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3 PINTAR CONTRA O ESQUECIMENTO: OS ÍNDIOS NA PINTURA DE


GEORGE CATLIN (1796-1872)

Imbuído de forte espírito romântico, Catlin acreditava que pintar a história e os


costumes daqueles povos indígenas valeriam toda a existência de um homem. Desejava
retratar não mais índios aculturados, como moican John Quinney. Catlin toma como missão
BROWN, 1974, p. 71). Para ele, os índios
seriam uma raça nobre e superior.
Em 1832, resolveu subir o Missouri - refazendo uma das rotas de Lewis e Clark a
pedido do jornal Commercial Advertiser, de Nova York. Cada vez que o navio parava em uma
aldeia, Catlin aproveitava para fazer rápidos esboços e anotações. Ao chegar a Fort Union (no
atual estado do Novo México), destino de sua viagem, pintou índios Crow, Assiniboine,
Black-foot, Cheyennes, Gros ventre e Cree. Acabou ganhando boa reputação entre os índios,
que pareciam gostar de suas pinturas brilhantes. Chegando até mesmo a receber deles o
(BROWN, 1974, p. 73-74).
Maravilhado, o romântico Catlin chegaria a confessar em carta escrita em Fort Union:

Não há imaginação humana que consiga apreender a beleza e a selvageria


das cenas que podem ser testemunhadas diariamente nesta região romântica:
as centenas de graciosas jovens, sem um ricto de preocupação ou medo que
perturbe a expressão de prazer e divertimento em seus rostos: os longos
cabelos negros que flutuam ao vento, confundindo-se com os rabos de seus
cavalos, quando elas voam pela pradaria macia como veludo, enfrentando a
morte com suas lanças e flechas contra uma manada de búfalos furiosos
(CATLIN apud BROWN, 1974: 74).

Grandiosidade, movimento e beleza, as imagens dos índios de Catlin mais parecem de


guerreiros da mitologia grega. Suas índias são descritas à semelhança das míticas amazonas.
Sua representação dos índios vê o cotidiano daqueles como um espaço de plena aventura e
liberdade.
George Catlin conviveu bastante tempo em algumas aldeias e chegou a aprender
vários dos hábitos de alguns grupos indígenas do Oeste, o que, todavia, não evitou que ele
estranhasse aquelas culturas diferente da sua. O pintor acompanhou e representou a cerimônia
O-kee-pa, nas aldeias Mandan (figura 1), naquele mesmo ano de 1832:
11
Figura 1 - Vista Interior da Loja de Medicina - Cerimonia Mandan O-kee-pa,1832 óleo sobre tela

Seus relatos posteriores enfatizariam o O-kee-pa como um ritual repleto de dança e


movimentos sexuais, somados à tortura e crueldade. De maneira que, seu estranhamento era
(...) esta regi seus encantos, seus acidentes e
cenas selvagens, que me perturbam a cada minuto me impedem de fornecer uma descrição
Mandan tanto impressionou,
poderia ser
salvo , caso fossem cristianizados por missionários. (CATLIN apud BROWN, 1975: 75).
Animado com o que havia visto e pintado, Catlin decide fazer uma verdadeira turnê de
divulgação de suas imagens do Oeste americano. Aquele espetáculo de índios alimentava o
desejo por conhecimento e exotismo americano. Sua exposição em Cincinnati, acompanhada
de palestras proferidas por ele próprio, tiveram um público considerável e contribuiu
sobremaneira para o estabelecimento de uma cultura visual sobre o Oeste americano que iria
ter grande circulação no western. Imagens que, por exemplo, ressurgiriam no Wild West Show
de consideramos das mais extraordinárias e

entusiasmadas à época (CATLIN apud BROWN, 1975, p. 76).


Seu sucesso lhe trouxe algum prestígio. Tanto que na primavera de 1834, conseguiu a
permissão do secretário de Guerra para acompanhar o Primeiro Regimento de Dragões, sob o
comando do coronel Henry Dodge, até o território de alguns povos indígenas do sudeste do
11
- Disponível em: <http://americanart.si.edu/exhibitions/online/catlinclassroom/catlin_browsec.cfm?ID=466>
acessado em 14 Abr. 2014.
país que lhes eram desconhecidos. Realizou pinturas de povos Comanches, Kiowa, Osages,
Wichita, Waco, Arapaho e Apaches jicarilla.

figura 2):

Figura 2 - Comanches meeting the Dragons, George Catlin, 1834-1835, óleo sobre tela12

Catlin, através dessa imagem, buscou demonstrar a rendição Comanche para os


Dragões da Cavalaria Americana. Catlin enfatiza a pompa do guerreiro Comanche em sinal de
rendição. A pele de búfalo é um sinal de sua cultura, já que o búfalo era o elemento principal
de caça nas planícies. A imagem do líder indígena é marcada por uma postura heroica em
comparação com os dragões. Sua impressão era de que eles galopavam em direção aos
militares americanos sem demonstrar medo ou covardia, de maneira que,

as duas linhas estavam formadas frente a frente, a cerca de vinte a trinta


metros uma da outra, como inimigos inveterados que jamais houvessem
encontrado; e, para crédito eterno dos comanches, que todo mundo sempre
considerou criminosos e hostis, todos saíram desse modo, de cabeça
descoberta e sem armas de espécie alguma, ao encontro de um grupo de
guerra abarrotado de armas que invadira metade do seu território (CATLIN
apud BROWN, 1975: 78)

Para ele, estes eram um


povo corajoso, honrado e inocente.
O pintor iria reunir suas várias coleções em Albany (Nova York), entre 1836-1837. A
-se, possuía quatrocentas e noventa e oito telas que

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- Disponível em:< http://americanart.si.edu/collections/search/artwork/?id=4009> acessado em 25 Fev. 2014.
representavam quarenta e oito povos diferentes. Os jornais do leste, logo mostraram-se
simpáticos àquelas representações. O Commercial Advertiser de Nova York, por exemplo,
estampava em 23 de setembro de 1837, a seguinte notícia:

GALERIA ÍNDIA DE CATLIN. Será aberta para exposição na tarde de


segunda-feira, dia 25, e todas as tardes a partir daí (...) no Salão de Palestras
de Clinton Hall. Serão apresentadas centenas de retratos, como também
esplêndidas cerimônias religiosas, etc. Obra realizada por ele próprio entre
as mais selvagens tribos da América, durante uma ausência de sete anos
desta cidade. O sr. Catlin estará presente a todas essas exibições, dando
explicações em forma de palestra (...) Entrada a 50 cents. (COMMERCIAL
ADVERTISER apud BROWN, 1975, p. 79).

O Oeste e suas peculiares exoticidades atraiam cada vez mais americanos. Invadia os
sonhos, povoava o imaginário de muitas daquelas pessoas. Inventava-se enquanto uma
narrativa com o qual os americanos poderiam identificar-se. Um produto de sucesso
consumido a preço popular. Um mundo novo que se revelava aos olhos curiosos de plateias
impressionadas.
Como o Congresso Americano não adquiriu a exposição, George Catlin resolveu partir
com suas pinturas para o continente europeu, no ano de 1839. Na Inglaterra, sua exposição
teria imensa popularidade durante os cinco anos que por lá permaneceu. Sua Galeria Índia
tornou-se um verdadeiro show do Oeste Selvagem. Antecipando os espetáculos de Buffalo
Bill, Catlin mostrava índios de verdade, peles de búfalos, arcos, flechas, em um verdadeiro
inventário dos costumes indígenas que a sua idealização romântica de Catlin e de seu público
desejava. Ao mesmo tempo, crescia a hostilidade da população americana pelos povos
indígenas, especialmente por conta dos vários conflitos na fronteira. Catlin fora visto como
indian lover13 em uma época em que o presidente Andrew Jackson (1829-1837) votava a
favor do Indian Removal Act14. O Congresso estava mais preocupado em levantar fundos para
o Departamento de Guerra do que gastar alguma soma para comprar quadros de índios mortos
(BROWN, 1974, p. 81-83).

13
- Amante de índios . Um termo pejorativo muito usado no século XIX para pessoas que defendiam a cultura
indígena voltando-se contra a civilização. Um tema bastante revisitado pelos faroestes dos anos 1950-60, como
por exemplo, Flechas de Fogo (Broken Arrow, 1950), de Delmer Daves e Renegando meu Sangue (Run of the
Arrow, 1957), de Samuel Fuller.
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- Se por um lado os românticos idealizavam sua imagem enquanto acreditavam testemunhar o crepúsculo de
uma raça, por outro, uma verdadeira guerra de imagens estimularam representações depreciativas as mais
diversas sobre o índio americano. Nesse processo em que a tradição do western ia sendo inventada a partir de
diversos meios de reprodução, o discurso do presidente Andrew Jackson (1829-1837). No segundo ano de
mandato, aprovou a Indian Removal Act lei que definiu sua administração dos assuntos indígenas, autorizando-o
a negociar tratados para
Oeste americano.
Na obra de Catlin, o que ele acredita ser a nobre civilização indígena, é demonstrada a
partir dos hábitos nativos que poderiam ser salvos, hábitos únicos, singulares, mas que
estavam inevitavelmente desaparecendo. Sua pintura, então, seria uma forma de lutar contra o
esquecimento, em uma clara atitude de um metodismo missionário. Catlin buscava salvar
aquela civilização do esquecimento, já que o consenso geral passou a representar os povos
indígenas americanos como seres à beira da extinção. Seu relato é digno de nota, pois mostra
como mesmo na mentalidade daqueles que simpatizavam com a causa indígena, o sentimento
era de que os índios seriam vencidos pela civilização:

Contemplei as nobres raças dos peles-vermelhas, que estão desaparecendo à


medida que a civilização se aproxima; seus direitos são desrespeitados, sua
moral corrompida, suas terras, invadidas, seus costumes, alterados, e estão,
portanto, perdidos para o mundo; finalmente, eles desaparecem da terra, e o
arado cobre de torrões seus túmulos; corri em socorro deles, não para salvar
suas vidas ou suas raças (porque eles estão condenados a desaparecer), mas
para salvar sua aparência e hábitos, pois o mundo ganancioso talvez venha a
despejar neles seu veneno até a total destruição, pisá-los e esmigalhá-los até

nas telas e permanecerão por séculos e


séculos monumentos vivos de sua nobre raça (CATLIN apud BROWN,
1975, p. 74).

Catlin parece ver nos índios um modo de vida romântico que a chegada da civilização
inevitavelmente destruiria. Suas imagens buscavam, pois, enfatizar o triste destino daqueles
povos, especialmente quando estes eram dominados pelo jugo da civilização (figura 3):
Figura 3 - Pigeon's Egg Head (The Light) Going to and Returning from Washington, George Catlin, 1837-
39, óleo sobre tela15

Na imagem, vemos o antes e o depois de Wi-jún-jon. No lado esquerdo, o índio em


toda sua nobreza romântica com o Capitólio ao fundo chega à Washington. Na parte direita da
pintura, vemos o índio vestido com uniforme do exército americano, acessórios como abano e
guarda-chuva, uma garrafa de whisky no bolso, saltos altos e, ao que parece, um tanto
cambaleante. Catlin evidencia, portanto, o abismo entre a cultura indígena e a civilização
branca, associando a decadência e o vício indígena como motivado pelo contato com a cultura
branca.
Suas telas foram pensadas como uma forma de fazer ressurgir, tal qual uma fênix,
aqueles índios. Imagens nas quais as pessoas poderiam num futuro bem próximo, quando a
civilização domasse o deserto, olhar e talvez com saudosismo dizer que lastimavam, que eles
pareciam uma raça tão honrada, tão nobre, com costumes tão singulares, mas que infelizmente
estavam fadados a desaparecer. Por mais simpatia que tenha pelos povos indígenas, Catlin crê
que a luta daqueles era em vão, pois não conseguiriam deter o progresso, nem por meio da
resistência, nem muito menos por meio da assimilação. Imagens marcadas por um sentimento
nostálgico decorrente de um hipotético fim dos povos indígenas, por uma nobreza daqueles
costumes em contraposição à corrupção característica do mundo civilizado, que iriam
sobreviver principalmente no momento
que coincide, justamente, com o nascimento do cinema.

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- Disponível em:< http://americanart.si.edu/collections/search/artwork/?id=4317 > acessado em 21 Abr. 2014.

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