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GUIA POLITICAMENTE INCORRETO

DA HISTÓRIA DO BRASIL
LEANDRO NARLOCH
SOIDNÍ 13

SUMÁRIO

15 Prefácio
21 Introdução

28 Índios
76 Negros
110 Escritores
140 Samba
170 Guerra do Paraguai
200 Aleijadinho
220 Acre
242 Santos Dumont
268 Império
292 Comunistas

343 Bibliografia
355 Índice
14 GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL
A NOVA HISTÓRIA
DO BRASIL

Complete o formulário abaixo seguindo três regras


simples. Nos espaços antecedidos pela letra «X», escreva o
nome de um país pobre ou remediado. Nas lacunas acom-
panhadas de «Y» e «Z», insira o nome de nações ricas do
hemisfério Norte. Para os restantes espaços, escolha uma
das opções fornecidas entre parênteses ou outra da sua pre-
ferência.

A HISTÓRIA DO PAÍS X________


A história do país X_________ iniciou-se com o povoamento de
grupos nómadas provenientes do _____ (norte, sul, leste, oeste).
Durante alguns milhares de anos, esses povos espalharam-se
por quase todo o território, sobrevivendo à base da agricultura
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rudimentar e da coleta de __________ (peixes, fruta), através de um


sistema __________ (igualitário, sustentável). Porém, no século ____ ,
essas tribos foram conquistadas por poderosos exploradores
do império Y _________ , que passaram a usufruir do trabalho dos
nativos, criando um sistema de exploração colonial. Em troca de
pequenas manufaturas, os nativos forneciam aos estrangeiros
uma série de matérias-primas essenciais para a crescente indus-
trialização do império. Séculos depois, X _________ conquistou
a sua independência, mas manteve os laços de dependência
económica no âmbito da sociedade mercantilista. O revolucio-
nário ________________ , homem de grande coragem, esperança
e bigode, tentou livrar o país da pujança económica internacio-
nal e diminuir as contradições inerentes ao capitalismo. No en-
tanto, os seus ideais feriam os interesses da elite _________ (rural,
esclavagista, mercantil, burguesa) e também de um novo país,
Z __________________. Esta nação procurava expandir o seu merca-
-do consumidor e apoiou cobardemente o massacre aos rebel-
des promovido por Y _______. Em consequência de tantos séculos
de opressão, X _________ vive hoje graves problemas sociais
e económicos.

Existe um esquema tão repetido para contar a his-


tória de alguns países que basta misturar chavões, mudar
datas, nomes de nações colonizadas, potências opressoras, e
pronto. Já está apto a passar em qualquer exame de história
na escola e, na mesa do café, fazer figura de especialista
em todas as nações da América do Sul, África e Ásia. As
pessoas certamente concordarão com as suas opiniões, os
professores vão adorar as suas respostas.
O modelo é simples e rápido, mas também chato
e quase sempre errado. Até as novelas de televisão têm
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guiões mais criativos. Os ricos têm sempre o papel de vilões


– se fazem alguma bondade, é porque foram movidos por
interesses. Já os pobres são eternamente bons, vítimas da
elite e das grandes potências, e só fazem asneiras porque
são obrigados a isso. Nesta estrutura simplista, o único as-
peto que importa é o económico: o passado torna-se um
jogo de interesses e apenas isso. Só se contam histórias que
não ferem o pensamento politicamente correto e não correm
o risco de serem mal-interpretadas por pequenos incapa-
citados nas escolas. O género também tem tabus e perso-
nagens proibidas, como o rei bom, o fraco opressor ou os
povos que largaram a miséria por mérito próprio e hoje não
se consideram vítimas.
No século xx, quando esse esquema se tornou co-
mum, acreditávamos num mundo dividido entre preto e
branco, fortes e fracos, ganhadores e perdedores. Essa visão
já estava pronta quando os estudiosos se debruçavam sobre
a história: o que eles faziam era encaixar, à força, os acon-
tecimentos do passado na sua visão de mundo. Isso mudou.
Uma nova historiografia ganha força no Brasil. Se, no come-
ço da década de 1990, o jornalista Paulo Francis falava de
«rinocerontes à la Ionesco que passam por historiadores no
nosso país», na última década apareceram académicos que
sabem que não são políticos a escrever manifestos. Como
diz o historiador José Murilo de Carvalho, na apresenta-
ção da Coleção Brasil Imperial, lançada recentemente: «A
geração anterior foi muito marcada pela luta ideológica,
exacerbada durante os governos militares. As divergências
eram logo transpostas para o campo político-ideológico,
com prejuízo do diálogo e da qualidade dos trabalhos.
A nova geração formou-se em ambiente menos tenso e
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polarizado, com maior liberdade de debate e um ambiente


intelectual mais produtivo.» Os investigadores desta nova
leva tentam elaborar conclusões científicas baseadas em ar-
quivos inexplorados de cartórios, igrejas ou tribunais, têm
mais cuidado ao falarem de consequências de uma lógica
financeira e pesquisam sem se importarem muito com o uso
ideológico das suas conclusões. As interpretações que
tiram do armário são mais complexas e, numa boa parte das
vezes, saborosamente desagradáveis para os que adotam o
papel de vítimas ou bons rapazes.
A história fica assim muito mais interessante. No sé-
culo xviii, quem quisesse ir de Parati, no Rio de Janeiro, à
atual Ouro Preto, em Minas Gerais, tinha de cavalgar du-
rante dois meses – no caminho, passava por casebres miserá-
veis onde moravam tanto os escravos como os seus senhores,
que trabalhavam juntos e comiam, sem talheres, na mesma
mesa. Sabe-se hoje que, nas vilas do ouro de Minas, havia
ex-escravas riquíssimas, proprietárias de casas, joias, por-
celanas, escravos, e bem-relacionadas com outros empresá-
rios. Os primeiros sambistas, considerados hoje pioneiros da
cultura popular, tinham formação em música clássica, pla-
giavam canções estrangeiras e largaram o samba para fun-
dar bandas de jazz. Uma das consequências da chegada dos
jesuítas a São Paulo foi dar um alívio à mata atlântica – até
então, os índios pegavam fogo à floresta não só para abrir
espaço de cultivo, mas para cercar os animais com o fogo e
depois abatê-los.
O problema é que essa nova história demora tempo
a chegar às pessoas em geral. Os livros didáticos continuam
a dizer que o verdadeiro nome de Zumbi era Francisco e
que ele teve uma educação católica – uma ficção criada pelo
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político e jornalista gaúcho Décio Freitas. Ainda se aprende


na escola que o Brasil praticou um genocídio no Paraguai du-
rante uma guerra que teria sido criada pela Inglaterra. E há
muitos descendentes de europeus que pensam que são culpa-
dos pelo tráfico de escravos, apesar de a maioria dos seus an-
cestrais só ter imigrado quando a escravidão já se extinguia.
No processo de fabricação de um espírito nacional, é
normal que se inventem tradições, heróis, mitos fundadores
e histórias de fazer chorar, que se dê um pouco de brilho a
mais a episódios que criam um passado comum para todos
os habitantes e provocam uma sensação de pertença. Se este
país quer deixar de ser café com leite, uma boa maneira de
amadurecer é admitir que alguns dos heróis da nação eram
oportunistas ou, pelo menos, pessoas do seu tempo. E que
a história nem sempre é uma fábula: no final, não tem uma
moral edificante nem causas, consequências, vilões e víti-
mas facilmente reconhecíveis.
Por isso está na hora de atirar tomates à historio-
grafia politicamente correta. Este guia reúne histórias que
vão diretamente contra ela. Só erros das vítimas e dos he-
róis da bondade, só virtudes dos considerados vilões.
Alguém poderá dizer que se trata do mesmo esforço dos
historiadores militantes, mas, desta vez, na direção oposta.
É verdade. Quer dizer, mais ou menos. Este livro não quer
ser um falso estudo académico, como o daqueles estudiosos,
e sim uma provocação. Uma pequena coletânea de pesqui-
sas históricas sérias, irritantes e desagradáveis, escolhidas
com o objetivo de enfurecer um bom número de cidadãos.
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DNÍ
OS
CINCO VERDADES QUE NÃO
DEVERÍAMOS CONHECER

Em 1646, os jesuítas que tentavam evangelizar os


índios no Rio de Janeiro tinham um problema. As aldeias
onde moravam com os nativos ficavam perto de engenhos
que produziam vinhos e aguardente. Bêbados, os índios
tiravam o sono aos padres. Numa carta de 25 de julho da-
quele ano, Francisco Carneiro, o reitor do colégio jesuíta,
queixava-se que o álcool provocava «ofensas a Deus, adulté-
rios, doenças, brigas, ferimentos, mortes» e ainda fazia com
que as pessoas faltassem às missas. Para acabar com a indis-
ciplina, os missionários decidiram mudar três aldeias para
um lugar mais longínquo, de modo a que não fosse tão fácil
passar pelo engenho e beber uns copos. Não deu resultado.
Bastou os índios e os colonos ficarem a saber da decisão para
se revoltarem em conjunto. Deitaram fogo às choupanas dos
padres, que imediatamente desistiram da mudança1.
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Os anos passaram e o problema continuou. Mais de


um século depois, em 1755, o novo reitor dizia-se contraria-
do com os índios por causa do «gosto que neles reina de viver
entre os brancos». Era comum fugirem para as vilas e para os
engenhos, onde não precisavam de obedecer a tantas regras.
O reitor escreveu a um colega dizendo que eles «se recolhem
nas casas dos brancos a título de os servir; mas verdadeira-
mente para viver a sua vontade e sem coação darem-se mais
livremente aos seus costumados vícios». O contrário também
acontecia. Nas primeiras décadas do Brasil, tantos portugue-
ses iam divertir-se nas aldeias que os representantes do reino
português ficaram preocupados. Enquanto tentavam fazer
os índios viverem como cristãos, viam os cristãos vestidos
como índios, com várias mulheres e participando nas festas
no meio das tribos. Foi preciso editar leis para conter a con-
vivência nas aldeias. Em 1583, por exemplo, o conselho mu-
nicipal de São Paulo proibiu os colonos de participarem nas
festas dos índios e «beber e dançar segundo seu costume»2.
Os historiadores já fizeram retratos muito diversos
dos índios brasileiros. Nos primeiros relatos, os nativos
eram seres incivilizados, quase animais que precisaram
de ser domesticados ou derrotados. Uma visão oposta
propagou-se no século xix, com o indianismo romântico,
que retratou os nativos como bons selvagens donos de
uma moral intangível. Parte dessa visão continuou no sé-
culo xx. Historiadores como Florestan Fernandes, que em
1952 escreveu A Função Social da Guerra na Sociedade
Tupinambá, construíram relatos em que a cultura indíge-
na original e pura teria sido destruída pelos gananciosos
e cruéis conquistadores europeus. Os índios que ficaram
para essa história foram os bravos e corajosos que lutaram

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