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Resumo:

A CONTRIBUIÇÃO DE HEGEMONIA E ESTRATÉGIA SOCIALISTA PARA AS CIÊNCIAS


HUMANAS E SOCIAIS
Influenciados pelos pensamentos e práticas de esquerda que se desdobraram desde 1968,
Hegemonia e Estratégia Socialista é uma importante obra de teoria social e política publicada no
século XX. A obra referencia os golpes militares e ditaduras desenvolvimentistas que se
desenrolaram na América Latina. Por outro lado “esta obra suscitou amplo debate e fincou marcos
em várias esferas da militância e do pensamento social e político” (LOPES; MENDONÇA;
BURITY, 2015, p. 7).
O efeito fertilizador dessa obra fez-se da teoria política às artes, fazendo com que houvesse
questionamentos muito abrangentes em vários campos do pensamento contemporâneo. Existe clara
orientação pratica em que é dada muita atenção à estratégia tendo como tema central a democracia
“para qualificar o sentido da proposta socialista” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 8).
Existe uma lentidão na entrada desta obra nos debates brasileiros acerca do tema. A sua tradução
para diversos idiomas “marcou uma significativa inflexão no modo de pensar a questão do
socialismo e do próprio sentido e status da política no contexto das lutas sociais por justiça,
igualdade e liberdade no cenário contemporâneo” (LOPES; MENDONÇA, BURITY, 2015, p. 8).
O debate e a sensibilização para a obra no Brasil é pequena e a esquerda acadêmica faz
silêncio sobre os temas político-teórico e político-estratégico por ele abordados. A perspectiva da
obra enfrenta deliberado desengajar-se de debates. Tanto que “poucos viram no livro suficiente
motivação (ou provocação) para um pensamento de reorientação e reconstrução de uma ‘estratégia’
de democratização radical da sociedade brasileira (LOPES; MENDOÇA; BURITY, 2015, p. 8).
A construção democrática é dramática em meio à crise dos anos de 1980 e a “vitória do
neoliberalismo no mundo anglo-saxão, aos poucos se desenhava uma capitulação de vários setores
de esquerda partidárias e intelectual a uma nova lógica da ‘modernização política’ que recolhia de
modo tateante, instrumental e contraditórios os frutos da experiência e debates instigados pela
revisão do dogmatismo marxista e do que os autores aqui chamam de essencialismo” (LOPES;
MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 8-9).
As reflexões e propostas de democratização do socialismo não se constituem em modelos
econômicos, mas como proposta política “construídas sobre as críticas europeias ao socialismo e ao
capitalismo realmente existentes, que se acumularam entre os anos de 1950 e 1980 […]
materializaram-se em resultados tão múltiplos quanto impossíveis de fazer convergir numa única
direção consistente” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 9).
O “ ‘reformismo forte’ [...] que prometia transformações profundas sem os cortes,
arbitrariedades e imposições da esquerda jacobina diluiu-se em concessões que, começando com
táticas de despistamento de condições adversas e inimigos poderosos, tornaram-se neutralizações
de muitas daquelas promessas. […] boa parte das energias do ‘reformismo forte’ se esvaíram – ou
nunca se concretizaram” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 9). A obra abre uma veia
político-estratégica não unívoca, mas “continua a levantar questões cruciais relativas à formação da
agência coletiva capaz de dar sentido e direção a processos de radicalização da democracia e à
renovação do pensamento socialista” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 9-10). No
entender desses autores não houve uma perca da energia crítica inicial da obra de Laclau e Mouffe e
que a abertura de debates sobre a “dinâmica sociopolítica contemporânea, onde operem e vicejem
categorias como hegemonia, discurso, articulação, lógicas da diferença e da equivalência,
pluralidade social, e democracia radical, para fixar algumas de léxico laclauniano-mouffeano”
(LOPES; MENDONÇA, BURITY, 2015, p. 10).
A obra Hegemonia e estratégia socialista se distingue em relação à sua interrogação e
análise e seu método característico. Sua relevância se mostra ainda “no cenário dos efeitos práticos
das lutas e transformações sociais e políticas de nosso tempo” (LOPES; MENDONÇA; BURITY,
2015, p. 10). As preocupações e intervenções de Laclau e Mouffe ainda não foram transpostos
completamente, uma vez que “sendo mesmo seu movimento de contínuo recuo, que revela a
abertura do social, quer em suas possibilidades e frustrações, parte do problema que enfrentam”
(LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 10).
No prefácio à segunda edição tem uma pista de como responder às seguintes questões:
Qual o raciocínio que está por traz dos conceitos-chave da obra de Laclau e Mouffe? E o que, do
ponto de vista interpretativo é importante para o novo século? ((LOPES; MENDONÇA; BURITY,
2015).
No próximo tema apresentado por Lopes, Mendonça e Burity demonstra os registros
estratégicos das mudanças sociopolíticas da América Latina nas últimas décadas e o registro
analítico apontado pelas “implicações teórico-metodológicas da obra e sua recepção recente nas
ciências sociais e na educação” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 10).

REGISTRO ESTRATÉGICO
Havia a saída das ditaduras na América Latina na época da primeira edição da obra
Hegemonia e estratégia socialista. Viam-se esperanças na experiência nicaraguense “que animaram
um importante segmento da esquerda, ‘nova’ e ‘velha’, a pensar a pluralidade de modelos possíveis
de articulação entre democracia e socialismo” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 11). Os
autores indicam que não há referência a esses eventos na obra, mas apenas menções a Nicarágua e
Cuba, uma vez que “a geografia e o lugar teórico político da obra são da Europa ocidental (com
adição da Rússia)” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 11).
“Sequer o novo prefácio de 2000 alude às transições democráticas, ao destino dos
movimentos sociais latino-americanos ou o impacto das políticas de ajuste neoliberal que ocuparam
o posicionamento subsequentes de seus dois autores” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p.
11).
Para Lopes, Mendonça e Burity (2015, p. 11) “os interlocutores do livro são a esquerda e a
academia europeia”. Essa posição indica limitações da obra que são: “sua agenda não incorpora os
temas da democratização de sociedades periféricas, com sólidas tradições autoritárias e submetidas
ao momento interventivo da globalização em sua face neoliberal […]” e “seu arsenal crítico jamais
enfrenta a questão do lugar da teoria” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 11). Os autores
se referem ao “pós-colonial” da América Latina no século XX e as relações entre Europa e América
do Norte, embora suas críticas tenham feito oposição ao eurocentrismo, “através de discursos de
autoctonia de certo ‘pensamento crítico latino-americano’, da teologia da libertação, do pensamento
descolonial, da emergência indígena e dos acenos a solidariedades epistêmicas ‘Sul-Sul’” (LOPES;
MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 11).
Estes autores consideram que a interpretação de uma obra como a de Laclau e Mouffe é
realizada como processo: “Acreditamos que toda obra abre uma história de sua interpretação e dos
efeitos teóricos e práticos que não se resume ou reduz ao seu ‘corpo’ textual originário” (LOPES;
MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 12). E por outro lado há um reconhecimento de um conjunto de
significações e práticas que estariam ligados aos constantes processos de interpretação de textos:
“Todo texto corresponde a uma tentativa de deter, múltiplos processos de significação e ação
prática, pela articulação de uma enunciação particular” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p.
12).
Lopes, Mendonça e Burity (2015) pretendem responder ao significado da obra de Laclau e
Mouffe também para a América Latina, uma vez que são raras as referências a seus países. Este
contexto poderia ter sido comentado pelos autores, o que justifica a crítica em referência a essa
falta, mas afirmam existir uma espécie de liberdade em relação ao campo referido pelos autores da
obra Hegemonia … . É desta forma que afirmam: “Assim, nunca está preso ao campo no qual
inicialmente intervém, nem se perde, quando ou se sua interpelação deixa de atingir o alvo
desejado” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 12). Nesta última frase o alvo desejado seria
os diversos contextos políticos latino-americanas, e o desejo estaria associado a um diálogo
conjuntural com Laclau e Mouffe que não ocorreu no contexto brasileiro.
Esse visível apagamento do caso da referência de Laclau e Mouffe à América Latina não
significa que não exista reflexões, nos campos “da política à teologia, passando pelos estudos
culturais e outros campos do saber, referidos ou referenciados em realidade latino-americanas,
quando não articulados por intelectuais e ativistas latino-americanos(as)” (LOPES; MENDONÇA;
BURITY, 2015, p. 12). É indicado uma série de referências em que houve apropriações, seja
favoráveis ou contrárias à obra de Laclau e Mouffe.
Para além das múltiplas maneiras como um pensamento é recebido, das intenções próprias
do autor, das futuras germinações que podem proporcionar, nenhuma leitura é descontextualizada:
“Não há pensamento digno do nome que não abra as leituras que o descontextualizam e
recontextualizam, retorcem, suplementam e questionam, mesmo quando o acolhem sem reservas.
Afinal, nenhuma leitura é sem-lugar, - na origem ou no(s) destino(s)” (LOPES; MENDONÇA;
BURITY, 2015, p. 13).
Lopes, Mendonça e Burity (2015) sinalizam para uma releitura da obra Hegemonia para
que seus temas como o populismo de Laclau é indissociável da história política latino-americana e
de seus temas. Estes temas são: “articulação, das demandas democrático-populares, da hegemonia e
da fragmentação da base social dos projetos políticos e governos na região, bem como em sua
crítica dos efeitos desestruturadores das políticas neoliberais” (LOPES; MENDONÇA; BURITY,
2015, p. 13).
Acreditando que os autores de Hegemonia nunca foram latino-americanistas, Lopes,
Mendonça e Burity citam as entrevistas de Laclau para justificar que sempre houve resquícios da
América Latina no seu pensamento político e que houve uma reinserção na política Argentina. Por
outro lado Mouffe, que teve a experiência de vários anos na Colômbia, demonstra o quanto isso a
impactou. Os autores assim apresentam a obra de Laclau e Mouffe: “Hegemonia não é uma obra
parentética ou em suspenso em relação a sua conexões com o contexto latino-americano, a despeito
de jamais a ele aludir. Ela apenas incide sobre um debate em curso em fins dos anos de 1970 e este
tinha um lugar na Europa, onde viviam os autores, que, diga-se de passagem, nunca foram ‘latino-
americanistas’” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 13).
Outro aspecto valorizado pelos autores à obra Hegemonia é o devir crítico-prático, que
representa uma estratégia para o futuro de uma democracia política radical. Os autores informam
que há uma hegemonia política dos setores de esquerda na América Latina (contexto político da
atualidade). É uma hegemonia ambígua e contestada, uma vez que na expressão dos autores possui
“um ‘fora’ […] que é dado (i) pela essencialização da estrutura do capital (que ditaria o conteúdo
da política, mesmo a que se lhe contrapõe); (ii) pela totalização forçada no registro da teoria ou da
prática, via a ideia de uma discurso científico transparente e capaz de captar o sentido da história;
(iii)pela ideia de que já existe um sujeito social – ou pelo menos seu lugar estrutural – que possui
em si a chave da transformação; ou (iv) pelo puro e simples oportunismo que capitula face às
práticas cooptadoras e neutralizadoras do status quo em busca de autorreforma (transformismo à
Gramsci) (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 14).
As experiências latino-americanas são derivadas de uma “lógica populista e uma
temporalidade multidimensional e sobredeterminada” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p.
14) ao qual a categoria hegemonia implica teoricamente no campo da articulação política.
As mesmas experiências podem se articular de formas distintas, seguindo eficácias de
política duvidosa. Realizam-se experiências duvidosas, de um lado a globalização chegaria a abrir a
lógica do capital, flexibilizando “compromissos ético-políticos de justiça e empoderamento de
setores subalternos; o diagnóstico de que a ‘impotência’ do Estado para produzir ou implementar o
‘reformismo forte’ autorizaria transferir a uma sociedade civil robusta, ciosa do que quer, mas
incapaz de ‘generalizar’ o alcance de suas ações, a iniciativa e a responsabilidade desse sucesso
reformista etc” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 15).
O Brasil se apresenta com uma lógica hegemônica dos discursos generalistas da
administração pública, ao qual se apresentam como terceira via da parceria da administração
público-privada. Alguns desafios teórico-políticos postos pela problemática da obra de Laclau e
Mouffe como a postulação do caráter discursivo do social, o antagonismo e a articulação postos no
centro, as lógicas da diferença e da equivalência, o caráter emergente e disseminativo, pluralizante
do político. Resta à obra de Laclau e Mouffe questionamentos acerca da “frouxidão do pensamento,
substituindo rigor e consistência analítica pela suposta sabedoria da ‘prática’” (LOPES;
MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 15).
Existe uma “resistência em pensar a política além de suas formas pragmáticas […] é
sintoma de posturas epistêmicas e ético-políticas questionadas em Hegemonia”. (LOPES;
MENDONÇA; BURITY, 2015, p. p. 15-16). Por outro lado há uma denúncia movimentalista de
fixação que Hegemonia realiza: “Hegemonia também põe sob o escrutínio a denúncia
movimentalista de qualquer fixação, que se alimenta da própria fragilidade e incompetência política
ou de sua rejeição principista-apocalíptica de qualquer comércio com ‘as coisas do mundo’, para
assimilar institucionalização institucionalização e traição de princípios, corrupção do poder ou força
de irresistível cooptação” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 16).
Continuam importantes para acadêmicos e militantes a compreensão teórica e o método de
análise proposto por Hegemonia. “Análise do discurso, aqui, é mais do que uma análise da
linguagem política. E nada tem a ver com confusão entre política e linguagem, ou com redução da
realidade a disputas de palavras ou a mecanismos ‘retóricos’ (adjetivação que no léxico da nossa
política, é quase sinônimo de manipulação, insinceridade e cinismo)” (LOPES; MENDONÇA;
BURITY, 2015, p. 16). Por outro lado “‘Análise do discurso’ é a análise das condições de fixação de
um discurso concerto (isto é, de um complexo articulado de elementos simbólicos e práticos) num
contexto de múltiplas possibilidades, no qual algumas entram na produção de uma formação
hegemônca enquanto outras são excluídas e mesmo combatidas” (LOPES; MENDONÇA;
BURITY, 2015, p. 16).
Lopes Mendonça e Burity (2015, p. 16) continuam: “Em outras palavras, ‘análise do
discurso’ é uma análise de como as práticas se tornaram simbólicas, e materialmente hegemônicas,
autoevidentes, vinculantes. Relações adversariais e antagonísticas são matérias permanentes do
fazer social. ‘Análise do discurso’ é uma prática desconstrutiva, que envolve simultaneamente uma
descrição dos processos de constituição e transformação de discursos/hegemonias e uma abordagem
normativa de forma política democrática-radical, fundada na pluralidade do social e na
policentricidade das lutas e esferas de politização do social” (p. 16).
Além da análise do discurso, a expressão teoria do discurso no entender dos autores “é uma
teoria da identificação de significantes cuja contestação ou múltiplo investimento por parte de
vários autores sociais permite construir articulações que alteram a ordem vigente – deslocada para
crises ou deslegitimada por fracassou arbitrariedades – e apontam para alternativas emancipatórias”
(LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 17).
Normativamente a teoria do discurso constitui uma forma de intervir na produção de
práticas articulatórias. Não existem atores privilegiados ou a garantia de sucesso para uma
hegemonização. “Nas condições contemporâneas, forças conservadoras ou francamente regressivas
parecem mesmo ter compreendido muito mais cedo do que as esquerdas partidárias e socioculturais
o sentido destas práticas hegemônicas, como forma de responder às crises dos anos de 1970 e 1980
(LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 17).
Aos autores expõem uma relação entre teoria do discurso e análise do discurso,
demonstrando que não há concessões para que um dado discurso não possa ser criticado. “Não há
concessões no estilo e no gesto ético-político desta discussão e tais resultados. A teoria do discurso
não se produz ao largo da política que análise do discurso expõe. Ou seja, de um lado, a utilização
da teoria do discurso não protege nenhuma prática de ser contestada ou fracassar em seus intentos”
(LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 17). Ao discorrer sobre práticas emancipatórias,
informa que nem elas estão livres das críticas da análise do discurso, uma vez que as metas e
programas da libertação histórico-social seja fechadas em si mesmas: “De outro lado, mesmo
práticas emancipatórias podem vir a cair sob o crivo ou escrutínio da teoria do discurso, na medida
em que tendam a fechar-se sobre si mesmas, como realização final dos sonhos ou promessa de
libertação histórico social ou como licença para ‘continuar tentando’ sem conseguir erguer-se sobre
realizações quantificáveis de metas e programas” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 17).
A inerradicabilidade do poder e a relativização representam o descritivo e o normativo na
teoria do discurso. O projeto político que visa liberdade, transformação e igualdade para possíveis
aberturas constitui o lugar possível de superação histórica da obra Hegemonia. “Outro lugar de
encontro descritivo e normativo nesta teorização é o da afirmação da inerradicabilidade do poder e,
com ela, a relativização do que pode ser alcançado por qualquer projeto político alternativo e a
duração de seus efeitos libertadores/transformadores que tem inequívoco sentido de expansão da
liberdade e da igualdade. Esta é a ‘teologia negativa’ aqui implícita e seu teimoso, mas reverente
compromisso com a abertura e com a contingência histórica. Este é também o lugar da possível
‘superação’ histórica da problemática de Hegemonia e estratégia socialista, a qual tendo começado
com a relativização do socialismo como momento do projeto democrático-radical, pode vier a
requerer uma relativização da própria forma-hegemônica como descrição de uma nova ontologia do
social” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 17-18).

REGISTRO ANALÍTICO
A importância da obra Hegemonia para as ciências sociais contemporâneas reside “na
abrangência que a teoria nele apresentada tem para a compreensão dos mais diversos fenômenos
sociais” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 18). E os autores aquilatam que “é da essência
desta magnífica obra a negação de todo e qualquer fundamento que se apresenta como último,
princípio transcendental, destino manifesto, classe privilegiada ou fim da história” (LOPES;
MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 18).
Existe na obra de Laclau e Mouffe o contorno que envolve uma estratégia política
socialista, mas que não trabalha com projetos políticos antagônicos prontos, acabados. Pois desejo,
além de normativo, possui “uma perspicácia analítica singular” (LOPES; MENDONÇA; BURITY,
2015, p. 19). Isto explica o sucesso desta obra em diversos campos das Ciências Humanas, “visto
que ela fornece um conjunto sofisticado de categorias de análise articuladas a partir de noções
centrais tais como discurso, articulação e hegemonia”(LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p.
19).
Sem uma normatividade forte, Hegemonia não está restrito ao campo da Ciência Política,
vai além, possuindo amplitude dos seus objetivos e as possibilidades analíticas se abrem. “A razão
para tanto está nas heterogêneas fontes que subsidiam a construção da teoria social ali presente – da
filosofia política, passando pela linguística, a psicanálise e os estudos culturais” (LOPES;
MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 19).
A teoria do discurso apresentada em Hegemonia não se reduz à mera crítica do marxismo,
mas este projeto o ultrapassa, sendo portanto “uma representante digna do pós-estruturalismo,
contextualmente compreendido como um esforço teórico que parte do pressuposto de que não há
possibilidade de considerarmos qualquer estrutura como uma totalidade fechada, construída a partir
de fundamentos transcendentes da sua própria historicidade” (LOPES; MENDONÇA; BURITY,
2015, p. 20).
As intenções da obra são pós-fundacionalista, isto é não aceitam teorias como projetos
totalizantes, tais como marxismo e estruturalismo. Esses assuntos entram na mira de Laclau e
Mouffe, mas não como negação total desses projetos. O seu objetivo é apresentar “uma nova
ontologia fundada na centralidade do político (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 20). A
crítica aos pressupostos do marxismo está em se condicionar para uma ontologia do político mais
ampla, presente na obra: “Mas não há um simples abandono do marxismo, como próprio horizonte
no qual se torna possível para os autores certa leitura da ordem capitalista e das alternativas
políticas a ela” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 20-21).
Para além das influências da ontologia de Martin Heidegger, houve ainda as de Jacques
Lacan e de Jacques Derrida, vertentes filosóficas do século XX, contexto que “questiona os
fundamentos de qualquer estrutura e que coloca em xeque a própria noção de sujeito consciente e
onisciente cartesiano para substituí-lo por outro que nunca se torna pleno, visto que está
irremediavelmente marcado por uma falta constitutiva” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p.
21). Isto possibilita algumas informações acerca dos autores de Hegemonia e que se liga ao
momento político vigente: “Isso quer dizer que o social é politicamente construído” (LOPES;
MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 21). Tanto a política quanto a hegemonia são “essencialmente
precárias, contingentes, estas últimas marcam a infinitude de possibilidades de outras ordens,
sempre incapazes de ocupar o lugar da Ordem permanentemente, pois essa última não possui
qualquer conteúdo específico” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 21).
A posição do político na obra Hegemonia não é uma dimensão separada do social e do
econômico, mas possui “uma dimensão ontológica geral, e da dimensão de qualquer ordem, seja
econômica, social, ou cultural, seja na escala micro, como orientação (pré)dominante na dinâmica
interna e relacional das organizações sociais […] o político está onde quer que se produza uma
ordem de coisas, um regime de práticas” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 22).
Por ter uma visão pós-fundacionalista e possuir uma centralidade no político é que os
diversos campos das ciências sociais se interessaram. Na educação a teoria do discurso se interessa
pelo currículo, questionando as bases do projeto educacional da modernidade, “provocando impasse
importante na forma de compreender as finalidades educativas” (LOPES; MENDONÇA; BURITY,
2015, p. 22). A obra Hegemonia é também usada para questionar as noções de estudos críticos do
currículo. “É questionado, por exemplo, como certa leitura gramsciana de hegemonia dominante,
nos estudos políticos sobre currículo desconsidera a cultura de grupos subalternos e os processos de
articulação, reduzindo-os a uma mera dicotomia entre reprodução e resistência” (LOPES;
MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 22-23). Os temas relativos à democracia radical e ao
antagonismo de classes, importantes para a mudança social, serviram para valorizar “os
antagonismo de gênero, raça e sexualidade […] e das discussões sobre identidade […] para a
construção de uma pedagogia radical na esfera publica […] expressão da perspectiva crítica da
educação” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 23).
O diálogo com a teoria do discurso no campo da educação em língua inglesa se deram pela
apropriação de algumas temáticas para pesquisas sobre a realidade social e os processos de
identidade. Nos casos de Brasil, México e Argentina “pesquisas e reflexões teóricas com a
incorporação dos enfoques pós-estruturais e pós-modernos no campo educacional” (LOPES;
MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 23).
A principal ideia em relação a essa adaptação da teoria do discurso ao campo educacional
talvez seja “construir conhecimento garantidor da formação de um sujeito emancipado e capaz de
lutar por um projeto de sociedade democrática” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 24). Da
mesma forma que a teoria do discurso também serve para discutir um currículo que contemple
diferenças de grupos e para questionar o universalismo dos currículos.
“O impasse entre os projetos de uma modernidade que esgotou suas possibilidades que
esgotou suas possibilidades de luta política, mas não alcançou a realização de seus ideais e uma
pós-modernidade que expressa os riscos totalitários desses mesmos ideais e aposta nos
particularismos contingentes muitas vezes leva a um hibridismo de tendências teóricas no campo”
(LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 24). Estes autores dão como solução para esse impasse
“incorporar as matrizes teóricas pós-estruturais e pós-modernas para análise das identidades da
cultura e para questionamento dos processos de legitimação do conhecimento escolar, mas
permanecer no campo da política com análises e práticas marcadas pelas teorias da contra-
hegemonia” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 24). Isto é, “conceber de outra maneira o
social e a cultura, mas pensar a política capaz de forjar a mudança social a partir de um sujeito
centrado e de uma direção predefinida” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 24). A teoria do
discurso constitui uma das possibilidades para o estudo do currículo para que se possa enfrentar
esse impasse a partir de seus principais temas: “As noções de articulação, de discurso, contingência
e sobretudo, as lógicas da equivalência e da diferença possibilitam interpretar a relação entre o
universal e o particular para além de uma simples relação de oposição ou de uma contradição
dialética” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 25).
As políticas curriculares são temáticas que merecem aprofundamento dentro da teoria do
discurso. Não se observa em Laclau em Mouffe um estudo das concepções políticas que tenham um
sentido último e fundamental, mas são valorizadas as dimensões conflituosas e indeterminadas, pois
isto empoderam os atores sociais nos diferentes contextos. É a partir deste mesmo contexto que o
registro analítico da teoria do discurso para os campos da Educação e das Ciências sociais tendem a
aprofundar em tempos despolitizados ou no horizonte da pós-política: “O marco da teoria do
discurso é extremamente importante para ressignificar os parâmetros com os quais efetuamos
investigações sobre política” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 25).
A ação política de mudança social “é o horizonte da estrutura, o excesso de sentido que não
pode ser simbolizado a não ser como lugar vazio” (LOPES; MENDONÇA; BURITY, 2015, p. 26).
Não uma condição predeterminada para as ações, mas o interpelar do jogo político que abrem
“inúmeras outras questões a serem investigadas e teorizadas” (LOPES; MENDONÇA; BURITY,
2015, p. 26).

Referências

LACLAU, Ernesto. MOUFFE, Chantal. Hegemonia e estratégia socialista: por uma política
democrática radical. São Paulo: Intermeios; Brasília: CNPq, 2015.

LOPES, Alice Casimiro. MENDONÇA, Daniel de. BURITY, Joalnildo A., A contribuição de
Hegemonia e estratégia socialista para as ciências humanas e sociais. In: LACLAU, Ernesto.
MOUFFE, Chantal. Hegemonia e estratégia socialista: por uma política democrática radical.
São Paulo: Intermeios; Brasília: CNPq, 2015.

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