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AS “BODAS DE PEDRA” DE KISSYAN CASTRO

José Neres
Dino Cavalcante

Num singular artigo que Humberto de Campos escreveu acerca do poeta Correa de
Araújo, afirmou que uma cidade vem à lume de duas maneiras. A primeira, por meio de
núcleos coloniais, quase sempre patrocinados por governos, que mandam vir de outras
paragens centenas de famílias. A segunda, por meio do desbravamento individual, com
o primeiro homem rompendo os caminhos selvagens da mata para fincar a sua casa.
Esse é o caso da imensa maioria das cidades do norte do Brasil. E conclui que, nos dois
casos, a cidade só parece ter o título de civilização quando um primeiro poeta passa a
cantar-lhe os seus aspectos naturais e culturais. A cidade é sempre incompleta quando
falta-lhe o cantor, como o foi Gonçalves Dias para a Caxias (ou como querem alguns
leitores: o Maranhão como um todo).
Trazemos isso à baila para mostrar que Barra do Corda é dessas cidades que desde
os primeiros anos de sua formação parece ser destinada ao convívio com a poesia, assim
como São Luís, Recife, Rio de Janeiro, entre outras cidades. E dessa forma, suas
características se eternizam nos versos de seus poetas.
Barra do Corda, cidade fundada em 1835, viu nascer de suas terras às margens dos
rios Mearim e Corda um dos mais ilustres poetas simbolistas do Brasil. Era dezembro
de 1879, quando as águas do vigoroso Corda assistiram ao natalício do autor de Papéis
velhos... roídos pela traça do símbolo: José Américo Augusto Olímpio Cavalcante de
Albuquerque Maranhão Sobrinho. Mesmo o poeta cordino tendo se mudado para São
Luís e depois, para Belém e Manaus, é a essa cidade que sempre nos referiremos
quando tratarmos da genialidade desse poeta.
E, como se já não bastasse ter um gênio da construção poética, Barra do Corda
insaciável, como uma cidade que clama por poesia, cem anos depois, em 1979, dá à luz
mais um poeta de grande talento: Kissyan Castro.
A princípio, o jovem escritor de primeiras letras lê o gênio e dele se faz o maior
pesquisador, indo atrás, seja em jornais do Maranhão ou do centro-sul do país, de
poemas, excertos, textos, comentários, idéias, enfim tudo que fosse relacionado ao
escritor de 1879. A cada etapa da pesquisa,encanta-se mais com a capacidade criadora
do autor de Estatuetas.
E assim, Kissyan, como o corpo banhado pelas mesmas águas do rio cantado por
Maranhão Sobrinho, começou a desvendar o mundo dos versos: Vau do Jaboque (2005)
é sua estréia como poeta. A partir daí, tem colaborado em diversas antologias poéticas
nacionais, como Caleidoscópio (2006) e Antologia de Poetas Brasileiros
Contemporâneos (2012).
Em 2013, surge Bodas de Pedra, livro de poemas condensados, com uma carga
poética imensa, em que o caráter materialista e mítico se confluem num mesmo
caminho.
Basta abrir qualquer de suas páginas para se descobrir o caráter de enfrentamento
de idéias antagônicas de seus versos. Tomemos o exemplo de “A Cruz e o Punhal”:

A eternidade traz à palma


o pó do próprio osso.

A outra mão asfixia Deus


para que não o sopre:

nossa existência
por um mesmo espelho.

Formada por três dísticos, o poema é construído a revelar uma antítese: vida X
morte. Eternidade e pó do osso se digladiam em posições contrárias a respeito da vida
do homem. Dito de outro modo: ou o homem alcança a vida eterna ou busca a cova e,
ali imerso no pó da terra, vê seus restos virarem pó.
Com a mesma densidade poética de A Cruz e o Punhal, o poema “O Estreito de
Éden”, re-significa a ultima viagem como uma passagem para a eternidade. Para o eu-
lírico, essa passagem é apenas um apêndice à morte. Vejamos o poema:

A eternidade é só
um apêndice à morte:

o último intestino
para o hímen de tudo.
Cem anos depois do nascimento do poeta Maranhão Sobrinho (30 de dezembro de
1879) nasce o jovem poeta e pesquisador Kissyan Castro (23 de dezembro de 1979) e,
mais singular ainda, em dezembro de 2015, no centenário de morte do autor de
Victórias-Régias, então naquele triste 1915, com 36 anos, Castro também com 36 anos,
apresenta aos leitores de São Luís os seus versos mais criativos.

José Neres é Mestre em Educação, Professor, Crítico Literário, Ensaísta, Escritor e Poeta. É membro da
Academia Maranhense de Letras.

Dino Cavalcante é Doutor em Literatura Brasileira. Crítico Literário e Ensaísta. Professor do


Departamento de Letras da UFMA, membro permanente do Mestrado em Letras.

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