.245/93, para o cálculo do percentual do adicional de insalubridade, já que tal
dispositivo prevê a utilização do vencimento básico do cargo da servidora para
indexação do adicional.
4. Em caso similar, este E. Tribunal já decidiu: “(...) Reconhecida, contudo, a
incompatibilidade entre essa determinação e a Súmula Vinculante 4 do STF,
impõe-se a declaração de sua inconstitucionalidade e, por consequência, a
repristinação do dispositivo em sua redação anterior. Desnecessária a análise da
questão pelo Órgão Especial a teor do art. 481, parágrafo único, do CPC.” (TJPR
– AP nº 1486511-5. Rel. Dr. Fabio Andre Santos Muniz. 1ª Câmara Cível. J.:
23/02/2016. DJ: 1758 11/03/2016)
5. Tratando-se de inconstitucionalidade já enfrenta pelo Supremo Tribunal
Federal, inclusive com edição de súmula vinculante sobre a matéria,
desnecessária o envio do feito ao Órgão Especial, nos termos do p. único do
art. 949, do CPC: “Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao
plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já
houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal
Federal sobre a questão.” RECURSO NÃO PROVIDO. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA EM SEDE DE REEXAME NECESSÁRIO,
CONHECIDO DE OFÍCIO.” (TJPR - 5ª Câmara Cível -
0004947-81.2017.8.16.0131 - Pato Branco - Rel.: Nilson Mizuta - J.
15.05.2018) (Destaquei).
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Isto posto, com base nos fundamentos acima delineados, cumpre dar provimento à presente apelação cível.

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E diante do provimento do recurso, com a determinação de retorno da recorrente ao cargo ocupado, julgo
prejudicado o pedido de efeito ativo recursal, requerido nos termos do artigo 1.012, § 4º, do Código de

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Processo Civil.

Deixo de arbitrar honorários recursais, diante do provimento do recurso, devendo ser invertido os ônus
sucumbenciais.

III – DISPOSITIVO

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 5ª Câmara Cível do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO


PARANÁ, por maioria de votos, em julgar pelo Provimento do recurso de ANICE NAGIB GAZZAOUI.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador Nilson Mizuta, com voto, e dele participaram
Desembargador Renato Braga Bettega (relator), Desembargador Carlos Mansur Arida (voto vencido),
Juiz Subst. 2ºgrau Luciano Campos De Albuquerque e Desembargador Luiz Mateus De Lima.

09 de julho de 2019

Desembargador Renato Braga Bettega

Relator

[1]Art. 4º São infrações político-administrativas dos Prefeitos Municipais sujeitas ao julgamento pela Câmara dos Vereadores e sancionadas com a cassação do
mandato:

I - Impedir o funcionamento regular da Câmara;

II - Impedir o exame de livros, folhas de pagamento e demais documentos que devam constar dos arquivos da Prefeitura, bem como a verificação de obras e
serviços municipais, por comissão de investigação da Câmara ou auditoria, regularmente instituída;

III - Desatender, sem motivo justo, as convocações ou os pedidos de informações da Câmara, quando feitos a tempo e em forma regular;

IV - Retardar a publicação ou deixar de publicar as leis e atos sujeitos a essa formalidade;

V - Deixar de apresentar à Câmara, no devido tempo, e em forma regular, a proposta orçamentária;


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VI - Descumprir o orçamento aprovado para o exercício financeiro,

VII - Praticar, contra expressa disposição de lei, ato de sua competência ou omitir-se na sua prática;

VIII - Omitir-se ou negligenciar na defesa de bens, rendas, direitos ou interesses do Município sujeito à administração da Prefeitura;

IX - Ausentar-se do Município, por tempo superior ao permitido em lei, ou afastar-se da Prefeitura, sem autorização da Câmara dos Vereadores;

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X - Proceder de modo incompatível com a dignidade e o decoro do cargo.

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