NARRATIVAS
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Artista plástico, nascido na cidade de Escada, Zona da Mata de Pernambuco, em 1907. Filho de uma
família tradicional da região,começa a estudar pintura no Engenho Jundiá, com uma tia. Aos treze anos
vai estudar no Rio de Janeiro e, mais tarde, matricula-se na Escola Nacional de Belas Artes para cursar
Arquitetura. Começa a frequentar ambientes intelectuais e boêmios na companhia de outros artistas como
Lasar Segall, Manuel Bandeira, Ismael Nery e outros. Em 1928 realiza sua primeira exposição individual
no Rio de Janeiro.
No caminho dessas proposições, diferentes metodologias vão se construindo.
Abre-se espaço para novas fontes e novas perguntas às fontes. Como colocamos
anteriormente, outras dimensões da vida humana vão se inserindo na prática da pesquisa
e demandam do historiador abrir perspectivas e diferenciar os olhares para seus temas
de estudo. Nesse sentido, todo um conjunto de fontes privadas também entra em cena na
reconstrução dos sujeitos biografados, abrindo o campo de visão do pesquisador, para
detalhes que antes pareciam não ter importância, na sequência de fatos que se
considerava de destaque.
Por mais que os conceitos de Bourdieu tenham um alcance mais estrutural, e não
dialoguem diretamente com a perspectiva do singular e subjetivo que estamos nos
aproximando aqui, eles são importantes nesse momento da nossa pesquisa e das
reflexões sobre a historiografia contemporânea. A partir dele, podemos estabelecer um
diálogo entre a ação individual e o coletivo, entre aquilo que o indivíduo encontra
estabelecido e aquilo que ele institui, cria. Com relação à configuração de campos
artísticos, por exemplo, o autor coloca: 5
Tal passo é necessário para que se possa indagar não como tal
escritor chegou a ser o que é, mas o que as diferentes categorias
de artistas e escritores de uma determinada época e sociedade
deviam ser do ponto de vista do habitus socialmente
constituído, para que lhes tivesse sido possível ocupar as
posições que lhe eram oferecidas por um determinado estado do
campo intelectual e, ao mesmo tempo, adotar as tomadas de
posição estéticas ou ideológicas objetivamente vinculadas a
estas posições. (BOURDIEU, 2009, p.190)
E ressalta:
Essas reflexões nos chamam a atenção também para o lugar do presente ao olhar
o passado. Faz-nos refletir sobre o que estamos buscando nas experiências passadas e o
que consideramos ou deixamos de lado na construção de nossas versões para elas. Ao
estudar Cícero Dias enquanto um artista importante na configuração de um campo
artístico modernista, sua atuação, suas propostas, o que ele considerava importante e
como colocou isso em prática, atentamos para as questões que, no presente, se colocam
para artistas e intelectuais na realização de seus sonhos, de seus trabalhos.
Invariavelmente, vamos fazer nossas perguntas ao passado.
Avaliar certas questões nos faz pensar sobre a importância que damos a uns ou
outros registros e nos faz ver a parcialidade do nosso conhecimento e da narrativa que
vamos construir. Aleida Assmann, ao trabalhar com a memória e a reconstrução do
passado, cita uma colocação de Italo Svevo importante para pensarmos as flutuações
das memórias comunicativa e cultural e do conhecimento histórico, bem como da eterna
resignificação das experiências passadas:
Nesse sentido, é interessante que o gênero biográfico volte em questão para ser
repensado, rediscutido a luz de tantas contribuições teóricas e metodológicas, possa ser
ampliado a partir de uma noção de indivíduo que não seja unívoca. Possa atender ao
desejo de reconhecimento que temos a partir da experiência do outro. Entendemos
também, que o próprio reconhecimento das pluralidades possa fazer o historiador mais
ciente do seu lugar social, na perspectiva de Michel de Certeau (CERTEAU, 1982),
como alguém responsável por mais uma narrativa sobre o passado, parcial e incompleta,
dentre tantas outras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2009.
CARVALHO, Isabel Cristina Moura. Biografia, Identidade e Narrativa: elementos para uma
análise hermenêutica. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 9, nº 19, p. 283-302, julho
de 2003.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.
DOSSE, François. O Desafio Biográfico: escrever uma vida. São Paulo: Edusp, 2009.
SARLO, Beatriz. Tiempo Pasado: cultura de La memória y giro subjetivo. Uma discusión.
Buenos Aires: Siglo veintiuno, 2012.