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Fichamento da conferência Desejo e Poder de Catharine MacKinnon e dos capítulos dez

e onze da obra O direito da liberdade, de Ronald Dworkin

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 MacKinnon inicia a conferência ressaltando a importância de uma maior


inclusividade e acessibilidade no meio acadêmico.
 Ela divide sua conferência em três partes: na primeira, ela se propõe a dizer o que
ela considera ser feminismo, a partir de seus artigos na Signs; na segunda, ela se
propõe a tentar separar e ampliar algumas das implicações do argumento inicial,
e na terceira, vai finalizar com o que considera questões urgentes na agenda
feminista.
 “A primeira parte. Na minha opinião, a sexualidade está para o feminismo como
o trabalho para o marxismo. (...) Ao dizer que a sexualidade está para o feminismo
como o trabalho para o marxismo, quero dizer que tanto a sexualidade quanto o
trabalho têm seu foco naquilo que é mais seu, o que mais faz com que se seja o
ser que a teoria aborda, o que mais é prejudicado pelo que a teoria critica.” (p.
233)
 MacKinnon compara então o papel do trabalho na teoria marxista com um
argumento paralelo implícito no feminismo, esse argumento sendo que a
moldagem, assim como a direção e a expressão da sexualidade organizam a
sociedade em dois sexos (mulheres e homens). “Sexualidade é o processo social
que cria, organiza, expressa e dirige o desejo.” (p. 234) O desejo, por sua vez,
possui uma posição teórica análoga à do valor na teoria marxista. “É considerado
uma essência natural ou um ímpeto pré-social, mas, na verdade, é criado pelas
relações sociais, as relações hierárquicas, em questão. Este processo cria os seres
sociais que conhecemos como homens e mulheres, assim como suas relações
criam a sociedade.” (p. 234)
 “Nesta análise, marxismo e feminismo são teorias do poder e de sua distribuição
desigual. Cada uma apresenta uma visão de como um arranjo social
sistematicamente desigual (...) é internamente coerente, além de racional e
difundido, mesmo que injusto. Ambas são teorias totais.” (p. 234)
 “O problema da relação entre marxismo e feminismo, portanto, é como ambos
podem ser verdadeiros ao mesmo tempo.” (p. 235)
 “(...) o feminismo é uma teoria sobre como a erotização da dominação e da
submissão cria o gênero, cria a mulher e o homem na forma social em que os
conhecemos. Assim, a diferença entre os sexos e a dinâmica domínio-submissão
definem um ao outro. O erótico é o que define sexo como uma desigualdade e,
portanto, como uma diferença significativa.” (p. 235)
 “(...) a teoria feminista do conhecimento é indissociável da crítica feminista ao
poder masculino, porque o ponto de vista masculino se impôs ao mundo, e se
impõe ao mundo como sua maneira de conhecer.” (p. 235)
 “As feministas observaram que mulheres e homens são igualmente diferentes,
mas não igualmente poderosos. (...) não haveria o que conhecemos como
diferença de sexo muito menos isso seria a questão social que é, nem teria o
significado social que tem - se não fosse pela dominação masculina. (...) os
homens não são socialmente supremos e as mulheres, subordinadas, por natureza;
o fato de eles o serem socialmente constrói a diferença de sexo como a
conhecemos.” (p. 236)
 MacKinnon apresenta dados, como porcentagem de vítimas de estupros do sexo
feminino e lucro da indústria pornográfica, que sustentam sua argumentação.
“Conceituar esses dados como ‘a diferença de sexo’ significa aceitar e obscurecer
os dados sobre o poder masculino que eles documentam e sugerir que são
sistemáticos.” (p. 237)
 “A propósito, uso a palavra "masculino" como adjetivo. A análise do sexo é social
e não biológica. (...) ao dizer masculino, refiro-me a apologistas desses dados, à
abordagem que faz parte desses atos, ao padrão que normalizou esses eventos de
modo que eles definem a masculinidade, ao papel sexual masculino e ao modo
como essa abordagem encobriu seu gênero para se tornar ‘o’ padrão.” (p. 237-
238)
 “Eu não vejo a sexualidade como um receptáculo transcultural, como essencial,
historicamente imutável, nem como Eros. Eu defino sexualidade como qualquer
coisa que uma dada sociedade erotize. Ou seja, sexual é qualquer coisa que essa
palavra queira dizer em uma determinada sociedade." (p. 239)
 “Como a sexualidade surge em relações sob dominação masculina, as mulheres
não são as principais autoras dos sentidos dessa sexualidade. Na sociedade em que
vivemos atualmente, o conteúdo que eu quero reivindicar para a sexualidade é o
olhar que constrói as mulheres como objetos para o prazer masculino. Sirvo-me
da pornografia por sua forma e conteúdo, pelo olhar que erotiza o desprezado, o
humilhado, o acessível, o que está lá para ser utilizado, o servil, o infantil, o
passivo e o animal. Esse é o conteúdo da sexualidade que define o gênero feminino
nesta cultura, e a coisificação visual é o seu método.” (p. 239)
 “Eu acho que o desejo sexual nas mulheres, pelo menos em nossa cultura, é
socialmente construído como aquele pelo qual passamos a querer nossa própria
aniquilação.” (p. 239)
 “Se o feminismo é uma crítica ao ponto de vista objetivo como masculino, nós
também rejeitamos normas cientificas tradicionais como critérios de adequação
para nossa teoria, porque o ponto de vista objetivo que criticamos é a postura da
ciência. Em outras palavras, nossa crítica ao ponto de vista objetivo como
masculino é uma crítica à ciência como abordagem especificamente masculina ao
conhecimento. Com ela, rejeitamos os critérios masculinos de verificação.
Tampouco estamos buscando a verdade na contraparte feminina, já que também
ela é construída pelo poder masculino. Nós não alardeamos o subjetivo.
Começamos buscando a verdade daquilo e naquilo que construiu tudo isso, ou
seja, o gênero.” (p. 240)
 “Se gênero é uma categoria social, gênero é o que quer que ele signifique
socialmente. Todas as mulheres vão ou não vão ser atingidas de uma determinada
forma pela realidade de gênero, a totalidade da qual, então, conformará o sentido
do gênero como categoria social. Em outras palavras, mostrar que uma observação
ou experiência não é a mesma para todas as mulheres só prova que ela não é
biológica, e não que não é generificada. Da mesma forma, dizer que não só as
mulheres vivenciam algo - por exemplo, sugerir que, porque alguns homens são
estuprados, o estupro não é um ato de dominação masculina - apenas sugere que
o status das mulheres não é biológico. Os homens também podem ser feminizados,
e sabem que o são quando são estuprados.” (p. 242)
 “(...) o poder dos homens para fazer o mundo aqui é o seu poder de nos fazer
tornar o mundo de sua interação sexual conosco do jeito que eles querem.” (p.
244)
 “Agora eu quero dizer algo sobre o uso do verbo ‘ser’ na teoria feminista. Se a
análise que eu apresentei está certa, ser realista sobre a sexualidade socialmente é
vê-la do ponto de vista masculino. Ser feminista é fazê-lo com consciência crítica
de que é o que se está fazendo. Isso explica por que as ideias feministas são muitas
vezes criticadas por reproduzir ideologia masculina, por que as femininas são
chamadas de ‘condescendentes para com as mulheres’, quando o que estamos
fazendo é expressar e expor como as mulheres sofrem condescendência.” (p. 245)
 “Se o poder masculino torna o mundo o que ele ‘é’, teorizar essa realidade requer
captá-la a fim de submetê-la à crítica, e daí, a mudança.” (p. 245)
 “Stanley Aronowitz falou sobre o método marxista. Eu vejo duas correntes no
método marxista, ele não é monolítico. Uma delas é a mais objetivista, que
pretende assumir a posição neutra. A outra, na qual eu me baseio, é mais crítica
do caráter necessariamente situação de seu próprio ponto de vista. Esta corrente
pretende captar o fluxo da história como pensamento, e se entende – mais no modo
de Lukács – como reflexiva, como participante de uma situação em curso, presa
nela de certa forma, precisando ser autocrítica e também tendo, em virtude dessa
participação, algum acesso à verdade da situação. Tem-se considerado
amplamente que o feminismo contém tendências do feminismo liberal, do
feminismo radical e do feminismo socialista. Muitas vezes, o feminismo socialista
ou marxista aplicou a corrente objetivista do marxismo às mulheres e chamou a
isso de feminismo marxista. O feminismo liberal aplicou às mulheres o mesmo
objetivismo que o marxismo compartilha com o liberalismo, resultando em
liberalismo aplicado às mulheres. Isso, especialmente em questões de sexualidade,
é muito semelhante à visão de esquerda, por causa da masculinidade comum da
postura epistemológica. (...) Metodologicamente, uma análise pós-marxista trata
as mulheres como um grupo social, não em termos individualista, naturalistas,
moralistas, idealistas, voluntaristas ou harmonistas. (...) Tenho notado que, para
muitas pessoas, visões liberais de sexualidade (...) parecem conviver muito bem
com visões que, em outros, aspectos, são marxistas. Em minha opinião, nenhum
feminismo digno do nome deixa de ser metodologicamente pós-marxista.” (p.
246)
 “Eu acredito realmente que nada do nosso trabalho pode ser feito da maneira que
tem sido feito se o que eu estou dizendo for levado a sério. Não podemos abordar
a estética sem considerar a pornografia. Não podemos pensar sobre sexualidade e
desejo sem considerar a normalização do estupro, e eu não quero dizer estupro
como repressão excedente. Não podemos fazer ou criticar a ciência sem falar
sobre o caráter masculino de suas premissas. Não podemos falar da vida cotidiana
sem entender sua divisão por gênero, nem falar de hegemonia sem compreender
a dominação masculina como uma de suas formas. Não podemos falar de
produção sem apontar que sua divisão de sexo, bem como o assédio sexual e a
prostituição (e o trabalho doméstico), sustenta e constitui o mercado de trabalho.
Não podemos falar sobre o falo de uma maneira que obscureça o pênis, e não
podemos falar sobre a mulher como o significante de uma maneira que perca de
vista a mulher como significado. Precisamos entender sistematicamente, para
criticar e mudar, em vez de reproduzir, a conexão entre o fato de que uns poucos
têm governado e usado os muitos em seu próprio interesse e para seu próprio
prazer, assim como o lucro e o fato de que esses poucos têm sido homens.” (p.
247)

 “No passado, as pessoas defendiam a liberdade de expressão para proteger os


direitos de agitadores que protestavam contra o governo, de dissidentes que
resistiam a urna igreja estabelecida ou de radicais que faziam campanha por
causas políticas pouco populares. Evidentemente, valia a pena lutar pela liberdade
de expressão, e isso ainda acontece em muitas partes do mundo, onde esses
direitos praticamente não existem. Mas, nos Estados Unidos de hoje em dia, os
partidários da liberdade de expressão vêem-se defendendo racistas que gritam
"Crioulo!", nazistas que desfilam com a suástica ou - na maioria das vezes –
marmanjos que se dedicam a olhar as fotografias de mulheres nuas com as pernas
abertas.” (p. 363)
 Dworkin mostra que assim como o objeto de defesa à liberdade expressão mudou,
as pessoas que lutavam pela proibição da pornografia também. Antes eram os
conservadores, agora eram os grupos feministas. Dworkin explica o porquê. “As
fotografias, filmes e vídeos pornográficos são a expressão mais explícita possível
da idéia que as feministas mais odeiam: que as mulheres existem antes de mais
nada para servir sexualmente aos homens. As propagandas, novelas e livros
populares de ficção podem até ser mais eficazes para disseminar essa idéia em
nossa cultura, mas a pornografia é o símbolo mais bruto e explícito dela. A
pornografia, como a ostentação da suástica e a queima da cruz, é profundamente
insultuosa em si mesma, independentemente de causar qualquer outro dano ou
injustiça. Também é particularmente vulnerável do ponto de vista político: a
direita religiosa apóia as feministas nessa questão, embora não apóie em
praticamente nenhuma outra, de tal modo que, de todas as campanhas políticas
que as feministas fazem, é a campanha pela censura que elas têm maior
probabilidade de vencer.” (p. 354)
 Pelo fato da pornografia não contribuir em nada para o debate político ou
intelectual, ela é vulnerável ao ataque de seus opositores. O que ganhamos ao
defender a pornografia, afinal? E o que temos a perder sem ela?
 O livro de Catharine MacKinnon, Only Words (Meras Palavras, em tradução
livre), oferece uma resposta “pungente”, “violenta” na visão do autor a esta última
questão. A autora argumenta que a pornografia institucionaliza a sexualidade da
supremacia masculina, fundindo a erotização do domínio e da submissão com as
figuras sociais do homem e da mulher. “Only Words é marcado por urna
linguagem que aparentemente tem o fim de provocar comoção.” (p. 365), diz
Dworkin.
 Ao falar da aprovação de uma lei antipornografia em Indianapolis que não abria
exceção para obras de valor literário e artístico e dos argumentos favoráveis a ela,
Dworkin dá enfoque a um argumento de MacKinnon que “tem aplicações que
ultrapassam em muito a questão da pornografia” (p. 367) e dão um poder
inimaginável aos estados, o de proibir ou censurar qualquer expressão
politicamente incorreta que possa alimentar ou aumentar a desigualdade social de
minorias, este sendo o de que mesmo que a publicação de uma literatura que avilte
as mulheres seja protegida pela Primeira Emenda, ela segue violando um outro
valor constitucional, o ideal de igualdade de proteção da Décima Quarta Emenda,
que garante proteção legal igual a todos os cidadãos e impede estados de privar
cidadãos disso.
 O autor diz que o argumento de MacKinnon referente a correlação entre o
aumento de crimes sexuais e o consumo de pornografia é fraco pois não tem
embasamento nenhum, e os argumentos usados pela autora na refutação dos
estudos que provam o contrário são igualmente fracos. Dworkin aponta diversas
outras inconsistências e a dependência dos argumentos de MacKinnon em
acontecimentos isolados.
 [O argumento de que qualquer sistema de liberdade de expressão que permite que
a livre expressão dos homens silencie a das mulheres não demonstra seriedade em
assegurar a liberdade de expressão] “toma como premissa uma proposição
inaceitável: que o direito à liberdade de expressão inclui o direito a viver em
circunstâncias que nos encorajem a falar e o dever das outras pessoas de
compreender e respeitar a nossa voz.” (p. 372)
 “Manifestamente, seria um erro supor que as mulheres (ou homens) que aparecem
em filmes pornográficos o fazem contra a vontade. É certo que nosso sistema
econômico dificulta para muitas mulheres o exercício de uma profissão que lhes
dê satisfação e talvez estimule algumas a aceitar papéis em filmes pornográficos,
papéis que rejeitariam se lhes fosse dada a opção. Como observa MacKinnon com
amargura, o sistema trabalha a favor dos pornógrafos. Porém, também trabalha a
favor de muitos outros empresários e empregadores - os donos das cadeias de fast-
food, por exemplo - que podem empregar mulheres pagando-lhes um salário
baixíssimo. Existem grandes injustiças econômicas nos Estados Unidos da
América, mas isso não nos autoriza a privar as mulheres pobres de urna
oportunidade econômica que talvez algumas delas prefiram às outras alternativas
de que dispõem.” (p. 373-374)
 “[MacKinnon] diz que a pornografia, em grande medida, não é urna simples forma
de expressão - não são "meras palavras" - porque produz a ereção do pênis
masculino e, assim, proporciona fantasias masturbatórias aos homens. (...) uma
peça musical, uma obra de arte ou uma poesia não perdem a proteção da Primeira
Emenda se existem pessoas que, ao apreciá-las, sentem-se estimuladas
sexualmente - mesmo que esse efeito não dependa dos méritos argumentativos ou
estéticos da obra, ou mesmo, ainda, que esses méritos simplesmente não existam.”
 “O gênero sadomasoquista de pornografia, em específico, é tão aviltante e
repugnante que sua própria existência nos deixa perplexos e nos envergonha. Ao
contrário do que pensa MacKinnon, quase todos os homens se enojam tanto
quanto as mulheres perante essas manifestações.” (p. 374)
 “Nas partes mais interessantes de Only Words, MacKinnon propõe um novo
argumento que também é formulado de modo que transcenda a mera repulsa. Diz
ela que o caráter específico da pornografia - o fato de retratar as mulheres como
vítimas submissas que gostam da tortura e da mutilação - contribui para a
desigualdade de oportunidades que aflige as mulheres na sociedade norte-
americana e contradiz assim os valores que o dispositivo de igualdade de proteção
deveria proteger. (...) O Estado poderia então proibir a expressão vívida, visceral
ou excessivamente emotiva de qualquer opinião ou convicção que tivesse uma
possibilidade razoável de ofender um grupo menos privilegiado. Poderia pôr na
ilegalidade as apresentações da peça O mercador de Veneza, os filmes sobre
mulheres que trabalham fora e não cuidam direito dos filhos e as caricaturas ou
paródias de homossexuais nos shows de comediantes. Os tribunais teriam de pesar
o valor dessas formas de expressão, enquanto contribuições culturais ou políticas,
contra os danos que poderiam causar ao status ou à sensibilidade dos grupos
atingidos. (...) Por isso, se tivéssemos de fazer a escolha entre liberdade e
igualdade que MacKinnon nos apresenta - se os dois valores constitucionais
realmente estivessem em rota de colisão -, teríamos de escolher a liberdade, pois
a alternativa seria o despotismo da polícia do pensamento.” (p. 375-378)
 “(...) ninguém deve ser impedido de influenciar o ambiente moral comum através
de suas próprias escolhas, gostos e opiniões e do exemplo de sua vida; o fato de
esses gostos e opiniões chocarem aqueles que têm o poder de prender ou calar a
pessoa não é motivo suficiente para que ela não possa expressar-se.” (p. 381)
 “MacKinnon tem razão de sublinhar o vínculo que liga os debates sobre a
pornografia com aquele debate maior, mais geral e mais importante acerca da
liberdade de se dizer e ensinar coisas que parecem politicamente incorretas aos
olhos de outras pessoas. Tanto ela quanto suas seguidoras concebem a liberdade
de expressão e de pensamento como um ideal elitista e anti-igualitário que não
teve utilidade nenhuma para as mulheres, os negros e outros grupos de pessoas
que nunca tiveram acesso ao poder; dizem que os Estados Unidos estariam em
melhor situação se desbancassem esse ideal como fizeram muitos outros países.
Porém, a maior parte das discípulas de MacKinnon ficariam perplexas se essa
restrição da liberdade saísse das universidades e outras comunidades onde os
valores "politicamente corretos" que elas defendem são populares e se arraigasse
na cultura política mais geral. Há lugares em que a maioria das pessoas considera
a arte homossexual ou o teatro feminista tão aviltantes para as mulheres quanto a
pornografia que MacKinnon odeia; há lugares em que a maioria das pessoas
considera as doutrinas radicais ou separatistas dos negros tão perigosas para a
justiça racial quanto as palavras injuriosas de cunho racista.” (p. 383)
 “Temos aí uma antiga advertência liberal - tão antiga quanto Voltaire - com a qual
as pessoas já não têm tanta paciência. Estão dispostas, segundo dizem, a se arriscar
para promover um projeto que agora parece soberanamente importante.
Entretanto, é possível que essa impaciência venha a ser fatal para o próprio projeto
que elas têm em mente. Se deixarmos de lado nossa compreensão tradicional da
igualdade e a trocarmos por uma concepção nova, segundo a qual uma maioria
pode determinar que certas pessoas são demasiado corruptas, violentas ou radicais
para participar da vida moral informal do país, teremos dado início a um processo
que termina, como aliás já aconteceu em tantas outras partes do mundo, por tornar
a igualdade algo a ser temido e não louvado, um eufemismo ‘politicamente
correto’ da palavra tirania.” (p. 383)

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Resposta à réplica de MacKinnon

 “O mais importante é que MacKinnon pensa que ignorei o verdadeiro objetivo de


seu livro, o qual, segundo ela, é provar que a pornografia não é uma forma de
"expressão" porque "ela é aquilo que provoca, e não aquilo que diz". Eu não
ignorei essa afirmação. De fato, disse que não consegui encontrar aí nenhum
argumento - ainda não consigo -, mas tentei. Mencionei a idéia de que a descrição
pornográfica de um estupro é um estupro de fato, idéia que considero tola, e a
alegação de que a pornografia é uma "realidade" e não mera forma de expressão
porque produz a ereção do pênis e é um adjutório da masturbação - alegação que,
como eu disse, não me parece um motivo suficiente para se negar a algo a proteção
oferecida pela Primeira Emenda.” (p. 387)
 “[MacKinnon] deve parar de disparar sua metralhadora giratória por alguns
momentos e perguntar-se se é pelo sensacionalismo personalista e pelo uso de
hipérboles e argumentos frouxos que vamos conseguir promover agora a causa da
igualdade sexual.” (p. 389)

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Por que a liberdade acadêmica?
 “Hoje em dia, a expressão "liberdade acadêmica" evoca imagens e associações
diferentes das que evocava há trinta anos, talvez há meros dez anos. Na época,
quando ouvíamos essa expressão, pensávamos em professores esquerdistas,
legisladores macartistas, juramentos de fidelidade e reitores universitários
covardes e corajosos. Todos os liberais e radicais eram a favor da liberdade
acadêmica. Muitos conservadores a consideravam uma coisa sem importância ou
mesmo parte da conspiração para pintar de vermelho os Estados Unidos.
Atualmente, é o partido da reforma que diminui a importância da liberdade
acadêmica, ao passo que os conservadores a chamam de um dos pilares da
civilização ocidental. Hoje em dia, as palavras "liberdade acadêmica" nos
lembram de professores insensíveis e de regulamentos de expressão que podem
proteger os alunos contra essa insensibilidade. Ficamos a nos perguntar se a
liberdade acadêmica exclui uma tal proteção e se, nesse caso, ela é mesmo tão
importante quanto os liberais pensavam no passado.” (p. 390)
 “(...) se hoje as dimensões e metas da liberdade acadêmica parecem incertas, é
importante tentar redefini-las. Temos de elaborar uma nova explicação da
liberdade acadêmica, uma explicação que atenda a dois critérios. Em primeiro
lugar, ela tem de se encaixar suficientemente bem na compreensão geral das
exigências da liberdade acadêmica, de tal forma que não se postule um valor
completamente novo, mas uma nova interpretação de um valor já estabelecido.
Em segundo lugar, tem de justificar o melhor possível essa compreensão geral;
tem de evidenciar o motivo por que a liberdade acadêmica é um valor, de tal modo
que possamos julgar o quanto ele é importante e saber quando deve, se é que deve,
ceder lugar a valores concorrentes.” (p. 392)
 “Evidentemente, a liberdade acadêmica tem relação com um valor político mais
geral e mais conhecido, que é a liberdade de expressão; e vários tribunais norte-
americanos já consideraram que as formas fundamentais de liberdade acadêmica
são protegidas pela Primeira Emenda da Constituição. Por isso, talvez pareça
natural tratar a liberdade acadêmica como a simples aplicação desse direito mais
geral ao caso específico das instituições acadêmicas. Porém, essa idéia deixa no
escuro aquilo que a liberdade acadêmica tem de especial. A liberdade de expressão
é um direito moral - e, nos Estados Unidos, também um direito legal - de todos.
Porém, não garante para todos o que a liberdade acadêmica garante para os
acadêmicos. Exceto em circunstâncias muito especiais, a liberdade de expressão
não é o direito de se falar o que se quiser quando se ocupa um cargo mantido e
sustentado por outras pessoas. Do ponto de vista jurídico, como todos sabem, a
Primeira Emenda só se aplica ao Estado: não é violada quando as instituições
privadas impõem restrições à expressão como condição para a ocupação de um
cargo profissional.” (p. 395)
 “A justificação convencional da liberdade acadêmica a trata como um instrumento
essencial para a descoberta da verdade. Segundo esse ponto de vista, um sistema
de instituições acadêmicas independentes, com pessoas independentes dentro
dessas instituições, é o que, coletivamente, nos proporciona as melhores
oportunidades de chegar à verdade acerca de uma larga gama de assuntos em
ciência, arte e política. Temos assim, segundo essa teoria, uma probabilidade
maior de descobrir a verdade se deixarmos que, na maior medida possível, nossos
acadêmicos e suas instituições fiquem livres de todo controle externo.” (p. 396)
 “Não obstante, temos de admitir que, em muitas ocasiões, uma certa restrição da
liberdade acadêmica pode ser ainda mais eficiente enquanto estratégia de
descoberta da verdade, particularmente quando o que nos interessa não é descobrir
somente o que é verdadeiro, mas também o que é útil ou importante.” (p. 397)
 “Toda violação da liberdade acadêmica é frustrante e danosa para certas pessoas
porque frustra a possibilidade de se fazer jus a certas responsabilidades; e é
perigosa para todos porque enfraquece a cultura da independência e avilta o ideal
protegido por essa mesma cultura.” (p. 400)
 “Os professores e outras pessoas que ensinam e estudam nas universidades têm
uma responsabilidade ainda mais geral e inalienável: têm o dever paradigmático
de descobrir e ensinar as coisas que lhes parecem importantes e verdadeiras; e
esse dever, ao contrário do que ocorre com a responsabilidade do médico, não
pode ser abrandado nem mesmo em função dos interesses das pessoas com quem
os acadêmicos falam. Trata-se de uma pura responsabilidade para com a verdade;
desse modo, é uma responsabilidade profissional que se aproxima o mais possível
da responsabilidade ética fundamental que, segundo os ideais do individualismo
ético, incumbe a cada ser humano: a responsabilidade de levar a vida de acordo
com as convicções que lhe parecem as mais verdadeiras.” (p. 402)
 “Acabamos de sublinhar um elemento da justificação ética da liberdade
acadêmica: a instituição protege as pessoas que ocupam determinadas posições -
professores e estudantes- dos danos morais que adviriam da impossibilidade de
arcar com suas responsabilidades especiais.” (p. 402)
 “A educação pública liberal, a liberdade de expressão, de consciência e de religião
e a liberdade acadêmica fazem parte do apoio que nossa sociedade dá a uma
cultura da independência e constituem bastiões que ela erige para defender-se
contra uma cultura da conformidade. A liberdade acadêmica representa aí um
papel especial, pois as instituições educacionais são elementos essenciais dessa
empreitada. São essenciais porque, em primeiro lugar, é muito fácil transformá-
las em berços da conformidade, como perceberam todos os regimes totalitários;
e, em segundo lugar, porque nelas as pessoas adquirem boa parte da determinação
e das capacidades necessárias para levar uma vida baseada nas convicções
individuais.” (p. 403)
 “(...) mesmo que eu esteja errado e que só uma minoria creia atualmente na
importância ética da liberdade acadêmica, isso é um sinal de que o argumento
ético deve merecer mais, e não menos, atenção da nossa parte. Afinal de contas,
queremos que as melhores formas de educação sejam acessíveis a uma parcela
cada vez maior da comunidade; e os ideais da convicção pessoal, da integridade
intelectual e da independência ética são essenciais para esse objetivo.” (p. 405 )
 “Podemos voltar agora ao critério fundamental ao qual, como eu disse, qualquer
interpretação competente da liberdade acadêmica tem de atender. Esse ideal
implica certas distinções que, como afirmei, podem parecer estranhas à primeira
vista. A principal distinção, tal como a formulei, se dá entre o poder dos políticos
e dos administradores universitários de projetar as instituições e nomear os
acadêmicos - que a liberdade acadêmica permite - e o poder de controlar o que
esses acadêmicos fazem depois de nomeados - o que ela proíbe. Essa distinção
poderia, com efeito, parecer estranha se pensássemos que a liberdade acadêmica
só atende ao objetivo instrumental de estimular as descobertas científicas. Se
pensássemos assim, teríamos de admitir que, se os administradores podem nomear
um acadêmico com base numa idéia preconcebida de o que esse acadêmico pode
fazer, não haveria nada de errado em que eles também corrigissem possíveis erros,
advertindo um acadêmico já nomeado. Porém, a partir do ponto de vista ético que
acabamos de desenvolver, essa distinção não só é sensata como é essencial. O
princípio da responsabilidade individual não é transgredido quando os políticos
escolhem um reitor universitário ou quando o reitor escolhe os professores com
base numa opinião coletiva ou institucional acerca de onde está a verdade.” (p.
405)
 “O argumento de princípio (...), porém, vai muito além da justificação dessas
restrições limitadas à liberdade de expressão. Exige a proibição de toda expressão
que tenha a possibilidade razoável de envergonhar alguém, diminuir a auto-estima
de alguém ou fazer com que alguém perca o respeito por si mesmo. A idéia de que
as pessoas têm esse direito é absurda. É claro que seria muito bom se todas as
pessoas gostassem urnas das outras e se respeitassem mutuamente. Porém, não
podemos reconhecer a existência de um direito ao respeito, ou de um direito a se
ver livre dos efeitos de urna expressão que torne menos provável que os outros
manifestem esse respeito. Se os reconhecermos, estaremos subvertendo
totalmente os ideais centrais da cultura da independência e negando o
individualismo ético que essa cultura protege. As opiniões e preconceitos
populares de qualquer sociedade sempre serão injuriosos para alguns de seus
membros.” (p. 414)
 “Na verdade, a cultura da independência praticamente exige que isso aconteça.
Não há dúvida de que temos o dever de respeitar e tolerar uns aos outros, e todo
dogmatismo é desprezível. Porém, se efetivamente viéssemos a pensar que
estamos violando os direitos alheios quando expressamos opiniões sinceras que
denigrem outras pessoas quer aos nossos olhos, quer aos olhos delas mesmas,
comprometeríamos assim a nossa própria noção de um viver sincero. Temos de
encontrar outras armas, menos suicidas, para lutar contra o racismo e o sexismo.
Como sempre, temos de botar nossa fé na liberdade e não na repressão.” (p. 415)

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