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Ivanio Dickmann
(organizador)
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CONSELHO EDITORIAL
FICHA CATALOGRÁFICA
_______________________________________________________
D553v Dickmann, Ivanio
v. 3 DNA educação 3 / Ivanio Dickmann (org). – São Paulo:
Dialogar, 2018. (Coletânea de artigos da educação, 3).
ISBN 978-85-93711-40-4
1. Educação. I. Título.
CDD 370.1
_______________________________________________________
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Ivanio Dickmann
[organizador]
DNA EDUCAÇÃO
Volume III
Diálogo Freiriano
São Paulo – SP
2018
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ÍNDICE
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RESUMO:
Este trabalho investiga o espaço da Pobreza no Currículo da Escola
Família Agrícola de Marilândia (EFAM), onde se verifica certo
distanciamento do currículo da escola com o tema pesquisado (Pobreza
e Desigualdade Social), o que provoca certa inquietação por parte do
pesquisador em vista de rever a práxis dos educadores na EFAM. A
pesquisa aponta para a necessidade de repensar o currículo prescrito da
escola, devendo a instituição dialogar com a realidade que a sustenta, e
extrair da mesma os elementos centrais que devem ser aprofundados nas
disciplinas, tornando a aprendizagem um processo dinâmico.
Palavras-chave: Currículo. Pobreza. Desigualdade Social.
ABSTRACT:
This paper Investigates the scope of Poverty in the Curriculum of Escola
Família Agrícola de Marilândia (EFAM), where there is a certain
distancing from the school curriculum with the topic researched (Poverty
and Social Inequality), which causes some concern by the researcher in
order to review the praxis of educators in EFAM. There search points
1 Graduado em Ciências Biológicas (UNIMES, 2014), Educação do Campo (UFV, 2018), Espe-
cialista em Educação, Pobreza e Desigualdade Social (UFES, 2017), Mestrando em Ensino na
Educação Básica (UFES/CEUNES), é professor da Educação Básica na Escola Família Agrícola
de Marilândia.
2 Graduada em História pela FUNCAB, especialista em Planejamento Educacional e Gestão Es-
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100
ao PBF
(34,72 do
% 56,00 44,00 20,00 80,00
total de
estudantes)
Fonte: Secretaria Escolar EFA Marilândia (2017).
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RESUMO:
Analisar as ações democráticas e participativas da gestão em uma escola
da rede municipal, é o objetivo principal desse estudo. A pesquisa de
cunho qualitativo encontra-se fundamentada em várias concepções e
ideias de autores que escrevem sobre esse assunto, como: Libâneo
(2015), Luck (2006) e Bastos (2009). A gestão participativa e democrática
é orientada por princípios que norteiam o sistema de ensino no Brasil.
Os dados coletados por entrevistas buscam conhecer a percepção dos
entrevistados sobre gestão democrática, bem como, a influência do
gestor para estabelecer elos entre a escola e a comunidade.
Palavras-chaves: Gestão Democrática. Educação. Gestor Escolar.
ABSTRACT:
This study aims to analyze democratic and participative actions of school
management in a public school. This qualitative research is based on the
concepts and ideas from authors that write about this subject such as
Libâneo (2015), Luck (2006) and Bastos (2009). Principles that clarify the
Brazilian teaching system guide both democratic and participative
management. Data collected through interviews aims to know the
perception of interviewees about democratic management as well as the
influence of managers to establish links between school and community.
Keywords: Democratic Management. Education. School Manager.
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Introdução
A temática da gestão escolar tem sido um assunto bastante
abordado em encontros, palestras e seminários por parte das instituições
de ensino e centros de estudos. O grande debate dar-se por meio da
relevante importância de uma gestão mais participativa e democrática nas
escolas. Ao longo do tempo, percebeu-se que a qualidade da gestão, os
tipos, modelos e a forma de gerenciar a escola, produzem um impacto
significativo na qualidade da educação e do ensino nas instituições.
O gestor escolar é de fundamental importância para a execução,
acompanhamento, articulação, supervisão e avaliação das atividades e
projetos realizados na escola. O processo democrático na escola nasce a
partir da competência do gestor no acompanhamento dessas ações.
Assim, é necessário que o gestor escolar busque um constante
aprimoramento didático, pedagógico e científico que lhe possibilite a
aplicação de práticas geradoras de resultados.
A gestão escolar consiste no processo de mobilização e
orientação do talento e esforço coletivos presentes na
escola, em associação com a organização de recursos e
processos para que a instituição desempenhe de forma
efetiva seu papel social e realize e seus objetivos
educacionais de formação dos seus alunos e promoção de
aprendizagem significativas. (CEDHAP, 2003, p.2 apud
LUCK, 2014, p.96).
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Desenvolvimento
Breve histórico da gestão escolar
Ao longo do século XIX, início do século XX, a educação
passava por constantes modificações, como tem sido até hoje devido as
novas tendências educacionais e o avanço das tecnologias que tem
adentrado no nosso cotidiano. Porém, nesse período, a gestão escolar era
ainda pouco difundida no Brasil. O gestor escolar era visto como
administrador, como de fato é, todavia, a formação obtida na época era
de um conhecimento conceitual e estava atrelado a formação
administrativa empresarial. Assim, a escola era vista como uma empresa
em que a gestão conduzia os trabalhos de forma mecânica na perspetiva
administrativa, ditatória e fiscalizadora.
Atualmente, com as novas tendências da educação, muita coisa
mudou no contexto escolar, a forma de organização e estruturação do
sistema de ensino, obedecem regras e normas criadas para a formalização
das instituições e de seus currículos. Atualmente o CEE (Conselho
Estadual de Educação) que é o órgão normativo, deliberativo e
consultivo do sistema de educação no Ceará, conforme art. 230 da
Constituição Estadual do Ceará, orienta e exige que os diretores devem
possuir formação específica na área de gestão de acordo com resolução
414/2006 do CEE, deixando para trás a concepção administrativa
empresarial do século XIX.
A LDB 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) é a lei
orgânica e geral da educação brasileira. Nela está contida os princípios e
diretrizes para a organização do sistema de ensino, mais precisamente no
art. 3º inciso VIII, a lei dispõe da seguinte garantia: “gestão democrática
do ensino público, na forma desta lei e na legislação dos sistemas de
ensino” (BRASIL, 2012 p. 10). Nesse contexto de gestão democrática,
cabe salientar em vários aspectos o que seria essa gestão democrática no
cotidiano escolar. Além dela, existe ainda os órgãos competentes como
CNE (Conselho Nacional de Educação) em instância nacional e os CEE
(Conselhos Estaduais de Educação) na instância estadual juntamente
com as SME (Secretarias Municipais de Educação), para fiscalizar e
assegurar o cumprimento das normas contidas na lei.
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QUIXERÉ. Regimento Escolar: EEB Vereador Raimundo Nonato de
Sena. Quixeré: SME, 2016.
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1Graduado em Psicologia pelo Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ. Psicólogo clínico,
com formação pelo método TEACCH, intervenção para autista. Especialista em Psicologia
Social, P. Infantil, Psicologia Humanista e Abordagem Centrada na Pessoa, pelas instituições,
Unisa, Faveni e Unipê. E-mail: gviana.cg@hotmail.com.
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Introdução
Ao pensarmos em consciência dentre inúmeras formas de
compreende-la tomamos o caminho que remete ao conceito de
humanidade de forma a destacar esta como referência de um ser dentre
outros, dotada de uma evolução sobre o presente aspecto, retratando
esta, como elemento possível de defini-la, pois a mesma é dotada de uma
percepção de si mesma e do mundo ou de um cogito ergo sum (penso, logo
existo) que a distância de outros seres.
Sendo assim, a presente pesquisa promoverá uma apreciação
sobre a consciência, esta, originada de uma junção de dois vocábulos
latinos, o cum, significando “como” e scio “conhecer”, propondo o
conhecimento repartido com o outro e por extensão o conhecimento
decorrente de uma apropriação de experiências consigo mesmo, em um
movimento de introspecção.
Porém, o foco sobre o conceito de consciência se dará não
sobre o horizonte desta unidade, estudada, em suas múltiplas concepções
e fundamentos, mas sobre o cerne de dois teóricos que se apropriaram
deste elemento enquanto possibilidade de um desenvolvimento ou
aprimoramento do homem. Assim os pressupostos de Paulo Freire e
Carl Ransom Rogers possibilitará um caminhar mais firme e com uma
direção elucidativa sobre a compreensão dos presentes teóricos sobre a
temática.
Nesta perspectiva, Freire adota a consciência como elemento
central na educação dos oprimidos, através da apreensão da realidade em
um ambiente histórico-cultural, devendo desta forma, no processo
educacional, levar em consideração os diferentes graus de apreensão ou
níveis de consciências que os homens possuem diante de uma realidade
muitas vezes imposta ou hipotética. Rogers aponta a comunicação com
si mesmo, enquanto caminho para o indivíduo se reajustar, através da
experiência vivida ou experiência organísmica devendo ser simbolizada
corretamente na consciência através de uma tomada de consciência do
vivido, decorrendo com isso, de uma reorganização da imagem do eu,
permitindo um vir a ser mais congruente e autêntico.
Portanto, a pesquisa possui como objetivo geral, qual seja:
investigar o conceito de consciência sobre a ótica de Paulo Freire e Carl
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e seguir por coordenadas que nos permita ancorar em terras firmes para
objetivar.
O termo consciência origina-se da junção de dois vocábulos
latinos, cum (como) e scio (conhecer), indicando o conhecimento
compartilhado com o outro e, por extensão o conhecimento
compartilhado consigo mesmo, este apropriado pelo indivíduo
(ZEMAN, 1997).
Na língua portuguesa podemos constatar a palavra consciência
sobre três acepções diferentes, por um entendimento neuropsicológico, em
que emprega o termo em um sentido de estado vígil, igualando desta
forma a consciência a um grau de clareza sensorial, enquanto um estado
de despertar, lúcido tratando especificamente do nível de consciência.
Através de uma definição psicológica, a consciência é traduzida pela soma
total das experiências consciente de um indivíduo em um determinado
contexto. Desta forma a consciência é a dimensão subjetiva da atividade
psíquica daquele que se volta para uma determinada realidade
(DALGALARRONDO, 2008).
Sobre o mesmo autor, a consciência ainda possui uma
concepção ético-filosófica, se referindo a capacidade de tomar ciência de
assumir as responsabilidades, através de seus deveres éticos e dos direitos
e deveres preconizados por esta ética. Assim a consciência passa a ser
atributo do homem responsável e desenvolvido, que está intimamente
comprometido com a dinâmica social da cultura a qual faz parte.
Partindo destes três eixos de consciência, serão descritas
concepções mais pormenorizadas sobre os mesmos, procurando retratá-
los de uma forma que nos permita uma apropriação, sobre as formas em
que tal conceito é tratado, e como base para introduzirmos o mesmo
sobre a ótica dos presentes teóricos.
Sobre um aspecto psicológico, uma teoria ou consenso geral sobre
a consciência é algo não palpável, pois a amplitude de compreensões não
se direciona para um acordo sobre o mesmo, porém, de uma forma
resumida tal conceito pode ser descrito como o monitoramento do
ambiente e de nós mesmos, de modo que percepção, pensamento e
memória sejam representadas na consciência de modo que possamos
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ser é um ser imerso no mundo, o seu estar adaptou-se a ele sem que se
tenha consciência, em um distanciamento, do qual não pode sair nem tão
pouco distanciar-se, fazendo dele o ser fora do tempo, sem a
possibilidade de transformá-lo um tempo a-histórico (FREIRE, 2014).
Para Reich (1938, p. 12) “a aquisição da consciência de classe pelas
camadas oprimidas da população é a primeira condição para uma
transformação revolucionaria do sistema social em vigor”. Desta forma
revela-se tal conceito enquanto possibilidade de um vir a ser, em que tal
movimento pode ser favorecido mais nunca realizado por terceiros.
Para tanto, a compreensão ou os fundamentos propostos por
Freire, para uma educação engajada e transformadora da realidade em
seu entorno, se faz necessário um olhar sobre os degraus que viabilizam
esta condição de estar no mundo. Sendo esta mudança de estado
decorrente de fazes de consciência que clarificam tal estado, esta tratada
sobre três definições de consciência, a consciência primária, mágica2 e
crítica.
Sobre este aspecto, a educação deve deter seu interesse sobre
os diferentes graus de apreensão de consciência que o homem tem diante
da realidade, não são formulados a partir de abstrações, mas decorrem
de experiências de sua relação com pessoas pobres e suas formas de
apreensão do mundo (GADOTTI, 2015).
Sendo assim, a consciência primária é tratada como uma
limitação de sua esfera de apreensão, em uma impermeabilidade a
desafios, podendo ser descrita como um quase falta de compromisso do
homem com a existência. Porém, este, por estar fechado dentro dele
mesmo, esmagado, não se encontra, qualquer que seja o seu estado, em
um ser capaz de se posicionar de forma ativa. Uma vez que o homem
amplia o seu poder de captação, aumentando o seu poder de dialogação
2 A consciência primaria tratada por Freire, pode vir como sinônimo de consciência intransitiva,
termo adotado da noção gramatical de verbo intransitivo, como aquele que não deixa passar sua
ação a outro. Esta intransitividade pode ser resumida à sobrevivência, onde a consciência se
mostra sobre o imperativo biofísico dessa sobrevivência, assim as preocupações são limitadas
a tudo o que é vital no sentido biológico do termo. Já na transitividade ou consciência mágica
observasse as explicações magicas, ela se caracteriza pela simplicidade na interpretação dos
problemas, pela impermeabilidade a investigação, pela fragilidade as argumentações
características das massificações (FREIRE, 2014; FREIRE, 1967).
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6 A utilização do termo Coerência é utilizada como sinônimo para o que Rogers define como
Congruência, um conceito ambíguo, pois foi modificado ao longo dos anos, alternando entre
congruência, genuinidade e inteireza, estes sobre o mesmo significado ao longo de toda a sua
teoria (BRODLEY, 1998; BOZARTH, 1998, citado por FREIRE, 2000).
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Cruz Alta. Bolsista CAPES/FAPERGS. Licenciado em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal
Farroupilha – Campus Júlio de Castilhos. E-mail: dieisonprestes@gmail.com
3 Doutor em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Maria e docente do PPG
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Introdução
O estágio supervisionado está presente nos cursos de graduação
e pós-graduação como um momento de prática, a possibilidade de
vivenciar a profissão docente, tendo a mesma importância das demais
atividades que o discente exerce durante sua trajetória acadêmica, como
ensino, pesquisa e extensão. O estágio possui a singularidade de
constituir-se em um momento de (re) descoberta. É no estágio que o
discente – em formação docente – irá experenciar a convivência com
inúmeros perfis distintos de alunos situações inusitadas. Irá adquirir
experiências para sua futura profissão, conseguirá avaliar a sua prática e
terá a oportunidade de orientar seus alunos na busca por conhecimento,
ao mesmo tempo em que aprende com eles e com seu professor
orientador.
O estágio possibilita ao estudante colocar em prática seus
saberes teóricos. É uma fase de experiências, na qual o professor-
estagiário se depara com situações norteadoras à futura profissão. O
ambiente escolar não vem com um manual a ser seguido, desta forma o
estágio deve ser realizado com competência, profissionalismo,
comprometimento e responsabilidade. Deve estimular a reflexão sobre
o status quo da educação nos diferentes contextos (NASCIMENTO;
NASCIMENTO; PINTO, 2016).
Na busca do conhecimento significativo, o professor-estagiário
precisa estar constantemente atualizando seus conhecimentos,
estratégias e novidades em suas aulas e, para isso, deve ter o hábito de
estudar, ler, escrever e pesquisar, a fim de proporcionar uma boa
orientação aos alunos no processo de construção do conhecimento
(DAHER, 2006).
Percebendo a relevância do estágio supervisionado para todos
os envolvidos no processo de construção de conhecimentos, este estudo
possui como objetivo analisar alguns relatos frente o estágio
desenvolvido na disciplina de Legislação da Educação do curso de
Educação Física da Universidade de Cruz Alta/RS.
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dos alunos” (DAHMER, 2006, p. 04). Quando isso não acontece o aluno
não consegue assimilar e processar esse novo conhecimento, ele apenas
decora os conteúdos.
Considerações finais
As reflexões iniciais produzidas no tocante do Estágio de
observação e regência na disciplina de Legislação da Educação
trouxeram consigo saberes e provocações que circundam um (re) pensar
das práticas e ações pedagógicas da profissão docente. Ser professor
requer diferentes saberes e estes, sempre, devem estar junto com as
metodologias didático-pedagógicas.
Devemos refletir sobre nossas aulas, visando uma melhoria no
processo de ensino-aprendizagem. Fazer parte dos processos formativos
educacionais perfazem também fazer parte de uma transformação no
meio social. A pluralidade de identidades, de vivências e saberes alocadas
em uma sala de aula potencializa as expectativas de novos saberes diários.
As aulas ministradas tiveram caráter significativo, pois a turma
demonstrava-se interessada nas discussões, provocações e debates
suscitado pelo professor estagiário. A dialogicidade que ocorreu durante
todas as aulas prova que nos espaços formativos é necessário a
participação dos alunos, quebrando paradigmas de uma educação
bancária, na qual apenas o professor apresenta saberes. O estágio
possibilitou além de vivências, experiências frente a docência no ensino
superior.
Percebemos assim, que a forma de trabalho aplicada pelo
estagiário, refletiu na efetiva participação dos acadêmicos de educação
física e que os mesmos reconhecem que aulas interativas são mais
produtivas.
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Considerações iniciais
O presente texto tem como objetivo construir uma reflexão
sobre o Ensino de Filosofia no Ensino Médio, ancorado em alguns
conceitos e teorizações de Hannah Arendt, apresentando uma
experiência de café filosófico realizado em uma escola básica de Chapecó
– SC como aporte metodológico para proporcionar o envolvimento dos
alunos nos espaços de aprendizagem. Nesse sentido revisitamos escritos
de Arendt, a fim de vislumbrar seus modos de conceber o papel da
educação, por isso explanaremos os conceitos de: natalidade, escola e
ensino. A partir destes, traremos para a reflexão outros pensadores que
discutem conceitos de modo corroborativo ao pensamento arendtiano,
como possibilidade de releitura de seus conceitos e estabelecimento de
relação destes com o ensino de Filosofia.
Gostaria de marcar que essa reflexão é pautada em experiências
desenvolvidas no Ensino Médio, visto que esta etapa da educação básica
representa um momento especial de desenvolvimento da vida do jovem
aluno. Pode-se dizer que o Ensino Médio é um espaço de autoconstrução
juvenil, é momento de experimentação de si mesmo e de relação com
outros, é um espaço marcado pela possibilidade de natalidade arendtiana.
A Filosofia como componente curricular presente nessa etapa do ensino
básico, que aborda o ser humano de forma ampla, é um componente
privilegiado para pensar e exercer a natalidade ao proporcionar que o
aluno insira-se no mundo comum.
Nesse sentido a realização de café filosófico será apresentado
como experiência realizada buscando trazer para a discussão
possibilidades metodológicas para possibilitar a natalidade através do
ensino de Filosofia. Traremos para a reflexão percepções dos alunos
acerca da atividade realizada, possibilitando que o presente artigo torne-
se um espaço de participação também dos estudantes que se
empenharam e participaram com assiduidade do processo.
Sobre a Filosofia como possibilidade da novidade
É importante começar refletindo sobre quem são os/as jovens
que estudam Filosofia nos dias de hoje. Michel Serres (2015), em seu
livro Polegarzinha, afirma que os jovens contemporâneos possuem um
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relação com a história, a fim de situar-se, não repetir erros, inovar acertos
e avançar. Olhar para a história precisa ser um olhar para dentro de si,
no caso da filosofia esse olhar deve servir como impulso para o
movimento, para a natalidade. Além da história precisa haver mudança,
ruptura com velhos paradigmas de ensino e arriscar-se propor novas
relações de ensino e aprendizagem de Filosofia.
Sobre a natalidade a partir da Filosofia: a realização de café
filosófico no Ensino Médio
A experiência de realização de café filosófico que passamos a
descrever aqui aconteceu na Escola de Educação Básica Antonio
Morandini no município de Chapecó – SC, com os estudantes do Ensino
Médio matutino dessa instituição. Essa escola no turno matutino possui
duas turmas de primeiro ano, duas turmas de segundo ano e duas turmas
de terceiro ano do Ensino Médio. O que moveu o desenvolvimento do
projeto de café filosófico foi justamente o desafio de ir além do conteúdo
didático de Filosofia e possibilitar que os alunos reflitam e dialoguem
para além dos conceitos apreendidos em sala de aula. Nesse sentido foi
necessário realizar um planejamento da atividade, convidar pessoas de
fora da escola que ajudassem/desafiassem os alunos pensar, e dos quais
os alunos pudessem perguntar sobre o tema que estava sendo debatido.
O projeto de modo prático se desenvolveu dessa forma: cada
série do Ensino Médio estava discutindo um assunto, portanto seria
necessário fazer com cada série um café filosófico e dessa forma
aprofundar o que estava sendo trabalhado; como a escola não dispõe de
recursos para essas atividades foi preciso recolher dinheiro dos alunos
para comprar os lanches necessários; além do dinheiro, cada aluno se
envolveu trazendo algo a mais (garrafa térmica com café, leite, açúcar,
guardanapo); e, como forma de preservar o meio ambiente, cada aluno
levou a sua caneca.
No primeiro bimestre do ano letivo de 2018, cada turma do
ensino médio estava trabalhando um conteúdo: o primeiro ano
introdução a Filosofia; o segundo ano Filosofia Medieval; e, o terceiro
ano Filosofia Política. Pensando para além daquilo que estava sendo
trabalhado nos livros, para além dos conceitos desenvolvidos, a fim de
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Introdução
Torna-se importante a reflexão em torno da cultura como um
fator de construção social, histórica e individual dentro dos processos de
formação da educação, numa perspectiva de construção de identidade,
apreciando de forma igualitária a raça humana preservando as raízes de
cada um e permitindo através das trocas de conhecimentos, novas
experiências.
Através dos estudos, percebe-se que o negro sempre foi o que
mais labutou e continua nesse mesmo processo, modificando apenas a
forma dessa labuta. Dentro do contexto de sala de aula, é pertinente
trazer recursos que passem a integrar a construção pontes dentro das
multiculturas, elaborando e transformando indivíduos conscientes
dentro da diversidade passando assim a respeitar os aspectos da
individualidade do outro.
É necessário lembrar que ainda existem educadores que sentem
dificuldade perante alguma situação de preconceito, percebe-se que
mesmo os centros universitários não modificaram o padrão imposto
quando eram alunos do ensino fundamental, ou seja, dentro da
orientação de que o negro e sua vinda para o Brasil serviu apenas para
aumentar e fomentar a economia de seus senhores com seu trabalho
árduo e em condições desumanas.
Ao analisar a desconstrução do padrão racista da escola, o
preconceito e a discriminação, além de visualizar a fomentação
profissional dos educadores da EMEIF Leandro Alves Correia, buscou-
se a finalidade de detectar a prática educacional dos educadores no que
diz respeito as diversas situações de preconceito no ambiente escolar,
assim como, identificar o conhecimento dos educadores acerca da lei Nº
10.639/03.
Os educadores ao enfrentar tal questionamento muitas vezes se
deparam com desafios que decorrem da necessidade de resolver
equívocos onde se deturparam as culturas, o ser humano e sua
ancestralidade. Pode-se acrescentar que esse desafio tende a aumentar
quando se analisa os esquemas de violência, que diversos grupos da
sociedade brasileira estão a passar, quando busca-se estudar sobre as
culturas africanas e afrodescendentes dentro de uma realidade dialética,
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5%
Negros; Indios/LGBT
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10% Religiosa
Sexo
80%
Situação Economica
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Aprendizagem X Convivência
1%
1% Escola
Família
98% Igreja
Luta X Direitos
5% Negros
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Trabalhadores
20%
60% LGBT
10%
Indios
Não opinaram
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Direitos X Realidade
4%
Desumana
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8% Cotas
Individual
76%
Não responderam
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RESUMO:
Esse relato de caso descreve a intervenção educativa no processo ensino-
aprendizagem de Fisiologia em um curso de Psicologia no interior do
Ceará. Em quatro anos de acompanhamento, com uso de avaliação
diagnóstica, formativa e somativa através de práticas, seminários e
Aprendizagem Baseada em Equipes, notou-se aumento de desempenho
e satisfação dos estudantes, bem como diminuição de absenteísmo e
reprovação. Essa experiência mostra ser possível aumentar o
envolvimento discente com base em metodologias ativas e na avaliação
educacional para aprendizagem significativa.
Palavras-chave: Avaliação Educacional. Aprendizagem Baseada em
Equipes.
ABSTRACT:
This case report describes the educational intervention in teaching-
learning process of Physiology in a course of Psychology in a small town
of Ceara. In four years of follow-up with use of diagnostic, formative
and summative evaluation through practices, seminars and Team-Based
Learning, it was noticed an increase in student performance and
satisfaction as well as decrease of absenteeism and reprobation. This
experience shows that is possible to increase student involvement based
in active methodologies and educational evaluation for meaningful
learning.
Keywords: Educational Evaluation. Team-Based Learning.
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Introdução
A Fisiologia Humana é indispensável em muitos currículos das
áreas Biológicas e da Saúde, objetivando oferecer conhecimento sobre o
funcionamento de células, tecidos e órgãos, promover a relação entre os
diferentes sistemas orgânicos e entre corpo e ambiente, de modo a
preservar o equilíbrio do estado de saúde (BORGES et al, 2016,
BORGES; MELLO-CARPES, 2014). Esta disciplina é considerada
difícil pelos estudantes quando lecionada pelo método tradicional de
aulas expositivas, devido à linguagem técnica, densidade de informação
e falta de visão de aplicabilidade deste conhecimento na futura atividade
profissional (BORGES et al, 2016; CANOVA et al, 2016). Hoje, é cada
vez maior a quantidade de conteúdo científico na temática (VARGAS et
al, 2014) e menor o tempo gasto ou disponível para estudo extraclasse
pelos estudantes universitários (MILLER et al, 2011). Por isso, faz-se
necessário buscar alternativas para motivar e capturar o interesse de
alunos, durante e fora da sala de aula (VARGAS et al, 2014).
O envolvimento e a participação do educando no seu próprio
processo de ensino-aprendizagem é condição imprescindível para uma
formação de qualidade (CEZAR; OLIVEIRA, 2007). Estudantes envol-
vidos são aqueles que querem aprender, superar expectativas e demon-
stram paixão e excitação com o processo de ensino-aprendizagem
(MILLER et al, 2011). Diferente da aprendizagem passiva, onde o
estudante aceita a informação sem reflexão e reproduz uma memori-
zação mecanizada, na aprendizagem ativa o ensino é centrado no
estudante, que busca a resolução de problemas através de tarefas mentais
e físicas, sendo possível uso de estratégias multimodais de ensino
(DOWLATI et al, 2016, BORGES; MELLO-CARPES, 2014). Ainda, é
valorizada a realidade profissional, sob a abordagem multidisciplinar e
colaborativa, o que encoraja a interação entre estudantes e professores
(LYND-BALTA, 2006, VÁZQUEZ-GARCÍA, 2018).
Alguns defensores do ensino tradicional se contrapõem às
pedagogias modernas, acusando-as de estimular um laissez-faire, mas o
caminho percorrido pelo professor é justamente o inverso, pois este se
esforça intencionalmente e com mais afinco para proporcionar experi-
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Avaliação formativa
Além das aulas teóricas tradicionais, foi delineado um conjunto
de atividades práticas para garantir a avaliação formativa dos alunos. Seis
práticas, demonstradas e supervisionadas pelo professor, realizadas em
periodicidade quinzenal e com média de 30 minutos de execução,
incluíram: construção de modelo de neurônio com massa de biscuit em
pequenos grupos, jogo dos neutrotransmissores em cartolina
preenchendo o nome de biomoléculas de acordo com o quadro de
emoções (esquizofrenia, ansiedade, felicidade, depressão, calma, amor,
luta/fuga e esquecimentos), medida e interpretação dos sinais vitais
(pulso radial e carotídeo), reanimação cardiorrespiratória, identificação
das enzimas salivares por colorimetria e estudo neurofisiológico em
encéfalos artificiais (Figura 3).
Avaliação somativa
A distribuição de avaliações somativas no semestre 4, conforme
tipo/módulo e pontuação atribuída, está descrita na Figura 4.
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Discussão
O modelo curricularBde cursos de Psicologia revela pequena
participação de disciplinas de domínio conexo (dentre elas, Fisiologia),
cujo somatório alcança no máximo um sexto do total, com enfoque
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Introdução
Desde os primordiais, o ser humano discute o seu papel em
relação ao mundo em sua volta, com suas relações próximas e algumas
vezes antagônicas, este processo tem revelado ser mais perturbador
quando trata das relações humanas, suas visões e entendimentos. Este
choque de opiniões já foi motivo de discussão na idade antiga, nas
escritas cuneiformes sumerianas, mais precisamente na epopéia de
Gilgamesh por volta de 3.500 a.C, no código de Hamurabi (1792-1750
a.C.), nas leis de talião (lex talionis) na Roma antiga, na Bíblia no
Pentateuco Mosaico (Êxodo 21 e Deuteronômio 19,21), este período
histórico inicia-se por volta de 4.000 a.C. dando lugar aos primeiros
indícios da escrita, o homem pré-histórico e agora gregário, começa a
fixar limites físicos e culturais, começando com a criação das primeiras
cidades-estados, estabelecendo regras e leis, com a finalidade de garantir
um espaço de convivência com um mínimo de organização aos
habitantes locais.
As principais religiões tiveram suas origens na idade antiga e
neste mundo conflitante e complexo, surgem na Grécia os principais
nomes da filosofia ocidental, Sócrates, Platão e Aristóteles. Este
caldeirão de ingredientes múltiplos gera uma efervescência em um
mundo ainda barbarizado, as contendas eram resolvidas na espada pela
espada e já no inicio do século V inicia-se a idade média. O império
romano dominava o mundo conhecido, é neste período histórico que a
religião passa de coadjuvante a mediadora dos comportamentos sociais
e políticos e interferindo também nas ciências, a razão disto é a diminuta
produção artística e cientifica, ficando o período conhecido como “Idade
das Trevas”.
Inicia-se a idade moderna com a queda de Constantinopla e
transição do sistema feudal para o sistema de estado centralizado e
absolutista, inicia-se também as grandes navegações e nascimento da
nova ordem econômica o “capitalismo”, apresentando-se aqui em sua
fase inicial conhecida como mercantilismo.
O novo traz as revoluções de estado com novas reflexões
políticas e sociais, está nascendo uma nova ordem e um novo mundo,
novas terras, cabe-lhe uma nova filosofia, o sol do iluminismo vem
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Referências
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Horizonte: Lê, 1977.
MORAES, José Geraldo Vinci de. Caminhos das civilizações: da pré-
história aos dias atuais. São Paulo: Atual, 1993.
NADAI, Elza e NEVES, Joana. História Geral: Antiga e Medieval. 2 ed.
São Paulo: Saraiva, 1988.
_________ História Geral: Moderna e Contemporânea. 4 ed. São Paulo:
Saraiva, 1987.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura)
Pensador. Disponível em:
https://pensador.uol.com.br/frase/MTA1MzkwMQ/. Acesso em:
01/04/2017
WILLIAMS, Tennessee. Um Bonde Chamado Desejo. Editora: Abril
Cultural, 1980.
FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade e Outros Escritos – São
Paulo. Ed. Paz e Terra, 2011.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.
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Introdução
O caminhar da humanidade em um mundo de incertezas nos
desperta a cada dia, idealizar ou tentar idealizar um mundo mais humano,
onde as possibilidades de viver igualmente fundamentam-se em um bem
comum e desejado por todos. É a partir das relações do homem no
mundo e com o mundo, que tem a consciência de que está em sociedade,
e que é nela que a educação se concretiza, tornando-se sujeito do seu
próprio conhecimento na busca incessante do querer ser mais, é que
encontramos a base para uma relação forte existente entre sociedade e
educação.
Nessa relação intrínseca e interdependente, devido tanto às
razões ligadas às transformações dos saberes como também às razões
históricas, sociais, políticas e econômicas, há um cenário educacional que
vincula saberes, sistemas, reformas e práticas pedagógicas que giram em
torno de ideais, se apropriando do poder-saber de forma a estabelecer
um currículo, como política de estado que produz um discurso de educar
para a cidadania.
Nos deparamos frente a um crescimento social acelerado onde
existe um movimento constante da aprendizagem, da aquisição do
conhecimento, do desenvolvimento, a partir da apropriação de um
pensamento novo baseado, em tecnologias modernas e pós-modernas,
no ambiente escolar, familiar e social. Nessa perspectiva nos deparamos
com um novo paradigma educacional emergente que está em construção,
onde ocorrem intensas mudanças nas quais a informação se mistura ao
conhecimento e um novo posicionamento em nossa vivência
educacional, reflete a necessidade de entendermos tais mudanças. Será a
inovação pedagógica (IP) que desponta em nosso meio?
Como vimos, educação e sociedade se entrelaçam. E a escola é
o produto desse meio onde ocorre a relação intrínseca que aflora a
defasagem no sistema educativo. É ela também que detém o potencial
formador dos aprendentes. Mas quais aprendentes? A escola tem como
objetivo possibilitar o desenvolvimento de cada aprendente, desenvolver
o potencial criador sejam em pessoas ditas “normais” sejam em pessoas
com necessidades educativas especiais (PNEE), a partir das suas
necessidades e habilidades.
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Nesse contexto sabemos que a qualidade do ensino difere de
escola para escola, onde as realidades são tantas e variáveis. Como
também sabemos que os aprendentes que ocupam os espaços formais e
não formais de aprendizagem possuem suas próprias diferenças e aqui
debrucemos um olhar mais atento para os deficientes auditivos/Surdos.
Assim, indagamos sobre uma atividade natural do ser humano que é o
ato de comunicar-se. Existe uma grande barreira entre a educação para
aprendentes ouvintes e a educação para aprendentes Surdos onde a
comunicação falada é impossível de existir.
Não distante dessa capacidade que é a comunicação humana e
a partir de grandes conquistas alcançadas com a Lei Nº 10.436/2002 que
institui a LIBRAS, desenvolveu-se na Escola de Ensino Fundamental e
Médio (EEFM) Sales Campos o Projeto “Semeando Ideias: LIBRAS”
que se apresenta como uma das pontas de um grande leque onde se
configura o desejo de expor a temática, desenvolver o estudo, propagar
a utilização e a disseminação da LIBRAS acompanhada pelo uso das TIC
(Tecnologias de Informação e Comunicação), a partir da interação, da
busca e da construção do próprio conhecimento, promovendo uma
aprendizagem que evidencia IP, onde a construção de vídeos educativos
pelos aprendentes se faz presente.
Assim, apresentamos a grande problemática em relação à nossa
investigação que se baseia na seguinte indagação: Como os alunos
ouvintes poderão aprender LIBRAS para se relacionarem com a
Comunidade Surda?
Todo o nosso trabalho de investigação percorre um mundo
escolar como objeto de estudo, onde práticas pedagógicas e vivência de
saberes se articulam e constroem uma nova aprendizagem. Diante desse
contexto o dividimos em três partes:
A primeira destina-se à fundamentação teórica que embasa
nosso estudo no mestrado em ciências da educação – inovação
pedagógica e divide-se em três capítulos: 1.1 - inovação pedagógica no
contexto da linha de investigação; 1.2 - educação de Surdos e LIBRAS;
1.3 - vídeo educativo.
Na segunda parte apresentamos a metodologia que embasa
todo o nosso trabalho de investigação.
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Na terceira parte mostramos a recolha e análise dos dados
coletados na pesquisa, seguida de sua interpretação em categorias.
Por fim, com toda a pesquisa realizada e concluída, tecemos a
partir da linha de pesquisa as considerações finais.
Fundamentação teórica
Inovação pedagógica: um novo olhar educacional
A sociedade é responsável pela formação humana orientada
através da educação. Assim como é pela educação que o homem adquire
conhecimentos necessários para atuar em sociedade, pontuamos as
palavras de Libâneo (1994, p. 17) que demonstra claramente tal relação:
“Não há sociedade sem prática educativa nem prática educativa sem sociedade. ”
A sociedade se apresenta em um profundo movimento de
aspirações quanto ao desenvolvimento intelectual do homem, onde se
verifica que habilidade e capacidade serão fatores preponderantes e que
possibilitarão um maior posicionamento frente às novas situações que já
batem à porta. É urgente a percepção de uma sociedade nova que se
configura como “sociedade da aprendizagem”, onde a capacidade de
aprender é considerada vital para o desenvolvimento. Quanto a essa
habilidade Papert (1994, p. 5) nos fala:
A habilidade mais importante na determinação do padrão de
vida de uma pessoa já se tornou a capacidade de aprender
novas habilidades, de assimilar novos conceitos, de avaliar
novas situações, de lidar com o inesperado. Isso será
crescentemente verdadeiro no futuro: a habilidade
competitiva será a habilidade de aprender.
Suscitando uma reflexão acerca desse momento e para bem
entendermos essa sociedade da aprendizagem que emerge, onde o saber
é caracterizado pela construção do conhecimento, Papert (1994, p. 06)
nos apresenta duas tendências:
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outra tendência é epistemológica, uma revolução no
pensamento acerca do conhecimento.
144
aprendizagem se completam, e difundem a “teoria do conhecimento”
caracterizada por uma vivência baseada em contextos integrados, na qual
tanto alunos como professores desenvolvem ambientes de trabalhos
fundamentados no “conhecimento-em-uso”, onde a capacidade de
construir o conhecimento sozinho, em pares ou em grupo, seja na escola
ou em qualquer lugar é inerente a todos.
Para Papert, o processo de aprender baseia-se nos seguintes
princípios:
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desponta vem carregada pelo desejo de mudar e romper com ideias
antigas para atender às novas expectativas sociais.
Nesse momento de ruptura paradigmática, em seus estudos
sobre inovação, Fino (2008, p. 3. Grifo do autor) enfatiza que:
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e promovendo um método que acontece mesmo antes da escola, na
formação do seu desenvolvimento cognitivo.
Precisamos desenvolver a IP que evidencia o desenvolver da
matética e o protagonismo do aprendente. Uma IP que segundo Fino
(2007, p. 1): “[...] implica mudanças qualitativas nas práticas pedagógicas e essas
mudanças envolvem sempre um posicionamento crítico, explícito ou implícito, face às
práticas pedagógicas tradicionais [...]”. Percebemos que já se enxerga um novo
olhar para a educação onde a arte de aprender (matética) se faz presente
e a IP faz história, apresentando a mudança necessária que se configura
em novas formas de aprender em uma relação com o construcionismo
de Papert, onde as crianças irão aprender o que realmente precisam saber
e buscarão o conhecimento necessário para desenvolver a sua própria
aprendizagem.
Educação de surdos e libras
A capacidade de se comunicar é um ato natural de todo ser
humano. Através da comunicação seja ela falada ou sinalizada, o homem
relaciona-se com o mundo, interage em sociedade, desenvolve suas
habilidades e suas potencialidades. Comunicar-se é uma necessidade vital
principalmente quando entendemos que a troca de conhecimentos e
informações possibilita a aprendizagem do indivíduo em formação logo
em seus primeiros passos seja na família, na escola ou em sociedade. Mas
sabemos que tal aprendizagem seja em pessoas “normais”, seja em
“pessoas com necessidades educativas especiais” (PNEE), ainda é
negada a muitos.
É nessa perspectiva de construção do conhecimento que as
PNEE são apresentadas e aqui direcionamos um olhar mais arguto para
o deficiente auditivo/Surdo que traz consigo uma realidade que lhe é
própria, demarcada por limitações históricas ocorridas principalmente
no sistema educacional que dificultaram o seu aprendizado, enraizada em
uma relação de poder entre as pessoas do discurso: o ouvinte (pessoa
que fala) sempre ocupa uma posição privilegiada, enquanto que o Surdo
(pessoa que não pode falar) ocupava e ocupa uma posição de
inferioridade, uma vez que não detém a fala.
147
A história do processo educacional do Surdo é dada a partir do
entendimento sobre a posição-sujeito que lhe foi atribuída enquanto
pessoa do discurso caracterizada pela determinação de dois eixos:
enquanto ser não humano - desde a antiguidade (há cerca de 4000 anos)
até o século XV, onde era colocado em um lugar à margem da sociedade
e diferenciado dos demais; e enquanto ser humano (a partir do século
XVI) quando aconteceu um deslocamento na posição-sujeito,
assumindo uma posição que detinha a capacidade de ser educado, de
aprender, onde podendo pensar poderia consequentemente se expressar.
(LIMA, 2004, apud BOLONHINI e COSTA, 2011).
Para entendermos todo esse processo cultural, bem como a
trajetória de luta do sujeito Surdo, necessário se faz apresentar os muitos
métodos foram utilizados durantes os últimos séculos que dividiram
opiniões, esclareceram dúvidas, firmaram conceitos e instituíram teorias.
O método pioneiro foi o gestualismo que ocorreu na França
mais precisamente em 1750, com Charles Michel L’Epée que criou em
sua residência “[...] a primeira escola pública para surdos, denominada de
Instituto de Surdos e Mudos de Paris.” O método gestualista se
utilizou do método manual incorporando a língua falada, “[...] gerou os
‘Sinais Metódicos’ onde consideravam essa forma de linguagem eficaz por abrir-lhes
portas rumo ao conhecimento. ” (BOLONHINI e COSTA, 2011, p. 87-88,
grifo do autor).
Em 1760 na França, Tissot promove o projeto ortopédico que
impõe ao surdo “[...] exercícios de respiração, utilização das piscinas bem com
práticas de outros exercícios [...] que ajudavam na fala, o que levou a proibição total
da linguagem de sinais: entrou em cena a oralização. ” (BOLONHINI e
COSTA, 2011, p. 87).
Para os autores Bolonhini e Costa (2011, p. 88), acontecimentos
como o VII Congresso da Sociedade Pedagógica Italiana (1872), I
Congresso de Professores Italianos Surdos (1873) já percebiam a nova
visão diferenciada dada para o Surdo enquanto ser humano. Mas foi com
o Congresso de Milão (1880) diante de 174 professores congressistas,
173 eram ouvintes e somente 01 era Surdo, o qual ocupava uma posição-
sujeito desfavorecida, já que era o único a não ouvir e consequentemente
o que menos se expressava, que o desejo e o anseio dos demais pelo
148
método oral puro, foi ecoado oficialmente, proibindo o uso da língua de
sinais.
Durante muito tempo, praticamente quase um século de
predominância do oralismo, várias pesquisas foram organizadas em
relação à linguística e à linguagem. A partir desses estudos, surge um
novo método: a comunicação total que facilitaria a comunicação com
os Surdos, pelo qual todos os meios possíveis, fossem eles na perspectiva
oral ou sinalizada, poderiam ser utilizados, o que importava é que
existisse a comunicação, independente do recurso utilizado.
O bimodalismo, parecido com a comunicação total, se
percebia o uso de sinais simultaneamente usado à fala. Segundo Góes
(1996, apud FRONZA e MUCK, 2012, p. 81) “[...] o bimodalismo
desconsidera a língua de sinais e sua riqueza estrutural e não remete adequadamente
à estrutura do português. ” Descaracterizando tanto a língua de sinais, natural
do surdo, o impossibilitando de desenvolver sua capacidade natural e
comum de se comunicar, quanto o português oral dominante.
A partir da insatisfação com os métodos apresentados,
manifestada com os momentos vividos durante essa trajetória
apresentada, é que um novo olhar para a educação de Surdos surgiu com
o bilinguismo, onde a comunicação se apresenta a partir da ligação entre
duas línguas. No Brasil, se fundamenta na língua materna do Surdo, a
LIBRAS, instituída como a (L1), mediado pelas suas experiências já
adquiridas, no qual se aproximará da segunda língua, no caso o português
escrito (L2). Tal modelo educacional que quebra paradigmas, vislumbra
a inclusão social e permite ao Surdo se posicionar perante à sociedade,
assumindo sua própria identidade e fortalecendo sua cultura.
Diante dos métodos mencionados e vislumbrando a língua de
sinais considerada como língua a partir dos estudos linguísticos do
americano William Stokoe em 1960 quando este afirmava que: “[...] a
língua e sinais dos surdos têm estrutura e função semelhante às demais línguas. ”
(1960, apud HARRISON, 2014, p. 30), a história da língua de sinais no
Brasil, segundo Strobel (2006, apud GUEDES, 2012) teve início com a
vinda de Ernesto Hüet “[...] surdo com conhecimentos em metodologia de ensino
para surdos, veio da França para o Brasil em 1855”.
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Segundo Góes e Campos (2014, p. 69-70), Ernesto Hüet “[...]
chega ao Brasil sob o beneplácito do imperador Dom Pedro II, com a intenção de
fundar uma escola para pessoas surdas e instruí-las por meio da Langue des Signes
Française (LSF) ” sob a influência da Língua Francesa de Sinais.
Participou da fundação do Imperial Instituto de Surdos-mudos no Rio
de Janeiro, hoje o “[...] INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos),
criado pela Lei nº 939 de 26 de setembro de 1857 [...]” (GÓES e CAMPOS,
2014, p. 69-70) onde recebe a tomada mundial de decisões ocorridas no
II Congresso Internacional de Surdo-Mudez em 1880, em Milão na Itália,
adotando o oralismo como método mais adequado na educação dos
Surdos, proibindo oficialmente em 1957 o uso da língua de sinais.
Contudo alguns avanços ocorreram a partir da década de 80
como esclarecem Góes e Campos (2014, p. 70): “[...] em 1982 o padre
americano Eugênio Oates publica no Brasil, o primeiro dicionário
ilustrado da língua de sinais; em 1987 fundou-se a Federação Nacional
de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS). ” E ainda afirmam:
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enquanto Surdo, se caracteriza profundamente, se assume como tal
perante a si e aos outros na sociedade, detendo sua própria identidade e
sua própria cultura, é saber fazer a distinção segundo Lopes (2012, p.
238) entre: surdez com deficiência (pessoa com deficiência auditiva) e
surdez com diferença primordial (pessoa Surda) e perceber que o melhor
caminho a seguir, seja na área da saúde que tenta tornar o Surdo um ser
humano normal, seja na educação que busca amenizar os conflitos, ainda
é uma questão de muita discursão.
Vídeo educativo
Vivemos hoje na sociedade da informação. Uma sociedade
marcada pela presença das TIC, onde a linguagem se estabelece a partir
da apropriação dessas tecnologias modernas e pós-modernas, seja no
ambiente escolar, seja no convívio social. Tal linguagem é decorrente da
ligação do indivíduo com o meio no qual ele está inserido, e com o
próximo com o qual ele interage, em um verdadeiro processo de
aprendizagem e de aquisição de conhecimentos.
A partir dessa relação a educação incorpora do meio social,
ainda receosa às grandes mudanças, mecanismos que contribuem para
um melhor funcionamento do processo educativo, em uma vivência
harmoniosa com as TIC. Diversos são os recursos utilizados como
ferramentas essenciais para que a comunicação seja vivenciada,
compreendida e interpretada e o vídeo se apresenta como um deles.
“Etimologicamente a palavra vídeo provém do latim. É a primeira pessoa do
singular do presente do indicativo do verbo videre, e significa exatamente eu vejo.
” (FERRÉS, 1996, p. 52, grifo do autor).
O uso do vídeo com uma das tecnologias na educação é
percebido como um recurso utilizado pelo professor para auxiliar em sua
disciplina. Segundo Ferrés (1996, p. 20) citando McLuhan (1968)
podemos definir seis modalidades de uso: “[...] a videolição, o videoapoio, o
videoprocesso, o programa motivador, o programa monoconceitual e o vídeo interativo.
” Ainda segundo Ferrés (1996, p.46), o vídeo apresenta sete funções: “[...]
1. a função informativa – videodocumento; 2. função motivadora –
videoanimação; 3. função expressiva – criatividade e videoarte; 4. função
151
avaliadora – videoespelho; 5. função investigativa; 6. função lúdica – o
video como brinquedo e 7. função metalinguística.”
Por sabermos que é no campo da imagem que a aprendizagem
da LIBRAS é mais acessível, uma vez que ela acontece a nível viso-
gestual, o vídeo é um ótimo recurso audiovisual na educação bilíngue, o
qual se configura como uma tecnologia que possibilitará o
desenvolvimento das potencialidades tanto do sujeito Surdo quanto do
ouvinte em seu processo de aprendizagem, desenvolvendo
possibilidades em apreender a LIBRAS a partir do vídeo educativo que
segundo Móran (1995, p. 28) possui uma linguagem que: “[...] parte do
concreto, do visível, do imediato, do próximo, que toca todos os sentidos. Mexe com o
corpo, com a pele – nos toca e ‘tocamos’ os outros, que estão ao nosso alcance, [...]. ”
Para tanto, percebemos no vídeo educativo, principalmente em
sua modalidade videoprocesso, na qual os aprendentes participam,
interagem, constroem e são agentes no processo, um momento que
caracteriza IP. Segundo Ferrés (1996, p. 23): “Falar de videoprocesso equivale
a falar de participação, de criatividade, de compromisso, de dinamismo. É uma
modalidade na qual os alunos se sentem protagonistas. O vídeo nas mãos do próprio
aluno. ” O aluno assume o comando da criação do vídeo e seguem passos
que vão do roteiro, passa pela filmagem e conclui com a edição.
Incorporam ações próprias que levam a aquisição de conteúdos e
assuntos necessários para que o conhecimento seja adquirido e
propagado.
Metodologia: Um Olhar Sobre A Investigação
A partir da fundamentação teórica apresentada, chegamos à
segunda parte do nosso trabalho com a metodologia, onde debruçamos
o olhar sobre a investigação que percorreu uma metodologia de pesquisa
que vislumbrou práticas pedagógicas e vivência de saberes, articulando
um paradigma qualitativo que se apropriou de um método de natureza
etnográfica, fundamentado nas bases e inspirações da linha de
investigação em IP com o uso de técnicas de coleta de informações,
utilizando dispositivos metodológicos tais como: observação
participante, entrevista (conversa natural), estudo da análise de
documentos e diário de campo.
152
Refletindo acerca da nossa pesquisa realizada, e sabendo que a
realidade pesquisada se funde às teorias estudadas, encontramos Macedo
(2010, p. 38) quando destaca que: “[...] para o olhar qualitativo, é necessário
conviver com o desejo, a curiosidade e a criatividade humanas; com as utopias e
esperanças; com a desordem e o conflito; com a precariedade e a pretensão; com
as incertezas e o imprevisto. ” O paradigma qualitativo apropriou-se de um
método de natureza etnográfica que segundo Spradley (1979, apud,
FINO, 2016, p. 1):
153
a EEFM Sales Campos reforça o conceito de Macedo (2010, p. 37) quando este nos
diz que: “[...] a escola é um locus indispensável para a compreensão da concretude
das políticas e das ações educativas [...]. ”
Por ser um lugar onde as ações educativas acontecem,
investigamos se as práticas pedagógicas ocorridas no Projeto “Semeando
Ideias: LIBRAS” que configura um processo de aprendizagem, no qual
a construção de vídeos educativos pelos aprendentes do Ensino
Fundamental (EF), mediados pelas professoras e seus pares,
caracterizava ou não IP. Nosso objeto de estudo foi uma turma de 7º
ano do EF, atendida pelo projeto desde 2015, onde práticas pedagógicas
e vivência de saberes se articularam em torno da aprendizagem em língua
de sinais.
O trabalho de investigação desenvolvido veio responder à
problemática da nossa pesquisa que era: Como os alunos ouvintes
poderão aprender LIBRAS para se relacionarem com a Comunidade
Surda? Como também respondeu a nossa questão de pesquisa: Será que
a construção de vídeos educativos produzidos pelos alunos do Ensino
Fundamental evidencia IP no aprendizado em LIBRAS?
Mas nosso objetivo maior ocupava-se em investigar se a cons-
trução de vídeos educativos pelos alunos, promovia a aprendizagem em
LIBRAS. Para tanto, foi organizado procedimentos de análise de
conteúdo fundamentado pelo estudo de Bardin (2002, p. 46) quando
nos esclarece que o objetivo desta: “[...] é a manipulação de mensagens
(conteúdo e expressão desse conteúdo), para evidenciar os indicadores
que permitam inferir sobre uma outra realidade que não a da mensagem.”
Segundo Bardin (2002, p. 95) o método da análise de conteúdo
se dá em três momentos: “[...] 1) a pré-análise; 2) a exploração do
material; 3) o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação
[...]. ” Na parte referente à pré-análise, seguem-se etapas que propiciam um melhor
enquadramento dos dados colhidos em campo definindo-se um plano de análise que
engloba a “[...] escolha dos documentos, a formulação das hipóteses e
objectivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a
interpretação final. ” (BARDIN, 2002, p. 95).
Detendo-se ao tópico “elaboração de indicadores” expomos os procedi-
mentos analíticos utilizados, fazendo referência ao “[...] recorte do texto em
154
unidades comparáveis de categorização para análise temática e de
modalidade de codificação para o registro dos dados. ” (BARDIN,
2002, p. 100, grifo do autor).
Em relação ao tratamento dos materiais a serem analisados, necessário se
faz a codificação da teoria (a priori, antes da entrada em campo)
fundamentada nos autores estudados que se transformam em “unidades
de registro” em consonância com os dados coletados (a posteriori) que
se traduzem em “unidades de contexto” segundo Bardin (2002, p. 104-
105), apresentados a partir dos dispositivos metodológicos utilizados e
traduzidos por categorização, onde nada mais é que uma operação de:
“[...] classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por
diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero
(analogia), com os critérios previamente definidos.” (BARDIN, 2002, p.
117)
Nesse contexto, elaboramos um quadro baseado no eixo
temático (unidades de registro) organizado a partir dos temas que
fundamentaram a teoria estudada onde apresentamos as categorias e
subcategorias (unidades de contexto) que agruparam a parte comum
entre esses temas.
155
analisaremos uma a uma, seguindo uma sequência de interpretação
quanto aos indicadores referidos.
Interpretação dos indicadores
Conclusão 1.A - Percebemos nas atividades que caracterizaram
aprendizagem significativa em LIBRAS, o método educacional utilizado
na educação dos Surdos, o bilinguismo, onde se dá a aquisição de duas
línguas. O projeto foi realizado sob a perspectiva do ouvinte, quando
ocorre o estudo do português dominante (L1) e a LIBRAS (L2), uma vez
que nem na escola e nem em sala de aula, possuía aprendente Surdo.
Com o contato e a aprendizagem com a língua de sinais, o conhecimento
dos aprendentes, se apropriou de uma nova linguagem para entender o
mundo do sujeito Surdo e assim percebemos que a turma iniciou a
construção de uma cultura própria que dá sentido à uma nova vivência
social.
Conclusão 1.B - Os aprendentes se apropriaram das
ferramentas necessárias para resolver seus problemas e aqui, eles
utilizaram as TIC, na busca dos sinais das palavras não encontradas no
dicionário ilustrado manual. O uso do computador, a partir do site
www.acessobrasil.com.br, onde encontra-se um dicionário virtual
completo e do aplicativo Hand Talk no smartfone, no qual se demonstra
os sinais na tela, através do personagem em 3D, Hugo, intérprete virtual
em língua de sinais, determina um momento onde as TIC fazem parte
do cotidiano do estudo em língua de sinais, proporcionando um maior
aprendizado.
Conclusão 2.A - Percebemos que a construção dos vídeos
educativos, ocorreu de maneira natural desde quando os aprendentes já
se dividiram em equipes, nos primeiros encontros, mesmo ainda sem
terem a intenção da filmagem.
Já escolheram seus temas, relacionaram palavras e com a cabeça
fervilhando de informações, ideias e desejos, os aprendentes falaram
como iriam fazer os vídeos, quem iria fazer e como iriam gravar. Ora,
aproveitando todo esse momento, as professoras entregaram a Ficha das
Etapas do Vídeo Educativo desenvolvida pelo projeto que acompanha a
156
estabelecida por Férres (1996) quanto à construção do vídeo processo,
na realização da construção dos vídeos.
Conclusão 2.B - A construção do conhecimento na área da
língua de sinais intermediada pelo uso das TIC e aqui mais precisamente
com o uso do computador, notebook e smartfone através de sites e
aplicativos, mesmo se apresentando como mera máquina de ensinar, os
alunos buscavam os conteúdos necessários em LIBRAS que se
apresentavam no site e nos programas para construírem seu próprio
conhecimento em língua de sinais. Convém irmos ao encontro do
pensamento de Papert e o construcionismo, quando este nos fala que
devemos dar ótimas varas de pescar, e aqui a presença das TIC se
tornaram ótimas varas, reforçando a ideia da habilidade matética em
construir seu próprio conhecimento e no caso específico, em LIBRAS.
Conclusão 3.A - Durante toda a realização da construção do
vídeo a participação dos aprendentes, o trabalho em equipe, o estudo e
o planejamento foram intensos. Os aprendentes aprofundaram sobre os
sinais escolhidos e concluíram com as professoras, uma vez que as
professoras já detinham um maior conhecimento em língua de sinais. A
interação ocorrida em sala mostrava que os alunos atingiram a ZDP,
ocasionando a solução na busca daqueles sinais que antes, sozinhos, eles
não sabiam e nem encontravam na internet.
Foi notório que os aprendentes estavam meio alheios às
informações, quando foram colocados frente ao programa da edição do
vídeo na oficina. Mas como Papert (1994) também nos fala, o momento
caracterizava os princípios que compõem o processo de aprendizagem:
dar-se tempo para conhecer o programa, discutir sobre os comandos do
programa para depois editar o vídeo, quando se absorveu a aprendizagem
em relação ao programa. Assim o orientador da oficina pode oferecer
seus conhecimentos, partilhar com os alunos e estes adquirirem o
conhecimento necessário para a edição dos vídeos.
Na edição do vídeo, observamos a principal característica da
modalidade do vídeo processo segundo Férres (1996) que é quando os
aprendentes se tornam protagonistas de fato, finalizando toda a
produção, se apropriando tanto dos conhecimentos na área da LIBRAS
como dos novos conhecimentos adquiridos na oficina.
157
Enfim, propagar e promover a língua de sinais, vivenciar o
protagonismo no vídeo processo, estabelecer novas formas na vivência
com os Surdos e fortalecer a interação entre todos, fez esse projeto
caracterizar a IP principalmente quando nas palavras de Fino (2016, p.
5) essa passa: “exclusivamente pela matética, o que implica a autonomia e o
protagonismo do aprendiz e a redefinição do papel do professor, com todas as
consequências dessa migração do aprendiz, da periferia para o centro dos processos de
ação e construção.” O aprendiz sai da periferia dos processos didáticos e
assume o centro dos processos voltados para a habilidade de aprender,
instituindo a matética (arte de aprender) e promovendo a IP.
Considerações finais
Nesse mundo no qual o homem vive, é bem verdade que
sociedade e educação andam juntas, se entrelaçam, se completam, criam
laços e se misturam em um movimento complexo de interação a partir
de realidades diversas, que nos faz acreditar que o papel da educação está
intimamente ligado ao contexto social, político e econômico no qual ela
está inserida, promulgando os conhecimentos necessários para o
momento exigido.
É exatamente a partir dessa relação intrínseca que existe entre
sociedade e educação, que percebemos um homem que articula, sua
maneira de pensar aos acontecimentos sociais e práticas culturais que
fazem parte de uma perspectiva histórica fundamentada na construção
de um novo horizonte, de uma nova ideia de educação, de um novo
conceito de sociedade.
A partir da tomada de consciência do verdadeiro papel
enquanto ser que está no mundo, o homem confia a si mesmo a missão
de construir seu próprio conhecimento mesmo que este seja transmitido
pela escola em uma educação institucionalizada ou a partir de vivências
sociais em um processo informal de educação.
E sabendo que é o homem que vive na sociedade e se encontra
rodeado de valores e crenças que se constituem em verdadeiros modelos
firmados, transmitidos por outros e seguidos por muitos, onde se
instituem paradigmas que perpetuam no decorrer de sua existência, é que
se observa uma educação e uma vivência em grupo, nas quais muitos
158
valores que não mais significam para ele, perdem o sentido, ocorrendo a
quebra de paradigmas que dá uma nova forma em seu caminhar.
Pensando nessa quebra de paradigma, vemos na educação a
grande esperança da mudança que bate à nossa porta, promovendo
habilidades inovadoras que possibilitarão ao homem desenvolver a
capacidade de seu ímpeto criador que nasce da constante busca pelo
conhecimento sempre inacabado e pela incessante superação do saber.
Em um movimento da aprendizagem impulsionado pelo desejo
único de romper com os paradigmas existentes, faz renovar a cada dia o
desejo de promover com afinco o bem da educação através de um estudo
científico, sabendo que riscos e oportunidades, erros e acertos estarão
sempre presentes no futuro.
Com esse desejo de renovar e a partir da colaboração entre
pares vivenciada com o uso das TIC, um novo olhar sobre a questão da
comunicação e da aprendizagem foi desenvolvido com o Projeto
Semeando Ideias: LIBRAS, onde a EEFM Sales Campos tornou-se
pioneira no ensino da LIBRAS mesmo antes desta ser uma exigência
educacional. Já se encaminha uma proposta educacional fundamentada
em uma comunicação baseada no bilinguismo, onde ocorre o
envolvimento entre a língua de sinais (LIBRAS) e a língua portuguesa
(escrita), articulando a inclusão das PNEE e os aprendentes ouvintes, em
uma proposta voltada para a IP uma vez que os aprendentes se tornaram
protagonistas no processo da construção de vídeos.
Com o referido estudo, e no contexto de educação e sua relação
com a sociedade, onde o homem se encontra como ser pensante e
atuante, concebemos que esta análise final, assume um caráter de
incompletude, onde não se pretende aqui chegar à conclusões ideais mas
a pensamentos que nortearão a discussão sobre o protagonismo dos
aprendentes e a IP.
Como também apontaram que existe uma necessidade de
ampliar os horizontes, de fomentar as práticas pedagógicas, de engajar
os profissionais da educação e de vivenciar mais profundamente a
construção do conhecimento. Sabemos que desenvolver habilidades de
aprendizagem em LIBRAS não é tarefa fácil, uma vez que as escolas não
estão preparadas nem tão pouco adequadas para receberem as PNEE,
159
principalmente àquelas que as famílias não as reconhecem, nem as
aceitam como são. Como também, não existem professores capacitados
no ensino da língua de sinais.
Contudo, devemos fazer educação? Sim, devemos fazer!
E fazer educação é desenvolver teorias, elaborar o saber e
promulgar conhecimentos. Dentro ou fora da escola, formalmente ou
informalmente, a aprendizagem existe e os sujeitos aprendentes em uma
mudança constante, quebram paradigmas, derrubam barreiras e criam
novas expectativas.
Educar uma sociedade é fazê-la progredir, torná-la um conjunto
harmônico e conjugado das forças individuais. E só se faz progredir
quando se desenvolve uma sociedade fazendo com que a ação seja
contínua.
É fazer a escola adquirir sua própria identidade despertando a
consciência própria e crítica no aprendente, bem como o seu verdadeiro
papel enquanto cidadão na sociedade.
É desempenhar um papel compromissado com a valorização
da capacidade do “ser” sabendo que o “fazer” é peça essencial na
construção do conhecimento, pois fazer inovação é “crer que” continuar
na rotina é “viver sem ser” e “nada fazer”.
160
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162
DNA Educação
A ADOLESCÊNCIA, A ALFABETIZAÇÃO E O
PROCESSO DE IN/EXCLUSÃO SOCIAL:
DIÁLOGOS À LUZ DA PSICOLOGIA HISTÓRICO
CULTURAL
Janaína de Souza Silva1
RESUMO:
O presente artigo objetiva promover algumas reflexões sobre implicações do
conceito de adolescência, o fracasso escolar, e o papel da escola para a
garantia da alfabetização plena de seus alunos com as interfaces do processo
de in/exclusão social, à luz da perspectiva histórico cultural. O estudo
prioriza responder a duas questões oriundas dos estudos teóricos acerca da
temática. São elas: Quais as implicações da inconclusão do processo de
alfabetização para o adolescente? Quais os incursos desse fenômeno para o
processo de in/exclusão social? O constructo teórico escolhido nos oferece
parâmetros para responder essas questões, de modo a possibilitar reflexões
e não conclusões.
Palavras chave: Adolescência. Alfabetização. Educação Infantil. Psicologia
Histórico Cultural.
ABSTRACT
This article aims to promote some reflections about the implications of the
concept of adolescence, school failure, and the school’s role in guaranteeing
the full literacy of its students with the interfaces of the process of social
in/exclusion in the light of historical cultural perspective. The study
prioritizes to answer two questions from these theoretical studies on the
subject, which are: What are the implications of the not concluding the
literacy process for the adolescent? What are the consequences of this
phenomenon for the process of social exclusion/exclusion? The chosen
theoretical construct offers us parameters to answer these questions, in order
to allow reflections and not conclusions.
Keywords: Adolescence. Literacy. Child education. Cultural Historical
Psychology.
163
Introdução
O trabalho objetiva promover algumas reflexões sobre as
implicações do conceito de adolescência, o fracasso escolar, o papel da
escola para a garantia do sucesso da alfabetização de seus alunos com as
interfaces do processo de in/exclusão social, à luz da perspectiva
histórico-cultural.
Com base nas contribuições de Coimbra (2005) e Bock (2004),
o conceito de desenvolvimento, adolescência tem sido amplamente
discutido. Nas últimas décadas, os resultados apontados pelas avaliações
externas como, por exemplo, os apresentados pelo INAF no ano de
2012, em seus diversos aspectos, conferem ao quadro da alfabetização
poucos avanços no que diz respeito ao processo de qualidade
desenvolvido em sala de aula. Esse aspecto tem demandado inúmeras
pesquisas na esfera acadêmica, uma vez que as fragilidades do processo
ecoam no fracasso escolar – ainda muito presente na contemporaneidade
– daqueles que não conseguem atingir a alfabetização com êxito, em sua
maioria, adolescentes. Contudo, há que se traçar um caminho à luz da
teoria escolhida, para então concentrar esforços a fim de responder as
questões que dão origem ao trabalho desenvolvido. Tendo como base
que a educação é um direto de todos e instituído nacionalmente pelo
Plano Nacional da Educação (PNE), o texto está organizado em 3
subitens, são eles: desenvolvimento; adolescência e a alfabetização. Para
tanto, as discussões propostas nesse estudo têm como premissa
responder a duas questões: Quais as implicações da inconclusão do
processo de alfabetização para o adolescente? Quais os incursos desse
fenômeno para o processo de in/exclusão social?
O construto teórico escolhido nos oferece parâmetros para
responder essas questões, de modo a possibilitar reflexões e não
conclusões. Busca-se, nesse trabalho, discutir a compreensão do conceito
de adolescência que, em linhas gerais, é apresentado por algumas teorias
como estágio linear do desenvolvimento humano. Além disso, o estudo
consiste em aclarar as relações de objetividade da educação escolar e a
subjetividade do sujeito, no que tange ao conceito de alfabetização que,
quando discutido por outras abordagens teóricas que não essa, defendem
uma hegemonia no processo, culpabilizando o sujeito e jamais o sistema.
164
À guisa de conclusão, o estudo versa sobre as influências desses aspectos
para os processos de in/exclusão social com base nos pressupostos da
psicologia histórico-cultural.
A questão do desenvolvimento
Algumas teorias da psicologia tendem a naturalizar o desenvol-
vimento do ser humano prescindindo das relações sociais e culturais.
Esse artigo pretende enveredar pelos pressupostos teóricos da psicologia
histórico-cultural que contrapõe a ideia de um desenvolvimento espon-
tâneo e linear.
Vale dizer que a opção teórica assumida que baliza esse estudo
tem sua origem na concepção metodológica e epistemológica marxiana
conjecturada na lógica dialética, uma vez que Karl Marx, segundo
Leontiev (1978) é o preconizador do socialismo científico, o primeiro a
fornecer um legado teórico que analisa criticamente a natureza social do
homem e do seu desenvolvimento sócio-histórico.
Assim, tal pressuposto entende que o processo de humani-
zação, ou seja, o desenvolvimento humano está diretamente ligado ao
desenvolvimento da cultura e sociedade. Essa conexão só é possível por
meio das relações que excedam a cultura material para transpor aos bens
culturais e sociais, cambiadas pelos sujeitos com outros sujeitos da
mesma espécie. Segundo a concepção metodológica marxiana:
165
relações são objetivas e se expressam na subjetividade dos
indivíduos (SACCOMANI, 2014, p. 46).
166
O homem não está evidentemente subtraído ao campo de
ação das leis biológicas. O que é verdade é que as
modificações biológicas hereditárias não determinam o
desenvolvimento sócio-histórico do homem e da
humanidade; este é doravante movido por outras forças que
não as leis da variação e da hereditariedade biológicas
(LEONTIEV, 1978, p. 264).
167
exercitada pela humanidade que é o trabalho, aquilo que nos oferece
sustento para sobrevivência humana.
Desse modo, os destaques de Leontiev (1978) nos atenta para
entender que:
168
prerrogativa: qual o entendimento do conceito de adolescência na
contemporaneidade?
169
Ao contrário dessa visão hegemônica, advogamos a superação
dessas práticas muito presentes na contemporaneidade e que vem
norteando leis e políticas públicas objetivando garantir a “inclusão”
daqueles que se encontram “fora” dos padrões instituídos como ideais.
Assim, o enfoque dado a questão da adolescência nesse estudo requer
desvelar a concepção de desenvolvimento cristalizada nos discursos, nas
práticas e difundida culturalmente.
Para Coimbra et. al (2005), a forma como a teoria hegemônica
psicológica expressa o entendimento do conceito de adolescência
manifesta interesses próprios, isto é:
170
ser e de estar no mundo, uma natureza intrínseca a essa fase
do desenvolvimento humano. Ao colocarmos uma etiqueta
referendada por leis previamente fixadas e embasadas nos
discursos científico-racionalistas, pode se criar um território
específico e limitado para o jovem, uma identidade que
pretende aprisioná-lo e localizá-lo, dificultando possíveis
movimentos. Ao se reafirmar a homogeneidade nega-se a
multiplicidade e a diferença.
171
uma discussão para entender as interfaces da alfabetização e os incursos
de in/exclusão social para os adolescentes.
As mudanças ocorridas nas últimas décadas deflagram diversos
estudos e pesquisas sobre a temática da alfabetização em nosso país, uma
vez que as avaliações externas ano a ano têm demonstrado que nossos
alunos não têm obtido êxito necessário no processo de aprendizagem
desenvolvido no âmbito escolar.
Diante disso, antes de dar início as discussões sobre as inter-
relações da alfabetização e os processos de in/exclusão social, esse
estudo pretende discorrer uma análise da função da escola à luz da teoria
que embasa esse trabalho.
Nessa ótica teórica, a escola funciona como um lócus
privilegiado para a apropriação do legado cultural deixado pelos nossos
ancestrais, ou seja, aquilo que a humanidade historicamente construiu ao
longo de milhares de anos, os quais estão cristalizados no universo
cultural. Assim, pela importância dada, a escola enquanto instituição de
ensino deve assumir a posição de garantir aos sujeitos que por ela passem
a apropriação dos elementos culturais necessários para o processo de
humanização.
Nas palavras de Saccomani (2014, p. 57), “O homem, como ser
social e, portanto, histórico, necessita se apropriar dos produtos culturais
acumulados pelas gerações precedentes para se humanizar, para tornar-
se plenamente humano”.
Todavia, é importante destacar que nessa tendência teórica, o
processo de humanização não se restringe exclusivamente aos âmbitos
escolares; no entanto, tal concepção advoga que a educação escolar deve
ter como compromisso promover substancialmente a aprendizagem dos
alunos. Conforme dito nos tópicos anteriores, o processo de interação
com outros indivíduos da mesma espécie suscita situações de mediação,
de modo a provocar o desenvolvimento que consequentemente
potencializa a aprendizagem. Deste modo, ao abranger o processo de
humanização, a escola ocupa lugar de destaque, visto que é conferido a
essa instituição a responsabilidade de disponibilizar aos educandos os
conteúdos historicamente produzidos pela humanidade.
172
Uma vez outorgado essa função, há que se valorizar o papel da
escola, pois se ansiamos por uma sociedade mais justa e igualitária temos
na educação escolar uma possibilidade de garantir o acesso aos bens
culturais a todos os alunos e isso inclui principalmente a inserção do
sujeito na cultura escrita. Sabemos que muitas crianças ainda enfrentam
dificuldades nessa inserção, no sentido de não desenvolver os meca-
nismos psicológicos necessários para fazer uso das práticas sociais de
leitura e escrita, ficando então à margem de todos os avanços da
comunidade tecnológica. Conforme destacado por Kleiman (1993);
173
De acordo com Moyses (2001), as crianças apenas possuem
o acesso à escola, mas o direito de todas aprenderem a elas
ainda não foi efetivado. A escola se apresenta, assim,
excludente e fracassada na sua função de ensinar e
proporcionar desenvolvimento e aprendizagem aos
indivíduos.
174
ao indivíduo todas as condições basilares de forma igualitária, procede
com desrespeito ao privá-lo das condições necessárias para sua inserção
no contexto cultural.
Essa postura apresentada nos permite pensar nos dias atuais em
que nos deparamos com adolescentes que vivem as margens do contexto
escolar, tentando garantir sua sobrevivência nas ruas da cidade, inseridos
na condição de excluídos do processo de escolarização e a maior parte
deles analfabetos.
Os resultados apresentados na última avaliação coordenada
pelo Instituto Monte Negro, Indicador de Alfabetismo Funcional
(INAF), no ano de 2011, não são agradáveis. Da população entre 15 a 64
anos, 27% daqueles que realizaram a prova que avaliava as habilidades
de leitura, escrita e conteúdos da educação matemática foram
considerados analfabetos funcionais.
A partir dessa constatação fica evidente que o país no que se
refere ao processo de alfabetização superou algumas lacunas, dentre a
qual destaco a contribuição para retirar a população da situação de
analfabetismo, porém, é preciso nos atentar para a condição da qualidade
que vem sendo oferecida de educação nos âmbitos escolares.
Nesse sentido, penso que não há discordância em considerar
como ideal que a educação dos dias de hoje, exercida no interior das
instituições escolares, tenha como premissa cumprir com a
responsabilidade de alfabetizar todos os alunos plenamente. O descum-
primento dessa função compromete o processo de inclusão social, uma
vez que almejamos que os educandos conquistem os patamares mais
altos no que diz respeito ao processo de humanização. Nessa direção,
Pasqualini (2010, p. 201) destaca que:
175
Assim, do ponto de vista do referencial teórico escolhido, a
educação escolar contribui de maneira significativa para o processo de
aculturamento do ser humano, ou seja, o processo de humanização. Nas
palavras de Martins (2011, p. 348), a definição de cultura na concepção
vigotskiana aponta que:
176
(...) o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e
intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade
que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos
homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um
lado, à identificação dos elementos culturais que precisam
ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que
eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitante, à
descoberta das formas mais adequadas para atingir esse
objetivo.
177
Considerações finais
A guisa de não conclusão, o objetivo desse texto é depreender
algumas reflexões sobre a adolescência, o fracasso escolar e os processos
de alfabetização realizados no interior das instituições escolares, à luz da
psicologia histórico-cultural.
Portanto, coube imprimir em breves linhas as contribuições
oriundas dos autores supracitados. De fato, os destaques realizados para
quaisquer tópicos discutidos requerem um aprofundamento, que
pretendo em outras oportunidades desenvolver. No entanto, como já
descrito nos tópicos que organizam esse texto, a condição humana não
está dada: a criança, ao nascer, dispõe de atributos biológicos necessários
para sua condição humana, porém, não suficientes para o processo de
humanização. Humanizar-se dentro da perspectiva teórica defendida
constitui-se de condições objetivas de educação. O conceito de
adolescente dentro desse contexto, não deve ser entendido como parte
de um processo natural de desenvolvimento. Ao contrário disso, cabe a
educação escolar atender as necessidades educacionais do adolescente,
de modo a criar possibilidades para que sejam desenvolvidas as funções
psíquicas maximamente. Nesse sentido, a educação escolar desponta
como privilegiada para promover esse fenômeno, uma vez que
possibilita a transmissão de conteúdos historicamente produzidos pela
humanidade. À medida que essa transmissão é negada ao educando, dá
origem ao processo de exclusão do indivíduo. Em se tratando de
exclusão social, quando a instituição escolar afirma esse fenômeno,
desencadeia reações desconfortáveis, como conflitos, agressões, fracasso
escolar, entre outros.
Segundo Smolka (1987), a Psicologia Histórico-cultural
defende a natureza social do conhecimento para o desenvolvimento
humano. Portanto, a apropriação da cultura escrita pelo adolescente
altera substancialmente a relação dele com o outro, com o mundo. Para
tanto, essa perspectiva propõe repensar a prática educativa de modo
legitimar as práticas de ensino.
De acordo com essa perspectiva, o professor não pode ser um
mero apoiador ou incentivador do processo de ensino, suas ações devem
178
reverberar práticas de ensinar, ou seja, assegurar modos e estratégias de
apropriação da cultura pelo adolescente.
Assim, há que se reconhecer a função da escola, identificar no
trabalho docente uma ação intencional, que objetiva alçar os patamares
mais altos no que tange ao desenvolvimento do psiquismo do ser
humano, articuladas a potencialidade do adolescente como parte do
processo que prescinde das condições que devem ser oferecidas.
É na articulação dessas ações que contribuímos com o processo
de inclusão social do adolescente e não o contrário.
Referências
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Principais Resultados. Disponível em:
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MATINS, L.M.; RABATINI, V.G.A. Concepção de Cultura em
Vigotski: contribuições para a educação escolar. Rev. Psicol. Polít. [on
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Berlier. – São Paulo: Martins Fontes, 1995 – (Psicologia e Pedagogia).
179
PASQUALINI, J. Contribuições da psicologia histórico-cultural
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e ensino em Vigotski, Leontiev e Elkonin. Dissertação de Mestrado.
Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista
(UNESP), campus Araraquara, 2006.
SACCOMANI, M. A criatividade na arte e na educação escolar: uma
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10. ed. Campinas: Autores Associados, 2008.
SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. Alfabetização como processo
discursivo. 1987. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de
Educação, Universidade de Campinas. 1987.
180
DNA Educação
181
and Reading Group - GELPF, Federal University of Tocantins-UFT /
Professor Sérgio Jacinto Leonor University Campus. The structure of
the work presents our dialogue based on the thinking of Paulo Freire
with the Integral activity of the undergraduate courses at UFT / Campus
Arraias. The history of popular education in the Northeast, in the early
years of the 60s, can only be understood, from a look at the history of
education in Brazil.
Keywords: Experience, Popular Education, Paulo Freire.
Histórica caminhada...
A propaganda republicana enfatizava a importância da escola,
mas a chamada República Velha se caracterizou pelo domínio ideológico
de uma elite agrária que muito pouco fez pela educação, até porque
herdou do Império um espólio nada estimulante.
O projeto de Constituição, enviado ao Congresso, por
exemplo, sugeria ao Parlamento “animar no país o desenvolvimento da educação
pública”, mas a esta tendência prevaleceu a doutrina do velho Ato
Adicional de 1834 que responsabilizava os Estados pela manutenção dos
seus sistemas educativos.
O país, que se tornou uma república federativa, passou a
conviver com uma situação, no mínimo, contraditória: mais de dois
terços dos seus habitantes não eram cidadãos habilitados para escolher
seus governantes, porquanto eram analfabetos e estes, pela Constituição,
não tinham o direito ao voto, daí o surgimento de campanhas de
alfabetização. Somente na década de 20, quando é fundada a Associação
Brasileira de Educação – ABE, observamos que a educação dos adultos começa
a assumir importância (...), embora englobada no problema mais geral da difusão do
ensino elementar4. O Brasil vivia as transformações provocadas pela
Primeira Guerra Mundial e começava a se reconhecer, encontrando na
elite intelectual, burguesa, elementos que desencadeariam uma luta
intensa pela expansão do ensino elementar. A Escola Nova batia às
portas da nação.
182
A década de 30 foi permeada pelo Governo Vargas e a
esperança de novos tempos. Os ideais escolanovistas ganharam espaço e
o poder estabelecido se encarregou de uma reforma educacional,
antecipando-se aos gritos dos inovadores que, mais tarde, publicariam
um manifesto sobre a necessidade de mudanças no processo educativo.
A Constituição de 1934, reflexo de toda uma efervescência ideológica,
pela primeira vez, traria um capítulo sobre a questão.
Em 1937, o sonho democrático foi interrompido e o país viveu
o pesadelo de uma ditadura. Nova Constituição passou a reger os
destinos do povo brasileiro e, consequentemente, foram implantadas
outras regras para o processo educativo: reforma e implantação do
ensino profissionalizante para os mais carentes.
A queda de Vargas determinou um período de redemo-
cratização e o surgimento de governos populistas. O próprio Vargas
voltaria eleito pelo povo. O seu suicídio, marco na vida brasileira,
originou novas condições políticas e possibilitou uma participação maior
do povo nos debates sobre a realidade do país. Também este era um
novo momento da vida nacional, resultante das mudanças provocadas
pela guerra ideológica, disputas entre os interesses dos Estados Unidos e
os da União Soviética, grandes líderes mundiais. Eram as consequências
da Segunda Guerra.
O Brasil crescera e Juscelino Kubitschek, eleito presidente, tido
como herdeiro da política implementada por Vargas, elaborara um Plano
de Metas que tinha como um dos seus objetivos a implantação de uma
indústria de base, portanto, um setor privilegiado, sobretudo a de bens
de consumo duráveis e de bens intermediários. Tinha-se a pretensão de
construir “50 anos em 5”. Convém lembrar que Juscelino pertencia a um
partido cujas bases eram bem sólidas no Nordeste, o Partido Social
Democrático – PSD, que, segundo Celina A. P. Moreira FRANCO, foi
um partido das oligarquias, foi também da oligarquia modernizante5. O
Plano de Metas, elaborado pela equipe do governo, tinha grandes
183
ambições e para tal foi necessário a entrada, em grande quantidade, de
capital estrangeiro. Deste modo
6 Ibid., p. 203.
184
O II Congresso Nacional de Educação de Adultos, 1958, foi
um divisor de águas. Ali se manifestaram forças e ideias que evidenciaram
uma clara luta política e ideológica, própria daquele instante. Moacir
Gadotti (2001, p. 123), ao referir-se a este momento da história da
educação brasileira, nos diz que
185
Corbisier, sugeridas por suas leituras dos trabalhos de G. Balandier e J. P. Sartre:
‘tudo é colonial na colônia’.7
Aqui, entra em cena Paulo Freire, ao mesmo tempo em que vão
se estruturando as bases teóricas e os princípios fundamentais do sistema
de ensino proposto por este educador, que dominaria o pensamento da
pedagogia da libertação, na década de 60, bandeira de uma educação
popular que objetivava levar, à vitória, homens excluídos da vida política
brasileira e os faria co-participantes de um processo educativo que tinha
como elemento inovador o fato de considerar a realidade específica
daquele homem, daí a educação com ele e não para ele.
Pensamento de Paulo Freire8
Moacir Gadotti (2002), em trabalho publicado pela revista
ABCeducatio, mostra o quanto Paulo Freire se distanciava do tecnicismo
e, ao mesmo tempo, lembra o fato de que ele, Paulo Freire, não entendia
sua teoria do conhecimento como uma simples metodologia. Menciona,
ainda, que a práxis de Paulo Freire está ligada sobretudo a quatro intuições9
originais. No estudo em questão, Gadotti (2002)
7 TOLEDO, Caio Navarro de. ISEB: fábrica de ideologias. 2. Ed. São Paulo, Ática, 1982, p. 68.
8Na obra de Paulo Freire destaca-se um aspecto fundamental: coerência com seus propósitos,
na reafirmação de princípios que o marcaram por toda vida. Entre os princípios, que
permanecem constantes na sua obra, destacam-se: a preocupação com a ética e seu
compromisso com os “condenados da Terra” (Pedagogia do oprimido), com os “excluídos”
(Pedagogia da autonomia), tendo sempre a educação como instrumento de libertação, aspecto
já identificado no seu primeiro livro, Educação e atualidade brasileira. Entre tantas, duas outras
características podem ser evidenciadas: a retomada de temas anteriormente enfocados (em
Pedagogia da esperança retoma questões levantadas em Pedagogia do oprimido) e sua prática
dialógica, respeitando sempre aqueles que não concordavam com ele. Homem do seu tempo,
“sujeito da história”, Paulo procurou estudar, enfaticamente, a problemática educacional na sua
diversidade e, na visão do professor Ernani Maria Fiori (prefácio da 22. ed. de Pedagogia do
oprimido), “é um pensador comprometido com a vida: não pensa idéias, pensa a existência. É
também educador: existência seu pensamento numa pedagogia em que o esforço totalizador da
práxis humana busca, na interioridade desta, retotalizar-se como ‘prática da liberdade’.
9 O grifo é do autor.
186
reconhece que o ato de conhecer e de pensar estão
diretamente ligados à relação com o outro.(...) 3ª A noção de
ciência aberta às necessidades populares. Seu método
(...) não parte de categorias abstratas, mas dessas neces-
sidades das pessoas, capturadas nas suas próprias expressões
(valor da oralidade) e analisadas por ambos, educador e
educando. 4ª O planejamento comunitário, partici-
pativo, a gestão democrática, a pesquisa participante10.
10 GADOTTI, Moacir. Aprender, ensinar: um olhar sobre Paulo Freire. ABCeducatio – a revista
da educação. São Paulo, ano 3, n. 14, p. 17 / 18, 2002.
11 Artigo publicado em Tempo Brasileiro, revista de cultura, ano IV / agosto-outubro 1966 /
número 11/12.
187
nenhuma mobilização popular (...) (BARROS, 1990, p. 58)12. A renúncia ao
cargo viria em agosto de 1961. O que se seguiu foi uma intensa agitação
política, culminando com a implantação do parlamentarismo, com João
Goulart na presidência.
12 BARROS, Edgard Luiz de. O Brasil de 1945 a 1964. São Paulo: Contexto, 1990. –
(Repensando a história)
13 DULLES, John W.F.. Castelo Branco: o caminho para a presidência. Trad. R. Magalhães
188
Pensei a princípio que era um triste privilégio desta área
onde eu vivo – a área dos mangues. Depois verifiquei que,
no cenário da fome do Nordeste, os mangues eram uma
verdadeira terra da promissão, que atraia homens vindos de
outras áreas de mais fome ainda – das áreas da seca e da
monocultura da cana-de-açúcar, onde a indústria açucareira
esmagava, com a mesma indiferença, a cana e o homem,
reduzindo tudo a bagaço15.
189
educação popular e dos movimentos populares de cultura do Nordeste
e, posteriormente, do Brasil.
16 SCOCUGLIA, Afonso Celso. A história das idéias de Paulo Freire e a atual crise de para-
digmas. João Pessoa: Ed. Universitária / UFPB, 1999 (2ª edição).
17 CONNEL, R.W. Pobreza e educação, in. Pedagogia da exclusão: crítica ao neoliberalismo em
educação. Michael W. Apple et al.; Pablo Gentile (org.). Petrópolis: Vozes, 1995. (Coleção
estudos culturais em educação)
18 PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popular e educação de adultos. São Paulo: Edições Loyola,
p.194.
19 SCOCUGLIA, Afonso Celso. Educação Popular: do sistema Paulo Freire aos IPMs da ditadura.
João Pessoa, Editora Universitária / UFPB; São Paulo, Cortez; Instituto Paulo Freire, 2000, p.
24.
190
cidadãos, o que dava ao poder um caráter de representatividade parcial e
aos analfabetos, porque pobres, ou vice-versa, negava o direito de
fazerem uma leitura do seu mundo e, consequentemente, transformá-los,
como sujeitos históricos conscientes e organizados. No caso do
Nordeste, o problema assume uma gravidade maior, porquanto mais da
metade da população era excluída do processo de decisões políticas.
Paulo Freire sentiu o quanto era fundamental, para essa população de
excluídos, o conhecimento, mais do que isto, a politicidade do
conhecimento, daí o seu construtivismo crítico.
Em Educação: um tesouro a descobrir (relatório para a
UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século
XXI), Jacques Delors (2001, p. 98), falando sobre a descoberta do outro, em
aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros, capítulo referente ao que
denomina de quatro pilares da educação, faz referência à questão do
método nos dizendo que
191
rigorosos, uma ruptura, mas uma superação. A superação e
não a ruptura se dá na medida em que a curiosidade ingênua,
sem deixar de ser curiosidade, pelo contrário, continuando
a ser curiosidade, se criticiza. Ao criticizar-se, tornando-se
então, permito-me repetir, curiosidade epistemológica,
metodicamente ‘rigorizando-se’ na sua aproximação ao
objeto, conota seus achados de maior exatidão.
20 FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.22 eds. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1993, p. 79/80.
192
Pelo contrário, a revolução, que é feita pelos homens, o é
em nome de sua humanização. Que leva os revolucionários
a aderirem aos oprimidos, senão a condição desumanizada
em que se acham estes?
21 LASTÓRIA, Luiz A. Calmon Nabuco; COSTA, Belarmino César Guimarães da; PUCCI, Bruno
(orgs.). Teoria crítica, ética e educação. Piracicaba / Campinas, Editora UNIMEP / Editora
Autores Associados, 2001, p. 98.
22 FREIRE, Paulo; GUIMARÃES, Sérgio. Aprendendo com a própria história. Rio de Janeiro, Paz
193
ou venha a ter. Na sua visão, não há cultura nem história imóveis, como não
há cultura nem história sem risco, assumido ou não porque acredita na importância
de uma educação que, em lugar de procurar negar o risco, estimule mulheres e homens
a assumi-lo, mesmo porque se a minha não é uma presença neutra na história,
devo assumir tão criticamente quanto possível sua criticidade.25 Em Educação
como prática da liberdade, Paulo Freire mostra, por exemplo, que não
há educação fora das sociedades humanas e não há homem no vazio, o que significa
dizer que o processo educativo, inevitavelmente, deve estar associado à
vida e não pode ser realizado sem um processo de comunicação com o
meio, com a situação concreta de vida do homem, ajudando-o, portanto,
a encarnar, não como um ator qualquer, mas como um agente promotor
de transformações. É aqui que podemos perceber a importância de sua
inserção nos movimentos populares de educação do Nordeste, no início
da década de 60. Não só como ideólogo, mas, sobretudo como educador
que entende ser o processo educativo não um monólogo, mas um
diálogo, numa cumplicidade educador-educando. Ambos têm uma
história, uma procedência, uma cultura, uma experiência, simplesmente
porque ambos vivem e necessitam, para libertar-se, fazer uma leitura do
mundo.
Afonso Celso Scocuglia, no seu livro “A história de Paulo
Freire e a atual crise de paradigmas”, encerra a primeira parte do seu
trabalho, fazendo uma análise do pensamento freireano, quanto a duas
questões: o político-pedagógico como eixo central e o pensamento
político-pedagógico, propriamente dito. Na visão do analista (1999, p.
89), para Paulo Freire, a politicidade do ato educativo é concomitante à
educabilidade do ato político. A educação é (sempre) política e a
atividade política educa (contém uma pedagogia). Mais adiante (p.91),
Scocuglia completa, dizendo: ‘a ligação político-pedagógica é tão
intensa que quando se desvela a especificidade de uma delas, ‘esta
especificidade não inibe a presença da outra’. Continuando na sua
análise do pensamento político-pedagógico de Paulo Freire, Scocuglia
(p.108) diz que
194
Não podemos deixar de lembrar que um dos alicerces
indeléveis da prática e da teoria de Paulo Freire é a questão
da democracia: liberal, social, socialista ou... mas, sempre,
democracia. Se há uma questão política central que percorre
o discurso freireano, em todos os diversos e diferentes
momentos, esta é a questão da educação e da pedagogia
enquanto prática e teoria contribuintes da ‘radicalidade
democrática’. Mesmo quando se evidenciaram equívocos do
populismo de ‘esquerda’ e do nacionalismo-
desenvolvimentista dos 1950 e dos 1960. Importante
registrar que, mesmo aproximando dos marxismos, de
vertentes que não-raramente englobam posições autoritá-
rias, Paulo Freire nunca admitiu o autoritarismo, a ditadura,
nem ‘por motivos justificáveis’ como advogaram alguns
setores de esquerda.
195
não foi tomado como questão prioritária para a nação que acabara de
tornar-se independente do domínio português. Caminhamos por todo
século XIX distante das conquistas e idéias pedagógicas que se faziam
presentes no mundo europeu. Escola para a formação de professores é
algo que só na segunda metade desse século o Brasil vai ter. Claro, se
escola era artigo de luxo e escola pública era fruta raríssima, por quê da
escola para formar professores?
Quando os brasileiros adentram ao mundo republicano, tem-se
a impressão de que, finalmente, o poder constituído pensaria em
educação. Rebate falso. Se não houve mudanças nas estruturas políticas,
sociais, econômicas e culturais do país, por que encontrá-las na
educação?
Só na década de 20, diante das transformações patrocinadas
pelo pós-guerra, é que vamos vislumbrar uma luta pela universalização
do ensino. A década seguinte foi de avanços e recuos ideológicos, fato
que também caracterizou o processo educativo.
Com Vargas, implanta-se a ideia da educação profissionalizante
para os mais carentes. Com os chamados governos populistas, verifica-se
uma guerra constante entre os chamados defensores da escola pública e
aqueles que desfraldavam a bandeira da escola particular, mais
precisamente da escola confessional católica. Os debates em torno da
aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN,
estiveram, por 13 anos, permeados por conflitos ideológicos ferrenhos,
envolvendo os dois grupos. E esta questão marcou todo o período,
inclusive o II Congresso Nacional de Educação de Adultos, em 1958,
como anteriormente nos referimos.
Por outro lado, no Brasil, povo tem um sentido pejorativo, até
porque não há soberania popular, mas manipulação das camadas sociais
mais humildes. E é aqui que está o povo, na visão do próprio povo. Um
político, que vai até ao povo, é um político popular, mas também um
homem simples que é capaz de, por humildade, descer até ao povo. Escutar
a voz do povo é uma concessão e não um exercício de democracia.
Instituiu-se, inclusive, uma subdivisão do povo, criou-se o povão. Povão é
o povo do povo. A exclusão dentro da exclusão.
196
Ora se a educação foi pautada como um bem supérfluo, se
povo é aquele que vive à margem da nação, juntando os dois juízos,
educação para o povo não poderia resultar em algo muito conceituado e,
nem tão pouco, querido ou fundamental para a vida do país. Se falarmos
em cultura popular, logo nos remeteremos a algo inferior, coisa do
povão, interessante e até excêntrico, mas não, necessariamente,
valorizada, até porque é desprovida de qualidade. É o caso das
manifestações folclóricas, raizes da cultura brasileira. O mesmo se diz da
música popular brasileira. Popular é povo. O Brasil já teve até presidente,
via ditadura militar, que disse não gostar do cheiro do povo. E o povo
repete tal citação, sorrindo.
A palavra popular até que tem uma certa simpatia, embora povo
não tenha a mesma sorte. Popular pode traduzir-se, por exemplo, como
simpático ao povo, algo como querido pelo povo, por ter-se dignado
chegar até ele. Mas quando o popular começa a ser colocado junto da
palavra educação, então passa a constatar a idéia de dominação, de
dependência, de paternalismo, de restrição.26Estudando o problema,
Celso Beisiegel27 diz que
197
(...)acha-se que há uma educação do povo, uma educação
popular, a qual só pode ser de adultos e de adultos
marginalizados, porque da maneira que faz a educação de
adultos só pode ser para pessoas realmente marginalizadas. 28
28Ibid., p.165.
29FLEURI, Reinaldo Matias. Extensão universitária em educação popular. Educação e Filo-
sofia. Uberlândia, v. 3, n. 5 e 6, p. 59 / 73.
198
A diversidade de movimentos que atuam no campo da
educação junto às camadas populares tem causado grande
dificuldade para a conceituação de ‘educação popular’.(...)
Entretanto, esta multiplicidade de práticas educativas junto
às camadas populares se polarizam politicamente em duas
grandes correntes contrárias. Por um lado, as iniciativas
patrocinadas pelo Estado, para estender os benefícios da
educação escolar, especialmente aos adultos dela excluídos
prematuramente. Sendo iniciativas promovidas pelas classes
dominantes para consolidar seu controle ideológico sobre as
classes subalternas, tendem a preservar a estrutura social
capitalista. Por outro lado, os movimentos de educação
popular patrocinados por grupos e instituições não-
governamentais, com a perspectiva de apoiar os movi-
mentos populares em sua tensão por superar o sistema
capitalista e construir o capitalismo.
E este foi o grande problema: deixar de ser massa e passar a ser povo,
visto aqui não na concepção do senso comum, mas na visão do
pensamento freireano. Se, hipoteticamente, metade dos 59,8% de
30 Aprendendo com a própria história. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987, p. 26 / 27.
199
analfabetos nordestinos fossem alfabetizados, por obra e graça de uns
poucos sonhadores, e viessem a fazer parte do seleto grupo de eleitores,
forçosamente se alteraria toda a estrutura, secularmente estabelecida,
provocando modificações não só quanto às relações entre Estado e sociedade,
mas também as relações entre trabalho e capital e, consequentemente (ou em
consequência de), o surgimento de
200
metodologia reflexiva (o problema do método é ainda aqui
mais importante que o conteúdo em si), vez que a pura
alfabetização ou o puro treinamento nada acrescentam ao
estado de indolência cultural das massas marginalizadas33.
33LIMA, Lauro de Oliveira. Educação e História: visão prospectiva. Paz e Terra. Rio de Janeiro,
ano I, n.2, setembro, 1966, p. 142.
201
Dois outros fatores vinham adicionar-se ao perigo iminente:
primeiro, um externo, a epidemia socializante que vinha das Antilhas, o
grito anti-imperialista de Cuba, com Fidel Castro - lembremo-nos de que,
naquele momento histórico, os Estados Unidos transferiram, para o
Brasil, milhares de técnicos, tentando impedir a disseminação de uma
possível praga revolucionária, sob patrocínio cubano - além disso, havia,
ainda, um outro tufão, também socialista, desta vez asiático, com a China
de Mao Tse-tung – em ambos os casos, massa que passou a ser povo;
segundo, um interno, a Igreja Católica, velha aliada da casa grande, agora,
impulsionada pelos ares renovadores trazidos pelo Concílio Ecumênico
Vaticano II, gerara setores que se aliariam ao esforço de educação
popular – conscientização era a palavra-chave - também evidenciando o
binômio educação/política, quer através da Ação Católica (JAC, JEC, JUC,
JOC), quer através de programas radiofônicos, quer do Movimento de
Educação de Base, MEB. A Paraíba gera, também, sua Campanha de
Educação Popular, CEPLAR. Em todos estes movimentos, o dedo do
pensamento político-pedagógico freireano.
O homem nordestino, por outro lado, tem uma história de
lutas, conscientes ou inconscientes, contra o poder dominante local. De
Zumbi, no Quilombo de Palmares, à Revolta dos Alfaiates, na Bahia,
passando pela Confederação do Equador, onde pontificou, imponente,
a liderança de Frei Caneca, chegando até ao movimento messiânico de
Antônio Conselheiro, em Canudos, e ao chamado banditismo social,
onde reinou a figura ímpar de Lampião, o Nordeste também viu a
deflagração da Intentona Comunista de 1935. E a classe dominante não
esqueceu nada disto, sobretudo porque ali, no início da década de 60,
brotava, dos canaviais, as Ligas Camponesas, lideradas por Francisco
Julião e, das cidades, experiências pedagógicas, culturais e político-
educativas, destinadas a provocar vitórias de uma gente tradicionalmente
vencida. É claro, não poderiam os setores dominantes, diante de avanços
culturais, educativos e políticos, vitória dos excluídos, “pagarem pra ver”.
Por via das dúvidas, mais uma vez, “chamaram a Polícia”. Tudo isto
porque, segundo Scocuglia (2000, p. 187),
202
Em nenhuma outra oportunidade, movimentos de cultura e
educação popular - oriundos de setores médios e com
predominância de estudantes e professores universitários -
mesmo quando incluídos no rol populista, foram ‘tão
perigosos’, como no nosso passado recente. Em quais
outras circunstâncias os grupos (locais-regionais)
conservadores encrustados no poder se sentiram tão
ameaçados pela educação/cultura política dos seus
trabalhadores e dos seus possíveis eleitores alfabetizados e
conscientizados?
Algumas Considerações
No início da década de 60, buscava-se a continuidade do
processo de industrialização implantado por Juscelino Kubitschek.
Entretanto, algumas necessidades eram urgentes: maquinarias, ampliação
do mercado para os bens de consumo, mão-de-obra mais qualificada e
superação dos desequilíbrios provocados pelo desenvolvimento interno
entre regiões e setores econômicos (LOPES, 1980, p. 105). Entretanto,
o Brasil também precisava de uma política de reformas estruturais que
permitissem a inclusão das massas populares num padrão de consumo (FREITAG,
1980, p. 73). Isto implicava na mudança do modelo econômico, causador
de uma extrema concentração de renda. Nenhuma região exemplificava
melhor o problema do que o Nordeste.
Ao estudar a educação popular no Nordeste, no início dos anos
60, temos uma noção do papel de Paulo Freire e de sua teoria do
conhecimento, aplicado à educação, dentro do processo político,
econômico e social vigente entre os nordestinos. Historicamente, a
região foi palco de lutas históricas libertárias, de disputas políticas e, ao
mesmo tempo, controle de setores dominantes, ligados ao latifúndio e à
exploração de um povo que registrava 59,8% de analfabetos. Alfabetizar
estes homens excluídos da vida nacional, e nordestina em particular, até
porque não tinham direito ao voto, representou para os grupos
dominantes um perigo inominável, porquanto o pensamento freireano,
norteador dos movimentos de alfabetização, ia além do simples aprender
a assinar o nome, mas incluía, sobretudo, uma conscientização,
objetivando construir, num processo de autodescobrimento e
autoconstrução, um homem humanizado e participante da história,
203
sujeito e não objeto, compromissado com a mudança. Permitir que isto
acontecesse era o mesmo que avalizar uma revolução, porque
determinaria uma reviravolta social, política e econômica, a vitória dos
excluídos. Urgia vencê-los, antes que se processasse uma catástrofe
política, via educação, possibilitando à massa transformar-se em povo. A
decisão dos setores dominantes materializou-se num golpe de estado,
patrocinado por civis e militares, em 1964. E todo projeto de educação
popular foi riscado impiedosamente do mapa, para dar lugar a um outro,
a Cruzada ABC, oficializada em 1965, resultado de missões protestantes
americanas, instaladas no Brasil, principalmente após a Segunda Guerra
Mundial, e sustentada por um acordo entre a USAID, o Colégio Agnes
Erskine, do Recife, e a SUDENE, portanto, com participação do
governo brasileiro. Montou-se um esquema para atender às necessidades
ideológicas dos golpistas e seus colaboradores internacionais.
O Nordeste, de hoje, não parece ter mudado seu panorama
político, econômico e social. Continua a ser vítima de um modelo
excludente e concentrador de renda, onde se verifica o domínio dos
antigos senhores de engenhos ou, dos coronéis. O clientelismo político ainda é a
tônica, bem como a manipulação eleitoral. No sertão, onde a chamada
indústria da seca se estabeleceu, a política paliativa do assistencialismo
controla homens objetos, ideologicamente, incapazes de reagir. De
joelhos, rezam, esperando pela ajuda de Deus e do governo. No subsolo,
um manancial incalculável de água, não aproveitável. Ao lado desse
submundo, há esforços tecnológicos aplicados à produção e um exemplo
disto é o cultivo de uvas, no Vale do São Francisco. Mas isto não muda
a sorte de homens que se quis, um dia, torná-los leitores do mundo.
Vitoriosos os excluídos, porque transformados em sujeitos da
história, foram vencidos pela arbitrariedade dos setores dominantes. Mas
permanecem os ideais porquanto se a mudança faz parte necessária da
experiência cultural, fora da qual não somos, o que se impõe a nós é tentar entendê-la
na ou nas suas razões de ser (FREIRE, 2000, p.31), mesmo porque não posso,
por isso, cruzar os braços fatalistamente diante da miséria, esvaziando, desta maneira,
minha responsabilidade no discurso cínico e ‘morno’, que fala na impossibilidade de
mudar porque a realidade é mesmo assim (FREIRE, 2000, p. 79).
204
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206
DNA Educação
207
Introdução
Este texto tem a intenção promover um diálogo entre a
Educação de Jovens e Adultos (EJA) e Educação do Campo, por meio
da sua Organização do Trabalho Pedagógico (OTP), tendo como
sujeitos jovens entre 15-24 anos. Tentamos elucidar questões para
debates e cada uma das questões transforma-se num desafio a prática
pedagógica dos professores dessa modalidade de ensino.
Nosso objetivo é analisar a condição juvenil e camponesa como
elemento na prática pedagógica de uma turma de Educação de Jovens e
Adultos. Após discussão teórica das categorias analisadas relacionamos
a uma experiência em EJA. A partir da narrativa de professores e da
observação do cotidiano da experiência, daí identificar os significados e
sentidos atribuídos pelos professores aos processos de escolarização na
EJA de Jovens camponeses.
Diante desse contexto, fazemos o seguinte questionamento:
Como a condição juvenil e camponesa é levada em consideração na
prática pedagógica dos professores de uma turma de Educação de Jovens
e Adultos? Na busca incessante pelas respostas da questão lançada
recorremos aos estudos empreendidos por Arroyo (2012), Brunel (2004),
Silva (2010), entre outros.
Este estudo encontra-se estruturado em quatro partes, a
primeira tivemos o interesse de introduzir todo o panorama da temática.
Em seguida, buscamos definir o chão metodológico a qual o texto se
reportou e os instrumentos utilizados na pesquisa. No terceiro momento
procuramos analisar o que falam os documentos oficiais, os sujeitos e a
literatura específica, por fim as considerações finais.
Os principais resultados apontam para a necessidade de maior
articulação pedagógica na proposta; carência de formação professores na
própria unidade escolar; aproximação da proposta de EJA a proposta de
Educação do Campo, a partir do cotidiano e das experiências que os
jovens alunos trazem para escola.
208
científico, que busquem entender outras experiências em
EJA.
Fundamentos metodológicos
Nem sempre a pesquisa cientifica foi o método utilizado pelo
homem, para responder as questões relativas ao seu dia-a-dia. Por
séculos, estas explicações eram, muitas vezes, determinadas por outras
formas de conhecimento. Segundo Alcoforado (2016, p.01) com o
Método científico o homem passou a buscar explicações mais aceitáveis,
por meio da razão.
Ao se propor enveredar pelos caminhos da pesquisa é preciso
evidenciar os fios metodológicos que orientam nosso olhar, embasados
nos estudos de Sarmento (2009) assumimos a abordagem qualitativa
como ponto de partida da investigação, por se pautar na busca da
interpretação e na compreensão da realidade. Nosso foco de estudo são
os processos vivenciados pelos professores e pelos jovens camponeses
da comunidade investigada, procuramos observar os sentidos e os
modos de produção de conhecimento capaz de responder à necessidade
de compreender em profundidade os significados da escolarização para
estes sujeitos.
O procedimento técnico adotado foi o da pesquisa participante,
pois, Gil (2017, p.56) afirma que a pesquisa participante ocorre pela
interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas,
envolvendo posições valorativas. Neste estudo, utilizamos duas técnicas
de coleta de informação a observação participante e a entrevista
semiestruturada.
Marconi e Lakatos (2003, p. 79) afirmam que estes
instrumentos ajudam a obter provas a respeito de objetivos e orientam
nosso contato direto com a realidade. Contudo, a presença do
pesquisador provoca alterações na realidade, diante disto, aplicamos uma
entrevista semiestruturada, pois de acordo com Gil (2017), trata-se de
uma técnica para a obtenção de informações mais precisas.
Os sujeitos da investigação foram os professores da EMDCMS
que atuam com a turma da EJA que foram observados em sua mediação
didática e entrevistados, de modo que entendêssemos os sentido e
209
significados da modalidade EJA para Escola. Durante as observações,
também observamos e interpretamos o cotidiano dos alunos
matriculados na classe de EJA.
Organização do trabalho pedagógico na EJA: Questões para
debate
A Educação de Jovens de Adultos (EJA) é uma modalidade de
ensino da educação básica, busca garantir o direito de aprendizagem ao
longo da vida, defendido pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) através das Conferências
Internacionais de Educação de Adultos (CONFITEAs) da qual o Brasil
enquanto estado-membro é signatário.
Junior e Santos (2017, p.22) em seus estudos asseguram existir
um vasto amparo legal, começando pela Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988), entendida como direito
social a ser garantida pelo Estado “para todos aqueles que não tiveram
acesso na idade própria”. Regulamentada pela Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394/96, e organizada pelas
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos.
A EJA é integrante do mínimo existencial, ou seja, núcleo
essencial dos direitos fundamentais, com função de equalização,
qualificação e a reparação ao analfabetismo resultante da história
excludente do nosso país. Ainda os autores nos dizem que “[...] é preciso
garantir não apenas o acesso, a permanência e a conclusão dos estudos
no nível da educação básica, mas, também, as condições para continuar
os estudos em outros níveis”. (Junior e Santos 2017, p.24).
Ao se propor discutir OTP numa turma de Educação de Jovens
e Adultos percebemos o quanto os sujeitos da EJA possuem um
percurso escolar diferenciado, que culminam em evasão escolar,
resultado de um processo excludente. Segundo a CRFB/1988, artigo
208, inciso VII, parágrafo 1º, a educação é um direito público subjetivo,
deve ser reclamada por seus beneficiários.
A EJA configura-se como um direito, uma política pública, que
busca romper concepções arcaicas de EJA e superar seu caráter
reparador, afirmando a presença de “Outros Sujeitos” e suas diferenças
210
socioculturais. Ao pensar os sujeitos, um fato emerge: a juvenilização,
segundo o Ministério da Educação – MEC (2010) houve um aumento
significativo de jovens entre 15-24 anos na EJA. Desse fenômeno
emerge as preocupações estimulando significativos debates. (COSTA,
2009, p.02).
Para estabelecer um diálogo profícuo entre a condição juvenil e
a EJA precisamos definir o ser Jovem, o jovem aluno, a quem se destina
a prática pedagógica, não sendo este o ponto final do ato educativo.
Juventude trata-se de uma categoria sociológica, representada pelo
vínculo entre indivíduos de uma mesma geração, que formam um
segmento social específico.
Ao analisar o conceito de “juventudes” como prefere Silva
(2010), busca entender os sentidos e significados do fenômeno juvenil-
zação e/ou rejuvenescimento da EJA a partir das vozes dos sujeitos, e
entende como condição ‘sine qua non’ a discussão de temas sociais que
permeiam a condição juvenil. E, estes devem ser um aspecto importante
no currículo da EJA.
Ainda sobre a presença marcante de jovens em classes de EJA,
os estudos empreendidos por Brunel (2004), aponta que este é um
fenômeno dos anos de 1990, visto que historicamente a EJA foi dirigida
mais ao público adulto do que ao público jovem. Apontando diversos
fatores sociais, políticos, pedagógicos e históricos, assim os estudos
apontam que:
211
existência do fenômeno – rejuvenescimento, juvenilização – exige um
novo olhar sobre essa modalidade de ensino.
Este retorno requer uma organização pedagógica específica
diferenciada, que atendam estas expectativas. Martins (2008), nos ajuda
a compreender os elementos que constituem a organização do trabalho
pedagógico específica nas escolas e na educação do campo, contudo não
é somente a adoção de algumas práticas educativas que garantem a
consolidação da educação do campo.
Corroborando com estas ideias, Moura (2005), assegura que
pensar a organização do trabalho pedagógico, nas escolas do campo
perpassa primeiro pela dívida que a escola tem para com a agricultura, a
identidade do campo e o desenvolvimento, dessa forma, “pensar uma
Proposta Pedagógica diferente precisa enfrentar essa questão logo de
começo”. (MOURA, 2005, p.22)
Para tanto é necessário mexer não apenas nas OTP, mas
também no eixo epistemológico, mexer com a filosofia. Neste estudo,
suscitamos questões para debates que apontem caminhos para esta
direção, atividades que proporcione uma releitura das situações
vivenciadas e oportunidade de novas experiências, pois estimula a
curiosidade, aguça os sentidos e possibilita confrontar teoria e prática.
O nosso problema surgiu em 2017, com a implantação da EJA
numa Escola Municipal do Campo do interior da Bahia. Esta
movimentação institucional expôs um fenômeno contemporâneo pouco
debatido, a juvenilização da EJA, a priori destinadas a outro público,
sobre isto, Silva (2010, p.139) assevera que,
212
Daí à necessidade de vivenciar na escola processos didático-
pedagógicos contextualizados, longe das adaptações do ensino dito
“regular”, que outrora os mesmos abandonaram ou tiveram experiências
de insucesso, e repetências, e outros fatores que levam a negação do
direito como: ausência da escola próxima; a impossibilidade de conciliar
a escola com o trabalho, e outros condicionantes.
No entendimento de Silva (2010), a entrada desses jovens
converte-se em uma das questões para debate sobre a modalidade de
ensino EJA, pois, as demandas apresentadas por esses sujeitos tão
diferentes dos adultos, sobretudo no que se refere à especificidade
cultural e identitária destes que preenchem os espaços de EJA.
Já na perspectiva da Educação do Campo a EJA assume o
caráter emancipador, segundo Araújo (2012, p. 251) é “[...] fruto das lutas
camponesas para assegurar aos trabalhadores do campo o acesso à
educação”. Já que, os mesmos foram alijados do processo de escolari-
zação, por motivos diversos, e também por múltiplas motivações
retornam ao espaço escolar, creditando a este a premissa da mobilidade
social, de superação de desafios e dificuldades.
É por isso, que o autor busca romper concepções arcaicas de,
213
produzidos pela humanidade, os estudos de Arroyo (2012), no faz pensar
que estas outras pedagogias, contribuem para que a EJA, não se torne
um projeto de educação popular jogado à margem.
Resultados: análise das informações encontradas
O nosso foco de estudo é analisar a condição juvenil e
camponesa como elemento na prática pedagógica de uma turma de
Educação de Jovens e Adultos, assim como os processos vivenciados
pelos sujeitos e o modo de produção de conhecimento, a partir do
fenômeno educativo, cabendo ao pesquisador decifrar o significado da
ação humana, e não apenas descrever os comportamentos.
Dos professores da classe de EJA, 80% já trabalharam na
modalidade de ensino, contudo na entrevista 90% destes revelaram que
o público ao qual já estavam acostumados era sumariamente de adultos,
em especial trabalhadores, a estética de uma turma de EJA com 80% de
jovens, revela para os profissionais a necessidade de uma formação
continuada de professores, para a preparação dos programas e até
momentos específicos com a coordenação da escola, para tratar de
assuntos específicos da classe.
No que concerne à formação inicial 50% dos docentes possuem
graduação e pós-graduação na área específica, 30% são e 20% possui
outra graduação, contudo com vasta experiência em EJA, como afirma
o professor Rafael:
214
A formação a qual o professor se refere, é a apontada nos
estudos de Silva (2010, p.59), pois estes novos sujeitos trazem consigo
novas “culturas” e novos “jeitos”, o que requer uma formação ampla que
pense o sujeito de forma global, na qual as escolas recebam estes sujeitos,
“não com uma visão compensatória e de um tempo perdido, mas incluir
uma proposta educativa condizente com o ciclo de vida e as experiências
sociais e culturais dos sujeitos que delas fazem parte”.
A maioria dos docentes entende importância da EJA, contudo
em virtude dos índices de evasão, afirma que a continuidade da turma de
EJA deve ser repensada. Ao analisar a caderneta de frequência da turma,
no ano anterior 2017, tivemos segundo informações da escola um índice
de mais de 60% de evasão da turma.
Já neste ano de 2018, encontramos 38 matriculados, apenas 3%
de evasão na segunda etapa da turma. Quando questionado sobre o
motivo dessa mudança significativa sobre os números de evasão, o
professor Rafael, que é estudante de uma pós-graduação em uma
Universidade pública, e investiga esta mesma turma, nos respondeu que,
215
CONFITEAs na qual a EJA é tomada como espaço de aprendizagem ao
longo da vida.
Entre os motivos de frequência irregular, no ano anterior,
apontou-se o trabalho como sendo o maior motivo, as atividades mais
comuns na região são as atividades ligadas à agricultura e a pecuária de
pequeno porte e os pequenos comércios, existem também outras
atividades conforme o quadro a seguir.
Em escuta com a turma deste ano, observou-se também além
destes supracitados, a inserção do trabalho doméstico, cuidador de
crianças, motorista, vaqueiro, infelizmente notamos na mesma escuta
que nenhum dos 38 alunos tem a carteira de trabalho assinada, sendo
que 26 desses já a possui. O quadro a seguir nos dar uma dimensão da
turma investigada.
216
motivos? Bem como, os motivos que levam as meninas a abandonarem
a mesma modalidade durante o curso? Como comprova os números de
matriculas na classe de EJA, nos dois anos de sua oferta.
Infelizmente, os dados são silenciados pelos órgãos
governamentais ao longo dos anos. Neste estudo, a razão impeditiva da
frequência na escola é o trabalho, ainda que na agricultura familiar. Ao
pensar as políticas públicas, compreendemos que a não adaptação do
calendário escolar, com o calendário de plantio, colheita e enchentes
colaboram com este insucesso escolar. (Arroyo, 2011)
Nos estudos de Arroyo (2011, p.22), sobre a educação do aluno
camponês, o autor aponta para “educação como estratégia de inclusão”,
e este é o grande desafio: “Pensar e fazer uma educação vinculada a
estratégias de desenvolvimento”, e acima de tudo entenda a escola como
lugar de formação humana, de um aluno que também é trabalhador. O
depoimento do aluno Edvan, de dezessete anos, exemplifica isto, durante
a observação das aulas, ao ser indagado pelo professor de Arte sobre as
motivações de vir para escola:
217
professores acreditam fazer nas discussões teóricas, porém poucas são
as inserções na comunidade. Um contrassenso com as pedagogias
pensadas pelos movimentos sociais do campo, que exigem outras
pedagogias, com ações coletivas, movimentações, uma experiência de
educação mais próximas da dinâmica popular (ARROYO, 2012).
Quando retornamos as formas e as possibilidades de diálogos
ente a EJA e as atividades campesinas, afim de que esta se torne uma
experiência educacional emancipadora e não mais um programa de
aceleração dos estudos como os antigos supletivos que observamos,
diversas formas de abordagens didáticas, dentre as mais citadas,
elencamos as informações que constam no quadro 2, a seguir.
218
campo, será possível constituir uma educação realmente do
campo. (Erica, professora de Ciências).
Mas que oportunidade de acesso à escolarização, a EJA na
Escola é construção cidadania, dignidade é mostrar para
estes jovens que a escola se preocupa com eles, é ofertar uma
classe não com menos conteúdos, mas sim com
oportunidades de aprendizagem que correspondam a
necessidades dos alunos. Falta muito, estruturação do
currículo, formação e até aumentar a oferta, mas o primeiro
passo já foi dado, agora é esperar que eles conseguissem por
em prática na sua vida social o pouco que aprendem na
escola. (Rafael, professor de Inglês).
De grande importância, pois ajuda no aprendizado de
muitos que já estavam desmotivados devido à repetência e
com idade avançada e que na EJA encontram uma
oportunidade de aprende algo acessível e com outros
formatos. O uso e conservação do solo visto nas aulas sobre
erosão. A questão do clima e a vegetação, os recursos
hídricos e seu uso em casa e na lavoura. (João Paulo,
professor de Geografia).
219
projetam no imenso contingente de jovens que demandam
a EJA.
220
Sobre a trajetória de sucesso, da satisfação na oferta e na
permanência dos sujeitos, entendemos que não há uma receita pronta,
mas grande parte dos educadores entrevistados ligam este fator a
inserção de tecnologias sociais na sala de aula. A professora Júlia durante
a entrevista falou que,
221
Assim, a fala deste professor é representativa, pois segundo o
mesmo,
222
conceituais, e na localização geográfica da escola, cabendo então um
aprofundamento da questão EJA do Campo ou EJA no Campo.
Os docentes estão conscientes do seu papel político para
fomentar discussões, contudo os mesmos admitem que só debate, não
adianta, é necessário instigar mais, propor soluções, inventar outros
modos. O que aponta a necessidade do envolvimento da comunidade,
dos movimentos sociais dentre outros sujeitos que compõe a escola do
campo, dão sentido e cobrem de significados essa proposta.
Por fim, ressaltamos a importância de uma experiência de EJA,
na contramão do abate a educação pública, sem perder de vista,
elementos básicos para sua concretização como: tempo para o
planejamento, condições de trabalho e acompanhamento pedagógico na
Unidade Escolar. Elementos considerados pelos educadores para que a
EJA de fato possa ser um instrumento de para o exercício da cidadania
para uma plena participação na sociedade.
223
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225
DNA Educação
226
Introdução
A educação é de suma importância no processo de formação
humana, fazendo-se presente desde o nascimento até o momento em
que o ser humano deixa de existir. É por meio dessa formação que o
cidadão tem a oportunidade de melhorar a vida em sociedade, cabendo-
lhes o respeito mútuo entre seus pares, bem como o respeito às
diferenças raciais.
Referindo-se ao trabalho docente realizado pelas mulheres,
observa-se que ao longo da história o mesmo perpassa por várias
representações sobre a identidade do gênero atuante na Educação e dessa
forma, a educação da mulher negra, tem sido alvo de muitos estudos e
discussões principalmente em relação à sua atuação docente em sala de
aula como contribuinte no processo de ensino e aprendizagem, fazendo-
se necessário que o governo propicie melhores condições de trabalho e
educação e consequentemente a formação cidadã do educando.
Partindo-se das observações supracitadas e por ser um tema
que necessita ser explorado, dado a sua valiosa contribuição na área da
educação sotense, bem como para o universo acadêmico, questiona-se:
Quais as contribuições que as professoras negras vêm propiciando ao
cenário educacional da Cidade de São João do Sóter – MA?
No intuito de responder a este questionamento básico o
presente trabalho sobre o tema: “A atuação da mulher negra como
docente no município de São João do Sóter – MA” tem como objetivo
principal investigar a contribuição da mulher negra para o contexto
educacional sotense. Na elaboração do estudo trilharam-se os seguintes
objetivos específicos: compreender a importância da atuação docente da
mulher negra para sua autoestima; descrever a trajetória de vida e
educacional da professora negra da cidade de São João do Sóter - MA e
discutir as ações que desenvolvem para construção identitária da criança
negra.
Serviram de referencial teórico os seguintes autores: Aranha
(2006), Cruz (2011) Almeida (1897) Verissimo (1985) bem como outros
autores os quais estão presentes nas referências.
Assim, com o propósito de tecer alguns fios para a confecção
de uma reflexão sobre a importância da presença da mulher negra no
227
cenário educacional sotense, este trabalho está estruturado em cinco
capítulos sequencialmente complementares: O primeiro apresenta os
fundamentos históricos e conceituais sobre a educação da mulher na
Educação. O segundo aborda as perspectivas da mulher negra na
educação. O terceiro aborda a metodologia desenvolvida. O quarto
oferece uma análise sobre a atuação da mulher negra na educação de São
João do Sóter - MA e por fim, no quinto capítulo apresentam-se as
conclusões do pesquisador sobre a pesquisa realizada, destacando
aspectos relevantes os quais puderam ser evidenciados no decorrer do
processo de desenvolvimento deste trabalho.
Historicidade do movimento feminista, e da educação da mulher
negra.
Em se tratando do movimento feminista, o mesmo iniciou a
partir do século XIX, tendo início na Inglaterra, França e nos Estados
Unidos, e posteriormente alcançando vários países e adquirindo novos
significados.
Segundo Arias (1979, p.9):
228
igualdade, pois as mesmas eram vistas somente para cuidar da casa, da
família e de seu marido. (Nizia Floresta2 1989, p. 23) ressalta que:
2Foi uma educadora, escritora e poetisa potiguar, é considerada uma pioneira do feminismo no
Brasil e foi provavelmente a primeira mulher a romper os limites entre os espaços publico e
privado publicando textos em jornais, na época a impressa engatinhava. Nísia também dirigiu o
colégio para moças no Rio de Janeiro e escreveu livros em defesa dos direitos das mulheres,
dos índios e dos escravos.
229
para os homens elas são consideradas pessoas fracas sem força de um
homem.
Na concepção de Alves (2007, p.41), através de sua luta cons-
tante por seus direitos, as mulheres trabalhadoras romperam o silêncio e
projetaram suas reivindicações na esfera pública. Isso significa que as
mulheres por sofrem todo tempo caladas, procuraram se manifestar
através de movimento, movimentos esse conhecido pelas conquistas
adquiridas, o então movimento feminista. Alves (2007, p.41) ressalva
ainda que:
Nesta ressalva, Alves (2007, p. 41), nos coloca uma das grandes
conquistas que as mulheres conseguiram com suas lutas constantes em
prol do reconhecimento de suas jornadas de trabalhos e de salários mais
dignos, salários esses que não chegam a ser igualado aos que os homens
recebiam, pois elas ainda não eram vistas como capazes de exercer o
mesmo serviço que os homens, partindo daí uma reivindicação por
melhorias e igualdades de gêneros.
Partindo da necessidade de se conhecer o significado da palavra
“feminismo”, alguns estudiosos da área têm suas definições ou
caracterizações concretas a essa palavra. Mas segundo Branca Alves
(2007, p.7) a mesma conceitua que é difícil de estabelecer uma definição
precisa do que seja feminismo, pois este termo traduz todo um processo
que tem raízes no passado, que se constrói no cotidiano, e que não tem
um ponto predeterminado de chegada. Como todo processo de
transformação, contém contradições, avanços, recuos, medos e alegrias.
Mas segundo o site Wikipédia a enciclopédia livre a palavra “feminismo”,
230
um movimento social, filosófico e político que tem como meta, direitos
equânimes iguais) e uma vivência humana liberta de padrões opressores
baseados em normas de gênero.
Partindo deste pressuposto, Floresta (1989, p. 37-38) faz uma
indagação de que:
231
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade”.
Segundo Cunha (2005, p.18) movimento feminista no Brasil na
passagem do século XIX para o século XX, o mesmo foi liderado por
uma elite feminista letrada, ou seja, elite essa de maior poder econômico
o que não foi diferente dos outros países que aderiram ao movimento. A
mesma coloca que:
232
se que a mesma lutou e (ainda luta) ao longo destes séculos, contra as
estruturas opressoras mostrando que também podem e devem
compartilhar os seus conhecimentos, aos serviços que os homens
executam.
Em se tratando do movimento feminista no Brasil, para Alves
(2007, p. 71) o movimento feminista passou por uma grande conquista,
a mesma ressalta:
233
Sobre os direitos e deveres dos negros, Lima (2012 p. 33-34)
ressalta que:
234
dos negros, organizarem uma conferência que discutissem sobre os
direitos dos mesmos. Um desses encontros foi a Declaração de Jomtiem
(Tailândia) em 1990, que veio a somar com os direitos da sociedade negra.
Nesta declaração foram debatidos diversos problemas enfrentados pela
classe negra, como por exemplo, o acesso à educação dos mesmos, que
segundo o documento redigido após a Declaração de Jomtiem (1990,
p.1), o mesmo ressalta que: “há mais de quarenta anos, as nações do
mundo afirmam na Declaração Universal dos Direitos Humanos que
toda pessoa tem direito a educação”.
A citação de Jomtiem (1990) faz uma ressalva sobre os direitos
que nós no papel de cidadãos e os mais interessados a ter essa educação,
ainda não somos totalmente beneficiados com uma educação de
qualidade, pois a mesma deixa muito a desejar, e não seguem os acordos
firmados há mais de quarenta anos na Declaração de Direitos Humanos.
A partir desta colocação do documento redigido após a
Declaração de Jomtiem na Tailândia, o mesmo foi abordado também a
universalização do acesso à educação, mais um ponto questionado na
Declaração de Jomtien, é um fato que pode ser visto em todo território,
isso é uma consequência do ensino que estar cada dia chegando ao
conhecimento da população. A partir desta indagação, a Declaração
Mundial Sobre a Educação para Todos, faz uma colocação em seu Artigo
3º sobre essa universalização, ficando assim:
235
pobres; os meninos e meninas de rua ou trabalhadores; as
populações das periferias urbanas e zonas rurais; os
nômades e os trabalhadores migrantes; os povos indígenas;
as minorias étnicas, raciais e linguísticas; os refugiados; os
deslocados pela guerra; e os povos submetidos a um regime
de ocupação –não devem sofrer qualquer tipo de discrimi-
nação no acesso às oportunidades educacionais.
As necessidades básicas de aprendizagem das pessoas
portadoras de deficiências requerem atenção aos portadores
de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte do
sistema educativo.
236
mulher. A mesma teve também discursos de períodos importantíssimos
para as nações mundiais.
Pode se concluir que a Declaração de Jomtim, foi o evento
muito importante e que veio a somar mais ainda para melhorias da nossa
educação, educação essa que ainda vivencia em seu histórico
preconceitos diversos à pessoas que por motivos raciais ainda não
aceitam determinadas classe popular.
A partir desta indagação, no Brasil, como é sábio vigorar o mito
de que vivemos efetivamente em uma sociedade livre do preconceito
racial e do racismo em relação aos negros. Nas últimas três décadas, tal
modo de entendimento ficou cada vez mais desacreditado, tendo em
vista as evidencias de múltiplas formas de discriminação vivenciadas pela
população afrodescendentes de nosso país (MARCELO PAIXÃO,
2006, p. 23).
Mas não é o que de fato vem acontecendo com essa sociedade
que se diz não preconceituosa com a população negra. Através destes
questionamentos, pela sociedade em si, e por não se considerar
preconceituosa, e que foram tomadas devidas providencias ,
providencias essas que veio a contribuir com a população negra, que após
a Declaração de Jomtien viu-se a importância do encontro, foi criado
sobre a Lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na Educação Básica, desta
forma cumprindo com que estar estabelecido na Constituição Federal
nos seus Art. 5º, 1, Art. 210, Art. 206, I § 1º do Art. 242. Art. 215 e Art.
216. Bem como nos Art. 26, 26ª e 79 B na Lei. 9396/96 de Diretrizes e
Base da Educação Nacional, que asseguram o direito ás historias e
Culturas que compõe a nação Brasileira.
A lei 10.639, de Janeiro de 2003, veio a contribuir muito com a
valorização do negro no ambiente escolar. Essa Lei veio fortalecer a
concepção dos educadores e da sociedade em geral, que desde de cedo o
Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Africana seja trabalhado,
para que a criança cresça com uma concepção de respeito ao próximo.
Partindo desta argumentação, segundo Cavalleiro (2006, p. 82):
237
Como um passado decisivo rumo á promoção do respeito e
da igualdade no ambiente escolar, a reflexão sobre dinâmica
das relações raciais vivenciadas nesse espaço não pode mais
ser protelada, que se consideram ou ocupam o posto de
educador (a). Uma vez reconhecida a Presença do racismo,
do Preconceito e da discriminação racial na sociedade,
temos de atender para a reprodução desses problemas no
cotidiano escolar. De fato, as experiências em sala de aula
não estão alheias ao racismo e seus derivados; conectam-se
ás de muitos outros espaços, passando até mesmo por
nossas residências, chegando aos nossos filhos, com ou sem
a nossa permissão.
238
O mesmo direito é afirmado na Lei de Diretrizes e Base da
Educação 9394/96 (LDB), Título III, do direito à educação e do dever
de educar, que ressalta:
239
A presente pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa
bibliográfica e de campo. Referindo-se à pesquisa bibliográfica Lakatos
e Marconi apud França (1987, p. 66) a caracterizam como sendo:
240
escolas do Município que trabalham com a educação de 1º ao 5º ano, no
município de São João do Sóter – MA, foram entrevistadas 03
professoras com idade entre 22 e 35 anos, de uma só escola, a escola
UIM Governadora Roseana Sarney. Todas permitiram a divulgação dos
seus nomes, mas por questão de ética e respeito, as mesmas serão
designadas pelo seu sobrenome e uma letra do alfabeto, pois pelo fato
de todas (por coincidência) constarem do seu sobrenome Silva daí a
importância de se utilizar as letras do alfabeto para melhor compreensão.
Essa pesquisa do tipo descritivo – qualitativa segundo
Deslandes (2010, p. 21):
241
desde quando nascemos, até os dias em que vivemos. Este pressuposto
coloca que essas vivencias podem ser momentos agradáveis ou não, mas
em se tratando em pesquisa, cabe ao sujeito da pesquisa relatar ou não
sua história de vida, pois o mesmo pode ter algum receio de alguma
época que não lhe foi agradável.
A partir desta indagação sobre esse objeto de estudo, na
concepção de JOSSO (2004, p.38).
242
sujeitos, comparando-as com as discussões dos teóricos sobre a temática
abordada, estabelecendo-se, dessa forma, um diálogo entre ambos.
A pesquisa em foco tem como objetivo geral: analisar as
contribuições que as professoras negras vêm propiciando ao cenário
educacional da Cidade de São João do Sóter - MA. Partindo-se de tal
objetivo, realizou-se uma abordagem sobre as histórias de vidas de cada
participante, por meio do qual percebeu-se que inicialmente algumas das
docentes negras sentiram-se receosas por tratar-se de uma temática
relacionada não apenas a sua profissão docente, mas à sua própria
identidade. Entretanto, no decorrer da entrevista observou-se que aos
poucos as docentes passaram a se sentir mais à vontade e até mesmo a
demonstrar o seu interessante pelo estudo.
Ao descreverem histórias de vidas, pode-se observar que
algumas se emocionaram ao lembra-se de suas dificuldades e sacrifícios
enfrentados para conseguirem o que hoje lhe enchem de orgulho: a
profissão docente.
Categoria 01: Trajetória família e identidade
Na primeira categoria, com intuito de compreender sobre a
trajetória familiar e identidade das entrevistadas, houve uma busca por
discussões de autores sobre esse tema e relatos da história de vida das
docentes, em que pode-se notar suas dificuldades, vitórias, conquistas, a
concepção de sua identidade racial e de que forma tais aspectos
influenciaram em sua vida pessoal e profissional.
Para Josso (2004, p.191) o trabalho da narrativa escrita de vida
[...] permite uma espécie de estado das ligações dos nossos
conhecimentos nos nossos diferentes referenciais experienciais, e nas
nossas formas de exprimir o nosso ser em relação conosco e com outrem
na evolução de nossos posicionamentos existenciais [...].
Neste sentido, faz-se necessário relembrar que historicamente
a mulher, principalmente a mulher negra, vivenciou muitas
transformações e enfrentou muitas barreiras no ambiente educacional,
não sendo muito diferentes das docentes negras de São João do Sóter -
MA, que perpassou por inúmeras dificuldades, quebrando barreiras para
se tornar docentes. Suas histórias de vidas podem confirmar o quanto foi
243
sofrida para estas conquistarem os cargos que hoje ocupam, ou seja
como foi difícil participarem de cursos de formação pedagógica e
tornarem-se professoras.
Segundo Josso (2004, p.43) sobre história de vida relata-nos
que:
244
o mesmo era feito com dificuldade utilizando se como transporte a
bicicleta, pois pelo fato da escola ser em outro povoado e não haver neste
período transporte escolar havia essas dificuldades de descolamento.
Tratando ainda sobre história de vida, a entrevista Silva A.
relata-nos:
5Escola mais antiga do município que tem esse nome em homenagem a um dos seus primeiro
moradores e donos das terras, que na época era conhecida como São João dos Poleiros.
245
abstrato deveriam ser procuradas na interação do organismo com as
condições de vida social, e nas formas histórico-sociais de vida da espécie
humana [...].
Na fala Vygotsky (1987) o processo de ensino aprendizado em
relação a história de vida ressalta a busca por esses conhecimentos deve
ser compreendido a partir da interação desses sujeitos com a realidade
Partindo desta colocação, vale fazer uma ressalva de uma
professora que vivenciou quase os mesmos caminhos para concluir seus
estudos, só que havendo uma pequena diferença com Silva A, pois a
mesma conclui seus estudos na capital do maranhão São Luís, estou me
referindo a professora Silva C, que:
246
A mulher negra nunca pode deixar de expressar seus
sentimentos e sua real identidade. Pois sua questão de identidade é a
conscientização, todos devem entender que ser negro não é apenas uma
questão de pele, mas uma questão de hereditariedade e de cultura
(ARAÚJO, 2006, p. 22).
Partindo disso afirmam quando perguntado sobre sua
identificação como negra, as mesmas colocam que aconteceu com:
247
têm, ela camufla isso, e faz de conta que é apenas uma conquista
desnecessária.
Ainda sobre a identificação como negra, segundo o depoimento
da entrevistada SILVA B:
248
As docentes aqui citadas perpassaram por um período em sua
vida na quais tiveram que saber conciliar escola e afazeres domésticos
para ajudar seus pais, pois sabemos que a mulher que foi sempre
destinada aos afazeres de casa.
Partindo desta afirmação, as entrevistadas afirmam sobre essas
atividades realizadas para ajudarem seus pais:
249
Esse fato acabou contribuindo para que as mulheres
identificassem com a profissão de professora, também porque foi uma
das primeiras profissões a serem aceitas pela sociedade para o sexo
feminino e segundo porque elas já tinham a habilidade de cuidar de
crianças, além do fato do magistério ter se tornado uma forma de
melhorar as condições sociais, tudo isso fez com que educar crianças se
tornasse uma profissão eminentemente feminina.
Atualmente, essa ideia está arraigada na sociedade, porque essa
habilidade feminina se tornou também uma aceitação cultural e que está
relacionada à divisão do trabalho masculino e feminino, por isso tem sido
um desafio para as mulheres negras, pois ainda são vistas como inferiores
tidas somente a serem escravas, ou seja, serem empregadas doméstica e
de não ter condições de atuarem em uma profissão. Mas essa realidade
pode ser modificada com a atuação de inúmeras mulheres negras na
docência.
Contudo, a pesquisa realizada neste trabalho monográfico sob
o tema: “A atuação da mulher negra como docente no município de São
João do Sóter - MA” evidencia que apesar da contribuição inquestionável
da mulher negra no cenário educacional, o preconceito e o racismo ainda
se faz presentes nas escolas públicas, mas que apesar das dificuldades
encontradas, as mulheres negras sentem-se felizes e realizadas com a
conquista profissão docente.
Diante do exposto, a partir do diagnóstico realizado sobre a
atuação docente da mulher negra no município de são João do Sóter -
MA, o presente trabalho oferece aos leitores, professores ou estudiosos
do assunto a reflexão de que o que deve estar em jogo para o processo
de ensino e de aprendizagem do educando é a qualidade da ação
pedagógica docente e não a questão de gênero ou raça.
250
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253
DNA Educação
254
Introdução
A exposição diária de fatos que muitas vezes tomamos por
insignificantes podem contribuir de maneira decisiva para o enten-
dimento de processos históricos e políticos que, aparentemente, não teria
como ser reconstituído utilizando uma ótica acadêmica, mesmo
considerando a intervenção de pessoas e editores, relacionada ora com a
censura, ora com a manipulação de informações.
Ainda no século XIX e início do século XX, Gilberto Freire
(1979) garantia que mais que nos livros de história e nos romances, a
história do Brasil estava nas notícias dos periódicos, considerando que
fatos marcantes de nossa história estão inseridos nas suas páginas,
trazendo informações importantes do dia a dia das pessoas, da política,
economia e cultura.
Desta forma, propomos neste artigo, considerar o jornal como
fonte documental para a história da Educação, com uma abordagem
metodológica historiográfica sugerida por Vidal (2003), que afirma que
os documentos legais têm o seu mérito, porém, são por vezes
insuficientes para a construção historiográfica.
A opção por essa nova fonte de pesquisa, empreendida pela
historiografia ao longo do século XX, e a consolidação da fonte
jornalística, especialmente no que tange aos estudos do tempo presente.
Tomaremos como fonte as notícias veiculadas no jornal A União, do
estado da Paraíba, sobre o posicionamento dos Presidentes Militares em
relação à Educação no país. Assim, como afirma Sousa (2002, p 93), “a
análise de tais fontes, de inestimável valor histórico, muito pode
contribuir para enriquecer nossos conhecimentos sobre as questões
educacionais [...]”.
Posicionando-se em relação à Educação no século XIX,
Pallares-Burke (1998, p. 145-146) argumenta que
255
Para a mesma autora, o jornalismo fazia informalmente o que
os agentes educativos deveriam se propor a realizar, e durante os anos
de 1964 a 1969, a ausência de um aparelho estatal que conseguisse atingir
as massas da população brasileira era quase inexistente, o que propor-
cionou a imprensa tomar para si essa tarefa em virtude da “ausência de
outros agentes educativos, como leis e um sistema de educação pública,
que, caso existente, poderiam fazer mais sistemática e formalmente o que
o jornalismo fazia informalmente”, assegura Pallares-Burke (1998, p.
147).
Vale salientar que os estudos de Pallares-Burke estão
relacionados com a Educação no Brasil do Século XIX, enquanto nos
referimos a jornais, e no caso mais específico, o Jornal A União, no século
XX, e mais propriamente, entre os anos de 1964 a 1969, e durante esse
período muita coisa mudou nos jornais brasileiros, quando muitos deles
buscaram se profissionalizar, assumindo um papel mais imparcial na
busca e transmissão de informações.
De Acordo com Isabel Lustosa (2013, p 15), “o jornal ao
incumbir novos hábitos e operar transformações nas vidas dos homens”,
passou a ser visto como fonte de ilustração e instrução, que naquele
contexto autoritário de educação, o jornalista se confundia com o
educador e o jornal passava a ocupar o lugar que as instituições escolares
deveriam ocupar, formando e ditando o gosto e até mesmo o
pensamento popular.
Propomo-nos aqui analisar, enfim, como o jornal A União
contribuiu com o Ditadura Militar para consolidar a ideia de Educação
de qualidade e desenvolvimentista, pregado pelo regime autoritário,
como também demonstrar que as raízes autoritárias de ensino
permaneceram vivas dentro dos jornais e que com a emergência do novo
governo em 1964, tornaram-se ainda mais fortes dentro da sociedade
brasileira.
A escolha do referido jornal se deu devido a sua relação estreita
com os órgãos governamentais, no Estado da Paraíba, sendo o veículo
oficial de comunicação do governo e foram utilizados métodos de
análises de conteúdo, assim como no processo de análise da literatura
256
acadêmica, como também seu posicionamento em relação a educação
estadual paraibana, nos primeiros anos da Ditadura no Brasil.
O cenário inicial
Os anos que se estendem de 1964 a 1969 constituem marco
relevante para a história do Brasil, tendo em vista a reorganização do
ensino e da sociedade, atrelada a política internacional, além da
socialização da Constituição de 1967, que institucionalizava o Regime
Militar, com todas as medidas adotadas até aquele presente.
De acordo com Hobsbawn (2007), em plena década de 1960, o
mundo vivenciava um período de tão difícil classificação, devido a uma
falta de definição de paz ou guerra, que foi criado o neologismo de
“Guerra Fria”, que em termos mais objetivos, consistia numa “retórica
apocalíptica” entre a União soviética, que liderava o bloco de países
chamados de socialistas e entre os Estados Unidos, que liderava o bloco
de países capitalistas e na capacidade de ambas em influenciar os demais
países, em especial os do chamado “Terceiro Mundo”.
Nos anos 1960, o acirramento das disputas ideológicas e dos
conflitos entre os dois blocos, refletiu-se em diversos e numerosos
conflitos. Os questionamentos, as revoltas e a radicalização estiveram,
em maior ou menor grau, presentes nos países das Américas, inclusive
no Brasil, refletindo em posições cada vez mais extremistas à esquerda e
à direita dos partidos políticos que disputavam o poder.
No Brasil, o imperialismo norte-americano contribuiu de
maneira decisiva para a queda do presidente João Goulart em 1964 e a
ascensão dos militares ao poder que duraria até 1985. Nesse período, de
acordo com Cunha e Góes (1985), a crise brasileira era generalizada,
atingindo a econômica, a sociedade e a política.
257
Mundial. Direcionando-se o pais para a industrialização
(CUNHA; GÓES, 1985 p 8).
258
representam “o povo” e estão por isso mesmo autorizados a governar
em seu nome. Entre as eleições – ou seja, por vários anos, normalmente
–, a democracia existe apenas como ameaça potencial à sua reeleição ou
à dos seus partidos (HOBSBAWN, 2007, p. 107).
Com o novo regime, o Brasil perdeu, ao menos
momentaneamente, a vontade de participação popular, e os núcleos
pensantes da sociedade, foram perseguidos, e na grande maioria das
vezes, exterminados. Para Rollemberg e Quadrat (2010) é preciso
entender que as ditaduras devem ser interpretadas como produto social,
ou seja, a população, ou a grande maioria deve legitimar o sistema, como
fez parte dele e como contribuiu para mantê-la no poder.
Defende-se então a ideia de que o espetáculo da política e da
economia, que dão base e sustentabilidade ao regime, se faz presente nos
discursos dos meios de comunicação, que cria polêmicas, que altera a
realidade, mas que apesar de transformar o real, seus discursos partem
de algo evidente: no caso específico da pesquisa mencionada, a Educação
e os possíveis avanços no sistema.
A educação brasileira, a partir de 1964, da mesma forma que os
outros setores da vida nacional, passou a ser vítima do autoritarismo que
se instalou no país. Reformas foram efetuadas em todos os níveis de
ensino, impostas de cima para baixo, sem a participação dos maiores
interessados, que eram os alunos, professores e outros setores populares
da sociedade. Para Germano (1994), os resultados do regime militar para
a educação são elevados índices de repetência e evasão escolar, escolas
com deficiências de recursos materiais e humanos, professores mal
remunerados e sem motivação para trabalhar, além de elevadas taxas de
analfabetismo.
Com a chegada do novo regime, freou-se os pequenos avanços
e conquistas da Educação popular, alcançadas no período anterior. No
campo político partidário, parlamentares perderam seus mandatos,
alguns foram presos e outros exilados, milhares de funcionários públicos
foram destituídos dos seus cargos e submetidos a inquéritos policiais
militares, as eleições passariam a ser por via indireta. Os sindicatos foram
invadidos pela polícia, milhares de líderes sindicais foram destituídos de
seus cargos, muitos foram presos e torturados, sendo acusados de
259
subalternos e comunistas, fazendo com que as greves deixassem de
existir, devido a forte e violenta repressão (GERMANO, 1994).
No campo econômico, acelerou-se a concentração da riqueza
nas mãos dos grandes latifundiários rurais e a reforma agrária,
praticamente tornou-se inexistente. A renda urbana e rural, extrema-
mente mal distribuída, continuou e se ampliou ainda mais durante a
vigência do regime, tornando os ricos ainda mais ricos e os pobres ainda
mais pobres, com salários mais arrochados, ao tempo que os preços dos
produtos disparavam graças às altas taxas de inflação. As condições de
vida da imensa maioria da população continuaram sempre mais precárias:
no campo, sem a posse da terra, e com o julgo dos grandes latifundiários,
fez com que milhares de brasileiros migrassem do campo para as cidades,
que tiveram seus problemas multiplicados pelo inchaço populacional.
Nestas, a especulação imobiliária, a falta de trabalho, a ausência
de saneamento básico e de condições mínimas de higiene, a precária e
insuficiente assistência médica e muitos outros fatores conduziram
milhões de brasileiros a viverem em favelas, cortiços, sob viadutos ou
nas ruas, sem as mínimas possibilidades de uma vida digna, com altas
taxas de mortalidade infantil, com o crescimento índices de doenças
contagiosas fazendo dos brasileiros um povo doente e faminto. Todo
esse processo de empobrecimento e de marginalização do povo ocorreu
ao mesmo tempo em que as multinacionais se apoderaram de quase
todos os setores da economia nacional, sendo, no período, controlada
pelo Fundo Monetário Internacional, ligado aos Estados Unidos (FICO,
2014).
O regime militar e a educação
Para Germano (1994) e Cunha e Góis (1985) o período
ditatorial que serviram de palco para o revezamento dos presidentes
generais, se pautou em termos educacionais pela repressão, privatização
de ensino, exclusão de boa parcela das classes populares do ensino
elementar de boa qualidade, institucionalização do ensino profis-
sionalizante, tecnicismo pedagógico e desmobilização do magistério
através de abundante e confusa legislação Educacional.
260
A burguesia industrial apesar de usufruir os benefícios
proporcionados pela política governamental, passou, após 1964, a ser
tutelado pela tecnoburocracia militar e civil, passaram a tomar decisões
governamentais sem a consulta das partes interessadas que sustentavam
o regime autoritário. Assim, de acordo com Cunha e Góis (1985) é que
a política salarial, agrícola, fiscal e, principalmente, a política educacional
passaram a descontentar não somente as classes populares e educacional,
passaram a descontentar também setores médios, afastados de qualquer
controle da sociedade política, e até mesmo as elites e classes altas que a
haviam dado apoio ao movimento de 1964.
Para Ghiraldelli Jr (1995), um exemplo claro desde descom-
passo crescente entre os governantes e os próprios interesses das elites
pode ser observado, em especial, na política educacional da ditadura e
mais propriamente nas reformas do ensino universitário, promovida pela
Lei 5.540/68 e pela reforma do ensino Médio, promovida pela lei
5.692/71. Esse descompasso pode ser percebido pela ampliação da
censura e do controle social imposto pelo Ato Institucional nº 5 de 1968.
Entre o início da instauração do poder pelos militares em 1964
até janeiro de 1968 foram firmados doze acordos entre o Ministério da
Educação e Cultura (MEC) e United States Agency for International
Development (USAID), o que demonstra o interesse norte americano
na educação do povo brasileiro.
O jornal A União
A União é um jornal estatal paraibano3, editado na cidade de
João Pessoa, Paraíba, Brasil. Trata-se do único jornal oficial ainda
existente no Brasil. Foi fundado no dia 2 de fevereiro de 1893 pelo então
presidente da Província, Álvaro Machado, e seu primeiro diretor foi o
industrial e jornalista Tito Silva. O jornal surgiu como órgão do Partido
Republicano do Estado da Paraíba, agremiação fundada pelo próprio
Álvaro Machado.
Pereira (2012, p. 1127) analisa que o conteúdo veiculado era
“baseado no enaltecimento das obras públicas implantadas pelo governo
vigente”, discussões públicas que espelhavam a correlação de forças
261
políticas, bem como temas dos mais diversos assuntos que de alguma
forma engrandeciam os atos do governo nacional e local. Destaca-se o
uso de suas estratégias discursivas visando influenciar o leitor quanto ao
(sempre) bom desempenho político do governo da época. Isso é
utilizado durante este estudo por considerar como forma de observar e
analisar este jornal como fonte “que expressava o ponto de vista de quem
o produz” (PEREIRA, 2012, p. 1128).
O jornal A União vai dar destaque as notícias e mudanças
referentes a esse novo momento, apresentando discursos de intelectuais
do período e propagando as ações pedagógicas patrióticas. O enfoque
dado à “Revolução” nesse período é bastante perceptível nas páginas do
jornal e é possível constatar o objetivo do governo de estímulo e
incentivo a uma consciência nacional para a legitimação do novo sistema.
Em relação à educação, o jornal expressa suas ideias e valores
educativos, auxiliando a entender as relações entre sociedade e educação
e vice‐ versa. Nesse processo podemos perceber como a fonte se torna
elemento que demonstra (ou não) como o governo age (neste caso,
fazendo alusão a classes que detêm o poder ou estão no poder) para fazer
chegar aos demais e à sociedade suas formas de ver o mundo.
Durante os cinco primeiros anos de Regime Militar, o jornal se
destinava a (in)formar aquelas pessoas que por algum motivo não
dispunham dos acontecimentos da vida política, como também servia de
porta voz do governo, atingindo de forma mais rápida as casas dos
paraibanos. As pessoas não se dirigiam à escola, ou a outro lugar para
aprender de como deveria se comportar ou o que acontecia nas ruas. O
jornal chegava semanalmente às suas casas ou oficinas. A velocidade na
circulação do jornal mantinha acesa a chama do debate e, além disso, o
periódico se destinava indistintamente a todos e por isso poderia prestar
a sua contribuição à reforma social almejada pelo governo.
Ainda em 1964, no jornal, disseminou-se os discursos de ações
do “governo revolucionário” em todas as suas abrangências, inclusive na
educação,
262
construir 55 escolas normais e centros de treinamentos;
edificar 56 centros áudio-visuais de educação; e construir 57
escolas industriais. Serão treinados, no mesmo período,
cerca de 22 mil professores leigos.
Esse programa alfabetizará em três anos, cerca de 600 mil
adultos (A UNIÂO, 23 de maio de 1964 p. 16).
4 José Américo de Almeida, escritor e político paraibano, apoiou o golpe que levou Vargas ao
poder em 1930, sendo um dos seus principais auxiliares, exercendo o cargo de Ministro da
Aviação. Na grave seca de 1932, chegou a ser considerado o salvador do nordeste. Chegou a
concorrer ao cargo de presidente em 1937, mas foi frustrado pelo golpe do Estado Novo de
Vargas. Voltou a político em 1950, sendo eleito governador do Estado da Paraíba, numa das
mais acirradas corridas políticas da história da Paraíba (A UNIÂO, 12 de Abril de 1950). Depois,
elegeu-se senador, e novamente, no governo de Vargas, exerceu o cargo de Ministro. Deu apoio
ao golpe civil militar de 1964, tornando-se uma das figuras políticas mais importantes do período
na Paraíba. Morreu em 1980, em João Pessoa.
263
Em um dos seus muitos discursos, o Ministro José Américo de
Almeida homenageou os professores, fazendo apologia aos seus tempos
de infância quando era aluno da Professora Julia Leal (A UNIÃO, 15 de
outubro de 1966). Nos discursos, buscava-se sempre mascarar o regime
autoritário como sendo democrático e participativo, além é claro, de
“salvadosista”, afastando os grandes erros e ameaças do passado. Em
seus discursos, José Américo de Almeida, exortava o povo paraibano
como de grande potencial, sendo capaz de transformar a realidade do
Estado com esforço e dedicação (A UNIÃO, 15 de outubro de 1966).
A imprensa paraibana iria utilizar de todas as armas possíveis
para contribuir para a consolidação do regime autoritário, uma vez que
264
contribuição para desestabilidade política e consequentemente para a
governabilidade da nação.
Dentro desse contexto, o jornal A União não passou imune, se
tornando o principal porta voz do regime autoritário no Estado, além de
cumprir o papel que considerava legítimo em relação a defesa de seu
capital A mídia tornou-se um mais poderoso instrumento ideológico na
preparação e respaldo do regime militar.
Considerações finais
De forma clara, podemos entender que as diretrizes que
guiavam a Guerra Fria direcionaram o Brasil rumo ao desfecho de 1964,
com a tomada do poder pelos militares que ali permaneceram por 21
anos. Percebemos também que durante esse período, muitos que
contribuíram de forma decisiva para o golpe, foram excluídos das
tomadas do poder, e passaram a fazer “oposição” ao novo regime,
contudo pouca diferença fez no novo cenário que estava se
configurando.
Uma vez no poder, os militares fizeram uso dos meios de
comunicação para conseguir o apoio da população para assim, legitimar-
se como governo dos brasileiros. Na Paraíba, destacou-se as notícias
veiculadas no jornal A União, que é o jornal Oficial do Estado, sendo
por isso, considerado porta voz do governo.
Durante todo o período, foram divulgadas as ações do governo,
e manchetes destacando a atuação do governo militar para a melhoria de
vida da população, como também, eram divulgadas as ações de âmbito
local, relacionadas com o cotidiano e também com a Educação.
O jornal A União também deu destaque as ações relacionadas
com a Educação, considerando que a Paraíba era um dos Estados mais
pobres do Brasil, e com alto número de analfabetos. Com isso,
consideramos que com a facilidade de chegar a todos, passando notícias
oficiais, o jornal A União contribuiu para a consolidação do Regime
Autoritário na Paraíba.
Assim, fazendo utilização de um moralismo autocrático,
salvacionista, além de diversos debates que se apresentam, além de
buscar demonizar tudo e todos aqueles contrários ao golpe de 1964, o
265
jornal A União ainda contribuiu para manter a estrutura autoritária da
sociedade paraibana, uma vez que era totalmente contrário a preceitos
ligados a igualdade social e a justiça, que repetitivamente faziam uso da
máquina administrativa e da imprensa para o controle social.
266
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DNA Educação
272
Raimundo Carneiro Corrêa, político, educador e escritor é
autodidata, onde despontou para a vida em Esperantinópolis/MA, uma
pacata cidade do médio Mearim – aos 07 de julho de 1940, sendo o 4º
filho e caçula do casal Maria José Carneiro e Severino Corrêa.
Uma familia muito humilde e bem vista, onde Severino era
lavrador com pouca leitura e instrução; Maria José, dona de casa, vivia e
trabalhava para a familia numa casa simples de chão batido. Desde a
infância, Raimundo Corrêa sempre foi fascinado pelas matérias escolares
Lingua Portuguesa e História, e assim o autor demonstrava o interesse
pelas letras. Na época do ainda povoado, que hoje é a cidade de
Esperantinópolis, Corrêa (2014 p. 151) registra uma de suas lembranças
273
Escrivão João Pinto Neto, em que consta a posse do
Prefeito Interino, nomeado por ato do Governador do
Estado, o Senhor Antônio Leal Arraes. ”
274
“A construção da memória está estreitamente vinculada ao
acesso à informação, que por sua vez está vinculada à
organização dos seus suportes materiais. ” (PEREIRA,
2011, p. 20).
275
passado, pois mesmo as colônias mais inovadoras são
povoadas por pessoas oriundas de alguma sociedade que já
conta com uma longa história. Ser membro de uma
comunidade humano é situar-se em ralação a seu passado
(ou da comunidade) ainda que apenas para rejeitá-lo. O
passado é, portanto, uma dimensão permanente da
consciência humana. O problema para os historiadores é
analisar a natureza desse “sentido do passado” na sociedade
e localizar suas mudanças e transformações”
276
de Esperantinópolis”, representado na faixa tricolor
(branco, preto, vermelho) que a atravessa, lembrando nossa
pertença à maranhensidade.”
277
Manter vinculos de estima e patriotismo com o lugar onde vive, conhecer
sua história e ter consciência de onde se está é um exercício de cidadania
que se inicia na infância e que resulta, em um cidadão consiente, e ativo
socialmente.
Encantando com o primor e a beleza da jovem chamada Graça
Lima, Raimundo Corrêa – no ápice de sua juventude – para formar um
relacionamento sólido, casou-se com ela, e o que eram duas criaturas
incompletas se torna um, inteiro com quem partilharam de muito afeto
mútuo, brotando assim três filhos: Cristiana, Clênio e Clarissa, a caçula.
Como se conheceram? Muito simples, a cidade era muito pequena, todo
mundo conhecia todo mundo, o amor os tocou, namoraram e casaram -
um casamento embasado na paciência, simplicidade, colaboração,
respeito acima de tudo no amor. Nos demonstra claramente Corrêa
(2014 p. 153) que, falando sobre sua residência, adentra no assunto,
falando de sua família
278
em 1988, e assim se fez parte integrante da história esperantinopense,
tornando-se assim um baluarte da pacata cidade do médio Mearim.
Corrêa (2014 p. 149) lembra muito bem, no cinquentenário da cidade
que
279
Contabilidade, das comunicações, artistas também do
teatro, da música, das artes plásticas”
280
Raimundo Corrêa é autor de inúmeras obras inéditas de vários
títulos e gêneros. BEDA, O SAPO e CARTAS DO RIO, romances;
MAMBEMBES, contos; DIÁRIO DE TJUPÁ, memórias; CIDADE,
PRIMEIRO AMOR e SANTA DA BOA ESPERANÇA, poesia. Muito
devoto, catequista, de boa índole, com uma família bem alicerçada, após
o Concilio Vaticano II, Corrêa (2014 p. 113-114), que teve experiencias
com os capuchinhos, quando de “passagem” administraram a paroquia
Esperantinopense, diz que
281
“Ó fadiga divina!
Por queimar-me em olaria
Linguagem língua portuguesa
A criar-me tocha humana
Para o registro mortal
Tumba baú solidão
Da perdida praia.
Até que apareça
Caravela lusitana
De el-rei dom Sebastiao
Portadora de luz liberdade
Em travessia de sonho.
282
em defesa da vida
e da liberdade de expressão
e do direito ao pão, à casa, á saúde, à felicidade,
ao amor, à vida ?
Cantar é urgente.
Cantar as dores do povo
cantar as esperanças do povo
cantar com o nosso povo,
cantar a vida de novo.
Cantar sem estorvos.
283
as nossas expectativas. No poema “Crônica Policial”, Corrêa (1989 p.
71) revela-nos que
(...)
O poeta tem fama
de ser do povo a chama
que lhe incendeia emoções,
inda mais suas canções.
E o que faço...
Concertar palavras
Peças de ua canoa
Que amarro à raiz
de gameleira a dizer
que passei.
E a perder-me da expedição
real materno seio
me fui com o rio povo
que me ensinou
linguagens de pescarias,
carregados landuás
de lendas e alegrias
que as musas...
Sobre o que está por vir nos dias vindouros, Corrêa (2014 p.
167-168) indaga-se e responde imediatamente sua pergunta numa
linguagem metafórica, e assim se expressa com os seguintes termos
284
Raimundo Corrêa é intitulado “pai da educação esperantino-
pense”. Em 2014 para comemorar os 60 anos da cidade de
Esperantinópolis (1954-2014), o escritor recebeu uma menção honrosa
com o título de “comendador da esperança” com mais outros 59
conterraneos, aos quais dividem contribuições para a militancia e o
pinorismo inerentes a emancipação da cidade.
Assim, os escritores dão aos seus leitores, a conhecerem o lado
oposto da moeda. Complica e descomplica. Sem um escritor, como
definiríamos o amor, a memória, a poesia? O escritor não é somente um
cidadão que se atém à coleta de dados da realidade, mas, uma presença
ativa que muda o mundo – pois dá sentido e modifica a forma – muitas
vezes deturpada - das pessoas verem as coisas, dando assim um novo
horizonte, com perspectivas. E por fim, através de sua magnificência
imaginação, nos induz a trabalharmos a nossa, nos dando asas e novos
mundos para explorar, criando contemporaneos refúgios.
285
Referências
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Gráfica Editora, 2010
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1998.
286
DNA Educação
PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS E
CONTEMPORÂNEOS DA EDUCAÇÃO PÚBLICA
NO SISTEMA HEGEMÔNICO DO CAPITAL:
UMA REFLEXÃO MARXISTA
João Luís Coletto da Silva1
RESUMO:
Este artigo objetiva apresentar alguns dos pressupostos marxistas referentes
à educação formal, em especial do contexto brasileiro e do sistema público.
Foi utilizada uma metodologia de análise bibliográfica por meio de estudos
teóricos capazes de proporcionar uma discussão reflexiva. Através dessa
análise educativa, marcada por teóricos cuja vertente advém de uma
perspectiva crítica e contra-hegemônica, foi possível apreender que ao longo
do processo da modernidade a educação, nem sempre objetivou e projetou
a emancipação humana. Contudo, é a partir das contradições e lacunas
expostas pelo próprio movimento hegemônico, que a educação deve buscar
elementos emancipatórios.
Palavras-chave: materialismo histórico dialético; capitalismo; educação
emancipatória.
ABSTRACT:
This article aims to present some of the Marxist assumptions about the
formal education, especially in the Brazilian and public system context. A
methodology of bibliographic analysis was used together with theoretical
studies capable of providing a reflexive discussion. Through this educational
analysis, marked by theoreticians whose foundations comes from a critical
and counter-hegemonic perspective, it was possible to apprehend that,
throughout the process of modernity, education has not always objectified
and projected human emancipation. However, it is from the contradictions
and gaps exposed by the hegemonic movement itself that education must
seek emancipatory elements.
Keywords: dialectical and historical materialism; capitalism; emancipatory
learning.
287
Introdução
Este artigo objetiva apresentar alguns dos pressupostos
marxistas referentes à educação formal, em especial do contexto
brasileiro e do sistema público, visando uma análise a ser percorrida por
meio destes referenciais teóricos. O escopo do texto a seguir expõe
reflexões, concepções e pontos de vistas que abordam o modelo
educacional entrelaçado com o sistema e o movimento hegemônico do
capitalismo. Embora não seja uma temática nova quanto à
fundamentação, salienta-se, inicialmente, que a mesma visa apresentar
conjecturas opostas ou contra-hegemônicas à perspectiva da educação
regida aos mandos do mercado, para demonstrar possíveis elementos de
transformações emancipadoras.
O estudo a seguir se origina a partir de um recorte de um
trabalho maior (SILVA, 2017), no qual a composição teórica também
está interligada a autores oriundos do campo do materialismo histórico.
Este estudo maior procurou compreender de que forma os docentes de
Educação Física apreendiam e exercitavam a prática de uma avaliação
denominada de emancipatória, na proposta curricular do Ensino Médio
Politécnico (EMP). Além da avaliação, as principais alterações visadas
desta política de governo foram a busca por uma proposta inter-
disciplinar entre os componentes das áreas de conhecimentos e a
aproximação dos discentes do âmbito da pesquisa e do planejamento
educacional, trazendo autonomia aos principais sujeitos da escolarização:
o público estudantil (SILVEIRA; PEREIRA, 2015) 2. Ou seja, nesta
proposta de ensino havia o caráter contra-hegemônico da educação
tradicional a ser retransformada.
Essa inter-relação entre avaliação e abordagens pedagógicas, se
faz necessária, pois toda teorização avaliativa está intimamente ligada a
concepções de educação. Portanto, para discorrer sobre o presente tema,
utilizou-se uma metodologia de análise bibliográfica por meio de estudos
2 No final do ano de 2011, o governo do Rio Grande do Sul apresentou à sociedade gaúcha uma
proposta curricular do Ensino Médio, denominada de Ensino Médio Politécnico (EMP). A partir
do ano de 2012, as escolas dessa rede foram obrigadas a implantarem de forma gradual as
pressuposições desta política. Infelizmente, o EMP funcionou oficialmente até o término do ano
letivo de 2016.
288
teóricos capazes de proporcionaram uma discussão reflexiva sobre
possíveis conjunturas históricas e contemporâneas da educação pública
no sistema hegemônico do capital. Nesse sentido, através de Marx e sua
vertente de autores, é possível entender a educação a partir de uma
concepção crítica ao demonstrar que o processo histórico educacional,
além de ser perceptível, pode e deve ser alterado.
A justificativa deste trabalho, acima de tudo, perpassa por
redescobrimentos transformadores de uma concepção material e social,
que futuramente possa resultar em olhares não fatalistas sobre a
educação e a escolarização pública do Brasil. Essa problemática deve ser
compreendida pelo fato de que o próprio sistema capitalista não objetiva
à aprendizagem de todos ou à igualdade de oportunidades. Entretanto,
o mesmo pode levar à emersão de propostas educativas emancipatórias,
porque o próprio aparelho fornece tais lacunas, devido as suas
contradições. São amplamente difusas as inúmeras problemáticas
complexas deste modelo de educação em que cada vez mais há a
recorrência de jovens que abandonam seus estudos mais cedo, bem
como, estudantes que são treinados a fim de conseguirem bons
resultados nas avaliações externas que os regulam. Contudo, apesar dos
imensos esforços empregados, os resultados da qualidade da educação
pública demonstram ineficácia.
Assim sendo, o presente texto visa colaborar de modo geral à
temática, ao apresentar alguns dos possíveis elementos desse
entendimento mais claro e coeso, por meio de uma abordagem crítica e
contra-hegemônica do âmbito do materialismo dialético. Nesse sentido,
o artigo a seguir está formatado com a apresentação de algumas das
características gerais quanto ao histórico da educação em conjunto com
elementos do materialismo histórico dialético. Posteriormente, se
demonstra outro viés educacional, através do aspecto da educação
emancipatória, relatando as influências na perspectiva brasileira e, por
fim, o escopo do artigo explana algumas projeções viáveis.
Apontamentos históricos e o materialismo dialético na educação
As concepções de educação inseridas no âmbito de
escolarização na modernidade nascem interligadas com pressupostos dos
289
princípios da burguesia, por meio do capitalismo. Por meio de um
modelo de escola liberal criada pelo Estado burguês, o discurso pregado
neste período foi enfatizado em prol da justiça social, no qual, através da
esfera educacional, a mesma brotaria analogicamente melhorias na
formação e equidades de classes sociais. Em síntese, a educação esteve
condicionada às pressuposições de mercado como, por exemplo, a
própria avaliação a serviço dos méritos individuais sobrepostos ao
coletivo em que, na base desse talento disciplinarmente desenvolvido,
rotulavam a entrada dos sujeitos com maior facilidade no mundo do
trabalho, conforme a lógica mercadológica e regulatória do capital
(NORONHA, 2006).
Dentro desta conjectura, Karl Marx, entre outros grandes
pensadores, se baseou em uma proposta de conhecimento próxima da
condição materialista dialética, articulando as circunstâncias da relação
entre trabalho e sociedade (MARX; ENGELS, 1998). Para tanto, é
pertinente e oportuno salientar, que a epistemologia do materialismo
dialético se associa a uma abordagem qualitativa, na medida em que a
própria ciência (ou o sistema de ensino) entra em conflito com ela
mesma, utilizando seus próprios referenciais teóricos (TRIVIÑOS,
2015).
O materialismo dialético possui uma vertente das lutas
revolucionárias, contrárias a dogmas, cientificismo, sistemas sociais e
políticos, bem como a educação conservadora, seguindo, então,
pressupostos marxistas, por este estar associado à concreticidade da
essência do fenômeno, ao basear-se na relação dialética do objeto –
educação pública –, e ao demonstrar não haver uma única verdade e
neutralidade, ao apresentar as contradições complexas objetivadas pela
mesma3.
A preocupação a ser ressaltada em uma análise educativa
histórica e atual está nos elementos do materialismo histórico dialético
3 Nessa reflexão, é conhecer o objeto a partir da teoria, onde a dialética apresenta uma visão
inicialmente dicotômica sobre a relação sujeito – objeto. Com a verbalização, os polos misturam-
se, diluindo a separação ou fragmentação científica. E isso só acontece, porque a dialética
apresenta um movimento sempre dinâmico, não linear, articulando as partes do todo do objeto,
projetando a produção de verdades, pois é através da ação que se constrói o concreto.
290
associando mais ao processo, propriamente dito, do que ao fim, assim
como mais ao aspecto qualitativo do que ao quantitativo. O enfoque
qualitativo baseia-se no materialismo dialético, abordagem teórico-
metodológica considerada crítica e pós-crítica do positivismo, que
durante muito tempo regulou e limitou a produção do conhecimento e
da ciência no mundo, influenciando o desenvolvimento das ideias de
escolaridade. Assim, o positivismo buscava e procurava a verdade através
da confirmação ou rejeição de hipóteses, entendendo a realidade como
estática, e o mundo como um lugar de coletar as verdades, fazendo
análises de causa e efeito, com uma pretensa postura de neutralidade
(LÖWY, 2015; TRIVIÑOS, 2015).
A abordagem qualitativa, em consonância com o materialismo
dialético, visaria explicar a problemática criticamente na sua essência,
como se propõe uma visão na educação pública formal. Dentro dessa
compreensão, é imprescindível estar atento para que as formas idealistas
e abstratas, conectadas ao senso comum e à ciência determinista, não
sejam distorcidas nas esferas globais educativas. Assim, o entendimento
da abordagem do materialismo dialético, passa pela apreensão íntima de
como o conhecimento formal e/ou informal foi direcionado
historicamente nas suas práticas sociais e educacionais, nas quais a
modernidade gerou muitas opressões e desigualdades, apesar de
massificar as instituições escolares.
Dentro dessas considerações iniciais, salienta-se que esse
entendimento se baseia no jogo entre aparência versus essência, sendo que
essa última indica, de fato, o momento em que se apreende
conscientemente o fenômeno que envolve os aspectos críticos da
educação pública. Esse elemento também deve ser pensado e acionado
para além do campo acadêmico, massificando-o no meio da educação
formal, independente da mesma ser vigente às rédeas do capitalismo, ou
não.
Desse modo, ao projetar o uso das orientações nos princípios
marxistas, exige-se pensar em um conjunto de processos e
procedimentos para compreender o objeto, nesse caso a educação
pública formal, para além da sua aparência ou de noções meramente
“naturalistas” (FRIGOTTO, 2010). Internamente nesse imbróglio, a
291
aparência do sistema público de educação associa-se acrescida ao senso
comum, à ciência determinista e ainda ao aparelho educativo tradicional,
que é resultado de muitas políticas educacionais de governos ou de
Estado com tais fins. Deste modo, a educação pode ter muitos
significados e diversos objetivos.
É importante mencionar, como ponto de partida, que a escola
originalmente surgiu para a adesão da camada populacional das elites, em
contrapartida ao cenário atual no campo de todas as classes sociais,
denominação conhecida como “escola de massas”. Ainda, é
imprescindível frisar que as políticas educacionais, sejam de governos ou
de Estados, nem sempre prezaram/prezam a objetividade de uma
formação omnilateral do ser humano, em busca da sua emancipação.
Esse último pressuposto é característico principalmente das políticas
educativas históricas, mas no contexto atual elas podem ainda estar
latentes nos distintos universos escolares.
Em síntese genérica, uma das formas pelas quais a história
educacional pode ser compreendida nos dias atuais, resulta de uma
analogia entre o reflexo da escola em meio da sociedade, ou vice-versa.
Através da origem da escola na Prússia, em meio a conflitos de guerras,
massificando na França e toda a Europa, como a Inglaterra
concomitantemente com a sua Revolução Industrial, foi sendo
impulsionadas às ideias de instituições à sociedade, por meio do Estado.
A proposta do Estado surge com o intuito de delimitar as famílias o
dever matricular os seus filhos e sujeitos nos estabelecimentos e as
escolas e indivíduos destes, como os responsáveis ao desenvolvimento
da sociedade.
No cerne desse imbróglio criado e refletido a todos, a proposta
pedagógica da modernidade deixou duas linhas de legados do Estado
com relação aos conhecimentos, conforme Boaventura Santos (2011)
salienta, o conhecimento-regulação e o conhecimento-emancipação. O
primeiro prioriza uma objetividade de movimentar do caos à ordem e ao
progresso; já o segundo perpassa com a projeção de transitar da teoria
(anti) pedagógica colonial aos valores sociais. Na história, e atualmente,
as feições do conhecimento-regulação sempre estiveram em maior
destaque na vida da população mundial, não desconectando do contexto
292
educacional interno das escolas públicas, inclusive, como já mencionado,
algumas vezes por determinações de políticas manifestas.
Em solo brasileiro, a escola jesuítica, oriunda das instituições da
modernidade, objetivou incrementar aspectos para o desenvolvimento
social, administrativo e produtivo de determinado contexto histórico.
Esse modelo também sobrepujou a intenção de direcionar uma
formação de “homem”, estabelecendo alguns princípios, entre eles: a
relação de Deus e “homem”, a obediência e a disciplina, a aproximação
das ideias do militarismo e a valorização valorizar dos sujeitos que se
destacavam individualmente e classificatoriamente.
Através desse formato de monopólio de conhecimento, os
fundamentos educacionais, como a avaliação escolar brasileira,
consolidaram-se como uma prática classificatória, disciplinadora e
excludente que não auxiliou o principal objetivo de uma escola: a
aprendizagem dos saberes essenciais. Segundo alguns estudiosos da
temática (LUCKESI, 2011; MOSNA, 2013), essas características ainda
estão presentes hoje, recorrente desse período que também foi o
responsável por consolidar práticas autoritárias ao dimensionar o aluno
e a educação como um fim, enquadrando-se no âmbito do produtivismo.
Alusivo à conjuntura entre educação, trabalho e produtivismo,
o sistema taylorismo relacionou o ensino com base no trabalho
industrial, com tempo cronometrado, referente à precarização do/no
trabalho/trabalhador. Nesse modelo, a máquina era a detentora para os
sujeitos prestarem seus serviços o mais rápido possível. O aluno era
percebido como uma ideia de produto e o docente seria o fiscal desse
ritmo disciplinar dentro das atividades objetivadas. Com isso, a
pedagogia pública de ensino nacional também foi influenciada pela
concepção fordista, cujo interesse residia no campo das produções e
lucros por meio da mecanização corporal, seguindo aspectos similares da
conjectura do taylorismo.
O planejamento da sociedade e da escola derivou de funções
dissonantes em suas funcionalidades, transformando-as em um campo
pedagógico em espécie de doutrinação, que restringe, inclusive, a própria
história social dos sujeitos. Através das contribuições dos sociólogos
Althusser e Gramsci, essa problemática pode ser melhor entendida ao
293
referirem-se que a escola é de interesse das classes dominantes, como o
próprio Estado, sendo este considerado um aparelho ideológico para
reproduzir a sua lógica objetivada (FREITAG, 1986). Nesse caso, o
aparelho impõe uma construção de sociedade com falsas ilusões nos
sujeitos ao objetivar um conhecimento e conexão hegemônica à
população, que influenciam a sociedade a seguir um modelo educativo,
no qual se discursa e vende certo slogan empresarial: “todos aprendem as
mesmas coisas” e “todos têm os mesmos direitos e deveres”, inclusive,
previstos na constituição democrática. Será isso de fato apropriado?
É importante advertir que a ideia de uma educação
democrática, constata de uma prática contínua, e não apenas da
formalização de uma política ou lei constitucional. Essa projeção
democrática num sistema opressor seria uma falsa consciência projetada
à população, no qual a escola como aparelho ideológico e reprodutor do
Estado objetivaria isso na sua condição natural (FREITAG, 1986). Deste
modo, a composição das escolas públicas deste modelo de política se
reinventa e se reconfigura a cada crise, mas mantém as desigualdades de
classes sem mudar o cerne do ato e concepção educativa.
A contradição, mais uma vez, estaria exposta à ideia de que a
escola pública reforçaria e projetaria as desigualdades sociais que o
próprio sistema mercadológico do capital criou e que, de tempos em
tempos, é recriado por meio das suas “crises”. As concepções
verdadeiras de/sobre o mundo, os significados de educação, as
propostas e abordagens pedagógicas, as políticas educacionais de Estado
ou governo e as interfaces com as quais o conhecimento se conecta a
epistemologias tornam cada vez mais urgente uma melhor apreensão da
temática por parte de toda a população, em especial dos mais
necessitados e oprimidos, que mais carecem e utilizam atualmente a
escola pública brasileira, diferentemente de outros períodos históricos.
No entanto, na instituição, mesmo regida por este sistema, podem haver
evidências ou possibilidades de práticas emancipatórias ou contra-
hegemônicas. Além do mais, salienta-se o fato de que nem todos terem
garantidos os mesmos direitos de aprendizagem dentro do movimento
do capital, não é possível generalizar de forma fatalista a função da
reprodução em relação à escola.
294
O viés educacional emancipatório
Paulo Freire, o grande educador brasileiro conhecido
internacionalmente como um dos grandes teóricos a expandir em
diversos cantos do mundo uma noção de educação democrática, foi
contrário à barbárie da educação hegemônica. Para Freire, o sistema
capitalista utiliza uma noção de acrescentar práticas pedagógicas
regulatórias de uma educação bancária, conforme denominou tal
reprodutividade no contexto de ensino. Esta concepção bancária, como
já demonstrada, seria antagônica à formação omnilateral do ser humano,
por conter a sua gênese em uma forma autoritária e mercadológica,
oposta à humanização e à solidariedade (ROMÃO, 2016).
Pensar o âmbito da omnilateralidade e da emancipação humana
na escolarização como formação íntegra, faz alusão aos princípios
marxistas. Segundo Duarte (2016, p. 106), “a luta dos educadores
comprometidos com a superação da sociedade capitalista deve ser,
portanto, pelo domínio consciente dessas forças que atuam no interior
da educação escolar e pela busca de possibilidades latentes de avanço em
direção à formação humana omnilateral”. Nesse caso, o sentido da
omnilateralidade na educação é uma parte do todo em que a formação
humana plena deve ser exercitada. Essa parte, em relação à sua totalidade,
deve buscar uma superação que não se restrinja à educação, mas que
possa “quebrar” o sistema dominante. As lutas de classes demonstram o
quanto cada vez mais a humanidade está carente da formação
omnilateral, pois elas são constantes na sociedade, ao mesmo tempo em
que são relevantes para a transformação.
Nesse sentido, a emancipação não significa um estágio que o
indivíduo alcançaria, mas as possibilidades de elementos vivenciados que
possam fazer emergir experiências transformadoras, alusivas ao caráter
da humanização em sua essência. Segundo Streck e Adams (2014), todas
as terminologias da emancipação, de diferentes contextos sociais e
históricos, estão associadas a uma vertente marxista, e que, de fato, esta
formação é ainda de grande carência na esfera da educação nacional.
Nessa conjuntura, a emancipação, dentro da perspectiva de Paulo Freire,
se caracteriza como política, dialógica e social, em busca de uma luta
295
contrária a todas as opressões que aprisionam os seres humanos, em
nome da justiça social.
Embora no sistema capitalista, herdado pela modernidade,
Freire aponte que a educação (formal) por si só não basta para a
transformação de “uma sociedade emancipada” (STRECK; ADAMS,
2014, p. 68), é imprescindível resistir ao sistema neoliberal e à expansão
do pós-neoliberalismo vigente. Apesar das próprias conjunturas do
capitalismo, torna-se necessário recriar abordagens pedagógicas que
resultem um modelo contra-hegemônico (GRAMSCI, 1999), nesta
expansão dos anseios neoliberais.
Nesse contexto e momento, em que os seres humanos estão a
mando do sistema neoliberal globalizado, da tecnologia desenfreada em
abundância, do consumismo exorbitante, da conjuntura da crise
econômica mundial instalada nos discursos dos chefes de nações, dos
processos de violências contra as imigrações, entre outras barbáries, tudo
indica que os continentes e a nossa nação reforcem uma concepção de
reguladores acima dos anseios libertadores, e que a população mundial e
nacional seja novamente a maior prejudicada.
Muito dessa projeção neoliberal está relacionado à organização
dos modos de sobrevivência dos dias de hoje, alimentados por ódios
difundidos e por intolerância às diversidades. O capital traz uma falsa
ilusão de melhoria, inclusive na relação de educação dentro das realidades
sociais mais conflituosas e distorcidas. Contudo, existe a necessidade de
alterar as práticas educacionais, para que as mesmas se tornem dinâmicas
e propiciem transformações dentro da sua essência nos distintos
cotidianos escolares. Isto se reforça cada vez mais, pois o atual momento
vivido pela sociedade é um marco complexo em se tratando de aspectos
das conjunturas políticas e das crises neoliberais que avassalam ainda
mais a humanidade para um trajeto de barbárie. Avançar, portanto, é um
dos caminhos para se plantar esperança, tendo como base a organização
em formato coletivo, crítico, e alicerçado na epistemologia do
materialismo histórico dialético.
De modo geral, dentro da história da educação pública, a
mesma já vem a bastante tempo sofrendo as instabilidades pelas crises
estruturais projetadas pelo sistema neoliberal. No sistema capitalista, é
296
corriqueira a ideia de haver crises constantemente, para que o mesmo
aparelho se autoalimente e se reconfigure, sem alterar, de fato, a sua
essência, por ser gerido pela classe dominante (SAVIANI, 2016).
Lógico, não se trata de concordar que a educação pública não
carece de melhorias. A isso, basta lembrar o que o grande educador
brasileiro Darcy Ribeiro mencionava ao dizer que não se tratava de uma
crise educativa, mas sim de um projeto de nação, projeto que é alvo de
críticas e necessita constantemente de melhorias, sendo contradito-
riamente fundamentando por políticas de mercado. Nesse sentido,
Mészaros (2005) refere que o capital é incorrigível, por isso teria de haver
uma nova ordem social na busca da educação para além do capital, em
prol da transformação social e qualitativa.
Porém, é muito difícil atualmente os docentes se distanciarem
deste formato de educação capitalista, exigindo dos mesmos um
aprofundamento epistemológico, pois este modelo de opressão está
radicado há séculos pelo colonialismo ocidental (STRECK; ADAMS;
MORETTI, 2010). A falsa sensação de ter liberdade e autonomia plena,
que alguns docentes e discentes acreditam ter, muita das vezes não passa
de uma alienação imposta pelo Estado dentro dos diferentes contextos
de trabalho dos seres humanos.
Conforme Saviani (2016), para Karl Marx, a ideia de liberdade
na sociedade capitalista acaba privando o ser humano do verdadeiro
direito do livre-arbítrio, reduzindo a real concepção de liberdade. Da
mesma forma, podem-se notar, no que diz respeito à autonomia e à
cultura, essas mesmas contradições (SAVIANI, 2016). A educação
escolar, por sua vez, transitaria por estas expectativas em formatos
utópicos, mas, também, com significados distorcidos, por meio de
políticas educacionais marcadas por uma democracia liberal e
investimentos de grupos privados na educação.
Para ir além da educação hegemônica, com o sentido de
transformação através das mudanças sociais, um dos pressupostos passa
a ser realmente com a qualidade e a compreensão da sua essência e não
a sua aparência (MÉSZAROS, 2005). Dessa maneira, a educação pode
encontrar lacunas e contradições ao visar a emancipação para além das
presas do capital ao ter a consciência dos fatos. Assim, conhecer a
297
realidade pode ser uma possibilidade de realizar uma mudança no
fenômeno, recusando a aparência (KOSIK, 1976).
Considerações finais
A ideia de educação que se defende aqui é que ela não pode
desprestigiar a história de vida das pessoas, e que sua projeção almeje a
emancipação (FREITAG, 1986). Assim, a educação deve ser conflito e
contradição, buscando retratar-se da ideia de manutenção do seu status
quo, como o que visa o aparelho capitalista. Segundo Lombardi (2016) e
Sanfelice (2016), a educação é “inverdade”, ao não dispor concretamente
da gratuidade pública, de um modelo realmente laico, e de qualidade,
porque o caminho é bem claro, contemporaneamente: a educação como
mercadoria, assemelhando-se a uma indústria ou a outro estabelecimento
comercial, como o próprio supermercado (LOMBARDI, 2016). Além
do mais, escola e sociedade são reflexos uma da outra, fazendo resultar
dessa associação uma organização em prol do “conhecimento-
regulação”, que se autoalimenta constantemente em razão das benesses
do âmbito da competitividade e, consequentemente, desprestigia
concepções e ações do campo e da esfera do “conhecimento-
emancipação”.
A busca incessante por abordagens pedagógicas que se
aproximem dos valores humanísticos da participação social, da
democracia coletiva e da criticidade política e histórica, que respeitem as
distintas aprendizagens dos discentes, reforçariam uma pedagogia
contra-hegemônica, seguindo princípios de uma educação marxista.
Assim, a resistência torna-se um pressuposto importante na busca por
um equilíbrio mínimo entre o “conhecimento-regulação” e o
“conhecimento-emancipação”; e é fundamental que os elementos do
materialismo histórico dialético estejam difundidos entre as várias
esferas, momentos e espaços da sociedade.
As considerações finais deste trabalho permitem afirmar que as
aprendizagens nos cotidianos e universos das comunidades escolares
estão amarradas às distintas influências que a contorcem e a projetam a
diferentes meios e fins. Além do mais, as ideias da/na escola pública
estão associadas ao movimento da sociedade e vice-versa. Deste modo,
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foi o que este artigo buscou aproximar dessa conexão educativa,
projetando outros aprofundamentos e ações científicas em prol de um
futuro social mais harmonioso e de maior equidade na educação pública.
Nesse caso, um estudo com base no método dialético se torna
importante por projetar tais entendimentos difusos também no “chão”
escolar.
É pertinente afirmar, ainda, que os princípios marxistas devem
estar em consonância tanto com os aspectos sociais da investigação da
educação em si, quanto à ideia representativa e concreta ao ensino e seus
objetivos. Sua finalidade visa à transformação qualitativa por projetá-la
defendendo um mundo social e em movimento, posicionando-se
contrário ao mundo estático e neutro da educação tradicional. Com isso,
o resultado do conhecimento do fenômeno e/ou da realidade social
objetivaria seu pleno desenvolvimento para além do seu estágio inicial
percebido, possibilitando, nesse caso apreendido, alguns elementos
emancipatórios, mesmo na perspectiva contraditória e paradoxal do
capitalismo.
Hoje, a educação deve buscar aspectos socioemocionais,
baseando-se na história de vida dos seres humano, seguindo o que o
materialismo histórico dialético e sua vertente epistemológica procuram
massificá-la. Portanto, atualmente a educação não pode mais ser vista a
partir de um viés tecnicista, ausentando perspectivas afetivas, como
historicamente foi projetado pela concepção e sistema do capital. Por
fim, afirma-se que as práticas dos docentes devem estar articuladas com
suas ações concretas, contendo a necessidade de um processo dialético.
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