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Apologia da História

CONTRIBUIÇÕES EM RELAÇÃO AO CONHECIMENTO


Obra póstuma do escritor francês, co-fundador da Escola dos Annales e da Nova História, morto
pelos nazistas em 1944, esta obra ficou interrompida, foi publicada pela primeira vez em 1949,
inaugurou uma nova perspectiva do estudo e do entendimento da concepção da história e do
papel indispensável do historiador.
Neste livro, Bloch expõe elementos de metodologia de pesquisa em História buscando
identificar o objeto de estudo fortalece a concepção da ciencia histórica , partindo de uma
indagação de seu filho "Papai, então me explica para que serve a história." (Bloch, 2001, p.41),
visando expor sua visão de história e do papel do historiador.
Marc Bloch retrata no primeiro capitulo da sua obra que o objeto principal da história não é
estudar o passado e sim estudar o ser humano, pois “já o bom historiador se parece com o ogro
da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça”, e faz uma discussão sobre a
história como ciência ou arte e conclui enfocando que a história é a ciência "Ciencia dos
homens", "dos homens, no tempo". O historiador não apenas pensa "humano"(Bloch 2001: 55p)
faz uma conclusão final do capitulo enfocando a história como ciência, não apenas pelo objeto
mais também pelo método próprio que é a observação histórica ou seja no titulo ele resume no
título a intenção do autor que é representar o homem quanto sujeito da sua história. Buscando
não mais uma História voltada apenas aos fatos, às datas e aos relatos. Ele a partir de então
procurava uma história que conseguisse compreender as relações sociais que se deram através
dos fatos, suas problematizações e seu contexto histórico.
Bloch enfoca a questão da observação histórica na qual sugere que o historiador está
impossibilitado de constatar os fatos estudados e por isso que no estudo do fato recente, têm-se
maiores possibilidades de compreensão, embora os testemunhos em qualquer tempo sejam
indispensáveis, na atualidade, os vestígios originais claramente em sua volta, como a ganhar
corpo e vida pela manipulação do pesquisador, pois, “A diversidade dos testemunhos históricos
é quase infinita. Tudo que o homem diz ou escreve, tudo que fabrica, tudo que toca pode e deve
informar sobre ele.” (Bloch 2001: 79p). Na pesquisa histórica, o historiador limita-se aos relatos
dos testemunhos, devido à impossibilidade do historiador testemunhar os fatos estudados, pois
eles já acontecerão, portanto é imutável e seu conhecimento pode ser progressivo e
aperfeiçoado.
Durante a pesquisa histórica, o historiador deve ter persistência, entendendo que há dois tipos de
documentos na poderá encontrar: os explícitos, que são fabricados, e os implícitos que não
aparece espontaneamente na reprodução desses documentos no anonimato.
Bloch inova ao dizer que o historiador não deve utilizar apenas os documentos escritos, mas
trabalhar também os testemunhos não escritos, de outras ciências, em particular os da
arqueologia, nos mostra que o passado estará sempre em processo e progredindo, mudando
muitas vezes seu modo de analisá-lo e entendê-lo, e que poderá ser escrito de maneira
diferenciado de acordo com a visão de cada historiador e até mesmo interpretado diferentemente
dependendo do leitor.
A postura do historiador deve ser de questionamento para perceber o contraditório em certos
autores, o que na maioria das vezes levaram investigações às fracas, pois “Os textos ou os
documentos arqueológicos, mesmo os aparentes mais claros e mais complacentes, não falam
senão quando sabemos interrogá-lo” (Bloch 2001: 79p).
Durante a Idade Média, os historiadores escreviam o que eram convenientes, baseava-se no bom
senso, onde a história era favorecida pela incerteza da falsificação dos testemunhos, transcrevia
outro momento praticamente alheio aos acontecimentos e os fatos que era dito pela ordem
adequada e fidedigna ao pensamento dos filósofos e dos teólogos, considerados donos da
verdade, não conheciam ainda, a elaboração da análise critica.
O autor afirma que existem dois problemas no caminho do pesquisador: imparcialidade
histórica e o da tentativa de reprodução. Na qual pode de ser imparcial tomando a postura do:
Cientista que orienta – se em busca de provar o seu experimento e finaliza a sua missão.
Juiz de direito que através da comparação dá a sentença, respaldado na precisão dos autos e do
experimento cientifico.
Os historiadores segundo Bloch têm atuado como juízes, visando condenar bandidos ou coroar
heróis, dando qualidades aos seus atos, bons ou ruins para só então explicarem seus atos, o que
torna tal explicação insignificante. O autor apela para compreensão de fatos que levaram de
antemão as ações desses seres, pois a análise das ações humanas nos leva a um ser especial que
é o homem que age e interage como autor e receptor de um espaço neste sentido deve-se fazer a
leitura histórica de acordo o pensamento do tempo histórico.
Bloch defende que o historiador deve selecionar o período histórico, chamado de recorte
histórico e, portanto “escolhe e peneira” o seu estudo e analise, pois não é obrigatório o saber
todo o passado ou do seu estudo, já que a noção de fonte é ampliada e abrangente,
principalmente ao aumentar o período pesquisado. Na produção o historiador, necessita ter
consciência da própria nomenclatura da história, beneficiada pela matéria de seu estudo, que é
fornecida de forma ultrapassada diante da época vivenciada pelo escritor. “A história recebe seu
vocabulário, portanto em sua maior parte, da própria matéria de seu estudo. Aceita-o, já cansado
e deformado por longo uso; ambíguo, alias, não raro desde a origem, como todo sistema de
expressão que não resulta do esforço severamente combinado dos técnicos” ( Bloch
2001:136p ).
O último capítulo é incompleto, não recebeu um título, parte considerações acerca das causas
dos fatos históricos, e que tais causas não são postuladas e sim buscadas, não tendo como pré-
determinadas –faz uma crítica ao positivismo –, que um fato é ligado ao outro e que as
produções do próprio historiador terá conseqüências e influências.
Finaliza dizendo: “Resumindo tudo, as causas, em história como em outros domínios, não são
postuladas. São buscadas” (Bloch 2001: 158p).
CONCLUSÕES DA AUTORIA
Fica evidenciada no livro que algumas noções básicas sobre o que toda história é: social,
mutante, transformadora, e que a história deve ser problematizada;
Esta obra de Bloch retrata de forma clara, direta e consistente a postura e a atuação do
historiador diante do seu papel na sociedade.
Remetendo para o professor de historia dá uma posição clara do educador diante da importância
da historia como ciência dos homens.
Ele escreve sobre conceitos basilares do ofício do historiador, sintetiza o historiador e a sua
função enquanto produtor do conhecimento histórico.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BLOCH, Marc Leopold Benjamin, Apologia da história, ou, O ofício de historiador. — Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

Cap. 01- A história, os homens e o tempo.


1. A escolha do historiador.
(P. 51) A palavra história é antiqüíssima desde que surgiu a dois milênios mudou muito de
conteúdo.
(P. 52) Face a imensa e confusa realidade, o historiador é necessariamente levado a nele
recortar o ponto de aplicação particular de suas ferramentas; em conseqüência a nela fazer uma
escolha será um autentico problema de ação. E nos acompanhará ao longo de todo nosso estudo.
2. A história e os homens.
Para Marc Bloch dizer: “a história é a ciência do passado” é um grande erro. Pois a própria idéia
de que o passado possa ser objeto de ciência é absurda. Como, sem uma decantação prévia,
poderíamos fazer de fenômenos que não tem outra característica comum a não ser terem sido
contemporâneas, matéria de um conhecimento racional?
(P. 53) Na origem da historiografia, os velhos analistas não se constrangiam nem um pouco
com tais escrúpulos. Narravam, desordenadamente acontecimentos produzidos mais ou menos
no mesmo período: como eclipses, chuvas de granizo, batalhas, erupções, mortes de heróis e
reis, etc.. após esse momento inicial, pouco a pouco operou-se a classificação necessária.
Dividindo por exemplo em astronomia, geologia etc.
(P. 54) Mas apesar disso na nova historiografia a aliança de duas ou mais disciplinas revela-se
indispensável a certas tentativas a certas tentativas de explicação. Michelet e Fustel de
Colanges, nos ensinaram a reconhecer: o objeto da história é, por natureza o homem. Digamos
melhor, os homens, pois são os homens que a história quer capturar.
(P. 55) 3. O tempo Histórico.
“Ciência dos homens” dissemos. É ainda vago demais. É preciso acrescentar: “dos homens no
tempo”. O historiador não pensa apenas o “humano”. A atmosfera em que seu pensamento
respira naturalmente é a categoria da duração. Esse tempo verdadeiro é por natureza,
um continuum. É também perpétua mudança. Da antítese desses dois atributos provêm os
grandes problemas da pesquisa histórica. (P. 56) Em que medida devemos considerar o
conhecimento do mais antigo como necessário ou supérfluo para a compreensão do mais
recente?
4. O ídolo das origens.
Naturalmente a homens que fazem do passado seu principal tema de estudos da pesquisa, a
explicação do mais próximo pelo mais distante dominou nossos estudos até a hipnose. Sob sua
forma característica, esse ídolo da tribo dos historiadores tem um nome: é a obsessão das
origens.
A palavra origem é preocupante, pois é equivoca. Significa simplesmente começo? Entretanto
para a maioria das realidades históricas, a própria noção desse ponto inicial permanece
singularmente fugaz. Ou origens se entende por causas? Então não haveria mais outras
dificuldades a não ser aquelas que são por natureza inerentes às investigações causais.
(P. 57) Entre os dois sentidos freqüentemente se constitui uma contaminação tão temível que
não é em geral muito claramente sentida. Para o vocabulário corrente, as origens são um
começo que explica. Pior ainda: que basta para explicar. Ai mora a ambigüidade; ai mora o
perigo.
(P. 58) O passado só foi empregado tão ativamente para explicar o presente no desígnio do
melhor justificar ou condenar. De modo que em muitos casos o demônio das origens foi talvez
apenas um avatar desse outro satânico inimigo da verdade histórica:A mania do julgamento.
A qualquer atividade humana que seu estudo se associe, o mesmo erro sempre espreita o
intérprete: confundir uma filiação com uma explicação.
(P. 60) Sempre restará o problema de saber porque a transmissão se operou na data indicada:
nem mais cedo, nem mais tarde. Em suma, nunca se explica plenamente um fenômeno histórico
fora de estudo do seu momento.
5. Passado e presente.
Montesquieu fala sobre uma “cadeia infinita das causas que se multiplicam e combinam de
século para século”.
O que é o presente? No infinito da duração um ponto minúsculo e que foge incessantemente;
um instante que mal nasce morre. Mal falei, mal agi e minhas palavras naufragam no reino da
memória. Que segundo o jovem Goethe não existe presente, apenas o devir. Condenada a uma
eterna transfiguração, uma pretensa ciência do presente se metamorfosearia, a cada momento de
seu ser, em ciência do passado.
Na linguagem corrente, “presente” quer dizer passado recente. Aceitamos portanto esse
emprego um pouco frouxo da palavra.
(P. 61) March Bloch escreve sobre como seu professor o ensinou que escrever sobre o
contemporâneo o presente era matéria dapolítica, sociologia e do jornalismo. E que o
historiador deveria se afastar para analisar apenas a sangre frio.
(P. 62) Outros cientistas, ao contrário, acham com razão o presente humano perfeitamente
suscetível de conhecimento. Mas reservando seu estudo a disciplinas bem distintas daquela que
tem o passado como objeto. Eles analisam limitando-se a apenas algumas décadas como que seu
momento fosse separado do restante da história.
(P. 63) A ignorância do passado não se limita a prejudicar a compreensão do presente; mas
compromete, no presente, a própria ação.
(P. 64) Para analisar homens de outrora o historiador, ocupado em compreender e fazer
compreender, terá como primeiro dever recolocar em seu meio, banhado pela atmosfera mental
de seu tempo, face a problemas de consciência que já não são exatamente nossos.
(P. 66) É um erro grave acreditar que a ordem adotada pelos historiadores em suas
investigações deva necessariamente modelar-se por aquela dos acontecimentos. (P. 67) Livres
para em seguida restituir à história em seu movimento verdadeiro, lês frequentemente tem
proveito em começar por lê-la a partir do mais recente para chegar ao mais remoto. (Ocorre de,
em uma linha de estudos, o conhecimento do presente ser diretamente ainda mais importante
para a compreensão do passado).
Cap. 02- A observação histórica.
(P. 69) 1. Características gerais da observação histórica.
As características mais visíveis da informação histórica foram muitas vezes descritas. O
historiador, por definição, está na impossibilidade de ele próprio constatar os fatos que estuda.
(nenhum egiptólogo viu Ramsés, nenhum especialista em guerras Napoleônicas ouviu o canhão
de Austerlitz). Das eras que no procedem, só poderíamos portanto falar segundo os
testemunhos. Em suma, em contraste com o conhecimento presente, o do passado seria
necessariamente “indireto”.
(P. 71) Onde muitas vezes não existe a necessidade de uma transmissão humana(como relatos
escritos etc) (P. 72) De vez em quando não existe nada entre a coisa e nós.
(P. 73) Como primeira característica, o conhecimento de todos os fatos humanos no passado, da
maior parte do presente, deve ser um conhecimento através de vestígios. Quer se trate de
ossadas emparelhadas nas muralhas das Síria, de uma palavra cuja forma ou emprego revela um
costume, de um relato escrito, etc. O que entendemos efetivamente por documentos senão um
“vestígio”, quer dizer a marca, perceptível aos sentidos, deixada por um fenômeno.
(P. 75) O passado é por definição, um dado que nada mais modificará. Mas o conhecimento do
passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e se aperfeiçoa.
Os exploradores do passado não são homens livres. O passado é seu tirano. Proíbe-lhes
conhecer de si qualquer coisa a não ser o que ele mesmo lhe fornece. Por exemplo: Jamais
estabeleceremos uma estatística dos preços na época Merovíngia, pois nenhum documento
registrou esses preços em número suficiente.
(P. 76) Em virtude dessa lacuna, toda uma parte de nossa história necessariamente incide sobre
o aspecto, um pouco esvaído, de um mundo sem indivíduos. Muitas vezes algumas questões são
impossíveis de responder como o exemplo acima. Nesses momentos a melhor coisa a dizer é
“não sei, não posso saber”.
2.Os testemunhos.
“Heródoto de Túrio expõe aqui suas pesquisas, afim de que as coisas feitas pelos homens não
sejam esquecidas com o tempo e que grandes e maravilhosas ações realizadas tanto pelos
gregoas como pelos bárbaros, nada percam de seu brilho”.
Assim começa o mais antigo livro de história que, no mundo ocidental, chegou até nós sem ser
no estado de fragmentos. Ao lado dele, coloquemos, por exemplo. Um desses guias de viajem
que os egípcios introduziam nos túmulos. Temos cara a cara, os próprios tipos de duas grandes
classes entre as quais se divide a massa, imensamente variada, dos documentos colocados pelo
passado à disposição dos historiadores. Os testemunhos do primeiro grupo são voluntários. Os
outros não.
(P. 77) Os relatos deliberadamente destinados à informação dos leitores (testemunho
voluntário) não cessaram de prestar um precioso socorro ao pesquisador. Sua maior vantagem é
a de fornecer um enquadramento cronológico razoável a ser seguido.
Entretanto é na 2º categoria dos testemunhos que a investigação histórica, ao longo de seus
progressos, foi levada a depositar cada vez mais sua confiança. Não é que os documentos desse
gênero sejam, isentos de erro ou de mentira. A diferença aqui é que ela não foi concebida
especialmente em intenção da posteridade.
(P. 78) Até nos testemunhos mais resolutamente voluntários, o que os textos nos dizem
expressamente deixou hoje de ser o objeto predileto de nossa atenção. Apegamo-nos geralmente
com muito mais ardor ao que ele nos deixa entender, sem haver pretendido dizê-lo. A partir do
momento que o texto revela mesmo a contra gosto seu conteúdo secreto, o historiador deve
impor-lhe um questionário.
(P. 79) Entretanto mesmo os textos mais claros e complacentes, não falam senão quando
sabemos interrogá-los. Nunca a observação passiva gerou algo de fecundo.
Naturalmente, é necessário que essa escolha ponderada de perguntas seja extremamente
flexível, suscetível de agregar, no caminho, uma multiplicidade de novos tópicos, e abertas a
todas as surpresas. De tal modo que possa desde o início servir de imã às limalhas do
documento. O explorador sabe muito bem, previamente, que o itinerário que ele estabelece, no
começo, não será seguido ponto a ponto. Não ter um, no entanto, implicaria o risco de errar
eternamente ao acaso.
A diversidade dos testemunhos históricos é quase infinita, tudo o que o homem diz ou escreve,
tudo que fabrica, tudo que toca pode e deve informar sobre ele.
(P. 80) Seria uma grande ilusão imaginar que a cada problema histórico corresponde um tipo
único de documentos, específicos para tal emprego. Já que muitas vezes o testemunho
involuntário é mais importante para a pesquisa e muitas vezes a única.
(P. 82) 3. A transmissão dos testemunhos.
Reunir os documentos que estima necessários é uma tarefa das mais difíceis para o historiador.
De fato ele não conseguirá realiza-la sem a ajuda de guias diversos: Inventários de arquivos ou
de bibliotecas, catálogos de museus, repertórios bibliográficos de toda sorte.
(P. 83) Entretanto, por mais bem feitos, por mais abundantes que possam ser, esses marcos
indicadores seriam somente de pouca serventia para um trabalhador que não tivesse,
previamente, alguma idéia do terreno e explorar.
Ao contrário do que pensam os iniciantes, os documentos não surgem, aqui ou ali. Sua presença
em tal arquivo ou biblioteca deriva de ações humanas. Pois como tal documento encontra-se em
tal lugar? Como ele chegou a tal lugar através do tempo?etc. Isso quando o documento
consegue sobreviver até nossos dias!
(P. 85) Os grandes desastres da humanidade estão longe de sempre terem servido à história.
Com os manuscritos literários e historiográficos amontoados, os inestimáveis dossiês da
burocracia imperial romana perderam-se na confusão das invasões.
No entanto, a pacifica continuidade de uma vida social sem rasgos de febre mostram-se menos
favorável do que as vezes se acredita à transmissão da memória. São as revoluções que forçam
as portas dos armários de ferro e obrigam os ministros à fuga antes que tenham achado tempo
para queimar sua notas secretas.
Será assim pelo menos até que as sociedades consintam enfim a organizar racionalmente, com
sua memória.
Só conseguirão isso lutando contra os dois princípios responsáveis pelo esquecimento e
ignorância: A negligência, que extravia documentos. E a paixão pelo sigilo- Sigilo diplomático,
sigilo dos negócios, sigilo das famílias que os esconde e destrói.

BLOCH; Marc Leopold Benjamnin: “Apologia da história ou o oficio do historiador” R.J ed


Jorge Zahar 2001.
A escolha do historiador

Este texto é o primeiro capítulo do livro “Apologia da História”, escrito por Marc Bloch. Seu
objetivo é delimitar e traçar as linhas do ofício do historiador. Trata-se, portanto, de um estudo
de terreno, cuja finalidade é responder às perguntas “o que é história?” e “o que faz um
historiador?”, ou seja, identificar quais são as características que fazem parte dum estudo
propriamente histórico e que o diferencia do ofício do biólogo e do físico, por exemplo.
Dito de outra maneira, é uma busca epistemológica sobre as condições de conhecimento e de
verdade do historiador. Dentro da pluralidade de significados que o termo história evoca, está-se
falando aqui da história como teoria (Historik).

A história e os homens

O texto começa por oferecer resistência à idéia de que a história é uma ciência do passado, pois
mesmo que tal abordagem tivesse sido adotada pelos historiadores originários, parece-lhe
absurda a formação de uma ciência sobre fatos que apenas tenham em comum a característica
de terem acontecido em épocas contemporâneas.
Utilizando um exemplo, o autor explica quais seriam os atributos de um objeto da ciência da
história. Narra a história da cidade de Bruges, cujo crescimento às proximidades do golfo Zwin
acabou por causar o assoreamento deste último. A interação humana com a natureza, isto é, o
contato da população da cidade de Bruges com o solo e as águas do Zwin, que acabou por
ocasionar a sua tomada pelas areias, é apontada como um fato eminentemente histórico.
Desse modo, com o surgimento do fator humano na equação que tentava explicar a razão do
assoreamento, uma ciência pede o auxílio da história para a resolução do problema. “O objeto
da história é, por natureza, o homem. (...) Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda.
Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça”. O homem é o primeiro elemento do
objeto da História.
Quanto à expressão “ciência da história”, o autor evoca a discussão sobre a classificação da
história como ciência ou arte. Atentando para a diferença entre o humano e o estritamente
natural, conclui por entender diferentes os métodos da matemática, física etc. e da história. “Os
fatos humanos são, por essência, fenômenos muito delicados, entre os quais muitos escapam à
medida matemática”. Ainda sobre esse aspecto, termina por comparar as diferenças entre os
estudos do mundo físico e do espírito humano com, respectivamente, as tarefas do fresador e do
luthier – o primeiro trabalha com precisão numérica; o segundo, pela sensibilidade, pelo
empirismo. É requisito ao trabalho do historiador o “tato das palavras”.

O tempo histórico

Em seguida, o texto prossegue a examinar o segundo elemento do objeto da história: o tempo.


No entanto, o tempo da História não representa apenas uma medida – é uma realidade viva e
concreta, fundamental para a compreensão dos fatos históricos. O tempo é, também, como
realidade pulsante, o maior problema da pesquisa histórica. Pois ele é ao mesmo tempo
contínuo, ou seja, incessante e perpétua mudança – e essa é a origem da dificuldade que o
historiador tem em considerar o nível de influência de um fato histórico anterior em relação a
seus subseqüentes.

O ídolo das origens

Ao tratar do “ídolo das origens”, o autor critica uma forma de visão sobre a história. Explica que
sempre foi bastante comum alguns historiadores seguirem a orientação dos estudos do mais
próximo pelo mais distante. A busca das origens é, desse modo, perigosa, pois procura não
apenas um começo. Nesta condição, o passado daria completo sentido ao mais recente. Este é
um erro do qual, afirma o autor, as ciências naturais se encontram livres. O atraso dessa filosofia
ainda repercutiu na área das ciências humanas.
O evolucionismo biológico foi a salvação das ciências da natureza, pois tal concepção afastava
progressivamente as explicações das formas primitivas, atentando mais para a influência das
condições do momento mais recente. No entanto, a história permaneceu impregnada pela
glorificação das origens, tanto na França quanto na Alemanha.
Ainda, outro elemento tomou parte simultaneamente na vinculação da história ao passado. Na
história das religiões, a explicação pelas origens parecia fornecer um critério para o próprio
valor destas. De alguma maneira, tal preocupação acabou por contagiar outros campos de
estudo.
Entretanto, saber que Jesus Cristo fora crucificado e em seguida ressuscitado não é suficiente
para compreender como é possível que o cristianismo tenha se mantido mais ou menos
homogêneo com o passar do tempo e durante todo o desenvolvimento da civilização. Neste
ponto, a discussão toma as colorações do evolucionismo, com o exemplo do carvalho e da
glande. O cristianismo se manteve por razões humanas, que se encontram no meio social
(“clima humano”).
A mesma insuficiência pode ser sentida no reino das palavras. Termos cuja etimologia por si só
não explica os significados do atual uso da linguagem são o exemplo. Palavras
comobureau e timbre tiveram originalmente um sentido, que é bastante distinto do seu
significado atual, pois o meio social contemporâneo (de outro modo, o uso das palavras na
linguagem corrente) exerce um impacto crucial na vida daquelas.
De outro modo, a investigação das origens acabou por se revelar o disfarce da “mania do
julgamento” – cumpriam apenas a finalidade de justificar a condenação de alguma prática
política ou moral.
Esta é mais ou menos a visão do historiador que se quer passar com as imagens impressas nas
capas e páginas dos livros de história – pelo menos os traduzidos e impressos no Brasil.
Bloch repudia completamente a filosofia do estudo exclusivo do passado e afirma que só é
possível explicar um fenômeno histórico de acordo com seu momento. “Os homens se parecem
mais com sua época do que com seus pais”.

Passado e presente

Por outro lado, existem, no canto oposto dos extremos, os devotos do presente imediato.
Contudo, a noção da história como ciência do presente é no mínimo tão problemática quanto a
de ciência do passado. O presente é um momento singelo e quase imperceptível na eterna
evanescência do tempo. Goethe diz que não há presente, mas apenas um devir. Não resiste
também a concepção da história como ciência do passado recente, pois a crítica sobre o traçado
das linhas do tempo (o quão recente tem de ser um fato histórico?) lhe derruba facilmente.
Ressalva-se, em seguida, que a tendência a se aproximar de um dos dois extremos expostos é
bem recente. Os mestres antigos e modernos nunca ignoraram que a compreensão do passado
era fundamental para a elucidação do presente. Atribui a causa desse efeito, talvez, às inovações
tecnológicas, que abrem um abismo psicológico das gerações atuais em relação às anteriores e
seus antecedentes mais longínquos.
Afirmava-se que a engenharia contemporânea, por exemplo, mas não apenas esta ciência, não
teria nada de útil a aprender com os trabalhos científicos de seu passado. A revolução drástica e
repentina da técnica teria tragado todas as instituições anteriores e lhes atirado no vazio.
Porém, Bloch resiste a tais assertivas, pois a ignorância do passado não apenas prejudica a
compreensão do presente, como também atrapalha a busca pelo remédio de determinado
problema em questão. É absurdo limitar a causa da configuração atual de determinada sociedade
estritamente ao seu momento imediatamente anterior. Parece muito claro que fatores ainda mais
antigos continuam a exercer pressão sobre as estruturas sociais, inevitavelmente. A compreensão
do atual é, por muitas vezes, impossível sem o apelo a eventos históricos um tanto mais
distantes.
“A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez não seja
menos vão esgotar-se em compreender o passado se nada se sabe do presente”.
Por fim, a história, a ciência que incessantemente unifica o estudo dos mortos ao dos vivos,
parte sempre do mesmo pressuposto. O historiador começa do presente - seu ponto de partida é
o seu tempo. “(...) no filme por ele considerado, apenas a última película está intacta. Para
reconstituir os vestígios quebrados das outras, tem obrigação de, antes, desenrolar a bobina no
sentido inverso das seqüencias”. Está é a condição primária do exercício do historiador.

Capítulo II: A observação histórica

As considerações sobre o método de uma ciência são, no mínimo, tão importantes quanto as
sobre seu objeto. O objetivo deste capítulo é investigar as considerações sobre os métodos da
história no decorrer do tempo.

Características gerais da observação histórica

Em se tratando de fatos situados no passado, diz-se que o historiador assume posição


semelhante à do investigador na reconstituição de um crime – colhe, de maneira mediata,
informações por meio de testemunhas. Ele não possui acesso direto aos fatos do passado. Este
tipo de problema, contudo, não se restringe apenas ao estudo do passado.
No presente também, o horizonte do historiador encontra-se limitado por questões de
perspectiva. Pois a percepção do indivíduo encontra-se estreitamente limitada a suas faculdades
sensíveis e sua capacidade de atenção. Enfim, o estudo do presente não é, neste sentido,
privilegiado em relação ao estudo do passado, uma vez que todo o conhecimento da
humanidade é, em substância, construído pelos testemunhos dos outros. Nós temos acesso
imediato aos nossos próprios estados de consciência e nada mais.
Todavia, Bloch põe em questão o dogma da intermediação imprescindível dos conhecimentos
do historiador. Esta teoria, elaborada por historiadores mais antigos, levava como pressuposto a
concepção da história como tragédia grega. Os fatos históricos deveriam ser recontados como
episódios precisamente narrados. Com relação a alguns fatos, é verdade que a situação da
investigação do historiador se assemelha à da brincadeira do telefone sem fio, dentro da qual ele
se localiza na última posição...
Dessa maneira, a nova proposta de história de Bloch busca um afastamento da narração dos
grandes acontecimentos históricos e utiliza como principais fontes os eventos do homem
comum – as histórias da vida privada, por exemplo. A construção das “micro histórias” é o
principal objetivo da escola histórica dos Annales.
Existem fatos históricos (como exemplo, os fósseis de esqueletos encontrados nas muralhas de
algumas cidadelas sírias) e cujo acesso se dá sem a necessidade da intermediação de um ser
humano. Desse modo, a situação do historiador supera a definição rigorosa do método. Note-se
que se considerava conhecimento indireto como aquele cuja intermediação necessária deveria
ser estritamente humana.
São citados, a seguir, muitos outros objetos históricos cujo acesso se dá em primeira mão.
Retomando uma comparação feita anteriormente, do ofício do historiador como reduzido a
conhecer somente aquilo que lhe é trazido por relatos de um estranho, Bloch acentua que nem
sempre a investigação se dá desta maneira. Por diversas vezes, é possível ao historiador
vislumbrar seu objeto com seus próprios olhos.
A diferença entre a investigação do passado remoto e a do passado recente é apenas de grau. O
fundo do método continua o mesmo. O historiador tem contato e percepção direta dos restos da
muralha em que foram encontrados ossos de crianças (exemplo dado no texto). É por uma
operação puramente indutiva (e criação individual, portanto) que ele atribui, a partir dos restos
deste objeto encontrado, a prática de sacrifícios pelos povos que ali viviam.
Tomadas estas devidas considerações, Bloch descreve a primeira característica da observação
histórica: trata-se de um conhecimento através de vestígios. Ou seja, o historiador pesquisa
aquilo que nos resta de um fenômeno, que a nós é possível captar através dos sentidos de algo
que pertence a um passado remoto ou mais recente.
Mas o conhecimento do passado está sempre em progresso. O Oriente se abriu recentemente
para ter seus fenômenos históricos desvendados. Novas tecnologias e novas formas de
investigação surgem, proporcionando acesso a dados antes inatingíveis. O campo do
conhecimento humano reservado à História está sempre em evolução, mesmo que a progressão
tenha seus limites. A capacidade que ciências como a química têm de criar seu próprio objeto
ainda permanece, aos historiadores, como um sonho longínquo. A história nunca está presa ao
passado e, pelo contrário, deve muitas de suas conquistas ao fato de seu início sempre se dar no
presente.
E assim, uma grande parte da história da humanidade permanece inacessível devido às
limitações da própria condição da disciplina, que lida com fenômenos já consumados. As
ciências do homem não estão, contudo, em situação mais prejudicada do que a de outros ramos
do conhecimento humano, como a paleontologia. Do mesmo jeito que o historiador não tem
acessos a certos documentos que lhe dariam acesso a informações relevantes sobre a
mentalidade de uma civilização, ao paleontólogo é impossível encontrar qualquer vestígio sobre
as glândulas de um dinossauro, por exemplo, pois destes só lhe sobram os esqueletos.

Os testemunhos

Os testemunhos encontrados pelo historiador são divididos tradicionalmente em duas


categorias: os voluntários e os involuntários. Os voluntários são os documentos ou depoimentos
deixados propositadamente para a posteridade. Os segundos, por sua vez, tinham como
destinatário não o historiador, o pesquisador à procura do vislumbre de uma civilização antiga,
mas eram entregues aos homens da própria época.
Uma preciosa contribuição é, sem dúvida, prestada pelos testemunhos da primeira categoria.
Contudo, é nos testemunhos da segunda categoria que o historiador depositará sua mais
profunda confiança. Isto porque os documentos voluntários, em certa medida, são, como os
testemunhos de alguns romanos (citados como exemplo), incoerentes com outras fontes de
informação que são encontradas sobre a civilização romana.
Além disso, alguns pedaços da história da humanidade, como a pré-história e a história
econômica, só puderam ser reconstruídos tendo como fonte os testemunhos da segunda classe.
Estes, no entanto, não estão imunes à perversidade, mas os indícios deixados pelas civilização
de maneira não pré-meditada fornecem ao historiador material suplementar de extrema
relevância para o preenchimento de lacunas deixadas pelos testemunhos do primeiro tipo, bem
como para a resolução de contradições presentes nestes.
Os testemunhos involuntários são capazes de livrar o historiador das amarras do preconceito e
da “miopia” presente na visão de mundo daqueles homens mesmos, que deixaram descrições
sobre a vida na sociedade com o propósito de serem futuramente descobertos.
Ainda, os testemunhos voluntários são, por muitas vezes, mais interessantes ao pesquisador não
pelo que tentaram propositadamente dizer, mas pelo que dizem sem ter o esforço consciente de
fazê-lo. Desta maneira, mesmo que o conhecimento do passado se dê sempre por meio de
vestígios, é possível conhecer sobre ele muito mais do que os seus escritores julgaram nos dar a
conhecer. É uma grande revanche da inteligência sobre o dado – sujeito cognoscente sobre o
objeto cognoscível.
Configura-se, a partir dessa visão, a atividade criativa do historiador no seu trabalho de
pesquisa. Pois os documentos não falam senão quando são interrogados. Mesmo que alguns
historiadores acreditem que o seu trabalho se limite a verificar e apreender as informações
contidas em um documento (“no começo era o documento”), definitivamente não é assim que
procedem durante sua pesquisa, estando eles conscientes disso ou não.
Esta concepção não se circunscreve apenas ao âmbito histórico. “No princípio, é o espírito”.
Toda investigação histórica pressupõe que a busca aponte em alguma direção e nunca, em
nenhuma ciência, a observação passiva gerou frutos.
O interrogatório surge como uma necessidade preliminar do trabalho do historiador – uma
condição de possibilidade do conhecimento histórico. Por isso, pouco importa se o pesquisador
esteja consciente ou não desta etapa de seu trabalho. “Nunca se é tão receptivo quanto se
acredita”. A atividade de pesquisa histórica contém sempre em si um germe criativo do próprio
sujeito.
Dada a quase infinita diversidade de documentos e testemunhos históricos que podem ser
encontrados – além do natural descontentamento do historiador em se limitar ao estudo de
apenas alguns deles -, o historiador deve saber as técnicas de manuseio e interpretação dos
objetos de qualquer natureza. Os fatos humanos são os mais complexos de todos. Bloch
preocupa-se com o ensino das mais variadas técnicas e seu emprego para a melhor e mais
completa compreensão dos fenômenos históricos.

A transmissão dos testemunhos

O ofício do historiador também está sujeito às imposições do destino. Alguns dados de


civilizações antigas permanecerão talvez eternamente obscuros pelo fato de terem sido
destruídos, seja pela vontade dos homens ou por uma catástrofe da natureza. A pesquisa
histórica tem sempre como fator de risco essas considerações de caráter irracional – não podem
ser previamente conhecidas de modo a serem evitadas, portanto.
Se por um lado estes fatores irracionais por vezes atrapalham a pesquisa histórica, por outro o
conhecimento de alguns objetos históricos só se deve à contribuição do inesperado. Se não fosse
a erupção do Vesúvio não teríamos o conhecimento de Pompéia. Da mesma maneira, as
revoluções e guerras – cujas causas são evidentemente humanas – podem tanto jogar ao
esquecimento bibliotecas inteiras quanto serem as exclusivas responsáveis pela sua preservação.
É ilustrado neste capítulo o problema das fontes da história, pois todo historiador, ao
desenvolver sua pesquisa, lança mão dos mais variados tipos de arquivos e documentos. Bloch
recomenda aos escritores da história que se dediquem à criação de pelo menos alguns
parágrafos explicando como ele chegou a seu resultado – quais livros, arquivos e documentos
teve de pesquisar e sob quais condições os encontrou.
Pois muito embora parte das explicações do desaparecimento de algumas fontes históricas
sejam simplesmente trágicas, algumas causas são humanas e não escapam à análise. Bloch se
preocupa com um modelo de sociedade que negligencia os caminhos do historiador – concebe
uma idéia de comunidade que atenta para o conhecimento de si mesma e o organiza
racionalmente. Este esforço de eliminar a dissimulação (isto é, a negligência e o sigilo perverso)
pelo qual é possível preservar aquilo que não é inevitavelmente destruído pela natureza é
desejável (e até mesmo exigível) na medida em que evita a perda de ferramentas importantes
para a compreensão das sociedades.

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