ENSINO
DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
G E R ÊN CI A DE ED UC AÇ ÃO ES CO L AR I ND Í G E NA
PROPOSTA PEDAGÓGICA DE
MATRIZES CURRICULARES DE REFERÊNCIA
PARA AS ESCOLAS INDIGENAS NO AMAZONAS
PARA O ENSINO FUNDAMENTAL
E ENSINO MÉDIO
Julho – 2014
Manaus-AM
SUMÁRIO
1
APRESENTAÇÃO........................................... ................................. 03
1.BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA.......... 05
2.JUSTIFICATIVA................................................................ .......... 07
3.FUNDAMENTAÇÃO.................................................................... 12
4.CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE ELABORAÇÃO DAS
MATR IZES DE REFERÊNC IA........................................ ................. 17
4.1 QUADRO DE ATIVIDADES TEES ...................................... ...... 17
4.2 TEMAS ABORDADOS .......................................................... ... 20
4.3 DISCUSSÃO DA ORGANIZAÇÃO DO ENSINO........................... 20
5.PROPOSTA PE DAGÓGICA DAS MATRIZES DE REFERÊNCIA...... 21
5.1 DIRETR IZES FILOSOFICAS E PEDAGÒGICAS.......................... 21
5.1.1 INTERCULTURALIDADE....................................................... 21
5.2.2SABERES TRADIC IONAIS.......................................... ............ 22
5.3.3LINGUAS INDIGENAS........................................................... 22
6.PROPOSTA METODOLÓGICA...................................................... 23
7.MATR IZ DE REFERÊNC IA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL ..... 27
8.MATR IZ DE REFERÊNC IA PARA O ENSINO MÉDIO.................... 44
9.CONCLUSÃO..............................................................................
2
APRESENTAÇÃO
3
Tendo em vista a necessidade, é que se buscou a construção de Matrizes Curriculares
para a Educação Básica e foi sistematizada, inicialmente pelos Técnicos da Gerência de
Educação Escolar Indígena, pedagogos, professores indígenas, gestores, conselheiros da
educação escolar indígena, professores das Universidades do Estado do Amazonas – UEA,
Universidade Federal do Amazonas – UFAM, para nortear a construção de outras matrizes.
A SEDUC, através do DEPPE/GEEI tem procudado responder todas as expectativas
das políticas públicas educacionais para os povos indígenas, dando qualidade e revertendo as
desigualdades sociais, relacionada a cultura, economia e as políticas relativas aos
atendimentos dos seus projetos societários e educativos. Essas referências fazem parte de uma
série de ações que a Gerência de Educação Escolar Indígena propõe para alcançar como meta
de trabalho a eficácia das políticas públicas destindas aos povos indígenas do estado do
Amazonas.
É preciso reconhecer que no Brasil, do séc. XVI até praticamente a metade deste
século XX, a oferta de programas de educação escolar às comunidades indígenas esteve
pautada pela catequização, civilização e integração forçada dos índios à sociedade nacional.
Os missionários jesuítas aos positivistas do Serviço de Proteção ao Índios, do ensino
catequético ao bilingue, a tônica foi sempre negar a diferença, assimilar os índios, fazer que se
transformassem em algo diferente do que eram. Nesse processo, a instituição da escola entre
grupos indígenas serviu de instrumento imposição de valores alheios e negação de
identidades e cultura diferenciadas.
Os processos educativos próprios das sociedades indígenas veio somar-se a
experiência escolar com as várias formas e modalidades que esta assumiu ao longo da
história, num movimento que vai da imposição de modelos educacionais aos povos
indígenas, por meio da dominação, da negação de identidade, da integração e da
homogeneização cultural, a modelos educacionais reinvidicados pelos indígenas, dentro de
paradgmas de pluralismo cultural e de respeito e valorização de identidades étnicas.
A introdução da escola para os povos indígenas é concomitante ao início do processo
de colonização do país. Num primeiro momento, a escola aparece como instrumento
privilegiado para a catequese, depois para formar mão-de-obra e por fim, para incorporar os
índios definitivamente a Nação como trabalhadores nacionais . A idéia da integração firmou-
se na política indigenista brasileira, desde o período colonial até o final de 1980. A política
integracionista começava por reconhecer a diversidade das sociedades indígenas que havia no
país, mas apontava como ponto de chegada o fim dessa diversidade. Toda diferenciação étnica
seria anulada ao se incorporar os índios à sociedade nacional. Ao se tornarem brasileiros
tinham de abandonar sua própria identidade. Só em anos recentes esse quadro começou a
mudar.
Em contraposição às práticas e às retóricas implementadas pelo Estado e por diversas
associações religiosas, tais como Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia
Brasileira (COIAB), Organização Geral dos Professores Tikuna Bilingues (OGPTB),
Conselho dos Professores Indígenas da Amazônia (COPIAM), União dos Povos
Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) entre outras organizações da sociedade civil que
passaram a trabalhar com comunidades indígenas buscando alternativas à submissão desses
grupos; a garantia de seus territórios; formas menos violentas de relacionamento e
convivência entre essas populações e outros segmentos da sociedade nacional. A escola entre
povos indígenas ganhou, então, um novo significado e um novo sentido, como meio para
4
garantir acesso a conhecimentos gerais, sem precisar negar as especificidades culturais e a
identidade. Diferentes experiências surgiram em várias regiões do Brasil, construindo projetos
educacionais específicos à realidade sociocultural e histórica de determinados grupos
indígenas, praticando a interculturalidade e o bilingüismo, adequando essas experiências ao
projeto de futuro daqueles grupos.
A Constituição assegurou o direito das sociedades indígenas a uma educação escolar
diferenciada, específica, intercultural e bilíngüe, o que vem sendo regulamentado por meio de
vários textos legais. Com o capítulo VIII, do Título VIII, da Constituição Federal de 5 de
outubro de 1988, são-lhes restituídas suas lídimas prerrogativas de primeiros cidadãos do
nosso imenso Brasil.
No estado do Amazonas que concentra a maior diveridade sociocultural e linguística
do país, o processo de educação escolar junto aos povos indígenas não foi diferente da
realidade nacional, passando pelos mesmos processos assimilatórios e integracionistas da
política pública brasileira até 1988.
Assim como em todo o Brasil, no Amazonas as propostas para a educação escolar
indígena para atender aos novos dispositivos legais, só começaram acontecer a partir de 1991
quando o Estado criou uma comissão interinstitucional, com a participção da Universidade
Federal do Amazonas (UFAM), Fundação Nacional do Indío (FUNAI), Organizações não
governamentais indígenas e não indígenas, com responsabilidade de elaborar as diretrizes
para a educação escolar indígena no estdo do Amazonas.
Dentre as diretrizes emanadas dessa comissão, destaca-se o mapeamento do quadro
sociocultural e linguístico dos povos indígenas e o diagnóstico escolar de cada povo. A partir
dessas informações, várias ações foram elaboradas, como política pública, dentre elas, está a
escolarização da população indígena que perpassa pela formação inicial de professores
indígenas em magistério indígena, já que, até então, não havia professor indígena.
A partir desses processos iniciais, a educação escolar indígena no Amazonas foi
incorporando novas demandas seja amparadas pelas novas diretrizes legais, nacionais e
estaduais, advinda das sociedades indígenas cujo dispositivo primordial é a criação da escola
indígena de fato e de direito.
2. JUSTIFICATIVA
6
No cenário histórico amazonico, as línguas indígenas ganham destaque, não só as
línguas utilizadas no cotidiano das comunidades, como também as que precisam ser
revitalizadas e outras que necessitam de fortalecimento.
No Estado do Amazonas existem 29 línguas faladas e algumas de família linguística
isolada, como as línguas Tikuna e Yanomami. Sabendo que a língua tenha sido o principal
elemento cultural perdido no contato interétnico, algumas etnias estão buscando a
revitalização daquelas que ainda existem elementos siguinificativos.
A importância da língua implica na formulaçao de uma política linguística com a
participaçao dos professores, organizações e lideranças indígenas, bem como a comunidade
em geral, discutindo e refletindo sobre sua língua e sobre sua situaçao como falante de uma
língua minoritária, relacionada com o papel ou papéis que as línguas irão ocupar no sistema
escolar em construção, sempre a partir da busca de resoluções de problemas e tomadas de
decisões coletivas apoiadas em ampla exemplicação de outras situações no país e no mundo.
A língua, para cultura de um povo, é imprescindível, uma vez que é através da
mesma que suas tradições são transmitidas de forma oral. Sendo esta o principal instrumento
na relação ensino-aprendizagem, possibilitando de forma gradativa a transformação dessa
oralidade em produções escritas como material da escola, sem, contudo, deixar de dar a
importancia significativa que a oralidade exerce na transmissão dos valores socioculturais de
cada povo.
Diante do quadro acima apresentado, faz-se necessário que a política linguistica
viabilizada pelo Estado, para as escolas indígenas, tenha como princípios, o ensino bilingue
ou multilíngue deve apontar para a manutenção e fortalecimento da língua materna, através
dos processos de escolarizaçao, sendo os protagonistas de suas próprias políticas linguísticas.
Nesse contexto, cabe a Gerência de Educaçao Escolar Indigena - GEEI, dar
continuidade aos trabalhos de acompanhamento e assessoria nas respectivas comunidades, a
fim de ter a oportunidade de estar próximos aos alunos, pais e responsáveis, comunitários e
lideranças, para o fortalecimento do trabalho coletivo e o consequente protagonismo de sua
gestão escolar.Portanto, há necessidade de regularizar juridicamente essas escolas,
contemplando as experiências sucedidas e orientando na elaboração de Projetos Políticos
Pedagógicos, regimentos, calendários, currículos, materiais didáticos-pedagógicos e
conteúdos programáticos, adequados às particulariddes etnoculturais e linguísticas próprias a
cada povo indígena.
Para a concretização de uma escola indígena específica, diferenciada, intercultural,
bi/multilingue, comunitária e de qualidade social que atenda aos anseios dos povos indígenas
é necessario a construção de seus Projetos Políticos Pedagógicos como forma de fortalecer o
diálogo intercultural entre os sistemas de ensino e os povos indígenas.
Nesse sentido, o Governo do Estado do Amazonas, através da Secretaria de
Educação e Qualidade de Ensino-SEDUC-AM, vem reconhecendo as escolas indígenas com
seus projetos políticos pedagógicos específicos e diferenciados, assim como assessorando-as
no processo de construção e/ ou reconstrução, com a participação de alunos, professores e a
comunidade.
A escola indígena deve se constituir num espaço de construção de conhecimentos
que garantam o desenvolvimento de habilidades e competencias onde a aprendizagem de
conteúdos necessários para reflexão, compreensão crítica da realidade e capacidade de
atuação favoreça, não somente a participação dos professores indígenas, mas, sobretudo, dos
alunos em relações interéticas, embasando a política do Estado para a educação escolar
indígena.
Essa política deve viabilizar que os professores indígenas possam atuar como
agentes/sujeito na investigação linguística, na elaboração da ortografia, produção de materiais
diversos escritos na língua indígena e na língua portuguesa, tais como textos literários,
7
jornalísticos, dicionários, gramáticas, de uso cotidiano e textos contemplando também o
estudo de várias ciências: uma proposta de educação fundamentada na língua indígena, em
que o ensino bilingue deve apontar para a manutenção e fortalecimento da língua indígena,
através dos processos de escolarização específico.
A questão de uma política linguística definida pela comunidade será significativa
para a discussão de perspectivas futuras para as geraçoes vindouras, bem como irá determinar
a produção de materiais por meio da criação de uma tradição escrita dessa língua. Essa língua
passará a ser compreendida enquanto instrumento que revela e determina a estrutura do
pensamento indígena sob o ponto de vista da lógica específica de cada grupo, da visão de
mundo próprio, visão cultural, os modos pelos quais utilizam esse instrumento para formalizar
a realidade construída ou natural que os cerca.
A língua indígena é um componente que não deve ser trabalhado isoladamente, pois
a mesma perpassa em todas as áreas do conhecimento. Deve ser atribuída num contexto da
realidade e necessidade de cada povo, sendo constantemente fortalecida e revitalizada.
As Matrizes Curriculares aqui apresentadas devem ser vista como referências para
que as escolas indígenas construam suas propostas e matrizes curriculares.
Diante do exposto, a Gerência Escolar Indígena/GEEI, proporcionou capacitação,
orientação e discussão para a construção do Pojeto Político Pedagógico às escolas estaduais
indígenas. E como forma de consolidar esta ação foram convidadas as Organizações
Indígenas, professores indígenas, Coordenação Regional da SEDUC local, FUNAI, as
representaçôes das SEMEC e MEC que contribuiram como colaboradores nesse processo de
construção da Matriz Curricular de Referencia para o Ensino Fundamental e Médio das
escolas indígenas da rede estadual de ensino, pautada no atendimento as especificidades
pedagógicas e administrativas.
Em termos gerais, é importante considerar que a legislação que garante aos povos
indígenas o direito a uma educação escolar específica e diferenciada, é a mesma que embasa a
necessidade de professores indígenas atuantes nas escolas indígenas, uma vez que justifica e
fundamenta a ideia de que somente o indígena será capaz de compreender a fundo suas
necessidades e interesses. Nínguém melhor que o próprio indígena para fomentar os
conhecimentos tradicionais aos conhecimentos científicos: quem poderia melhor trabalhar a
língua indígena, as memórias históricas, a identidade étnica, as tradições e as culturas
indígenas, a não ser o professor indígena que tem propriedade dos conhecimentos tradicionais
e da língua indígena.
8
Com o advento da Constituição de 1988 é reconhecida às comunidades indígenas o
direito originário a posse permanente de suas terras como também processos próprios de
aprendizagem e o uso do ensino em suas línguas maternas.
Após o decreto presidencial nº 26, de 04.02.91, que confere ao Ministério da
Educação a responsabilidade de coordenar as ações relativas à educação escolar indígena, o
Governo do Estado incluiu no seu Plano estadual de Educação um Sub-Programa de
Educação Indígena.
Por força desse Decreto, o Estado do Amazonas, através da Secretaria de Estado da
Educação – SEDUC, delegou a publicação da Portaria Nº 1.176/GS, de 23/05/91 ao Instituto
Rural do Amazonas – IER-AM a função da criação de uma Comissão Interinstitucional que
elaborou as Diretrizes para a Educação Escolar Indígena no Estado do Amazonas. Autarquia
assegurada até 1998 com a responsabilidade de coordenar e executar uma proposta de
educação escolar indígena para o Estado.
9
III – Suas formas de conhecimento, processos próprios e métodos de ensino e aprendizagem”.
Adiante, no artigo 5, assegura que “A formulação do Projeto Político Pedagógico próprio, por
escola ou por povo indígena, terá por base;
IV – Os conteúdos curriculares especificamente indígenas e os modos próprios de
constituição do saber e da cultura indígena”.
Como se pode observar o Artigo 78 da LDB, de forma muito clara, qualifica a escola
indígena nas suas possibilidades de formas, objetivos e conteúdos, nos seguintes termos:
- Organização plena da escola indígena;
- Reafirmação das identidades étnicas;
- Recuperação das memórias históricas;
- Valorização das línguas e ciências indígenas;
- Acesso às informações e conhecimentos da sociedade nacional.
Art. 79 - União apoiará técnica e financeiramente os sistemas de ensino no
provimento da educação intercultural e bilingue indígena, nos seguintes termos:
- Com audiência das comunidades indígenas;
- Para fortalecer as práticas socioculturais e as línguas maternas;
- Desenvolver currículos e programas específicos;
- Material didático específico e diferenciado.
Como se pode notar, a LDB dedica dois artigos (Artigos 32 e 78) às condições
especiais da escola indígena.
3. 5 Convenção 169/OIT
11
4. A CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE ELABORAÇÃO DAS MATRIZES
12
N° Município Comunidade/ Escola Estadual Indígena Gestor(a) Data da ação
data da ação
Umariaçu I e II Almirante Sorlandi de Oliveira Vargas
01 10 e 11/06/2013
Tamandaré
Tabatinga Belém do Solimões James Mafra Balieiro
02 Belém do Solimões 17 e 18/06/2013
13
4. 5 IV MOMENTO - Reunião in-loco: Discussões nas comunidades e em suas respectivas
23/10 a
03 Manicore Boca do Jauari Anexo a N. Sra da Conceição
05/11/2013
Boa União
Marmelo Anexo a Escola Estadual 27/10 a
04 Humaitá
Traíra Gilberto Mestrinho 03/11/2013
Anexo a Esc. Est. Cônego
23 e 24/10/2013
05 Borba Forno Bento José de Souza
Kuatá Ester Caldeira Souza
Umariaçú I e II Almirante Tamandare Denisio da Silva Firmino 04/11/2013
06 Tabatinga Belém do
Belém do Solimões James Mafra Balieiro
Solimões 05 a 06/11/2013
Filadélfia Gildo Sampaio Untachigune Daniel Oliveira da Silva 07/11/2013
Benjamim
07 Cacique Manoel Florentino
Constant Feijoal Beto Fernandes Torres 08 e 09/11/2013
Mecuracu
Atalaia do Maronal Anexo a Escola Estadual 10 a 12/11/2013
08
Norte São Sebastião Pio Veiga 13 a 16/11/2013
Anexo a Escola Estadual
09 Jutaí Bugaio 04 a 08/11/2013
escolas indígenas da rede estadual do ensino Irmã Brunado TEE Rio Negro, TEE Baixo Amazonas/
Madeira e TEE Alto Solimões. Anexo a Escola Estadual
10 Amaturá Nova Itália 14 a 17/11/2013
4. 6 Temas Abordados Amaturá
• Legislação Indígena para a firmação de direitos e garantias.
Santo Antonio
• 11Legislação específica para
do Içá
a Educação Dom
Betânia Escolar
Pedro I.Indígena. Bruno Salvador 09 a 13/11/2013
• Orientação para a construção do Projeto Político Pedagógico e Matriz Curricular das Escolas
Indígenas da Rede estadual de Ensino.
• Oficina pedagógica para a construção de modelo de Projeto Político Pedagógico.
• Oficina pedagógica para a construção de modelo da Matriz Curricular.
14
• Discussão dos modelos de matrizes curriculares propostos.
• Discussão dos modelos de Projetos Políticos Pedagógicos propostos.
• Socialização das atividades propostas nas oficinas pedagógicas para a construção do Projeto
Político Pedagógico e Matriz Curricular.
• Planejamento das ações a serem discutidas e/ou desenvolvidas nas próximas reuniões.
• Atividade Cultural.
• Metodologia do trabalho – metodologia via pesquisa como princípio educativo, desafio para
a escola e para comunidade.
• Refletir sobre a busca de novas alternativas/ cultura de sobrevivência – com jovens
preocupados com seu bem viver e de sua comunidade; com projetos para concretizar a
sustentabilidade.
• Política linguística da escola sede e das salas de extensão.
• Avaliação – metodologias de avaliação (convencional, recuperações paralelas etc),
diagnóstica, conversa com os pais sobre outras formas de avaliações.
• Matriz curricular – distribuição do tempo e definição dos componentes curriculares da base
comum e da parte diversificada das escola.
5. 1. 1 Interculturalidade
5. 2. 2 Saberes Tradicionais
5. 3. 3 Línguas Indígenas
6 PROPOSTA METODOLÓGICA
6. 1 O Currículo
16
6. 2 Organização Escolar
De acordo com Lei N 9394/96 em seu artigo 23 afirma que a educação básica
poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alterância regular de
estudos, grupos-não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por
forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o
recomendar.
Essas matrizes estão estruturadas em Áreas de Conhecimentos, integrando e
articulando aspectos da vida indígena com os componentes curriculares. Este modelo de
currículo proposto é aberto com orientações de considerar os objetivos, os conteúdos e
procedimentos didáticos á serem adapatados á realidade de cada escola. Esses aspectos devem
estar apontados no Projeto Político Pedagógico, serem claramente especificados na
organização das atividades curriculares e constantes do planejamento didático. Além disso, é
importante ressaltar que os componentes curriculares poderão ser desenvolvidos através da
metodologia via pesquisa, assim como a produção de material didático e paradidático no
processo de ensino-aprendizagem de cada povo.
6. 3 Temas Transversais
São temas que permitem um elo de discussão entre as áreas de estudo, para que
passem todos a servir a um projeto social definido pela comunidade. Temas relacionados a um
contexto político e social específico, ancorado na vivência histórica particular de determinado
comunidade indígena. Nesse sentido, essa ferramenta pedagógica tem um caráter universal
fundamentado nas discussões, análises e orientações nas mais variadas formas de
aprendizagem definidas na organização do currículo escolar por seriação ou por outra forma
de organização que a comunidade escolha, explicitado no Projeto Político Pedagógico.
Os temas geradores antecedem das discussões específicas dos movimentos,
assembléias, implantação e implementação de Programas governamentais, projetos de
qualidade de vida da comunidade/aldeia, projetos sociais, questões ambientais, movimentos
culturais tradicionais, alternativas econômicas e inclusão tecnológica, considerando sempre as
perspectivas indígenas e/ou dos grupos etnicos.
Baseado no projeto educativo e na programação curricular, os temas transversais se
fundamentam na Resolução nº 7/2010, no seu o Artigo 16 § 2º, fazendo referência a
transversalidade como uma das maneiras de trabalhar os componentes curriculares, as áreas
de conhecimento e os temas sociais em uma perspectiva integrada, conforme as Diretrizes
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº. 07/2010 e
Resolução CNE/CEB nº. 04/2010). Segundo o RCNEI, são sugeridos alguns temas
transversais, com relevância histórica e social. Esses deverão ser abordados de acordo com
sua importância e atualidade, com propostas de subsidiar os projetos curriculares das escolas
indígenas nacionais, tais como: terra, conservação e biodiversidade, sustentabilidade, direitos,
lutas e movimentos, ética indígena, pluralidade cultural e saúde e educação, a
contextualização pode se concretizar em diferentes áreas de estudos. (RCNEI/2005, pág. 93 a
109). As propostas de outros temas transversais como parte integrantes das propostas
curriculares para as escolas indígenas podem ser sugeridas dentro dos programas escolares,
sendo discutidas pela comunidade, como propostas metodológicas.
É uma Temática que está Intimamente relacionada com a vida, a saúde e a existência
dos povos indígenas, como forma de compreensão da inter-relação entre o indígena e a terra e
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tem por objetivo valorizar e refletir sobre a realidade atual, fundiária e ambiental do Brasil e
sensibilizar a sociedade nacional inclusive as indígenas para a construção do futuro, no que
diz respeito à dignidade dos povos Indígenas, à vida em comum e à harmonia com o seu meio,
destacando a biodiversidade existente nele.
6. 3. 2 Sustentabilidade
Diz respeito ao conhecimento que cada povo e comunidades indígenas devem ter
sobre os seus direitos assegurados na Constituição Federal, de modo que saibam reivindicar,
diante da sociedade nacional, o respeito à sua integridade física e moral e tem objetivos
fazer valer seus direitos na experiência escolar e no cotidiano das relações humanas e sociais
com a sociedade nacional;
Aprender a lidar com o mundo institucional, público e privado da sociedade nacional e
internacional e a tratar de demandas territoriais (demarcação e controle de recursos naturais),
assistenciais (saúde, educação, transporte e comunicação) e comerciais (colocação de
produtos no mercado);
Valorizar os movimentos indígenas diante da sociedade na conquista de seus direitos
adquiridos.
6. 3. 4 Ética
6. 3. 5 Pluralidade Cultural
Temática que busca repensar a cultura de saúde dos povos indígenas, valorizando os
conhecimentos acumulados por esses povos ao longo de séculos, bem como alternativas
eficientes e eficazes para os novos desafios a serem enfrentados e tem por objetivos
conhecer e valorizar os conhecimentos milenares de prevenção de diversos povos indígenas e
outros povos; orientar para o conhecimento de medidas práticas de prevenção de doenças e
meios eficientes de promoção, proteção e recuperação, assim como, reconhecer e aplicar os
cuidados com a alimentação advinda com novos hábitos alimentares procedentes das relações
com sociedade não-indígena.
Áreas do 1º Ano 2º Ano 3º Ano 4º Ano 5º Ano 6° Ano 7° Ano 8° Ano 9° Ano Carga
Componentes
Legislação Conhecimento Horária
Curriculares AS HA AS HÁ AS HA AS HA AS HA AS HA AS HA AS HA AS HA
Intercultural Total
Língua
4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 1.440
Indígena
Língua
4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 1.440
Portuguesa
Linguagens
Arte e Cultura 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 360
Lei L. Estrangeira
- - - - - - - - - - 2 80 2 80 2 80 2 80 320
Federal Moderna
N.º
9.394/96 Matemática Matemática 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 4 160 1.440
ES. N.º
Ciências da
7/2010CNE Ciências 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 2 80 2 80 2 80 2 80 520
natureza
RES. N.º
05/2012CN História 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 2 80 2 80 2 80 2 80 520
E
RE. N.º Ciências
Geografia 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 2 80 2 80 2 80 2 80 520
11/2001CE Humanas
E/AM Expressões
1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 1 40 360
Religiosas
19
metodologia via pesquisa, assim como a produção de material didático e paradidático no
processo de ensino-aprendizagem de cada povo.
8. 1 Áreas do Conhecimento
8. 1. 1 Linguagens
8. 1. 2 Língua Indígena
b) Falantes casuais: São indígenas que entendem sua língua indígena, porém não falam
fluentemente nem dominam a escrita.
Nesse caso, esse grupo irá buscar, através de pesquisas, procedimentos
metodológicos que fortaleçam a sua língua indígena, criando vocabulários com o auxílio dos
membros comunitários que ainda fazem uso desse sistema linguístico específico.
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c) Não falantes: São indígenas que não fazem mais uso dos códigos línguístico de sua
língua.
Dessa forma, necessitam refletir qual política linguística a ser seguida. Após essa reflexão,
definir a língua que desejam adotar por maior afinidade e uso.
A língua Indígena é um componente que não deve ser trabalhado isoladamente, pois,
a mesma perpassa em todas as áreas do conhecimento. Deve ser atribuída num contexto da
realidade e necessidade de cada povo no fortalecimento de suas línguas, através do qual os
povos constroem, modificam e transmitem suas culturas. (RCNE/Indígena/2005). Aos povos
Indígenas que não falam mais a língua indígena de origem, a carga horária, destinada a essa
língua, poderá ser dividida com o componente curricular Língua Portuguesa, de acordo com o
consenso da comunidade, tendo como referencial o RCNEI/98 que versa sobre a importância
de entendimento de que “mesmo tendo perdido sua língua de origem, um povo poderá
continuar mantendo uma forte identidade étnica, uma forte identidade indígena”
A oralidade é a fala de um povo. Já a escrita é a representação física dessa fala,
expressada por signos e símbolos gráficos. Daí, a necessidade de que ambas ocupem espaços
definidos nos processos de ensino e aprendizagem dos conhecimentos escolares, no intuito de
desenvolver nos alunos competências linguísticas necessárias para que possam entender e
falar nas mais variadas formas de comunicação a qual será submetido no dia-a-dia. A
oralidade nas sociedades indígenas está presente nas relações de troca, construção e
transmissão de conhecimentos em todas as fases da vivência humana, antagonicamente à
escrita que tem uma história recente e conflituosa junto às sociedades indígenas.
8. 1. 3 Língua Portuguesa
Constará no currículo como instrumento de comunicação entre as diversas
sociedades indígenas e não indígenas, buscando o acesso ao conhecimento e o exercício da
cidadania. Nesse sentido, o uso desse sistema linguístico passará a ser um forte instrumento
na interpretação e compreensão das bases legais que orientam a vida no país, compreendendo
as normas do mercado de consumo, as relações de trabalho e demais formas de produção e
negociações gerais. Além disso, também fortalecerá a divulgação do conhecimento da
diversidade cultural e de afirmação étnica, tendo o ensino do português como primeira ou
como segunda língua, de acordo com a situação sociolinguística de cada povo.
8. 1. 4 Arte e Cultura
Deverá ser desenvolvida de forma intercultural com as diferentes características de
estilo, de formas, de materiais e de concepções estéticas, além dos aspectos simbólicos e das
relações que mantém com as demais esferas da vida cultural, social e econômica.
Nesse contexto, os conteúdos devem ser desenvolvidos de acordo com a cultura de
cada povo, com a situação atual de contato e com a realidade da escola. Este componente
apresenta as possibilidades de trabalho com as diversas linguagens e produções artísticas das
diferentes sociedades indígenas e não indígenas, sendo tratada como expressão e
conhecimento, pluralidade cultural, patrimônio e identidade (RCNEI, p. 297).
Esse componente curricular poderá ser uma opção de acordo com a comunidade
conforme seus interesses que expressam o desejo de aprender espanhol, francês ou inglês,
para que possam interagir com falantes dessas línguas. A aprendizagem de línguas
estrangeiras é um direito das populações indígenas e, nesse caso, deverá fazer parte do
currículo de suas escolas nas etapas finais do ensino fundamental (Resolução nº 7/2010).
21
8. 2 Ciências da Natureza e Matemática
8. 2. 1 Ciências da Natureza
8. 2. 2 Matemática
8. 3 Ciências Humanas
8. 3. 1 História
8. 3. 2 A Geografia
8. 3. 3 Expressões Religiosas
8. 3. 5 Movimentos Corporais
24
9. MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENSINO MÉDIO
9. 1 Áreas do Conhecimento
9. 1. 1 Linguagens e Códigos
25
9. 1. 2 Língua Indígena
9. 1. 3 Língua Portuguesa
26
na interpretação e compreensão das bases legais que orientam a vida no país, compreendendo
as normas do mercado de consumo, as relações de trabalho e demais formas de produção e
negociações gerais. Além disso, também fortalecerá a divulgação do conhecimento da
diversidade cultural e de afirmação étnica, tendo o ensino do português como primeira ou
como segunda língua, de acordo com a situação sociolinguística de cada povo.
9. 1. 4 Arte e Cultura
Esse componente curricular poderá ser uma opção de acordo com a comunidade
conforme seus interesses que expressam o desejo de aprender espanhol, francês ou inglês,
para que possam interagir com falantes dessas línguas. A aprendizagem de línguas
estrangeiras é um direito das populações indígenas e, nesse caso, deverá fazer parte do
currículo de suas escolas nas etapas finais do ensino fundamental (Resolução nº 7/2010).
9. 2. 1 Matemática
9. 2. 2 Biologia
9. 2. 3 Física
9. 2. 4 Química
9. 3 Ciências Humanas
9. 3. 1 História
9. 3. 2 Geografia
9. 3. 3 Sociologia
9. 3. 6 Movimentos Corporais
9. 3. 7 Direitos Indígenas
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10. CONCLUSÃO
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EDUCAÇÃO FÍSICA
Arco e Flecha
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A prática como esporte
A primeira atividade no âmbito esportivo intertribal que se tem notícia ocorreu em
1997, no I Jogos dos Povos Indígenas, realizado em Goiânia. A iniciativa, idealizada
pelo índio Carlos Terena, resultou do patrocínio do Ministério dos Esportes e da
parceria com o governo do Estado de Goiás do Comitê Intertribal e o apoio da
FUNAI. Nessa primeira edição dos Jogos Indígenas foram usadas as flechas
cedidas pela organização dos jogos, não havendo um grande aproveitamento na
precisão dos lançamentos. Nos outros jogos que se seguiram nas cidades de
Guaíra-PR (1999) e Marabá-PR(2000), cada competidor trouxe os seus próprios
arcos e flechas.
Segundo Terena, "ao trazer seu próprio equipamento, o atleta aprimorou sua
demonstração e possibilitou o uso mais apurado, pois sendo um objeto de uso
pessoal, permitiu o exercício da técnica de cada guerreiro ao retesar a corda, na
calibragem da flecha e na habilidade de seu lançamento"
.Terena explicou que a variedade de arcos e flechas ganha um único objetivo que é
o alvo. Para associá-lo às culturas, os índios se reuniram e resolveram decidiram
que o alvo seria o desenho de uma anta, muito caçada tanto no centro-oeste e no
sul (I Jogos, em Goiânia e II, em Guairá, no Paraná). Em Marabá, onde os Jogos
foram realizados na beira do rio Tocantins, praia do Tucunaré, os indígenas optaram
pelo desenho de um peixe, o tucunaré, abundante nos rios da região.
Prova: o Arco e Flecha é uma prova individual masculina Cada delegação indígena
deverá inscrever no máximo 02 (dois) atletas, sendo essa modalidade uma
competição individual. Cada atleta terá o direito a 03 (três) tiros, e deverá trazer o
seu próprio equipamento (arcos e flechas). Caso haja algum problema no
equipamento, o atleta poderá substituí-lo ou solicitar tempo para reparo. O alvo será
o desenho de um peixe e a distância de aproximadamente 30 metros. A contagem
de pontos reunirá a soma de acertos em cada área do alvo, com pontuação variadas
e previamente definidas pela Comissão Técnica. Haverá uma primeira etapa
eliminatória, que classificará para a segunda. Nessa fase, inicia-se uma nova
contagem de pontos, que irá definir o primeiro, segundo e terceiro colocados.
Somente 12 atletas, com as melhores pontuações, disputam a final. Outros detalhes
serão definidos no Congresso Técnico da modalidade.
Cabo de Guerra
Modalidade praticada para medir a força física, o cabo
de guerra é muito aceito entre as etnias participantes de
todas as edições dos Jogos, como atrativo emocionante,
que arranca manifestação da torcida indígena e do
público em geral. Permite a demonstração do conjunto
de força física e técnica, que cada equipe possui. É uma
das provas mais esperadas pelos atletas, pois muitas
equipes treinam intensamente em suas aldeias,
puxando grandes troncos de árvores. Isso porque, para os indígenas a força física é
de suma importância, dando o caráter de destaque e
32
reconhecimento entre todos. Na preparação de seus guerreiros, os índios sempre
procuraram meios de desenvolver e medir a coragem e os limites de sua capacidade
na força física.
É realizada desde os I Jogos por atletas, com a
participação de homens e mulheres.
Canoagem
Histórico: a canoa é utilizada como meio de transporte
e para a pesca, sendo essencial na vida dos índios.
Naturalmente, cada povo tem uma maneira para fabricá-
la. Os Bakairis utilizam a casca de jatobá. As canoas
dos Karajá são mais estreitas que as outras, por serem feitas de um tronco mais
fino, atingindo maior velocidade nas águas, difíceis de serem conduzidas. Os povos
do Amazonas, como os Mundurukus, usam o fogo para fazer a cava no tronco da
árvore do Itaúba.
Competição/Prova: cada delegação deverá inscrever uma equipe de 02 (dois)
atletas. A prova será realizada em rio ou lago aberto, cujo local específico, distância
e percurso serão definidos pela Comissão Técnica que serão divulgados,
posteriormente no Congresso Técnico. Será permitido aos competidores o
reconhecimento prévio do percurso e das canoas. Haverá sorteio das canoas, entre
as equipes, em todas as baterias. Apenas o primeiro colocado de cada bateria
participará da fase final composta por um número de equipes correspondentes ao
número de canoas disponíveis no evento, quando serão definidos o ganhador maior
O vencedor será identificado pela arbitragem a partir da passagem da ponta da proa
(ponta) da canoa, na linha demarcatória. Outros detalhes serão definidos no
Congresso Técnico. Cada competidor trará o seu próprio remo.
Desde o início dos Jogos, para organizar a competição dessa modalidade houve
grande preocupação, pois cada etnia possui tecnologia própria para a fabricação de
sua canoas, feitas artesanalmente, mas sem obedecer a um padrão exato de
tamanho e peso. O problema foi resolvido escolhendo-se as canoas dos Rikbatsa,
norte de Mato Grosso, exímios canoeiros. Suas canoas ofereciam condições de
aceitação pela maioria dos povos participantes nos jogos, foram adotadas e
aprovadas para as competições, sendo sorteadas entre
os participantes. Portanto, a partir dos III Jogos, os
competidores passaram a usar canoas de fabricação
tradicional rústica, feitas em madeira pelos índios
Rikbatsa.
Histórico e Ritual
Entre os Krahô, Xerente, e Apinajé, a Corrida de Tora difere em diversos aspectos,
obedecendo seus ritos tradicionais de significados social, religioso e esportivo.
Para o povo Khraô, habitante de extensa faixa contínua de Cerrado no Estado de
Tocantins, ela está associada a algum rito e, conforme esse rito, variam os grupos
de corredores, assim como o percurso e a tamanho das toras. Essas atividades são
realizadas sempre com duas toras praticamente iguais. Os participantes se dividem
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em dois grupos de corredores “rivais”, cabendo apenas a um atleta de cada grupo
carregar a tora, revezando-se em um mesmo percurso. As corridas se realizam no
sentido de fora para dentro da aldeia, nunca de dentro para fora, ou mesmo dentro
dela, quando estabelecem os pontos de largada e chegada no pátio de uma casa
chamada woto, uma espécie de oca preparada para todas as atividades culturais,
sociais e política. É sempre realizada ao amanhecer e ao entardecer. As corridas
vindas de fora acontecem geralmente no final das tardes, quando os Krahôs
retornam de alguma atividade coletiva (caça ou roça). A corrida de tora é praticada
nos rituais, festas e brincadeiras. Nesses casos, as toras podem representar
símbolos mágicos-religiosos, como durante o ritual do Porkahoks, que simboliza o
fim do luto pela morte de algum membro da comunidade. Pela manhã, a corrida
ganha um sentido de ginásticas para a preparação do corpo. Corre-se apenas com
as toras já usadas ao redor das casas, no sentido contrário do relógio.
Os Xavantes, do Mato Grosso, também realizam a Corrida de Tora, o Uiwed, entre
duas equipes de 15 a 20 pessoas. Pintam os corpos e correm mais de cinco
quilômetros, revezando-se até chegar ao Wa'rãm'ba, o centro da aldeia, e iniciam a
Dança do Uwede'hõre. Na festa do U'pdöwarõ, a festa da comida, também existe a
corrida com tora, mas nesse evento a tora usada é maior e mais pesada (média de
100 a 110 Km).
Os Gavião Kyikatêjê/Parakateyê, do Pará, também grandes corredores de tora,
obedecem os mesmos rituais de outros povos, mas há uma peculiaridade que é o
Jãmparti (pronuncia-se Iãmparti). Trata-se de uma corrida com uma tora com mais
de 100 Kg, mais comprida e carregada por dois atletas. Realizada sempre no
período final das corridas de toras comuns, ou seja, aquela que é carregada por um
atleta, com o sentido de harmonia e força. Em todas essas manifestações há a
participação das mulheres. Não há um prêmio para o vencedor, pois somente a
força física e a resistência são demonstradas.
Preparação das toras: geralmente, todos os povos que possuem essa atividade,
confeccionam as toras com o tronco de uma palmeira chamada buriti, uma espécie
de coqueiro, considerado sagrado pelos Krahôs. Do buriti, os índios aproveitam
tudo, desde seu fruto, como alimento, folhas para cobertura de casa e confecção de
artesanatos (cestarias, abanos), tronco para rituais e atividades esportivas.
Na preparação de corte dessa madeira, há um ritual de cantos e danças. É
derrubado e cortado em duas partes em forma de cilindros em tamanhos iguais. Nas
extremidades da tora é feito um tipo de cava para que possa facilitar seu
carregamento. As toras possuem tamanhos variados, de acordo com o ritual a ser
realizado, pesando de 02 a 120 quilos. Muitas toras são “guardadas” dentro do rio
para que seja absorvida mais água e, assim, fiquem mais pesadas. Notadamente
isso ficou comprovado nas apresentações dos Jogos dos Povos Indígenas.
Competição: nos VI Jogos dos Povos Indígenas/2003, houve pela primeira vez,
uma verdadeira competição intertribal. Após uma ampla observação e um detalhado
estudo por mais de seis anos, é chegado o momento histórico para a realização da
primeira competição da Corrida de Tora entre as etnias indígenas. Esta decisão é
resultado da sondagem realizada durante os jogos e nas manifestações e grande
interesses dos próprios chefes indígenas na inovação. Portanto, além das etnias que
praticam essa atividade em sua cultura, ou seja, entre os povos Apinajés, Xavantes,
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Kanelas, Gaviões, Krahôs e Xerentes, não haverá restrição para que outras etnias
também manifestem interesse em participar.
A competição foi dirigida e observada por pelo menos cinco “juízes” neutros, não
indígenas. Cada etnia deveria formar e uma equipe com 10 atletas corredores e,
mais três reservas. As toras usadas nesta prova foram selecionadas pela comissão
organizadora, bem como os números de voltas a serem dadas na arena, largada e
chegada.
A largada sempre entre duas etnias (equipes), escolhidas num sorteio prévio.
Utilizado o sistema de eliminatória simples em todas as fases, até chegar a um
ganhador. Caso haja empate na segunda largada, haverá uma terceira. Os chefes
de cada equipe foram chamados para um outro sorteio (par/impar ou cara/coroa).
Nesta prova não houve a participação feminina.
Histórico: a lenda Pareci conta que o Xikunahity foi criado pela principal entidade
mítica da cultura Pareci, o Wazare. Depois de cumprir sua missão de distribuir o
povo Pareci por toda a Chapada dos Parecis, Wazare fez uma grande festa de
confraternização antes de voltar a seu mundo. Durante a festa, a entidade mítica
mostrou a todos a função da cabeça no comando do corpo, e sua capacidade de
desenvolver a inteligência e alcançar a plenitude mental e espiritual. Ele também
demonstrou que a cabeça poderia ser usada em sua capacidade física,
especificamente na habilidade para com o Xikunahity. Foi nesta comemoração que
aconteceu a primeira partida deste esporte; ou seja, entrando literalmente de
cabeça.
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Entre os Pareci, o esporte só é praticado durante grandes cerimônias, como: oferta
da primeira colheita das roças, iniciação dos jovens de ambos os sexos, reforma das
flautas sagradas, caça, pesca e coleta de frutas silvestres abundantes e a
reincorporação de um espírito novo em doentes terminais.
A bola utilizada no jogo é peculiar, pois é de fabricação dos Parecis, feita com a
seiva de mangabeira, um tipo de látex. O processo de confecção tem duas etapas:
na primeira, a seiva é colhida e colocada sobre uma superfície lisa, onde permanece
por certo tempo, até formar uma camada ligeiramente espessa. Na segunda fase
faz-se a parte central da bola (núcleo), que inclui o aquecimento da seiva de
mangaba em uma panela e resulta em uma película. O látex tem suas extremidades
unidas, de modo a formar um saco que será inflado com ar, por meio de um
"canudo". Depois, o núcleo ganha formas arredondadas e recebe sucessivas
películas de látex, obtidas da primeira etapa, até formar uma bola, secar e resfriar,
ganhando consistência suficiente para pular. A bola tem aproximadamente 30 cm de
diâmetro.
Desde o seu surgimento, a disputa do Xikunahity envolve apostas. Segundo o
administrador regional da Funai de Tangará da Serra/MT, Daniel Cabixi,
antigamente as apostas envolviam flechas, armas de guerra, animais de estimação,
objetos de uso pessoal, familiares ou coletivos. "Dizem os mais antigos que, além de
itens pessoais, as mulheres também eram usadas nas apostas", relata. Hoje,
sabonetes, rádios, caixas de fósforos, espingardas, pólvora, enfim, objetos
particulares são colocados como prêmios para as disputas. As apostas são feitas
discretamente e sem um compromisso explícito, valendo o acordo da palavra. A
equipe vencedora, além de ganhar os objetos apostados, recebe um troféu
simbólico. As mulheres e crianças não têm participação direta nas equipes que
disputam o Xikunahity, pois é um jogo masculino, cabendo a elas a participação na
torcida desse esporte. Já entre os Nawenê-Nawês, o esporte só é praticado dentro
da festa do Yãkwai, festa espiritual realizada durante seis meses. A primeira
apresentação oficial em público do Xikunahity aconteceu durante o II Jogos dos
Povos Indígenas, realizados em Guairá, PR, em outubro de 99, pelos Parecis. Hoje,
é um esporte de demonstração neste evento. O Povo Enawenê Nawê participou
pela primeira nos IV Jogos, realizado em Campo Grande, MS, em outubro de 2001 e
apresentou esse esporte com os Parecis.
Futebol
Prova: esporte já inserido no contexto cultural de vários grupos
indígenas, sendo unanimidade nos jogos e praticado por atletas
femininos e masculinos. As regras são regidas pela Instrução Geral
dos Jogos e obedece ao padrão da Confederação Brasileira de
Futebol, exceto o tempo de jogo que é de 50 min, divididos em dois
tempos de 25 min cada, com intervalo de 10 min.
Arremesso de Lança
Prova: o Arremesso de Lança é uma prova individual
realizada apenas pelos homens. Nos Jogos, a contagem dos
pontos é feita de acordo com a distância alcançada, ou seja,
vence aquele que atingir maior distância. As lanças são
cedidas pela Comissão Técnica de Esporte, e fabricadas de
maneira tradicional, usando madeira rústica. A adaptação
desse armamento, desde os I Jogos, objetiva a distância e não
o alvo
.
Histórico: várias etnias indígenas conhecem esse
armamento, possuindo técnicas diferentes de confecção das
lanças. O fabrico de cada lança depende da finalidade a que
se destina. Comprimento, ponteiras de ossos, pedras ou
mesmo madeiras mais duras, como a arueira ou pau de ferro
são avaliados.Na tradição indígena, é usada para caça, pesca (arpão) ou para
defesa em um ataque de animal feroz.
Luta corporal
Prova: as lutas corporais são realizadas por homens e
mulheres e o esporte está inserido na cultura tradicional
dos povos que o praticam: os povos indígenas
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Xinguanos, Bakairis os Huka Hukas e os Xavantes, de Mato Grosso. Os Gaviões
Kyikatêjê/Parakatêyes, do Pará praticam o Aipenkuit e os Karajás praticam o
Idjassú. Esse esporte foi inserido nos Jogos desde a primeira edição, como
apresentação. O desejo de se realizar uma competição de lutas corporais nos Jogos
é grande, mas é muito improvável devido à grande diversidade de estilos de luta e
técnica. Algumas etnias lutam em pé, outras ajoelhadas no chão, como o Huka
Huka. Por isso, fazem-se apenas demonstrações das lutas existentes na cultura
indígena brasileira.
Histórico: a luta corporal dos povos indígenas do Xingu e dos índios Bakairis, de
Mato Grosso, o Huka Huka, inicia com os atletas ajoelhados.
Começa quando o dono da luta, um homem chefe, caminha até o centro da arena de
luta e chama os adversários pelo nome. Os lutadores se ajoelham girando em
circulo anti-horário frente ao oponente, até se entreolharem e se agarrarem,
tentando levantar o adversário e derrubá-lo ao chão. Os Karajá do Tocantins já
possuem outro estilo, pois os atletas iniciam a luta em pé, se agarrando pela cintura,
até que um consiga derrubar o outro ao chão. O atleta vencedor abre os braços e
dança em volta do oponente, cantando e imitando uma ave. Os Gaviões
Parakateyês, PA, e os Tapirapés e Xavantes de Mato Grosso, têm uma certa
semelhança no desenvolvimento das lutas com os Karajá. Não existe um juiz
tradicional para essa modalidade, e sim um observado/orientador indígena que seria
chamado de dono da luta, cabendo aos atletas, reconhecer a derrota, vitória ou
empate. Não há prêmio para o vencedor da luta em todas etnias praticante deste
esporte. Há reconhecimento e respeito por toda a comunidade.
Natação
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Zarabatana
Rõkrã
1. O que é o alongamento?
Alongamentos são exercícios voltados para o aumento da flexibilidade muscular,
que promovem o estiramento das fibras musculares, fazendo com que elas
aumentem o seu comprimento. O principal efeito dos alongamentos é o aumento da
flexibilidade, que é a maior amplitude de movimento possível de uma determinada
articulação. Quanto mais alongado um músculo, maior será a movimentação da
articulação comandada por aquele músculo e, portanto, maior sua flexibilidade.
Segundo Bruna Joaquim Carneiro, professora de educação física e nutricionista, o
alongamento é uma prática fundamental para o bom funcionamento do corpo,
proporcionando maior agilidade e elasticidade, além de prevenir lesões. Essencial
para o aquecimento e relaxamento dos músculos, deve ser uma atividade
incorporada ao exercício físico, mas também pode ser praticado sozinho. Qualquer
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pessoa pode aprender a fazer alongamentos, independentemente da idade e da
flexibilidade, segundo Bruna Caneiro mesmo quem apresenta algum problema
específico, como LER ou hérnia de disco também pode fazer alongamentos, mas
com menos intensidade. Não é preciso grande condição física ou habilidades
atléticas.
Os alongamentos podem ser feitos sempre que se sentir vontade, uma vez que
relaxam o corpo e a mente. Quando feitos de maneira adequada os alongamentos
trazem os seguintes benefícios:
• Reduzem as tensões musculares;
• Relaxam o corpo;
• Proporcionam maior consciência corporal;
• Deixam os movimentos mais soltos e leves;
• Previnem lesões;
• Preparam o corpo para atividades físicas;
• Ativam a circulação.
No caso de estudantes eles podem ser feitos até no intervalo das aulas, o
alongamento ajuda na respiração, facilitando a circulação sanguínea o que aumenta
o raciocínio. Quanto mais longo o músculo maior será a capacidade de movimentá-
lo. Trás vários benefícios para a saúde em geral: diminui as tensões musculares;
proporciona leveza nos movimentos; previne lesões musculares; estimula a
circulação sanguínea e assim aumenta a capacidade de raciocínio; relaxa o corpo e
a mente; melhora a respiração e ainda prepara o corpo para prática de qualquer
atividade física para emagrecer.
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posterior das coxas, associado a uma musculatura abdominal fraca. Com a
prática regular de alongamentos os músculos passam a suportar melhor as
tensões diárias e dos esportes, prevenindo o desenvolvimento de lesões
musculares.
4. Quando alongar?
É importante alongar adequadamente a musculatura antes e também depois de uma
atividade física. Isso prepara os músculos para as exigências que virão a seguir,
protegendo e melhorando o desempenho muscular. Pela sua facilidade de
execução, a maioria dos alongamentos pode também ser feitos, praticamente, a
qualquer hora. Ao despertar pela manhã, no trabalho, durante viagens prolongadas,
no ônibus, em qualquer lugar. Sempre que for identificada alguma tensão muscular,
prontamente algum tipo de alongamento pode ser empregado para trazer bem estar.
5. Como alongar?
Antes de tudo, é importante aprender a forma correta de executar os alongamentos,
para aumentar os resultados e evitar lesões. Inicie o alongamento até sentir uma
certa tensão no músculo e então relaxe um pouco, sustentando de 30 á 40
segundos, voltando novamente à posição inicial de relaxamento. Os movimentos
devem ser sempre lentos e suaves. O mesmo alongamento pode ser repetido,
buscando alongar mais o músculo evitando sentir dor. Para aumentar o resultado,
após cada alongamento, o músculo pode ser contraído por alguns segundos,
voltando a ser alongado novamente. Bruna Carneiro ressalta que o ideal é combinar
a prática do alongamento a uma atividade aeróbica, como, por exemplo, a
caminhada.
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PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS NO ESTADO DO
AMAZONAS
PROJETO PIRAYAWARA
Município: Japurá
Etapa: VI
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