22/06/2019 Sobre a "porno-ilusão"

PSICOLOGIA, SEXUALIDADE E GÊNERO

June 21, 2019

SOBRE A "PORNO-ILUSÃO"
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Imagem de Georgina Vorano em “A ditadura do prazer e a porno-ilusão”.

                A psicanalista argentina Georgina Vorano, na conferência “A ditadura do prazer e a porno-

ilusão”, traz a questão de que a repressão sexual não ocorre apenas quando o prazer é proibido,
impedido, condenado, mas também quando é transmitido como uma exigência, uma obrigação, com
a transmissão de um modelo inalcançável como se os prazeres devessem se encaixar a esse restrito
e idealizado modelo.

                As possibilidades de sentir prazer variam muito de pessoa para a pessoa, e podem ser
surpreendentes, inclusive, nas diferentes experiências de uma mesma pessoa.

                Quando ao invés de possível, o prazer se torna um imperativo, é desgastante e exaustivo a

expectativa de que o dia-a-dia seja prazeroso, com realização pessoal; a vida em casal sema
prazerosa, com amor completo; o sexo seja prazeroso, com orgasmos múltiplos; o trabalho seja
prazeroso, com sucesso nanceiro e satisfação pro ssional; que cuidar do corpo seja prazeroso,
com padrões estéticos e de saúde que paradoxalmente tornam tudo mais feio e adoecedor.
         A questão não são os prazeres, não – como são bons os prazeres no dia-a-dia, no amor, no
sexo, nas amizades, no trabalho, com o corpo e a saúde... A questão é a ilusão de que é possível
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sentir prazer o tempo inteiro, um prazer total e maximizador que depende, única e exclusivamente,
de nossa performance, de nosso desempenho, de nossa competência. Se não sentimos tal prazer
total, somos nós que estamos falhando, somos nós que não nos esforçamos o su ciente, somos nós
que não merecemos.

                A porno-ilusão, de ne Georgina Vorano, é a relação entre o imperativo de prazer e o

imperativo de visibilidade, com a pressão para que além de sentir prazer, o prazer seja demonstrado,
evidenciado, explicitado.

                Além de fruição, prazer, diversão, há também con ito, há também estranheza, há também
enigma. Não são apenas movimentos técnicos, são motivos sensíveis, expressivos. Nem tudo faz
sentido, ou melhor, muito não faz sentido. Nem tudo controlamos, ou melhor, muito não
controlamos. Nem tudo nos satisfaz, mesmo quando experiências de satisfação ocorre, alguns
vazios, algumas carências, algumas expectativas que não se cumprem não as invalidam, ao contrário,
aos tornam possíveis.

         Ao criticar, então, o que denomina como “patamar totalitário do desfrute”, Georgina Vorano
ressalta o valor singular das diferenças, de formas tão únicas de ser, de amar, de viver, de fazer.
Critica também como a noção de “autoestima” tem se difundido também em nome de um modelo
restrito de satisfação, prazer e bem-estar, propondo, como alternativa mais frutífera, a noção
lacaniana de “estilo”, que:
“não se pode codi car em fórmulas nem em receitas. A arte ou o desporto talvez sejam terrenos
onde vemos isto muito gra camente. (...) esse não sei quê irreproduzível que identi ca cada
desportista, cada artista, cada pessoa, o que é intransmissível, um pouco único e não se pode
reproduz: o estilo. (...) Raymond Carver, um escritor norte-americano, chegou a dizer que o estilo é
o erro trabalhado até que pareça feito de propósito. Nada menos ideal que o erro, isso que
repetimos muitas vezes, mas trabalhado. Para tentar, a partir desses erros e dessas repetições, tirar
e extrair o melhor do inevitável de nós próprios (...)”.

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                E é ao nos convidar a valorizar a busca singular de extrair o melhor do que é, em nós, é

inevitável, inescapável, não poderia ser de outra maneira, que a psicanalista encerra a sua fala que
problematiza de forma tão provocante a ânsia por encaixar-se nos padrões idealizados e
homogeneizados em que não cabemos.

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Labels: Pornogra a, Prazer, Repressão sexual

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